Preferência pela dança afro

Museu da Pessoa – Conte Sua História Histórias de Esperança, 29 anos do Projeto Criança Esperança Depoimento de Keli Regina de Oliveira Entrevistada por Rosana Miziara São Paulo, 29/07/2014 HECEHV_005 Realização Museu da Pessoa Transcrito por Paula Junqueira P/1 ¬– Keli, como é seu no...Continuar leitura

Museu da Pessoa – Conte Sua História
Histórias de Esperança, 29 anos do Projeto Criança Esperança
Depoimento de Keli Regina de Oliveira
Entrevistada por Rosana Miziara
São Paulo, 29/07/2014
HECEHV_005
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Paula Junqueira

P/1 ¬– Keli, como é seu nome completo?

R – Meu nome completo é Keli Regina de Oliveira.

P/1 ¬– Kelly, você nasceu em qual data?

R – Eu nasci dia 18 de junho de 1998.

P/1 ¬– Aonde?

R – No Penteado.

P/1 ¬– Penteado? O que é que é?

R – No Hospital Penteado.

P/1 ¬– Mais é que bairro?

R – É Brasilândia, mesmo.

P/1 ¬– Aqui em São Paulo?

R – Freguesia do Ó, aqui em São Paulo.

P/1 ¬– Kelly, seus pais são de São Paulo?

R – São, os dois.

P/1 ¬– A sua mãe e seu pai?

R – Minha mãe e meu pai.

P/1 ¬– E os pais do seu pai, seus avós, você conhece eles?

R – Conheço, a minha avó mora aqui em São Paulo também, e meu avô também.

P/1 ¬– A mãe deles?

R – Isso.

P/1 ¬– Mais eles são de São Paulo?

R – São tudo de São Paulo.

P/1 ¬– E os pais da sua mãe?

R – Também são de São Paulo, só que a mãe da minha mãe é falecida e o pai da minha mãe mora no Paraná.

P/1 ¬– Todo mundo da sua família é de São Paulo? Você tem notícia de alguém que é de fora?

R – Não, todo mundo é de São Paulo, Catarina faz parte. Aqui da região, aqui perto, é dentro de São Paulo, eu tenho um tio que mora em Santa Catarina.

P/1 ¬– E me fala uma coisa, você conhece seus avós paternos? O que ele faz seu avô, pai do seu pai?

R – O pai do meu pai, ele não trabalha, ele tem problema nas pernas ele anda de cadeira de rodas, ele não tem metade das pernas, ele é aposentado.

P/1 ¬– Mas ele nasceu assim ou foi acidente?

R – Não, foi acidente. No caso eu não sei, porque a minha família é meio rígida não é de falar assim sabe muito de problema. Não gosta de falar, mais o problema eu não sei. O pai do meu pai também é aposentado, mora no Paraná, casado com outra mulher e não trabalha. E a mãe do meu pai também é aposentada, não trabalha, ela tem um problema, ela tinha um buraco assim na perna, sabe? Ela sofreu um acidente, mas acho que agora ela já está bem melhor, está fechando já.

P/1 ¬– E seu pai, você sabe alguma história dele de pequeno? Ele conta pra vocês de quando ele era criança?

R – Não sei muita coisa, não. Sei que quando a minha avó levava ele pra escola, quando ele era bem mais novo, ela deixava ele na porta da escola e voltava, quando ela voltava, ele ia lá pra um pé de manga e ficava no pé de manga chupando manga (risos). Eu falei assim: “Nossa, pai o que é isso?”, ele: “Ah filha, coisas que acontecem”. Mas muita coisa assim, sobre a vida dele, eu não sei falar muita coisa.

P/1 ¬– Você sabe se ele começou a trabalhar cedo?

R – Eu acho que ele começou a trabalhar desde os 14 anos de idade, bem novo.

P/1 ¬– O que ele fazia?

R – Ele mexia com essas máquinas grandes, sabe? Era empresa grande, ele parou de estudar, não terminou os estudos, não concluiu, mas ele, até que arrumou um serviço bom, só que como fechou a firma e foi pra longe, não deu pra ele ficar. Hoje em dia ele é segurança, ele trabalha dentro de um prédio e minha mãe é desempregada.

P/1 ¬– Mas ela trabalhava antes?

R – Minha mãe trabalhava, já trabalhou de doméstica. Agora, ela é só dona de casa. Mas ela terminou os estudos agora depois de mais velha e é isso.

P/1 ¬– E seu pai e sua mãe, você sabe como eles se conheceram? Como é que eles casaram?

