P/1 – Helvio seja bem-vindo. Obrigado em nome do Museu da Pessoa e do Programa Nutrir. Pra gente deixar registrado, por favor, seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Helvio Kanamaru, eu nasci em São Paulo, dois de julho de 1976.
P/1 – Conta um pouquinho desse sobreno...Continuar leitura
P/1 – Helvio seja bem-vindo. Obrigado em nome do Museu da Pessoa e do Programa Nutrir. Pra gente deixar registrado, por favor, seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Helvio Kanamaru, eu nasci em São Paulo, dois de julho de 1976.
P/1 – Conta um pouquinho desse sobrenome, suas avós, você conheceu, teve história de imigração?
R – Eu não conheci meus avós, mas meu pai veio pro Brasil com um ano de idade. Na verdade, eu conheci só os meus avôs da parte paterna, eles vieram na imigração japonesa, não conheci os avós, os pais da minha mãe e o nome Kanamaru, ele em japonês quer dizer navio dourado, que é kin maru, mas eu não sei falar japonês, eu não aprendi. Minha mãe não quis, porque quando ela era muito nova, ela sofreu muito com preconceito, com brincadeira, por causa do sotaque japonês, deste modo ela fez questão que os filhos não aprendessem. O que hoje é uma dificuldade, porque eu tentei aprender sozinho, é muito difícil! Não consigo nem falar as palavras, as silabas direito, mas eu queria muito aprender também, era uma coisa que eu gostaria de fazer.
P/1 – Mas você conheceu, teve contato com esses avós da parte paterna?
R – Muito pouco. Meus avós, por parte de pai, não falavam português e eu também não falava japonês, então as conversas eram sempre muito simples, minha avó falava que eu era bonitinho, eu falava: “Obrigado.”, e acabou, era isso. Mas a gente passava o final de semana juntos, assim, tinha aquele almoço de domingo na casa da avó, tinha, só não era uma interatividade muito grande, por conta da restrição do idioma, mas eu conheci sim, até uns oito, dez anos. Mas quando era muito pequeno, também, é difícil, depois você vai perdendo um pouco dessas memórias.
P/1 – E você se lembra de alguma memória especial, que você comia, que você gostava na casa dos avós.
R – Na época, eu não gostava de muita coisa não, porque era tudo comida japonesa. E ai, hoje, todo mundo acha que isso é o maior sacrilégio. Hoje, que comida japonesa é super famosa. Naquela época, não era e a gente não comia sushi de salmão e atum, era sushi tradicional, eram pratos tradicionais, então eu não gostava muito não. Sempre tinha um arroz, frango, salada, que era o que eu comia. Talvez, a memória mais forte pra mim de comida seja mais com a minha mãe, que é nutricionista e cozinha muito bem do que efetivamente, na casa dos meus avós, assim, lá a comida era realmente bem simples, a comida assim, não tinha nada de especial.
P/1 – Qual que é o nome dos seus pais?
R – Minha mãe chama Mitiko Sakaki Kanamaru e o meu pai chama Takaki Kanamaru. Mas eles têm o nome em português também, minha mãe é Regina e o meu pai é Paulo.
P/1 – É registrado no nome, mesmo, ou…?
R – Eles têm o nome japonês e o nome de certidão de nascimento, depois que eles foram batizados na igreja católica receberam um nome ocidental cada um.
P/1 – E como que eles se conheceram, você sabe?
R – Eu não sei, eu não sei, mas coincidentemente esse ano, 2014, meu pai esta fazendo 80 anos e eles estão fazendo bodas de ouro, 50 anos de casado esse ano.
P/1 – Ah é? Vai ter festão? Comemoração?
R – Vai ter festão e os filhos têm que organizar.
P/1 – O quê que o seu pai fazia e a sua mãe?
R – Meu pai trabalhava como contador no Itaú trabalhou lá a vida inteira e a minha mãe trabalhava como nutricionista na Klabin, ela cuidava da cozinha industrial da planta de embalagens, que ficava aqui em São Paulo, na Vila Anastácio.
P/1 – Você é filho único?
R – Não. Eu tenho um irmão mais velho.
P/1 – É quanto tempo de diferença?
R – Meu irmão mais velho, o Helder, ele é nove anos mais velho do que eu. Então, eu sou temporão.
P/1 – Teve uma fase de brincadeiras? Ele brincava de carrinhos, como é que era com você?
R – Não, teve uma fase que a gente brigava mesmo, a gente não brincava, a gente brigava muito, mas é porque menino... Nós jogávamos muita bola junto, os dois, principalmente, no corredor de casa, assim, com bola de meia, mas depois de um tempo assim, na fase meio adolescente minha e dele, a gente fica muito distante, porque os interesses são muito diferentes. Hoje em dia que nós dois somos mais adultos, a gente é muito próximo, até porque também meus pais já estão com certa idade, então, a gente se ajuda muito pra também cuidar deles, isso é bem importante e de certa maneira, também nos aproximou nesses últimos anos.
P/1 – Tem algum bairro que vocês ficaram sempre, passaram a infância? Foi sempre aqui em São Paulo?
R – Desde quando eu lembro a gente sempre morou na zona oeste. Minha primeira casa que eu lembro é lá na Rua Dardanellos, perto do Parque Vila Lobos. Depois disso, a gente foi morar na Ponta Porã, na Cerro Corá, então sempre foi ali pelo lado do Alto de Pinheiros, Alto da Lapa. E ai, hoje meus pais moram na Vila Romana. Eu morei lá e cresci lá muito tempo e de lá, eu sai pra morar sozinho. Mas a gente basicamente cresceu nessa região.
P/1 – Conta um pouquinho como é que era a escola, era perto, a mãe que levava?
R – Não.Naquele tempo, você fazia as coisas meio sozinho. Quando eu era muito menorzinho, ia de perua pra escola, mas já morando na casa que hoje moram os meus pais, eu ia de ônibus pra escola e voltava de ônibus. Então, era meio independente já, depois de uns 11 anos assim, ia sozinho e voltava sozinho. E eu estudava no Colégio Bandeirantes, no Paraíso. Então, era bem longe, eu dormia tirava ótimos sonos no ônibus de manhã e na hora do almoço, pra voltar pra casa.
P/1 – E quando vocês voltavam quem ficava com vocês em casa?
R – Olha, a gente ficava muito tempo só com a empregada. Então, já meio que sabia o que tinha que fazer também, chegava em casa, almoçava, fazia a lição de casa – entre parênteses (risos) – assistia uma boa de uma TV, ai depois, fazia a lição de casa correndo e ai, no final do dia, meus pais chegavam, a gente jantava e depois, ficávamos todos juntos assim, na sala, ou assistindo TV ou fazendo alguma coisa. Mas, eu ficava, basicamente, sozinho e brincava com os meus amigos na rua, ou no prédio, depois eu fui morar em prédio. E ai, você tem aquele grupo de amigos do prédio, com quem você vive, praticamente, todo o período não escolar, porque no prédio você tem quadra de futebol, tem piscina, tem essas coisas, então era basicamente o meu grupo de amigos naquela época.
P/1 – Você foi para o Bandeirantes na adolescência, já?
R – Eu entrei no Bandeirantes quando eu tava na oitava série, já na adolescência. E ai, antes disso, eu estudei num colégio menor, que chamava Colégio Angélica, que ficava lá na Vila Leopoldina.
P/1 – E algum professor especial da Angélica, amigos?
R – Olha, você sabe que é bem curioso assim, na Angélica, eu tive ótimos amigos, mas nenhuma dessas amizades se estendeu depois. Já no Bandeirantes, que foi uma fase bem difícil, porque na oitava série, você já entra quase num período pré-vestibular e a tensão do teste do vestibular já começa e é muito forte dentro do colégio como um todo, dentro do Bandeirantes. Mas eu tenho ótimas amizades desse período, assim, alguns amigos que eu ainda reencontro, um pouco menos e tal, porque hoje em dia é mais difícil, mas tem uma amigona minha, que eu reencontrei depois de alguns anos, a Vanessa, foi muito legal reencontrar, a gente fez um encontro de amigos da época do colégio, mais ou menos, dez, quinze anos depois de formados, que foi a coisa mais assustadora do mundo, porque você revê seus amigos que eram totalmente diferente de quando você estudava, todo mundo envelheceu, mas foi muito legal. Alguns já com filhos, amigos da época do colégio com filhos entrando na faculdade. Isso é um pouco chocante até (risos).
P/1 – É! E professores, matérias que você já gostava que tinha interesse?
R – Eu gostava muito das matérias de exatas, tinha um professor que era o Mané, de Aritmética, eu gostava muito, porque ele era muito metódico e tinha uma letra super bonita no quadro a lousa dele era perfeita. Isso eu gostava muito assim, porque já lá no colégio, eu comecei a me interessar e comecei a pensar em prestar Arquitetura. Então, também fazia aula de linguagem arquitetônica, de desenho. Eu prestava muita atenção na letra dele. História era uma professora, a Cilinha, que eu adorava, a matéria era muito difícil pra mim, eu começava a ler, começava me dar sono, era uma desgraça. E tem uma professora que na verdade, foi uma professora com quem eu tive os maiores problemas, chamava Maria Odete. Ela era professora de Literatura Brasileira, e eu tive algumas discussões com ela em sala de aula, enfim, mas no final, ela foi uma das minhas melhores professoras, assim, eu aprendi muito com ela e aprendi também que às vezes, a gente precisa ser um pouquinho mais tranqüilo na hora de lidar com os desafios, que são mesmo, o ambiente da escola pra quem é adolescente, às vezes, é muito complicado, em um colégio que nem o Bandeirantes, que super testa muito os seus limites, a sua capacidade, então, ela foi daqueles professores que você sabe que você sofre, mas depois de muito tempo, você olha pra trás e fala assim: “Puxa, aprendi muito com ela”. Então, ela é uma dessas pessoas importantes também.
P/1 – Você que escolheu o Bandeirantes?
R – Minha mãe que escolheu. É que o meu irmão estudou lá, e foi um discurso que os meus pais sempre tiveram que era muito importante a Educação para os filhos, então, eles faziam de tudo e a gente tinha até algumas restrições assim, do dia a dia, de lazer, para justamente, poder estudar num colégio melhor, o Bandeirantes é um colégio caro, então, por isso mesmo, assim, ela fazia muita questão que a gente estudasse num colégio muito bom para fazer uma faculdade muito boa e para ter uma perspectiva boa de vida, mais prospera de vida, ter mais oportunidade de trabalho. Então, isso era um requisito muito forte, muito explícito dentro da minha família.
P/1 – Dai você ficou lá até o…?
R – Até o terceiro ano, até o final do colegial.
P/1 – Você falou que já tinha interesse em Arquitetura, quando que vem esse desejo?
R – Eu tinha um interesse pelo desenho, eu gostava muito de desenhar, desde pequeno, eu desenhava muito e ai, eu coloquei na cabeça que eu queria prestar Publicidade, mas eu tinha muito medo do vestibular para Publicidade, porque ele é muito competitivo, muitas pessoas por vaga. E ai, um dia, andando com o meu irmão, ele tava me dando uma carona de volta pra casa, ele perguntou: “E ai, você vai prestar o que no vestibular?”, falei: “Queria prestar Publicidade, mas eu não sei. Eu não sei se eu sou tão criativo também, mas eu gosto muito de desenhar”, e ai ele comentou comigo, ele falou: “Puxa, eu tenho uma amiga que é arquiteta, por que você não presta Arquitetura?”, falei: “Ah, está bom, vou prestar Arquitetura”, e ai, no Bandeirantes, você tem aula de Linguagem Arquitetônica, tem uma prova de habilidade especifica que acontece no vestibular, além da prova normal, da segunda fase, você ainda faz uma prova de habilidade especifica. Comecei a fazer a aula, gostei. Mas eu só fui descobrir mesmo o que era Arquitetura na primeira semana de aula, que não é a semana dos bichos, a semana seguinte, que ai eu olhei e falei assim: “Nossa, era isso mesmo que eu queria fazer”, eu não tinha muita idéia, não, eu fui um pouco na intuição, um pouco às cegas, assim, mas no final, deu tudo certo.
