Museu da Pessoa

Uma roda para Nossa Senhora do Rosário

autoria: Museu da Pessoa personagem: Joana Rodrigues de Aguilar

Projeto Quinta do Sumidouro na memória e vida dos seus moradores

RODA

Realização Museu da Pessoa | InterCement | Instituto Camargo Corrêa

Transcrito por Francisco Guilherme Ribeiro Ruiz







P/1 – A oração?



R/2 – No início, né?



P/1 – Está bom.



R/2 – Que inclusive essa oração foi a minha, dona Maura, minha professora, diretora e, que nos ensinou essa oração quando era bem pequenininha lá na fila da escola. Eu acho que é muito bom e olha para você ver como ela é bonita, está dentro do que a gente vai falar.



P/1 – Está bom.



R/2 – Oração do amanhecer. Senhor, no silêncio deste dia em que amanhece, venho pedir a paz, a sabedoria, a força. Quero olhar hoje o mundo com os olhos cheios de amor, ser paciente, compreensiva, manso e prudente. Ver além das aparências teus filhos como tu mesmo os vês. E ainda, não ver se não o bem em cada um. Fecha meus ouvidos a toda calúnia, guarde minha língua de toda maldade, que só de bênçãos se enche meu espírito. Que eu seja tão bondoso e alegre, que todos quando se chegarem de mim, sinta tua presença. Reveste-me Senhor de tua beleza e que no decurso deste dia, eu te revele a todos. Amém.



P/1 – Amém, muito obrigado. Mais uma coisinha que eu vou pedir, toda vez que, agora nós vamos passar com o nome de todo mundo, mas toda vez que vocês forem responder a pergunta, vocês falem de novo o nome, está bom. Porque depois nós vamos extrair o som dessa narração, separar da imagem e tudo mais e aí o que ficou registrado no som vai ser transcrito, então vai ser escrito. Então para a pessoa saber quem está falando, que vai transcrever, precisa do nome de vocês, está bom.



R/3 – Não precisa falar o nome todo assim?



P/1 – Não, não, só o primeiro nome. Agora fala o nome completo nessa primeira pergunta e depois fala só o primeiro nome, está bom? Então quem vai começar a falar qual o nome completo?



R/1 – Maura Martins da Conceição.



P/1 – Obrigada.



R/2 – Maria Helena Teixeira.



R/3 – Euzir Lauro Eduardo de Bastos.



R/4 – Edna Maria da Silva Santos.



R/5 – Joaquim Lemes Sobrinho.



P/1 – Quando e onde nasceram?



R/1 – Fidalgo, eu nasci aqui mesmo.



P/1 – E o ano?



R/1 – No ano de 30.



P/1 – E a data do?



R/1 – 14 de maio.



P/1 – 14 de maio de 1930?



R/1 – Isto.



R/2 – 17 de abril de 1944, sou de Fidalgo.



P/1 – Nós esquecemos de dizer o nome.



R/2 – Maria Helena Teixeira.



R/3 – É, Lauro Bastos, 13 de julho de 1957.



P/1 – Nasceu aonde?



R/3 – Fidalgo, Pedro Leopoldo.



R/4 – Edna, nasci em 1970, aqui na Quinta do Sumidouro.



R/5 – Joaquim Lemes Sobrinho, nascido aqui mesmo.



P/1 – Aqui mesmo aonde?



R/5 – Na Quinta, aqui na Quinta.



P/1 – Na Quinta. Que dia?



R/5 – 23 de setembro de 1930.



P/1 – Eu queria que vocês começassem a falar, fala o nome e responde, como era o bairro onde vocês moravam na infância?



R/5 – Quem vai começar?



P/1 – Quem quer começar?



R/2 – Deixa eu começar. Nosso bairro.



P/1 – Maria Helena?



R/2 – Maria Helena Teixeira, ah, sim. O bairro, Fidalgo, não era bairro, era uma vila e era muito bonito, mas as ruas eram muito fechadas, eram de cercas, não conheciam muros, tinha muito cabrito, (risos), muita criação.



P/1 – Criação do que?



R/2 – Criação, vaca, boi, porcos.



R/3 – Cavalos.



R/2 – E cavalos transitavam. Então, mas era muito divertido.



P/1 – E as casas, como eram?



R/2 – As casas eram a pique, feito de adubos, pintado ainda com cal, não existia ainda as tintas e eram simplesmente muito simples as casas, muito simples mesmo. Tipo de nosso lugar, Fidalgo.



P/1 – Dona Maura, sonho.



R/1 – Bom, no bairro que eu morava, onde eu nasci.



P/1 – Um minutinho só dona Maura.



PAUSA



P/1 – Dona Maura.



R/1 – Bom, eu morava em uma casa de quatro cômodos e, no início e havia apenas outra casa à direita e uma casa em frente. E a estrada também era estrada de chão, de terra e a gente vivia naquela casa, o quintal muito grande e nós tínhamos uma família de, éramos 12 filhos. Minha mãe chamava Geni, meu pai João Militão e a gente vivia tranquilamente, brincava muito e como a família era muito grande, eu tenho irmão que tocava violão, então a gente cantava, toda tarde era aquela coisa boa de encontro. Assim, os filhos todos brincando e brincava de roda, de pegador e sempre que aparecia um colega, era uma festa, para todos nós. E a gente vivia assim com muita simplicidade e apesar de tudo a gente era muito feliz. O meu pai tinha uma casinha, que aqui antigamente os comércios eram chamados venda, então meu pai tinha uma venda e nessa venda vendia de tudo, desde as bebidas, porque isso é desde o princípio, então vendia de tudo nessa venda. E as pessoas e, aqui Fidalgo, lá em Fidalgo era poucas famílias, as famílias maiores eram Martins e Eduardo. Então geralmente, um falava assim, “É que Fidalgo, ele não pode falar, não pode abrir a boca, porque todo mundo é parente”, porque depois a gente. E Fidalgo continuou por muitos anos, muitos anos mesmo, assim, devagarinho e aí aos poucos foi desenvolvendo.



P/1 – Então vamos parar aqui que depois essa é outra pergunta.



R/1 – Está bom.



P/1 – Está bom?



R/1 – Está bom, bem.



P/1 – Desculpa. Agora o senhor Euzir.



R/3 – Lauro Bastos, tá.



P/1 – Ah, Lauro.



R/3 – Isso. Por exemplo, já sou mais, quer dizer que na época as casas eram modernas. Primeiro, quando eu nasci já era uma casa mais antiga e aí com poucos anos minha casa já era mais moderna, mudamos, já era uma construção com o tijolo, tal, já era pintada. Mas continuava a rua de chão, quase não tinha energia, televisão na época, então onde que a gente continuaria brincando nas ruas, mesmo as noites, saía para o quartos, para os matos, aquelas brincadeiras de época, de crianças mesmo.



R/4 – Eu, Edna. Eu lembro que eu nasci na casa de Adolfo, como Maria Helena falou, então era estrada, ainda é estrada de chão até hoje, não tinha luz elétrica, a gente, eu lembro que a minha mãe, era lamparina que a gente usava e televisão jamais, não tinha luz. E eu lembro muito a época de São João que a gente brincava de roda, era uma novidade, a gente, custava esperar o ano passar para a gente brincar de roda, tanto na casa da dona Isaura. Mas a gente era muito feliz, era muito legal a época, muito.



R/5 – Eu Joaquim Lemes Sobrinho, nascido ali ao lado de onde eu existo. Só atravessei a rua e passei para o outro lado, que existe até hoje, desde quando nasci.



P/1 – Mas como que era na época da infância do senhor? Aqui, esse?



R – Ah, era tudo difícil demais, caminho tudo ruim, a rua era só barro, que atolava até no joelho e de dia aí, se chovia muito pouco, muito animal, que é o que mais existia. E não tinha mais, gente por Deus, saía da porta para fora, atolava até no joelho, no tempo das águas. Depois que veio vindo melhorando, aparecendo as novidades, umas melhoriazinhas que hoje está no ponto que está, já asfaltado.



P/1 – Está bom. A senhora, dona Joana, a senhora quer dizer por favor o nome completo da senhora?



R/6 – Meu nome é Joana Rodrigues de Aguilar.



P/1 – De?



R/6 – Aguilar.



P/1 – Aguilar. Aonde e quando a senhora nasceu?



R/6 – Onde eu nasci mesmo eu não sei, meu pai foi muito velho, já tinha neto e tudo, casou, não soube explicar. Eu fiquei lá, fui crescendo, a vida difícil, eu gostava de pescar, fazia peneira, então pescaria eu gostava de colher. Criei assim, depois, a casinha pequena, de pobre, eu me casei, mudei para aqui e aqui eu estou.



P/1 – Mas a senhora nasceu aqui em Fidalgo?



R/6 – Eu acho que sim, nunca que eles me falaram. Era do outro lado do rio, eu só atravessei o rio e morei na casinha aqui, mais longe do rio.



P/1 – E o dia e o ano que a senhora nasceu?



R/6 – Ai eu esqueço, (risos). Eu vou fazer 91 anos, aí faz a conta aí.



P/1 – Está bom, obrigada.



R/6 – Nada.



P/1 – Quem sabe a origem do, porque é que aqui chama Fidalgo, esse bairro aqui? Fidalgo e, quem é de Quinta também podia falar depois. Dona Maura porque é que chama Fidalgo? O que é que a senhora sabe da história?



R/1 – Fidalgo? É em homenagem aos fidalgos que passaram por aqui, Fernão Dias, Borba Gato. Então foi uma homenagem que foi feita, então, isso aqui, lá em Fidalgo nós não chamávamos Fidalgo, chamava Sumidouro. E todo mundo gostava desse nome e até hoje a gente não sabe, nós sabemos que foi uma homenagem aos bandeirantes. Mas foi uma coisa assim, trocou o nome, quando a gente ficou sabendo já era Fidalgo e ficando Quinta do Sumidouro, mas Sumidouro era Fidalgo.



P/1 – Mas quem mudou?



R/1 – Ah, não sei, deve ser lá em Pedro Leopoldo, as autoridades lá resolveram fazer isto. E eu não, quando mudou, eu não fiquei sabendo por que nos meus primeiros anos de aula era Sumidouro, depois passou a Fidalgo e pronto e ninguém comentava.



R/2 – Maria Helena. Olha, segundo o que eu já ouvindo falando, também sobre Fidalgo, que era Sumidouro, falaram também porque os portugueses marcharam muito por aqui, inclusive eu sou neta de português. Sabe, o meu avô chamava Casimiro Pereira da Conceição e ele era tramontino de Lisboa e como vinham essas bandeirantes por aqui, então filho de algo, sem saber a descendência, então segundo o que eu ouvi falar e minha vó contava, era fidalgo. E porque é que depois, nessas vindas dos bandeirantes por aqui e na Quinta do Sumidouro, segundo a lagoa tinha época que desaguava no Rio das Velhas e sumia a água, então a lagoa secava, então Sumidouro, por sumir as águas que vinham das chuvas ecoando no Rio das Velhas. Então isso é a tradição que a gente sempre ouve, filho de algo. Então como vovô, eu não conheci vovô Casimiro, conheci minha vó e tudo, morei com ela uns tempos, então ela contava certas histórias para a gente e ficava na reminiscência da gente. Então isso que eu.



P/1 – Sabe.



R/2 – Sabe, mais ou menos.



PAUSA



R/3 – Lauro Bastos. Pela história que eu conheço, Fidalgo foi origem de um órgão fiscalizador do governo que chamava Dom Rodrigo de Castelo Branco, o Fidalgo. Que ele veio a mando da coroa portuguesa para fiscalizar o ouro aqui na nossa região. Mas como naquela época era meio arrogante, então ele encontrou aqui, o Borba Gato que era o genro do Fernão Dias, mas só que chega em um jeito assim muito bruto, o pessoal de antigamente, que estava a mandado da coroa, eles tinham que mandar em tudo. Então queria requisitar tudo o que o Borba Gato existia na época, aí ele não ia aceitar isso, o que é que aconteceu, então os caras, quando o Borba Gato, em atrito com ele, mata. Então Fidalgo Dom Rodrigo de Castelo Branco e, foi morto aqui na nossa região, então aonde que veio, acho pelo o que eu conheço o nome de Fidalgo, aí em homenagem a ele. E em relação ao nosso Fidalgo de hoje, foi um desmembramento, que esse Fidalgo que a gente fala está no munícipio de Lagoa Santa, a gente falava assim: “Porvelato de Fidalgo, freguesia de Lagoa Santa e no município de Sabará com o marco do Rio das Velhas”. Mas depois isso, foi desmembrado, que a nossa região aqui ficou Fidalgo e hoje ainda em Lagoa Santa existe um local chamado Fidalgo, então acho que em homenagem a esse alto pesquisador da coroa.



P/1 – Senhor Joaquim? O senhor sabe da história aqui do lugar? Porque é que chama Fidalgo? Porque é que chama Quinta do Sumidouro?



R/5 – Olha, veja bem, de informação, minha informação é o seguinte, é tomou o nome de Quinta de Sumidouro perante o Fernão Dias que morou ali, foi dono daquela casa lá. Então por aí que apareceu o nome de Quinta, que toda vida foi considerada Quinta do Sumidouro, que existe até hoje esse nome. E está continuando sendo.



P/1 – Dona Joana?



