IDENTIFICAÇÃO Boa tarde. Meu nome é Salim Armando. Nasci em 12 de janeiro de 1932, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
FAMÍLIA O nome do meu pai é Jacques Armando da Silva; o da minha mãe, Rosa Gabriel Armando. Já dos meus avós não me lembro bem. Eu tinha cinco anos de idade,...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Boa tarde. Meu nome é Salim Armando. Nasci em 12 de janeiro de 1932, em Belo Horizonte, Minas Gerais.
FAMÍLIA O nome do meu pai é Jacques Armando da Silva; o da minha mãe, Rosa Gabriel Armando. Já dos meus avós não me lembro bem. Eu tinha cinco anos de idade, não dá para lembrar bem. Lembro da minha avó. Ana Maria Raimunda dos Reis. Filha de portugueses. Era
avó materna. Quanto à origem da família inteira eu diria que tem mistura de árabe com português. Mais predominante árabe com português. Bem brasileiros. Tem egípcios. Parece que meu pai é proveniente de lá. Meu pai não, meu bisavô. Meu pai era comerciante, e minha mãe, costureira. Já irmãos, eu tenho três irmãs, oficiais. Dos meus avós, não lembro. Nem de ouvir dizer. Naquela época não dava para saber as atividades que faziam. Talvez do avô paterno. Eu sei que ele mexia com negócio de terra. Mais nada.
CASA Na infância morava em Belo Horizonte. O bairro em que eu... Me lembro. Meu bairro se chamava Floresta. Nascido em Floresta. Na realidade, como era aluguel, eu morei numa meia dúzia de bairros. Então, minha mãe e meu pai viviam mudando. Mas era sempre casa. Era sempre casa com quintal. Quer dizer, na minha infância, vamos dizer assim, eu nunca morei em apartamento. Naquela época, apartamento era coisa rara. A maioria era casa.
FAMÍLIA A vida em família era normal. Como todo mundo. Quem mandava na minha casa era minha mãe. Com toda certeza. Ela era muito severa. Ela é que mandava mesmo. Ela que realmente comandava. Ah, ela deixava a gente brincar. Brincar e estudar. Na realidade, o que ela fazia era fazer com que a gente estudasse, naturalmente. E eu quase posso dizer, do pequeno relacionamento familiar que tinha. Eu tinha primos aqui no Rio. Eu fui a primeira pessoa a ser formada. Para ver como é que era...
EDUCAÇÃO Estudei em Belo Horizonte. Eu estudei no Grupo Escolar Olegário Maciel, primeiro. Depois no Colégio Afonso Arinos. O outro colégio, Afonso Celso. Um ginásio, o outro científico. Depois, eu fui estudar ciências econômicas na Universidade de Minas Gerais. Fiz até o segundo para o terceiro ano. Parei, porque passei na Escola de Engenharia de Juiz de Fora. E aí me formei engenheiro civil eletrotécnico.
MIGRAÇÃO Eu me mudei para Juiz de Fora, sozinho. Fui morar numa casa de família, na qual alugava um quarto. Com garagem. A vida nesse tempo foi ótima. Eu aprendi a comer. Comia no restaurante, naquela época era o bandejão. E comia um punhado de coisas que eu não gostava. Abóbora, aqueles negócios todos. Aí, aprendi a comer. Ou come ou passa fome.
TRABALHO Eu, como tinha muito orgulho, não queria pedir nada de mesada extra para minha família, então trabalhava, comia, fazia algum trabalho, dando aula... A família dava alguma coisa e o resto eu dava aula. Não tinha muita coisa. Ou então, qualquer bico que aparecesse. Serviço de topografia e etc. Cálculos. Depois quando eu estava mais adiante, cálculos estruturais. Ou seja, uma espécie de engenharia, mas daquele tipo de estudante ainda. Era desse tipo. Até depois, me formar.
EDUCAÇÃO Para falar a verdade eu só vivi para estudar. Não dava nem umas saidinhas. Nada, nada, nada. Nem namorar direito podia. Não fazia nada. Festinhas, aquelas festas de diretório acadêmico. Eu tinha uma ânsia muito grande de me formar. Eu era o filho mais velho. Então, eu tinha de me formar de qualquer jeito.
INGRESSO NA PETROBRAS Eu sou o único homem e me formei entre os primeiros da minha família. Até que a Petrobras chegou lá na minha escola e fez um teste. E chamou alguns lá, entre eles fui eu. Fui escolhido. Para ir lá para a Bahia. Então fui para a Bahia, onde eu fiz o curso de especialização em engenharia de petróleo, na Universidade da Bahia. Eu fui lá para trabalhar na Petrobras, no qual era obrigatório o curso de um ano e meio. Um ano mais seis meses de estágio. Eu já era empregado, tinha o curso de oito horas por dia, full time. Tempo integral. Com trabalhos de estágio em campo, intercalados. Então, foi nessa fase que eu passei um ano e pouco estudando, tirando o curso de especialização em petróleo e fazendo estágio de campo. Depois de mais ou menos 18 meses, eu fui designado para trabalhar num campo de petróleo.
EDUCAÇÃO Saí formado de Juiz de Fora. Engenharia civil, eletrotécnica. Depois o curso de engenharia de petróleo, vamos dizer, financiado pela Petrobras. A todo mundo que a Petrobras chamava, dava um curso de petróleo. Porque não existia essa carreira de engenharia de petróleo no Brasil. Isso foi em 1959.
INGRESSO NA PETROBRAS No dia 12 de janeiro de 1959 eu comecei na Petrobras e a estudar. Lá, direto, era tudo baseado na Petrobras, para a Petrobras e tudo assim. Morava em uma pensão, era a única coisa que não era Petrobras. Mas, depois que ia para o campo, morava em alojamento.
EXPLORAÇÃO
CAMPOS DE PETRÓLEO NA BAHIA O campo era o campo onde se fazia a exploração e a exportação, ou seja, a produção de petróleo. Onde tinha os campos de petróleo, as sondas de perfuração. E, geralmente ali perto de Salvador. Mais especificadamente o campo de Candeias. Água Grande, que foi onde nós passamos o nosso início. E depois, eu fui trabalhar no campo de D. João. D. João fica no fundo da Baía de Todos os Santos.
RECURSOS HUMANOS Nós éramos a segunda turma, parece, que a Petrobras estava formando. Segunda ou talvez a terceira, não me lembro bem. Segunda ou terceira turma. E já era uma turma, vamos dizer, mais refinada. Porque já era mais escolhida. Porque a primeira turma que a Petrobras pegou, depois teve a segunda. E a terceira que foi talvez a minha.
EXPLORAÇÃO CAMPOS DE PETRÓLEO NA BAHIA Quando a gente ia para o campo, fazer lá, naturalmente
era superestranho. Por exemplo, a gente gastava entre Salvador a Candeias, que fica a cerca de
60 quilômetros,
gastava um dia. Um dia para chegar lá. Porque era difícil. As estradas eram todas de terra, a gente, às vezes, ia de jipe. Não sabia se carregava o jipe ou se o jipe carregava a gente. Então, era bastante difícil.
