Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Edvaldo Francisco das Neves
Entrevistado por Tereza Ruiz
Cordeirópolis, 19 de agosto de 2014
Realização Museu da Pessoa
Entrevista NCV_HV052_ Edvaldo Francisco das Neves
Transcr...Continuar leitura
Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o outro compartilhando valores – Pronac 128976
Depoimento de Edvaldo Francisco das Neves
Entrevistado por Tereza Ruiz
Cordeirópolis, 19 de agosto de 2014
Realização Museu da Pessoa
Entrevista NCV_HV052_ Edvaldo Francisco das Neves
Transcrito por Ana Carolina Ruiz
P/1 – Então primeiro, Edvaldo, eu vou pedir pra você dizer pra gente o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Tá. O meu nome é Edvaldo Francisco das Neves, nasci em Rio Claro, interior de São Paulo, em fevereiro de 1976.
P/1 – Agora o nome completo dos seus pais e se você lembra a data e o local de nascimento deles também.
R – Meu pai chama Anizor Francisco das Neves. A data de nascimento dele é 20 de outubro de 1950. Local...
P/1 – E sua mãe?
R – Local eu não lembro.
P/1 – Local você não lembra?
R – Não.
P/1 – Sua mãe?
R – Minha mãe é Alzira Ferracini das Neves e a data dela eu não lembro.
P/1 – Local você sabe onde ela nasceu?
R – Minha mãe em Garça. Meu pai acho que é Lucélia.
P/1 – Você sabe qual que é a origem da sua família?
R – Olha, eu sei que os meus pais vieram do Paraná pra Rio Claro. Isso foi acho que em 1975, foi logo depois que a minha mãe ficou grávida de mim, né? Logo que eu nasci em 1976. Eles vieram do Paraná pra cá parece que era uma cidade que chamava Goioerê. Goioerê no estado do Paraná, interior do Paraná.
P/1 – E avós e bisavós são imigrantes? Você tem imigrantes próximos?
R – Então, por parte dos meus pais são descendentes de portugueses, né? E por parte da minha mãe são descendentes de italiano.
P/1 – E você sabe por que eles vieram pro Brasil?
R – Então, eu sei que eles são descendentes, mas assim, eles não vieram, por exemplo, os meus avós não vieram da Itália pro Brasil, mas assim, são descendentes de ter tataravó, bisavós que tiveram alguma coisa relacionada a Itália, entendeu? Pelo sobrenome que eles têm também eu fiquei sabendo, mas eles nasceram aqui no Brasil.
P/1 – É uma imigração antiga já então, né?
R – Bem antiga. É. Exatamente. Bem antiga.
P/1 – E o que o seu pai e a sua mãe faziam ou fazem profissionalmente?
R – Minha mãe sempre foi do lar. Minha mãe nunca trabalhou fora. Algumas vezes, esporadicamente, ela trabalhou ajudando o meu pai às vezes em casa de família, quando apertava, alguma coisa assim ela dava aquela ajudinha pro meu pai, mas meu pai sempre trabalhou em indústria, né? Sempre trabalhou em fábrica, em produção de fábrica. Ele trabalhou em algumas empresas. Hoje ele já é aposentado, mas continua trabalhando pra complementar a renda, né?
P/1 – E como é que o seu pai e a sua mãe são de temperamento, personalidade? Como é que você descreveria os dois?
R – Ah, os meus pais são bem tranquilos. Assim, eu acho que a minha mãe é um pouco mais agitada que o meu pai, mas meu pai é bem tranquilo. Ele é tranquilo até certo ponto, ele gosta das coisas muito certinhas. Pra ele tem que ser desse jeito e tem que ser daquele jeito. Mas minha mãe já é um pouco mais agitada do que ele. Minha mãe já é um pouco mais pavio curto, mas num contexto geral eles são bem tranquilos. Meu pai e minha mãe são bem tranquilos. Graças a Deus eu não tenho o que reclamar de nada.
P/1 – E irmãos você tem?
R – Tenho. Tenho uma irmã e um irmão. Somos em três, né? Eu sou o mais velho e tenho mais dois irmãos. Tenho o Edson e a Érica. Os dois são casados.
P/1 – Com o que eles trabalham, os seus irmãos?
R – A minha irmã, ela é autônoma, ela tem uma van escolar. Ela puxa criança de escola, tem uma van escolar. E o meu irmão ele trabalha numa empresa do gênero de aves, tipo granja, sabe? Ele trabalha nessa empresa aí em Rio Claro. Ele trabalha em Rio Claro.
P/1 – Conta pra gente como é que era a casa e o bairro em que você passou a infância, Edvaldo. Descreve um pouco mesmo como é que era a casa, como é que era o bairro.
R – Olha, quando os meus pais vieram pra cá, as coisas antigamente eram bem mais difíceis do que era agora, pelo que eles me contaram. A gente sempre morou na mesma casa, já há quase 39 anos que a gente mora no mesmo lugar, no mesmo bairro, na mesma casa. Eu lembro, recordo quando eu era pequeno porque em frente da minha casa tinha uma lagoa, uma represa. Eu lembro que a água vinha até próximo a hoje onde é a garagem de casa, do carro, a água vinha até ali. Então era uma casinha muito simples, dois cômodos, era muito barro. Eu lembro que a gente brincava no barro quando a gente era pequeno. Até pescava lá em frente, que tinha peixe na época, não era assim tão contaminado que nem é hoje. Hoje secou, né? Não tem mais a lagoa hoje, tá tudo seco, mas é isso que eu me lembro. É uma casinha muito simples, dois cômodos, era muito barro por causa da água. Isso que eu me recordo da infância da nossa casa.
P/1 – E o bairro? Como é que era o bairro? Era um bairro mais central, mais afastado?
R – Não. Ele é um bairro relativamente um pouco até central, ele não é muito afastado, não. Assim, porque em comparação porque a cidade cresceu muito, então muitos bairros estão distantes do centro, então vai descendo, vão abrindo mato, vão construindo, sabe como é que é, né? Então onde a gente tá hoje ali relativamente não é muito afastado, não. Mas o bairro antigamente era só deserto assim, porque eram poucas casas. Eu lembro quando a gente era pequeno, a gente... Hoje onde eu passo, eu olho na rua que eu morava eu lembro que era só mato ali, a gente brincava quando era pequeno. Então hoje só existe casa, prédio, então mudou muita coisa, mas o bairro no começo que eu lembre é bem tranquilo, hoje tá bem povoado.
P/1 – Era asfaltado? Tinha energia elétrica?
R – Energia elétrica tinha, mas não era asfaltado. Era sem asfalto. Alguns lugares eram asfaltados. Foi a época que começou a passar o asfalto ali, né? Alguns lugares tinham, mas que eu me lembre da nossa casa não era asfaltado, tanto é que a água da lagoa batia quase dentro de casa.
P/1 – Qual que era a lagoa? Tinha um nome?
R – Então, era lagoa e do outro lado da lagoa tinha uma cerâmica. O dono da cerâmica o sobrenome dele era Wenzel. Então até o bairro alguns chamam de Parque Universitário, outros chamam de Wenzel, por causa do dono dessa cerâmica, ela é bem antiga. Então a gente costumava, o pessoal conhecia ali como a lagoa do Wenzel. Por causa da cerâmica do dono ali, então chamava lagoa do Wenzel.
P/1 – E ela não existe mais?
R – Hoje secou. Hoje construíram um campo de futebol e ela secou toda, agora só tem mato. Tem projetos ali pra fazer... Já teve projeto pra fazer cadeia, já teve projeto pra fazer escola, pra fazer condomínio fechado, vários projetos. Então está tudo seco, é um terreno enorme que virou aquilo ali e um pedaço fizeram um campo de futebol.
P/1 – E quando você era criança assim quais que eram as brincadeiras? Do que você brincava? Com quem você brincava?
R – Eu com o meu irmão, a gente é um ano de diferença de idade. Então assim, quando a gente não brigava a gente brincava, eu com o meu irmão, e tinha os vizinhos ali, sempre tinha um ou outro vizinho da mesma idade que a gente brincava. A nossa brincadeira era a brincadeira da época, né? O que a gente tinha ali, por exemplo, jogar peão, empinar pipa. E de frente de casa tinha a lagoa e era cheia de taboa, a gente brincava de amassar a taboa, de fazer caverna, essas coisas assim que a gente brincava quando a gente era criança. Essas brincadeiras bem simples que não tem mais hoje, né?
P/1 – Você tinha uma brincadeira favorita?
R – Jogar futebol, né? Jogar bola. Jogar bola é o que a gente mais gostava de fazer. E aí o que a gente fazia? A gente pegava o chinelo no meio da rua, no meio do asfalto, da terra, colocava dois chinelos, um em cada ponta pra fazer o gol ali, o chinelo seria como se fosse o gol e a gente brincava ali com bola que tinha bola de plástico, bola de meia que a gente fazia. A brincadeira que eu mais gostava era jogar futebol e depois de jogar futebol era empinar papagaio.
P/1 – Você torcia pra algum time?
R – Torcia. Eu, assim, até meus oito, dez anos eu sabia Corinthians, Palmeiras, São Paulo, time de futebol, acompanhava os jogos, mas eu não tinha um time assim que eu gostava de torcer, né? Aí o meu vizinho era palmeirense e da minha casa não tinha televisão, porque os meus pais eram evangélicos e a religião dizia na época, que é a mesma até hoje, mas hoje mudou muita coisa, hoje já pode ter televisão e tal, mas na época não poderia e o meu pai por causa da religião não comprava, a gente não tinha televisão quando a gente era pequeno. Depois dos 14, 15 anos que o meu pai comprou uma televisão. E quando tinha jogo eu assistia na casa do meu vizinho, que ele chama Jorge, e assistia vários jogos com ele lá e ainda eu fui aprendendo a gostar do Palmeiras por causa dele. Assim, quando era bem pequeno, mas foi assim amor a primeira vista. Porque a gente não escolhe, hoje eu vou torcei pra um time, vou trocar, eu comecei, olhei, gostei, achei a cor bonita tal, falei: “Pô, é esse time que eu gosto”. Hoje eu torço pro Palmeiras.
