Museu da Pessoa – Conte sua história
Histórias de Esperança – 29 anos do Projeto Criança Esperança
Depoimento de Glayson Cintra de Souza
Entrevistado por Tereza Ruiz
Mogi Mirim 12/11/2014
Realização Museu da Pessoa
Entrevista HECE_HV026
Transcrito por Liliane Custódio
P/1 – Então pri...Continuar leitura
Museu da Pessoa – Conte sua história
Histórias de Esperança – 29 anos do Projeto Criança Esperança
Depoimento de Glayson Cintra de Souza
Entrevistado por Tereza Ruiz
Mogi Mirim 12/11/2014
Realização Museu da Pessoa
Entrevista HECE_HV026
Transcrito por Liliane Custódio
P/1 – Então primeiro, Glayson, fala pra gente seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Glayson Cintra de Souza, nasci aqui mesmo em Mogi Mirim.
P/1 – Data?
R – Data é 5 de abril de 1989.
P/1 – Agora o nome completo da sua mãe e do seu pai, e se você souber, data e local de nascimento também.
R – Minha mãe é Elizabete Paulínia de Souza, ela nasceu aqui em Mogi Mirim mesmo, a data eu não vou lembrar. E do meu pai também, é José Cláudio Cintra de Souza, também nasceu em Mogi Mirim, e a data também não lembro.
P/1 – O que seus pais fazem profissionalmente?
R – Minha mãe atualmente é doméstica, meu pai é aposentado, e eles trabalham aqui mesmo em Mogi Mirim, não trabalham fora.
P/1 – E seu pai trabalhava com quê antes de aposentar?
R – Meu pai era professor. Ele era professor e vendia livro espírita. Ele parou agora um tempo atrás, mas por causa da idade mesmo, e agora ele parou de trabalhar.
P/1 – E ele era professor de quê?
R – Ele era professor de Química, de Matemática, inclusive ele que me ajudava nos estudos ainda.
P/1 – Tua família é espírita?
R – Não, não, só meu pai. Na verdade, minha família é católica, todo mundo, mas meu pai é espírita.
P/1 – Ele sempre foi espírita ou teve algum... Ele se converteu em algum momento?
R – Não, acho que ele sempre foi. Desde o começo ele sempre seguiu essa linha.
P/1 – Fala um pouco pra gente como seus pais são de jeito, temperamento, personalidade.
R – Bom, minha mãe é aquela mãe protetora, cuidadosa, eu sou o bebê da minha mãe. Somos três irmãos e ela é a que mais cuida de mim. Então pra ela eu sou o bebezinho, ela sempre cuida de mim, deixa meu prato pronto no micro-ondas. Meu pai já é mais durão, já é mais severo um pouco, ele que já cobra mais, mas o amor é incondicional dos dois, não tem como. Mas tem essa diferença, a minha mãe é mais calma no jeito de falar, no jeito de agir, ela é muito batalhadora também, trabalha bastante. E meu pai trabalhou um bom tempo da vida, mas agora ele está mais tranquilo, ele pega mais pesado mesmo no jeito de falar, ele cobra mais firme. A gente pensa que ele tá bravo o tempo todo, mas não, é o jeito dele de falar mesmo. Já acostumei com o carinho dele.
P/ 1 – Você falou que você tem dois irmãos, fala pra gente o nome dos seus irmãos e o que eles fazem.
R – Eu sou o caçula, tem o Cléber, o nome dele é Cléber Cintra de Souza, mas ele faleceu faz cinco anos, num acidente de moto, e tem o Patrick, que é mais velho, que é Patrick Cintra de Souza, ele tem 32 anos. Ele atualmente não trabalha também, não faz nada, mas ele fica em casa o dia inteiro, tranquilo.
P/1 – Você passou a infância aqui em Mogi Mirim?
R – Passei.
P/1 – Conta um pouco como era a sua casa de infância então. A casa, o bairro.
R – Bom, eu sempre morei aqui perto mesmo do Centro, num bairro logo ali próximo, e minha infância sempre foi muito brincalhona, sempre brinquei muito. Eu lembro que eu ia pra creche quando eu era menor, depois fui crescendo um pouco, comecei a frequentar escola, mas eu sempre tive muitos amigos na infância. Brincava muito, muito, muito na rua mesmo, o tempo todo. Ia à casa dos meus amigos jogar vídeo game. Foi uma infância muito divertida, muito dinâmica. E eu sempre gostei muito de festa, lembro muito disso, que todos os meus aniversários não passavam em branco. Às vezes não tinha nada, um bolo, alguma coisa superespecial, mas só de estar junto com os amigos, fazer um bolinho de fubá lá no fundo, colocar uma música pra dançar já estava ótimo. Então eu sempre fui muito rodeado de amigos a minha infância. Minha vida inteira, na verdade.
P/1 – E como era a sua casa, a casa que você passou a infância? Descreve um pouco pra gente.
R – A minha casa sempre foi um terreno grande, era um quintal batido de terra mesmo, e eu sempre tive meu quarto no... Não, na verdade não, no começo era meu quarto, eu dividia com o meu irmão do meio. E a gente sempre se deu super bem, minha casa sempre foi muito tranquila, minha família sempre se deu muito bem. Tinha alguns probleminhas com o meu pai, tal, mas era tranquilo. Tinha um pé de manga na frente, aí a gente colocava um balanço lá pra balançar, chamava os amigos também pra balançar no pé de balanço. Eu tinha uma bicicleta, a gente ficava brincando de dar volta com a bicicleta em volta da casa, era supergostoso, superdivertido. Minha mãe que não gostava muito, que a roupa ficava toda suja de poeira, de terra. E era isso. Tinha um pé de limão também que a gente aprontava bastante com o pé de limão, retirando limão, jogando, aquelas coisas de criança. Era uma casa grande, com bastante cômodo. Pra cinco pessoas era uma casa grande.
P/1 – É a mesma casa que vocês vivem hoje?
R – É a mesma casa. Só que hoje meu pai já conseguiu reformar um pouco mais. A gente conseguiu fazer uma cozinha lá fora, conseguiu colocar cimento no quintal, não tem mais o pé de manga. Mas não mudou muita coisa, não.
P/1 – Você falou um pouco de brincadeira de infância, que você brincava muito, tinha muitos amigos. Fora o vídeo game, quais eram as brincadeiras?
R – A gente brincava muito de bolinha de gude no quintal de terra. A gente brincava de esconde-esconde, brincava muito de pião, rodava bastante pião, uma coisa que a gente não vê mais. Patinete a gente andava bastante, patins, bicicleta, como eu disse, enfim, várias brincadeiras. Jogos de tabuleiro, a gente colocava uma toalha no chão lá no quintal e jogava. Então tinha essas coisas. Era mais isso.
P/1 – E da escola, Glayson, quais são as primeiras lembranças que você tem da escola?
R – Primeira lembrança, eu tenho uma lembrança muito boa da quarta série, que foi a primeira vez que eu arrumei uma briga lá na escola e fui pra diretoria. E aí a diretora, lembro o nome dela, Leila, ela conversou bastante comigo e me acolheu nesse dia. A gente conversou muito mesmo, ela chamou meu pai lá pra conversar. E depois desse dia eu vi que eu podia ser acolhido por ela, sabe? E eu não era nada bonzinho na escola também, fazia bastante travessura. Mas ela soube conversar, ela soube me mostrar onde eu estava errado, soube mostrar o caminho. E foi isso. Essa foi uma lembrança muito forte da escola que eu tenho, da quarta série.