R/6 – Ai, eu não sei por quê. Que quando eu vim meu pai era muito velho, logo ele faleceu, eu não tinha oito anos ainda e ele não contava, a gente quase não saía e minha mãe não saía de casa, não conhecia nem a Quinta aqui. Depois que eu fui crescendo, vim conhecer que a Quinta do Sumidouro, mas sempre chamando Quinta do Sumidouro. Eu não sei qual a razão, que ali, aquele casarão ali era de, que eles falaram que morou o Fernão Dias, mas não me lembro. Não lembro, é do meu tempo que eu também sou bem velha, mas meu pai e minha mãe não explicava nada, eram todos os dois analfabetos. Depois eu fui, tinha uma escolazinha ali muito boa, a professora ótima, ela dava, eu entrei na escola, aprendi um pouco, não fui fazer, estudar mais porque meus pais não tinham condição. Quando eu cresci mais eu casei, mudei para aqui, morava na frente do pai daquele. Depois mudei para a, da na rua, como que chama aquela rua?



R/4 – Miralapim.



R/6 – Miralapim. E assim fiquei conhecendo Miralapim, o pessoal aqui são todos amigos, a gente faz coisa direto. Casei, meu marido morreu, estou levando, vou levando assim.



P/1 – É, na época da infância e da juventude de vocês, quais eram os lugares que vocês mais frequentavam? Assim, mais iam, ou sozinhos, ou com os amigos, ou com a família? Dona Maura?



R/1 – O lugar que a gente frequentava mesmo era a igreja. O mais a gente ficava em casa, porque os pais, eles achavam que a gente tinha que ficar era em casa, que a gente não podia sair. Então a gente ia a missa com minha mãe e voltava e ficava em casa e, também quando, por exemplo, dia de São João, reunia todo mundo para fazer a fogueira e a gente aí brincava de roda, aí era aquela farra de criança. E também o, deixa eu ver, além da fogueira e, de vez em quando nas festas de casamento, a gente ia. Ia, dançava um pouquinho, mas nem isso, era pouco, aí a gente voltava e não tinha assim, a gente não tinha esse negócio de passear não, mais era em casa mesmo. Eu acho que.



P/1 – E os dois era essa mesma?



R/1 – Hum?



P/1 – A igreja era essa já?



R/1 – Não, a nossa igreja, nós tínhamos uma igrejinha lá em Fidalgo.



P/1 – Ah.



R/1 – Era uma igrejinha mesmo, depois de muitos anos é que foi construída a nova e aí a igrejinha foi, construiu uma quase dentro da outra, que ela era tão pequenininha, então desmanchou depois que fez essa igreja maior. E a gente passeava também no mês de maio, era mês de Nossa Senhora, então a gente ia, toda a noite a gente ia a igreja, rezava o terço, passeava, tinha tal de footing, que a gente passeava para lá e para cá e pronto.



P/1 – E onde era o footing?



R/1 – É lá na rua da igreja mesmo. Então tinha uma rua assim bem plana, então os rapazes ficavam de um lado, as moças de outro e as moças ficavam passeando e os rapazes ficavam de lado observando. Então era mais ou menos isso. E lá em casa também a gente reunia, assim, as pessoas porque a primeira televisão daqui de Fidalgo, nós compramos um ano de chegar a energia, só da notícia, “Ai, então nós vamos comprar uma televisão”. Meu pai comprou uma televisão por 500, como que fala? Eu nem mais com, 500 mil réis e ficou um ano na caixa, só depois de um ano é que chegou a primeira fase, depois teve a segunda e a terceira fase. E aí, por toda noite lá em casa parecia uma sala de cinema mesmo, porque era uma novidade. Todas as pessoas, dava a tarde, todo mundo lá e eu lembro até da novela que, a primeira que nós assistimos foi O Sheik de Agadir, depois Direito de Nascer. E lá em casa todo mundo sentava no chão porque tinha um banco, então sentava no chão e todo mundo assistindo as novelas.



P/1 – E os vizinhos iam também?



R/1 – Iam, os vizinhos, iam todos. Até hoje muita dona fala assim, “Nossa dona Maura, tanta vezes que em tantas noites que a gente ia para lá, para assistir televisão, que a gente não tinha” e aí todo mundo, era uma novidade, para todo mundo. E depois a gente tomava cafezinho, era assim muito divertido. E no tempo das fogueiras também que a gente encontrava, mamãe fazia muito biscoito, muito bolo, então depois da reza fazia o levantamento da bandeira e todo mundo ia comer, bolo, biscoito e, eles falavam broa, “Ah, eu quero comer broa”, naquela época, então, broa de fubá. Então era muito bom, era muito bom, muita simplicidade.



P/1 – Obrigada.



R/2 – Maria Helena. Oh, eu me lembro muito bem, assim, a gente sempre ia as rezas e tinham um jazz que tocava na porta da igreja, sabe, a gente ficava ouvindo aquele jazz, que era o pai dele, sabe, de Laurinho, que tocava esse jazz. Então a gente ficava lá na igreja, após a reza tinham leilões que a gente ficava ouvindo e complementando os footings que a gente tinha, quantas vezes, eu bem pequenininha, menorzinha, sabe, nos footings juntava os rapazes de um lado e as moças de outro, então as companheiras que estava, “O senhor não quer namorar para mim?”. Aí eu ia, sabe e chamava, eu falei assim: “Qual daquelas que eu vou procurar? Qual é que eu vou namorar ali?”, ela falou assim: “A sua namorada”, pequena, aí a gente terminava. E também outra coisa também que eu me lembro muito, a gente saía para visitar famílias, sabe, eu, meu pai, que eu era filha de criação, que eu perdi minha mãe com dois anos, eu tinha dois anos. Aí a gente ia visitar famílias, as casas e, meu pai gostava muito da minha mãe de criação, visitar famílias e colocava uma mesa dessa aqui, aí de nós se pelo menos olhasse pelos biscoitos, pelos bolos que estavam na mesa.



P/1 – Não podia?



R/2 – Não podia, de jeito nenhum, que se olhasse, eles falavam: “Então você estava olhando”. E também para a gente sentar ao café, seria com permissão deles.



P/1 – Deles quem?



R/2 – Meu pai e minha mãe. Sabe, para a gente aceitar o café, que era uma exigência muito grande. E outra coisa também que eu lembro muito bem, não tinha luz, aqui na época não tinha luz, só na casa, no sobrado que chamava, que hoje é do Ibama, na casa dos meus avós, na casa dos meus tios, então a gente ia toda tarde lá, tomar leite com farinha de moinho torrada.



P/1 – Farinha de que?



R/2 – De moinho, que tinha um moinho lá, eles fabricavam o fubá, o fubá mimoso, então a gente comia. Esse leite, torrava o fubá e a gente tomava o leite com farinha de moinho. E não tinha luz e a luz que era gerava lá era com água de cubo de moinho, era um tipo de uma comporta, que seguia até o gerador, esse gerador caía na turbina e dava uma luz lá para o lugar. E tinha o rádio, então a gente ia ouvir rádio, então tinha A Voz do Brasil, nós não queríamos ouvir notícia não, a gente queria ouvir eram os cantos e tudo. Mas eu não lembro assim muito, lembro assim dos cantores antigos, eu sei que minha vó gostava de valsa, minha mãe gostava de valsa e, começavam a dançar. E aí nesse metade, então a gente comia os biscoitos de polvilho, queijo. Interessante também, que eu achava muito interessante, eles tinham muitos porcos e tinha uma panelada de inhame, que eles cozinhavam o inhame para dar aos porcos e levavam para a gente o inhame, sabe, a gente comia o inhame, mas era uma delícia. E depois que e, outra coisa também que eu achava muito interessante, que a luz ia ficando pouquinha, pouquinha, lá vai a gente tirar os ciscos da turbina para gerar nova luz. E a gente fazia a roda, brincava de pegador e lá tinham córregos que passavam para gerar a água, a gente trepava, altas horas da noite a gente trepava nas goiabeiras e eles vinham e balançavam, a gente caía dentro do córrego. Ah, mas era muito divertido, viu, uma infância bem boa.



P/1 – Obrigada.



R/2 – De nada.



R/3 – Lauro Bastos. Minha infância, quer dizer, que na época ainda tinha muito gado, gado de leite, meu pai mexia com isso. E as brincadeiras eram igual eu falei com vocês, que não tinha energia ainda na época, a gente saía para o meio dos matos brincando, caçando, fazendo arapuca.



P/1 – Caçando o que?



R/3 – Fazendo arapuca, caçando passarinhos.



P/1 – Passarinhos.



R/3 – E ajudava o meu pai um pouco também a mexer com as vacas de leite. E a gente foi desenvolvendo, a gente começou por exemplo no futebol, na época ainda o campo era de terra, não existia gramado, não exista nada, aí ele foi desenvolvendo o futebol. Uma coisa que eu lembro muito interessante são as festas de julho, de Nossa Senhora da Conceição, que é a única época que a gente tinha um terno de roupa nova, tá, a gente calçava lá um sapato chamado verlon, (risos), não é Helena? Aqueles de borracha mesmo, você entendeu e um terno de roupa.



P/1 – Como é que chamava o sapato?



R/3 – Verlon.



P/1 – Verlon?



R/3 – Isso, de borracha. Então a gente tinha aquele terno de roupa só aquela vez no ano para a gente ir para as festas de julho.



P/1 – Como é que era essa roupa?



R/3 – Ah, era uma calça assim, parecendo de seda, aquele trem grosso, na época julho era muito quente, a gente ficava até sem jeito, a gente com o sapato ali suando dentro do pé da gente, escorregando, cheio de poeira. Hoje a gente pode até rir daquilo, mas na época a gente estava todo alegre, entusiasmado, uma roupa nova, um sapato novo, entendeu.



P/1 – A calça era comprida ou curta?



R/3 – Era comprida, na época era, pelo menos comigo foi. Nessa época era a única época que a gente tinha uma roupa nova. Então a gente ia na festa todo alegre, tal e, hoje a gente pensa, ali a gente ri da gente mesmo, de pensar nisso.



P/1 – E aí tinha o que, uma camisa?



R/3 – Tinha uma camisa. É uma calça, uma camisa e um sapato, mas mesmo ano, só para ir na festa. E as vezes é demais, é cheio, Nossa Senhora da Conceição, Virgem Maria. E depois deu sequência no futebol.



P/1 – E as meninas, como é que eram as roupas das meninas?



R/3 – Hã.



P/1 – Como é que era?



R/3 – Olha, era roupa muito simples, entendeu, sempre aquele vestidinho assim, uma saia, uma sainha, mas comprida lógico, assim para baixo do joelho ou se chegasse no joelho, era coisa, eu acho impossível na época também, que os pais também eu acho que não deixavam. Então ficava aquela coisa assim, mas na época a gente já conversava mais, assim, com as meninas, a gente já tinha mais, interagia mais com as meninas, com as moças. Então a gente tinha maior, essa facilidade. Uma coisa que eu não esqueço também, por ser mais jovem, que eu já tinha o Clube da Amanda, então a gente fazia uma hora dançante, mas na época o que é que acontecia, a gente só conversar, dançar e conversar, não tinha nem refrigerante, não tinha bebida alcóolica, não tinha nada. Então isso me deixa uma recordação muito boa também da minha juventude, aqui na região.



P/1 – Mas onde é que eram esses bailes? Eram bailes, não é?



R/3 – É, da banda de música que ele tem.



P/1 – Eu sei, mas aonde que aconteciam esses bailes?



R/3 – É aqui, oh, era uma vitrola, daqueles discos grandes, chegava lá, ligava, começava dançar, bater papo. E ali a gente ficava muito tempo, bastante tempo.



P/1 – Mas onde que ficava esse lugar? Era um galpão, era uma casa?



R/3 – Não, era a sede da banda.



P/1 – Ah, a sede da banda.



R/3 – Sede da banda. Que é um local que a gente tinha na época para fazer essas coisas.



P/1 – E quem participava da banda?



R/3 – Da banda na época? Oh, aí já não era meu pai mais, não, foi bem antes do meu pai, seria meu tio, eu acho que João Eduardo na época. Mas seria isso, então que liberava ali para a gente poder fazer. Entendeu, esses bailes lá, baile não, a gente fala assim uma hora dançante, não seria praticamente um baile, uma área de lazer, um tempo de lazer ali entre a gente.



P/1 – E as meninas e os meninos iam sozinhos nesse baile?



R/3 – Aí já estavam começando a ter essa liberdade. Mas igual eu estou te falando, não existia, não existia nada de que, assim, impedia os pais também de não deixar. Nem refrigerante, não existia na época.



R/5 – Joaquim Lemes Sobrinho. Na minha infância, a lembrança que eu tinha é mais de um bar que paizinho fazia, na casa de Fernão Dias, todo sábado, ele não falhava mesmo. Então e, era a noite inteira, quando o sol apontava fechava as portas, janelas, ficava lá dentro até dez, 11 horas do dia. E tirando disso eu não fui, não tive mais dado aquele tipo de coisa pelo seguinte meu pai negociante, não dava muita trela para pelo, então botava no serviço que desde dez anos que a gente ficou dentro daquele botecozinho assim. E eu continuei até há pouco tempo, até ficar velho e aposentei. E não tive mais nada com que aproveitar da vida, mas muito satisfeito porque pelo menos eu podia trabalhar, aprendi o dever das pessoas e ser feliz com isso.



P/1 – Dona Joana, aonde a senhora ia quando era jovem ou criança?



R/6 – Ah, quando não ia em parte alguma porque meu pai morreu, oito anos. Mesmo antes a gente quase não saía, a diversão que tinha era pescaria, mamãe tricô, crochê, esses tempos era assim que havia, era muito caseira. E ficava e não gostava que a gente viesse nem aqui na Quinta, “Ah, mas vocês não vão subir lá na Quinta não. Fazer o que?”. Depois eu cresci mais um pouquinho, comecei a vim na igreja, louvar os anjos, rezar com os anjos, esse período eu crescendo assim, até me casar. Mas aí morei aqui também, não era muito de passear também, que lá a gente não podia. A minha casa é logo embaixo do Periquito, você já ouviu falar?