P/1 – E você tem algum ídolo assim do futebol?
R – Do futebol? Ah, a gente tem. Eu tive o privilégio de pegar uma época do Palmeiras, época da Parmalat, que montaram vários times assim praticamente imbatíveis na época porque tinha muito dinheiro a patrocinadora. Então formaram praticamente seleção. Aí tinha o Edmundo que eu gostava muito, o Evair, o Djalminha. Considero como ídolos da época, né?
P/1 – Nessa fase assim de infância ou começo da adolescência você lembra o que você queria ser quando crescesse?
R – Jogador de futebol. Jogador de futebol era meu sonho. Até tentei. Até tentei lá na minha cidade mesmo. Hoje tem lá o time do Rio Claro. Tem dois times a cidade, tem o Velo Clube Rioclarense e o Rio Claro Futebol Clube. O Rio Claro Futebol Clube hoje tá na primeira divisão do campeonato Paulista, mas na época ele não tava na primeira divisão ainda, na época era tipo segunda, terceira divisão. E eu comecei a treinar lá, a gente era bem moleque, infantil, tinha 12, 13 anos, jogava futebol no infantil, então a gente fazia preliminares antes do jogo do profissional a gente fazia as preliminares. Então joguei algum tempo ali e tinha vontade de ser jogador de futebol, mas depois as coisas foram encaminhando pro outro lado e meu pai também não me apoiava nessa parte aí. Assim, de repente eu até queria, mas não tinha o apoio dele por causa de religião, essas coisas e tal, mas eu queria ser jogador de futebol e depois também com o tempo, eu tenho problema nas vistas, né, e com o tempo pra eu ficar sem os óculos dava muita dor de cabeça, dificuldade pra enxergar. Aí eu fui desistindo, comecei só a brincar de final de semana com os amigos, aí eu larguei mão daquele sonho que eu tinha por causa disso, por vários motivos, mas eu sempre tive vontade de ser jogador de futebol.
P/1 – Quanto tempo você jogou nesse time?
R – Ah, no Rio Claro na época lá acho que não foi muito tempo, não. Acho que foi um ano, um ano e meio no máximo, depois eu parei. Tenho dificuldade pra deslocamento, apesar da cidade ser pequena às vezes não tinha como ir, não tinha bicicleta pra ir, pra pegar o ônibus demorava. Eu lembro que uma vez teve um jogo, a gente ia jogar contra um time lá da cidade e eu não tinha como ir, eu cheguei na metade do segundo tempo lá pra jogar aí o treinador ficou acho que ficou com dó de mim, falou: “Se troca que você vai jogar um pouquinho e tal”. Mas acho que foi um ano, um ano e meio no máximo que eu fiquei brincando lá com o pessoal lá.
P/1 – E como é que foi essa fase de jogar? Você tem lembranças?
R – Tenho, porque a gente imaginava que um dia ia ser jogador de verdade. Então tudo que a gente fazia a gente achava que era igual jogador de verdade, profissional, né? Do jeito que eles se trocavam, a gente... Quando antecedia um jogo a gente não conseguia dormir direito, ficava pensando, sabe, era esses tipos de coisa assim. Era bem bacana.
P/1 – Teve algum colega seu que tenha se formado jogador profissional dessa época?
R – Teve. Foi o Fabiano, ele era goleiro. Mas eu só fiquei sabendo que ele era profissional quando eu tava assistindo um jogo uma vez na televisão que passou ele jogando. Mas ele foi jogador profissional, mas ele não jogou em nenhum time de elite. Eu lembro que uma vez eu tava assistindo um jogo do time de Osasco e mais outro time da segunda divisão, mas de profissionais, e ele tava no gol, ele era o goleiro. Inclusive ele morava perto de casa. Ele conseguiu seguir um pouquinho na carreira, mas não foi, assim, com nenhum destaque, nada. Mas ele fazia parte da nossa época ali.
P/1 – E nessa fase de infância como é que eram as refeições na sua casa? Quem que cozinhava? O que vocês comiam?
R – Da minha casa sempre quem cozinhou foi minha mãe. Minha mãe sempre foi do lar, que nem eu já falei. Umas vezes ou outra que ela trabalhava pra fazer algum serviço fora em casa de família pra ajudar o meu pai, mas assim, a comida em casa sempre foi a minha mãe que fez. A gente sempre foi simples pra comer, né? Arroz, feijão, quando tinha carne fazia carne, uma comida simples. Eu mesmo, por exemplo, eu sempre fui fã de ovo, de comer ovo frito. Eu troco um bife, qualquer outra mistura pra comer um ovo frito, porque eu adoro ovo frito. Então assim, a gente não tinha muita... Eu principalmente não escolhia muito que tipo assim de mistura, essas coisas. Mas sempre foi coisa simples que a minha mãe fez, arroz e feijão. Às vezes a gente queria comer alguma... Eu lembro que à noite, a gente queria comer alguma coisa, minha mãe fazia bolinho de chuva pra gente. Ela pegava o ovo e ela tirava a gema fora do ovo, então ela colocava só a clara. Então ela batia aquela clara até ela ficar dura, sabe, ela ficar bem concentrada de tanto bater a clara, aí ela jogava açúcar e a gente comia aquilo lá e gostava. Isso minha mãe inventava na hora pra gente comer lá, a gente queria comer alguma coisa diferente. Mas assim, a gente sempre foi simples, nunca teve nada de diferente e sempre a minha mãe que fez a comida lá em casa pra gente, até hoje.
P/1 – E os momentos da refeição vocês comiam juntos? Como é que era o momento da refeição?
R – A gente... É assim, embora a nossa família é muito unida, a gente nunca teve problema nenhum, tal, mas assim em algumas coisas a gente é diferente até hoje. A minha mãe e o meu pai comem juntos, eu já não como junto com ninguém. Eu já como sozinho. Eu lembro quando eu era pequeno a minha mãe sempre ela que aprontava a nossa comida. Hoje eu moro com os meus pais de novo, né, tem a casa da frente, tem uma casa no fundo que eu moro. E minha mãe sempre aprontou a comida nossa. Pra mim, ela colocava no meu prato, do meu irmão, da minha irmã, do meu pai. Isso pra mim e pro meu pai ela faz até hoje. Ela que apronta a comida do meu pai e apronta a minha. Eu vou aprontar ela não deixa, ela quer aprontar. Mas assim, ela come... Eu lembro que ela aprontava nossa comida, chamava-me, eu ia na cozinha, pegava e ia na sala comer. Às vezes eu comia sozinho na sala, o meu irmão do lado, às vezes meu irmão comia na cozinha, tal. Poucas vezes assim a gente se reunia a família toda, só época de festa a gente sentava e comia tudo junto. Mas nessa parte de comer é cada um no seu canto, mas não por motivo de briga, nada, por escolha pessoal, acho que a gente acostumou assim. Até hoje eu sou assim, eu pego a minha comida eu vou lá no fundo, eu como sozinho. Dificilmente eu como na mesa ali com eles, mas isso não é por motivo de briga, nada. Acho que acabei acostumando assim.
P/1 – Vocês tinham o hábito de beber café na sua casa?
R – Sim. Café até hoje. Café minha mãe, se não tiver café em casa não começa o dia. Então todo dia de manhã minha mãe fazia o cafezinho pra gente lá, chá, às vezes fazia chá, café com leite, café com chocolate. Assim, a gente sempre foi uma família humilde, mas nunca faltou nada, sempre tivemos o café da manhã ali pra comer o pãozinho com manteiga, o almoço, a janta, tal.
P/1 – E como é que era preparado o café?
R – Minha mãe na época... Hoje ela faz na cafeteira, ela programa a cafeteira e faz lá de manhã, mas antigamente minha mãe fazia no coador, né? Eu lembro que ela comprava o coador no mercado e fazia o café ali. Era bem simples. Eu lembro bem pequenininho que ela fazia no coador de pano, e depois eu lembro que ela já fazia naquele coador de papel que você compra no supermercado. Isso eu lembro. Hoje ela já faz na cafeteira. Mudou, né? Não é mais que nem antigamente.
P/1 – E da escola, Edvaldo, quais que são as primeiras lembranças que você tem da escola?
R – Primeira lembrança?
P/1 – É.
R – Olha, eu lembro que... A primeira série, eu lembro até hoje o nome da minha primeira professora, ela chamava Elisa, da primeira série. O nome das outras séries pra gente já não lembro mais, mas da Elisa que foi minha primeira professora no primeiro ano primário, eu lembro o nome dela. Do prezinho eu já não lembro, mas eu lembro o nome dela, da dona Elisa. Eu lembro muito assim, o que mais marcou pra mim na escola quando eu era pequeno era a parte durante o recreio, pra jogar futebol na quadra lá, montava o timinho que a gente tinha lá e ficava brincando, voltava pra sala todo suado, a professora brigava, porque a gente ficava todo suado, o rosto molhado e tudo mais. É isso que eu me recordo da escola nessa parte aí quando eu era bem, bem pequeno, a parte da infância, né? Depois com o tempo a gente foi crescendo, mas eu não... Eu sempre fui meio sapeca na escola, assim, era de aprontar muito, eu era de aprontar muito.
P/1 – Que tipo de coisa você fazia assim?