P/1 – Você lembra por que foi a briga?
R – Na verdade, foi por causa do banheiro. Bateu o sinal, pra ir correndo para o banheiro, a gente entrou todo mundo junto na porta do banheiro, daí acabei empurrando um menino, a gente começou a discutir, a brigar. Aí os amigos separaram e eu acabei indo pra diretoria.
P/1 – E você lembra o que foi que ela te disse que ficou marcado?
R – Eu não queria assumir que tinha sido eu. Eu falei: “Não, não fui eu”. Mas ela sabia que tinha sido, porque ela já me conhecia, frequentava direto lá a sala dela. E o que ela me falou foi: “Olha, Glayson, eu sei que você não quer falar que foi você, mas é importante a gente assumir os nossos erros, que a partir dele que as pessoas vão começar a confiar em você”. Na hora eu não entendi muito bem o que ela quis dizer, até porque eu era criança, mas isso ficou tão forte pra mim que eu lembro até hoje dessas palavras. Hoje eu tenho consciência disso, mas na época não. Mas eu lembro que ela falou mais ou menos essas palavras. Que independente do que for, assuma seu erro, que acho que isso que vai fazer de você uma pessoa melhor. E eu me lembro disso até hoje, então isso que marcou.
P/1 – E teve algum outro professor ou funcionário da escola que tenha te marcado?
R – Teve, mas isso já foi mais na oitava série, a professora de História, Daniela era o nome dela. Eu me espelhei muito nela, no jeito que ela falava, como ela dava aula. Ela conseguia brincar, e ao mesmo tempo quando ela falava sério a gente já entendia através do olhar dela, sabe? Eu lembro que ela era loira, superalta e superimponente a voz dela, então a gente acabava prestando atenção porque não tinha como desviar o olhar quando ela estava falando. Quando ela falava, todo mundo olhava pra frente, sabia que ela estava falando. E quando dava bronca, todo mundo também sabia que era hora da bronca. Na mesma forma a maneira de brincar também. Quando ela brincava, todo mundo sabia que aquela hora era hora de brincar. Então ela tinha esse jeito muito... Uma presença muito forte, muito marcante na sala de aula.
P/1 – Como você ia e voltava pra escola?
R – Ia a pé. A escola era na rua de casa, então eu sempre esperava o meu amigo, que morava um pouco mais pra cima, e a gente sempre ia junto pra escola, então se ele atrasava, a escola era do lado de casa, mas a gente chegava junto atrasado, porque a gente ia junto. Era a pé mesmo, era pertinho, um quarteirão e a gente já chegava à escola.
P/1 – E aí você fez todo o ensino básico nessa mesma escola?
R – Foi. O fundamental, a escola era um pouco mais longe, um pouco mais pra baixo. Mas depois o ensino médio... Na verdade, o infantil era mais pra baixo, o ensino fundamental e médio foram na escola um pouco mais pra cima, perto de casa. E era isso, do lado de casa a escola, nunca tive problema, não.
P/1 – Você lembra quando você era pequeno o que você queria ser quando crescesse?
R – Eu queria ser paraquedista quando era pequeno. Sempre gostei muito de altura, essas coisas. Tanto é que a gente brincava na rua, eu quebrei o braço duas vezes caindo da árvore. Que eu gostava muito dessa coisa de altura. Gosto até hoje, não tenho muito medo com isso. Mas eu queria ser paraquedista, queria ser bombeiro, essas profissões mais de risco, sabe? Sempre gostei mais disso.
P/1 – E você lembra assim, paraquedista, por exemplo, quando surgiu essa sua ideia, se você viu alguma coisa? O que te inspirou? Como essa ideia surgiu na sua cabeça?
R – Na verdade, eu sempre ficava grudando em árvore, e aí conversando com a minha mãe, com os meus amigos, aí eu falava que queria ser paraquedista. Eu nunca vi nada de paraquedas, até hoje, nunca vi ninguém saltando de paraquedas, nunca tive contato. Mas depois que eu descobri que paraquedista podia saltar da altura, daí eu queria ser paraquedista de todo jeito. É isso, acho que foi com o tempo, fui descobrindo.
P/1 – E dessa fase de infância ainda tem alguma história que tenha te marcado, uma coisa que você tenha vivido na família, ou na escola, ou com os amigos, que tenha ficado marcado?
R – Duas coisas: a primeira coisa foi quando eu quebrei o braço, que eu caí da árvore subindo no pé de manga, brincando dessa coisa de paraquedista, de astronauta, dessas coisas. E eu lembro que eu caí da árvore, quebrei o braço, e meu pai ficou muito bravo comigo. Muito bravo. Que eu estava chorando e eu lembro que mesmo chorando ele falou que não era certo, que ele ia me bater. Mas ele não ia fazer isso. Mas só pra dar aquela bronca. Eu lembro que eu fiquei com muito medo, a ambulância demorou pra chegar. Meu braço estava doendo muito, muito, muito, eu chorei muito. Mas esse meu amigo que mora perto de casa, a mãe dele cuidou de mim, passou a tala no braço. Mas eu lembro que sofri como nunca. Essa dor no braço doeu muito. Depois eu engessei o braço, dali duas semanas, eu andando de bicicleta, quebrei de novo o mesmo braço, no mesmo lugar. Então foram essas duas coisas. E minha bicicleta quebrou, depois eu não consegui consertar mais, aí eu perdi a bicicleta. Então esse momento foi supermarcante. E outro marcante foi quando eu fui vice-campeão do campeonato do tênis de mesa na escola. Era um campeonato, da nossa sala eu era o melhor que jogava tênis de mesa. E aí todo mundo me escolheu pra jogar. No começo, eu comecei jogando normal, depois eu encarnei mesmo a coisa da competição. Fui até o final, mas infelizmente perdi por dois pontos. Mas ficou supermarcante, a galera toda me apoiando e eu lá jogando superempenhado. Esses dois momentos que marcaram.
P/1 – Que idade você tinha nessa do tênis de mesa?
R – Acho que eu tinha 12 anos. Doze. E a do braço menos, acho que uns dez anos, mais ou menos.
P/1 – E nessa mudança, Glayson, da infância pra adolescência, que 12 anos você já começa pré-adolescência e tal, o que mudou na sua vida em termos de passeio, amigos? Você falou que você era festeiro, né?
R – Isso.
P/1 – Em termos de festa, diversão? O que você fazia pra se divertir? O que mudou no seu cotidiano?
R – Bom, quando eu era criança, a gente fazia as festas mais em casa, mas era sempre na minha casa, até pelo tamanho da casa, como eu te falei, casa grande, o pessoal gostava, era bem aconchegante e minha mãe também sempre gostava de festa. Então da infância era isso, eram mais festas. E na adolescência, o que mudou foi que as festas começaram a ser em outros lugares, na casa de outros amigos, de vez em quando surgia alguma festa em alguma casa de evento, pra adolescente mesmo, sabe? A gente acabava indo. Então esse cenário de festa acaba mudando. E eu já não brincava mais tanto quanto antes de esconde-esconde, eu sempre... Não por não gostar mais, pela questão do tempo, porque daí aumentou os estudos, acabei vindo para o ICA também na adolescência, deixei um pouco os amigos da rua, fiz novos amigos aqui. Aí conheci outras coisas, acabei deixando certas coisas de lado. Então mudou um pouco disso, essa fase de quando eu era criança pra adolescência, as brincadeiras e modo de viver, o estilo de vida, sabe?