P/1 – Não.



R/6 – É no Periquito, mais perto do Rio das Velhas.



P/1 – Mais perto de onde?



R/6 – Mais perto do Rio das Velhas.



P/1 – Ah.



R/6 – Assim foi passando o tempo, a gente ficava em casa, trabalhava em casa mesmo. Plantar horta e fazer, aprender fazer alguma coisa assim. Não podia sair não, mamãe não deixava, “Não, vocês ficam em casa, aprende em casa. É melhor para vocês aprenderem em casa do que na rua”. Assim nós ficamos até crescer, não indo quase em baile, festa não ia, não tinha uma roupa que servia, de comparecer, calçados. E assim que foi, melhorou quando eu cresci mais, que eu passei para aqui. Vinha a festa na igreja, é muito bom, ___00:36:09___, eu não eu não tive mais o prazer, de vir para igreja, rezar, estar com os outros, o catecismo. Foi assim que, acabar os discos, chegar a essa idade terrível, porque 90 anos não é brincadeira.



P/1 – Tem algum acontecimento que teve aqui na cidade, ou Pedro Leopoldo, ou no lugar onde vocês moravam, que marcou muito vocês? Alguma transformação, alguma política, alguma coisa que impactou muito no lugar, que vocês lembrem? Dona Maura?



R/1 – Eu lembro da criação do posto médico, que foi dia 12 de agosto de 1971, então só aí que a gente começou a ter um médico, uma vez por semana ou as vezes até menos, de 15 em 15 dias. Isso aí eu achei que foi bom e, também a.



P/1 – Mas antes onde, quem é que cuidava da saúde do lugar?



R/1 – Tinha um prefeito.



P/1 – Não tinha médico?



R/1 – Não.



P/1 – Nem vinha de outro lugar?



R/1 – Não, médico que vinha porque Pedro Leopoldo tinha uns médicos bons então vinha de lá.



P/1 – Ah, tá.



R/1 – E no início os médicos, quem tinha condição, quando adoecia uma pessoa, chamava um médico. Então o médico vinha de Pedro Leopoldo, a não ser assim, era a maior dificuldade, que adoecia uma pessoa e no início, Pedro Leopoldo, as pessoas iam só a pé. E depois, a pé, a cavalo, de carrocinha, então tinha um senhor que era leiteiro, ele tinha uma carrocinha, então muitas vezes a gente ia nessa carrocinha para Pedro Leopoldo e até para, no início muita gente ia até para ir ao médico, entendeu.



P/1 – Ahã.



R/1 – E também uma coisa que marcou foi quando foi inaugurado aqui o posto da, deixe-me ver, quando foi inaugurada as centrais elétricas aqui em Fidalgo. Então foi uma festa muito grande, nessa época já era Cessé, o ex, que era o prefeito, então ele veio também e nesta ocasião papai foi homenageado. Então ficou Centrais Elétricas João Militão Martins. Então isso aí eu achei.



P/1 – Que ano que foi isso?



R/1 – Foi, quando inaugurou, deixe-me ver esse, isso aí eu não estou bem, não estou lembrando bem a época não, mas eu acho que foi depois que foi inaugurado o posto médico. E, deixe-me ver, tem outra coisa também que marcou, as centrais elétricas, ah, e quando começaram o asfalto, fazer o asfalto aqui em Fidalgo, que foi uma grande novidade para nós, porque a estrada, todos de chão. Então primeiro foi asfaltado de Fidalgo até Pedro Leopoldo, aí já estava melhor, a estrada foi alargada e ficou assim, deu mais condições as pessoas. E no início tinha, por exemplo, caminhão, tinha, o meu irmão tinha um Chevrolet, eles falavam Chevrolet Brasil e, ele levava para o mercado toda semana ele levava os mascates, aqueles que plantavam ou então compravam de outras pessoas e levavam para o mercado em Belo Horizonte. Então uma coisa que foi melhorando, aí veio a primeira jardineira, era jardineira, então e, nessa jardineira levava de tudo, pessoas, levava, outros levavam até pequi dentro do ônibus, então nós ficávamos, “Nó, que cheiro horrível. Que cheiro horrível”. Mas as donas levavam, vendiam lá em Pedro Leopoldo, vendiam jabuticabas e até galinha eles punham naquelas gaiolas e punham em cima e iam embora para Pedro Leopoldo. Então eu acho que isso é uma época assim que a gente começou a sentir o desenvolvimento. E aí e nessa época de 60 também, nós tivemos o telefone, o telefone de mesa, quer dizer, tinha uma mesa no centro onde ficava essa mesa telefônica. Todo mundo que queria ligar para o lugar, primeiro pedia a mesa para fazer a ligação. Então aí nós tivemos telefone, telefone em Pedro.



P/1 – E essa mesa ficava aonde?



R/1 – A mesa ficava na casa de um senhor chamado Alberto João. Então ficava lá e a filha dele que tomava conta.



P/1 – Era a telefonista?



R/1 – Era a telefonista. E um dia eu achei até muito engraçado, eu pedi uma ligação e a pessoa fazia a ligação e naturalmente só a gente podia falar. Então esse dia eu pedi ligação, daí um pouquinho eu fiquei ouvindo os galos lá cantar, sabe, galo cantando, ouvi gente, cachorro latindo, era tudo assim mais estranho. Então eu percebi assim, gente acho que não é sou eu que estava falando aqui e se está ouvindo, porque a gente ouvia, sabe, essa vez que eu liguei eu senti isso. Então falei: “Nossa, quer dizer que a gente conversa e pode ser que tenha alguém também ouvindo”, então era muito assim, mas todo mundo gostava, era um telefone pretinho, eles falavam pretinho. E quando a gente tirava o telefone do gancho, primeiro a mesa recebia, então perguntava o que, ligava para a gente. Foi uma coisa assim, foi uma novidade muito grande o telefone, que eram poucas casas que tinham o telefone. O prefeito deu a primeira parte, Cessé deu a metade e as pessoas pagavam a outra metade, mas acho que isso foi bom. E a escola, a escola melhorou demais porque, quando eu cheguei aqui em 52, eu formei em 51, em Conceição do Mato Dentro, até isso era difícil, porque existia o Colégio São Joaquim, em Conceição do Mato Dentro e o da Piedade em Belo Horizonte, eram os dois. E a gente e, os pais valorizavam, queriam mais os homens, os homens que deveriam estudar, mulher não precisava tanto estudar. Então eu lembro que quando eu fui para o colégio, que eu estudei interna, com freiras, eu falava, o meu pai perguntou um por um, “Vocês querem estudar?”, quer dizer, perguntou aos homens primeiro. Então eu falei: “Não pai, ninguém vai, eu vou”, então ele falou: “Então você vai, porque eles não querem”. Quer dizer, a preferência era do homem, então aí eu ia a cavalo, de Fidalgo até Quinta, lá a gente tomava um ônibus que passava de manhã e chegava em Conceição do Mato Dentro, lá chamava Conceição do Serro, nessa época, a gente ia, pegava o ônibus e era o dia todo para chegar em Conceição, porque a estrada muito ruim. E a gente passava lá de fevereiro a junho, julho a gente ia 15 dias, então a gente ficava no colégio quatro meses sem vir em casa e só vinha nas férias de julho, 15 dias e em dezembro, que a gente tinha as férias. Então, mas era bom demais, com toda dificuldade, todo sacrifício, eu acho que valeu a pena. Então quando eu cheguei aqui em 52, eu dei aula seis meses e fui convidada para dirigir a escola, aí eu fiquei desde 52 até aposentar. E eu tenho 20 anos que eu aposentei, então, mas quando eu cheguei, a escola tinha três salas e as professoras, uma que foi minha professora na terceira série, a dona Eloína, tinha a dona Delmira e dona Iracema, eram as três. E a escola frequentou em, funcionou, assim, quando minha mãe, que nasceu em 1900, ela tinha cinco anos, então tinha uma sala grande lá na casa dos pais dela, então a aula era lá. Então ela disse que ficava olhando pela greta da porta, sabe, olhando o professor dar aula. E nessa época, que não foi a minha tinha um professor, o professor Elói, dona Coleta, só gente de fora, sabe, então ela ficava olhando porque não podia, era só de sete anos em diante. Agora, depois funcionou em outro lugar, funcionou em três lugares a escola, porque primeiro foi escolas isoladas, depois escolas combinadas. Agora quando, em 52, que eu vim e peguei a direção da escola, eram escolas combinadas.



P/1 – O que era escola combinada?



R/1 – Escolas combinadas eram só assim, porque era só primeiro, segundo, terceiro, não tinha mais não, nem quarta série não tinha. Então se chama escolas combinadas e depois na época do Juscelino, que foi governador de Minas, Juscelino Kubitschek, ele transformou a nossa escola combinada em escolas reunidas. Então aí eu continuei na coordenação, depois passou Escola Estadual Romero Carvalho. E aí a gente já, quando eu saí da escola, que eu aposentei, eu consegui a quarta série para Fidalgo, depois o José Bonifácio que era secretário da Educação, ele veio aqui em Fidalgo e com muita assim garra, porque Agenor, o meu irmão era vereador, então trouxe o José Bonifácio aqui e mostrou a necessidade aí ele autorizou a extensão de série, aí funcionou a quinta série. No outro ano veio a autorização para sexta, depois sétima e depois oitava. Então quando eu saí eu deixei a pré-escola e eles falam jardim, jardim de infância, certo. E depois graças a Deus deixei a escola maior, com cinco salas, laboratório, biblioteca, quadra. Então eu tive um prazer de ver tudo isso.



P/1 – Tudo isso crescer?



R/1 – Tudo isto.



P/1 – Obrigada.



R/2 – Maria Helena. Eu posso dar um testemunho sobre um médico, eu fui acolhida por uma doença chamada crupe, entupia a garganta, a gente ficava sem fala. E não tinha médico naquela época, então meu pai tinha um cavalo e eu começava a não ter mais o ar, faltava o ar, então meu pai pegou o cavalo e foi para Pedro Leopoldo a cavalo. Então, aí chegando lá trouxe doutor Cristiano, aí pai veio de carro com ele e doutor Cristiano então me medicou, então eu sei que eu tomei vacina aqui, fui isolada por quatro meses e fui morta também.



P/1 – Como assim?



R/2 – Morta, porque logo que teve a notícia que eu estava ruim, tinha acometido a doença crupe, então começou a chegar pessoas na minha casa e a casa encheu, aí falou assim, “Uai, disse que a Helena morreu”, aí ele falou assim: “Não, ela está muito mal”. Porque não podia ser, eu fui isolada, “Ela está muito mal, mas não morreu não. Pode que ela venha a falecer, mas ainda não. Então vocês voltem para casa e rezem por ela”. Isso eu tinha na idade de uns sete anos, então assim foram, sabe, aí depois para trazer um medicamento meu pai teve o diagnóstico do que é que eu estava sentindo, então veio essas vacinas então. Depois pai voltou novamente com o doutor Cristiano para trazer o diagnóstico para eu tomar o resto da vacina. E o cavalo ficava lá em um lugar preso, eu tenho testemunha disso, que eu fui acometida sobre isso, mas graças a Deus saí do crupe. E quanto a luz também, em poucas casas que tinha eletricidade, quando foi colocado na minha casa, gente, que diferença. Aí a gente tinha telha de aranha nos telhados, começaram a aparecer as teias de aranha por causa da iluminação, porque era luz de querosene, então aí que a gente começou a limpar mais e tudo. E quanto ao telefone também, como dona Maura estava lá, na mesma coisa, era por pegas, eram sete telefones, o meu era o número sete. E a gente não tinha o dinheiro para comprar o telefone, que não tinha, então o que é que o meu pai fez, tinha um tio que era muito rico, mas ele não gostava de emprestar o dinheiro, que era o dono do outro lado, não gostava de emprestar o dinheiro não. Eu fui lá, ele pegou e não me emprestou não, aí, “Não, não minha filha você vai comprar o telefone sim, eu vou matar um porco aqui e aí nós vamos vender o porco para você dar a entrada”, que Cessé cobriu com a primeira parcela e a gente ia com a segunda parcela, aí eu adquiri o telefone. E tenho ele até hoje, tenho até hoje ele lá na minha casa e ele serve de museu. Isso quanto a luz, quanto a doença, quanto ao telefone.



P/1 – Tem mais um marco de diferente, que ela não falou que a senhora lembra?



R/2 – Que dona Maura falou?



P/1 – Tem algo diferente?



R/2 – Não, não.



P/1 – Não?



R/2 – Não. E o asfalto também, o asfalto também. A jardineira também, conheci muito e, também uma coisa também que eu quero ressaltar, eu falou do, para não demorar, meu tio, o José Pereira da Conceição, ele era dentista. Ele estudou no Colégio Mineiro e tinha como amigos Juscelino Kubistchek, Tancredo Neve e, foi vice-prefeito, com Renato, ele foi vereador por muitos mandatos, ajudou muito também na escola e aqui em Fidalgo. Ele ajudou muito, muitas pessoas ele, assim, abriu as estradas, sabe, alargamento, quanto a asfalto também e fez bastante benefício para nossa comunidade.



P/1 – Obrigada.