P/1 – O quê que você gostava de desenhar?
R – Ah, como todo bom moleque, eu gostava de desenhar herói, bonequinho, carrinho, adorava ficar desenhando essas coisas de menino. Mas depois na faculdade assim, você abre a perspectiva para uma coisa completamente diferente. Eu cheguei a fazer aula de historia em quadrinhos, uma época, mas era mais uma coisa de adolescente mesmo, era fazer quadrinho.
P/1 – Era bom?
R – Não, não era muito bom, não. Eu gostava de desenhar, eu sabia desenhar bem em comparação as outras pessoas, que desenham hominhos com bolinha e palitinhos, eu sabia desenhar bem, eu sabia desenhar casinhas diferentes daquelas com triangulo e chaminé, mas pra você fazer, por exemplo, historia em quadrinhos, é outra realidade, muito difícil e eu tinha uma dificuldade tremenda assim de fazer o mesmo personagem três vezes na historia em quadrinhos. Então, as minhas historias em quadrinhos eram de um personagem só, sabe? E uma cena e acabou, porque se eu tiver que fazer o mesmo bonequinho de frente e de lado, não funcionava, nenhum ficava bom.
P/1 – Você desenha ainda?
R – Agora muito menos. Muito menos do que eu gostaria. De vez em quando, eu pego um rascunho e fico brincando um pouquinho, mas eu queria retomar isso até como lazer, assim, como hobby, sabe, ia ser uma coisa legal de fazer de novo.
P/1 – E conta como foi à faculdade, que vestibular que você prestou, como que foi essa tensão pré-vestibular, em casa, se todo mundo aceitou a sua escolha.
R – Aceitou. Eu acho que se eu não sabia direito o que era Arquitetura, meus pais, talvez, soubessem muito menos. Então, eles levaram numa boa assim, acho que o meu irmão também ajudou a vender um pouco a história para eles. Nunca fizeram nenhuma restrição com relação a eu prestar Arquitetura. E a faculdade em si, talvez eu tenha entrado no melhor curso que eu poderia pra forma com a qual eu tava preparado pra fazer faculdade. Eu digo isso porque se eu tivesse feito Arquitetura no Mackenzie, que é uma escola um pouco mais técnica, bastante voltada para edificações, eu talvez nem continuasse a faculdade, porque não era exatamente aquilo que eu queria. E ai, eu passei na USP [Universidade de São Paulo], eu fiz FAU [Faculdade de Arquitetura e Urbanismo]. E a verdade é que o curso de Arquitetura na FAU naquela época, ele era tão aberto, mas tão aberto, que você podia seguir qualquer coisa. Você podia ser Design Industrial, fazer Arquitetura, fazer Edificação, fazer Paisagismo. Eu acabei trabalhando bastante com design Gráfico naquela época. Então, foi muito importante para mim, ter tido essa oportunidade de experimentar vários tipos de linguagem em vários tipos de técnicas e poder, efetivamente, escolher uma com a qual eu me identificava mais, que era o Design Gráfico. Então, a FAU conta com uma estrutura, por exemplo, de gráfica, que pra mim, foi genial. Eu passava horas, dias na gráfica fazendo produção gráfica, junto com o pessoal da gráfica. Então, isso, todo esse contato pra mim, foi muito bacana. E se tivesse sido um curso mais fechado, eu acho que talvez, eu não encontrasse, efetivamente, aquilo que eu queria fazer. Isso você vai ver conforme eu for contando as coisas aqui, como elas foram acontecendo, de que tem na Arquitetura pra mim, uma base muito importante da forma como eu trabalho hoje, que é um trabalho voltado mais pra uma visão de projetos, estabelecer uma meta de trabalhar com parâmetros que são técnicos, mas também, não deixar de considerar os parâmetros subjetivos. Isso pra mim é Arquitetura e é isso que eu traduzo do meu curso de graduação para a forma com a qual eu trabalho hoje e com o que eu trabalho hoje.
P/1 – Mas por que o Design Gráfico?
R – Na época que eu fiz a faculdade, as tecnologias de computação gráfica, já eram bastante avançadas, as formas eram muito novas aqui no Brasil. Então, era um pouco da fase em que as pessoas faziam produção gráfica, design gráfico manualmente, cortando as coisas na mão, fazendo produção de fotolito na mão, e começou já a aparecer os primeiros computadores pessoais. E aquilo acho que me encantou também, a tecnologia tinha um pouco de responsabilidade nesse encantamento com o Design Gráfico. Eu gostava muito… eu sou muito visual, gosto muito de Artes Plásticas, eu gostava muito de ir a museus e ir ao cinema. Então, o Design Gráfico “caiu como uma luva”, pra mim. Arquitetura é uma das coisas mais bonitas que eu entendo hoje, admiro muito mais hoje do que na época que eu fazia faculdade, mas o Design Gráfico tinha uma coisa bem interessante pra mim de ser uma coisa bastante palpável, rápido, bem próximo, assim, bem atingível. E a Arquitetura em si, às vezes, parece uma coisa quase impossível, sabe, porque você vai fazer alguns projetos na sua vida e eu queria fazer muitos projetos, então, o Design Gráfico, acho que me atraiu também por isso, por ser uma coisa bem rápida e bem prática, assim, bem fácil de fazer.
P/1 – Você disse que trabalhou na gráfica, era um estágio?
R – Ah não! Na USP, você tem que aprender a se virar. Mas isso é um outro aprendizado que eu trouxe da universidade e principalmente da FAU e da USP. Eu me interessei por Design Gráfico, dai comecei a trabalhar com isso da forma mais simples possível, fazendo layouts, freqüentando as aulas seletivas de Design Gráfico dentro da grade da FAU e ai, naturalmente, você vai pesquisando, vai buscando mais sobre o assunto e descobre que tem uma gráfica ali do lado, onde os caras produzem livros, pôster, material fotográfico. Então, fui fazer cursos, alguns cursos eram gratuitos, como o de fotografia, eu conhecia o pessoal da gráfica e falava: “Estou ai, você precisa de ajuda?” “Ah, estou querendo fazer tal projeto, você me ensina?”, era meio assim, era tudo meio empírico, tudo meio na amizade, assim. Então, foi dai que eu comecei a trabalhar lá.
P/1 – E você chegou a se formar lá? Formou? Qual que era a tua visão? Você queria, já pensava no mercado de trabalho? O quê que você discutia?
R – Olha, não pensava muito que eu queria. Eu queria muito um estágio, que é, acho que todo universitário quer, tinha uma dificuldade, porque o curso da FAU era período integral, então, você dificilmente, consegue estágio, era bem complicado fazer isso, mas eu consegui trabalhar, eu consegui fazer um estágio a partir do terceiro, quarto ano de faculdade, no período da tarde até o comecinho da noite. Então, trabalhava das cinco até às oito horas da noite. Um estágio de Design Gráfico, assim eu engatei e fiquei um bom período trabalhando com Design Gráfico.
P/1 – Onde?
R – Eu trabalhei primeiro em um escritório de design, que se chamava “Meta Design”. Eles
faziam embalagem de remédio. Eu entrei lá como estagiário, aprendendo a fazer as coisas mais simples, mockup, pasta de apresentação e depois, comecei a fazer algumas peças já como assistente de arte e tudo mais. Mas foi muito legal também, porque você fazer embalagem de remédio é uma coisa super rigorosa, então, tem que ter muita disciplina pra fazer, você não pode errar, se você errar uma vírgula, você erra a formula de um remédio, de um miligrama pra dez. Então, tem que ter muita atenção no que faz, isso pra mim, também foi uma escola bastante importante.
P/1 – E você ficou quanto tempo?
R – Eu fiquei uns dois, três anos trabalhando lá. Depois, de lá, porque eu também aprendi a fazer computação gráfica, aprendi a ser um pouco autônomo no meu trabalho, eu aprendi a fazer bastante freelance também. Então, ai, eu trabalhava alguns projetos pontuais, já pegava alguns trabalhos mesmo pra fazer, com remuneração e tal.
P/1 – E você se encontrou nessa área de Design Gráfico, era isso que você queria fazer?
R – Até aquele momento, sim. Porque quando você começa a trabalhar logo depois da faculdade, tem um período em que você aprende muito, então, tudo é novo e tudo é muito bacana, porque você está aprendendo um monte de coisa nova. E ali, eu tava me encantando, tava achando tudo super legal. Então, de certa maneira, sim, era isso que eu queria seguir, assim, já tava até pensando em fazer um curso fora, uma pós-graduação em Design Gráfico, ir para outro patamar de profissão.
P/1 – E enquanto na faculdade, estágio, o quê que você fazia fora de trabalho, como que você costumava se divertir?
R – Ali dentro do campus, uma das coisas que todo mundo faz é ir muito para o centro poliesportivo. Então no verão era ir pra piscina mesmo e para os jogos de Arquitetura, que eram super legais. Arquitetura é um curso da área de humanas, então a gente ia pela diversão mesmo, todo mundo jogava todos os jogos, ganhar não era prioridade, prioridade era se divertir mesmo e conhecer mais gente, fazer amizade. Isso era muito legal. Mas a partir do segundo, terceiro ano da faculdade, eu me juntei a um grupo de alunos da faculdade que resolveu retomar uma revista que a FAU tinha criado há uns dez anos antes, chamava Revista Caramelo. Então, a gente retomou a produção dessa revista e ai, eu trabalhei junto com outros amigos da faculdade durante três, quatro anos em quase três edições da Revista Caramelo que era uma revista dos alunos da própria faculdade. Isso também foi muito legal pra eu exercitar e trabalhar as minhas habilidades de Design Gráfico, mas também me ajudou muito a entender editorial de revista, um pouco de administração de revista também, porque a gente fazia tudo, desde a produção editorial, produção gráfica, produção mesmo, corta, finaliza os materiais, vende, pega o dinheiro, pega o dinheiro para fazer outra revista. Então, isso foi também uma experiência muito bacana lá.
P/1 – Vocês escreviam sobre o quê?
R – Basicamente, sobre Arquitetura. Mas, na verdade, o que a revista propunha era alguma coisa um pouco diferente de uma revista técnica de Arquitetura. Então, olhava-se muito para o lado mais humano, mais subjetivo da Arquitetura. Quem era, por exemplo, uma das matérias que a gente fez era com Joaquim Cardoso, que era um engenheiro civil, que trabalhava com o Oscar Niemayer. “Esse cara deve ter coisas muito legais pra contar”, sabe? E de certa maneira, esse mesmo grupo editorial, porque éramos todos do mesmo ano da Arquitetura, era uma turma um pouco critica também, porque o arquiteto, muitas vezes, tem uma visão muito um pouco prepotente assim, em alguns sentidos, porque talvez precise mesmo e o que a gente queria como grupo era retomar um pouco o lado mais humano da Arquitetura. Era não esquecer que a Arquitetura, quando você faz um edifício, você não faz um edifício pra você, você faz um edifício para os outros. E para os outros é todas aquelas pessoas que vão passar na rua todos aqueles dias por um longo período de tempo vão ver o que a gente fez. Então, a coisa tem que ser muito menos egocêntrica e muito mais voltada para a comunidade. Esse grupo tinha essa mentalidade muito forte. Então, a gente trabalhava o editorial da revista sempre nesse sentido, sempre buscando qual é o lado mais subjetivo, mais humano da Arquitetura, as relações com as comunidades, onde você está presente, tirando um pouquinho do pedestal também, a própria Arquitetura colocando um pouco mais no chão.