P/1 – Esses locais que vocês saíam, como eram essas festas, ou essas baladas? O que tocava? Como era?
R – Era sempre em casa de amigos, a maioria. E nessas outras casas tocavam músicas da época. Eram os axés que tocavam na época, lembro muito do É o Tchan, essas músicas, músicas dançantes, eletrônicas. Nem tinha muito essa questão do funk, era mais música de dançar mesmo, de fazer coreografia, passinho junto, essas coisas assim. Era mais esse tipo de música que rolava.
P/1 – Conta pra gente então como você conheceu o ICA. Quando você descobriu que o ICA existia, como isso e como você chegou até aqui e começou a fazer parte do ICA.
R – Como eu ficava muito na rua, minha mãe sempre tinha uma preocupação das companhias, desse perigo que a rua oferece. Ela sempre tinha essa preocupação. E eu conheci o ICA foi num desfile da cidade que teve, que o ICA sempre desfilou nos eventos da cidade, no aniversário da cidade, por exemplo. Sempre desfilava. E sempre trazendo essa coisa do circo, da magia e tal. Eu sempre ia com os meus amigos para o desfile. Eu nunca me interessei por isso: pelo circo, teatro. Nunca tive contato com isso, era mais vídeo game, as brincadeiras que eu te falei, essas outras brincadeiras, nunca tive contato com circo, essas outras coisas, com essa questão da arte. E aí eu via o ICA desfilando sempre, sempre admirei o trabalho, achava muito legal, muito divertido, mas achava muito difícil. Como as pessoas conseguiam fazer os mortais, e jogar aquelas bolinhas, e fazer teatro? Eu nunca tive tanta vergonha, mas também nunca fui tão descolado pra essas coisas. E aí um dia minha mãe, foi acho que duas semanas depois desse desfile, uma coisa assim, ela me falou do ICA, se eu teria interesse de entrar. E eu falei que não a princípio, porque eu queria continuar com os meus amigos. Porque ela falava: “Se você entrar no ICA, você vai de manhã pra escola e à tarde você vai para o ICA, e à noite você vem pra casa”. Eu falei: “Mas como eu vou à tarde? E meus amigos? E meu vídeo game? E minhas brincadeiras de rua, como eu vou fazer? Eu não conheço ninguém lá, não quero conhecer pessoa nova”. Tive um pouco de resistência no começo. Aí ela através de uma amiga dela que tinha um filho aqui, ela conseguiu vir ao ICA e fazer o cadastro, e eu fui chamado rápido. Por incrível que pareça, eu consegui ser chamado rápido. E aí minha mãe falou: “Você vai um dia, vai uma semana, se você não gostar, você volta, a gente vê alguma outra coisa pra você fazer, que na rua também não tem como você ficar”. E aí eu vim. No primeiro dia eu conheci um amigo, que a gente é amigo, ele estudava na mesma escola que eu, mas eu não sabia que ele frequentava o ICA. No primeiro dia que eu fui pegar o ônibus, ele tava no ponto pra vir para o ICA. Ele perguntou: “Você vai para o ICA também?”. Eu falei: “Ah, estou indo hoje pra ver como é” “Nossa, que legal”. E a gente começou a conversar. Então olha pra você ver, a gente estudava na mesma escola, não conversava, porque não tinha contato, aí eu o vi no ponto, a gente começou a conversar, que tinha alguma coisa em comum, que era o ICA. Então eu já cheguei ao ICA com ele, já cheguei com um amigo, já fiquei mais tranquilo. Cheguei e aí logo no primeiro dia eu comecei a falar, eu falei que era muito bonito, não sei o quê. “Como era seu nome?” Eu falava: “Meu nome é Glayson, mas pode me chamar de bonitão, não sei o quê”. Fazendo gracinha. Aí o pessoal acabou gostando desse jeito, todo mundo começou a ficar amigo, começou a se aproximar, aí logo no primeiro dia eu já saí cheio de amigo, já fiz várias amizades. Cheguei, todo mundo já fez lá uma rodinha pra conversar comigo, contar como foi, como eu tinha entrado. E foi isso assim, eu entrei através da minha mãe e logo no primeiro dia eu fiz muitos amigos, muitos amigos mesmo. Fui muito bem acolhido. Todo mundo, assim que eu cheguei, todos os funcionários que tinha na época, me lembro da Nicolina, que era amiga da minha mãe e eu não sabia, ela falou: “Ah, você é filho da Bete e tal”. Eu falei: “Eu sou” “Nossa, seja bem-vindo. Nossa, sua mãe falou pra mim que queria colocar você aqui, que bom que ela conseguiu”. Então eu já cheguei, achei que ia ser um lugar estranho, todo mundo já me conhecia antes mesmo de eu saber. Então foi isso, o primeiro dia no ICA foi bem marcante.
P/1 – Que idade você tinha?
R – Foi nessa época. Foi logo depois do campeonato de tênis de mesa, eu tinha 12 anos. Já não estava mais na idade tão permitida, mas acabei conseguindo entrar pela necessidade da minha mãe de trabalhar, meu pai também trabalhava na época, então não tinha com quem eu ficar sem ela ficar preocupada, aí acabou dando certo de eu entrar.
P/1 – As atividades que você fazia no ICA, quais eram as atividades? O que ficou mais marcado pra você dessa época?
R – Quando eu entrei, a gente fazia circo, teatro, música e dança. Aí tinha a expressão corporal, afetivo sexual e apoio escolar. A gente passava por todas, era uma rotina diária, tinha uma grade, a gente passava por tudo aquilo. Eu fazia de tudo, mas eu mais me identifiquei, na época, com o teatro, que era o que eu acabei gostando de fazer. Como eu te falei, nunca fui muito descolado, mas quando começaram os exercícios de teatro, aquelas dinâmicas, foi o que eu mais gostei. Acho que foi o que eu mais me identifiquei no começo. No circo eu encontrei um pouco de dificuldade nos malabares e na acrobacia, que são o que eu sempre achei mais difícil. Identifiquei-me mais com o teatro. E as outras coisas, as outras atividades que tinha, as recreações, tinha tênis de mesa também, por isso que eu gostava bastante. E era isso. Foi mais com o teatro mesmo.
P/1 – E com o teatro você se lembra de algum momento marcante, ou que você tenha percebido que era aquilo que você mais gostava, que tenha sido especial pra você?
R – Lembro. No ICA tem um evento que chama Mostra de Talentos, sempre teve. E eu lembro que entrei no começo do ano, acho que foi em janeiro ou fevereiro. Nesse mesmo ano, em junho, teve a Mostra de Talentos. E como eu já tinha feito bastante amigo nessa época, o pessoal queria montar uma apresentação pra apresentar. Porque a Mostra de Talentos é uma coisa interna, sabe, apresentam os alunos para os alunos mesmo. E aí a gente começou a montar alguma coisa, mas aí acabou não dando certo. A gente queria fazer uma peça supergrande, não deu certo. E na época tinha aquela música da Eguinha Pocotó, a gente falou: “Vamos fazer qualquer coisa”. Tinha eu e mais um amigo. “Vamos fazer alguma coisa pra gente apresentar também.” E aí eu dublava e ele dançava. E a gente ganhou a Mostra de Talentos por essa dança que a gente fez. Foi superimprovisado, sabe? Foi de última hora. E a gente ganhou essa dança, foi muito legal. Nossa, lembro como se fosse hoje! A gente se divertiu tanto. E o pessoal começou a rir, que ninguém tava acreditando que a gente estava fazendo aquilo. Todo mundo ensaiou, se dedicou, e a gente vai lá e vai dançar Eguinha Pocotó. Ninguém estava acreditando. E aí todo mundo acabou rindo, os jurados também gostaram, a gente acabou ganhando. Então a partir daí, dessa dublagem que eu fiz, sabe, que o pessoal gostou, eu falei: “Ah, acho que pode ser legal essa coisa do teatro. Vou ficar mais nessa parte, mais conforto”. Aí fiquei e gostei. Então essa foi uma... Esse foi o ponto de partida.