R – Durante a aula não parava de conversar, ficava contando piada, querendo se aparecer pras menininhas. Essas bobeiras aí, mas assim, só que eu era muito mais que os outros, né? Entendeu? Eu não era mal educado, o professor chamava atenção, tal, a gente respeitava tal, mas assim, os meus pais foram chamados inúmeras vezes na escola por causa do meu comportamento de falar muito e tal. Às vezes eu não ia bem nas provas por causa disso. Quando eu estudava, eu me focava, tirava nota boa, mas quando eu não dava bola eu ia mal. Mas depois foi amadurecendo um pouco, foi mudando, mas foi bem bacana. Eu estudei sempre na mesma escola. Acho que até a oitava série eu estudei numa escola só, depois no segundo grau que eu mudei.
P/1 – Qual que era essa primeira escola?
R – EEPG Barão de Piracicaba. Acho que é Escola Estadual do Primeiro Grau Barão de Piracicaba de Rio Claro.
P/1 – E você teve algum professor marcante nessa fase, nessa primeira escola?
R – Então, foi a Elisa, né? Foi a professora da primeira série.
P/1 – E por que ela foi marcante?
R – Não sei. Acho que foi também assim... Ela não foi nada diferente das outras, mas eu me lembro dela, o nome dela eu não consegui esquecer, não sei se foi porque foi a primeira professora. E aí ela marcou por esse sentido, mas ela nunca fez nada de diferente que as outras professoras. Acho que foi por ser a primeira, né? Hoje eu já não lembro mais da fisionomia dela, fechar o olho e pensar assim, eu não sei como que ela é, mas lembro que ela era bem boazinha. Foi ela que marcou, a Elisa, minha primeira professora.
P/1 – E dessa fase da infância ainda tem alguma história que você sempre lembre, tenha ficado na memória? Um episódio que você tenha vivido, uma história.
R – Ah, tem. Tem muitos, né?
P/1 – Conta alguma, uma pra gente.
R – Isso aí é o que mais tem. Por exemplo, eu lembro quando a gente tava no prezinho, que na época tinha o Pré I, Pré II e Pré III, né? Eu não lembro se era o Pré I, o Pré II ou o Pré III. A gente tava no pré, então a minha mãe levava, a gente ia de bicicleta, a gente na época tinha uma Monareta, uma bicicleta verde, eu lembro até hoje. Então às vezes eu com o meu irmão a gente ia brincando com a bicicleta, às vezes eu levando ele na garupa e vice-versa aí a gente entrava pro prézinho, pra escola, a minha mãe voltava com a bicicleta. Aí quando ela ia buscar levava a bicicleta de novo. Eu lembro uma vez um episódio que a gente tava voltando da escola e antes de chegar à minha casa, minha casa fica numa rua, antes de chegar na minha casa tinha uma descida, né, e tinha uma Brasília azul que era desse senhor que morava lá. Inclusive acho que ele ficou mais de 20 anos com essa Brasília porque até pouco tempo atrás ele a tinha, agora ele vendeu. Eu e o meu irmão descemos essa descida e eu tava na garupa o meu irmão guiando a bicicleta, pegou velocidade a gente não conseguiu frear. Aí a gente bateu na Brasília, a gente caiu, o meu irmão quebrou tudo os dentes da frente e eu rachei a cabeça, aquele sangue, a minha mãe começou a gritar na rua desesperada chorando e tal. Resumindo, a gente foi parar no hospital, tomei ponto, meu irmão quebrou os dentes daí. Isso foi uma coisa que eu acho que eu nunca vou esquecer mais, o que aconteceu esse dia aí. Foi dolorido, né? Acho que por isso que eu não esqueço, porque foi uma pancada forte. E também o que eu não esqueço é minha mãe chorando na época na rua desesperada achando que tinha acontecido alguma coisa demais porque muito sangue e tal. Outra coisa que aconteceu também que eu não esqueço, como de frente de casa tinha aquela lagoa que eu falei pra você no começo, então às vezes a gente ia amassar taboa, a gente ia pescar porque era fundo lá tal, né? E minha mãe não queria que a gente ia, mas a gente escapava de casa. Eu lembro uma vez que eu entrei pra amassar taboa lá, amassar taboa pra quem não sabe a gente pegava um cabo de vassoura e ia amassando a taboa e entrando pra dentro lá no meio da água, fazia uma caverna, tal. A gente brincava dessas coisas. E aí eu comecei a entrar pra dentro e não consegui voltar mais, porque começou a afundar. Conforme eu andava afundava mais ainda. Aí eu lembro que eu entrei em desespero, comecei a chorar, aquela gritaria tal, e lá no meio lá e ninguém me ouvia. Não sei quem ouviu que foi chamar a minha mãe, minha mãe teve que entrar lá pra me tirar de lá e eu não conseguia. Eu achava que eu ia morrer aquele dia, foi um desespero. Isso eu não esqueço também nunca mais. Isso foi uma coisa que aconteceu também que eu não esqueço.
P/1 – Você tá falando de amassar taboa, como é que era isso? Por que era no chão embaixo da água, é isso que tinha?
R – Porque é assim, tinha a parte da lagoa que tinha bastante água, a parte da taboa tinha água, só que a taboa, você pisando em cima da taboa você não consegue afundar na água, sabe? Você fica tipo que flutuando na água pisando assim, a taboa não deixa você afundar. Então quando a gente amassava a taboa, a taboa caia, a gente ia pisando em cima da taboa e ia entrando pra dentro da lagoa ali. Era por isso que a gente amassava e amassava também pra ir entrando pra dentro da lagoa, pra ver como era lá do outro lado que às vezes a gente não conseguia. A gente sabia que do outro lado tinha uma cerâmica, mas a gente queria atravessar amassando. Só que lá mais na frente tinha água, né, e era bem fundo, tinha muito peixe lá e tal. Essa é a curiosidade que a gente tinha. Então é por isso que a gente amassava a taboa, pra ir entrando e conseguir pisar pra não afundar na água.
P/1 – Mas vocês nunca chegaram a atravessar?
R – Não. Eu nunca cheguei a atravessar, não, mas tiveram uns colegas meus que eram mais sapecas que eles chegaram a atravessas. Eu tinha medo, eu já voltava pra trás. Depois que eu quase achei que eu ia morrer lá o dia que eu fiquei lá no meio lá, eu desisti. Mas a parte mais gostosa que tinha ali na época da lagoa não era nem tanto amassar a taboa, era pescar porque tinha muito peixe lá. Tinha muito, mas muito peixe mesmo!
P/1 – E vocês tinham o hábito de pescar nessa lagoa?
R – Tinha. Ali vinha pessoal de fora pescar assim. Não de outra cidade, mas de outros bairros que passava a noite toda pescando, deixava a vara armada pescando lá tal. A gente pescava durante o dia, tinha a nossa varinha, aí a gente pegava aqueles lambarizinhos, aqueles peixinhos pequenininhos, tinha traíra, cará, esses peixes de água parada assim, pegava muito, mas muito, muito, muito peixe mesmo. Eu gostava também muito de pescar ali naquela lagoa.
P/1 – Com que você pescava?
R – Ah, ali assim, eu vou pescar. Pegava a varinha, colocava nas costas, atravessava a rua já chegava à lagoa, chegava lá tinha várias pessoas pescando já: senhor de idade, família, ia a família pescar. Então eu sentava com a minha varinha e ficava pescando ali, conversava com alguém, às vezes ia com o meu irmão, com algum amigo, mas geralmente sempre tinha alguém lá pescando. Nunca deixou de ter ninguém na época lá porque pegava muito peixe lá.
P/1 – Aí levava pra casa o que pescava?
R – Pegava. Levava, falava pra minha mãe fritar pra gente comer. Fazia questão de comer o peixe que tinha pegado, porque minha mãe fritava e a gente comia. Era muito bom, muito gostoso.
P/1 – E na mudança dessa fase da infância pra adolescência o que mudou na sua vida em termos de lazer, grupo de amigos? Teve alguma mudança da infância pra adolescência?
R – Porque, assim, a gente no bairro ali, os amigos a gente era tudo mais ou menos da mesma idade, então a gente cresceu tudo junto. Não mudei de amigos, sempre foram os mesmos amigos. Aí a gente mudou alguns hábitos, né? Eu lembro, por exemplo, quando a gente começou a ficar adolescente na nossa época tinha... A gente chamava de brincadeira dançante, então tinha uma casa, uma pessoa da casa separava lá a área de frente, alguma coisa, e fazia uma brincadeira dançante, colocava uma música lá, um som alto e tal e convidava o pessoal do bairro e ia praquela brincadeira dançante. Então nessa época de adolescência a gente fazia muito isso. Chegava de sábado à noite a gente ia para essas brincadeiras dançantes, que a gente não podia ir a discoteca na época, a gente era menor, não tinha como ir, não tinha nem grana também pra fazer essas coisas, então a gente conseguia comprar alguma bebida, uma coisa e levava e participava. Essa foi a nossa adolescência, a gente foi crescendo assim.
P/1 – Como é que eram essas brincadeiras dançantes? O que tocava?
R – Era assim, começava com aquelas músicas de discoteca, né? Música de dança pra você dançar. Eu nunca dancei discoteca, eu ficava parado, nunca dancei, só ficava parado. Então tinha a parte de dança, aí quando acabava a parte de discoteca de dança assim, aí o pessoal fazia aqueles passinhos da época tal. Aí quando terminava a parte de dança e entrava a parte da música lenta, que hoje não tem mais isso. Eu lembro até uns tempos atrás eu fui em boate, em discoteca aí só toca música dançante a noite toda, não tem mais aquela música lenta. Aí quando chegava na música lenta, que daí era a parte que a gente gostava, né, a gente já tava paquerando uma menina ou outra, tal, aí chamava pra dançar, dançava música lenta e tal. Essa era a parte mais legal que tinha. Alguma menina se interessava por você, aí você se interessava, ia, dançava, tal. Essa era a parte que eu mais gostava. E aí tinha aquela disputa, né, com quem você dançava mais, se conseguiu beijar, se conseguiu dar um selinho, alguma coisa assim. A adolescência da gente foi crescendo assim, sem muita coisa de diferente. E eram sempre os mesmos amigos.