R/3 – Lauro Bastos. Uma coisa marcante que aconteceu, tem uma triste e tenho outra que fala em relação a asfalto. Que a gente não tinha condições de ficar pagando um ônibus para a gente estudar em Pedro Leopoldo, então a gente morava, os irmãos moravam em uma casa lá e meus pais continuaram aqui em Fidalgo. Então uma das coisas tristes foi a separação deles, que eu era muito novo ainda, com 11 anos, estudava no Colégio Moderno, aí chegou meu tio lá, aquela bicicleta preta, que é meio antiga e me tirou da sala e falou assim: “Tua mãe está te chamando”. A hora que cheguei na casa de minha tia, aí que ela falou comigo, que ela tinha ido embora de casa, aí teve uma tristeza muito grande, chorei durante três dias, querendo voltar para a minha casa, ela não deixava, querendo que eu ficasse com ela, tá e foi um fato que me marcou muito na minha vida. E o outro em relação ao asfalto, que antes do asfalto, a gente tinha um carro, o fusquinha, então sempre a gente socorria pessoas doentes para levar para Pedro Leopoldo, mas certo dia, eu fui levar uma senhora grávida e, ela estava na hora de ganhar a criança, inclusive foi uma parteira junto. E a estrada de terra e era um fusquinha, acho que nunca na minha vida, cada hora que passava em um buraquinho na estrada de terra ela gritava: “Ai, ai, ai, está nascendo”. Aí que eu acelerava mais, passava em outro buraco, “Ai, ai, ai, está nascendo. Chegou a hora”, entendeu. E quando chegou lá na maternidade de Pedro Leopoldo, assim que encostou, estava ela gritando e a parteira fazendo uns gestos lá para ela fazer, que coloca ela mais no solo, daí a três minutos o médico fala assim: “Pode falar com o marido dela que já nasceu, que é uma menina”. Daí também me marcou muito minha vida que e, depois quando veio o asfalto eu lembrava, “Gente, não passo aquele aperto mais. Hoje é o asfalto, hoje a viagem é tranquila, quer dizer que não vai ter esse problema mais”. Isso aí eu achei uma coisa marcante. E outro também foi o que, medo, por exemplo, os pais eram muito rigorosos, tá, e na época o meu pai tratava das vacas e durante esse tempo colocava aqui na Lagoa da Vargem, que é o parque hoje. Daí colocou a ração no cocho lá, encheu e falou assim comigo: “Eu vou lá, vou trocar essas vacas, vou atrasar um pouco, você não prende não”. Primeira coisa que eu fiz, aí chegou lá e pá, prendi tudo, então elas comeram a ração toda lá. De tanto medo que eu fiquei, eu escondi debaixo da cama, desmaiei, aí o pessoal ficou doido me procurando, caçando, “Laurinho, cadê você, onde você está? Onde você foi? Cadê você Laurinho?”, onde que eu estava, debaixo da cama desmaiado, aí é que eles me acharam. Achei isso bacana, também é na minha história, não é aqui.



P/1 – Obrigada senhor Lauro. Senhor Joaquim?



R/5 – Olha, a verdade é que de tanto lá Fidalgo como aqui, a vida era toda difícil, tudo muito difícil. Mas no entanto Deus toda vida deu recurso, nós acabamos, que aqui era pior que lá ainda, você não querer saber o que era isso aqui. Na minha infância, no tempo do meu pai, pelejando com ele, mas Deus ajudou que nós conseguimos alguma coisa. Essa igrejinha, que se vê, chegou uma época que quase caiu, aí não tinha quem zelasse, não tinha quem dissesse nada e, meu pai por ser católico, “Eu vou assumir isso”, assumiu. Assumiu a igreja e ficou pelejando aí, sem recurso nenhum, mas sempre dando retorno a coisa, então, 35 anos. Deus injetou, a casa não caiu não. E quando ele cansou muito, teve alguma coisa que incomodasse, ele falou: “Vou largar” e, procurou quem quisesse, mas ninguém quis. Como é que ficaria? Deixar ela cair, eu logo me lembrei dele, eu falei: “Meu pai que não quis deixar cair, só se eu pegar também para ver se Deus ajuda que não caia”. Então eu peguei, então quando ficou, ele saiu e eu entrei. Entrei e fiquei, mantive 25 anos, nas minhas possibilidades. E foi na época que eu dei muita sorte com meus amigos de conseguir fazer o tombamento da igreja e o quanto sinto muito satisfeito que hoje graças a Deus tem o recurso, porque é tombado, é dirigida pelo patrimônio. Fiquei muito satisfeito e tranquilizei que hoje eu tenho a satisfação de ver aí os cuidados que eles tem, as coisas que, tem algumas divergências também, porque gostam de contrair um pouquinho, ceras coisas, mas não sei se é contrariar ou se é o dever dele. Então de qualquer maneira, estão fazendo o dever e, estão conservando. E eu sinto isso, quando morrer eu vou satisfeito de deixar essa recordação, essa lembrança, essa coisa aí para os que ficarem.



P/1 – Obrigado.



R/5 – De nada.



P/1 – Dona Joana, a senhora lembra de alguma coisa que aconteceu aqui na cidade, que marcou a tua vida?



R/6 – Ah, eu lembro, assim, foi mesmo a reforma de dirigir, aí eu já vinha aqui, andava, já conhecia aqui. Mudar de Periquito para Quinta, foi o de mudança. Tinha melhorado alguma coisas, fez a igreja, deixou a obra de Aleijadinho, mas foi mais, a igreja é a obra do Aleijadinho.



P/1 – Ah, é?



R/6 – E ficou assim, o que a gente pôde fazer aqui, fazia. Então ficava sempre ali, muito tempo. Mudei lá para a Rua do Guapim, lá fiquei. Meu marido meu trabalho demais, ficou com Mal de Alzheimer, aí acabou os dias, tanto coisa, de luta com ele, esqueci de tudo, também a idade foi chegando e a doença é terrível. E sempre em casa, sempre fui muito caseira, tive sorte de ser caseira mesmo, meus pais não deixavam, casei com ele e fiquei mesmo aqui direto. Aí foi melhorar, tipo o Reinado que eles fazem aí, então fui domingo agora e as festas de Nossa Senhora da Conceição. Meu marido fez diversas vezes, dentro do divino, tinha muita gente, a minha filha fez o Reinado aqui, formou o Reinado, ajuda outro pessoal. Trouxe a fanfarra de Ouro Preto aqui, foi a alegria que o povo teve aqui, não foi compadre? A primeira vez que conseguiu a fanfarra aqui, foi ela. Depois ela casou, mudou de religião, mas eu fiquei mantendo essa, aí, mesma religião que eu nasci. Aí manter minha vida, criei os filhos tudo, 12 filhos e fui levando assim a vida. Um dia mais bem, outro dia pior, mas passando sempre. Mudança teve do asfalto, que não tinha estrada, a Rua do Lapeiro era um bequinho, tanta roça. Então mudou o asfalto, melhorou sim. E achava que não era bom o asfalto não, porque ia a porcada solta, ah, carro é, matar galinha, a galinha nós prendemos, (risos). Mas foi melhor, de transporte, mas sem ter, a vida é essa aqui, igual todo lugar vendo aí.



P/1 – Obrigado. Eu tenho mais duas perguntinhas só, uma coisa que eu sei que aconteceu aqui, que ninguém de vocês falou, então eu queria saber se teve o impacto ou não, a criação do parque? Teve impacto na vida de vocês ou não? Como é que foi isso, como é que é isso, assim, o parque, a existência do parque aqui? Dona Maura?



R/1 – Bom, esse parque, ele foi falado há 30 anos e ultimamente é que aconteceu mesmo, mas isso deu muito, sei lá, o povo ficou, todo mundo, ninguém achou bom. Ninguém achou bom porque começou a, eles falavam assim: “Ah, agora ele vão tomar as terras do povo” e, de fato eles vieram e as primeiras partes, que foram.



P/1 – Que vieram? Eles quem?



R/1 – Quem veio foi o pessoal do Ibama, eles, o engenheiro esteve aqui, algumas vezes antes, conversou com quem tinha propriedade onde eles queriam e propôs a compra do terreno ou então quem não quisesse vender ficava, sei lá, ficava assim, não ficava em boa posição não. Porque o parque foi uma coisa, esse parque é federal, então aí começou a demarcar as partes que eram de interesse do parque. O meu marido mesmo, o terreno dele acho que foi o primeiro que foi, como que fala? Fugiu o termo, mas eu sei que eles pegaram o terreno, agora ele não fez assim, não fez muita objeção, ele concordou, aí vendeu. Faz parte da, o terreno dele fazia parte da Fazenda do Sobrado. Então, que era do avô de Lena, então, aí eles foram com calma, com muita paciência, porque para eles adquirirem isto aqui, essas partes, foi com muita paciência. Tanto que tem ainda, tem a Fazenda de Poço Azul, que não concordou, tem a Fazenda da Palestina, então está sim ainda em jogo. Mas no final vai ser mesmo, eles vão, o termo fugiu, como que fala quando eles. Quando demarcam assim os lugares e muita gente achou ruim, porque aqui em Fidalgo, a principal função aqui, atividade, é na pedreira, a extração de pedras, então tinham muitas serralherias e o povo vivia mais tranquilo porque era uma atividade que dava lucro, tanto para a pessoa quanto para as pessoas que trabalhavam. Então com esta inauguração do parque, impediram as pedreiras que não eram regularizadas, então quem regularizou, pode continuar, assim, a extração da pedra. Agora, mas na maioria, todo mundo, as pessoas que trabalhavam, todos saíram, trabalham em Matozinhos, Lagoa Santa, Pedro Leopoldo, no aeroporto. Então parece que foi uma, assim, dispersou todo mundo, então todo mundo ficou triste, muita gente achou ruim mesmo. Mas agora parece que estão sentindo que está trazendo algum resultado, porque, principalmente aqui em Quinta, as pessoas vem, visitam e nós temos aqui uma pessoa que é treinada, que toma conta, que é o Laurinho, então ele quem conduz as pessoas, sabe. Então eu acho que agora que o povo começou a entender e esses que estão trabalhando fora, falam assim: “Graças a Deus”, uns dão graças a Deus, porque a vida deles agora é outra. Porque aqui era uma dificuldade horrorosa, tinham que levar marmitas lá para a pedreira, era aquela dificuldade. Agora não, eles conseguiram emprego em empresas, uns já não levam mais comida, acho que já tem lá na empresa, já tem plano de saúde, que não tinham. Então eles estão achando melhor agora, sabe, com relação assim a facilidade de vida. No início achou que ia ser um absurdo, que ia passar até, muita gente ia passar fome, mas depois, agora eles estão se sentindo mais satisfeitos e não querem mais, uns falam assim: “Eu pedreiro nunca mais”.



P/1 – Maria Helena?



R/2 – Maria Helena. Olha, quanto ao parque, eu sabia disso há muitos anos, porque eu tenho um compadre que trabalha no IEF, aí ele falou assim: “O Lena, vai estourar uma bomba em Fidalgo”, eu falei assim: “Porque, Valto?”, falou assim: “Porque vai ser desapropriado, lá em Fidalgo vai voltar ser parque estadual”. Aí eu silenciei, não comentei com ninguém, eu falei assim: “Oh, meu Deus do céu, tomara que meu irmão não fique sabendo”, porque o ganha pão dele era lá, do outro lado, que foi desapropriado. E aí foi tomado tudo nosso, tudo lá foi do parque e, pagaram mixaria, tanto de tio Sebastião, inclusive tio Sebastião tinha um filho natural, que herdou também a metade e os outros da família. E do meu tio mineiro, que era um dentista, que tinha o consultório lá, tomaram tudo dela, pagaram Jardelita, o pessoal lá, pouco demais. Outra coisa que eu acho muito, eu sinto, sinto de eu não poder ir lá, nunca mais voltei a casa de Jardelita, onde que eu vivi, que eu criei, que eu tive muita, tudo da minha infância foi lá. Então não ter, poder ir lá, sabe, eu não poder ir lá. E meu irmão, coitadinho, que é pobre, não tem condição, eles não pagaram até hoje. E eu também, eu moro sozinha, que eu perdi minha família, eu moro sozinha e eles já estão na área, já entraram em tudo lá, que tem a parte da Lagoa, que meu terreno faz parte da Lagoa, sabe. Então eles tiveram lá em casa, olhou tudo e me desapropriou também e, agora o que eu tenho mais dó é do meu irmão, porque precisa, sabe, ele precisa. Agora eu acho um absurdo, eu sabia até meus caminhozinhos que eu ia na casa dos meus povos, de eu não poder ir lá nunca mais, (choro). Lá é minha infância, lá é tudo meu, casa do tio, casa do, aonde eu fui criada, eu tenho muita tristeza de não poder nunca mais passar no meu caminhozinho. Não conheço lá, vejo lá, lindo, tudo iluminado agora, sabe, com danças, de lá da minha casa eu ouço, eu vejo o alpendre, sabe, tudo, diz que até cadeira, a cadeira que meu tio tinha para dentista, foi jogado fora. Então eu tenho muita tristeza, sabe, tenho muita tristeza, falei com aquele menino que toma conta do IEF, muito meu amigo e isso eu tenho, todas as vezes que eu chego tarde da rua, que eu vejo lá, sabe, falo assim: “Senhor, tome conta”. Outra coisa que eu tenho, que eu acho também, outra coisa, com isso, está vindo muita queimada, então a gente vê muito eles jogarem, assim, no caminho de Pedro Leopoldo, deve ser toco de cigarro, acabando com o parque. Sabe, que eu acho que eles, muitos sentem mágoa por isso e fazem isso. E quantas criações, a fauna e a flora está acabando, quanto parasita, orquídea que tinha lá na serra do meu pai, tinha uma pedreira maravilhosa lá de pedras, calcita, sabe, lá é lindo, maravilhoso. Está certo, não sou contra não, mas eu acho que tem que dar outro tipo, para principalmente os moradores, que viveram lá.



P/1 – Obrigada Maria Helena.



R/3 – Nada.