P/1 – E o que mudou na sua vida, Glayson? Quando você pensa antes de entrar no ICA e depois que você entrou no ICA, ainda como estudante, o que você vê de mudanças no seu jeito, na sua cabeça, nas suas perspectivas?
R – Olha, o que mudou mesmo foi... Na verdade, tudo mudou. Eu não conhecia esse mundo da arte, nunca tive contato nenhum com circo, teatro, dança, música. Sempre tinha, sabe, no bairro, mas eu nunca tive contato por ir não atrás mesmo, por não conhecer, por não se interessar, enfim. Depois que eu entrei no ICA, meu contato foi direto com isso. Então não só o circo, o teatro, mas, todas as vertentes artísticas que tem: dança, o balé, tudo. Eu passei por todas as vertentes: dança... Como eu te falei, tinha uma grade, a gente fazia um pouco de tudo. Então eu acabei experimentando um pouco de tudo, acabei gostando um pouco de cada coisa, me identificando mais com uma, menos com outra, mas o que mudou foi essa relação com a arte. E hoje eu não sei o que eu faria com essa questão da arte. Talvez se eu não tivesse entrado no ICA, eu não sei o que eu estaria fazendo hoje. Possivelmente, alguma coisa artística não seria, porque eu não ia atrás disso, tenho quase certeza disso. Mas foi essa questão artística mesmo que mudou muito.
P/1 – E qual você acha que é a importância desse contato com a arte? Que importância que teve pra você?
R – É muito importante pra mim, porque acho que você descobre uma nova forma de ver o mundo, uma nova forma de ser. Hoje eu tenho mais convicção nisso, mas quando eu estava vivendo isso, quando eu estava fazendo, eu também percebia, mas não tinha essa leitura clara, sabe? Hoje eu consigo falar melhor sobre isso. Eu descobri habilidades que eu não tinha, por exemplo, descobri habilidade no circo, habilidade na música, tive oportunidade de experimentar isso. E mudou meu jeito de ser, consigo ser mais desinibido, consigo falar mais, me expressar melhor, me posicionar melhor. Isso foi a questão da arte que trouxe um pouco. Essa consciência de saber se colocar no lugar do outro, isso principalmente com o teatro, saber ouvir, saber falar, ter o tom certo. Nas relações, por exemplo, numa aula de circo, na relação com os outros, respeitar quando um consegue aprender e o outro não, que a gente tinha essa vivência, quem consegue aprender mais ajuda quem aprende menos e a gente vai se ajudando. Então tem tudo isso, sabe? É muita coisa que mudou. É muito importante pra mim. Mais a leitura de mundo, mudou muito, eu consigo ver outras coisas que eu não via antes.
P/1 – E aí você teve toda essa experiência, essa vivência aqui dentro, eu queria saber também se você teve contato, a partir do momento que você entra no ICA, com manifestações culturais de fora, teatro, música? Tinha isso? Vocês faziam passeios?
R – Sim. Quando eu comecei a entrar no ICA, eu comecei a me interessar mais por essa questão do teatro. E lá onde eu morava, lá na rua, existia um grupo de dança. Existia não, estava se formando um grupo de dança, de axé, inclusive, na época. E eu falei que eu gostaria de participar. Talvez se não fosse o ICA, eu não teria essa liberdade pra chegar e falar, essa questão da dança, porque, não sei, o pessoal não gostava muito. Daí eu vi que tinha mais gente fazendo, eu também resolvi fazer. Eu fui, acabei entrando nesse grupo lá de dança, a gente começou a apresentar em vários lugares da cidade, aí eu consegui conciliar um pouco, o ICA, e de final de semana eu ia apresentar com esse grupo de dança. A gente apresentava na escola, nos comícios que tinha depois na cidade. Sempre tinha comício pra prefeito, essas coisas, a gente sempre apresentava, em festas, eventos, cidade aniversário, dia do trabalhador, essas coisas. A gente sempre acabava dançando nesses eventos, então eu tive um pouco de contato fora do ICA através do ICA também. E foi mais essa questão da dança. Depois procurei alguns grupos de teatro também por fora, mas acabou não dando certo, porque tem que ter uma dedicação maior e o tempo não dava, então acabou não rolando. Mas foi mais essa questão da dança fora do ICA.
P/1 – E tinha um nome esse grupo de dança?
R – Tinha. Explosão do Axé. A gente conseguiu apresentar no canal da cidade, no canal 44 aqui, na MMTV, Mogi Mirim TV. A gente apresentou uma vez lá o grupo de dança, a gente ganhou uma fita, sabe? A gente se viu na TV. Foi superlegal. A gente fez uma festa, inclusive, pra comemorar lá. Então foi isso.
P/1 – E nessa fase de adolescência... Tudo isso que você tá me contando é na fase ainda de adolescente.
R – Isso.
P/1 – Antes da faculdade, né?
R – Antes. Bem antes.
P/1 – Teve alguma história também da sua vida pessoal ou dessa questão com o ICA que tenha te marcado?
R – Tem. Na verdade foi um pouco mais pra frente, quando eu tinha 16, 17 anos, mais ou menos, aconteceram duas coisas: a primeira coisa foi quando eu fui selecionado pra ser monitor, que no ICA na verdade eu entrei com 12, 13, aí passei por todas as turmas, fiz o Carpe Diem completo, que tinha circo, teatro, música e dança, passei por tudo, e na época surgiu essa seleção pra ser monitor. Porque como começou aumentar a demanda de criança, precisava de um monitor pra ajuda a auxiliar, então precisava ser aqueles que já tinham uma vivência maior. E como eu já estava nessa fase, surgiu essa seleção. E fiz um teste, foi um teste de perguntas, um pouco de experiência, como eu me sentiria fazendo isso. E aí eu fui pra esse teste, acabei passando e virei monitor. Então isso foi uma conquista muito grande pra mim. Na verdade, a gente não tinha remuneração nenhuma, era uma ajuda de custo, na verdade, que a gente tinha. Mas, o fato de continuar no ICA e poder ajudar as pessoas ainda, nessa época com época com 16 anos, já assumindo essa responsabilidade, já foi muito bom. Porque muitos não conseguiram ter essa oportunidade. Porque chega nessa época, com 16, ou a gente atinge a fase da monitoria e investe nisso, ou a gente tem que procurar alguma coisa fora do ICA. O ICA também ajuda nessa parte, procurar alguma coisa fora. Mas eu não queria alguma coisa fora, porque já estava superenvolvido. Então acabou dando certo essa questão da monitoria, consegui continuar no ICA e isso foi muito bom. Por isso que eu estou aqui até hoje, porque foi muito legal. E outro fato marcante foi o falecimento do meu irmão nessa época. Eu tinha acabado de virar monitor, aí ele acabou falecendo nesse acidente de moto. E uma coisa legal, que me marca muito, foi a coroa de flores que o ICA mandou no velório do meu irmão, e eu nem sabia. Isso foi durante o dia e apareceram lá várias pessoas do ICA. Senti uma preocupação muito grande deles em relação a mim. Nesse dia foi uma preocupação muito boa que eles tiveram, me fez sentir valorizado, sabe, naquele momento. Porque foi uma perda muito difícil, a gente conseguiu superar isso, eu tive vários amigos que ajudaram. E tinha lá a coroa de flores do ICA, deu aquele superapoio. É uma coisa simbólica, mas mostra uma preocupação. Imagina, eu nunca esperava que isso ia estar lá. Isso foi os dois fatos que marcou.