P/1 – E nessa parte amorosa, afetiva, teve um primeiro amor, alguém que tenha marcado nessa fase de adolescência?
R – Deixa eu ver (pausa). Teve aquele lance de você gostar, a primeira menina que você beija aí você gosta, fica gostando, mas na verdade não é um amor de verdade, é uma coisa que aconteceu ali e tal. Eu lembro que teve, mas aí eu não quero falar porque depois ela é casada e tal, eu conheço.
P/1 – Não quer deixar registrado.
R – É. Foi uma pessoa que eu gostei muito, porque rolou o primeiro beijo, mas hoje não tem mais nada a ver, até é totalmente diferente. Mas teve sim uma pessoa que marcou que foi ela. Na verdade tiveram várias, né (riso)? Teve bastante que vai marcando. Mas foi legal.
P/1 – E nessa fase de adolescência assim você só estudava ou trabalhava também?
R – Então, eu comecei a trabalhar com 14 anos de idade.
P/1 – Qual que foi o seu primeiro emprego?
R – Meu primeiro emprego foi num... Assim, eu sempre... Perto da minha casa tinha um senhor que morava lá, ele tinha um terreno um pouco grande, então pra ele fazer tudo aquele serviço sozinho que era carpir o terreno, mexer nas coisas, pra ele sozinho era difícil, então às vezes ele me chamava com o meu irmão. A gente ia ajudar ele a fazer esse serviço lá e dava uma gorjetinha pra gente tal. Ficou bastante tempo ajudando ele. Mas o meu primeiro trabalho registrado foi com 14 anos num supermercado. Eu era repositor. Eu recolocava as coisas nas prateleiras. Foi com 14 anos, eu tenho meu primeiro registro na carteira.
P/1 – Você lembra o que você fez com os primeiros salários?
R – Eu lembro até hoje quando eu recebi o meu primeiro pagamento, eu tava vindo embora de bicicleta, eu parei numa lanchonete que era do meu vizinho, ele tinha uma lanchonete, eu parei lá e sentei e comi um lanche. Aí eu paguei e depois eu fui pra casa e dei pro meu pai o dinheiro. Todo o dinheiro que eu recebia eu dava pra ele, ele dava um pouco pra mim. Mas eu lembro que na época era muito dinheiro, porque além de eu receber o salário do supermercado registrado como repositor eu ajudava nos caixas também a empacotar. Então a gente empacotava e ajudava a levar no carro do cliente e todo mundo que você ajudava a empacotar e levar no carro te dava uma gorjetinha. Então, assim, quando pegava de final de semana a gente ganhava muito dinheiro mesmo. Eu diria pra você que hoje, hoje em real era uma média de 150 a 200 reais. Era muito dinheiro. Às vezes dava até mais do que o pagamento porque tinha cliente que chegava lá e dava muito dinheiro pra gente, gostava da gente e tal. Daí eu lembro que o meu primeiro pagamento eu parei na lanchonete, comi um lanche, paguei, e dei o dinheiro pro meu pai. Eu lembro que era um bolo assim de dinheiro. Até hoje eu lembro.
P/1 – E depois teve alguma coisa que você tenha conseguido juntar assim pra comprar uma coisa que você queria?
R – Não. Nunca fui de juntar dinheiro. Nunca juntei dinheiro, tipo assim, vou juntar um valor X pra comprar uma bicicleta, por exemplo. Não. Nunca fiz isso. Eu sempre gastei dinheiro. Eu saía com um tanto no bolso e voltava zerado pra casa. Esse problema eu tinha. Assim, e o dinheiro que eu dava pro meu pai, ele não colocava na poupança, ele não fez uma poupança pra mim, ele usava o dinheiro na casa. Ele usava pra comprar as coisas do dia-a-dia. Então nunca tive uma poupança, nada. Quando eu queria comprar alguma coisa, eu ia na loja, que eu lembro quando eu comprei uma bicicleta eu parcelei ela no carnê lá em várias prestações, comprei uma bicicleta. Mas não tinha esse dinheiro guardado que eu juntei, fui lá e comprei uma bicicleta. Não. O pouco que o meu pai me dava no final de semana ia tudo embora. Não tinha dó de gastar dinheiro. Mas não com porcariada, assim, comia lanche, tomava refrigerante, às vezes a gente tomava até cerveja. Os colegas, alguns não trabalhavam, a gente pagava, não tinha problema nenhum. Então guardar dinheiro nunca guardei.
P/1 – E quanto tempo você ficou trabalhando nesse supermercado?
R – No supermercado acho que eu fiquei... Putz, agora não vou lembrar exatamente pra falar pra você. Eu tenho na minha carteira, até hoje eu tenho essa carteira, uma carteira só que eu tenho. Eu não sei se foram oito meses, dez meses. Eu lembro que não foi muito tempo.
P/1 – E depois você foi trabalhar com o que?
R – Depois do supermercado eu fui trabalhar numa loja de móveis lá em Rio Claro. Uma loja de móveis, eu trabalhei lá. Eu trabalhei um ano e... Duas vezes eu trabalhei nessa fábrica, essa fábrica de móveis. Eu trabalhei uma vez, depois eu saí, depois eu voltei de novo.
P/1 – Você fazia qual função na fábrica?
R – Então, era uma fábrica de móveis, eu fazia só estofados na época. Só estofados. A gente fazia a parte de tapeçaria, vinha a madeira e a gente com o grampeador a gente complementava o sofá ali, ia grampeando o couro do sofá ali. Agora nem lembro mais. Faz muito tempo já, tem acho que 15, 16 anos. Isso que eu fazia nessa fábrica aí. Era por produção na época, tem que produzir X estofados, tal. Lembro que o pessoal mais antigo trabalhava pra caramba, eles tinham aquelas habilidades pra grampear e tal, aí eu queria fazer igual também e não conseguia. Foi uma fase legal também essa fábrica, mas era bem trabalhado. Mas era bem trabalhado. Aí dos 14 anos nunca mais parei de trabalhar, só fiquei dois ou três meses parado, foi muito pouco, muito pouco tempo.
P/1 – Você falou que você tinha feito até o oitavo ano nesse mesmo colégio, né?
R – Nesse colégio eu fiz até o oitavo ano, até a oitava série. Depois eu... Até a oitava série, depois eu fiquei um tempo sem estudar. Deixa-me ver o que aconteceu. Eu fiquei um tempo sem estudar. Quando eu tinha 17 pra 18 anos, a minha namorada da época ficou grávida. Foi aí que eu parei de estudar, que eu comecei a trabalhar. Aí eu fiquei um tempo sem estudar. Aí depois eu terminei o segundo grau, eu fiz o supletivo pra terminar o segundo grau, que hoje eu não sei se tem mais o supletivo. Tem, né? Eu fiz o supletivo porque eu tava trabalhando, trabalhava durante o dia e fazia o supletivo à noite. Aí eu terminei o segundo grau, foi o supletivo.
P/1 – Essa namorada sua, a mãe da sua primeira filha, é isso?
R – É a mãe da minha primeira filha. A gente chegou até a casar, porque eu tinha 17 pra 18 e ela tinha 14 anos na época quando a gente se conheceu.
P/1 – Como é que vocês se conheceram? Conta a história.
R – Perto de casa tinha uma igreja, uma igreja evangélica, eu não frequentava essa igreja, mas eu sei que ela ia a essa igreja. A minha vizinha também ia nessa igreja, então ela era amiga da minha vizinha e começou a frequentar a casa da minha vizinha. Então ela sempre passava em frente de casa, eu sempre tava ali fora, né? E aí eu me interesse, gostei dela, perguntei pra minha vizinha tal. Ela falou: “Olha, você tem que ir a igreja”. “Não tem problema. Eu vou a igreja”. Daí comecei a ir a igreja por causa dela, só por causa dela. Aí a gente foi se conhecendo e tal, eu tinha 17 pra 18, mas cabeça de criança. Ela 14, mais criança ainda. A gente começou a namorar e aí ela ficou grávida.
P/1 – Vocês namoraram quanto tempo antes dela engravidar?
R – Antes de ela engravidar foi pouco tempo. Acho que foram quatro, cinco meses. Logo, logo depois ela ficou grávida. Ela engravidou.
P/1 – E como é que foi essa notícia da gravidez pra vocês?
R – Então, pra mim eu vou ser sincero, parecia que eu já tinha dez filhos, sabe? Foi supernormal quando ela falou que tava grávida. Pra mim não mudou, assim... Quando eu falei pra minha mãe, eu lembro até hoje que eu tava no quarto, eu chamei a minha mãe, eu falei: “Mãe”. Ela falou: “O que foi meu filho?” “A Vanessa tá grávida”. E ela saiu dando risada: “Para de ser tonto. Que brincadeira tonta”. Falei: “Mãe, é sério. Ela tá grávida”. “Ah, não tá. Não tá, não sei o que lá”. Minha mãe não acreditou. Daí eu fui lá e peguei o exame que ela tinha feito. Na época ela fez aquele exame que você pela cor da urina, acho que alguma coisa assim, não sei. Não era exame de sangue, não era exame detalhado que fala pô, realmente tá. Foi esse exame de urina, uma coisa assim que deu.
P/1 – De farmácia?
R – De farmácia que muda a cor. Eu sei que deu. Aí eu levei pra minha mãe, minha mãe viu e falou: “Putz, é verdade mesmo”. Minha mãe na época não queria nem acreditar porque eu supernovo e ela então nem se fala. Na época eu trabalhava numa empresa como a que o meu irmão trabalha hoje. Aí os pais dela eram separados, o pai dela era de São Paulo, o pai dela era nordestino e na época a gente também nem sabia como falar pra ele, qual que seria a reação dele, a filha de 14, 15 anos, Deus me livre.