R – Lauro. Em relação ao parque, como viu dona Maura, mais de 30 anos já existia esse decreto da criação do parque. Aí, só que o pessoal não acreditava que isso iria acontecer e, quando realmente saiu, aí teve de haver outra demarcação de área, porque a área da década de 80, já estava construído dentro dessa área e para um, como diz, pagar um valor menor, essa área ficou de fora e foi mais para o munícipio de Pedro Leopoldo. Então em minha opinião faltou muito assim conscientização do pessoal local, tá, porque hoje onde que é a lagoa, que é parque, centenas, milhares de anos que o povo tem aquilo como, vamos supor, pastagem para o gado, da água de criação. Você entendeu, então tudo aquilo foi do povo, toda vida. E nessa implantação do parque, nessa falta de conscientização, que eu acho que houve, houveram até várias audiências públicas, mas o pessoal não participava, que talvez não acreditavam nisso e, realmente o parque apareceu. Nesse apareceu o parque, um dos impactos que teve foi de um senhor lá, nessa décadas de anos aí, dando água, um gado na lagoa, aí chega um policiamento e fala assim: “Existe um decreto x, que isso não pode acontecer”, que muda um senhor lá de 80 anos, entendeu, não foi só um não, foi eu acho que uns três ou quatro daqui da Quinta, Fidalgo. Esse aí já começou o impacto negativo com o parque. Então veio, valorizaram as propriedades, demarcaram o parque, esse foi o limite, qual que vai ser a valorização dessas terras? Então as valorizações são uma média que eles fizeram através do governo, então essa valorização foi baixa, então o pessoal é contra, além da conscientização. O impacto maior é que fechou a lagoa, vamos supor, meu pai aprendeu com meu avô, com meu tataravô, de ir lá na lagoa pegar um peixe lá para, na época era difícil para almoçar ou jantar. E hoje, vamos supor, que meu avô hoje com uma varinha lá, infelizmente já não pode mais fazer isso. Mas o impacto maior, dessa falta de conscientização do pessoal. E nessa aí tinha um projeto, por exemplo, o trabalho local, dar serviço ao pessoal local, seria um dos projetos, igual realmente várias pessoas da Quinta, em Fidalgo, Lapinha, que é no entorno do parque, estão trabalhando no parque e eu sou deles. E então esse, o parque vai ser uma grande coisa local hoje, a preservação, igual está falando as queimadas, estão acontecendo, criminosas, com essa falta de conscientização. E essas pessoas que estão fazendo isso não tem consciência que estão acabando com o parque não, estão tirando vidas, a fauna, a flora. Se tiver essa conscientização eles não fariam isso. Então aí em minha opinião vai ser uma grande coisa local, que ainda talvez o pessoal já melhorou bastante, um projeto para dez anos está acontecendo em cinco, um projeto de 20 pode acontecer em dez. olha onde está a localização do parque hoje, 40, 50 quilômetros de Belo Horizonte, 30 do aeroporto, for ver até o Norte está chegando aqui. Vão ser construído agora Rodoanéis, vão passar aqui em torno, o parque vamos supor, é o menino dos olhos do Governo, no projeto Peter Lund, então o investimento na nossa região vai ser muita. Eu acredito que esse investimento vai ajudar muito a nossa região.



P/1 – Obrigado também. Senhor Joaquim?



R/5 – Joaquim. Segundo o parque, é o seguinte, para mim que não foi ofendido, porque fiquei ao lado, não me ofendeu em nada. A única coisa que todo diz que reclama aí, é exatamente o que ele acabou de dizer, é sobre a lagoa, sobre pescaria. Igual, eu de idade, que eu pesquei lá, que eu pescava lá. Mas veio o coiso e proibiu, acabou, nunca mais nem beirar lá eu não beirei mais, mas eu, na minha consciência é o seguinte, eu reconheço que tem parte que já ajuda muito também, muito favorável, eu pelo menos tenho alguma parte que eu estou muito satisfeito. Para falar a verdade, estou satisfeito, porque, poderia estar muito pior aqui se não fosse a intervenção disso, perante as pessoas, as autoridades e tudo mais. Que aqui antigamente era o seguinte, podia ter briga, morte, o que fosse aqui, que levava um mês para a polícia chegar. Hoje chama o Van Dame, tudo estão aqui. Então, perante a razão do parque, perante o parque e, outras mais coisas que favoreceu aquele impacto de um lado capaz ou de melhora. Entanto não digo nada, para mim não fede nem cheira, é aquela beleza, continua a mesma coisa a minha vida e me sinto satisfeito de conhecer melhoramento. Coisa porque, de repente fogo, fogo pegava no terreno da gente aí, meu e de outro, a gente deixa de correr, é aquela dificuldade com o corrão. Hoje não, hoje tem facilidade, chama eles, tem sido atendido, como eu mesmo já chamei, fui atendido na hora. Então é aquele negócio, a gente vê alguma coisinha meio que errada, mas no fundo temos que conformar que melhorou, eu apoio, que melhorou.



P/1 – Dona Joana?



R/6 – Joana. Eu nesse parque aí, eu não entendo nada. Eu já vim de Pedro Leopoldo, vim com o Rogério, o Rogério você sabe quem é? Ele falou comigo, “Dona Joana, vai ser um descontrole”. O povo sentido, preocupado que não pode criar porco solto aí, que aqui é porcada, cria solto. Cavalo, burro, boi, era tudo solto, agora não pode. Então ele disse que, ele falou comigo, “Nós estamos lutando para isso, está demorando, mas se Deus quiser nós vamos conseguir”. Então eu falei, eu não tenho nada a falar e, do meu lado lá, sou pequena, tenho pouco para reclamar. Então, deixei, não tinha mais nada para falar com ele, eu não entendo mesmo. Então lá em casa, onde eu moro, não saiu para parque não, ficou tudo livre. Então depois que eu fiquei viúva fui repartir com os filhos o que eu pude e, deixa o parque para outra conversa. Parte da minha comadre Celeste, senhor Sebastião, eu conhecia muito porque eu sempre ia lá visitar, ela foi muito lá em casa, depois ela faleceu, ela não chegou a falar nesse parque. O compadre Sebastião que falou, falei: “Vai sair”, “Isso aí eu no estou gostando não”, que eles tinham muito terreno. Disse que lá está até muito bonito, muito bom para passear, mas eu mesmo nunca fui lá. Não interessa porque o que tinha lá eram meus compadres, Deus levou e, eu também não tenho nada lá, então deixar, eles tocam como que pode, está bem empregado.



P/1 – Bom, tenho uma última perguntinha. O que é que vocês gostariam de manter, de preservar na cidade para as próximas gerações? O que é que é importante que fique preservado aqui na cidade?



R/1 – Está igrejinha aqui é uma das coisas, que é muito importante para todos nós. E melhora na saúde, no, deixe-me ver, ah, que houvesse rede de água, que aqui nós temos a rede de água, nós temos, mas falta aquela de esgoto, que toda casa tem fossas. Então eu gostaria que fosse desenvolvido aqui esse trabalho de saneamento, esta, que mais? Ah, que tivéssemos uma boa escola, como nós vamos ter, porque agora vai ser construído em um novo prédio, então o projeto é muito bom. Então isso aí é uma coisa que a gente já vai deixar para os nossos e, deixe-me ver outra coisa, moradia, muita gente aqui não tem moradia ainda. Então eu penso assim, que seria tão bom se cada um tivesse o seu pedacinho e construísse sua casa, porque esse parque deu uma coisa que também atrapalhou, foi a divisão de terras, agora ninguém pode vender, a princípio só poderia vender cinco mil metros, depois passou para dois mil metros. Agora já, uma sobrinha já foi lá no Instituto Chico Mendes, em Lagoa Santa, então já ficou sabendo que para vender qualquer parte aqui tem que vir um fiscal, um funcionário lá do Instituto e para chegar ao local, eles cobram a partir de dois mil. Então a gente fica assim assustado, que tem por exemplo terras que poderiam vender, não tem jeito, porque só vende grande quantidade e todo mundo quer comprar lote e, lote não pode vender aqui. E tudo o que agora é fiscalizado, tudo, construção, até construção. Tudo, Fidalgo e Quinta são vigiados, então isso aí eu acho que deveria melhorar bastante para a gente ir embora em paz, deixando para os netos, assim, um lugar melhor que oferecesse melhores condições.



P/1 – Obrigada dona Maura. Maria Helena?



R/2 – Maria Helena. Olha, ainda falando sobre o, um pouquinho só sobre o parque, depois o que eu quero, reivindicações, é meu irmão. Meu irmão faleceu na lagoa afogado, indo daqui, agora neste momento faz 15 anos, que talvez eles tivessem vindo daqui para ser sepultado aqui. Não ficou sabendo do desapropriamento e isso, olha também para a senhora ver, tudo faz parte. E foi um jet-ski, estou com aqui, que bateu no meu irmão, tinha duas pessoas com ele, o empregado dele, que era Nelson e meu irmão. Ele sabia nadar igual um peixe e o jet-ski bateu e a Paula, que é parente nossa, bateu nele e ele fala: “Moça, moça, você está jogando água em nós”, mas ela não respeitou, bateu o jet-ski nele, a barca virou, então como tinha um remo só, o Nelson que era empregado dele, pegou no remo e foi até chegar a beirada da lagoa. Eu acho que meu irmão, segundo, de ter tido, ele estava com bota, como é que nada com bota, pesou. Então e, eu também tenho impressão, tenho o depoimento aqui, o jornal está aqui, que a barca virou ele caiu de baixo da barca, ficou três dias na lagoa, nessa lagoa. Então aí veio o policiamento de todos, não encontrava o corpo, foi revirada a lagoa toda. Aí por fim encontraram a noite, isso foi dia 31, primeiro de setembro e, dia dois, mais ou menos as dez horas, o policiamento chegou, já tinha marcado que o corpo estava lá, retirou o corpo e levou para fazer a necropsia, lá em Pedro Leopoldo. Disse que ele não bebeu água, estava perfeito, só com peixes, que já tinha comido alguma coisa dele, não cheguei a ver que eu tive amnésia, então não cheguei a ver. E quanto as minhas reivindicações, segundo o que eu ouvi, aqui estão rolando drogas, pessoas assaltando casas, roubando dos outros. Ontem segundo o que eu ouvi, crianças de sete, oito anos, dizem que estão começando em sua casa, são filhos da Marli, sabe, crianças, fiquem sabendo ontem. Inclusive a hora que veio assim até me confirmou que é verdade. E tem senhor e, tem um senhor também que está, que mexe também, sabe, está assaltando. Então reivindicação, pessoas para cuidar, ir em cada casa, fazer um levantamento como é e vir alguém para ver se combate essas drogas, porque não está fácil não.



P/1 – Obrigada.



R/2 – Nada.



R/3 – Lauro. É, preservação para mim é uma palavra muito bonita para o nosso lugar. Primeiro, uma coisa que está acontecendo agora, a gente está voltando a contar a nossa história, continuar preservando isso. Porque nossas escolas, locais e em torno, por exemplo, Fidalgo, Pedro Leopoldo, Quinta, Lapinha, hoje não existe mais nossas histórias nessas escolas. Tenho certeza que em breve vão voltar com esse desenvolvimento que está vindo aí, que seria uma necessidade local, de saber conhecer e contar um pouco da nossa história. Preservar isso que a gente tem hoje, na nossa região, é uma coisa muito importante das autoridades, porque agora está acontecendo, Maria Helena está falando, isso está acontecendo em todo local. Então a segurança pública é uma coisa que tem de preservar o que? Nós, cidadãos locais. E quem vai fazer isso? Segurança pública. E para preservar o nosso local do jeito que está hoje, além da segurança pública vai depender muito da gente também, a gente saber lidar com essas coisas. E isso que está acontecendo aqui, em Fidalgo, Quinta e Lapinha, eu acho que isso aí vai ser muito bom para nós, inclusive para os nossos filhos, para os netos, que a superpopulação hoje, a gente vê casos muitos recentes hoje, por exemplo Água Santa, é uma superpopulação, mas o que, sem estrutura. E nosso local ainda tem gente que está mantendo isso, então eu acharia muito importante. Lógico que tem de deliberar, tem de essa fiscalização, eu acho que seria para o nosso próprio bem, sabe, o bem da comunidade. Nessa fiscalização aí, para não deixar acontecerem umas coisas que talvez poderia prejudicar a gente daqui a algum tempo, alguns anos. E sim, liberar para vender, sim, tem a documentação? Vende. Mas porém assim com essa conscientização de que está fazendo, é muito importante para nós, da nossa região. Essa que seria a minha opinião.



R/5 – Joaquim. Somente afirmo a palavra dele, que na verdade está muito difícil mesmo e que a gente sente é uma oportunidade das autoridades meio sossegada nesse sentido, ou por um motivo ou outro que sabe as vezes a razão, mas precisaria que tivesse um melhor esforço, melhor boa vontade, para que desse a gente um pouquinho de paz, que infelizmente não estamos tendo folga nessa região. Que aqui está ficando meio feio, é só ter que rezar muito e pregar com Deus para que não aconteça nada, mas que está ruim, está. Mas eu fato que só que eles estão, tem que resolver, vamos tentar até quando Deus quiser.



P/1 – Dona Joana? O que a senhora que gostaria que continuasse, que preservasse?