RELAÇÕES DE TRABALHO Morava-se em acampamento, onde tinha o alojamento. Bastante mosquito. Então, era obrigado a comprar um mosquiteiro, na época. Naquela época também se usava capacete, luva, direitinho. A gente ia trabalhar, fazendo estágio, e uma coisa marcante que tinha aí é que a gente fazia estágio, realmente trabalhando. Em todos os níveis. Desde carregar saco de cimento até o cargo de gerência no fim do período de seis meses. A maioria do pessoal. Naquela época, eu tive uma surpresa muito grande quando cheguei lá. A gente tirava aquele capacete de alumínio, tirava a carneira, passava uma estopa para comer. Vinha um caminhão com os panelões, uma colher
de arroz, uma de feijão, uma de carne e uma de farinha. E a gente comia, no próprio capacete. Com a mão. A carneira é aquela estrutura que fica dentro do capacete. Então, aquilo ali era solto, a gente podia soltar. Não só os estudantes comiam com a mão. Todo mundo. Desde o operário. Chegava lá, limpava a mão na estopa e pronto. Era assim que se comia. O pessoal de lá estava acostumado. E, querendo saber, na hora do rancho, que geralmente vinha o caminhão com a comida, toda locação de petróleo é no meio do mato. Naquelas estradas cheias de lama, nada por perto. Quando chegava o caminhão de comida enchia de garoto. Juntava lá e ficava olhando. Então, a gente comia com a mão e ficava olhando para os caras. No princípio eu dava até o capacete para eles comerem também com a mão. Depois, eu comecei a comer um tiquinho e dava a metade. Eu falava: “Senão, quem vai ficar com fome sou eu.” Então, comia um tiquinho e dava para eles. Era assim que eles comiam. Até que uma vez eu fui para Salvador, cheguei lá, entrei numa loja de ferragens e comprei aquele canivete com talher, que tem garfo, faca, colher. Então passei a comer. Quando veio o rancho lá, puseram o capacete e eu misturei com faca, garfo, todo mundo ficou me olhando. Era no meio do mato. Saía um caminhão pela sonda assim, distribuindo, só vinham as panelas. O caminhão ia para a sonda lá, um caminhão grande, com uns panelões. Ia lá com a concha grande e o capacete. Fazia fila lá e pá, pá, pá. Eram oito horas no mínimo de trabalho; eram muitos rapazes. Cada sonda tem em média umas 50 pessoas, no mínimo. Estagiário são dois, três. O resto era peão, sondador. Tinha de todas as classes, mas todo mundo comia com a mão. Já estava acostumado. Quando nós implantamos garfo e faca ali, começou a haver
uma surpresa, até. O nível estava melhorando. Ali era um trabalho, mais ou menos,
quase escravo, naquela época. Para o pessoal era, porque era o pessoal que trabalhava na lavoura. Plantações. Os peões mesmo eram, a maioria não sabia nem ler nem escrever. Eles faziam o trabalho de carregar tubo, fazer tudo. Limpeza. Esse foi o tipo de trabalho que quando a gente chegou lá, tinha. E, se você reparar, hoje, é totalmente modificado. Hoje se come em quentinha, tem talher. Tem até sobremesa. Isso quando tinha comida. Porque muitas vezes não tinha comida. Você tinha que levar alguma coisa. Uma lata de sardinha, um quitute. Uma banana.
EXPLORAÇÃO CAMPOS DE PETRÓLEO NA BAHIA Esses campos ficavam distantes das comunidades. Geralmente, olha, quando fica perto são dez quilômetros, quer dizer que eram três, quatro horas de carro. Entre D. João e Candeias, por exemplo, são 13 quilômetros, ia gastar oito horas, cinco horas. Era um mato meio bravo.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO Na parte de estágio, o que mais me impressionou foi o trabalho, porque a gente começava fazendo. E a gente fazia de tudo. E, geralmente, tem determinado tipo de trabalho numa sonda que se chama cimentação. E o negócio lá de cimentação do poço, que é o preparativo do poço, sempre cai de noite, num dia que estivesse chovendo e que a gente tivesse que carregar cimento nas costas porque o caminhão atolava. O caminhão que trazia o cimento atolava.
Isso era uma coisa supermarcante. A gente ficava assim: “Ih, o poço vai terminar, vai ter cimentação.”
EXPLORAÇÃO O poço de petróleo era um poço simples. Usava-se uma sonda, se trabalhava 24 horas por dia, e era revezamento de turno de oito em oito horas. A sonda era rotativa. Ela começou mesmo com percussão. Como se fosse um bate-estaca. Na nossa época já começou, já tinha mudado para sonda rotativa. Aí, fura-se o poço, prepara-se o poço, instala-se o poço e põe ele para produzir. São várias etapas.
ACIDENTE
Aquela coisa que a gente vê em filme que chhhh não acontece. Não, aquilo ali é acidente. Aquilo não existe. Se houver um negócio daquele, que é chamado blow-out... É falta de controle. Que usava-se muito na época de percussão, que não tinha muito controle. Eu vi vários blow-outs. Blow-out que houve e que pega fogo. Pega fogo e fica,
você
vê uma coluna que vai até dois mil, três mil metros sair voando feito um avião. Pega fogo porque ele sai com alta pressão. Para pegar fogo, basta se ter combustível, oxigênio e alguma fagulha. O calor. Então, basta um tubo bater no outro, sai uma faísca e pega. Quando há o descontrole. Por isso que se prepara naturalmente, com novas técnicas, para você fazer uma perfuração segura. Você já conhece. Você já conhece quando chega na zona produtora e então já pode tomar determinados cuidados.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu fiquei um período de campo seis meses de estágio e depois passei mais sete anos, já não como estagiário, mas trabalhando em diversos tipos de serviços, como instalações, montagem, produção de petróleo, tratamento. E todas atividades, diversas atividades de produção. Então, a gente tinha opção, ou escolhe perfuração, ou escolhe produção. E a minha parte foi produção.
EXPLORAÇÃO Depois de perfurado o poço, aí entra a parte de produção, que completa o poço, prepara o poço e o coloca para produzir. Faz as
instalações de coleta, de estocagem. E coloca o poço para produzir petróleo. E depois transfere o petróleo até um parque e daí vai para a refinaria.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Fiquei sete anos na Bahia. Foi de 59 a 65, 66.
E, naturalmente eu vim para o Rio, depois. Para poder fazer um outro estágio no exterior. Aí, como demorou a sair o estágio, me mandaram para o Amazonas, para o Maranhão. Eu fiquei lá mais uns três meses, só. Voltei e fui fazer o estágio na França.