R – Meu pai, ele era pagodeiro, faz muito tempo, não sei se você já ouviu falar no grupo “24 Horas”, parece, ele fazia parte desse grupo. Aí, eu acho que ele estava no pagode, minha mãe foi e acabou conhecendo ele e eles ficaram juntos.

P/1 ¬– E você nasceu logo que eles casaram?

R – Não, eu tenho cinco irmãos homens, sou a única menina, só que três é de um pai e três é do meu. Eu tenho irmão de 17 anos, e eu sou 16, eu sou um ano e um mês mais nova que ele, depois de um ano e um mês, minha mãe…

P/1 ¬– E vocês moram todos juntos?

R – No momento, estou morando com a minha tia, só que os meus pais sabem tudo, é porque no começo, eu comecei a cuidar do filho dela, do meu primo porque ela trabalhava, agora ela saiu e eu estou trabalhando, mas mesmo assim, eu continuei trabalhando, mas meus irmãos moram todos juntos, só o mais velho que mora com a mulher dele e com os filhos dele.

P/1 ¬– Mas então, vamos voltar, mas aí seu pai e sua mãe quando eles casaram, eles foram morar onde?

R – Meu pai e minha mãe eles se separaram, voltaram e eu tenho um irmão de sete anos. Minha mãe morava na Light Ball, não sei, acho que era Freguesia do Ó também, aí eles voltaram e a gente foi morar onde meu pai e minha mãe moram, só numa rua de baixo, ali na Estrada do Sabão mesmo, próximo ao Criança Esperança.

P/1 ¬– Como que era sua casa de infância, você lembra?

R – Olha, eu sou meio esquecida. Isso faz parte do ser humano, lembrar assim, me lembrar muito, eu não me lembro. Era lá na Light Ball assim, a gente ficou um bom tempo morando lá, meu pai namorava com a minha mãe nessa época e o meu irmão de 17 morava com o meu pai e eu morava com a minha mãe.

P/1 ¬– E quem mais morava nessa casa?

R – Eu, minha mãe e meus três irmãos que é só por parte de mãe, a gente morava na Light Ball, a casa era bonitinha, mas era de aluguel também, a gente não tem casa própria. E aí, meu pai se juntou com a minha mãe e eles vieram morar aqui na Estrada de Sabão, que no caso era a casa da minha avó, tinha a casa da minha avó e do lado tinha uma outra casa que era da minha avó também, só que no caso, ela vendeu e aí gente está morando de aluguel novamente.

P/1 ¬– E como que era assim na sua casa? Quem que era mais bravo, quem que exercia autoridade? Seu pai ou sua mãe?



R – Minha mãe. Meu pai, ele era mais tranquilo, se tinha que chamar a atenção, brigar, ele conversava, ele tirava o que a gente gostava. Agora, minha mãe já era mais de gritar, fazer escândalo: “Kelly…” não sei que lá, “E o Lucas…”, não sei que lá e brigava com o meu pai e meu pai pegava a Bíblia, que meus pais são evangélicos, aí meu pai pegava a Bíblia e começava a ler a Bíblia e deixava minha mãe gritando lá, mas a minha mãe é a mais... sabe? Gosta de dar escândalo, mas meu pai é tranquilo.

P/1 ¬– E quais eram suas brincadeiras de infância?

R – Ah, eu brincava de esconde-esconde na minha casa, e a minha mãe ficava doida, que minha mãe ia pra igreja e eu ficava brincando de esconde-esconde, de cobra-cega, cobra-cega na minha casa e aí chegava a gente ficava de boa, a gente ficava lá na rua, eu gostava de andar de bicicleta, tudo isso e eu sempre junto com esse meu irmão. Depois que meus pais voltaram a gente é muito grudado até hoje, a gente tem um amor muito grande um pelo outro, que é o de 17 anos. Ixi, a gente brincava de pega-pega, esconde-esconde, a gente fazia piquenique lá na rua, cada um pegava um pouquinho e ia ali no mercadinho, e comprava um doce pra gente comer, era bem legal.

P/1 ¬– Com quantos anos você entrou na escola?

R – Eu entrei, bom acho que com seis, sete anos, acho que com seis anos, eu estava na primeira série, e aí, sete no segundo, agora, estou com 16 e estou no segundo colegial e nunca repeti.

P/1 ¬– E a escola era perto da sua casa?

R –

A escola...bom..

P/1 ¬– A primeira escola que você entrou.