P/1 – E como é que foi?
R – Mas aí depois a mãe dela contou pra ele, explicou a situação. Sabe, ele até que normal, não me chamou, não falou nada pra mim, mas a mãe dela tinha falado pra ele: “Não. Ele vai casar com ela e tal”. E na época eu trabalhava nessa empresa e tinha convênio médico. Eu fiquei muito preocupado com ela por ser novinha e eu achava que ela era muito pequenininha, então eu tinha medo dela ficar grávida, porque eu achava que ia acontecer alguma coisa com ela por ela ser criança e tal, né? Aí a gente casou só no cartório, mais pra ela ter o convênio médico meu que eu tinha na época pra ela ganhar o neném, que pra pagar particular a gente não tinha como que ela fez cesariana. E aí a gente foi no cartório, casou, ela passou a ser dependente minha. Aí ela teve a neném, teve a Tainá que é a minha filha, fez cesariana aí a gente ficou morando juntos um tempo assim legal e tal, mas depois... Aí quando a gente começou a fazer o supletivo, que eu falei pra você, a gente estudou juntos na mesma classe. Daí ela parou os estudos, porque ela engravidou, ela parou os estudos aí quando a gente voltou, voltou junto, casados já, voltou a estudar na mesma classe. Foi aí que a gente terminou os estudos do segundo grau. Mas aí a gente ficou morando um tempo junto com a mãe dela lá, só eu e ela e a mãe dela. Depois com o tempo não foi dando mais certo, a gente foi amadurecendo, a gente viu que não era tudo aquilo que a gente pensava que tinha acontecido. A gente acabou se separando numa boa. Eu peguei e vim embora, aí não casei mais, fui morar com os meus pais, ela ficou com a mãe dela. Hoje ela casou de novo, tem filho e tudo. Mas foi isso que aconteceu assim, foi uma coisa muito de repente. Eu acho que isso mudou o rumo da minha vida, porque de repente eu poderia ter tomado outro rumo, sei lá, ter me dedicado mais aos estudos, tivesse com a cabeça mais firme um pouco. Mas aí tive que casar muito novo com ela, foi basicamente isso que aconteceu.
P/1 – E como é que foi o nascimento da sua filha? Você acompanhou o parto?
R – Então, não. Não acompanhei. Hoje a minha filha tem... Ela nasceu em 1995, então ela tá com 19, 20 anos, né? Dezenove anos, vai fazer 20 anos o ano que vem. Isso quase 20 anos atrás, pra você filmar o parto tal, naquela época a gente trabalhava, não tinha um salário bom, não era pra qualquer um que tinha uma câmera filmadora na época tal. Não acompanhei nada, mas eu fiquei sabendo que era um sábado de manhã, eu tava trabalhando, ligaram na empresa, falando. Porque quando ela foi pro hospital o médico marcou uma consulta com ela, só que não falou que já ia fazer a cesárea dela, nem ela sabia. Então ela foi pro hospital pra fazer uma simples consulta, lá o médico já a internou e fez a cesárea. Então foi muito de repente e era num sábado. Me ligaram lá na empresa, falaram: “Sua filha nasceu”. E aí eu não tinha
nem como ir pro hospital porque eu ia trabalhar e voltava de ônibus da empresa, né? Aí eu lembro, não lembro o nome do rapaz na época, que tinha carro me levou pro hospital. Aí eu já fui direto pra lá, quando eu fui ela já tinha ganhado a Tainá, ela tava no quarto, tinha feito cesárea. Eu lembro que eu cheguei, ela tava tremendo no quarto acho que por causa de anestesia, essas coisas. Aí eu queria ver a neném, tal, depois eu acabei vendo, mas assim, foi... A gente nunca esquece disso. Foi bem emocionante quando eu vi a Tainá, não acreditava que era minha filha, falei: “Putz, tenho uma filha. Que legal, tal”.
P/1 – E como é que é ser pai? Como é que foi ser pai pra você? O que mudou na sua vida?
R – Então, sabe o que acontece? Que nem eu falei, eu era muito novo e ela também, ela era mais nova que eu ainda, e aí eu tinha as minhas responsabilidades de pai, eu sempre trabalhei, nunca deixei faltar nada, mas eu nunca fui assim... A palavra certa não é carinhoso, mas eu nunca tive muita paciência, sabe, de começar a chorar. Hoje é totalmente diferente. Hoje o meu sobrinho, tenho sobrinha pequenininha, hoje eu vejo uma criança, nossa, adoro a criança. Diferente de antigamente, sabe, pego no colo, acho bonito, nossa, que legal, o olho, jeitinho, o rosto de uma criancinha, coisa que na época eu não percebia isso aí, entendeu? Então eu nunca fui muito um pai assim... Como é que eu posso falar pra você? Sei lá, tem uns pais que são meio bobos assim, que fica com a criança no colo, de estar... Nunca fui de fazer, nunca tive muita paciência por causa da idade, era agitado, eu gostava de sair pra jogar futebol, que nessa época eu jogava futebol, saía de sábado pra jogar futebol com os amigos ainda, voltava só de noite, pegava pouco. Mas isso até hoje eu me arrependo de não ter muito esse contato. Quando a gente se separou, a Tainá era novinha também, ela tinha o que? Acho que nove ou dez anos na época. Era pequenininha também quando a gente se separou. Mas hoje quando ela vai lá em casa tem muita coisa que eu não fazia, que eu não fiz, hoje eu faço. Ela tá com 20 anos, tá tirando habilitação agora, tá fazendo faculdade na Unesp, tá fazendo Educação Física. Então hoje ela vai lá em casa eu a pego no colo, falo: “Senta aqui no colo do pai, vamos conversar”. Coisa que eu nunca fiz hoje eu faço, abraço, beijo, tal. Mas não foi por maldade, nada, mas foi por causa da época, da cabeça, de ser adolescente, do que aconteceu. Mas se é hoje seria totalmente diferente. Eu queria acompanhar passo a passo dela, tudo, tudo que eu não fiz, que eu não acompanhei aquela época queria acompanhar hoje. O que eu posso fazer hoje pra acompanhar eu faço, embora ela more com a mãe dela, mas eu tenho contato, eu a vejo quase que todo dia assim, a gente tá se falando pelo Whatsapp. Hoje é mais fácil, né? A gente conversa, manda foto, ela vai em casa de final de semana, eu pego ela.
P/1 – Você falou que você trouxe a foto do aniversário de 15 anos, né? Como é que foi? Conta pra gente como é que foi esse momento pra você.
R – Ah, isso aí foi... Eu nem queria ir, porque tinha que dançar. Tinha que dançar, é valsa, né? Nunca fui de dançar, sabe? Quando era moleque dançava lenta que era dois passinhos pra cá, dois passinhos pra lá. Depois dançar valsa no meio de todo aquele povo, que tinha bastante gente lá, a gente alugou um salão de festas, fez toda a preparação. Foi uma festa de 15 anos mesmo. Foi bem bacana a festa dela. Foi bem legal. Eu com a minha ex-mulher a gente conseguiu fazer. Eu lembro que eu tive que chegar um pouco mais cedo na festa quando não tinha ninguém pra gente ensaiar a dança da valsa, porque eu não sabia. Aí quando eu cheguei ela já tava preparada já com aquela roupa, aquele vestido que usa quando vai fazer 15 anos. Ela tava superlinda com o vestido, eu cheguei, chorei, fiquei emocionado, coisa que eu não fazia antigamente quando eu tinha essa emoção. Fiquei emocionado de ver daquele jeito, aí a gente ensaiou, depois a gente dançou a valsa durante a festa, eu chorei de novo. Foi bem legal. Foi inesquecível. Depois teve a discotequinha que eles fizeram entre os amigos da escola. Foi bem legal. Bem bacana. Eu tenho essa foto guardada, ela tem o álbum, ne? Tem o álbum, acho que tem a filmagem, tá com ela lá todo o álbum. Essa foto eu peguei comigo, é uma foto que a gente tá dançando e que foi registrada. Eu até levo comigo quando eu vou viajar eu tenho lá na van, que eu colo no para-brisa embaixo essa foto. Quando eu vou viajar eu levo ela comigo. Eu a trouxe, eu tenho ela lá. Eu tenho em casa também na estante. Foi um momento legal.
P/1 – Depois a gente vai ver, escanear.
R – Depois a gente pega lá. Eu tenho três fotos lá.
P/1 – E aí eu queria voltar um pouquinho pra sua vida profissional, saber como é que você chega no cargo que você exerce hoje. Você contou que trabalha desde os 14, passou por vários lugares, como é que você foi se encaminhando pra essa profissão que você exerce hoje?
R – Hoje?
P/1 – É. Como é que você chegou aqui, né?