RECURSOS HUMANOS O estágio na França eu fiz no Instituto Francês de Petróleo. Inclusive com estágio em diversos campos europeus e africanos. Fui para a Argélia, passei um mês na Argélia, fazendo estágio. Fiz um curso no Instituto Francês de Petróleo e voltei para o Brasil, depois de um ano de estágio. Minha experiência lá foi fabulosa. É diferente. Principalmente, casos que acontecem. Porque a gente vai sem falar direito a língua. É uma mistura. E chegando lá eles põem a gente para fazer estágio mesmo. Eu, basta dizer, que no primeiro dia que eu cheguei no Saara, eu me perdi. Eu me perdi. Eles me puseram num campo de petróleo lá para trabalhar. Acabou a gasolina, o cara me mandou buscar gasolina. No meio do deserto do diacho. O cara disse: “Fica aí tomando conta enquanto eu vou buscar gasolina.” Eu disse: “Não, eu sei dirigir, pode deixar que eu vou.” Só que em que em vez de virar para a esquerda eu virei para a direita e andei uma hora. O negócio ficava a 15, 20 minutos e eu levei uma hora (riso) andando e nada... Aí eu voltei. Voltei e encontrei um carro. Nessa altura eu não sabia falar mesmo. Eu vi um punhado de caravana de camelo passando. Eu não sabia falar nada, nem eles sabiam também. Mostrei o escudozinho lá do meu jipe que eu estava dirigindo. Aí, o cara falou que era mais adiante, só então que eu encontrei, cheguei lá: “Está aqui a chave. O cara está precisando de gasolina. Tchau que eu vou para o hotel.” Eu suava frio. Porque a gasolina do jipe também estava acabando. Foi logo no início do curso. Quer dizer, no Saara foi o lugar que eu mais senti frio à noite, porque dava 50 graus, 40 graus durante o dia e depois caía para quase zero. E lá, tem um negócio, de noite venta, é frio, mas frio mesmo. E durante o dia, como não tem trabalho dentro de casinhas... Era chapéu, sombra. Aquela história. Não tem jeito. Ninguém morre por causa disso. Foi interessante. Fui com mais quatro pessoas. Cada um foi para um lugar. Quer dizer, nós fomos divididos para trabalhar e ficar em diferentes lugares. Era um tipo de trabalho que a Petrobras fazia que formava seus homens, seus técnicos. Todos iam para campos. Eu fui para a Argélia. Quando eu fui para a Argélia, foi mais um comigo, só. Mas aí ele foi para outro campo. Nós estamos em 66. Sessenta e seis, dezembro. Que aconteceu isso da Argélia. Voltei, andei a França toda, nos campos de petróleo que tinha, no Instituto Francês de Petróleo, e depois voltei para o Brasil. Quando chegou em setembro de 66 eu estava voltando para o Brasil. Era uma política normal da Petrobras. Era uma coisa normal que ela formava seus técnicos, era praticamente um curso de master que dava. Ela fazia muito master, naquela época. Ou mandava para escola nos Estados Unidos. Eu fui para a França. Foi aí que eu aprendi a falar francês. A Petrobras tinha os acordos culturais com a França. Eles sempre tiveram um acordo para fazer esse tipo de trabalho. O Instituto Francês de Petróleo é uma escola de petróleo em que todos os franceses são formados lá. Aqui no Brasil não tinha. Só teve esse curso feito pela Petrobras, cujos professores eram todos contratados. Vinham de fora para fazer esses cursos aqui. Aí fazia grupos de 20, 30. Para fazer o curso no exterior, só depois de uns quatro, cinco anos trabalhando. Anualmente eram três ou quatro estagiários que iam para o exterior. Era uma escolha. Eram as pessoas que mais se destacavam. Na verdade não tinha muita gente assim. Porque meu grupo que se formou, por exemplo, na Escola de Petróleo na Bahia, eram 38 pessoas que começaram. Ficaram 15. Depois a Petrobras chamou mais 30.
No fim, terminaram 19. Porque quem não se adaptava aquele modo de vida, que é um tipo de vida dura, tchau, tchau. Bye, bye. Mas formava. E as pessoas que ficavam, geralmente, eram gente boa. E os professores vinham de fora, todos eles. Vinham da Colômbia, vinham dos Estados Unidos. Tinha até francês. Aí, que, de qualquer forma, para dar aquele início.
EDUCAÇÃO Eu fiz estágio só nos seis primeiros, depois de formado em engenharia de petróleo, seis meses. Depois fiquei mais, fui para a França e fiz lá um estágio pequeno e um curso. Um estágio de três meses e mais um curso de seis meses, sete meses. Era curso de pós-graduação. Pós-graduação de pós-graduação. Porque a graduação era de engenharia civil. A pós-graduação foi engenharia de petróleo. O que eu fiz lá foi pós-pós. É, quase um mestrado.
MIGRAÇÃO E depois desse curso eu vim para o Rio. Não vim dar cursos, não. Quando eu cheguei aqui no Rio, eles me seguraram. Aí que eu fui transferido para cá. Nem voltei para a Bahia, praticamente.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL No Rio estou sediado desde 1966, logo que eu vim da França. Aí, eu fui chefe de petróleo, do setor de óleo. Tive o privilégio de estar numa época em que a Petrobras descobria petróleo pra chuchu em tudo que é lugar do Brasil, então, eu tive uma participação muito ativa. Porque, de primeiro, só tinha a Bahia. Então, eu tive uma participação ativa no desenvolvimento dos campos de Sergipe. E no Maranhão, até na bacia potiguar, no Rio Grande do Norte. Eu, praticamente, como chefe ali, eu quase que participei da primeira produção de quase tudo quanto é lugar. E assim, eu tive o privilégio de conhecer todas as produções de todos os lugares do Brasil.
PRODUÇÃO Achar petróleo eles já acham. Eles me dão para tirar. Mas você quer saber uma coisa emocionante, foi o ano de
1977. Mais de dez anos que eu estava aqui. Eu fui chefe de óleo, chefe de gás. Primeira divisão de gás da Petrobras
aqui no Rio, depois fui trabalhar na parte de instalações. Era chefe da divisão de óleo. Aí, pum.
Na parte de instalações de produção no mar. Então fui chefe de um grupo especial, chamado Gespa, Grupo Especial de Produção Antecipada. Naquela época, vamos dizer, 1977, 76, a produção de petróleo no Brasil, que tinha chegado a 200 mil barris, já estava em 166 mil. Ela estava caindo a uma média de quase dez por cento ao mês, ao ano. Então, a Petrobras produziu
200 mil barris com óleo quase
exclusivamente da Bahia e depois sofreu um processo de redução.
EXPLORAÇÃO BACIA DE CAMPOS E foi aí que em 1972, por aí, 73, que a Petrobras descobriu a bacia de Campos. Começou uma nova coisa porque eu acredito que foi a bacia de Campos que deu novo fôlego a Petrobras e mudou toda a Petrobras. Porque ela teve um início, quando ela passou em 1953, saiu do CNP e foi para a Petrobras. E depois eu acho que o outro marco importante da Petrobras, eu diria que foi 1970, se considerar a descoberta, 72 e se considerar a produção, 1977. Então, a Petrobras em 1972, 75, quis começar a explorar a bacia de Campos. Fez um sistema superarrojado, para produzir seis poços produtores de petróleo, que eram poços que tinham achado petróleo e que tinham que entrar em produção. Porque a queda de produção estava muito violenta.
EXPLORAÇÃO BACIA DE CAMPOS E aí, o que acontece com todo trabalho no mar, como todo trabalho que nunca tinha sido feito no mundo... No mundo, esse tipo de produção, ainda não tinha sido feito, que era com câmara submarina. O poço ficava lá no fundo do mar e tinha uma câmara. E esse grupo aí, que não era o meu, atrasou a produção. Que tinha que entrar em produção em 77 e não entrou. Aí, resolveram criar um outro grupo, que foi justamente o grupo especial que eu fui chefe. Isso foi em março de 77. Eu disse: “Isso não pode demorar quatro, cinco anos não, quanto tempo a gente pode fazer isso?” E aí nós fizemos em praticamente três meses, colocamos o poço em produção.
Então, dia 13 de agosto de 1977 colocamos o primeiro poço da bacia de Campos em produção. Eu acredito que esse tenha sido um momento marcante, não para mim só, como para a própria Petrobras. E, a primeira gota de petróleo, vamos dizer, eu estava presente, caiu aqui, né? Era Enchova 1. Na época teve fotografia. A revista Manchete, página inteira. Então foi assim.
GESPA / PROCEDIMENTOS DE TRABALHO A produção em Enchova 1 foi realmente uma odisséia. Basta dizer o seguinte, que nós pegamos uma sonda que tinha lá no Mar do Norte.