R – Eu entrei na creche quando eu morava na Light Ball, como a minha mãe trabalhava, nem sempre dava pra ela me buscar na escola, isso eu me lembro, e aí meus irmãos iam me buscar, eu ficava torcendo pra minha mãe chegar lá na escola e me pegar. Aí, às vezes, eu olhava assim e eram meus irmãos indo me buscar, da parte da minha mãe, só por parte de mãe. Quando eu fui morar aqui na Estrada do Sabão, acho que eu tinha oito anos, eu vim morar pra cá, eu estava na segunda série. Segunda série se é que eu me lembro assim. Na segunda série, eu vim estudar na escola Galdino, terminei, completei, porque lá era apenas até a quarta série e fui estudar no Morro Grande, que é onde eu estou até hoje, desde a quinta série.

P/1 ¬– E você ia a pé pra escola? Como é que você ia?

R – Eu sempre fui a pé pra escola, desde quando eu era mais nova, ia eu e meu irmão. No começo, minha mãe levava a gente, aí como meu irmão era um ano mais velho que eu, ele era da quarta e eu da terceira, aí a gente ia sozinho e ai voltava sozinho. No caso, quando eu desci pro Morro Grande, na Escola Clodomiro Carneiro, eu também sempre fui a pé, nunca fui de perua. Agora no caso, como eu estou morando em Pirituba, eu venho de perua, de perua, perua normal, de que paga condução e venho a pé, eu tenho que fazer ainda o cartão que paga meia do aluno, ainda não fiz, mas agora, eu vou de perua mesmo.

P/1 ¬– E como que era na sua casa, vocês tinham que ajudar, trabalhavam? Como que era a dinâmica da casa de vocês, quando você era pequena?

R – Meu pai sempre trabalhou, quando meu pai se separou da minha mãe, era só a minha mãe que trabalhava, meus irmãos, eles participavam do circo escola, que tem lá perto do Penteado, um circo escola que escola que tem lá, e só minha mãe trabalhava. Mas depois que meu pai voltou com a minha mãe, que eles se casaram e que tiveram meu irmão de sete anos hoje, só meu pai trabalhou, minha mãe tem problema na coluna, ela não tem condições, às vezes ela limpa uma casinha ali, aqui, mas ela não pode ficar pegando peso, porque ela tem problema na coluna. E ela, nossa reclama de dor na coluna, meu Deus do céu (risos)! Agora mesmo, só meu pai que está trabalhando, tem o meu irmão de 17 anos também está trabalhando agora, mais não gosta muito de trabalhar. Nem toda família é aquela coisa, é mais é isso.

P/1 ¬– E você, com quantos anos entrou no Criança Esperança?

R – Eu entrei com 14 anos.

P/1 ¬– Como que você ficou sabendo?

R – Eu ia com o meu irmão, esse irmão de 17, depois que o meu pai e a minha mãe voltou eu chorava muito, meu pai e minha mãe era separado por causa desse meu irmão, que eu sempre fui muito apegada com ele. E aí, ele ia pro Criança Esperança e eu ia junto, só que ele fazia aula de futebol com a professora Cris e ele parou e eu parei também. Depois de um tempo, eu voltei e fiquei sabendo que estava tendo aula de dança e foi eu e a minha amiga. Minha amiga hoje em dia, ela não mora mais aqui, mas eu continuei e eu vi que tinha aula de dança e eu gosto de dança e esses negócios eu gosto. Aí eu comecei a fazer aula de dança me apeguei e fiquei.

P/1 ¬– Que tipo de dança?

R – Ah eu gosto de, por exemplo, afro é meio estranho, mas você vai se acostumando. Eu gosto de samba rock, eu acho legal, assim, não gosto de funk, dançar funk, eu acho que deforma muito a mulher, sabe? Mas um samba rock, um pagode, sambar, eu gosto, isso eu gosto.

P/1 ¬– Mais lá no Criança Esperança você fazia que aula?

R – Eu fazia aula de dança afro, a gente dançava afro, até combinava um pouco com a minha pessoa, porque eu sou morena eu tinha o cabelo mais cacheadinho. O professor sempre falava: “Kelly, você vai se dar muito bem se você continuar”, eu ia começar a fazer com ele novamente ali, perto da matriz que ele está fazendo, eu não sei se ele ainda está, mas há pouco tempo atrás, ele estava, só que como eu arrumei um serviço, o horário acabou não batendo com o outro e não deu.

P/1 ¬– E quantas vezes por semana você ia a essa aula?

R – Era de terça e quinta, se eu me lembro.

P/1 ¬– Era perto da sua casa? Como é que você ia?

R – Eu ia a pé, era pertinho de casa, bem pertinho, acho que não tinha nem um metro de distância.