R/6 – Olha, como está, que a gente, pelo gostar da gente, a gente é mais fraco, eles não vão ouvir isso, vai tocar para frente. E sobre o que está falando, o policiamento, a gente chamando, vem, lá em casa pelo menos tem vindo. Então eu fico bem dizer, só, com Deus. E se acontecer que um for lá fazer, não tem nem recurso, eu sozinha não vou sair, não pode. Meu filho veio e falou assim: “Vou segurar a janela, a senhora fecha a janela depois”, então ele pôs uns pauzinhos assim, uns ferrinhos segurando, do jeito que a janela abre só um pouquinho assim e, a porta trancada. Mas é duro para mim ficar trancada, fechada, sozinha assim. E eu não estou mais na idade de que posso tocar algum serviço, bordar, nem um bordado eu não estou podendo porque eu estou com a mão a bem dizer inválida. Então, olha assim, eles podiam, mas não tem jeito, é turma de rapazinhos, sai daqui desse lado que eu não sei nem de onde, diz que é Rua Zé Mineiro. Eles moram, tem muita gente morando ali, é defeito, não pode estar alugando, assim, para os outros assim, eles fizeram uns barracões, eles saem de lá aquela turma, todo dia, vem em casa, passa, eles passam olhando, as vezes eu olho assim, “Ah, andei olhando para lá, não deixa atender, virar para trás, não”. E assim, que as minhas filhas com tudo para estudar, pelejou tudo, elas tinham que ir a pé para Fidalgo, que a Quinta aqui nunca melhorou, não tem nada, não melhorou. Só teve uma escola ali, a minha professora foi embora para lá e foi lá para as meninas, as meninas todas tiveram que ir para Pedro Leopoldo, outra foi em Belo Horizonte, outra para Vespasiano, está tudo espalhado. Eu fico só lá em casa e se eles investirem lá, está feito, mas até que a gente chama uma coisa, algum recurso, mas o que é que eu vou fazer. Tem que ficar mantendo ali, mesmo assim. Falar não pode, eles não atendem não, vem aqui, faz briga, toma, mexe com droga aí, faz sujeira aí, como é que chama o, está local, toda parte da. Então fica assim, mas é o tempo, vão ter melhoras aí, porque as minhas tudo para formar, tiveram que sair fora. E agora só meus netos que estão por aí, mas esses aí, cada um arranja um servicinho, aqui em Leopoldo, já acha lugar melhor para trabalhar. Pedreira mesmo ele não gostava não, não sentiu falta de pedreira não. Mas, estou levando, quase no, é fácil. Não acho ruim não, deixa como está, se reclamar não tem. Quando eu me vejo apertada aqui, eu chamo meus filhos, estão em Pedro Leopoldo, outro na Água Santa, tudo e eles vem suprimir. Mas socorro com alguém aqui, é muito difícil.



P/1 – Bom queria agradecer vocês, muito, muito esse momento, esse privilégio de ouvir a história de vocês, a história do lugar. E uma vez eu entrevistei uma senhora lá no Museu e eu perguntei para ela o que tinha sido para ela contar a história para a gente e ela falou: “Eu entreguei meu patrimônio para vocês. Que o meu único patrimônio é a história da minha vida”. Então eu quero agradecer muito, muito por vocês terem também compartilhado esse patrimônio de vocês que é tão bonito e até me emocionou muito. Muito obrigada.



R/2 – Para terminar, eu acho que vai encerrar com uma boa. Minha avó me ensinou, que aqui tinha uma poesia que falava sobre aqui, mas não sei de onde tirou, só que memorizei e fala assim: “No retiro da Quinta de Sumidouro, as 18 horas, Fernão Dias meditava um tiro de mosquete, anunciando a hora da Ave Maria”.



P/1 – Hum, muito bonito. E agora quero convidar aqui a plateia toda que está aqui para sentar em volta da mesa e a gente continua a conversa, quem tem perguntas? Oh, eu queria saber isso e, agora quando for uma para todos, então vamos seguir a ordem de você, Mauro, né?



R/7 – Ricardo.



P/1 – Ricardo. E, mas agora é mais solto mesmo, tá, eu vou ajudando assim a conduzir, se ficar muita gente falando junto. Então vamos procurar não falar junto, a pessoa que recebeu a pergunta, vamos esperar ela acabar de responder tudo, está bom e, aí quem quiser fazer mais um pergunta, enfim, vai seguindo assim, essa ordem, mas é mais solto mesmo agora. É, pode apresentar? Pode? Ricardo?



R/7 – É, meu nome é Ricardo Serafim e eu trabalho na Secretaria da Cultura aqui de Pedro Leopoldo. Moro na cidade há dez anos e estou envolvido na área da cultura aqui na cidade.



R/8 – Meu nome é Jane Lúcia Martins da Conceição Gonçalves, sou filha da dona Maura. Trabalho aqui na região na área da educação, eu sou da Educação.



R/9 – Meu nome Élida, eu nasci e fui criada aqui em Fidalgo e além disso sou uma apaixonada aí pela história do lugar onde eu nasci e me criei.



R/10 – Então, o meu nome é Vanessa, moro aqui em Quinta do Sumidouro, nascida aqui também, há 29 anos. Atualmente trabalho como guia turístico aqui no parque estadual do Sumidouro e gosto muito também da questão da história do local, que faz aí enriquecer e, aumentar cada dia a mais, a gente viciar e viver mais essa região aqui que é muito bacana.



R/11 – Bom, meu nome é Graisson, atualmente eu moro, eu moro em Fidalgo desde quando eu nasci, atualmente trabalho na área da limpeza, Ibama.



P/1 – Você quer começar?



R/10 – Queria. Saber um pouco mais do cemitério, como que funcionava antigamente, que enterrava os mortos, que tem uns que eram enterrados na igreja, lá. E como é que é hoje?



P/1 – Você está fazendo essa pergunta para quem?



R/10 – Para a dona Maura e para dona Maria Helena.



R/2 – Olha, segundo a minha avó, meu avô e meus tios que vieram de Portugal, eles foram enterrados aqui, aqui e lá na parte da frente, sabe, isso tudo que elas me contavam. E também, uma vez eu assisti também um drama muito estranho aqui, veio um corpo aqui para ser sepultado e geralmente a gente ficava, agora nem passa mais não, vinha primeiro aqui ficar na igreja, ia ser velado um corpo na igreja. Não sei se vocês se lembram disso, foi acometido de um enxame de abelhas, que retirou quase todo povo da igreja e eu vinha todas as vezes com minha vó aqui, enfeitar os túmulos no dia dos mortos. Então a gente via muita sepultura revirada, minha vó falou: “Será por quê?”, depois a gente foi saber que era tatu que mexia com os túmulos. Que aí a minha família estão todas enterradas aí.



R/1 – Agora quanto ao cemitério, a gente, só uma coisa que é até muito triste, sair de Fidalgo para ser enterrada aqui. Porque uma que é longe e a gente, sei lá, mas é muito, é um lugar que traz muita saudade, então eu, a coisa mais difícil é eu vir aqui. E agora, até que hoje eu vou passar lá, porque meu filho faleceu em janeiro, então eu nunca mais voltei aqui depois de janeiro. Já tinha muito tempo também que eu não vinha aqui em Quinta, então agora, hoje eu quero fazer uma visita. E isso aí foi uma coisa terrível. E aqui dentro da igreja contavam mesmo, que alguém já foi enterrado aqui, mas eu não sei, eu acho que é missionário. Que é em Fidalgo e Quinta que vinham os missionários, eu era pequena e eu lembro que vi, os missionários eram todos assim muito santos, vistosos, tanto que uma coisa que eu fiquei, que eu gravei, e a minha mãe contava, é que saíram de Fidalgo, vou sair um pouquinho fora do cemitério, mas é uma coisa que eu acho muito interessante, pegava o, tinha um cruzeiro, uma cruz grande, então quando ficava o sol muito quente, então os missionários sempre estavam passando por aqui, então eles falavam: “Vamos fazer penitência”. Então minha mãe disse que todo mundo saía e ia levando a cruz e, as vezes em algum momento, as mulheres carregavam muito, porque eles iam, mas nem tanto, mais era mulher. Então as mulheres falavam assim: “Não, não padre, eu não aguento mais, está pesado demais essa cruz. Ai”, todo mundo falava assim, então disse que eu chegava, olhava só assim para a turma, “Vamos trocar, vamos trocar os lugares”. Então vinham outras, então as donas falavam assim: “Nó, a cruz está igual uma palha”, porque levava lá para o Morro de Santa Cruz. Então, eles falavam assim, que quando uma pessoa assim de vida irregular ou tinha algum problema, que carregava a cruz, a cruz pesava. Quando trocava a cruz era como uma palha, então isso aí eu achei interessante porque os missionários conheciam, então nesse tempo eu acho que havia maior seriedade e maior santidade entre eles. Então, é da cruz ficar leve ou pesada, eu achei muito, é muito interessante isso. Mamãe disse que as mulheres quando a cruz ficava leve, elas voavam com a cruz, porque o Morro de Santa Cruz é um acidente geográfico, é o melhor aqui, o mais importante é o Morro de Santa Cruz. Depois essa cruz foi colocada no centro de Fidalgo e lá e, enterrava-se crianças lá no Centro, então muita criança foi enterrada lá. E mais tarde alguém, aqui de Fidalgo, eu cito uma autoridade, mandou tirar o cruzeiro e passou cimento no lugar onde muita criança foi enterrada, lá no Centro. E hoje a praça chama Praça Josanoneiro e, esse lugar lá os antigos, os mais antigos do que eu falam assim: “Esse lugar é lugar santo”, porque muita criança que está ali. Agora e, o cemitério daqui, ultimamente ele está mais bem cuidado e há mais tempo, a gente via os mausoléus, muito bonito, com imagem de santos e tudo. Agora hoje já não faz isso mais, hoje já colocam aquelas, como é que chama? Égide? Aquela pedra com as anotações.



R/3 – O mármore.



R/1 – É, pedra de mármore, coloca, isto que está lá, está sendo mais usada aqui.



R/3 – Aqui é só para, por exemplo, o cemitério das crianças em Fidalgo, fala que é um lugar santo, não é isso?



R/1 – Isso.



R/3 – Por exemplo, para nós que chegamos a conhecer o cemitério lá, sempre vai santo, talvez as pessoas mais novas de hoje, isso não vai acontecer com eles. Por exemplo, tivemos esse conhecimento, sempre para a gente vai ser.



R/1 – É, isso aí é uma coisa que ficou gravada dentro da gente. E teve uma pessoa mesmo, eu não posso falar porque eu não me lembro, mas teve uma pessoa que falou comigo assim: “Não, dona Maura, eu estava sentado lá na pracinha e eu ouvi gemidos”. E parece que o banco treme, então não sei, mas isso aí é um, não posso afirmar, mas disse que é.



R/9 – Então dona Maura, pegando a questão da senhora.



P/1 – Fala seu nome por favor?



R/9 – Élida. A questão daquela praça que a maioria de nós aqui conhecemos, é em Fidalgo, ela se chamava Praça de Santa Cruz.



R/1 – Praça de Santa Cruz.



R/9 – E qual a importância, por exemplo, desse nome no contexto lá de Fidalgo? Porque a gente tem lá, por exemplo, um time de futebol que também se chama.



R/1 – Santa Cruz.



R/9 – Santa Cruz. Então eu acredito que esse nome Santa Cruz, ele tinha um valor muito importante.



R/1 – Muito importante.



R/9 – Para a comunidade de Fidalgo.



R/1 – Isso.



R/9 – Queria que a senhora comentasse um pouquinho sobre isso.



R/1 – Sobre o campo?



R/9 – Não, sobre a praça.



R – A praça.



P/1 – A Praça de Santa Cruz que antigamente chamava.



R/1 – Ah, é. Chamava Praça Santa Cruz porque lá as pessoas se reuniam para rezar, fazia procissão em volta da cruz. Porque aqui em Fidalgo a maioria é católica, então era aquela coisa, todo mundo, se queria, por exemplo, o sol ficava muito quente, “Vamos lá, vamos lá fazer. Vamos lá rezar lá em Santa Cruz”. E as vezes começava a rezar lá em volta da cruz e, o sol quente mesmo e as pessoas iam para casa debaixo de chuva. Então aquele, por isso que eles falam, lugar santo, porque lá qualquer coisa que as pessoas queriam pedir a Deus, queria concentrar, ia todo mundo para ali.



R/9 – E trouxe muita tristeza o fato da mudança sem uma consulta da comunidade?



R/1 – Nossa Senhora.



R/3 – Da comunidade.



R/1 – É, a comunidade não foi consultada. Quando todo mundo assustou, já tinha derrubado a cruz e já tinha consumido. Foi triste.



R/10 – Tenho mais uma pergunta. Mais antigamente não tinha luz, não tinha muita coisa, o programa era vim para a igreja. Como é que vocês faziam para namorar, para arrumar um pretendente ou uma pretendente?



R/1 – Footing.



R/10 – Hein, senhor Joaquim? Como é que era? O senhor falou que a dona Lena era bonitona quando ela era mais nova? Ainda é?



R/5 – Conseguia se ver no escuro, conseguia sim. Era fácil, bom, arrumava namorada fácil aí e ficava namorando.



R/8 – E me mãe me conta que também as pessoas, quando elas queriam ver algum pretendente, que elas também ficavam na janela, vendo passar, eles passavam a cavalo, tal, paravam, conversavam, tal. E há muitos e, quando ela era jovem também, aqui em Fidalgo tinham muitas peças de teatro, que ela não citou das peças de teatros.



R/2 – Esquecemos.