P/1 –Você terminou o estagio e foi fazer freelancer e depois?
R – Ai, eu trabalhei um bom tempo como freelancer. Depois disso, eu comecei a me interessar por agência, queria trabalhar em agência. Falei: “Poxa, agência é bem mais legal, acho bacana” e eu cheguei a fazer alguns freelas assim, com algumas pessoas que trabalhavam em agência, ou diretor de criação ou redator. Pensei, “Poxa, acho que eu queria experimentar isso”, talvez fosse um retrocesso daquela minha idéia original antes da faculdade, de querer fazer Publicidade. É estranho porque naquela época eu tinha um entendimento também de que na agencia de publicidade, você tem um nível de produção e criação, que era muito superior ao que eu conseguiria fazer como freelancer. Eu digo mesmo até em produção de materiais, sabe, fazer um filme, sempre gostei muito de cinema, então, eu queria expandir um pouco mais isso, eu queria virar um diretor de arte, para poder fazer não só os impressos, mas também, poder fazer peças em vídeo. E ai, pinta uma oportunidade, eu deixei um currículo numa agência, fui trabalhar numa agência online, chamava “PopCom”, que era uma agência interativa, agência online do grupo “WBrasil”.
P/1 – Mas como é que foi? quais foram os seus primeiros trabalhos, como se desenvolveu lá dentro?
R – Eu cheguei no final da fase áurea da internet.T tinha isso também, como freelancer, eu desenvolvia o material gráfico para os meus clientes, cartão de visita, logomarca, papel carta, desenvolvia também websites, que eu aprendi a fazer autônomo, assim, comecei a aprender o básico de programação e comecei a montar, porque os meus clientes precisavam disso. E ai, quando eu fui na agência, tinha o básico do básico desses conhecimentos, mas tinha as habilidades com os aplicativos gráfico como Illustrator, Freehand, Photoshop. No começo foi um pouco difícil porque eu não sabia trabalhar nesse nível de proficiência e especialização que uma agência tem, mas também foi muito legal, porque eu aprendi, comecei a aprender muito rápido, a usar as ferramentas em um nível muito mais profissional. Os primeiros trabalhos que eu comecei a pegar já eram de um outro nível, a agência “PopCom”, como tinha alguns clientes como “Unibanco AIG”, a “Lew Lara” era agência do grupo também, então, eu pude trabalhar com um outro patamar de clientes que pra mim foi muito legal. No geral assim, eu trabalhei com “Schincariol”, trabalhei com a própria “WBrasil”, “Café Aprendiz”, na Vila Madalena, a gente fez o site todo deles, puxa, tem uma pancada assim de clientes que foi muito bacana, assim, Folha de São Paulo, Mas era isso, tinha um grupo de clientes muito bom, que era o portfólio da agência mesmo.
P/1 – E você acabou saindo de lá? Você que abandonou?
R - Trabalhei lá durante uns bons anos assim, foram anos bem divertidos naquele clima de agência: você chega tarde, você demora pra almoçar mais você vai embora lá no começo da noite. E isso era muito legal quando você é mais novo, e ai, num dos projetos que eu tava e ai, nesse projeto, eu já tava como diretor de arte, esse foi um dos projetos importantes da agência, eu fiz todo o material digital da Schincariol, que na época, estava lançando a Nova Schin e a gente foi para o cliente fazer a apresentação. Como eu era diretor de arte, normalmente, eu não ia, dessa vez eu fui. Estávamos lá no auditório da Schincariol, a diretora de contas começa a fazer a apresentação, eu ali só para dar o suporte e desceu o diretor de marketing da Schincariol para aprovar as peças, ele começou a olhar as pecas e falou assim: “Cara, aumenta esse logo, aumenta esse produto, eu quero mais produto” e eu comecei a ficar um pouco indignado, assim, devo confessar, porque eu fiz todo aquele layout clean, com espaços e respiros, estudei a paleta de cores, fiz um tremendo de um projeto bacana, do ponto de vista de direção de arte e o que ele tava me trazendo era uma perspectiva do ponto de vista de varejo. Eu falei assim: “Tem alguma coisa legal ai, quero trabalhar em marketing, porque eu quero entender quais são os parâmetros e por que esse cara está tomando essas decisões, que primeiro, estão acabando com o meu layout, mas segundo, ele tem um porque’. E é muito curioso que quando ele desceu para o auditório primeiro, que o cara chegou atrasado e ai, o cara desceu com uma cara assim, super cansado, meio descabelado, eu achei aquilo bem curioso, eu falei: ‘puxa, o cara deve ter uma demanda de trabalho, deve ser um estresse de trabalho muito grande’. E ai, eu fiquei muito interessado em pensar, em conhecer o lado do cliente: ‘quero trabalhar em empresa, quero trabalhar em marketing’. Até então, não tinha idéia do que era trabalhar numa empresa na área de marketing, mas dali me despertou esse interesse. E ai, eu comecei a buscar os caminhos pra tentar fazer isso e quando eu tava na PopCom, pintou a oportunidade de vir trabalhar na Nestlé, porque na época, a Nestlé estava implementando um projeto de tecnologia mundialmente, precisava de alguém que falasse inglês fluente, precisava de alguém que soubesse produzir materiais gráficos, então foi a junção de tudo o que eu tinha como experiência até aquele momento, eu sabia fazer tanto digital, como off-line, fazer mesmo a criação e a produção e a Nestlé, ela precisava disso porque ela tava tendo muita dificuldade, o grupo de implementação tava tendo muita dificuldade para encontrar uma agência que entendesse a linguagem técnica da solução de tecnologia, ao mesmo tempo, entendesse um pouco a cultura da empresa e que também soubesse fazer o material. No final, eu virei uma agência in house aqui dentro. Então, eu ajudava a produzir Wobbler,Banner, Lama, esses Totens Lama também, eu ajudei a produzir meio que todos esses materiais aqui dentro.
P/1 – Você lembra quando foi isso?
Eu estou na Samsung há um ano, eu sai da Nestlé em 2012, com nove anos, então foi 2003. Dois mil e três quando eu entrei aqui. Eu tinha uma amiga que trabalhava aqui, e ai, ela trabalhava nesse grupo de implementação, de transição e ai, ela falou: “Puxa, a gente tá precisando de alguém aqui que saiba fazer produção gráfica, que fale inglês fluente e que possa ajudar a gente a fazer a produzir esses materiais”, vim, fiz a entrevista e ai, fui chamado, foi bem assim, uma indicação interna, mas passei por todo o processo de recursos humanos para a seleção.
P/1 – E ai que você começou a fazer os banners e tal, é isso?
R – Isso, isso. Exatamente.
P/1 – Conta um pouquinho como é que foi seus desafios, chegar numa empresa...
R – Foi no dia que eu vim fazer entrevista, eu vim com o único terno que eu tinha porque eu trabalhava em agencia. Quem que usa terno em agencia? Ou é o cara do TI, ou é o diretor de atendimento. Eu não tinha terno, então, eu vim a primeira vez de terno, o mesmo terno do batizado, do casamento, da formatura, era aquele. Eu vim. Até tem uma historia engraçada assim, porque eles estavam com muita pressa pra recrutar, eu fiz a entrevista num dia, acho que não deu uma semana, o RH me ligou e falou assim: “Helvio, eu preciso que você venha fazer outra entrevista aqui, mais protocolar, mas eu preciso que você venha hoje” “Cara, não dá assim, estou na agencia” “Pode vir no final do dia, não tem problema”, falei: “Não, tudo bem, mas é que eu estou com roupa de agência, assim, eu não trabalho de terno e gravata” “Não, não tem problema. Só vem aqui pra gente assinar uns papeis”. Dai, eu cheguei aqui de tênis vermelho, calca jeans e jaqueta da Jamaica da Puma. Você imagina o quê que o RH pensou... na época, tinha que trabalhar de terno e gravata aqui, todos os dias, isso foi um choque, mas foi divertido, também assim, porque tudo aquilo lá era novo, eu não sabia dar nó de gravata, então…
P/1 – Tem que trocar o guarda-roupa todo…
R – Todinho
P/1 – Comprar sapato.
R – Comprar sapato, nossa, foi um inferno, mas foi legal, isso que foi muito bacana. E outro ponto foi estar efetivamente dentro de uma grande empresa. Inegavelmente, a gente conhece a Nestlé como consumidor, sabe que ela é uma empresa enorme, gigante, você conhece há muito tempo, por conta dos produtos, e da historia que ela cria junto com o consumidor há mais de 90 anos, então, isso foi muito legal também, profissionalmente falando, pra mim, vir trabalhar na Nestlé foi um salto muito grande, muito importante na minha carreira profissional.
P/1 – Mas nesse primeiro momento, alguém te orientava? O quê que você tinha que fazer?
R – Todo mundo me orientava o tempo todo, porque era completamente diferente. Então, o começo foi muito bacana, porque eu tive a oportunidade de trabalhar com pessoas muito legais. Tinha, na época, uma gestora, a Olga, que era suíça, vinha de empresas de consultoria e já estava na Nestlé há alguns anos, então, ela soube fazer a minha transição muito bem, tanto me distribuindo as tarefas e os aprendizados de uma maneira bem consistente, bem paulatina, assim, sem muita… sem muito espanto, sem muito… sem muita forçação de barra e ao mesmo tempo, também, sabendo me puxar pra entrar de vez na cultura corporativa que era um pouco diferente. Então, assim, ela centralizava muito, ela organizava muito bem as reuniões e eu tinha muito claro no meu dia a dia o quê que eu tinha que fazer. Como eu vinha com as habilidades gráficas, isso pra eles, também, foi muito valioso no começo, até na apreciação do meu trabalho, se antigamente eles passavam um job pra agência e demorava uma semana pra fazer, ela passava pra mim e eu fazia na hora e estava pronto. Então, isso pra eles também foi muito legal, assim. Foi muito bacana.
P/1 – O quê que você fazia, exatamente?
R – No começo todas as iniciativas que a Nestlé tinha que eram globais, eu ajudava a fazer o material de comunicação. Então, comunicação mesmo pros escritórios, pras fábricas. Fazia banner, fazia e-mail marketing, fazia newsletters do nosso grupo de trabalho, do projeto, o Projeto Globe, fazia materiais de treinamento também, muitas vezes, o kit de treinamento que vai ser levado para uma fábrica, recebia todo material técnico e fazia um layout, numa pasta bacana e ai, passava isso para os outros países produzirem, para usar um material mais consistente. E esse projeto, o Projeto Globe, ele foi a implementação da solução de SAP da Nestlé, então, a cada país e eu tava dentro do escritório regional pra América Latina, conforme cada país ia fazendo as suas implementações, a gente chamava isso de “Go Live”, então, tinha uma festa, um dia de comemoração, que aquele dia, aquela unidade da Nestlé ia passar a utilizar o sistema integralmente. Então esse dia do Go Live era um dia de celebração, a gente produzia muito vídeo aqui dentro mesmo de casa, de mensagens dos diretores e dos gestores da Nestlé e do projeto em si para os mercados participantes: pro México, pro Chile, pro Canadá, pros Estados Unidos. E ai a gente fazia essa produção também, produção de vídeo, produção dos materiais celebrativos que eles iam usar lá no mercado, quando tivesse essa implementação. Era muita produção gráfica mesmo, produção de comunicação.
P/1 – Explica pra gente o quê que é SAP, Projeto Globe (risos).