P/1 ¬– O que você mais gostava lá?

R – Adorava fazer aula de dança, era um lugar legal, sabe? Tinham as crianças, tinha o parque, um lugar onde jogava basquete, onde joga vôlei, era legal, mas eu adorava fazer a aula de dança. Assim que eu fiquei sabendo que tinha aula de dança, eu falei: “Tem que pagar?” “Não”, falei assim” “Então, vamos lá”, aí fui, peguei o papel, levei pros meus pais pra preencher e peguei, levei e comecei fazer. Mas foi muito bom, sabe, conheci dança nova, porque dança afro, antes eu nunca tinha dançado, não sabia nem como que era, conheci gente nova, sai, participei dos passeios que tinha, foi muito legal.

P/1 ¬– Que passeios?

R – Já teve um que era tipo um sítio, ficar o dia inteiro, já fui pro teatro, muito legal o teatro que eu fui, a gente já foi num negócio de dança mesmo, que era um negócio bem grandão, não me lembro o nome, eram várias apresentação, a gente junto, bem legal.

P/1 ¬– O que você sabia do Criança Esperança? Que lugar que é esse, que projeto é esse?

R – Aí você me pegou, eu acho que o Criança Esperança é uma coisa boa pra jovem, pra criança, que não tem muita oportunidade de ter as coisas, de ter mais condições financeiras, porque é gratuito, se tem uma coisa que paga é pouca, é uma coisa bem legal, não é um lugar perigoso, a criança pode ficar lá à vontade, tem aula, quer dizer, é como se fosse Educação Física, tem futebol, tem vôlei, tem dança, tem tudo isso, acho muito legal.

P/1 ¬– Você sabe quem financia, quem paga o Criança Esperança?

R – Não, eu não sei, eu nunca procurei saber, eu não sei, mesmo.

P/1 ¬– O que mudou na sua vida, desde que você fez essas aulas no Criança Esperança? Você sente que mudou alguma coisa na sua vida?

R – Não, assim sabe, eu fiquei mais feliz, porque eu sempre gostei de dançar e aí quando apareceu essa oportunidade, eu fiquei mais feliz. Eu chegava da aula de dança, chegava em casa começava a dançar lá, minha mãe ficava olhando dando risada e eu dançando lá, treinando pra apresentação, era muito legal, eu gostava muito. Às vezes, faz até um pouco de falta, quando você acostuma com uma coisa e para, às vezes, faz falta, mas era muito bom.

P/1 ¬– E por que você parou?

R – Porque começou a entrar em construção lá e eu comecei a trabalhar e não deu, o horário não batia, eu trabalhava na gráfica e não dava pra mim.

P/1 ¬– Com quantos anos você começou a trabalhar?

R – Com 14 anos.

P/1 ¬– E foi nessa época, que você estava indo no Criança Esperança?

R – Nessa época, eu trabalhei em uma gráfica, eu trabalhei em uma loja de roupa.

P/1 ¬– Na gráfica, foi seu primeiro emprego?

R – Não, meu primeiro emprego foi nessa loja, eu tinha 14 anos.

P/1 ¬– Era loja do quê?

R – Era loja de roupa, é roupa surf, eu arrumava as prateleiras, passava um paninho no chão, fazia venda de roupa, tudo isso.

P/1 ¬– E aí, depois?

R – Eu saí dessa loja que era até próxima da minha casa. Aí, eu conheci essa gráfica, que a minha cunhada, ela trabalhava lá, aí perguntei se tava pegando e ela falou que tava, eu falei: “Está pegando, então eu vou lá”. Já que eu não estou fazendo nada, meu estudo não atrapalhando, não tem problema algum, eu fui lá e comecei a trabalhar lá. Aí apareceu a minha tia pedindo pra eu cuidar do Gustavo, porque não tinha ninguém pra ficar com ele, só que era pouco horário, eles iam me pagar e hoje em dia, eu trabalho também e acabou aparecendo a oportunidade em uma pizzaria, eu sou atendente, atendo cliente e atendo o telefone pra anotar pedido, e antes eu trabalhava só final de semana nessa pizzaria, e agora, eu comecei a trabalhar a semana toda assim sabe? Trabalhar direto.

P/1 ¬– À noite?

R – É, só que é à noite, eu estudo no período da manhã, e à noite, eu trabalho.

P/1 ¬– E tem alguma coisa, um fato marcante que aconteceu já na pizzaria com você?

R – Não.

P/1 ¬– Alguma história, algum causo?