R/8 – E que ela também encenava nessas peças, porque a minha mãe sempre gostou muito de falar, muito de cantar, então ela participava. E ela gostava de montar as peças e fazer os teatros, que também eram um ponto, antigamente, de onde as pessoas iam. Então iam assistir uma peça e se divertir, então não é de agora. E depois, mesmo ela como diretora, dentro das escolas haviam peças de teatro, a gente apresentava, o que hoje muito está modificado. As coisas eram diferentes e hoje temos feito muitos cursos, muitos estudos para trazer de volta, resgatando tudo isso que já passou, as brincadeiras, a importância para a criança de hoje saber o que é brincar, porque muitos não sabem o que é brincar, eles sabem da tecnologia, do computador, do tablet, do celular, da tevê, mas ele não tem aquela coisa gostosa de brincar, de participar. Então a gente está tentando hoje resgatar isso, trazer de volta isso, mas essa coisa de teatro, essas coisas boas, acontece desde cedo. Iam para casamento, minha mãe falou também que ela cantava muito, ela cantava muito, meu pai tocava violão e, elas iam para casamento, tocava, cantava a noite toda. E outra coisa que também não se falou, eu acho que era muito importante aqui em Fidalgo, era aquela coisa das vigílias de Natal, que eram pontos.



R/9 – As pastorinhas.



R/8 – As pastorinhas. E que as pessoas iam na casa dos outros visitar os presépios, rezar. Então era um momento de passeio, de diversão para as pessoas.



R/1 – De encontro.



R/8 – De encontro, as visitas aos presépios, os anjos que cantavam no mês de maio, que era o mês todo, hoje é sábado e domingo, ainda tem pouca presença. E antigamente todo mundo, era um prazer para todos ensinar os meninos a cantar na igreja, nós mesmos já cantamos muito, nós já fomos anjos, já cantamos. E que hoje e, era o mês todo, hoje é um final de semana, nos finais de semana somente. Então eu acho que isso é muito importante, são coisas que ficam e que marcam a gente também.



R/1 – Na quaresma tinham as recomendações.



R/8 – É.



R/1 – Pode falar.



R/8 – Então a quaresma também era uma coisa assim bem mais marcante e, depois a Semana Santa aqui, na quinta, nem se fala gente, era uma Semana Santa, santa mesmo. Que também eu não ouvimos falar dela, da Semana Santa aqui, da importância da fé das pessoas, em que as pessoas iam e que hoje também vem diminuindo. Então as pessoas hoje estão perdendo a oportunidade de viver muitas coisas, que vivemos antes e que hoje nem se fala, não conhecem e nãos sabem.



P/1 – Como é que era na Quaresma?



R/2 – Deixa eu falar. A Quaresma aqui, até fiz aí no meu relatório, tinha um grupo que saíam encomendando almas.



R/5 – E eu era um deles.



R/2 – Aí, está vendo, (risos). E era cada e, quando a gente ouvia, a gente arrepiava.



R/5 – (risos). Morria de medo.



R/9 – Como que era?



R/2 – Eram cantos, eu não lembro os cantos lá. Lá tinha umas cinco ou seis pessoas, Flávio e outras pessoas, sabe, que saíam toda sexta-feira, saiam a meia noite, encomendando almas.



P/1 – Como é que era senhor Joaquim? Assustava?



R/5 – Assustava.



P/1 – Como é que era senhor Joaquim?



R/5 – Era segunda, terça e quarta.



R/2 – É, segunda, terça e quarta.



R/5 – Eram os dias ideais, mas fazia a sexta porque era a data certa. Saia rezando nas cruzes das igrejas, onde tinha cruz a gente ia, aqui na igreja, sempre terminava aqui, eu mesmo terminei muito ali no portão, com o meu filho.



R/1 – Não é também afilhado, também tio?



R/5 – Meu tio que era o chefão.



P/1 – Quem?



R – O Joaquim Abacaxi.



R/1 – Ah, teu tio.



R/5 – Ele que era o chefão e eu acompanhava ele.



R/1 – Ah, eu também já rezei muito nas encomendações. A gente chegava, a gente, era um pedido de orações para as almas, então lá em Fidalgo era segunda, quarta e sextas. E a gente cantava e, tinha o canto próprio que até hoje eu ainda lembro.



R/5 – Tinha o canto lá, mas muito tempo.



R/1 – Eu não ia todas as noites não, mas eu cheguei a participar.



R/8 – Então, o senhor Joaquim, pelo o que a gente está percebendo é uma pessoa muito ligada as questões religiosas aqui na Quinta do Sumidouro. E eu me recordo, a um tempo atrás, que eu fiz um trabalho e vim entrevista-lo e ele mencionou isso na história de vida dele, como um dos acontecimentos marcantes, que foi o momento que ele deu continuidade ao trabalho do pai dele de cuidar dessa igreja. E na ocasião ele me relatou como que foi difícil para ele vivenciar o roubo que ocorreu aqui na igreja na década de 70, não é senhor Joaquim?



R/5 – Foi.



R/8 – A igreja tinha sido recentemente tombada pelo patrimônio e ocorreu então esse roubo em que foram levadas as imagens e o anjo de grande valor histórico e mais do que o valor histórico, acho que o que está no universo aqui da comunidade, não é só o valor histórico vinculado a um patrimônio histórico, mas um valor sentimental porque esse é o espaço sagrado. O lugar, como o próprio senhor Joaquim me falou, que ele se batizou, ele se casou, que as pessoas da família dele e assim como a nossa também foram enterradas aqui, então esse é um espaço sagrado. Manter isso aqui de pé é estar cuidando do patrimônio da vida das pessoas. Então na ocasião, eu queria estar lembrando aqui e estar perguntando para ele, para as outras pessoas da comunidade também, qual é que está sendo o sentimento agora depois de anos, estar recebendo de volta essas imagens, que foram roubadas, no ano 2000 nós recebemos de volta a Nossa Senhora dos Martírios, não é?



R/5 – Foi.



R/8 – Senhor Joaquim.



R/5 – Dos Martírios.



R/8 – E agora após anos de luta, a comunidade está se preparando para receber Nossa Senhora do Rosário.



R/5 – Exato.



R/8 – Então eu queria que o senhor falasse, senhor Joaquim, desse sentimento, não só o senhor, mas as outras pessoas também, de estarem recebendo de alguma forma um grande patrimônio que a anos, não é senhor Joaquim e, na época para o senhor que cuidava da igreja, como é que foi esse sentimento?



R/5 – É, foi muito triste. Foi muito triste porque eu na época é quem estava restaurando a igreja, as imagens todas que existiam dentro dessa igreja, estava naquela casinha minha ali. Ficou lá cinco anos dentro daquela casinha, sem nada amolar, sem nada, eu só ia lá, olhava e estava satisfeito. Depois de quantos dias, de dois meses que eu pus ela aqui na igreja, terminaram a restauração e falaram que podia trazer. Eu trouxe e coloquei todas aí, coloquei aí, com oito dias roubaram elas. Só foram sete, mas ao todo foram sete peças.



R/8 – Quais foram essas peças senhor Joaquim?



R/5 – Ah, tem a Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora dos Martírios, um anjo, um pedaço do anjo que eles quebraram e levaram, Santa Efigênia. E, é muito santinho pequeno.



R/8 – E tinha um crucifixo também?



R/5 – Ah, é. O crucifixo. E inclusive é o único que ficou, que salvou bem porque depois que eu trouxe tudo para cá eu segurei lá em casa, ficou comigo lá três anos ainda, guardado. Mas tudo aqui é de lá, porque aqui são o valor dele, então quer dizer, de certo, falei: “Então não levo”, parece que eu estava adivinhando, roubaram as imagens e ele ficou lá. Depois é que nós, no receber a Nossa Senhora do Martírio, depois que nós fizemos uma festinha para recebê-la é que eu trouxe ele e entreguei, para a igreja, população.



R/8 – E qual é que é o sentimento agora?



R/5 – Ih, é muito grande.



R/8 – De receber agora, a santa que por tanto tempo ficou nessa luta, nesse embate.



R/5 – Quando eu tive a notícia.



R/7 – Chorou.



R/9 – Emoção.



R/5 – Foi muito, para mim principalmente que na época tomava conta e, houve aquilo, que é o roubo, naquela época era, é que era difícil. Na verdade, era muito fácil de fora, mas que é difícil um roubo e eu roubar uma igreja, contudo achando o senhor do espaço debaixo da chuva, do lado de lá, ali, todo molhado. Muito triste e, agora, não recebi, não recebi ali, muito triste.



R/7 – O senhor levantando o seu peso agora na testa seu Joaquim?



R/5 – Vamos, vamos. Se Deus quiser, (risos). Estamos aguardando, não é.



R/7 – Será que ela chega aí?



R/5 – Vem, vem.



R/7 – Vem?



R/5 – Então, deixa eu só localizar o problema da coisa aqui, como é que fala?



R/10 – Alarmezinho. Segurança daqui.



R/5 – Tem alarme aí. Só de terminar o serviço aí ela vem, se Deus quiser.



P/1 – Vanessa, conta um pouquinho que você esteve lá na UFMG, viu a santa? Como é que é? O que é que você estava contando para a gente lá?



R/10 – Então, eu nunca tinha visto ela e tem até gente, em vê as pessoas mais velhas, meus avôs ficavam falando, minha vó, minha tia, falavam de como ela era, que sempre saía nas procissões na época ­do congado. E aí quando eu cheguei lá, que eles foram, primeiro eles foram falando um monte de coisas e a gente ansioso para ver como que seria a imagem. Aí eles foram falando como que eles conseguiram detectar que seria a imagem daqui, através de um raios-X, eles detectaram que houve, serrou um pedaço do dedo para encurtar, afinou um pouco o pescoço, isso tudo ali para poder, modificando ela para a gente não reconhecer. Apesar de que eu já, que aqui mesmo algumas fotos, tinham, a mando do colecionador quando veio aqui na época, ele veio com um monte de fotos, dela toda modificada e aí até mostrou para o senhor Joaquim, ele reconheceu a imagem. E aí depois disso, o Marcos Paulo, que é o promotor que foi a fundo nesse projeto aí deles e ele conseguiu e aí ele mostrou para a gente lá, a hora que foi tirando todo o papel que estava enrolada, ela estava enrolada com vários papéis, um plástico por cima, toda uma questão assim mais de segurança mesmo, que vieram de lá. E aí quando tirou e mostrou, aí já foi um felicidade, as pessoas que conviveram com ela, como a Neninha, que foi, a Nadir que foi na época, choraram muito, foi uma emoção muito grande. E a hora que eu vi ela, eu falei assim: “Nossa, ela é muito grande, é linda. Muito bonita, mesmo”.



R/5 – Você não conhecia não?



R/10 – Não conhecia. Conhecia de fotos, fotos que a minha tia tinha mostrado para a gente e a foto até preto e branco, nem era colorida.



R/5 – Ah, ruim demais. Você então não ia reconhecer, então ninguém vai ver.



R/10 – É muito bonita mesmo. Linda, linda. Quando chegar aqui eu acho que vai ser um presente, todo mundo vai chorar de emoção.



P/1 – É uma emoção para todos, não é, para toda a comunidade em si.



R/10 – Todo mundo.



R/2 – São para todos, não é? Que isso é parte de todos.



R/8 – Parte de todos.



R/3 – Pois é pessoal, aí, como nós estamos falando das imagens, sobre alegria e parte de todos, quem sabe a Élida, como historiadora podia falar um pouco da igreja, que já está falando das imagens, tem que se conhecer um pouco da igreja também.



R/9 – A igreja do Rosário, ela é mencionada aí na historiografia como uma edificação aí do século 18, trazendo características do Barroco mineiro. E é atribuída aí, talvez não necessariamente tenha sido o Aleijadinho, mas os ajudantes deles, aqueles que ele ensinava, como é que tem o nome?



R/3 – Discípulos?



R/9 – Os discípulos de Aleijadinho. Mas a igreja do Rosário, ela tem uma denotação importante porque, nesse momento aí de desbravamento do território mineiro, você tem que toda localidade que tem uma ermida, ali você tem de alguma forma uma indicação de um potentado de poder. E nós estamos em uma região ligada a essa exploração, a ocupação do território mineiro, sendo aí um dos primeiros arraiais do território mineiro, nós estamos em uma região que está vinculada a ocupação colonial e mais atualmente nós temos conhecimento que vai muito além, nós estamos ligados aí a uma ocupação humana muito mais antiga. Os estudos aí de Lund deram pistas para nos indicar que essa região é muito mais antiga do que nós imaginávamos. Mas a igreja, ela nos indica uma ocupação muito antiga e sobretudo aqui pensando na nossa proximidade com a Jaguará e com o Rio das Velhas, que nesse período era uma via de navegação, as pessoas utilizavam o Rio das Velhas, que naquela época era perfeitamente navegável. As filhas do senhor, do italiano Cassio Lanari, da Fazenda Mocambo que a maioria aqui conhece, elas estudavam no convento Macaúbas e saíam da Jaguará em um vapor que ia até Macaúbas. Então a igreja também é mais do que um representatividade da religião, que é característica do território de Minas a questão da religiosidade, ela está muito presente no imaginário da ocupação, mas ela indica também a presença de pessoas importantes na região, essa ermida aqui é uma indicação disso. Tanto que o inglês Richard Burton, ele faz uma descrição do Sumidouro como o arraial de uma rua só e ele já menciona uma capela muito nova que teria sido construída por um padre italiano, que muito teria se empenhado para a construção dessa capela. Historicamente pode ter sido o momento da ampliação de outra capela, mais antiga ainda, porque ele passa aqui no início do século, não, no final do século 19, então pode ser realmente o momento que a gente sabe que a capela foi ampliada.



P/1 – Élida, dá licença? Nós temos só mais acho que cinco minutos? Dá?



P/2 – 10 minutos.



P/1 – 10 minutos. Então para a gente fechar aqui, porque senão a bateria vai acabar. Nós queríamos pedir para a dona Maura cantar, fazer, cantar. Dizem que a senhora cantou tantas vezes, para a gente fechar aqui bem bonito.



R/1 – Nossa senhora.



P/1 – Vamos dona Maura? A senhora lembra?