Alugamos os equipamentos da França. E disse: “Manda vir a sonda.” E quando passou perto da França, mandamos enfiar os equipamentos em cima da sonda, que era separador, aquele negócio para tratar e processar o óleo. Pusemos um punhado de soldador em cima e vieram soldando. No meio do caminho. Demorou 45 dias para chegar aqui rebocada. Quando chegou aqui, mais ou menos no mês de junho, estava quase toda pronta. Levamos para o lugar para entrar em produção logo. Colocamos o poço lá, fizemos o arranjo, lá. Fizemos o sistema. Ligamos num petroleiro para poder escoar o óleo. No dia seguinte, ia entrar em produção, passou um rebocador e arrebentou a mangueira. Passamos três dias procurando a mangueira. Uma mangueira flutuante de 600 metros de comprimento. Nunca achamos. Essa mangueira era importada do Japão. E eu fiquei maluco? Porque eu era o chefe. Eu, felizmente, numa daquelas de maluquice, eu tinha comprado duas mangueiras. Uma tinha chegado, que era aquela que a gente tinha instalado, e a outra estava pronta lá no Japão. Eu disse: “Embarca de avião.” Veio tudo de avião. Eram 600 metros, oito polegadas. Ah, foi. Chegou. As mangueiras chegaram, fomos para Vitória, montamos as mangueiras. Lá no porto, passamos duas noites montando mangueira. Levamos. Isso tudo em menos de um mês. Ir ao Japão, voltar. De Vitória esse poço fica a mais ou menos uns 100 quilômetros, não, uns 150. A nossa base era Vitória, ainda não era Macaé. Então, andava de helicóptero para cima e para baixo. Colocamos, no dia 13 de agosto, quando fomos ver, a árvore de Natal, que é um conjunto de válvulas, estava lá deitado. “O que houve?” “Ah, deu um vento aí, entortou.” Fomos lá, arrumamos. Isso de madrugada. Quando chegou as oito e pouco da manhã, o bicho começou a produzir. E aí tem a primeira gota aqui.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO Coloca-se o poço. O poço é todo controlado, você abre uma válvula, uma torneirinha qualquer e manda pingar o óleo.
EXPLORAÇÃO BACIA DE CAMPOS Eu sei lá se guardei na garrafinha o primeiro óleo, devo ter guardado. Isso aí, mas o mais emocionante mesmo, muitas coisas aconteceram e foram acontecendo. Por exemplo, o poço começou a produzir. Naturalmente produzia com areia. Então, a gente não conhecia nada daquilo. E, de cara começou produzindo mil barris. Mil barris, naquela época, para um poço, era um número fabuloso. No Brasil, poucos poços tinham conseguido mil barris. Por dia. Mas, mil barris foi só no primeiro dia. Depois foi 2.000, depois foi 3.000, depois 5.000. E, naturalmente os problemas vão aparecendo e a gente vai resolvendo. E conseguimos produzir dez mil barris. Recorde absoluto no Brasil. Naturalmente...
Dez mil barris, a curva que já estava em 166 mil barris, em queda, começou a virar. Com esse poço, nós começamos a conhecer como é que trabalha. Como é que o mar trabalhava. Como é que as unidades trabalhavam. E tivemos a ousadia de continuar. Tudo isso que tem foi só por causa disso, que tem aí, que aconteceu nesse dia, que está tudo aí porque teve sucesso. Porque o outro sistema lá de câmara submersa estava lá, ainda sendo feito. E nesse foi feito com o povo ficando em cima numa sonda parada e ancorada. Aí, quando fomos ver, era o segundo sistema que tinha sido feito no mundo. Era o recorde mundial de ancoragem. Recorde mundial de um navio recebendo petróleo ancorado em quatro pontos. E daí em diante, depois colocamos, o sucesso foi tão grande que depois colocamos outro poço. Pode colocar mais um? Coloca. Metemos uma árvore de Natal molhada, agora. Não mais atmosférica. 189 metros de lâmina d’água. Era um poço que já tinha sido perfurado há muito tempo. Nós tínhamos escolhido a área, essa área para trabalhar, para não interferir num outro grupo que tinha um trabalho gigantesco para ser feito. De plataforma fixa, das câmaras submarinas. Chega em 79, colocamos esse poço para produzir. Quando fomos ver, era o poço mais profundo do mundo em lâmina d’água. Mais um recorde. Fizemos a ligação mais profunda do mundo. Batemos cerca de 12 a 20 recordes. Se for considerar direitinho. Porque nunca ninguém tinha. Também a gente não sabia que era o primeiro. Depois é que nós ficamos sabendo que nunca tinha sido feito no mundo.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO Esse sistema, ele tinha uma coisa. Ele era rápido de fazer e era móvel. Se não desse certo aqui eu punha para outro lugar. Tanto é, que essa sonda que foi para lá, dois anos, três anos depois, eu estava mudando ela de lugar. E em 15 dias começou a entrar um outro sistema. Já não demorava mais dois anos. Hoje se demora quatro anos. Hoje está muito mais sofisticado. Hoje demora quatro anos para qualquer sistema de produção. E a gente estava fazendo em seis meses, três meses. E fizemos um, fizemos dois. E aí, chamaram mais. Vamos fazer outro, vamos. Tudo que era campo de petróleo que podia produzir, num instantinho, a nossa produção já estava em 300 mil barris.
Isso em dois anos.
PETRÓLEO Na bacia de Campos, em dois anos, passamos os 166, 200, 300 mil barris. E a qualidade desse petróleo? É bom, muito bom.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO E, o mais interessante: nunca houve um acidente. E o outro sistema, e é até chato falar isso. Colocou-se em produção, em 79. Demorou dois anos, ainda mais. Aí a torre arrebentou, foi para o fundo. E o sistema lá, que era o sistema de um navio, que por sinal está até hoje produzindo, que era o Pepe Morais, deu aquele coisa. Tanto é que nós, a Petrobras abandonou o sistema atmosférico. Mandou abandonar tudo. E substituiu tudo pelo sistema que a gente fazia. De árvore de Natal molhada no fundo. Começamos a usar linha flexível e foi um recorde atrás do outro. Recorde mundial. Chegamos a 189 metros, ancoramos sonda. Quando fomos ver colocamos a primeira monobóia mais profunda do mundo.
BACIA DE CAMPOS Começamos a produzir poço onde nunca ninguém tinha ido. Duzentos metros, 300 metros, 400 metros. Tudo isso era recorde mundial, um atrás do outro. Tem até uma historiazinha, que um diretor que eu admiro demais, doutor Orfila Lima dos Santos, ele sempre me deu um apoio fabuloso. Eu acho que era meio maluco, também. Ou meio ousado. Ele chegou e disse: “Salim, você está propondo pôr esse poço em produção?” Eu disse: “É, mas ele está a 400 metros de lâmina d’água, o máximo que nós chegamos foi 230.” “Quem já fez isso no mundo?” Eu disse: “Doutor, olha, ninguém.” “Salim, não é melhor esperar os outros fazerem primeiro?” Eu disse: “É só esperar. Só que nós vamos ter que esperar 15 a 20 anos.” “Mas, por quê?” “Porque nós estamos na frente deles uns 15 anos, só isso, se o senhor quiser a gente espera 15 anos. Que é o que nós devemos estar na frente deles.” Ele foi e: “Salim, vai em frente. Mas vai com cuidado.”
RELAÇÕES DE TRABALHO Eu estou citando um diretor que deu um apoio muito bom para a gente, na época. E dava apoio mesmo. Era um cara que chegava às oito horas da noite, chegava lá, telefonava para mim: “Salim, nós vamos lá em tal lugar.” Pegar um avião a jato que tinha que olhar uma obra qualquer. Ele ia. Pegava lá. “Amanhã, vamos ver se está, o seu sistema lá.” E ia. Eu tinha que encontrar ele no aeroporto, que tinha um jatinho lá alugado. Esse era o doutor Orfila. Um grande homem. É um cara que vale a pena. Se vocês puderem. Ele é muito modesto, ele é piauiense. Mas ele é um cara arrojado, ele é que fez o Orbel, o oleoduto Rio - Belo Horizonte. Ele é fácil de encontrar. Eu gosto muito dele.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL A decisão de ir para o mar começou com D. João. Quando eu fui para D. João, D. João mar. Primeiro trabalho, lá em 59, 60. Era D. João mar. D. João terra e D. João mar. Era um campo que tinha uma parte em terra e tinha mil e tantos poços no mar. Então, já tinha aquele cheiro de água salgada.