P/1 – E nessa mudança, nesse momento da monitoria, o que muda? Qual a diferença entre estar na posição de aluno e estar na posição de monitor?
R – Foi difícil. Foi muito difícil no começo, porque a gente era uma turminha de adolescente ali, o tempo todo a gente brincava, tinha aquelas brincadeiras em comum que a gente fazia no ICA, a gente zoava, corria, fazia bagunça no refeitório, e depois eu não poderia mais fazer isso, que agora eu tinha que chamar a atenção de quem fazia isso. E era muito difícil tanto pra eles aceitaram que era eu que estava chamando a atenção, e pra eu falar também, porque eu sabia o quanto era legal fazer aquilo, mas não podia e eu tinha que chamar a atenção de uma forma ou de outra. Foi bem difícil no começo. Inclusive, muitos a gente brigou várias vezes, discutimos eu com os meus amigos, porque é difícil, você está numa posição, de repente você tem que mudar pra outra, então foi bem complicado esse começo. Mas depois eles começaram a entender. E eu sempre fui uma pessoa que conversava muito, explicava muito o que estava acontecendo. Eu falava: “Olha, eu só to te falando isso porque a partir de agora eu também vou ser cobrado por isso, entendeu? Então tenta entender, não é pessoal com você”. Eu sempre tive esse diálogo muito aberto. Aí o pessoal foi começando a entender, isso foi começando a ficar cada vez mais... Foi começando a ficar bom. No começo eu não queria mais ser monitor, eu falei: “Ah, é muito chato ter que chamar atenção dos outros. Não quero isso pra mim”. Mas depois eu acabei gostando, o pessoal acabou entendendo, aí acabou dando certo.
P/1 – Quanto tempo você ficou como monitor?
R – Fiquei dois anos: dos 16 até os 18. Aí com 18 eu fui contratado pra ser educador. Mas foram dois anos.
P/1 – E a faculdade de Pedagogia, quando foi que você decidiu que curso você queria fazer e como foi essa entrada no curso e a experiência da faculdade?
R – Na verdade, eu nunca achei que fosse ser professor. Nunca foi uma meta minha, nunca foi um sonho. Depois que eu comecei a virar monitor, eu vi que eu tinha essa paciência, esse jeito pra falar com as pessoas, esse dom de ajudar e de poder ensinar, de saber transmitir algum conhecimento com cuidado pra que o outro entenda. Consegui perceber isso quando eu virei monitor. Mas até então eu não sabia que faculdade eu ia fazer, não sabia que tinha uma faculdade pra ser professor. Inclusive foi o ICA que me incentivou a fazer essa faculdade, a Tarcísia, que é a presidente. Numa reunião a gente fez e ela falou: “Olha, por que vocês não fazem Pedagogia?”. Falou pra mim e pra Dani ainda. Falou: “Por que vocês não fazem Pedagogia? Acho que é uma área boa pra vocês, vocês já estão atuando como monitor”. Eu falei: “Mas eu queria fazer Cênicas, queria fazer alguma coisa do teatro, alguma coisa de arte”. Mas isso acabou ficando um pouco distante, porque não tinha essa faculdade aqui, e eu também não tinha recurso pra pagar uma faculdade de Cênicas. Não tinha dinheiro na época. Eu falei: “Com a gente vai fazer pra conseguir fazer essa faculdade? Vai ser uma coisa muito difícil de a gente fazer. Vamos começar pela Pedagogia, aí a gente vê o que dá. Vamos ver como vai ser, vamos ver como a gente vai fazer isso”. Então foi aí que a gente começou junto a fazer essa faculdade. Terminei o ano passado a faculdade, faz quatro anos que eu fiz, de Pedagogia. A gente começou junto, eu e a Dani. No começo foi bem difícil, eu não estava entendendo muito, mas aí foi começando a surgir ideias, os professores supercomprometidos, superlegais, a gente começou se interessar pelas pesquisas. E uma coisa que foi bacana, que eu acho que poucos têm oportunidade, é de fazer a faculdade e trabalhar na área ao mesmo tempo. A gente conseguiu fazer isso. A gente dava aula no ICA e fazia a faculdade, aí muitas dificuldades que a gente tinha em sala de aula, já falava com o professor na faculdade, sabe? E ele já dava esse apoio, esse auxílio. A gente conseguia conciliar várias coisas, aí eu comecei a achar legal, falei: “Nossa, que bacana, tá me ajudando muito”. Então foram quatro anos de faculdade muito bons, muito legais. Senti bastante dificuldade no começo, porque eu era o único homem da sala, os quatro anos, não tinha nenhum, só tinha as meninas. Tinha hora que eu ficava meio deslocado, que tinha aquelas conversas só de mulheres, elas falavam dos outros meninos, era superchata essa parte (risos). Falava de brinco, falava de maquiagem, essas coisas. E eu ficava ali meio deslocado. E eu não tinha muita amizade com os outros dos outros cursos, era só o pessoal da minha sala mesmo. Mas aí foi superlegal, me dei super bem. E é isso, a gente entrou na faculdade através do ICA. Foi o ICA que deu essa direção, esse norte. Talvez eu tivesse feito outra coisa, mas hoje eu vejo que a melhor coisa foi a Pedagogia mesmo que eu fiz.
P/1 – Só retomando, você estava comentando dessas dificuldades como educador no começo, tal. Eu queria saber se você se lembra de alguma história que pudesse deixar mais concreto pra gente, que tipo de desafio, que tipo de dificuldade. O que você vivenciou como educador no começo do trabalho.