R/1 – Deixa eu lembrar. Bom, tem uma música que eu gosto muito, nem sei, porque eu estive rouca a semana toda, hoje que eu estou melhor. Mas eu vou cantar um pedacinho pelo menos. “Quanto mais longe dos teus olhos meu amor, mais me atordoa o calor desta paixão”, deixa só eu lembrar. Acho que agora vai, “Quanto mais longe dos teus olhos meu amor, mais me atordoa o calor desta paixão. Esta certo em sua frase o inventor, longe dos olhos, perto do coração. É na distância que dói mais a dor do amor, quando este amor não foi apenas amizade. A gente chora, nossa mágoa, nossa dor, em um labirinto de tristeza e de saudade. Tenho nos olhos a visão da sua imagem, são um fantoche que a solidão apavora. Nã, nã, nã, ni, nã, nã. Lá, lá, lá, nã, nã, nã. Mas não posso compreender, porque razão choraste tanto ao me deixar, porque razão eu chorei tanto ao te perder”. Oh, meu Deus.



P/1 – (palmas).



R/8 – Muito bem.



P/1 – Senhor Joaquim, o senhor quer cantar?



R/5 – Ô filha, não tem voz mais para cantar.



R/10 – Só um pedacinho.



P/1 – Com essa voz aí que o senhor está falando.



R/10 – Aquela música que o senhor falou que cantava na Quaresma?



R/7 – Encomendação de alma?



R/10 – Só de curiosidade.



R/5 – Não, não sai mais nada. Não tenho, a voz acabou mesmo. Foi uma pena, se não fosse, bom, nós cantávamos até de noite, (risos).



P/1 – Lauro, Joana?



R/1 – Eu lembro um pedacinho da encomendação de alma. Você não lembra, aquela que fala, eles falavam assim, tinha um pedaço que eles falavam assim: “Reza mais um Pai Nosso, pela almas sofredoras. Nã, nã, nã”, eu lembrei só dos dois pedacinhos. Mas cantava muito mesmo.



R/8 – E sempre aqui quando terminava um, encerrava o sepultamento, mãe sempre cantou muitas vezes, fica sempre um pouco de perfume junto com os outros.



R/1 – Ah, é. Leda nem sabe.



R/8 – Então canta.



R/1 – Você sabe?



R/2 – Antes, não é gente, eu fiz uma poesia, a muitos anos, chamasse Bandeirantes. “Bandeirantes, bandeirantes, que por aqui passaram”.



PAUSA



R/2 – “Bandeirantes, bandeirantes, que por aqui passaram, deixaram aqui suas marcas, e nada nos cobraram. Bandeirantes, bandeirantes, deixaram os lares, e nunca mais voltaram. No íntimo da terra marcaram, abateram matas e mais matas, de ouros, pedras preciosas vinham acatas. Foi em março ao fim das chuvas, a terra em sede requeimada, quem bandeira buscando esmeraldas e pratas, a frente na luta com um peão, Pais Leme entrou no sertão. Caçador de esmeraldas, assim chamado por Olavo Bilac, com seu amigo Borba Gato, a sua história nos é deixada. Bandeirante, bandeirante, na Quinta do Sumidouro, em busca de um grande tesouro, Fernão Dias com a sua coragem, deixou marca em nossa paisagem. Dorme em paz bandeirante, as suas pedras verdes existem, nos anéis e colares são reluzentes. Dorme em paz bandeirantes. Anos e anos são passados, a sua velha casa continua erguida, nessa grande pátria amada, por nossa respeitada e querida. Hoje ela é um museu, que conserva relíquias e lembranças, do grande homem que aqui viveu, deixando a todos a sua herança. O nobre bandeirante, sua força e bravura, estará sempre presente em nossa história e cultura”. (palmas).



P/1 – Tem que encerrar mesmo, alguém quer falar o que é que foi essa manhã para vocês, como é que foi? Então algumas pessoas estavam apreensivas, “Ah, eu não lembro de nada”, como é que foi contar a história, rememorar? Fala quem quiser. E para os outros também que ouviram.



R/2 – E tinha muitas coisas a serem ainda contadas.



P/1 – Mas o que foi contado, como foi para vocês?



R/2 – Foi ótimo.



R/1 – Eu, para mim foi ótimo, eu não pensava, que eu fiquei, assim, “Meu Deus”, que é Jane Lúcia aceitou por mim o convite, “Ô, mãe, eu falei que a senhora vai”. Então falei, “Meu Deus, o que é que, eu não sei o que vai acontecer. Mas não explicou nada?”, “Não, não explicou nada”, “Bom, então eu vou assim, vamos ver. O que eu souber, o que eu guardei, vou falar” e vim, gostei muito de vocês que estão aí no projeto e para mim foi uma manhã maravilhosa.



R/8 – É exemplo de vida, não é?



R/1 – Foi uma coisa muito boa. Então estou feliz de ter tido mais essa oportunidade, porque depois de 20 anos aposentada eu tive essa oportunidade de estar aqui com minha filha, que participou e ela gosta também. Então a felicidade é isso, gente, é estar entre amigos, é participar. Isso é o que é importante na nossa vida, este encontro para mim será um marco. Parabéns para vocês que estão com esse projeto lindo.



R/8 – Para mim também gente, eu considero assim que, foi assim uma manhã de grande alegria e que eu pude participar, ouvir, porque muito, é sempre na vida da gente um aprendizado e sempre é bom lembrar. E lembrar ao lado de vocês, lembrar aqui principalmente do lado da minha mãe, que fez muito pela comunidade. É hoje assim, uma pessoa assim que é respeitada na nossa comunidade pelo trabalho e pela pessoa que é. Então eu agradeço muito vocês de terem lembrado e escolhido da minha mãe, que pode deixar aqui para vocês, juntamente com todos, um pouco da nossa história. Então muito obrigada.



P/1 – Obrigada.



R/3 – Ah, para mim foi uma surpresa também grande.



P/1 – Só um pouquinho, espera um pouquinho só Lauro. Agora vai trocar a bateria.



R/3 – Para mim também foi uma surpresa de ser convidado para estar participando dessa roda. Quer dizer, que umas pessoas mais antigas, muito conhecedora da nossa história e, é um prazer estar aqui no meu de vocês e com vocês. De poder estar levando também nosso lugarzinho aqui, a nossa história. Igual você falou, não é, Sônia, para o mundo, não é isso? Não só para a internet não, mas nós para o mundo, porque o mundo já conhece o nosso pedacinho aqui um pouco. E quanto mais a gente poder divulgar esse lugarzinho nosso, para a gente vai ser uma coisa muito valiosa, estar passando isso. Então agradeço a vocês pela participação minha aqui e, parabenizar vocês também por essa oportunidade.



P/1 – Dona Joana, como é que foi para a senhora?



R/6 – Para mim foi ótimo, trago a lembrança. Embora que eu estava chegando da casa da minha filha, aquela hora, a menina foi me buscar, eu falei: “Eu vou assim mesmo, ninguém vai reparar”. Eu não sei falar nada, além disso eu estou rouca esses dias, estou quase sem fala, mas eu vim comparecer, aprender mais coisas. E quanto mais a gente vive, mais.



R/3 – A gente aprende.



P/2 – Maria Helena, quer falar?



R/2 – É, para vocês o nosso muito obrigado por essa manhã tão rica e com uma paisagem tão linda, próprio do nosso encontro. Relembrando de tudo aí, os nossos entes queridos, o verde e ao lado da igreja que foi muito, que uma das primeiras que a gente conheceu por aqui. E também falando sobre, eu me lembro muito bem, sobre o Senhor dos Passos, lembrei de uma coisa também que ficou gravada, a gente trocou um cabelo da gente no Senhor dos Passos. Então o nosso Deus lhe pague a todos, conheci a senhora lá na igreja lá Nossa Senhora da Conceição, ela eu estava indo para o médico, a senhora lembra, não é? Foi tirado o meu retrato lá na porta, foi tão rápido, convidei nem para tomar um cafezinho, mas convido vocês quando por aqui passarem, comer o meu biscoito que eu faço, (risos). E eles também, logo que chegou na igreja eu os acolhi, dando boas vindas, encontrei um parecendo com meu primo. Nosso Deus lhe pague.



P/1 – Senhor Joaquim?



R/5 – Olha, eu agradeço muito por tudo que nos dando esse prazer imenso.



P/2 – Como é que foi para o senhor?



R/5 – Eu, muito beleza, ótimo e muito satisfeito estou. Espero que brevemente nós possamos ter outro reencontro, não é. Para tornar a trocar as ideias e ter esse prazer que nós tivemos essa manhã.



P/1 – Vanessa?



R/10 – Eu achei muito bom, até que eu não acompanhei muito, que na hora que a gente estava trançando aí para lá, para cá. Mas eu achei muito bom, pelo pouco que eu ouvi é muita história, três horas não é o bastante para falar tudo. Se a gente ficasse aqui o dia todo, o dia todo teria mais coisas para contar. E eu acho que a iniciativa do projeto é isso aí, é resgatar a cultura, resgatar não só a cultura da região, mas também a cultura de cada um, porque cada um tem um jeito de viver, cada um tem um jeito de ver ali a vida, viver no local aonde todo mundo gosta de viver. Esse lugar tranquilo, calmo e, aí eu, gostando, mas não terminou ainda, então vai ficar uma parte melhor.



R/2 – Cleissinha também?



R – Ah, eu achei um máximo, eu não sei nem explicar, cada vez com esse projeto, cada vez que passa eu aprendo mais. Eu nunca tinha parado para ouvir as histórias, agora é passar o que eu aprendi para frente.



R/9 – E eu espero que, a tecnologia, que isso venha o mais breve possível na internet, que esses jovens, que toda comunidade de Fidalgo possa realmente conectar aí a internet, a tecnologia e ver e apreciar muito mais a nossa história. O pouco do que nós falamos e também incentivá-los a saber mais, a procurar mais, a viver mais a nossa história.



P/1 – Eu acho a iniciativa muito bacana, o momento aqui, como foi comentado por todos foi de aprendizagem, porque a nossa história não é só o que já foi relatado, mas é parte do que cada um hoje aqui compartilhou. Então é um prazer enorme estar podendo ouvir e tomar conhecimento também da história de cada um, que é a história de todo mundo.



R/6 – Agora eu gostaria de saber, ela é a filha da senhora?



P/2 – Não, (risos).



P/1 – Faltou Ricardo.



R/7 – É, para a gente que trabalha na área da cultura, esse projeto, assim que chegou lá causou entusiasmo, porque é a preservação da história e eu acho muito importante as pessoas mais idosas relatarem como era a vida delas quando mais jovens, porque os jovens de hoje estão perdendo esse diálogo com os avós, estão perdendo essa oportunidade. E eu tenho certeza que na hora que um neto chegar e começar a ver o avô, ele vai ficar mais curioso a respeito de como era a vida antes e vai descobrir que existe valores que o mundo de hoje perdeu. E que ele pode resgatar, através do que foi passado aqui e de contatos com família, de experiências que eles nos passaram. Eu acho que vai trazer para um enriquecimento para essa geração que hoje vive na internet. Vai ver o avô na internet, (risos), depois disso eu acho que ele vai atrás do avô, atrás do tio, para mais saber mais dessas histórias que são importantes, são marcantes, que fizeram este lugar. Eu acho que isso é um dos grandes valores que esse projeto tem, resgatar a ideia da pessoa, da família, da história do local, como é que se construiu isso. E é um projeto maravilhoso, eu acho que Pedro Leopoldo abraçou esse projeto, a gente está junto e, está sendo maravilhoso ter o contato com vocês, conhecer outras pessoas. Eu tenho certeza que vai ser um ganho para a cidade, um ganho para os moradores daqui, que também vão ter muito a aprender com aqueles que viveram aqui a mais tempo.



P/2 – Bom, eu queria também complementar aqui, não sei se todo mundo sabe, bom, esse projeto só aconteceu porque a comunidade de vocês participou muito, contribuindo com o projeto, a gente teve hospedagem aqui, oferecida pela comunidade. A Secretaria da Educação também, da Cultura, não é, contribuindo com transporte e, aí a gente também teve o apoio da Intersemente, que está muito tempo aqui, o Cauê, não é?



P/1 – E o Acauê.



P/2 – Acauê. E que também nos disponibilizou, nos cedeu a Mônica para acompanhar, com todo esse entusiasmo dela, ela nossa mãe, ela já trabalhou muito pelo projeto, uma coisa assim bastante contagiante. Então queria agradecer vocês mais um vez e tenho certeza que vai ser uma sucesso esse registro, a gente vai depois editar e passar em um CD, vai dar um CD para cada um de vocês e aí a gente quer também quer fazer uma festa aqui no final do ano, vamos ver se dá para acabar até o final do ano e aí mostrar para a comunidade toda, chamar para o cinema e mostrar vocês falando e contando essa história. Está bom?



R/6 – Se eu ainda estiver viva, não é?



P/1 – Dona Joana, dona Joana. Não fala uma coisa dessa, dona Joana.



R/6 – Mais velha sou eu, não é? Quero esperar tudo o que tiver aqui para eu aproveitar.



P/1 – (risos)



R/6 – Já que eu não sei falar, nem posso.



R/10 – Vai ser muito legal a hora que ela falar lá na hora que estiver assistindo o vídeo, falar assim: “Se eu estiver viva até lá”, (risos), “Olha, eu aqui assistindo”.



R/2 – Os netinhos dela vão ver.



P/2 – É, então.



P/1 – Mas ela vai estar viva até lá.



R/2 – Ela vai estar viva.



P/1 – E até lá também a gente volta e mostra onde está na internet para depois os netos irem procurar os avós na internet, como diz o Ricardo, está bom? Muito obrigada, gente.



R/5 – Nós é que agradecemos. (palmas)



FINAL DA ENTREVISTA