PETRÓLEO O óleo vem misturado com água. Porque quase todo petróleo... Porque uma formação do petróleo, não tem essa história de lençol, não. Lençol é um nome dado, é uma zona. O petróleo, na verdade, fica dentro dessa formação que é parecida com um tijolo. Então, lá em baixo, a formação parece um tijolo. Que tem dentro dos poros o petróleo. É assim que tem o petróleo lá embaixo. Não tem aquele lençol, não tem nada disso. Isso é conversa. Então, ele fica é nos poros, dessa rocha, como se fosse um tijolo. Um filtro comum. Uma vela. Ele atravessa aquela parte porosa, está certo? Então sai. Tem várias coisas interessantes do petróleo, que todo mundo tem que conhecer. Por exemplo, uma rocha desse tipo assim, sem recuperação primária, ele sai dali, se tem cem barris, normalmente sai só 20. Oitenta ficam lá. Você precisa usar novos métodos para tirar mais óleo. Você pode injetar uma água, pode injetar gás. Tem vários sistemas, que é chamado recuperação secundária, recuperação terciária, injeção de vapor, que faz que você tire mais do que os 20%. Mas se você chegar a 50% é um grande número. Os outros 50 vão ficar lá, viu? Um dia, com novas tecnologias, quem sabe. Hoje tem processos, são caros, chega a tirar 80%. Mas é diferente. Injetando vapor, lavando bem lá.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Então, voltando lá, naquelas partes lá, começou o desafio. Porque esse desafio que a gente fazia, de alcançar coisas de produção, fazia com que a gente também tivesse uma outra conscientização. A maioria dos equipamentos não existia. Nós tivemos que desenvolver, trazer ou copiar dos outros e trazer para aqui e melhorar. Nós fizemos todas as árvores de Natal, que eram importadas, nós conseguimos montar cinco fábricas aqui no Brasil.
EXPLORAÇÃO Árvore de Natal é um conjunto de válvulas que você coloca na cabeça do poço, para evitar que tenha aquele blow-out. E você fecha e abre na hora que você quiser. E controla a produção. Isso é chamado a árvore de Natal, ou seja, é um conjunto de válvulas. No mar também vem com força. Olha bem, no mar, você tem vários tipos de instalação. O sistema que nós estamos falando e que serviu, está servindo de base de todo esse desenvolvimento da Petrobras, toda essa tecnologia que a Petrobras adquiriu e tomou fama como uma das pioneiras do mundo, é referente à produção de petróleo em unidades flutuantes. OK? Essa unidade flutuante, a primeira do Brasil, foi aquela nossa lá, Enchova 1. Em 77. Hoje nós chegamos a 1.500, 2.000 metros, de lâmina d’água. Ou seja, à distância da superfície até o fundo do mar, de 2.000 metros, e deixamos uma sonda flutuante lá em cima. Onde colocamos todo o processo. Essa é a nossa concepção. Era uma concepção puramente artística. Agora não. Nós conhecemos nosso mar. Aprendemos a trabalhar nisso. E aí que a Petrobras adquiriu toda essa tecnologia. Que naturalmente foi desenvolvendo, foi sofisticando e dando segurança. E com poucos tropeços. Mas aí é que nasceu realmente tudo. E hoje, todos os sistemas que tem aí, que fazem com que Campos seja responsável por 80% de toda a produção brasileira, com mais de um milhão de barris. Hoje a produção da Petrobras ultrapassa um milhão e meio. Oitenta por cento vêm da bacia de Campos. E ela é toda offshore. E pelo menos, mais de 80%, é de unidade flutuante.
NEGÓCIOS NO EXTERIOR A Petrobras não está exportando tecnologia. Eu digo que não porque as coisas... Ela exporta, naturalmente, algumas coisas trabalhando em outros lugares, mas não que ela exporte tecnologia. Ela não vende muito serviço. Não, ela não vende porque ela não tem ninguém para mandar, a não ser a Braspetro que explora em outros lugares; a maioria explora em terra, na Colômbia, até nos Estados Unidos, chegou. Ela não explora. Angola, ela manda lá um grupo de gente. É uma coisa participativa. Ela integra um grupo, um consórcio para explorar. Agora, ela não exporta realmente tecnologia. A gente chegou a importar. Muito gringo que vinha de fora. Muito raramente os outros contratam gringos, nossos, se nós fôssemos gringos, para fora. Algumas pessoas saem para ser professores em Angola, nada representativo, na realidade.
EXPLORAÇÃO Nós temos essa tecnologia, que é offshore... Própria. Mas também eles aprenderam. Existe bastante exploração em alto-mar, em outros lugares. É que no mar existem umas reservas maiores de petróleo. Por exemplo, o mar do Norte. Hoje produz, da parte inglesa, mais de três milhões. A parte norueguesa, mais de três milhões de barris, também. Você tem Angola, você tem a Nigéria, sabe? Sempre tem uma alta produção. A parte terrestre que produz mais aí é a Arábia Saudita, Iraque e Irã. E tem alguma coisa boa na Rússia. Quer dizer, o Brasil hoje está bem situado, com mais de um milhão e meio de barris. Oitenta por cento vêm da bacia de Campos. Isso é uma coisa a considerar. Hoje nós temos produção representativa, cerca de um milhão, um milhão e 200 mil barris da bacia de Campos. Nós temos uma produção, que a Bahia chegou a 200 mil, hoje produz 50 mil, qualquer coisa parecida. Você tem lá em Urucu com mais de 40, 50 mil barris. No meio da selva amazônica. E tem o Rio Grande do Norte, que produz também uns 80 mil barris, por aí. Rio Grande do Norte tem uma parte em terra e uma parte no mar. A formação geológica do Brasil é mais propensa a ter petróleo no mar, pelo menos de maior produtividade. Basta dizer que 80% está aqui na bacia de Campos.
EXPLORAÇÃO URUCU (AM) Em terra não tem nada significativo. Nada, vamos dizer, para estourar. Fazer alguma coisa é muito difícil. É, lá no Amazonas, você tem Urucu. Você tem uma produção de petróleo. Você tem três campos de petróleo. Com mais de 20 mil barris cada um. Dois, pelo menos tem mais de 20 mil. Produz isso porque é um óleo leve, um óleo de excelente qualidade. Igual a esse óleo de lá, não tem em nenhuma parte do Brasil. Então, por isso ele tem uma boa produtividade.
PETRÓLEO O nosso pior óleo é o nosso futuro. Sabe por quê? Porque as grandes descobertas atualmente, as maiores, é tudo de óleo pesado. É óleo, basta dizer que o óleo você mede pela qualidade, chamado grau API. Lá no Amazonas tem 50, lá na Bahia tem 40. Trinta, 40. Aqui na bacia da Campos, tem muita coisa em torno de 30. E esse agora que vem aí, tem em torno de 17. É um óleo pesado. Felizmente tem um ponto que permite o escoamento. Mas hoje nós temos, com novas tecnologias, condições de produzir. Antigamente não era fácil produzir esse óleo. De 17 graus, 13 graus API. Hoje está se produzindo isso. Aqui no Brasil. No Espírito Santo. O óleo de lá é meio bravo. Mas está se produzindo.
EXPLORAÇÃO Hoje tem tecnologia de poço horizontal, dependendo, hoje você entra assim, continua andando, horizontalmente. Você tem várias tecnologias de perfuração. E isso aí aumenta muito a produtividade. Então, nós temos, realmente, alguma coisa. No futuro esse óleo, que nós temos, as nossas grandes perspectivas, porque tem boas reservas, é de óleo pesado. Que de primeiro desprezava. Agora, vai ter que produzir. Então, esses futuros campos, Jubarte, Cachalote, que vêm aí, é tudo óleo pesado. Lá não, já é outra bacia do Espírito Santo.