R – Eu lembro que eu dei aula como monitor nos pontos externos que o ICA tem, foi lá no CRAS, que fica aqui na zona norte, e dei aula no ICA também. Quando eu voltei pra dar aula no ICA, o primeiro ano foi muito difícil, que lembro muito bem, tinha um aluno, ele chamava Lucas Manuel, lembro o nome dele até hoje, e a maior dificuldade foi: ele não respeitava. Não conseguia. Não conseguia chegar nele. E eu sou muito paciente, sempre fui. É muito difícil eu ficar nervoso, estourado, gritar, nunca fui disso. Mas ele conseguiu me tirar do sério, eu não conseguia lidar com ele. Porque o que ele fazia? Ele não respeitava. Eu falava pra ele fazer uma coisa, ele fazia outra. Falava senta, ele ficava em pé, só que ele não respondia. Quando eu tava dando bronca nele, ele ficava olhando pra minha cara, tipo, quieto, mas com cara de deboche. Eu falava: “A gente vai ter que chamar a sua mãe aqui pra conversar”. E ele quieto com cara de deboche. E eu falava: “Você vai ficar três dias sem fazer aula”. E ele quieto com cara de deboche. Eu falava: “Meu Deus, o que eu falo pra ele que vai assustá-lo um pouco, ou vai pelo menos tentar melhorar um pouco”. E ele nada. Ele ficava quieto. Quieto, quieto, quieto. Foi que eu falei pra minha professora da faculdade. Porque eu tava dando muita atenção pra ele, tudo que ele fazia, eu que chamava atenção, era eu que falava. Até no pátio mesmo, sabe, quando ele estava andando, fazia alguma coisa, era eu que chamava, então ele estava meio que saturado já da minha voz, de mim. E aí foi quando eu perguntei pra professora da faculdade o que eu poderia fazer. Eu falei: “Ah, eu estou surtando com ele, não consigo mais. Eu já gritei, eu já falei, já coloquei sentado, ele não senta, já falei pra ficar em pé, ele não fica, ele me contraria. Acho que ele não gosta de mim. Acho que o problema é comigo mesmo”. Ela falou: “Glayson, tenta não falar com ele. Faz o mesmo que ele está fazendo com você. Tenta não falar com ele, vamos ver se te ajuda”. E eu fiz isso e deu supercerto. Ele chegou à sala, ele já chegou causando, tumultuando, mexia com os amigos, batia em todo mundo. Aí todo mundo falava: “Glayson, o Lucas está fazendo isso. Glayson, o Lucas”. Eu falava: “Não, gente, pode deixar, está tranquilo, tudo bem”. Eu parei, não falei com ele acho que foram uns dois, três dias. Depois ele me chamou... Ele tinha acho que 12 pra 13 anos. Ele me chamou: “Glayson, você está bravo comigo? Você não vai falar comigo mais?”. Eu falei: “Ah, Lucas, já cansei de falar com você”. Aí a gente começou a conversar. Aí eu expliquei pra ele o que ele estava fazendo de errado, que isso não era legal e não estava fazendo... Não é que não fazia bem pra mim, não fazia bem pra ele. Ele não ia ser aceito no grupo com os amigos, ele ia ficar excluído de todo mundo, e que não é legal ser excluído de todo mundo, o legal é ter bastante amigo, respeitar. E depois desse dia ele entendeu. Então eu consegui abrir um diálogo com ele, eu consegui avançá-lo no desenvolvimento. Depois de uns dois, três anos ele saiu do ICA, mas eu consegui acessar. Essa foi a dica mais preciosa que eu tive na minha vida. Eu isso até hoje.
P/1 – E teve um momento também, uma história, um episódio que você identifique que tenha sido o momento que você pensou: “Ah, é isso mesmo que eu quero fazer”, ou que tenha dado um clique nesse sentido, sabe, profissional? Um retorno bacana. Esse é um caso, né, de um retorno bacana, mas se você se lembra de alguma outra história que tenha te marcado nessa trajetória como educador.
R – Lembro. Foi no primeiro ano, foi em 2009, quando eu comecei a dar aula, que foi no ponto externo, aí fui eu com a Dani junto. A gente começou a dar aula no CRAS. E a realidade do bairro é muito complicada, é bem vulnerável, as crianças não têm... Às vezes têm uma dificuldade de estrutura familiar, o próprio contexto, enfim, é muito complicado. E as crianças iam lá para o CRAS pra fazer atividade do ICA, pra fazer atividade do circo, do teatro. E pra eles era muito mágico, eles gostavam muito, eles davam muito valor naquilo. E eu lembro que no começo do projeto a gente começava sem material nenhum, era bolinha de painço mesmo feito com sacola, alguma coisa, não tinha tatame pra gente poder começar a fazer atividade, a gente passava mais brincadeira em roda mesmo, não tinha material. E aí eu lembro que um dia... Quando chegou o tatame ao projeto, era um pátio aberto e dava pra ver os caminhões que passavam. E o caminhão era aberto, o caminhão baú, aí ele passou com o tatame azul que já ia chegar. A gente parou a aula e todo mundo comemorou. Fizemos uma festa muito grande: “Ah, o tatame chegou, não sei o quê, vamos comemorar”. E chegaram os materiais, foi aquela festa. Aí já montou o tatame, conversamos sobre o cuidado com o material, tudo, mas muita ânsia de fazer, de usar o material. A gente começou a usar esse material e começou a fazer. Então a gente pegou um vínculo muito grande com essa turma. Foi um ano e eles pegaram essa fase de não tinha o material e depois com o material. E no final do ano a gente tinha que mudar de ponto. Então o ICA ia continuar lá, mas os educadores, no caso era eu com a Dani, a gente tinha que voltar pra dentro do ICA pra cumprir as demandas daqui, enfim, ia mudar os educadores de local pra mudar um pouco a rotina do projeto. E foi uma coisa muito marcante, foi que eles fizeram um vídeo pra gente homenageando, agradecendo pelo ano. Eles mesmos montaram umas festas pra gente fazer. Umas não, uma festa. Pra gente participar da festa, e com as condições deles, não tinha quase nada na festa, tinha um suquinho na jarra, umas bolachinhas que eles mesmos juntaram lá, cada um pegou um pouquinho da sua casa e trouxe e fez essa festinha pra gente. Isso foi muito marcante, porque eu vi a importância que a gente tem na vida deles. Eu falei que talvez se não fossem as conversas que a gente teve, aquele momento que a gente teve com eles durante as aulas, não sei se eles estariam aqui hoje, ou o que eles estariam fazendo diante dessa realidade que esse bairro tem. Não sei o que eles estariam fazendo, penso eu que seriam coisas erradas. E eles deram esse presente, esse retorno. E aí a gente tirou uma foto e deu uma foto pra cada um. Inclusive muitos deles continuam no ICA até hoje e falam que têm essa foto até hoje. Eles mesmos falam que foi muito marcante esse dia pra eles, enfim. Esse momento, esse ano de 2009 foi muito marcante mesmo. Foi um retorno muito grande. Eu falei: “Nossa, que importância que eu tenho. Que bom que eu consigo ajudar. Que importância que eu tenho”. E as mães também, as famílias vieram falar: “Nossa, depois que meu filho começou a fazer aula aqui, depois que meu filho teve esse retorno ele melhorou muito, melhorou na escola, consegue conversar mais, ele é mais paciente, brinca mais”. Tinha criança que não brincava, olha pra você ver. A gente passava brincava pra eles. Isso é muito legal, muito rico. Esse retorno foi muito grande. Então foi esse. Esse foi um momento marcante como educador. Até hoje... Esse foi o momento.
P/1 – Você teve algum aluno que tenha sido especial pra você?