R – Eu vou explicar, entrei em 2003, em mais ou menos, em 2000, a Nestlé, ela já conhecia algumas soluções que se chamam ERP, são plataformas, são softwares, aplicativos, que eles integram toda a produção da empresa, desde a fábrica onde você tira o pedido pra venda, até a hora que você manda produzir e a hora que você recebe o dinheiro. Essas soluções e SAP é uma marca, é uma das empresas que têm essa solução, foram adotadas pela Nestlé globalmente, a partir de 2000, mais ou menos e ai, mundialmente, começou-se a fazer a implementação dessas soluções em toda Nestlé de todo o mundo. Basicamente, o que eles queriam com isso era ter todos os sistemas da empresa alinhados, de forma que você pudesse entender como está operação da empresa num determinado momento. Então, a gente usava um exemplo muito simples, até aquele momento, era difícil para os gestores e os diretores da Nestlé na Suíça, saberem quanto que se vendia de Kit Kat no mundo, porque o produto em si, tinha um SKU, um código individual, um Stock Keep Unit, cada um tinha um numero em cada país diferente. Então, perdia-se muito tempo para se consolidar essas informações e isso de certa maneira preocupava o diretivo da Nestlé, porque também demonstrava que não tinha muita consistência até mesmo na formula dos produtos. Hoje em dia as barreiras praticamente não existem geograficamente. Então, eles tinham uma preocupação que o “Kit Kat” que você comeu na Inglaterra fosse o mesmo “Kit Kat” que você come no Brasil e na Alemanha e no Japão, com pequenas diferenças para cada local, para cada país e cada comunidade, mas que eles tivessem uma cara e ajudassem a construir uma marca maior que era da Nestlé. Então, a partir disso, a Nestlé fez um projeto enorme de pesquisa e optou pela solução SAP, que era uma solução mais completa para colocar toda a sua produção dentro desse sistema. Então, o Projeto Globe foi exatamente esse projeto, um alinhamento, a harmonização de toda infraestrutura tecnológica e sistemas de processo produtivo de vendas e de operação da Nestlé no mundo todo. Não era só TI, mas eram também, processos de negócios.
P/1 – E ai, quando você entra está nesse momento ainda de transição pra entrar nesse projeto novo?
R – Exatamente. Eu trabalhei especificamente no time que se chamava Implementation Support, que é Suporte de Implementação. Então, em cada país da América Latina, você tinha uma equipe própria do Projeto Globe fazendo implementação da solução em seu país e eu trabalhava num grupo que chamava Global Center AMS, que era o escritório regional do Projeto Globe para as Américas, para América Latina e América do Norte também.
P/1 – E você saiu dessa área por quê? Como é que foi essa transição, esse desenvolvimento?
R – Isso não era efetivamente o marketing que eu sempre quis e que eu queria quando eu sai da agência e que vim buscar aqui. Ao mesmo tempo, eu aprendi muito dentro do Projeto Globe, porque ele passa por todos os processos industriais e todos os processos operacionais da empresa. Então, eu sabia, pelos materiais, como eram alguns parâmetros de produção em fábrica, sem mesmo ter visitado um fábrica, era um conhecimento mais teórico, mas eu conhecia o procedimento da empresa e eu conhecia muito os processos de comunicação corporativa da Nestlé, porque a minha área era uma área de comunicação corporativa também. Bom, mas eu queria ir pra marketing e ai, quando você trabalha numa empresa que nem a Nestlé, que tem um monte de produto bacana, você fica sempre muito interessado, todo mundo quer trabalhar em marketing, ainda mais em marketing de empresas que têm produtos legais e famosos, como “Nescau”, “Neston”. Falei: “Ah, quero ir pra marketing”, isso é uma característica da Nestlé que é muito bacana, quando eu apresentei isso e normalmente, você faz a sua revisão de performance de trabalho com o seu gestor direto, eu sempre apontei que como carreira, como desenvolvimento pessoal eu queria ir para marketing. E a minha gerente, na época, Barb, que era canadense, a Barb, ela falou assim: “Puxa, acho bacana, mas você precisa construir um projeto pessoal seu pra conseguir fazer isso, não basta ter o desejo, você precisa apresentar também às ferramentas pra gente conseguir viabilizar isso”, e ela, minha gestora dentro do Projeto Globe, na área de comunicação, me ajudou a montar esse projeto também, pensando no meu desenvolvimento de carreira, então, se tem uma coisa muito clara aqui na Nestlé não é que você precisa ficar na área onde você tá, se você tiver interesse de mudar, a Nestlé vai te dar as ferramentas para isso, mas começa de um principio muito básico: é sua carreira, então, você precisa construir isso, a empresa vai te apoiar, ela não vai fazer isso por você. Então, eu tive a sorte enorme de ter tanto uma gestora direta que era a Barb, como um diretor regional do projeto Globe, que era o Rob Dyer e o Roberto Canton, que era aqui do Brasil, caras geniais que me apoiaram muito nesse processo e me incentivaram bastante a fazer essa mudança.
P/1 – Só repete o nome dos três pra mim, por favor.
R – É o Rob Dyer era o diretor do Globe Centre AMS, que ficava no Canadá e o Roberto Canton era o diretor do Globe Center AMS que ficava aqui em São Paulo, então, tinha o brasileiro Roberto Canton e o Rob Dyer no Canadá. A minha chefe chama Barb Flewwelling, ela trabalha na Nestlé do Canadá, em Toronto. Ela era minha chefe direta e eu ficava aqui em São Paulo, que a gente era um escritório regional e ai, a Barb, especialmente sempre me deu muito apoio pra essa transição. E ai, pensando comigo mesmo no meu processo de carreira, eu pensei: ‘puxa, se eu fizer uma pós-graduação em marketing, na ESPM, por exemplo, não sei se faz muito sentido, porque eu vim de uma escola de Arquitetura, a parte de comunicação da Nestlé, eu conhecia muito bem pelo tempo que eu trabalhei no Projeto Globe, a parte gráfica, de imagem e de criação eu já tinha da agência. A parte de comunicação e publicidade eu já tinha da experiência da agência. Eu pensei comigo mesmo: ‘poxa, acho que eu preciso aprender efetivamente, administração, porque eu sei que o profissional de marketing tem uma responsabilidade muito grande com o resultado do negócio da empresa. E ai, eu fui fazer uma pós graduação na GV e fiz um curso da Administração lá. Terminado esse curso, eu ainda continuava trabalhando no Projeto Globe. Ai fui conversar com o RH, eu disse: “Olha, eu já completei meu ciclo aqui no Globe, queria uma oportunidade em marketing. Ai, eles falaram assim: “Puxa, mas é difícil, porque você não tem experiência e tal”, e ai, isso é outra coisa que eu não sei se é exatamente da Nestlé, mas é alguma coisa de algumas pessoas que trabalham aqui dentro. A minha chefe, a Barb foi fazer um curso de Liderança na Suíça e lá, ela conheceu dois diretores brasileiros, que ficam baseados aqui em São Paulo. E quando ela voltou, ela falou assim pra mim: “Helvio, eu conheci dois diretores e falei com eles, manda um e-mail pra eles, porque eles vão abrir um horário na agenda pra conversar com você e fazer um coaching pra você de como você pode tentar dar segmento na sua carreira”. Genial, um baita de um suporte assim, que é super difícil de se ver em qualquer lugar. E ai, eu tive a oportunidade de conversar com o Marco Hidalgo, de Nestlé Health Science e com um diretor de Nespresso também, são dois diretores de alta gestão aqui dentro, que abriram a agenda pra conversar comigo, me deram insights, idéias muito legais e coisas muito bacanas pra eu tentar fazer mesmo essa mudança profissional. Uma delas que o Marco Hidalgo falou comigo foi… ele sempre foi me desafiando, ele falou: “Cara, mas está difícil de conseguir uma oportunidade, cria a oportunidade, faz ela acontecer”. E ai, muito empolgado assim, muito apoiado nos insights dele, eu fiz uma proposta aqui dentro, eu falei assim: “Olha, eu termino a minha pós-graduação e ai, eu vou estar com o meu tempo livre. Eu sei que é difícil uma vaga e tal, mas, cara, eu toparia, por exemplo, no tempo que eu estaria na faculdade, eu toparia ficar aqui mais um pouco e ajudar alguma área de marketing. Pra mim, ia ser uma ótima oportunidade pra aprender o que o marketing faz, como é que funciona a área, saber até mesmo se é isso mesmo que eu quero fazer e pra eles, é uma boa oportunidade também, porque é um par de mãos a mais ali pra ajudar e cara, topo fazer qualquer coisa: apresentação em Power Point, planilha no Excel, limpar troféu, o que vocês tiverem ai, eu topo fazer, mas pelo menos, eu estou dentro e conheço”. E foi ai que pintou a oportunidade de eu fazer uma missão em marketing e ai, eu trabalhei durante alguns meses, seis meses no marketing de Nescau. E assim a vida como a gente vê de fora e a vida como ela é, é muito diferente. A Nestlé é uma empresa que tem marcas muito estabelecidas, você não precisa comunicar sobre Nescau, todo mundo conhece Nescau. Então, não é o tipo de marketing que era exatamente o que eu tava buscando, um marketing mais voltado para a comunicação, um marketing mais voltado para vendas. No entanto em seis meses, tive a experiência, foi muito legal e participei de um projeto aqui que foi um projeto de promoção da Nestlé, em que todas as embalagens da Nestlé foram codificadas e no meu último dia nessa missão que eu fiz em marketing, eu mandei um e-mail pro gerente de marketing corporativo, falei assim: “André, a gente vai fazer essa promoção, está aqui o material que eu precisava entregar da unidade de Nescau, mas eu tava pensando aqui comigo que também a gente vai fazer essa promoção e o consumidor vai ter que guardar a embalagem. Depois que a promoção acabar, ele vai jogar essas embalagens fora e ele vai guardar muitas embalagens e isso talvez chame muita atenção, talvez não seja uma coisa muito legal pra companhia. E se a gente fizesse uma promoção de reciclagem, logo na seqüência que a gente vai fazer para vendas? “Alguma coisa simples: se o consumidor devolver as dez embalagens que ele guardar, ele ganha um cupom de desconto, alguma coisa assim”, só uma idéia, mandei o e-mail, último dia de missão de marketing, voltei lá para o meu cargo original. Bom, alguns meses depois pintou a vaga de responsabilidade social corporativa e ai, quando eu fui fazer a entrevista, lembrei na hora da entrevista dessa história, contei essa história pra, na época, gestora, Maria Helena Sato, que fez a minha entrevista, ela falou assim: “Helvio, na verdade, esse seu e-mail está aqui comigo, inclusive, se você passar no processo seletivo, esse é um dos projetos que eu gostaria que você tocasse”, falei: “Poxa, que bacana!”, às vezes, a gente planta uma sementinha lá, assim, como quem não quer nada e…
P/1 – Nem te responde na hora… (risos)
R – É… eu mandei o e-mail, juro, eu nem lembrava mais desse e-mail, porque poxa, eu tava no último dia da missão, eu tinha um monte de coisas pra fechar e esse era o grande projeto a ser fechado. Eu mandei esse e-mail assim, porque o tema… já na pós-graduação na FGV [Faculdade Getulio Vargas] me interessava e eu participei de um concurso na FGV, que era um concurso de marketing pra produto verde - produto mais ecologicamente responsável. E ai, eu já tava interessado pelo tema da sustentabilidade. E acabei mandando esse e-mail vamos lá estou a fim de ajudar. Coincidentemente, eu acho que esse foi um dos fatores que me ajudaram a vir, efetivamente, pra área de Responsabilidade Social Corporativa, que foi ai quando eu comecei o meu trabalho aqui na área da Fundação Nestlé e também, na área de Responsabilidade Social Corporativa dentro da área de Comunicação Corporativa que tem.
P/1 – Mas qual que era o seu cargo, o que você fazia exatamente?