RELAÇÕES DE TRABALHO Eu vivi momentos de glória. E essas glórias... Eu alcancei determinados objetivos, determinadas situações, que eu me sinto feliz. Porque ter participado dessa coisa. Eu falo bem, participado. Porque eu fiz muita coisa, mas, comigo tinha muita gente também. Eu tinha uma equipe boa. Era reduzida. Esse Gespa aí que eu falei. Era uma equipe de 15 pessoas. Todas elas bastante arrojadas. Para fazer e assumir responsabilidade. Olha, essa equipe trabalhou...
EMPRESA
A Petrobras, atualmente, subcontrata um punhado de coisa. Ela, de primeiro, ela procurava fazer as coisas. Ou então, procurava participar mais diretamente. Hoje ela prefere contratar o pacote. Então, fica descaracterizado um punhado de coisa. Ela prefere ser fiscal. Ou então, contratar um fiscal para ser fiscal. Aí, essa descaracterização muda. Agora, ela não pode querer fazer coisas que não pode fazer. Falar só porque é nacional. Isso também precisa tomar um certo cuidado. Acima de tudo, tem que ter uma segurança. E outra coisa que tem que ter, quer queira, quer não, envolvem-se altas somas. Não pode ser muito mais caro do que lá fora. Aí, a parte econômica vai embora. Não há condição. Então, essa parte econômica. Não, faz no Brasil, mesmo custando mais caro e pior. Está OK. E o pior é que quem vai fazer no Brasil não somos nós, são eles. Antes você participava. Você, mesmo que fizesse lá fora, você estava mandando. Você estava sabendo o que era. Não simplesmente como fiscal. Mas você estava dando palpite em tudo. Não é mandar um fiscal só, para fora. A gente participava realmente. Das decisões e tudo. Naturalmente os equipamentos hoje são mais sofisticados. Tem que dar um grau aí de liberdade. Para o outro lado. Agora fazer, gastar mais tempo, mais dinheiro e de pior qualidade, é que não dá. Porque tempo, em produção de petróleo, é dinheiro.
Representa o valor presente. Ainda mais com essas incertezas de preço de petróleo, que isso aí tem uma variação, é tão sensível que outro dia, se custa 20 dólares, outro dia, há dois anos estava menos que 20 dólares, 15 dólares até. Hoje já está mais de 30.
Não é inflação, só. Então, é preciso ter, saber medir direitinho. Saber como é que tem que fazer.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu passei três anos na Braspetro, como assistente do presidente. Naquela época era vice-presidente, lá. Foi em 90 e... 90, 91, 92, por aí. Porque eu passei dez anos nesse lufa-lufa no Gespa, - mais de dez anos;
depois fiquei dois anos como assistente do diretor. Depois me mandaram para a Braspetro. Depois eu voltei, para ser assistente do diretor, outra vez, uns dois meses. Depois eu fiquei encostado lá no sistema, na parte de análise econômica. Na época da Braspetro eles tinham vários trabalhos, mas eu, como assistente de diretor, eu estava mais numa parte burocrática. É uma burocracia de luxo. Vamos dizer que eu gostava mais da parte ativa, do outro lado. A parte técnica era mais de palpite, de assessoramento. Não era de participação. Então, eu não era mais jogador de futebol, ficava mais do lado de fora do campo. Técnico não entende nada, mesmo.
FAMÍLIA Eu me casei primeiramente em 1963. Casei em Minas, mas fui para a Bahia. Tive três filhos, fiquei casado 17 anos. Depois me separei, me casei outra vez. Dois anos depois. Casado, oficialmente casado. Não é só juntado, não. Tive mais dois. Eu tenho hoje, do segundo casamento, um com 15 anos e o outro com seis. Do primeiro casamento tem lá, 34, 36, 38 anos. Mas o que rejuvenesce a pessoa é o pequenininho. Tem o outro também de 15 anos. É uma beleza. É renascer. Porque isso aí é o que tem dado, vamos dizer, vontade.
APOSENTADORIA
Depois me aposentei. Depois de 30, quase 38 anos de Petrobras. Primeiro emprego e último emprego. Trinta e oito anos de Petrobras.
INGRESSO NA PETROBRAS Eu fiz um teste, vamos dizer assim, eu estava na escola de engenharia, eu fiz para Volta Redonda. Tinha uma opção para o DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, para engenharia civil. E para a Petrobras. E tinha feito também um estágio na Cemig, Centrais Elétricas, já que eu era engenheiro eletrotécnico. Então, eram estradas ou então ia para a parte elétrica. A maioria dos nossos colegas foi toda para a Light. Para trabalhar na parte elétrica, que era o mais forte. Eu resolvi seguir a carreira de petróleo. Era mais maluquice, mesmo. Eu fui, eu me inscrevi no dia do meu aniversário. Na véspera do meu aniversário me deram uma passagem de avião: “Querendo ir, está aí, no dia tal.” Aí, eu fui assim mesmo. A minha mãe falou assim: “Ah, mas sendo seu aniversário.” Eu fui assim mesmo. Pronto. Então, tem essas datas marcantes.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Olha, o meu estágio, os meus primeiros anos no campo de D. João, que é um campo marítimo e terrestre. O campo de D. João tem cerca de oito plataformas marítimas. Só que a lâmina d’água era dez, 20, 40 metros, no máximo. E tinha o trabalho, naturalmente, de poços espalhados, individuais, espalhados no mar. Então, era aquele tipo de trabalho diário, de lancha e tudo. Era aquele cheirinho de água salgada. A gente já tinha começado a penetrar nas veias. Então, já tinha seis anos disso aí, quase. Quando eu vim depois, passei do estágio, vim para o Rio, eu fiquei mais fascinado com a parte marítima lá de Sergipe. Tive uma participação de olhar, aí já era como chefe. Mas não um chefe que mandava, que queria meter o dedo em tudo. Lá no Rio Grande do Norte, o pessoal... A Petrobras estava querendo começar a inventar plataforma de concreto. Era tudo lâmina d’água rasa, 15, 20, 50 metros, no máximo. Então, o gosto por mar aí, já estava. Então, quando eu passei para uma lâmina de 120 metros, que foi em Enchova, eu já me senti em casa. Quer dizer, apenas a gente via, da plataforma a gente via a terra. Dali não, dali não dá para ver, que é a cem quilômetros da costa. Ficava revezando com meu grupinho... Tinha um grupo lá. Eu chegava, 15 dias um, 15 dias outro. E ficava lá... Dá para passar tranqüilo. É uma beleza! Você ouve barulho, que é o barulho dos motores, mas o céu é estrelado.