R – Tenho. Ah, tenho vários. Difícil falar de um só. Mas teve dois que eu acho que eu consegui me aproximar bem deles. Um foi o Jeferson, eu lembro que ele chegou lá ao CRAS, chegou ele e uns amigos com uma bicicleta, descalço, ele era adolescente, tinha 13 pra 14 anos também, chegou lá todo descalço, aí olhou o pessoal fazendo. E ele fazia bastante acrobacia, vários saltos, várias coisas, mas fazia na rua, rotina de rua. E a gente falou que a gente dava essas aulas lá e que a gente podia ensinar uma técnica boa pra se fazer isso. E ele veio pra essa atividade, gostou, não só disso, começou a gostar de várias coisas da aula de circo. E aí a gente conversando, acabamos descobrindo um pouco do contexto dele, que era muito complicado mesmo, uma família muito difícil, supervulnerável. Ele não tinha uma estrutura familiar, não tinha nada, era praticamente abandonado, vamos dizer. E a gente o trouxe pra dentro, o acolhemos, ele gostou muito de fazer parte do ICA, pegou um vínculo muito grande comigo. E depois de um tempo, ele cresceu, acabou passando um tempo pela monitoria rápida. A gente conseguiu colocá-lo no processo de monitoria, ele conseguiu começar ajudar os outros. E ele tinha um temperamento muito forte, ele era muito agressivo, não conseguia conversar, não conseguia falar. E depois que ele começou a frequentar as aulas com a gente, depois de um bom tempo, foi um grande trabalho, ele conseguiu melhorar a relação dele com as pessoas. Foi um grauzinho pequeno, mas ele conseguia já falar, conseguia respeitar mais os outros, já não era mais tão explosivo. Ele ficou um tempo na monitoria, viu que as crianças davam trabalho um pouco, e ele era daquele jeito, a gente conversou com ele também e ele conseguiu conciliar isso, entender que as coisas não eram assim. Enfim, esse foi marcante porque a gente conseguiu transformar a realidade dele. Ele ficou um bom tempo no ICA, mas já foi embora, está morando com o pai dele, tudo, lá em Caraguatatuba, mas foi uma... Era um menino que marcou muito, que eu vi um retorno rápido e foi um trabalho nosso, direto, que a gente fez com ele. E o outro foi o Pablo, que esse inclusive é recente. Ele era lá do CRAS, onde eu também dava aula, muito habilidoso, aí eu consegui trazê-lo para o ICA. Mas no começo ele não queria muito, mas pelo vínculo que eu tinha com ele mesmo, ele não queria se afastar, tal. Depois ele conseguiu vir pra cá, conseguiu ver várias coisas diferentes. E eu o peguei no início do desenvolvimento artístico mesmo dele. Ele fazia um mortal, jogava três bolinhas, coisas simples. Depois que ele veio para o ICA, ele está subindo no trapézio, está fazendo várias apresentações, hoje já faz flic, faz mortal, que são coisas práticas, mas que eu sei que faz a diferença pra ele. E eu que dei o início lá trás com ele. Eu que comecei lá atrás com ele. Então eu estou vendo o resultado dele. Isso é muito bom, muito produtivo. É isso.
P/1 – Bacana.
R – Muito legal.
P/1 – Qual você acha que é bom... Acho que você falou... Eu vou te fazer uma pergunta que você já falou um pouquinho disso em toda essa sua... Dividindo essa experiência com a gente. Eu que queria saber de uma maneira geral qual você acha que é a importância pra esses jovens e crianças que fazem parte do ICA. Qual a importância que o trabalho do ICA tem na vida deles, que uma instituição como o ICA tem na vida deles?
R – Eu acho que no ICA, o que acontece com eles é a mesma coisa que aconteceu comigo. Parece meio piegas falar isso, mas não é, é que no ICA tem uma essência diferente. Quando você entra aqui, não sei, parece que tem alguma coisa que te move, alguma coisa que faz você não querer mais sair daqui. Talvez seja o tratamento das pessoas, o carinho, o acolhimento que você tem quando você chega é uma coisa muito boa, uma coisa muito diferente. A gente não está acostumado com isso, nem as próprias crianças. Ninguém sai por aí acolhendo, ou abraçando, ou falando uma palavra de carinho. E quando você chega aqui, você tem isso, acho que é um princípio da organização, é esse: o acolhimento, a paciência. A dona Sofia que falava muito isso dessa questão do carinho, do acolher. Então a diferença começa aí, quando a criança chega, ela já se sente acolhida. E depois esse contato direto com a arte. Porque eu acho que a arte proporciona muitas coisas. É como eu te falei, proporciona essa vivência, essa leitura de mundo, essa clareza, sabe, essa sensibilidade que a gente tem de lidar com as pessoas, de lidar com o outro, isso traz muito a arte, e a gente vê isso todos os dias aqui. Isso é vivo no ICA, direto. Por isso que várias vezes em apresentações a gente se emociona, chora mesmo, porque a gente vê que de certa forma a gente tá proporcionando momentos pra que eles sejam transformados, e que de fatos vão ser, isso não está mais nem com a gente, é a própria essência da arte que acaba fazendo isso. E aqui a gente tem esse espaço. Então acho que a mudança que o ICA tem na vida das crianças é essa. Talvez muitos não sejam artistas, não sejam professores, mas só de ter passado essa fase de criança e de adolescente, que é tão difícil ter passado por isso na questão da arte, acho que isso já faz uma diferença gigante na vida deles, independente do que eles forem ser mais pra frente, mas só de ter tido contato com isso vão ser pessoas diferentes. Quem trabalha com arte é de certa forma uma pessoa diferente, consegue ver uma leitura de mundo diferente.
P/1 – Eu quero te perguntar um pouquinho agora mais da relação específica com o Criança Esperança. Primeiro, como você conheceu o Criança Esperança? É uma resposta bem pessoal essa. Desde quando você conhece, como você conheceu e o que você sabe sobre o Criança Esperança?
R – Bom, na verdade eu via o programa do Criança Esperança na TV, quando eu era pequeno, sempre passava, aquela coisa do final do ano, do Criança Esperança, das doações. Eu conheci através disso. Depois quando eu entrei no ICA, eu fiquei sabendo que o ICA ia ser apoiado por esse projeto. E foi na época que eu fazia parte desse projeto, que eu estava no Carpe Diem, que foi o Carpe Diem que foi apoiado por esse projeto. E eu fiz parte disso. E aí eu fiquei muito feliz, fiquei muito lisonjeado de fazer parte desse projeto. Na verdade, conheci quando eu era pequeno, como eu te falei, assistindo, vendo, mas nunca tive uma relação muito próxima. Minha relação mais próxima foi quando eu fiquei sabendo que o ICA tava participando. E eu fiquei sabendo porque foi colocada uma placa lá, teve uma assembleia, todo mundo falou, isso foi falado, teve um pessoal no ICA que foi entrevistar a gente, contar um pouquinho de como era o projeto. Então eu conheci através disso.
P/1 – E qual você acha, qual a importância que você vê nesse recurso do Criança Esperança, ou nesse apoio do Criança Esperança para o ICA, mais especificamente para o Carpe Diem?
R – Eu acho que o recurso que o Criança Esperança mandou para o ICA foi válido pra construir essa nova sede principalmente. Eu acho que esse recurso que foi mandado ajudou a construir essa nova sede e não só o prédio, mas ajudou muito no Carpe Diem em materiais pra gente ter, em materiais pra treino mesmo, enfim, cursos para os professores que tinha na época, passeios que a gente fez vários para museu, pra, enfim, exposições, isso tudo foi com o recurso do Criança Esperança. Então ajudou a... Inclusive, nessa época foi a primeira vez que eu tinha ido, que eu fui pra São Paulo, no Museu da Língua Portuguesa. Foi a primeira vez que eu tinha ido e foi com esse recurso do Criança Esperança, que mandou para o ICA nessa época, então foi com isso que a gente conseguiu fazer essas viagens.
P/1 – E como foi essa experiência no Museu da Língua Portuguesa?