R – Então, eu já vim pra área de Responsabilidade Social Corporativa como gerente de Responsabilidade Social Corporativa. Então, minha função era cuidar dos programas sociais da Nestlé, incluindo o Programa Nutrir.
P/1 – Então, para saber, quais eram?
R – Na época, a Nestlé tinha acabado de criar os três programas: o Nestlé Nutrir, o Nestlé Cuidar e o Nestlé Saber. Então, os três programas estavam sob gestão da Fundação Nestlé Brasil, além do Programa de Voluntariado. Minha responsabilidade era cuidar de todos esses programas e também, da administração da Fundação Nestlé Brasil.
P/1 – A Fundação tem uma gerencia, tem a sua equipe, e você que coordena essa equipe da Fundação, é isso?
R – Isso. Na verdade, a administração da Fundação, ela é feita pela área de Responsabilidade Social Corporativa. Nós não éramos contratados da Fundação, éramos contratados pela Nestlé Brasil e fazíamos o trabalho de gestão da Fundação.
P/1 – É outro fundo, outra renda, tudo, né?
R – A Fundação Nestlé Brasil é uma empresa própria, ela tem um CNPJ próprio, ela é uma Fundação com título público, então, ela tem certificação de utilidade pública pelo Ministério da Justiça e pelo Ministério Público, é uma operação super delicada, assim, não pode ter erros, porque qualquer tipo de erro, você é acionado pelo Ministério Público e a sua operação tem que ser integralmente dedicados à utilidade pública, não pode ter qualquer tipo de relação ou beneficio pra empresa, ele tem que ser um beneficio público.
P/1 – E como é que foi você saiu de um cargo que não era de gerencia, entrou numa área também que não era até então quais eram os desafios naquele momento?
R – Isso é muito curioso, quando eu fui fazer a missão em marketing, eu apanhei muito, porque eu trabalhava dentro de um grupo muito grande, então mesmo baseado aqui em São Paulo, eu tava num grupo de projeto, então é um grupo de consultores, na verdade. Você não tem uma responsabilidade direta com a operação, se vendeu mais ou menos, isso não era o nosso trabalho. Quando eu fui trabalhar em marketing de Nescau, ai você está dentro do negócio, o negócio é nervoso, o negócio é tenso. Então, você tem muita responsabilidade, ainda mais de um produto como o Nescau, que é um produto de grande visibilidade, de grande peso dentro do resultado da empresa, isso é muito importante. Então, é outra dinâmica. Mas, durante esse período que eu fiquei, fiz essa missão, eu aprendi muito e conheci muito da empresa, até porque eu também, eu tava ali pro tudo ou nada, então eu saía cutucando em tudo quanto é canto para descobrir como as coisas aconteciam. Conheci muita gente nesse período, quando eu fui efetivamente, para Responsabilidade Social Corporativa, eu já sabia como a empresa operava, eu tava um pouco mais tranqüilo com isso e o tema era um tema novo, mas ao mesmo tempo, ele precisava de uma pessoa, e precisava de uma contribuição, principalmente na área de administração da Fundação, porque no final, é como você tocar uma pequena empresa dentro de uma grande empresa. A minha função essencial era de administração e conforme eu fui conhecendo os programas, eu fui individualmente, de forma até autônoma também, conhecendo um pouco mais os temas dos programas. Então, ai, eu fui me integrar um pouco mais com nutrição, com alimentação saudável, com sustentabilidade, com o desenvolvimento rural então, eu mesmo fui também, abraçando um pouco, os temas. Ajudava muito, porque minha mãe era nutricionista e ela também, sempre tinha algumas lições aprendidas dentro de casa, então, mas nada muito técnico. Na verdade, aqui dentro da Nestlé, você tem muita gente técnica, bacana que conhece muito bem dos temas, então é só… talvez, o grande desafio é encontrá-las e abrir a oportunidade junto com elas de poder trabalhar em conjunto e construir algumas coisas novas, mas tem muito de uma busca individual mesmo também. Eu entrei com um primeiro intuito de arrumar um pouco a casa, de dar uma melhorada em alguns processos internos e fui, ao mesmo tempo, me integrando nos temas que a Fundação adota como bandeira de prática dos programas sociais que ela executa.
P/1 – Antes de a gente entrar mais em detalhes no Programa Nutrir, como é que foi pegar esse projeto, tudo, a área de Responsabilidade Social já existia aqui na Nestlé?
R – Já! Já existia.
P/1 – Você sabe contar um pouquinho da história, como que se desenvolveu?
R – A área de Responsabilidade Social Corporativa da Nestlé como área em si, eu não sei quando ela começou, mas os programas sociais da Nestlé começaram em 1999, com a instituição do Programa Nutrir, dentro do Programa de Voluntariado. Até um pouco antes, já havia algumas iniciativas bem interessantes dos funcionários, dos colaboradores e que tinha um suporte da área de Recursos Humanos. Mas, institucionalmente, de forma mais autônoma e consistente, a partir de 99, com a criação do Programa Nutrir e acho que talvez ali, a criação mesmo da área de Responsabilidade Social Corporativa. Então, já existia uma área assim, essa área cuidava de alguns projetos específicos, cuidava de projetos de Lei de Incentivo, tinha o programa de Voluntariado, tinha o Programa Nutrir, então, o Programa Nutrir, a partir do momento que eu entrei, e ele já era um programa já bastante desenvolvido.
P/1 – Que mudança você teve que fazer nesse momento? Você teve algum direcionamento dos diretores: “Olha, vai ter que ter corte, vai ter que mudar pessoas”, você tinha algum direcionamento assim, que você tinha que fazer, ou você também que foi vendo o que tinha que mudar? Como que foi isso?
R – Não, a abertura da vaga se deu pela saída da pessoa que estava antes no lugar, que era a Silvia [Zanotti]. Então, precisava substituir e ai, eu participei do Processo Seletivo. Naquele momento, o Programa Nutrir já rodava as suas atividades, tanto de consultoria, junto com escolas públicas, como também o programa de Voluntariado, já estava acontecendo. O Programa Cuidar, ele tinha, mais ou menos, um ou dois anos de idade e ai, na época, a Claudia Barreto, que cuidava do programa. Então, nesse sentido, foi um pouco recompor a equipe pra ajudar a coordenar as atividades e o mesmo tempo, eu me coloquei como desafio pessoal, como que a gente pode melhorar esses programas. Então, eu tinha que num primeiro momento, conhecer os programas, mas já com olhar um pouco até aproveitando a oportunidade de vir de fora, olhar com um olhar um pouco mais crítico, para ver como que a gente pode melhorar o programa. Então, os desafios eu acho que foram um pouco esses, no começo, assim, reestruturar, manter a operação rodando e buscar melhorias pra ficar cada vez mais eficiente, mais impactante também para o beneficiário final.
P/1 – Quando que você pega esse cargo, você lembra, mais ou menos?
R – Vamos fazer a contra regressa, de novo. Então, 2012, eu tava aqui, entrei em 2003, eu trabalhei durante três anos, 2008 ou 2009.
P/1 – E como que foi a aceitação do grupo, que sai uma pessoa, continuaram as mesmas, a base seria a mesma, como que eles te aceitaram, como que você também conquistou esse grupo?
R – Eu acho que no começo, é difícil pra todo mundo, assim, porque pra quem já está aqui, é difícil, vem uma pessoa de fora, você tem que se provar muito, você tem que mostrar o que já foi feito. Também, ao mesmo tempo, é uma oportunidade pra você levantar alguns pontos que você sempre quis levantar, mas que talvez, na gestão anterior não tivesse essa prioridade, eu acho que sempre é um momento muito bacana. Mas foi muito importante, assim, nesse momento específico da Fundação e dos programas sociais, a equipe era muito boa. A Claudia sempre foi uma ótima profissional, ela não… nunca criou nenhuma barreira muito grande, teve sim, seus desafios, assim como eu também tive todo mundo tem, é uma mudança. Então, sempre gera aquele tanto de desconforto de todo mundo. Mas eu acho que no final, muito rapidamente, a gente se entendeu e ai, quando as pessoas se entendem, a equipe se fecha, a gente conseguiu desenvolver muito rápido assim, a gente conseguiu muito rapidamente reagir e já começar a fazer as coisas mudarem de uma maneira mais bacana, assim, que sem nenhum grande problema pra ninguém.
P/1 – Na prática, assim, você lembra o quê que você deixou igual, o quê que foi que você já mudou logo de cara, você lembra?
R – Eu acho que talvez uma das coisas que eu pude fazer uma contribuição era no sentido de organização e processos internos, assim. Cada uma das pessoas que trabalhavam na área, naquele momento, elas conheciam muito bem como os programas aconteciam e a forma como as coisas andavam, mas eu batia muito na tecla de que isso era excelente, mas outras pessoas precisam saber, porque independente de qualquer coisa, se amanhã ou depois, a gente está em alguma outra área, tiver outra oportunidade, isso aqui tem que continuar rodando independente da nossa vontade. Então, acho que talvez, no primeiro ano, no começo, foi um processo mesmo de construção dessa operação de forma mais sistemática e que precisava ser feito, até porque a gente tava até então, você tinha um programa que de repente viraram três e que precisavam os outros dois precisavam começar a ganhar a mesma força que o programa original, então na prática, você tinha o Nutrir que acontecia desde 1999 junto com o Programa de Voluntariado, você tinha o Cuidar que tinha dois anos e o Saber que precisava ser criado. Então, era preciso ter um pouco mais de consistência nessa operação para que esse mesmo grupo pudesse alavancar a operação desses três programas, de forma com que a gente não se matasse pra conseguir fazer tudo isso, e conseguisse, realmente mesmo, fazer com que cada um deles tivesse a sua operação própria e que a gente conseguisse manter a operação disso, a execução desses programas de forma excelente. Então, esse era o objetivo inicial mesmo. Acho que nos três, quatro anos em que eu fiquei trabalhando nessa área, foi possível começar a construir algumas dessas coisas, assim, trazer mais processualidade um pouquinho mais de eficiência e eficácia um pouco nas operações. Isso era um discurso corporativo da Nestlé que era muito importante, tinha uma frase aqui interna que chamava que dizia que a gente tinha que ter excelência operacional, porque uma empresa de alimentos e bebidas, ela não pode… um erro pra ela custa muito caro, isso é um produto que é um alimento que vai para o consumidor, que consome isso, você não pode se dar esse luxo de se cometer um erro de produção. Então, eu meio que trouxe também essa mentalidade de dentro das linhas produtivas pra área corporativa: “Puxa, a gente tem que ter excelência operacional, porque a gente está lidando com problemas sociais, qualquer falha, qualquer erro que a gente cometa aqui é justificável? Ele é, mas ele no final vai ter um impacto não só pra gente, mas pras pessoas que estão lá na ponta, que vão receber esse programa, que vão transmitir ou retransmitir esse programa pra frente.
P/1 – Era uma preocupação também que vinha da diretoria? Como é que era essa relação, você tendo que dialogar com a fundação e com a Nestlé, como era duas empresas seria?
R – Essa idéia e o objetivo estratégico da gente poder fazer isso naquele momento, ele tinha total apoio tanto da gestão da Nestlé e da Fundação, porque isso tava muito dentro da cultura própria da Nestlé e também se entendeu que naquele momento, a Fundação já tinha dado um solto bastante grande, o Programa Nutrir, naquela época, já tava com números muito representativos, de capacitações feitas em escolas públicas, de execuções de Programa de Voluntariado em quase todas as unidades da Nestlé no Brasil, naquele momento. Então, realmente precisava ser feito isso. Eu acho que nesse sentido, teve todo o apoio que foi preciso dos diretores e da alta gestão da Nestlé, naquele momento. Tinha que ser feito, a verdade era essa.