RECURSOS HUMANOS Dentro das plataformas é o maior conforto. Geralmente têm dois, três andares. Se for um navio de processo, ele pode ter até mais. Porque lá embaixo tem casa de máquina. Tem elevador. Tem, acho que tem até piscina. Se quiser pode pôr. Mas tem campo de futebol. Campo para pelada, hoje já tem. Eles fazem um quadradinho lá e dá para fazer um futebol de salão. Essas plataformas são construídas como qualquer navio. Quando vem um navio, ele já vem com alojamentos, com cabines, tudo. Numa plataforma é a mesma coisa. Você pode ter, de primeiro você tinha os módulos, aqueles containers, você punha. Mas hoje é construído, já. Uma plataforma, se for de um tipo fixo, que se apóia no fundo, você pode pôr containers. Às vezes você só faz o deck e chega e põe aqueles containers com casa, ar condicionado e tudo. Mas a Petrobras não constrói nada. Isso é feito em estaleiro, já compra pronto. Os navios, vamos dizer, seriam os estaleiros que montam. A maioria desses estaleiros é tudo de Cingapura, Coréia, Estados Unidos, alguns.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO PLATAFORMAS Nós começamos usando unidades adaptadas. Nós pegávamos uma unidade de perfuração, que já tinha alojamento, um punhado de coisa, e colocávamos em cima dela, numa área, com os equipamentos de processo, de tratamento de óleo, separação e transferência. Então, nós pegávamos essa sonda, que era até de perfuração, e a adaptávamos. Era a chamada sonda de perfuração modificada para produção. Então, os alojamentos já estavam todos lá. Eram já sondas que foram construídas para perfurar. E depois nós começamos a roubar, uma atrás da outra, da sonda de perfuração. Então, eu pegava aquilo. Nós tínhamos prioridade, produzir petróleo. E tinha dado sucesso. Pegamos, pelo menos, umas quatro unidades de perfuração da própria Petrobras, que vieram para perfuração e que nós transformamos tudo em produção. Estão lá até hoje. É interessante notar que a maioria desses sistemas nossos, foi feita para durar três anos a cinco anos. Até se definir e montar um sistema maior. Principalmente quando até as águas rasas, vamos chamar águas rasas, que têm até 300 metros de lâmina d’água, você pode apoiar inclusive no fundo. Fazer uma plataforma fixa. Então, as plataformas fixas, no mundo, chegavam até a 300 metros. Em 400, nunca ninguém pensava em ir. Mas, nós fomos primeiro. Primeiro em 400, 800, 1.000, 1.200. Até a 1.700 já estamos indo. A Petrobras ganhou dois prêmios, mas isso é coisa mais recente, embora seja devido a coisas do passado. E porque os recordes continuam sendo batidos, porque tudo baseado nisso aí. Essa mola que impulsionou tudo, teve um começo. Eu, quando fui visitar uma última plataforma aí, que já estava com cerca de 600 metros de lâmina d’água, apoiada, até escrevi lá. O que eu fiz e o que se transformou, né? Então, me considerei um precursor. Porque quando eu saí dessa área de atividade, eu já tinha chegado a 600 metros. Ah, mas eles foram mais adiante. Foi uma evolução.
ACIDENTE Hoje tem lâminas d’água bem profundas. A P-36, por exemplo, já estava em 1.300. mil trezentos e poucos metros. Essa que afundou. É triste, viu? Quando a gente vê uma coisa assim afundando. Mas não fui eu que fiz isso não. A meu ver o problema é que fizeram uma coisa que não devia ter sido feita. E ela afundou. Fizeram pelo menos uma meia dúzia de inquéritos. Cada um, naturalmente, tem a sua opinião. E cada um pode falar que teria agido de maneira diferente. Se me perguntar, eu vou falar: “Eu também teria agido de maneira diferente.” Então, na minha época, eu teria agido de maneira, eu não faria aquilo. Fizeram aquilo porque é... Mas cada um tem sua opinião. Então é muito difícil, hoje, você querer responsabilizar um punhado de coisas. Naturalmente existem seus erros. Mas, isso já deve ter sido discutido. Mas como eu já não estava mais aqui...
RELAÇÕES DE TRABALHO Olha, numa turma em que quase ninguém sabia muita coisa e estava querendo fazer a coisa certa, era muito fácil, a gente tentar fazer, porque não tinha nem discussão. Você vê que nem diretor discutia comigo. Quando eu fui falar o que eu queria fazer. Hoje, para você fazer metade, da metade, da metade daquilo, eu ia ter um grupo de trabalho que ia durar três meses discutindo e mais seis meses, não tenha dúvidas. Não tenha dúvida. Hoje eu acho que eu não teria condição de fazer aquilo que eu fiz. Ah, não teria não. Não teria a menor condição. Tem muita gente querendo assumir responsabilidades. Muita gente querendo não assumir responsabilidade. Muita gente querendo dividir responsabilidade. Então, existe hoje um novo critério. Porque, de primeiro, a gente chegava assim, conversava com um, conversava com outro. Não tinha restrição de falar com gringo. Se tivesse, ele sabia mais. Se eu tinha um problema, eu levantava o telefone e falava. Hoje é diferente. Eu mesmo, se for uma determinada dificuldade, eu não consigo, depois de 38 anos trabalhando na Petrobras, chegar lá, querer entrar na Petrobras, para falar com um ex-subordinado meu ou um ex-colega. Eu não consigo. Eu tenho que chegar, marcar hora, por fax, o dia. Chegar lá, telefonar. Porque eu não posso subir. Porque as portas estão todas fechadas. Porque hoje está todo mundo achando que sabe tudo. E marcar hora. A minha maior decepção foi quando eu peguei uma ex-secretária minha, que eu fui visitar meu ex-subordinado, que ele já era chefe: “Oi, como vai? Como vai? Eu poderia falar com o fulano?” “Você marcou horário? Qual é o assunto?” Aí, eu dei meia-volta e vim embora. E isso acontece por questões de segurança, sei lá o que for, sabe? É uma coisa que a gente às vezes fica chateada. GESTÃO EMPRESARIAL Eu acho que a Petrobras hoje tem um punhado de desafios. Ela está numa fase de transição muito grande. Mas numa fase de transição grande demais. Tudo depende do estilo gerencial que vai ser implantado. Porque isso tudo pode mudar. E seria impossível, por mais que a gente deseje voltar ao passado, que esse passado volte. Então, está numa fase de transição, ainda está procurando o modelo gerencial. Para mim, que tinha um modelo gerencial, que era como se eu soubesse que depois de soldado vem o cabo, depois do cabo vem o sargento e depois vem o tenente. Hoje está uma confusão tal, que eu não sei mais quem é cabo, quem é sargento, nem quem é major. Eu só sei quem é general. Então, esse sistema, lá dentro, não existe mais, que agora é tudo um estilo gerencial. Você não tem mais chefia de divisão. É o estilo que mudaram. A própria metodologia que existia, alguém mudou. Hoje, até para mim, entender o que é a Petrobras é difícil. Então, fica muito difícil eu saber o que eu acho da Petrobras. É muito difícil para eu entender.
IMAGENS DA PETROBRAS É mais fácil dizer o que era a Petrobras. Era muita alma, muito amor. Era uma luta pessoal. Eu acho que tinha mais orgulho. Eu acho que quando você falava: “Eu trabalho na Petrobras” você era olhado com muito mais respeito. Hoje eu não sei se ele é olhado da mesma forma. Não vejo o mesmo olhar, compreende? A gente tinha um orgulho muito grande. Até porque tinha, ainda tem, a maioria, tem a Petrobras no coração. Isso, o que era a Petrobras, e que eu acho que não é a mesma coisa hoje. Eu acho, olha bem, está muito difícil a gente, sabe? Dá uma coisa. Eu só não vejo aquele mesmo entusiasmo. Não sei se era questão de dinheiro ou se não é. Ou talvez os chefes não tomem mais as cervejas com os subordinados. Talvez seja isso.
RELAÇÕES DE TRABALHO Ah, de primeiro a gente era só chefe por ser chefe. Não tinha disputa de cargo assim, porque ganhava mais, não tinha nada disso. Tinha um relacionamento maior. Mais companheirismo. Eu acho que até os diretores, os chefes, apesar de vários andares, eles desciam. Não estou dizendo que hoje eles não descem. Eu nem sei se hoje eles não descem.