R – Foi muito rica. Pra mim era tudo novo. Porque Mogi Mirim é uma cidade muito pequena. E como eu nunca tinha ido pra São Paulo, quando eu vi a cidade grande, quando eu entrei no museu, vi várias coisas, e tem umas coisas interativas também que a gente pode mexer lá no museu e pode ter contato mesmo. Na verdade, eu não sabia que museu era, naquela época. Pra mim, museu era museu, aquela coisa parada, tem quadro, você não pode mexer, aquela coisa distante. Mas não, tinha uma coisa que a gente podia interagir, enfim, pessoas falando no museu também, vídeos mostrando várias coisas. E foi uma experiência muito nova, eu tive outra leitura de museu depois disso. E não foi só esse, foram vários também outros, que a gente foi à Pinacoteca também, que a gente foi. Enfim, várias coisas que eu não conhecia e conheci através disso. Foi essa questão de conhecer a cidade grande, que eu não conhecia, pra mim foi superlindo, já fiquei impressionado quando eu vi o Tietê passando na época. E é isso.
P/1 – E esses passeios, conhecer esses lugares, conhecer São Paulo, que importância você acha que tem na sua formação e na formação das outras pessoas que tiveram essa oportunidade também?
R – Amplia a visão. Tem mais coisas além daqui. Porque pra mim, em Mogi Mirim tinha tudo. Tudo no sentido do que eu poderia ter acesso. Não saberia que poderia ter mais coisas. Mas não, tem muita coisa. Eu não sabia que lá poderia ter esses museus, a Pinacoteca, tem uns parques de diversões, tem muita coisa que acontece em São Paulo, tem exposição. A gente foi ao teatro, fomos assistir A Bela e a Fera, a gente conseguiu ir para o Cirque du Soleil assistir também. Eu não saberia que poderia ter acesso a isso através do ICA, do Criança Esperança que deu apoio. Eu não saberia que eu poderia ter acesso, assistir a esses espetáculos do Cirque du Soleil, fazer essas viagens. Quando eu fui para o Cirque du Soleil foi uma viagem marcante pra mim a primeira vez. Porque aqui no ICA, a referência do circo é essa, o Cirque du Soleil, então a gente sempre assistia pelos vídeos, Saltimbancos, esses espetáculos, sempre pelos vídeos que os professores passavam. E quando a gente tem a oportunidade de ir pra São Paulo pra assistir ao vivo, quando eu entrei na lona, eu chorei muito. Foi muito emocionante. Não sabia, eu falei: “Isso não tá acontecendo de verdade, não é possível”. Foi lindo. Eu não pisquei um minuto. Eu lembro, foi lindo. Lindo, lindo, lindo. Uma vivência marcante demais. E foi isso, ter essa experiência através do ICA, através dos recursos que foram doados, foi ótimo. Mar muito. Marcou na minha vida e com certeza na vida de muitos que passam por aqui. Isso marca muito, não tem como esquecer.
P/1 – Você falou da sede, que é esse espaço superbonito que a gente está. Eu queria que você falasse um pouco, do seu ponto de vista, qual a importância desse espaço, dessa mudança de sede para o ICA, para o trabalho do ICA, enfim?
R – O ICA sempre foi referência na cidade em relação a esse trabalho artístico. Nunca teve outra instituição que faz o que o ICA faz há 17 anos ainda. E esse prédio é uma referência de arte, de cultura pra cidade. Então o ICA já tinha um pouco essa referência na cidade, e agora ainda mais. Porque não só pela visibilidade do prédio, mas pelo número de atendimento, que aumentou um pouco mais, consegue atingir mais as crianças. E tem uns atendimentos nos bairros também. Que todo mundo na cidade acaba conhecendo um pouco do ICA. As crianças do bairro têm a oportunidade de vir pra cá, de vir pra essa sede, de saber como foi construído isso, porque foram 17 anos pra construir, não foi fácil. E foi um projeto muito pensado, foi muito estudado, aperta daqui, aperta dali, vai uma coisa atrás da outra, através de doações, apresentações. Enfim, as pessoas podem conhecer melhor um pouco o ICA através desse prédio, dessa estrutura, do que o ICA é hoje e de quanto o ICA é importante pra Mogi Mirim. Eu acho que é muito enriquecedor pra cidade ter um projeto como o ICA, por essa questão de trabalhar com a criança essa questão da arte em parceria com a escola, que a gente tem essa comunicação direta com a escola. Ajuda no desenvolvimento integral da criança. Ela está sendo assistida o tempo todo: na escola e aqui também. Então isso ajuda muito.
P/1 – Bacana. Eu vou encaminhar para o final, só quero retomar, a gente tem duas perguntas finais, eu quero retomar uma coisa que ficou pra trás, eu queria saber se durante a adolescência, ou até o momento que você tá vivendo atualmente, teve alguém na parte afetiva, na sua vida afetiva que tenha sido especialmente significativa, importante.
R – Na minha vida toda, a minha mãe, a minha família, a minha mãe, meus irmãos, acho que é incondicional. E tem meus amigos. Tem dois amigos que eu fiz aqui no ICA, que se eu não tivesse feito aqui no ICA, acho que eu não teria conhecido essas pessoas em outros lugares, que são a Dani e o Thiago, também são educadores. A gente tem um vínculo muito forte, praticamente irmãos. A gente trabalha no ICA junto, a gente trabalha fora daqui junto, tudo que a gente faz, a gente faz junto. E é uma irmandade muito grande, um amor muito grande que eu tenho pelos dois, e eu sei que isso é recíproco também. E é isso. São essas pessoas que marcam a minha vida: minha família, meus amigos. Eu acho que é isso. São muito importantes.
P/1 – Eu vou te fazer as duas perguntas finais então. Antes de encaminhar para as duas, eu quero saber se tem alguma coisa que eu não tenha perguntado e que você gostaria de dizer, deixar registrado, qualquer coisa.
R – Não. Eu acho que não. Acho que eu falei tudo sim. Tudo que é mais importante tá dito. Acho que é isso.
P/1 – Então a penúltima pergunta: quais são seus sonhos?
R – Meu sonho é conhecer o mundo. Tenho um sonho, vontade de viajar o mundo inteiro, tenho vontade que as pessoas conheçam quem eu sou, o que eu sei fazer. Eu quero ajudar muita gente. Esse é meu sonho. Eu tenho o sonho de viajar o mundo, conhecer vários lugares, ter várias experiências, quero ser famoso, reconhecido. É isso. E eu vou chegar lá se Deus quiser.
P/1 – Como artista você diz?
R – Como artista. Fazendo teatro, apresentando programa de TV, buscando televisão, essas coisas.
P/1 – E, por fim, como foi contar a sua história?
R – Foi muito bom. Foi emocionante. Emocionei-me em alguns momentos. Rever o passado, voltar pra dentro um pouco, lembrar várias coisas. Isso é muito bom. Não é sempre que a gente tem a oportunidade de fazer isso, contar um pouco a história. Eu imaginei que ia ser diferente, mas quando eu comecei a falar, eu lembrei, tem muitas lembranças boas, que agora... São lembranças vivas que a gente a gente acaba esquecendo, mas quando a gente fala, emociona, e isso é muito legal. Foi bom sentir isso.
P/1 – Tá bom, Glayson. Muito obrigada então.
R – Obrigado eu.
P/1 – A gente encerra aqui.
FINAL DA ENTREVISTARecolher