P/1 – Pra gente tentar resumir, qual foi o diferencial da tua gestão, pensando quando você entrou até quando você saiu, como que foram essas mudanças antes e depois? É que você falou que entrou em 2008 e saiu em 2012, quais foram os grandes marcos ai?
R – Eu posso te contar isso de algumas maneiras, assim. Da parte mais processual e da área, então, até o período em que eu saio, a gente colocou o Programa Saber pra rodar, ele era um programa que ele era mais difícil, o tema dele é desenvolvimento rural, então a gente começou a criar durante esse período que eu tive à frente da área, a gente fez um exercício muito grande também na fase dois… deixa eu te contar essa história diferente. Logo que eu cheguei, tinha que fazer isso, tinha que dar um pouco mais de excelência de operação pra conseguir escalar essa operação. No ano seguinte, foi o momento da gente revisar um pouco as estratégias, então a gente fez um trabalho muito bem de estudo dos três temas: nutrição, água e desenvolvimento rural, pra entender para que lado cada um desses programas, o Nestlé Nutrir, o Nestlé Criar e o Nestlé Saber ia e quais eram as áreas de interação entre eles, porque tinha muito isso. Ao mesmo tempo, tinha uma demanda da empresa da gente criar uma cultura e realmente, firmar a criação de valor compartilhado como um tema proprietário da Nestlé e você têm muitas iniciativas de CSV que já acontecem dentro da empresa e que precisavam ser alinhadas. Então, a Fundação toma o papel do braço social de CSV, mais voltado para o cunho social e ao mesmo tempo, a gente, como área, também buscava dentro da operação da empresa como eram executados os programas e os projetos atrelados aos pilares de nutrição, água e desenvolvimento rural, que fomentavam, que davam vida ao conceito de criação de valor compartilhado. Eu sei que eu estou complicando, mas eu vou simplificar agora, do ponto de vista da Fundação, a gente revisitou o Nutrir, a gente estudou, conversamos com outros formadores de opinião, da área de nutrição, da área médica, da área de saúde pra entender qual era o caminho que ele precisava tomar. A mesma coisa para o Cuidar e a mesma coisa pro Saber. Então, a partir daquele momento, o Nutrir ganhou uma vertente nova. Eu tinha dentro do Programa Nutrir, o Programa de voluntariado, desculpa, eu tinha dentro do Programa Nutrir, as capacitações em escolas públicas, com treinamento e capacitações voltadas para alimentação saudável. Eu tinha projetos de combate à obesidade infantil, que a gente firmou com o Instituto Fernanda Keller. Ai, eu tio falando não de uma ação preventiva, mas de uma ação reativa, de tratamento, eram programas em que a gente utilizava o triátlon… a atividade física intensa pra realmente, tentar corrigir um quadro de obesidade infantil em crianças de comunidades carentes de Niterói, tudo isso era liderado pelo Instituto Fernanda Keller e apoiado pela Nestlé. Então, era o nosso programa estrela, era quase uma área de desenvolvimento também. Dali, a gente tirava ótimos aprendizados muito mais técnicos, que a gente podia tentar escalar de uma maneira preventiva dentro dos programas de capacitação. Programa Cuidar fazia capacitações nas escolas também e o Programa Saber começou as suas capacitações em escolas também já é voltado pra comunidades rurais, com outra perspectiva. No Voluntariado, a gente fez um negócio hiper bacana, o Voluntariado era basicamente o Programa Nutrir. Então, na época, as atividades chamavam “folias culinárias”, com o crescimento do Programa Cuidar e da temática do o cuidado com a água, a gente incorporou o Cuidar dentro do Programa de Voluntariado e as atividades passaram a se chamar “Ecofolias Culinárias”, foi nesse momento que a gente integrou os dois programas e redistribuiu esse novo conceito para todos os grupos de voluntariados no Brasil. Então, nesse segundo ano, depois de ter feito um trabalho mais voltado para a excelência da operação da própria Fundação, a gente começou a fazer algumas adaptações e revisões dos próprios programas. No trabalho voluntário, especificamente, até então, as atividades eram chamadas de “folias culinárias”, e ai, como o Programa Cuidar começou a ganhar mais corpo e mais extensão, a gente integrou o Programa Cuidar ao Programa Nutrir, dentro da temática do voluntariado e as atividades passaram a se chamar “ecofolias culinárias”, ótimo nome criado pelo nosso consultor, o Adelsim, que é um cara fantástico, que são pessoas que são muito, muito responsáveis pelo conceito e pela qualidade e excelência desse programa, a Rosana, o Adelsim, a Vivi, a Gabi, o Roque, esses nosso consultores, que eram consultores da Fundação e que ajudaram a criar o Programa Voluntariado são pessoas fantásticas, assim, que colocaram o patamar do trabalho voluntario da Nestlé num outro nível, todo voluntario Nestlé sabe exatamente o que ele precisa fazer, não só em termos de atividade de operação, mas também em termos de conceito, o que é você ir lá e fazer um trabalho voluntário, de qualidade, com bastante entrega pras crianças. Isso é muita responsabilidade deles também.
P/1 – E o Programa Nutrir nessa “ecofolia”, eu não entendi direito. Juntou com o voluntariado?
R – Já!
P/1 – Então!
R – Essa era uma informação também, foi uma das coisas importantes que a gente trabalhou nesse período, porque quando você falava em Fundação, os colaboradores reconheciam o trabalho voluntário e o Nutrir como representantes da Fundação. Mas as pessoas não sabiam dissociar direto o quê que era o Nutrir. Falava assim: “O Nutrir, o programa pras crianças” “Mas qual programa pras crianças?”, e até aquele momento, Nutrir já tinha duas operações muito distintas, uma delas era a capacitação de professores e merendeiras em escolas públicas que eram feitas por consultores, uma nutricionista e um educador, um brincante que iam lá e faziam uma formação com a rede pública de ensino. Isso era uma coisa que era o Programa Nutrir. O Programa Nutrir, ele nasceu do trabalho voluntario, então, ele também é o trabalho voluntário. Na forma com a qual a gente começou a fazer a comunicação, a gente começou a mostrar para as pessoas que tinham diferenças, porque a informação não tava muito clara pra elas, elas não conheciam isso com detalhes. Então, olha, o Programa Nutrir até aquele momento tem duas operações importantes, uma é o Programa de Voluntariado, que tem execução, os temas, são as folias culinárias, todo voltado para os grupos alimentares e o outro, a capacitação de merendeiras e professores de escolas públicas, então essa comunicação também foi um dos objetivos que a gente tinha até aquele momento, melhorar, dar mais acuracidade à informação, que tava chegando pras pessoas.
P/1 – Quais pessoas?
R – Os colaboradores da Nestlé. Os colaboradores são parte integral do resultado dos programas sociais da Fundação, porque eles doam dinheiro para a Fundação, então eles são também, patrocinadores desses programas e isso foi um processo que a gente iniciou também de começar abrir mais as portas da Fundação para mostrar como as coisas acontecem apresentar os números e desafios dos temas que a Fundação Nestlé do Brasil aborda, quando a gente fala de alimentação saudável e nutrição, parece uma coisa muito óbvia aqui dentro da Nestlé, mas na verdade, o que o programa social faz? O Programa Nutrir, seja na capacitação, ou seja, no voluntariado, é discutir junto com comunidades carentes qual é a melhor forma de alimentação que elas podem buscar com os recursos que elas têm. Então, não é assim, não é de nenhuma maneira qualquer tipo de ação corporativa institucional da empresa Nestlé, é um programa de cunho social mesmo, integralmente e isso é financiado pelos colaboradores e é cofinanciado pela empresa. Então, até aquele momento, cada um real doado pelo funcionário, pelo colaborador, a Nestlé doava dois. Esses três reais iam para Fundação, esse dinheiro era utilizado na execução dos programas sociais da Fundação.
P/1 – Mas por que da troca do nome de folia pra ecofolia?
R – Então, com o advento da a adoção da estratégia mundial de criação de valor compartilhado, que a Nestlé Brasil foi muito pioneira nesse sentido, porque o grupo Nestlé adotou uma estratégia mundial que se chama Criação de Valor Compartilhado, estabeleceu três pilares fundamentais: nutrição, água e desenvolvimento rural e a Fundação Nestlé Brasil já tinha operação nesses três pilares: o Nutrir, o Cuidar e o Saber. Nesse sentido, esses programas começaram a ganhar mais força e ai, tinha uma necessidade o Cuidar e o tema da responsabilidade… desculpa o Programa Nestlé Cuidar e o tema de sustentabilidade ambiental já eram muito fortes, eram temas muito fortes naquele momento na sociedade como um todo. Então, sentia-se muita necessidade de ter um trabalho voluntario também voltado para a sustentabilidade ambiental e ai, o que a gente decidiu com o grupo era que ao invés de eu criar outro grupo voluntariado, vamos juntar os temas, porque eles se conversam entre si, eles… assim como só pilares de criação de valor compartilhado também. Quando eu falo de nutrição e alimentação saudável, eu estou falando de sustentabilidade ambiental e principalmente de água, porque se eu tenho desperdício de alimentos, eu consumi muita água pra fazer uma produção de alimentos, então estou falando também de sustentabilidade ambiental e de alimentação saudável. Era esse o racional que tinha por trás disso, por isso, a criação das “ecofolias” culinárias. Além da gente levar o tema de alimentação saudável, a gente também levava temas de práticas responsáveis do meio-ambiente, de sustentabilidade ambiental. Por exemplo, na prática, vou te dar um exemplo do que mudou da folia culinária para a “ecofolia” culinária. A gente, na “ecofolia” culinária, eu discutia com as entidades, com os Voluntários a gente discutia com as entidades atendidas se era possível ter louça, porque o uso de material descartável gerava muito lixo e isso não é bom pro meio-ambiente e também não é bom pro processo educativo de alimentação das crianças. Então, a gente sempre que possível, buscava junto com as entidades, uma solução para que tivesse uma louca, tivesse talheres de metais, que as crianças sentassem à mesa, que elas usassem copos, que elas lavassem os copos também e que q gente não ficasse gerando lixo com isso, principalmente, da parte ambiental, o nosso foco essencial de formação era pra evitar o desperdício de alimentos. Um quilo de arroz consome algumas dezenas, centenas de litros de água na sua produção. Quando eu preparo esse arroz para uma refeição e eu não consumo e jogo fora, eu estou criando um impacto ambiental muito grande fazendo isso. Então, dessa maneira, a gente incorporou os dois temas: sustentabilidade ambiental e alimentação saudável dentro do Programa de Voluntários.
P/1 – E por que essa necessidade que você sentiu inicial de comunicar os colaboradores?
R – Eu sentia. Eu já era colaborador da Nestlé e conhecia pouco dos programas, do período logo que eu entrei aqui e muito curiosamente, depois que eu fui pra área, eu encontrava com as pessoas nos corredores, e no café e no restaurante: “Ah, você está lá?” “Ah, no Nutrir, puxa, eu já trabalhei no Nutrir, eu já ajudei o Nutrir” “Mas você não ajuda mais?” “Não, agora eu sai, mas eu nem sei direito o quê que está acontecendo, tal”, então, foi um pouco empírico, assim, foi um pouco, não, foi bastante empírico. Foi muito do feedback que eu recebi das pessoas, dos colaboradores, dos colaboradores que eu conhecia, pelos meus amigos aqui que eu comecei a me dar conta de que, muitas vezes, tinha muita gente que ajudava, apoiava o Nutrir, mas que efetivamente, não sabia no detalhe o que ele tava fazendo e ele tava fazendo já coisas muito legais. Então, acho que foi ouvir o cliente e ai, os nossos clientes e os nossos financiadores, os nossos chefes são os colaboradores. Era preciso prestar informações e uma prestação de qualidade de informação pra eles que ajudassem a entender que aquele programa que eles estavam apoiando, na verdade, hoje já tava muito maior até do que eles estavam imaginando, então foi a partir dai que surgiu essa necessidade, essa demanda de aumentar a freqüência e aumentar a qualidade de informação que tava sendo levada para os colaboradores.