R – Então, aqui é assim, eu trabalhei numa empresa que eu trabalhava na produção e aí teve uma oportunidade pra trabalhar na parte de segurança, parte de portaria pela própria empresa, que você na época dentro da empresa, fazia parte do setor de RH da empresa... Eu era da produção, ia fazer parte de RH, mas trabalhando em portaria em função diferente com salário melhor, com chance de promoção e tudo mais. Aí eu prestei um concurso interno dentro da empresa na época, foram mais de 300 pessoas pra duas vagas, mas eu prestei, depois eu falei: “Ah, vai ser difícil”. Resumindo, fui surpreendido. Fui chamado, fiz uma entrevista lá depois com a pessoa que tava entrevistando na época, aí consegui passar e fui trabalhar na portaria dessa empresa, de segurança na parte de portaria. Depois com o tempo eles terceirizaram a portaria, aí contrataram vigilante igual tem aqui terceirizado. E a gente na época não tinha treinamento pra ser vigilante, a gente era de portaria. Fazia os atendimentos, entrada e saída de nota fiscal, tal, tal, tal, tal. E a empresa queria vigilante, segurança armada na época, então teve toda essa troca. Então alguns continuaram por opção, aí a empresa pagou o treinamento de vigilante, o curso pra continuar; e quem não quisesse continuar, eles pagavam o curso também. Foi assim, porque a empresa falou assim: “Olha, a gente não vai deixar vocês na mão. Então faz o curso, vocês saem formados como vigilantes, uma profissão, vocês vão trabalhar em outra empresa. Quem quiser ficar, fica”. Eu lembro que na época eu não quis ficar, mas fiz o curso. Aí fui pra Campinas, fiz o curso de vigilante patrimonial e vigilante de carro forte. Fiz os dois cursos. Aí eu lembro depois daí eu fiquei pouco tempo parado, eu consegui entrar no Banco do Brasil como vigilante, segurança do banco, que é uma empresa terceirizada, né? Aí eu trabalhei acho que dois anos e pouco no Banco do Brasil como segurança. Nessa época eu tava estudando, eu fiz o curso de técnico de segurança de trabalho. Eu fiz esse curso, técnico de segurança de trabalho. Eu não exerço essa profissão hoje porque eu fiz o curso, mas não fiz pra pegar a... Você tem que fazer, na época tinha que fazer um estágio de tantas horas pra você pegar uma carteirinha pra ser registrado no Ministério do Trabalho pra poder exercer a função de técnico de segurança. Então eu só fiz o curso de técnico de segurança, mas eu não posso exercer a profissão. E na época eu tava estudando e eu fiquei sabendo que aqui na Nestlé, nessa unidade, tava precisando de um líder de segurança, um chefe de segurança, mas que tivesse o curso de técnico de segurança e o curso de vigilante. O curso de vigilante eu tinha e técnico de segurança eu tava fazendo. Falei: “Ah, eu vou tentar”. Mandei um currículo, chamaram-me pra entrevista na época. Eu fui contratado, a princípio pra ser líder da segurança, fui contratado como líder da segurança aqui, mas ainda na época o líder que tinha saído, voltou. Ele saiu, trabalhou algum tempo aqui, saiu aí ele voltou, aí o pessoal queria ele de volta como líder. Isso eu fiquei três meses só como líder de segurança, queriam ele de volta. Hoje ele trabalha aqui na Nestlé é amigaço meu, a gente é irmão. Ele voltou, daí a empresa falou pra mim, falou assim: “O cliente, que é a Nestlé, quer o Fulano que volte como chefe que tava antigamente, mas se você quiser continuar como vigilante aqui não tem problema nenhum, você continua. Mas aconteceu assim, o cliente quer” “Não. Eu continuo. Por mim não tem problema nenhum. Eu quero trabalhar independente de qualquer coisa eu continuo”. Aí eu fiquei. Fiquei aqui trabalhando e essa pessoa que era o chefe que trabalha hoje aqui, que é o Sérgio, foi meu chefe, trabalhei acho que dois anos e meio, dois anos e pouco e na época surgiu outra vaga aqui pra ser analista de risco. Que o analista de risco que faz a parte de vistoria nos caminhões aqui, a parte de checklist nos caminhões, que verifica o cadastro de motorista, que era um cargo melhor, um salário melhor e uma oportunidade melhor, por uma empresa terceirizada também, que é a empresa que eu trabalho hoje, que é a Mega Gerenciamento de Risco. E aí o Sérgio, que era o chefe de segurança, falou: “Edvaldo, surgiu a vaga. Você quer participar? Eu vou pegar quatro currículos de quatro vigilantes, eu vou pegar o seu também. Você quer participar? É uma boa pra você, segunda a sexta, oito horas e tal”. Falei: “Pô, legal”. Entreguei o currículo pra ele, aí fui selecionado. Fui selecionado pra essa vaga e fiquei de outubro de 2006 até julho de 2010 aqui dentro da Nestlé fazendo a parte de analista de risco, parte de vistoria nos caminhões, cadastro de motorista, esse tipo de trabalho. Foi quando a Nestlé fez esse projeto da van, do Safe Driving, direção segura, que era pra viajar depois... Você viu a van lá, né? Pra viajar o Brasil todo dando treinamento para os motoristas. Só motorista que faz parte da... Só motorista que puxa produto pra Nestlé, só motorista que trabalha pra Nestlé.
P/1 – Mas conta um pouco como é que é. A gente viu, mas assim, pra ficar registrado conta um pouco como é que é essa estrutura da van.
R – Então, essa estrutura é, assim, a van é itinerante, então ela não só fica fixa aqui como ela viaja o Brasil todo. Então hoje eu conheço o Brasil todo através da van. Então eu conheço vários estados. Onde tem Nestlé eu tô. Vou para o Estado da Bahia, vou pra Rio de Janeiro, vou pra Rio Grande do Sul, pra Minas, fui pra Goiânia. Então conheci o Brasil inteiro através desse projeto aí. E ali o motorista faz um treinamento, ele assiste um vídeo relacionado a direção segura, relacionado ao dia-a-dia dele. Aí a gente aborda assunto sobre a ergonomia, assunto sobre direção defensiva propriamente dita, sobre manutenção de veículo. Então tudo que envolve direção, motorista, a gente aborda ali. Então ele faz um treinamento online ali. Eu cadastro o motorista no sistema, e aí eu o coloco sentado dentro da van, ele coloca o fone de ouvido aí ele vai ouvir todo o treinamento, pra ver todo o treinamento. Aí tem as perguntas que ele respondeu, eu tou ali só pra instruí-lo, só pra dar explicação, dúvida que ele tiver em alguma pergunta. Muitos motoristas nunca mexeram com computador, é a primeira vez, motorista de idade, então eu tou pra instruí-lo, como é que mexe no mouse, como é que faz, isso, aquilo e tal. E no final do treinamento que ele assiste o vídeo todo, responde as perguntas, ele acertando 70% das perguntas daí eu emito um certificado na hora, entrego um certificado pra ele. Então ele vai receber um certificado referente aquele módulo que ele fez, aquele treinamento que ele fez. Hoje a gente tem quatro módulos, né? Que é o quarto ano. Tá indo pro quinto ano, esse ano não teve módulo novo, tá no quarto módulo tá dando uma reciclagem dos módulos anteriores.
P/1 – O que são esses módulos em termos de conteúdo, tema?
R – Então, cada módulo aborda um tema diferente. Então tem módulo que aborda a ergonomia, tem módulo que aborda alimentação, tem módulo que aborda manutenção do veículo, a direção defensiva, regras, normas da empresa, normas internas da empresa. Então cada módulo tem um assunto específico. Aí o motorista acertando 70% das perguntas ele ganha um certificado na hora que eu entrego pra ele o certificado ali. E aí a van tem, depois a gente tem o café que a gente tem na van, uma máquina de café que o motorista toma o café ali, eu dou um café pra ele, um cappuccino, tem uma máquina ali atrás, tem um frigobar, ele toma uma aguinha, um suco. Então ele fica ali, ele passa ali... Eu passo alguns vídeos pra eles também sobre acidente. Então os motoristas quando eles estão aguardando nota fiscal, estão aguardando carregamento, descarga, então ele tá ali comigo fazendo o treinamento. Então ele tá adquirindo o conhecimento e passando o tempo ali, tomando um café, batendo um papo. Tanto eu passando alguma coisa pra eles de conhecimento, mas eu garanto pra você que eu aprendo muito mais com eles do que eles comigo, porque o conhecimento deles é gigantesco. Eles conhecem muito a prática, né? Eles sabem muito na prática.
P/1 – Que tipo de coisa? Queria que você falasse que tipo de coisa você aprende com esse trabalho.
R – Por exemplo, a parte mecânica de um caminhão eu não conheço, a parte mecânica. Então muitas coisas eles passam pra mim, a parte mecânica, eu pergunto: “Aquele equipamento pra que serve? Como é que funciona aquilo ali e tal”. Então eles passam pra mim. Às vezes eu vou viajar, ver alguma unidade da Nestlé, é a primeira vez que eu tou indo viajar praquele lugar, eu não conheço a estrada, então eu chamo: “Você já foi pra tal lugar?” “Já” “Como é que eu faço?” “Você vai fazer isso, aquilo, tal. Você vai pegar tal rodovia, você vai entrar em tal lugar, vai virar pra tal lugar, é assim que funciona, tal”. Então assim, eles têm muito conhecimento na prática, então eles passam bastante coisa pra mim relacionado a isso aí, entendeu? Os lugares: “Olha, tem lugar que é perigoso pra você parar. Não para naquele posto na cidade tal que ali tem muito roubo, ali rola muita droga, prostituição, evita parar ali e tal”. Então algumas dicas que eles passam pra mim que de repente poderia eu estar passando pra eles, mas eles estão passando pra mim, mas isso vou agregando pra mim e vou passando pros outros motoristas que não têm conhecimento relacionado a esses assuntos assim, entendeu? Aprendendo coisas do dia-a-dia, coisas que eles vivem, coisas da convivência deles eles vão passando pra gente, que eles têm bastante conhecimento. Então na prática eles sabem muita coisa. Muitas vezes na teoria, você vê, tem motorista que tem 40, 50 anos de profissão nunca bateu um caminhão, nunca sofreu um acidente, nunca levou um ponto na carteira, que senta ali pra fazer o treinamento na teoria, ele não vai bem, ele tem dificuldade. Às vezes dificuldade pra ler, às vezes dificuldade pra mexer no mouse, às vezes dificuldade pra entender a pergunta por falta de treinamento de leitura. Ele lê, mas ele não consegue entender, ele tá lendo e tal, então ele não vai bem na teoria, mas na prática 50 anos de profissão nunca teve um acidente, nunca levou um ponto na carteira. Entendeu?
