Meu nome é Carmelita Krause Rosa, nasci em Joinville, Santa Catarina, em vinte e dois de dezembro 1971. Meu pai era eletricista e minha mãe trabalhava na fábrica de confecção de roupas e, agora, faz uns 30 anos que ela faz biscoitos caseiros.
Eu tinha estudado até o Ensino Médio, depois pa...Continuar leitura
Meu nome é Carmelita Krause Rosa, nasci em Joinville, Santa Catarina, em vinte e dois de dezembro 1971. Meu pai era eletricista e minha mãe trabalhava na fábrica de confecção de roupas e, agora, faz uns 30 anos que ela faz biscoitos caseiros.
Eu tinha estudado até o Ensino Médio, depois parei. Fiquei esse tempo com o [meu filho] Lucas. O Marcio tava muito bem no trabalho dele, tava tudo muito bem. Ele tinha empresa. Mas aí a gente foi à falência, e ficou desempregado. Assim, da noite pro dia, a gente ficou sem chão. Sem chão completamente! Ele tentou com turismo, mas a coisa não tava engatando, não tava funcionando. Daí, depois disso que eu pensei: “Vou ter que trabalhar, tenho que ajudar, tenho que fazer alguma coisa”.
Daí eu falei pra minha mãe: “Quer saber? Acho que eu vou começar a fazer biscoito”, só que ela não colocou muita fé em mim, não. Ela disse: “Não, fica aqui com a mãe, ajuda a mãe”, eu falei: “Não, não, não. Eu vou trabalhar esse final de ano aqui com a mãe, mas a partir de janeiro, eu vou começar a fazer sozinha”.
Acho que ela não botava muita fé que eu… Porque sempre ela era a protetora, eu ajudava, mas o puxar o negócio era ela. Era dela o negócio, eu ajudava nos acabamentos, mas meter a mão na massa, fazer a massa, nunca tinha feito. Ajudava ela a empacotar, pintar, a fazer as entregas, mas fazer mesmo? Então ela não botou muita fé: “Não vai dar certo esse negócio”. Aí eu peguei o último dinheiro que a gente tinha, que era fim de ano mesmo, fui lá e comprei o forno à vistinha, para não me endividar muito. E eu comecei na pior de todas as épocas, porque você trabalhar, começar a fazer biscoito em pleno verão, depois que todo mundo se encheu de chocolate, Natal. Foi a pior de todas as épocas para você querer começar esse tipo de negócio. E eu comecei em janeiro.
O forte era dezembro. Só que em dezembro, eu fiquei ajudando ela. “Mas eu vou começar em janeiro”, isso foi em 2004. Comprei o forno e comecei a fazer. Menina, eu não conseguia nem ligar o forno. E eu ligava e apagava o fósforo e fugia gás para tudo quanto era lado, eu falei: “Ai, meu Deus do céu”, aí desligava, tá! Liguei na minha tia, que também fazia biscoito: “Meu Deus, tia, eu não consigo ligar o forno! Não consigo ligar esse bicho!”, daí ela: “Dá umas batidinhas ali, porque tem uns caninhos embaixo, que de repente…”, mas era novo, “…de repente, alguma ferrugem, alguma coisa dentro e aí é por isso que não tá saindo direito”, aí fiz um monte de teste e consegui ligar o tal do bicho.
Pois é, fiz a massa [eu peguei a mesma fórmula que minha mãe fazia], tudo, aí começou a queimar, eu não conseguia acertar o ponto, queimava um biscoito atrás do outro. Falei: “Não, vamos parar com esse negócio”, liguei pra mãe: “Mãe, vem pra cá”, veio a mãe e o pai me ajudar: “Vamos te ajudar”. Só que cada forno e fogão, você conhece o seu, o outro já é diferente. Então, ela me ajudou a fazer a massa, foi pro forno. Meu Deus do céu, queimou tudo! A mãe falou: “Ele é diferente do meu forno, esse forno tá queimando tudo”, foram pra casa. Com o tempo, a persistência, fui fazendo, até que a gente acertou. Eu e o meu marido, ele é muito calmo, tranquilo, é melhor assador do que eu. Então eu fui fazendo a massa, ele me ajudou a passar na máquina, ele assava, assava muito bem, e a coisa engrenou.
Daí ele começou a sair, começou a vender. Depois, ele voltou a trabalhar, as coisas foram se encaixando e fui desenvolvendo. Ele que abriu a minha clientela. Ele foi, vendeu, com a clientela mais formada, era mais fácil. Aí continuei [com os Doces Sonhos Biscoitos Caseiros].
Porque querendo ou não, tem coisa que às vezes é para te motivar, e acaba te desmotivando, você se sente a menor de todas: “Poxa, eu nunca precisei trabalhar desse jeito, dessa forma”. Eu não tinha esse peito de sair pra vender, eu achava que era uma coisa inferior, das demais pessoas, que eu tava sendo inferior. E dentro do Consulado, eu vi que não era nada disso. Essa parte foi muito trabalhada comigo dentro do Consulado: “Não, você não é isso, o produto é bom”, então, aprendi muito ali com eles. Ensinando as meninas e vendo o quanto as pessoas precisavam também. Fui em algumas casas, porque algumas não iam lá, fazer o curso, então fui na casa delas, mostrar como elas podiam ali, na realidade delas, fazer alguma coisa para elas. Foi muito bom, pra mim foi maravilhoso essa parte do Consulado, foi muito bom mesmo!
Isso tudo foi agregando mais valor pra mim, principalmente no lado da motivação. Eu me senti melhor naquilo que eu tava fazendo. E depois, outra coisa dentro do Consulado, que somou bastante foi a parte da gente trabalhar de forma mais cooperativa entre as meninas. Porque na época, até hoje ainda, tem os espaços de vendas. Então, não é o meu espaço, é nosso espaço, é tudo junto! Não é meu produto, é o produto de todas juntas. Então, essa parte de trabalhar, de se acertar, de funcionamento de tudo isso somou muito.
A forma de se organizar, como teria que ser organizado o visual do local, a quantidade de mercadoria, para não ficar aquela disputa: “Tem que colocar mais o meu, não o teu”, organizar todo mundo igual; a parte financeira, você não tá mexendo só com o teu dinheiro, a responsabilidade é com todos que estão ali, a prestação de contas; receber essas mercadorias, o controle para receber; e depois, quando acaba a feira, o fechamento daquilo tudo, como fazer a prestação de contas com o pessoal. Então, muito legal.
Assim, o que marcou pra mim do Consulado, foi essa parte dele fazer eu me sentir mesmo mulher guerreira, forte. Não ter medo de enfrentar e não me sentir menosprezada. Isso foi o principal pra mim. Me sentir importante naquilo que eu tava fazendo. Saber que o que eu faço tem valor. Muitas coisas agregaram, mas isso pra mim, foi o principal, alguém que diga: “Você é empreendedora, pode meter as caras, é isso mesmo, tem valor o que você faz”.Recolher