P/1 – E você se lembra como que vocês fizeram isso na prática? Como que foi a ação?
R – Olha, teve um momento muito bacana, porque nesse período, a gente celebrou os dez anos do Nutrir também, então, fizemos um livro de receitas novas, fizemos um livro de receitas de dez anos do Nutrir, eram novas receitas incorporadas, algumas revisitadas, isso tudo foi apresentado para todos os colaboradores. Também fizemos um evento de celebração aqui na entrada do prédio, onde a gente apresentou algumas receitas, fez degustação de receitas, e ai, você entende que realmente, as pessoas talvez não conhecessem o Nutrir como elas deveriam ou poderiam, porque algumas das receitas que a gente apresentava na degustação, tortas de talos e legumes, as pessoas nem sabiam que estavam no programa e são algumas das receitas mais emblemáticas desse programa. Então, foi um momento bacana para que elas entendessem e celebrassem os dez anos do Nutrir, naquela época. Além disso, a gente começou a fazer comunicações por e-mail junto com a área de comunicação interna com mais freqüência e produzir alguns relatórios de atividades também, que eram distribuídos para os gerentes, diretores, mas também para as pessoas do programa, ou todo mundo que tivesse interesse. Nesse sentido, também, coincidiu esse período com a mudança pra esse prédio e essa sala mesmo, a sala da Fundação Nestlé Brasil é uma forma muito forte de comunicação, porque hoje, a gente tá localizado numa área de serviços, num andar de serviços do prédio, onde passa muita gente, então é muito importante ter esse espaço marcando o espaço da Fundação e do Programa Nutrir para que todo mundo que passe aqui saiba que existe esse programa, que existe essa Fundação e que ela exerce as suas atividades. Então, isso tudo, acho que ajudou a divulgar um pouco mais o programa.
P/1 – Tem um pouquinho de sua experiência do marketing, da arquitetura não?
R – Tem um pouco de tudo aqui. Tem um pouco de tudo. Acho que tem um aprendizado muito importante, assim, do marketing mesmo, as pessoas conhecerem mais e de você conhecer a empresa, saber em que tom, que pé que a empresa está, porque também para você fazer chegar essas informações, você precisa saber quem é o seu público. Então, de uma maneira muito simples, eu meio que conhecia o público geral aqui da Nestlé, eu sei quem são as pessoas da área técnica, eu sabia quem eram as pessoas de logística, de vendas, qual é e em que clima que eles estão, o quê que eles estão olhando e como tentar abordá-los para mostrar dentro da realidade deles, algo que realmente interessa a eles, então, como a gente fez esse trabalho também, corpo a corpo com área de vendas, área de logística, área técnica, para apresentar o programa pra eles, apresentar resultados pra gerentes que antes estavam muito menos envolvidos, eram, às vezes, até apoiadores do programa, mas por conta da demanda de trabalho, da dinâmica do dia a dia, tinham pouquíssimas oportunidades pra se dedicar ou dedicar uma parte do seu tempo ao programa, eles faziam suporte através das doações, por meio das doações, mas ao mesmo tempo, tinham pouco conhecimento. Fazíamos isso corpo a corpo, a gente foi falar com essas caras, foi lá e apresentou: “Olha, o programa que você está apoiando está fazendo isso, também desenvolveu esse outro tema de sustentabilidade ambiental, agora está querendo desenvolver um tema de desenvolvimento rural”, a gente fez esse trabalho também de corpo a corpo.
P/1 – E como que você contou de algum marcos nesse inicio, como que isso se desenvolveu você lembra de outros marcos assim, de mudança, ou que aconteceram, que foram importantes?
R – Pessoalmente um do marcos mais importante dentro do Programa Nutrir e o Voluntariado é um braço essencial dele, ele se deu no encontro de voluntários que a gente fazia anualmente, então, foi muito bacana ter ido uma primeira vez, encontrado os voluntários de outras unidades que eram altamente experientes no Nutrir, conheciam e ajudaram a fundar esse programa nas suas unidades, na fábrica de Araras, na fábrica de Marília, no CD de Cordeirópolis, em Araçatuba, em Araraquara e eram pessoas muito experientes e eu era o cara novo que tinha acabado de chegar, mas ao mesmo tempo, a gente juntos, como grupo, conseguiu fazer muita coisa, conseguiu dar muito mais consistência, qualidade na operação dele. Então, as “ecofolias culinárias” foram um conceito novo que eles tiveram que adotar foram super abertos pra receber e hoje em dia, já são uma realidade. Muito rapidamente, esse grupo adotou um novo conceito e fez acontecer dentro das suas unidades. É muita responsabilidade grande parte disso se deve muito ao próprio espírito engajado e participativo que esses voluntários têm. Essa parte foi fácil, porque eles são abertos pra fazer isso, mas também foi desafiadora pra todo mundo, porque a gente tava mudando um pouco a regra do jogo que eles já conheciam super bem, mas é um grupo bacana, eu tive durante alguns encontros de voluntários, uns feedbacks que foram muito legais, super positivos e que me deixaram muito feliz, porque apontavam que realmente a gente tava indo para o caminho certo, isso foram alguns marcos bem legais desse programa ao longo dos anos.
P/1 – O encontro de voluntariado não tinha antes de você entrar, então?
R – Tinha, mas era levado de outra maneira. Você tinha uma participação mais intensa dos consultores, eram encontros mais formativos. O que a gente fez foi, num primeiro momento, até e toda Fundação, todo mundo que era da área de Responsabilidade Social Corporativa ia pro encontro e ficava no encontro, junto com os consultores e junto com os voluntários. Isso já foi uma mudança importante, porque muitos desses voluntários, até pela distância física, mesmo, geográfica de algumas das unidades que estão super longe, Feira de Santana, tinham pouquíssimas oportunidades de virem pra cá e fazerem um processo de integração com a gente. Então, a gente ia e ficava integralmente, nesses dois dias trabalhando junto com eles e ao mesmo tempo apresentava tanto algumas discussões do ponto de vista administrativo de como estava sendo executada as “ecofolias”, ou quais eram os desafios que eles tinham em cada localidade até algumas questões mais formativas que a gente trazia os parceiros que a gente já tinha dentro dos diversos programas que a Fundação levava. Então, por exemplo, a gente trouxe a Tia Dag, da Casa do Zezinho para conversar com eles. A Tia Dag fazia um trabalho genial na Casa do Zezinho, aqui no Capão Redondo e a gente implementou, junto com a Casa do Zezinho, o Programa Nutrir também, no modelo de comunidade, para crianças que são atendidas por uma ONG. A gente trouxe a Fernanda Keller pra fazer uma palestra para os voluntários, pra eles verem e conhecerem como que o Instituto Fernanda Keller leva um trabalho no nível bem mais técnico de combate à obesidade, enquanto a gente leva um trabalho mais preventivo de prevenção e alimentação saudável, mais light, mais simples, porque apesar de alguns dos voluntários serem nutricionistas, nem todos eram tecnicamente, nutricionistas. É uma responsabilidade muito grande, então, o nosso trabalho não era de curar a obesidade, de jeito nenhum, nosso trabalho era, efetivamente, de levar dicas saudáveis de alimentação, que pudessem ajudar as crianças a manter uma qualidade de vida e um padrão de comportamento mais saudável pra se alimentar. Era esse o objetivo, era bem mais simples. Mas a gente trouxe, trouxe a Fernanda Keller, trouxe a Tia Dag, a gente fez algumas atividades com eles, com os próprios consultores, o Adelsim, o Roque, a Vivi, de brincadeiras. Teve um encontro que a gente trouxe a Priscila Corse, que ela é do Instituto Fernanda Keller, Priscila é professora de Educação Física. Então, aqui na frente mesmo, a gente fez um encontro e ai, ela ensinou pra gente um pega-pega com jornal, simples, barato, você pode fazer em qualquer entidade social. As crianças botam um rabinho de jornal no shorts aqui atrás e ai ganha quem pegar mais rabinhos um do outro. Uma brincadeira super bacana, super ativa, que coloca as crianças para fazerem atividade física de uma maneira super lúdica. Era isso que a gente queria fazer. A gente trouxe o Instituto Brincante também, que trazia brincadeiras de diversas regiões do país, brincadeiras regionais e fomentava muito que eles descobrissem junto com os grupos de voluntários, quais eram as brincadeiras regionais deles. A gente tem unidade no Espírito Santo, na Bahia, em Minas Gerais, em São Paulo, não é possível que não tenham ai brincadeiras super bacanas que a gente não possa compartilhar. Então, a gente promovia isso também.
P/1 – E o quê que te encantava no Programa Nutrir, especificamente?
R – Tudo, eu me encantava com tudo no Nutrir. Ser voluntario era fantástico, porque eu já gostava de cozinhar, minha mãe me ensinou a cozinhar, ali eu vivia tudo aquilo, eu passava um pouquinho do que tinha aprendido com ela e também, com o programa em si pra crianças de entidades sociais, é um trabalho que você faz corpo a corpo, é direto ali, junto com as crianças, junto com educadores que trabalham em ONGs. Trabalho voluntário é fenomenal. Das capacitações, eu aprendi muito, muito, porque a gente lidava com merendeiras e professoras de escolas públicas e em cidades das menores até as maiores. Nas capitais, a gente fez quase em todas e as cidades pequenas, você tinha aprendizados geniais, desde brincadeiras locais que eram utilizadas no processo de educação até receitas locais desenvolvidas por merendeiras fantásticas, que infelizmente, tem um grande desafio de enfrentar muitas vezes uma falta de infraestrutura dentro de uma escola ou mesmo, a falta de comunicação com a Secretaria de Educação ou um departamento responsável pela alimentação das crianças para conseguir prover uma merenda mais saudável. Então, isso do ponto de vista de gestão pública, era muito legal, assim, dava muitos aprendizados pra gente, a gente via muitos resultados efetivos mesmo, municípios, secretarias que buscaram, por exemplo, não sabiam que tinham direito a uma verba pra compra de material de louca pra escola, descobriram por meio do Nutrir, conseguiram a louca e ai, com a louca nas escolas, puderam implementar, efetivamente, as suas atividades educativas de alimentação saudável para as crianças da escola. Poxa, isso é muito bacana, você ver que isso tá acontecendo e com o Cuidar e com o Saber, a mesma coisa, com o Cuidar, o tema de sustentabilidade ambiental toma uma dimensão muito grande no Brasil, e o Cuidar nos ajudava muito a entender o quê os professores também entendem como sustentabilidade ambiental e levava práticas muito simples que podiam aplicar imediatamente. Especificamente no Nutrir, o voluntariado pra mim era a minha menina dos olhos, assim, eu era voluntario, eu ia como voluntario, não ia como gestor da área de Responsabilidade Social Corporativa, eu nem era o coordenador do grupo aqui da sede, então era só mesmo voluntario. Obvio que o olho do dono é que engorda o gado, então, às vezes, tinha que olhar um pouco como gestor, mas era importante que os coordenadores tivesses autonomia total para fazer o trabalho e coordenar as atividades do grupo aqui de São Paulo. Então, era mais um voluntário que ia lá ajudar a cozinhar, fazer bolo de chocolate com abobrinha, fazer feijoada vegetariana, uma vez, a gente fez um kibe de vegetais também, que ficou uma delicia. Então, isso tudo pra mim era muito bacana, muito gostoso.
P/1 – Você conseguiu levar isso pra sua casa também, um pouquinho?