P/1 – Qual que é o perfil, Edvaldo, dos motoristas? Imagino que é muito diverso, né? Tem todo tipo de gente, mas de modo geral dá pra falar?
R – Dá. Motorista, pra ser motorista de caminhão você tem que gostar da profissão. Não é uma necessidade... É uma necessidade, mas é mais gosto, você tem que gostar. Tanto é que eu tou pegando gosto da coisa de viajar porque eu tenho... De repente amanhã ou depois eu não sei, eu posso entrar numa carreta dessa pra viajar, porque você se apaixona assim pela estrada, por você viajar. Que nem, eu monto na van ali, eu viajo sozinho, o meu chefe me liga, fala: “Você vai pra Feira de Santana amanhã, na Bahia”. Aí eu preparo toda a minha mala e vou sozinho daqui pra Feira de Santana viajando, conhecendo as estradas e tal. Sabe, é uma delícia. Muito bom. Você acaba gostando, vai ficando no sangue, adrenalina de você conhecer lugar diferente porque cada lugar... Você pode passar cem vezes no mesmo lugar, mas cem vezes que você passar você vai ver uma coisa diferente. Desculpa, dos motoristas você tinha me perguntado?
P/1 – Eu queria saber qual que é o perfil dos motoristas que você tem contato através do projeto.
R – Motorista tem assim, tem motorista que vem carregar aqui com a gente, que faz o treinamento, tem motorista que é formado em advogado, advocacia, mas ele gosta de viajar, então ele nem exerce profissão. Ele pode exercer, é formado. Então tem motorista nesse perfil. Tem motorista que é professor, mas que tá porque gosta, entendeu? Motorista que é ex-policial, mas não quis ser mais policial pra ser motorista e gosta da profissão. Então acho que esse perfil que você tá me perguntando.
P/1 – É. Faixa etária também.
R – Faixa etária? Aí vai de pessoas simples e humildes até pessoas formadas em curso superior com nível, por exemplo, advogado, né? Mas eu me surpreendo às vezes com eles, porque às vezes tem motorista de idade, de muita idade, que às vezes tem dificuldade pra ler e eu vejo lá fazendo o treinamento comigo, que às vezes eu leio junto com ele, eu acabo lendo pra ele: “Vamos ler junto?”. A gente lê juntos: “Você entendeu agora?” “Entendi” “Então qual que é a pergunta correta?”. Ele mostra: “É essa” “Então tá certo”. Eu fico pensando, mas como é que ele consegue chegar em algum destino se ele não consegue ler direito? Como é que ele vai ler aquela placa, né? Você entra em São Paulo na marginal é só placa pra você ir pra um lugar ou outro. Mas é o dia-a-dia que ele foi decorando e foi aprendendo. E aí eu convivo com motorista do Brasil todo, né? Tem muito motorista também que vem de outros países, países vizinhos. Aqui vem bastante motorista da Argentina, do Chile. Então a gente tem convivência com essas pessoas aí. Mas tem motorista do nordeste, motorista supersimples, super humilde, o jeito de falar, sabe? É um pessoal muito bacana, um pessoal muito carente. Motorista é muito carente, porque tá sempre sozinho fora de casa. Eu acabei aprendendo a gostar do dia-a-dia de estar com eles e hoje eles fazem parte da minha vida, eu tenho o maior respeito por eles, pela profissão deles, eu acho que, que nem eu falei, pra fazer o que eles fazem tem que gostar. Não é só pela necessidade, não. Tem que gostar até porque a gente falando financeiramente não é aquelas coisas, então a pessoa gosta mesmo. Você imagina ficar 30, 40 dias fora de casa sem ver a família pra você no final do mês não ter aquele salário que você imagina, é porque você gosta do que você faz, né?
P/1 – E dessas pessoas todas que você conheceu, e imagino que você já deve ter ouvido muitas histórias, teve alguém que tenha ficado mais marcante, tenha sido mais significativo? Uma pessoa, ou uma história.
R – Assim, a gente no dia-a-dia ali a gente escuta muita piada que eles contam e tal, mas deixa eu ver se consigo lembrar alguma história marcante de algum. Assim, história marcante não me lembro de nenhuma, não.
P/1 – Uma pessoa, de repente.
R – Eu lembro, assim, de muitos. Não é um, dois, três, quatro, cinco, não. São muitos motoristas que passaram comigo ali, fizeram treinamento comigo, que conviveram comigo ali, que tomaram café comigo ali, a gente conversou, bateu papo, deu risada, aí no outro dia chega informação que ele faleceu de acidente, bateu o caminhão e faleceu. Então são muitos motoristas que eu conheci que aconteceu esse tipo de tragédia, entendeu? Porque assim não dá, às vezes a gente não quer acreditar porque você tá com a pessoa ali tudo saudável, tal, tal, chega a informação: “Você ficou sabendo do Fulano?” “Não. O que aconteceu?” “Ah, bateu o caminhão, pegou fogo, morreu”. Então foram muitos casos que aconteceram. Eu acho que o que me marca mais não é nem a historia que eu não lembro agora, mas o que me marca mais são as amizades que eu tive e eu vou perdendo esses amigos com o tempo por causa de acidentes, estradas e muitos fatores contribuem pra acontecer isso, né? Porque as nossas estradas são umas das piores que tem no mundo. Então é isso que me marca mais, de ter perdido alguns amigos, alguns motoristas em acidade assim. Porque hoje eu tou com mais de 15 mil motoristas treinados na van, mais de 15 mil. Então você vê que é bastante gente, aí chega a notícia você fica meio baqueado: “Pô, que pena que aconteceu e tal”. Esses tempos atrás mesmo tinha um senhorzinho ali que chegava, ele tava toda semana aqui, sentava ali, cruzava a perna: “Dá um café pra mim?”. Eu até brincava com ele, falava: “Você só vai tomar o café se fizer o treinamento, fizer o outro” “Depois eu faço”. Tomava café, ficava conversando, jogando conversa fora. Aí: “Ficou sabendo do Fulano? Teve um problema de saúde e morreu”. Sabe, então você nem acredita que acontece. A gente sabe que vai morrer um dia, mas pô, você tá todo dia com a pessoa. Hoje o que me marca mais é isso daí de perder alguns motoristas amigos que eu tive aqui.
P/1 – E quando você fala mais de 15 mil treinados é que passaram por esse treinamento?
R – Passaram por esse treinamento. Passaram comigo. Isso a nível Brasil, né? Até porque aqui onde eu tou agora aqui dando treinamento vem motorista do Brasil todo e até de alguns países vizinhos. Mas tem alguns motoristas que carregam pra Nestlé que eles nunca vão vir aqui porque eles trabalham só naquela unidade que tem ali, que fazem a distribuição urbana, né? Então eles só distribuem dentro daquela cidade, então pra cá ele não vem, não faz viagem interestadual. Então ele só vai fazer o treinamento se eu for até ele. Aí ele consegue fazer o treinamento comigo lá.
P/1 – E dessa sua experiência de estrada, de viajar para esses diferentes lugares, tem alguma coisa, um episódio, uma história que você tenha vivido assim que tenha ficado na memória, que tenha sido marcante? Dessa sua experiência mesmo fora daqui. Seja viajando, seja parado dando treinamento em outro desses centros de distribuição.
R – Olha, marcante fora os lugares... O que é marcante é conhecer lugares diferentes pra mim, porque até então, até em julho, até julho de 2010, quatro anos atrás, eu só conhecia o Estado de São Paulo, algumas cidades do Estado de São Paulo. Campinas, ia pra Campinas, Limeira, tava aqui a região. Então de repente eu já tava montando na van pra ir pra Bahia, pra Feira de Santana, lugar que eu nunca tinha ido, então tudo era novidade. Tudo foi marcante. Até hoje tudo é marcante.
P/1 – Teve um lugar em especial?
R – Um lugar especial que eu gosto de ir é em Vila Velha no Espírito Santo, na Garoto, que lá a gente vai dar o treinamento também. É um lugar que eu gosto de ir porque ali é uma região, é uma ilha, né? Então tem só praia, é um lugar bonito, tal, a gente que mora no interior aqui vai, embora a gente esteja perto da praia, mais ou menos perto aqui em Santos, ali, tal, é difícil a gente ir por tempo, por dinheiro. Então durante essas viagens eu costumo unir o útil ao agradável, então eu aproveito. Pô, tou do lado da praia, vou à praia, como coisa diferente, vejo gente diferente. Por exemplo, uma coisa marcante, agora eu lembrei, quando eu passei pela primeira vez na ponte Rio-Niterói. Quando eu fui pra Vila Velha mesmo, pro Espírito Santo, que eu fui pelo Rio de Janeiro aí eu passei pela ponte Rio-Niterói. Quando eu caía na ponte ali eu não acreditava que eu tava passando ali, você olha só o mar ali e você tá em cima daquela ponte que não tem mais fim. Aquilo ali acho que o que marcou mais foi passar na ponte Rio-Niterói.
P/1 – Por quê?