PETROS Olha, teoricamente existe uma entidade de aposentadoria. Eu não posso me queixar, não, porque, apesar de ter tido muita disputa - eu pessoalmente - mas eu considero que a Petros é realmente uma boa fundação. Não posso nem dar muito palpite sobre a parte dela, do que ela é, dos negócios que ela faz. Eu tive até um relacionamento meio difícil, quando eu passei a participar da Petros. A Petros é igual à Previ, do Banco do Brasil. A segunda maior fundação do Brasil. Eu tinha um relacionamento até bem difícil. Apesar de agora a gente estar sendo muito bem atendido, mas a gente entender, no princípio, foi meio difícil. No meu caso, é meio particular. Não é um caso em geral, sabe? Ele é meio particular. Eu acho que ela está precisando, naturalmente, fazer, e parece que ela melhorou bastante. Agora, naturalmente eu acho que isso aí, a gente o que vê falar, não sabe se isso aí vai durar para toda vida. É a transição mundial.
APOSENTADORIA A minha vida hoje, eu ainda tenho que trabalhar. Antes da Petrobras, só trabalhava na Petrobras. Hoje, além de eu ter uma aposentadoria que não é muito significativa, sabe? É lógico, sempre que se aposenta pelo INSS, você pagava sobre 20 salários, depois aposenta sobre dez e recebe cinco. Isso que acontece quando a pessoa se aposenta. Você pagava sobre 20, depois passava a receber sobre dez, depois de alguns anos está sobre cinco, daqui a um tempo está com dois ou três salários mínimos. É mais ou menos isso. Então, você tem uma limitação que vai caindo, caindo. Mas, esse negócio de Previdência, eu acho que está em discussão demais isso aí, não sei o que vai haver. Uma hora aumenta o número de idade... A minha mulher que está apavorada. Ela ainda não aposentou, então ela está superapavorada.
PETROS A Petros ela complementa em termos. Ela não dá as atualizações, não. Quem está aposentado está aposentado e praticamente não tem mais aumento. Não tem mesmo. Hoje eles fizeram aí umas novas revisões para os da ativa. Mas aposentado é aposentado.
Então, hoje tem gratificação de gerência. Mas o aposentado nunca mais vai ter isso. Nunca teve. Então...
TRABALHO Hoje, estou trabalhando. Eu trabalhava como consultor, prestando assessoria nessas licitações que a Petrobras fez e que a ANP fez. Então a gente dava assessoria para o pessoal. Trabalhei em representações de equipamentos de produção de petróleo. De uma certa forma com algum sucesso. Nunca consegui vender quase nada para a Petrobras. Só vendia para quem trabalhava para a Petrobras. E hoje eu estou dando uma espécie de consultoria. Então, estou trabalhando até na ANP, já tem 15 dias. Que paga mal para burro.
Mas como eu tenho filho de seis anos... E os outros grandes, que me dão muito mais trabalho, continuam, então, estamos nessa base. Tem que se virar.
LAZER Participo ativamente de um clube. Eu tive dois enfartes, fumava pra chuchu. Quatro maços, cinco maços por dia. Parei de fumar. Hoje sou sócio do Fluminense, ainda. Parei 15 anos de fazer esportes. Jogava um tênis. Aos sábados e domingos. Hoje eu jogo durante a semana. Sábado e domingo está fazendo muito calor e é muito disputado. Então, eu jogo até de noite. Voltei, depois de 15 anos, a jogar tênis. E faço a minha caminhada. Eu deixo o garoto para pegar o ônibus às seis horas da manhã. O ônibus passa lá. Fico lá com ele até seis horas, é esse de seis anos. Lá no Santo Inácio, o ônibus passa às seis horas da manhã. Que é absurdo. Aí, depois eu largo ele e vou andar por mais uma hora. Não tenho uma vida sedentária, não. Em plena atividade. Eu corro de vez em quando, mas... Dói pra burro, o corpo de vez em quando, mas não tem outro jeito.
AVALIAÇÃO Se eu pudesse mudar alguma coisa na minha trajetória de vida? Olha, é melhor a gente nem tocar nisso, não. Porque, naturalmente a gente sempre tem coisas para mudar, você sempre tem coisa para mudar. Então é melhor nem contar isso aí. O que eu mudaria, porque vai machucar.
SONHO O meu sonho, em primeiro lugar. Eu tenho 71 anos de idade. Estou inteirão. Quero continuar fazer o que eu estou fazendo e quero ver meus filhos, pelo menos esses dois aí, crescerem. Eu tenho muita esperança nos dois filhos. Até porque ainda precisam de mim. Seis anos e 15 anos, eu acho que ainda precisam. Os outros não. São dois homens e uma mulher. Estão aí perdidos.
AVALIAÇÃO Acredito que ainda estou inteirão pela atividade que desenvolvi todos esses anos. Porque realmente não foi só escritório. Teve atividade de tomar, mexer, subir, descer. Subir escada, descer escada. Viajei muito. Sempre que podia, sempre viajava, de férias. Fora trabalho. Então, eu posso dizer que conheço metade do mundo, quase. Porque eu adorava viajar. De maneira que eu me mantenho, tento me manter sempre ativo. E, querendo me ver chateado é quando eu fico muito parado.
TRABALHO Já tem 15 dias que eu estou lá na ANP e estou querendo colocar fogo em alguma coisa.
Porque é só o trabalho burocrático. E, apesar de a ANP ser de legislação, ela tem que ter um papel mais ativo. Então, se a gente acender um fósforo em algum lugar, talvez possa melhorar lá. Eu possa me adaptar.
ENTIDADES ANP A ANP gosta de fazer muita legislação. Não faça isso, não faça aquilo. Tem que fazer aquilo, tem que fazer aquilo outro. É um órgão regulador. ANP. Agência Nacional de Petróleo.
TRABALHO Bem, eu só tenho 15 dias que estou lá na ANP. Então, quero ver se animar mais um tiquinho. Manda fiscalizar um negócio qualquer aí, que eu vou. É isso que eu quero. Nem que seja ação para fiscalizar lá. Mas eu quero é me mexer. Eu não posso ficar muito parado. É um milagre eu estar aqui duas horas sentado, viu?
ENTREVISTA Olha, é que a gente não está ainda sabendo o que vocês pretendem com isso. Se vocês, por acaso,
precisarem de algum reparo, alguma coisa extra, para depois, eu estou à disposição de vocês. Nós vamos consertar isso, ou vamos falar mais sobre aquilo. A gente ainda tem material. Você vai encontrar um punhado de fotografias minhas com um cigarro na mão. A gente pode até tentar ver se acha fotos. Mas eu sei coisas interessantes, apesar de ter muita coisa técnica. Coisa técnica é chatíssimo. Eu tive, nesse decorrer, muitos colegas que eram contadores de história. Aí você podia se divertir com eles. Eles têm aquele dom de gravar, de escrever, sabe?
RELAÇÕES DE TRABALHO O Carlos Valter, por exemplo. Ele gostava de escrever. Temos uma meia dúzia por aí, que para ser escritor, falta pouco. Só era engenheiro técnico por diletantismo. Nós trabalhamos juntos. No Maranhão. Ele é um dos descobridores da bacia de Campos, como geólogo. Ele foi superintendente quando eu fui para o Maranhão, lá em 1965, ele era superintendente do Pará. Da região Norte. E andamos conversando por lá. A primeira reclamação. Que ele nunca tinha visto, praticamente, um engenheiro de produção, quando ele chegou na sonda. Naquela época era tudo na base do norte. Ele chegou lá num teco-teco e eu disse: “Eu tenho uma reclamação para fazer. Isso aqui, eu já estou há 15 dias e está pior que a semana da asa. Só dá frango, todo dia.” Aí ele chegou: “Vamos tomar uma cerveja.” A gente se encontra. Mas está tudo ficando velho. Nunca vi isso. Eu não quero ficar, eu quero permanecer jovem. Só eu que estou... A maioria não quer nada. A gente sempre arranja uns colegas. Mas os velhos não querem muito não. Estão tudo entregando a rapadura.
ENTREVISTA Eu me disponho, quando tiver mais coisa, e apareçam.Recolher