R – Um monte! Eu tenho o meu livrinho de receitas, eu faço algumas receitas de vez em quando tem receitas que são muito boas, suco de limão com couve, uma receita tão simples, tão boa pra você ter uma absorção boa de ferro. Está vendo, esses aprendizados são todos frutos do Nutrir assim, eu saber que a vitamina C do limão te ajuda a absorver o ferro da couve e isso é bom pra criança, eu aprendi com o Nutrir. Aprender que colocar abobrinha em pedaços no bolo de chocolate é melhor do que batida, eu também aprendi com o Nutrir, porque se você coloca ela batida, a criança nunca vai saber que tem abobrinha lá e não quebra esse paradigma, esse medo que elas têm de abobrinha. Então, a gente fazia o bolo de chocolate com abobrinha com abobrinha em pedacinho. Então, a criança via e mordia aquilo, falava assim: “Nossa, mas tem abobrinha aqui” “Mas está bom, não está?” “Sim”, ai come e come mais um, e come dois e pronto, a abobrinha já não é mais aquele monstro. Então, aprendi muita coisa lá, levo muita coisa, com certeza!
P/1 – Sua mãe chegou a fazer alguma consultoria, alguma coisa assim, ou mais individual pra você?
R – Depois, ela trabalhou principalmente com segurança alimentar dentro de restaurantes. Ela fazia consultorias dentro de restaurantes japoneses, forma correta de armazenamento de alimentos, era uma consultoria um pouco mais técnica.
P/1 – Digo dentro do Programa Nutrir
R – Sempre tive vontade de trazer a minha mãe para o Nutrir, mas nunca consegui, sempre falava: “Mãe, vamos lá”, a gente faz as atividades aos sábados e se encontra aqui às oito horas da manhã no sábado, pega um ônibus, vai para a entidade, demora uma hora pra chegar e volta aqui às duas horas da tarde esgotado. Então, era um pouco difícil de conseguir conciliar a agenda, mas eu levava muito do aprendizado dela assim, para as “ecofolias” com certeza!
P/1 – Pra gente já ir finalizando, Helvio, você lembra assim, de algumas frases que uma criança te falou, ou aqui dentro mesmo, você até chegou a comentar que recebia essa devolutiva nos corredores nos encontros...
R – Eu acho que essa do bolo de chocolate com abobrinha foi uma que me marcou muito. Eu sempre conto essa historia do menino que estava junto à gente na “ecofolia”, mordeu o bolo e disse: “Tio, mas tem abobrinha aqui”, falei: “Não, mas está bom, não está?”, ele falou: “É, está bom”, comeu. Isso pra mim foi muito legal, porque eu falei: “nossa, isso funciona mesmo, só que eu também preciso acreditar”. Não é uma frase, mas teve um voluntário aqui também que era vegetariano e comeu carne na nossa “ecofolia”, porque a gente combinou como grupo de voluntários antes da “ecofolia”, na reunião de planejamento: “Olha, não interessa se alguém aqui tem qualquer tipo de restrição, ou não gosta de quiabo, ou de chuchu, se a gente adotar uma receita e levar pra atividade, todo mundo tem que comer e gostar, porque senão, você dá a mensagem totalmente errada”, olha, criança, você tem que comer tudo, mas eu que sou adulto, posso escolher, não! E um dos voluntários que era vegetariano, um dos temas da “ecofolia” era carnes e ovos, o cara comeu carne e beleza, sentou junto com as crianças pra comer. Então, acho que isso também foi super legal, assim, pra mim alguns coordenadores de voluntariado pelo Brasil nos encontros, que me agradeciam mesmo, por eu estar presente, por eu participar das atividades e realmente, começaram a ver e viam que eu tava ali com o intuito de ajudar e que levava os temas que eles traziam, as dificuldades que eles tinham, eu realmente, tentava de alguma maneira ajudá-los a fazer a coisa se consertar, porque você fazer trabalho voluntario dentro de um escritório, você tem uma flexibilidade muito maior, dentro de fábrica é muito difícil. Então, essa discussão não era uma discussão tão simples voltar com o gerente da fábrica, tentar conversar com ele ver se tem outra opção pra gente fazer, de alguma maneira garantir que o voluntário tenha um suporte responsável parta poder fazer as suas atividades, isso é muito importante. E acho que também, assim, de todas as pessoas com quem eu trabalhei aqui, a gente formou um grupo, mesmo algumas das meninas e dos meninos que passaram como estagiários e tudo mais, foi muito legal ver eles mudando muito a perspectiva deles do que é trabalho voluntario, do que é responsabilidade social corporativa e do que é alimentação saudável também, acho que isso foi um aprendizado que o Nutrir possibilitou pra eles e eu, como na época, tive a oportunidade de ser o gestor deles, fico, de uma certa maneira, também muito feliz de ver que o trabalho em si, para eles, não foi só um trabalho de cumprir um objetivo profissional, teve também um pouco de realização pessoal para todo mundo, para eles e para mim, também. então, eu não tenho uma frase bombástica, mas eu tenho essas histórias.
P/1 – Realmente isso que eu queria esses aprendizados. E como que foi a sua saída, por que que você saiu? Foi buscar outras áreas?
R – Foi tão difícil a minha saída, porque é um problema, você começa a trabalhar com responsabilidade social corporativa, é um bichinho que te morde então fica difícil de você abandonar, tanto que eu me mantenho na mesma área, mas é difícil, porque a Nestlé também é uma empresa muito carinhosa. Nestlé é uma mãe, você anda pelos corredores, as pessoas falam isso, ela é uma mãe e foi muito difícil, mas ao mesmo tempo também, acho que foi necessário, porque eu já tinha cumprido alguns ciclos aqui, eu poderia abrir e concluir um novo ciclo acho que seria importante também, mas é também importante que novos ares, novas pessoas passem a abraçar também o programa e a dar outra cara pra ele e a criar e continuar esse momento esse ciclo de evolução para o programa e para a Fundação. Hoje, as pessoas que estão à frente, a Jessica [Tenório], a Lia [Barros], elas são pessoas fantásticas, que têm muito a contribuir e a criar coisas novas para o programa. Então, de certa maneira, tem a Jessica, tem a Lia, tem a Sandra [Souza] hoje cuidando desses programas foi a parte que mais me tranqüilizou em conseguir fazer essa transição e acho que do ponto de vista profissional, era importante pra mim, buscar também um outro desafio, que muitas vezes, até, depois de nove anos na Nestlé, você inevitavelmente, você conhece essa empresa super bem e ai, profissionalmente, você começa a até se questionar também: ‘puxa, e como será que eu me adaptaria em outra empresa, em outra realidade, em outra indústria?’. Então, acho que teve isso, assim, teve essa inquietude profissional, que eu sempre tive de buscar outras coisas e buscar outro aprendizado fora, sair um pouco debaixo da asa da Nestlé, que é a mãe, porque aqui realmente as coisas são super estruturadas você tem muito suporte, você tem pessoas fantásticas você aprende muito. Então, acho que talvez, tivesse ali no fundo, um desejo quase adolescente assim, de transgredir um pouco, sair e também, olhar de volta para a Nestlé de outra maneira, porque quando você está dentro, você é sempre um pouco mais critico quando você está fora, você começa a olhar de forma um pouco mais equilibrada, porque você está fora da situação é um observador. Então, isso também pra talvez fosse importante eu sair para repensar um pouco, até como foi a minha curva de aprendizado aqui dentro e acho que isso tem acontecido, sim.
P/1 – Tem alguma coisa que você gostaria de acrescentar, que eu não perguntei que você vem pensando, que gostaria de deixar registrado? Já que a gente está fazendo um projeto de memória, vale à pena registrar tudo o que vier.
R – Eu pensei várias coisas, porque como eu vim de Campinas, eu tive uma hora e meia pra pensar, mas acho que não
que esse formato com o qual vocês trabalham, assim, de ir fazendo o resgate e construindo a historia é muito bacana, porque eu sinto que eu disse tudo, não tem mais o que dizer. Mas, acho que é isso, acho que o ponto mais fundamental assim, é que hoje, esse Programa Nutrir, ele é um personagem, ele é uma vida própria aqui dentro da Nestlé, ele é muito maior do que qualquer pessoa aqui dentro e ele foi construído por todas essas pessoas. Se quando ele celebra 15 anos, você consegue, de alguma maneira, mostrar não só quem está hoje na historia mais recente, mas principalmente, eu penso muito nos primeiros voluntários e o Valter Monteiro é o cara pra mim, que representa o Nutrir, porque é o cara que está desde o começo até hoje, são pouquíssimos os voluntários que estão desde o começo até hoje. O Valter é uma pessoa que eu conheço muito próximo, porque ele era junto à gente compunha o grupo de voluntários aqui da sede, existem alguns outros voluntários em outras unidades, que estão desde o começo também, esses caras deviam ser muito mais reconhecidos e precisam ser muito mais reconhecidos, porque eles construíram isso. Eu só tive a participação lá num momento muito curto da historia do programa, quem montou a primeira, quem concebeu isso e quem fez acontecer nas primeiras vezes, puxa, só tem que aplaudir essas pessoas e o Valter, talvez como representante deles, o Valter e o [Carlos] Lemos, de Cordeirópolis, e mais algumas pessoas que eu não vou lembrar o nome, mas que são os voluntários das primeiras folias, que ajudaram a construir isso do zero, esses caras, sim, deviam ser muito celebrados porque se hoje o Nutrir tem a autonomia que tem, é por conta deles, assim, é responsabilidade e um patrimônio que eles ajudaram a construir.
P/1 – É o Valter é especial, ele não tem só Nutrir, mas ele tem também o trabalho social fora.
R – É!
P/1 – O nome dele é “Voluntário” (risos)
R – É um cara nota dez, porque você tinha me perguntado “Puxa, teve alguma dificuldade? Algum desafio com o primeiro encontro e com a sua chegada?”, o Valter foi um cara que assim, porta aberta totalmente: “Puxa, que bom que você chegou. Olha, eu acho que a gente precisava fazer isso...” e sempre está aberto a todas as idéias, recebe todos os voluntários, faz a formação deles, sabe ter a paciência e a plenitude de absorver, muitas vezes, a chegada dos novos voluntários, esperar eles externalizarem um pouco da ansiedade deles, para depois começar a mostrar as raízes, as essências do programa e colocar eles dentro da base do programa. É um cara genial, um cara super bacana que ele, sim, ele é a historia desse programa, não o Valter, como personagem, sabe, mas tem também muita gente que desde o começo apostou e acreditou no programa e a contribuição do voluntario não precisa ser como a do Valter, efetivamente só de ação. Tem gente que apóia com dinheiro, da forma como pode, independente do valor, desde o começo, sempre apoiou e sempre manteve. Essas pessoas são muito especiais, assim, que elas criaram o Nutrir, elas possibilitaram que o Nutrir acontecesse e teve o interesse da empresa também em apostar nisso. Então, isso é muito raro, assim, não é fácil de encontrar não e vou te falar, é muito difícil de construir, demora muito tempo e precisa de muita gente acreditando, para poder fazer acontecer. Acho que isso é muito bacana, comemorar 15 anos de Nutrir, porque celebra 15 anos de um programa que é fruto da qualidade e da entrega de todas essas pessoas que participaram dele desde o começo.
P/1 – Helvio, só tenho a agradecer pela sua entrevista.
R – Obrigada.
P/1 – O Museu agradece, o Programa Nutrir agradece, vai ficar mais uma memória aqui. E que bom que a gente conseguiu fazer essa entrevista.
R – Você vê (risos), é difícil! É difícil, todo mundo acha que porque você trabalha em responsabilidade Social Corporativa, você vai lá, você faz um programa social, que nada, é uma correria! Obrigado.
P/1 – Obrigada, viu? Parabéns pela tua história.Recolher