R – Não. Eu estava esperando muito pra ser chamada pra trabalhar direto, porque o menino que me indicou tanto, ele é da minha sala hoje, só que como ele começou o fazer o curso, ele teve que sair, que no caso ele é o sobrinho do dono. E ele saiu e eu estava querendo muito ser chamada, porque querendo ou não, era um dinheiro a mais, então já ajuda. Aí ele me chamou, ele falou até que ia até me registrar, mas ele falou que, no caso, não dava no momento, mas até no final desse ano, ele poderia me registrar. Assim, é bom, sendo nova para ser registrada, acho que já uma coisa boa, não que eu queira ficar na pizzaria pra sempre. Eu quero uma coisa melhor pra mim. Mas é tranquilo lá, eu gosto, me dei bem, sabe? Muito legal.

P/1 ¬– E no Criança Esperança, tem alguma coisa, algum dia que te marcou, alguma coisa, alguma aula, algum fato?

R – Ah, não. Já participei, quando teve festa junina, foi muito legal, mas assim, alguma coisa que tenha me marcado mesmo, não tem, algo especifico.

P/1 ¬– Um fato, alguma coisa que tenha acontecido?

R – Não, não.

P/1 ¬– E você tem alguma coisa assim, que você tem um sonho: quando eu crescer eu quero ser, ou alguma profissão?

R – Olha, quando eu crescer (risos) é porque eu ainda cresço, né? Ah quando eu crescer, eu só quero ter uma vida boa, ter minha casa, quero ter meu serviço, sabe?

P/1 ¬– Mas você pensa em fazer faculdade, ter uma profissão?

R – Penso, a minha faculdade eu ainda não sei, porque, às vezes, eu posso decidir cedo, agora, e quando chegar pra mim fazer, eu mudo de faculdade. Eu tenho que fazer o que eu gostar e o que der ao meu alcance, mas assim, preferência mesmo, eu não tenho. Antes, eu falava que eu gostaria de ser cantora, quando eu era menor. Eu adorava cantar, porque eu era da mesma igreja que meu pai, e eu cantava lá e o povo da igreja falava: “Você tem uma voz tão bonita”, quando eu sai da igreja, porque eu congrego, mas não na mesma igreja que meu pai. O povo diz: “Você é tão bonita, você tem uma voz tão bonita, Deus te deu esse dom, volta pra igreja”, mas eu gostava de cantar muito. Agora, sou mais tranquila, não penso muito nisso, mas eu gostava de cantar. E antes, eu falava que eu queria ser modelo também, queria ser modelo, mas nunca foi aquela coisa de eu ter oportunidade e não tenho condições, então não tem como, né? Vamos esperar mais pra frente, quem sabe um dia. É isso.

P/1 ¬– Quais são seus maiores sonhos?

R – Meu maior sonho? Concluir meus estudos, fazer uma boa faculdade, se Deus quiser, ter uma empresa minha, ou não, ou trabalhar em um serviço bom, poder ter minha casa e poder mostrar para as pessoas, que eu posso conquistar, o não é o que as pessoas falam, porque é assim, é até de família mesmo, tem gente que olha e fala que você não conquista, que você não vai conseguir nada, mas é isso. Eu procuro sempre…

P/1 – Tem gente que fala isso pra você?

R – Sempre ser diferente… ou as pessoas querem ser mais que você, sabe? Querendo dizer que você não é nada, tipo: “Você acha que vai fazer isso?”, por exemplo, os meus irmãos não terminaram os estudos, eu sou a única dos filhos, sou a única, mesmo.

P/1 ¬– Por que eles não terminaram?

R – Sem vergonhice, esse meu irmão de 17 parou, porque ele falou que queria trabalhar ele não queria estudar, no caso, se eu fosse mãe ou pai no lugar dos meus pais, eu não deixaria, porque o estudo é tudo na nossa vida hoje em dia. Apesar que pra você ter um serviço bom, não é apenas tendo um estudo, uma faculdade também porque sem faculdade você não consegue arrumar uma coisa tão boa e a gente tem que procurar sempre crescer, mas pararam assim, porque quiseram mesmo, eu sou a única que estou no segundo, a maioria dos meus irmãos pararam na sétima série, e eu tenho esse de sete anos, que está na segunda série, vamos ver se ele vai até terminar, tomara que vá.

P/1 ¬– O que você acha de contar a sua história aqui, no Museu da Pessoa?

R – Ah é legal, às vezes, é bom se abrir para as pessoas, as pessoas conhecer assim, fica meio inseguro de falar, mas a gente conversa, a gente se entende.

P/1 ¬– Eu queria agradecer seu depoimento, obrigada.

R – Obrigada, obrigada eu.


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