R – Por causa, sei lá, por causa de tudo. Por causa do tamanho, né? Você vê coisa... Pô, é muito grande. Uma ponte, ela tá travessando o mar, pô, ela foi feita ali, concreto ali no mar, não sei como eles fazem aquilo. Pô, eu tou passando em cima daquela ponte que eu só via na televisão, via reportagem. A ponte faz, se você olhar, abaixar e olhar ela, assim no horizonte, você vê que ela balança a ponte. Eu vi pela TV, falei: “Puta merda, que legal que é isso, tal”. De repente eu tava passando em cima da ponte ali. Coisa que eu nunca vi também bem próximo foi navio, né? Que quando você entra na ponte você olha dos lados, você só vê navio. Navios gigantes, enormes. Em Vila Velha, Espírito Santo, navio bem próximo eu vi lá em alguns lugares que eu tive lá, que eu nunca tinha visto. Quando eu vejo essas coisas assim relacionadas a mar, navio, avião, eu fico doido. Quando eu fui pra São Paulo, pra capital, eu nunca tinha ido sozinho. Então eu comecei a ir pra capital na Nestlé lá no prédio, lá na sede lá que vocês devem conhecer, vou pegar os materiais que precisa, alguma coisa, trocar treinamento, vou pra lá. Eu lembro que a primeira vez que eu passei perto de Congonhas, que eu tava passando perto de Congonhas tem os aviões descendo ali, eles descem bem baixinho. Pra quem mora em São Paulo ali, aquilo no dia-a-dia é a coisa mais normal do mundo, mas a gente mora aqui no interior de São Paulo só vê aqueles aviõezinhos teco-teco. Quando eu via aqueles aviões passando, eu passando com o carro e passando do lado ali, ficava bobo em ver aquilo. Dava vontade de parar, encostar e ficar olhando. Depois que eu nunca andei de avião. São coisas simples que eu achei que ficou marcado. Mas a ponte Rio-Niterói e Congonhas, ver os aviões descendo ali, eu achei bem legal.
P/1 – Edvaldo, qual que você acha que é a importância de um projeto como esse, o projeto que você participa, tanto pra Nestlé, pra empresa, quanto pros caminhoneiros?
R – A importância é que agrega conhecimento pra todo mundo, né? Acho que a gente nunca sabe tudo, sempre aprende alguma coisinha. Eu vejo pelos motoristas. Por exemplo, pro motorista que sabe tudo sobre caminhão, tudo normas de rodovia, de direção defensiva, tal, mas ele nunca teve um contato com o computador, ele nunca teve um contato com notebook. Ele vai sentar ali a primeira vez comigo, eu vou explicar pra ele, ele vai mexer. Eu acho que isso agrega informação pra ele. Muitos saem e falam: “Eu vou comprar um pra mim. É legal. É facinho de mexer”. Que na verdade eles só mexem no mouse, né? Então ele não tem ideia que ali ele pode fazer uma planilha, um documento de Word, alguma coisa mais complexa que é bem mais difícil, precisa ter um treinamento. Ele acha que é só aquilo. Então eu acho que são informações que agregam pra eles. São coisas simples, mas que pra eles no dia-a-dia é difícil. Apesar de que hoje tá mudando muito, os motoristas mais jovens que vão chegando agora já estão entrando na época da informática. Tem uns motoristas que já andam com notebook no caminhão, andam com internet, conversam com Whatsapp com a família, pelo Skype, alguma coisa assim. Tá 20 dias fora de casa, mas ele tá vendo a esposa todo dia ali pelo Whatsapp, ele conversa pela internet e tal. Coisa que antigamente não existia, né? O cara ficava 30 dias fora de casa, pra fazer uma ligação ele tinha que comprar um cartão lá, gastar um dinheiro preto pra conseguir ligar. Hoje tá tudo mais fácil. Acho que são essas coisas que agrega pra eles.
P/1 – E em termos de segurança no trabalho você acha que ajuda esses treinamentos?
R – Com certeza. Porque, assim, o treinamento ele tá pegando informações novas que ele não conhece, mas muitas já são informações que ele sabe do dia-a-dia. Então ele tá se reciclando, né? Ele tá reciclando aquilo que ele já sabe, ele tá lembrando aquilo que ele já sabe e isso vai fixando na memória dele porque muitas vezes você acaba, por você achar que sabe tudo, você acaba relaxando. Então ele participando desses treinamentos com a gente aí ele tá relembrando o dia-a-dia, o que tem que fazer, as normas da empresa principalmente. Então acho que isso daí é que ajuda bastante eles. Porque assim, aprender a cair na estrada pra andar, eles sabem tudo, eles dominam. Dirigir um monstro desses, uma carreta dessas, não é qualquer um que dirige, entendeu? A pessoa além de gostar tem que ter muita habilidade, tem que ter muita atenção. Então eu acho que isso aí que agrega bastante coisa pra eles.
P/1 – E pra empresa você acha que é importante também esse treinamento com os motoristas?
R – Sim. Com certeza pra empresa. A gente tem uns resultados que são bem positivos. Eu lembro até o ano passado a gente tava com 99,9% dos motoristas que participaram do treinamento da gente, treinamento da van, do Safe Driving, não se envolveram em acidente. 99,9%, quer dizer, quase 100% dos motoristas que participaram do treinamento não se envolveram em acidente. Então pra empresa isso é muito importante. Além de ela estar ajudando, relembrando o conhecimento do motorista, ela também tem um resultado final bem positivo. Não só pra empresa, mas assim, pro motorista também, porque a nossa maior preocupação hoje é a vida do motorista, né? É a vida da pessoa que tá atrás do caminhão ali. Essa é a nossa maior preocupação. Esse é o nosso maior objetivo, passar essa informação pro motorista. Porque muitas vezes ele acha que a gente tá ali dando treinamento só por causa da carga. “Vocês estão preocupados com a carga que está em cima do caminhão, com o produto que tá aí e tal”. Mas não, muito pelo contrário. Muitos se enganam. Muito pelo contrário, nossa preocupação maior é justamente com a vida do motorista, porque a empresa preserva muito a vida da pessoa, integridade física da pessoa.
P/1 – Tá certo. Eu vou encaminhar agora, Edvaldo, pras essas três perguntas finais. Quero saber antes se tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado que você gostaria de deixar registrado. Qualquer coisa.
R – Não. Eu acho que a gente falou de tudo um pouco, né? A gente falou da minha filha, da época de adolescência, falou agora mais atual do trabalho que eu tô, falou da minha família, dos meus pais. Acho que tá legal. Tá tranquilo, né?
P/1 –Então eu vou fazer a primeira dessas três finais. A primeira é qual foi o maior desafio que você enfrentou até hoje na sua trajetória, na sua história de vida e como é que você fez pra superar.
R – Profissionalmente falando também, você fala?
P/1 – Pode ser no aspecto pessoal ou profissional. Como você quiser.
R – Sem dúvida o maior desafio foi esse projeto que eu tou da van, do Safe Driving, esse projeto itinerante que eu tou de viajar. Porque, que nem eu te falei, até julho de 2010 eu não conhecia lugar nenhum, né? Então eu me vi sentado dentro de uma van indo pra Feira de Santana, pra Bahia. Eu sabia que olhava pelo mapa, como é que eu tinha que fazer e tudo mais, mas isso foi um desafio porque sozinho a primeira vez, eu e Deus. Sentei, estudei o mapa, estudei as rodovias, vi os pontos que eu tinha que parar. Eu fiz um planejamento de viagem. O que eu passava para os motorista na época de analista aqui dentro fazendo vistoria dos caminhões, que era o planejamento de viagem, eu fiz pra mim esse planejamento, serviu pra mim. Então eu acho que esse foi o meu maior desafio. Eu falei: “Como é que eu vou chegar? Quanto tempo eu vou gastar daqui lá? Será que eu vou conseguir? Será que eu vou acertar o caminho?”. Eu acho que esse foi o meu desafio de viajar conhecendo o Brasil todo sem ter um treinamento específico, sem ter alguém... Porque geralmente quando você vai viajar, motorista de caminhão, você treina dois, três meses uma pessoa pra você conhecer o local. E o pessoal lá da Nestlé, meu chefe, o pessoal da Mega teve confiança em mim, falou: “Vai. Segue em frente”. Então eu acho que esse foi o maior desafio que eu tive assim. E eu consegui encarar, consegui superar, graças a Deus.
P/1 – Tá certo. E quais são os seus sonhos hoje
R – Meu sonho? Ganhar na mega sena (riso). Eu não tenho muito assim ganância por dinheiro, essas coisas, não. Eu vou ser sincero pra você, hoje eu sou feliz com o que eu faço, sabe? Eu gosto do que eu faço, mas assim, o meu sonho hoje eu tou até tentando, se Deus quiser eu acho que vai dar certo, eu tou tentando comprar um apartamento, que nem, eu moro com os meus pais, né? Uma casa na frente, uma casa no fundo, eu sou até que independente por ser uma casa no fundo. Mas o meu sonho hoje é comprar esse apartamento que eu tou querendo comprar e montar pra eu morar lá, ficar lá, sei lá, de repente com alguém futuramente ou sozinho. Acho que esse é o meu sonho. Eu não tenho muito mais o que pedir, não, pra sonhar, não. Graças a Deus tenho a minha família, tenho o meu pai e a minha mãe, tenho saúde, preciso de dinheiro, estou trabalhando. Eu acho que eu me sinto realizado. Acho que agora conseguindo um apartamento que eu quero, acho que daí estaria completo.
P/1 – E por fim como é que foi contar a sua história?
R – Foi legal. Eu nunca fiz isso, primeira vez. Eu nunca contei minha história pra ninguém. Apesar que a gente sempre tem muitas coisas pra contar que não pode, né?
P/1 – Pode.
R – Mas eu não quero contar. Mas eu achei legal. Foi bem bacana. O ______ 1h16’44’’ tinha comentado comigo desse projeto, perguntou se eu queria participar. No começo eu fiquei com medo, falei: “Pô, ______, eu não sei falar. Eu sou péssimo pra falar assim em frente de câmera, tal. Eu falo bem com os motoristas aqui. Aqui eu falo bem, a gente conversa numa boa” “Não, é supertranquilo, o pessoal é bacana, vai te entrevistar, vai te ajudar”. Sinceramente eu gostei. Achei legal. Bem bacana o projeto de vocês, o trabalho de vocês. Queria até aproveitar e dar parabéns pra vocês pela iniciativa aí. Bem legal.
P/1 – Obrigada. Foi ótimo. A gente que agradece na verdade e a gente encerra aqui.
FINAL DA ENTREVISTARecolher