Projeto Correios 350 anos Aproximando pessoas
Depoimento de Luiz Fernando Diniz Naso
Entrevistado por Isla Nakano
São Paulo, 03/07/2013.
Entrevista nº HVC27
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por ?
P/1 – Bom, senhor Luiz Fernando, primeiro eu queria agradecer do senhor tirar um pouquinho ...Continuar leitura
Projeto Correios 350 anos Aproximando pessoas
Depoimento de Luiz Fernando Diniz Naso
Entrevistado por Isla Nakano
São Paulo, 03/07/2013.
Entrevista nº HVC27
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por ?
P/1 – Bom, senhor Luiz Fernando, primeiro eu queria agradecer do senhor tirar um pouquinho do seu tempo para dar a sua entrevista para a gente.
R – Imagina. É que eles podiam ter avisado, eu não fui avisado, só isso, mais nada.
P/1 – Para a gente começar eu queria que o senhor falasse seu nome completo, onde o senhor nasceu e quando o senhor nasceu.
R – Meu nome é Luiz Fernando Diniz Naso, nasci em 17 de março de 1954, em São Paulo, aqui na capital mesmo, minha família é de descendentes de italianos, mas nasceram aqui mesmo em São Paulo.
P/1 – Qual é o nome dos pais do senhor?
R – Meu pai chama-se Luiz Carlos Naso e minha mãe Inês Diniz Nazzo. Nós somos em quatro irmãos. Eu sou o mais velho, depois tem o do meio que é José Carlos Diniz Naso, o Paulo Roberto Diniz Naso e a Maria Inês Diniz Naso.
P/1 – O senhor sabe a história dos seus avós? Dessa imigração italiana?
R – A história da educação por correspondência na minha família começa com meu avô. Hoje em dia é à distância. O meu avô era uma pessoa caprichosa, dedicada e estudiosa, e ele fez um primeiro curso por correspondência de relojoeiro. Era ali na Cásper Líbero, ele montou esse curso de relojoeiro. E tinha aqueles italianos que gostavam do manuseio, porque todo italiano gosta de manusear as coisas. Ele começou a vender por correspondência na década de 1940, no final da década de 1940. Daí ele foi fazendo, formou uma escola, que era o Ensino Técnico Paulista, que era por correspondência. Em 1954 eu nasci e meu avô continuou. Meu pai, em 1964, ele foi cassado pela Revolução, pelo AI1 [Ato Constitucional Número 1], e depois, com esse AI1 ele era morto-vivo, ele não tinha os direitos de trabalho, nem político, nem de nada, então ele foi trabalhar com meu avô, e ele fez os cursos de fotografia e começou a expandir essa educação, a educação por correspondência. E naquela época era tudo por correspondência, ou seja, nosso maior parceiro desde então eram os Correios, não existia outro meio. E é uma pena que os nossos educadores que eram mais religiosos achavam que esse tipo de educação ou ensino era marginalizado, o que era interessante na época eram as carteiras e um professor na frente, só que o Brasil é imenso e o Correio sempre pegou todos os cantos, do Oiapoque ao Chuí, então as pessoas no interior do estado, no interior de outros estados, iam até o correio buscar o conhecimento. E nesse conhecimento por si só elas conseguiam aprender, porque não tinha outra opção. Então se você me perguntar, tinha uma não valorização do Correio naquela época, é um absurdo da parte do governo, na educação, no quesito educação, porque as pessoas tinham necessidade de aprender, tinham aquela vontade, e era o Correio que chegava lá. E nessa época os cursos que meu pai e meu avô, eles fizeram chegavam. Na década de 1950 o Chateaubriand [François-René de Chateaubriand] trouxe a televisão e eles fizeram uns cursos de rádio e técnico em televisão, ou seja, como consertar televisão. Porque começou a vender televisão no final dos 1950, começo de 60, e quem ia consertar? Quem ia ensinar as pessoas a consertar? E não precisa ir muito longe, 100 quilômetros de São Paulo, era complicado chegar a 100 quilômetros de São Paulo, mas o Correio chegava. E as pessoas aprendiam por si, elas mesmas aprendiam. E tem várias histórias que eu presenciei: o Ministro Tinoco, a mãe dele fez o curso de corte e costura e ela mesma me contou que ela costurou pra todos os filhos dela, depois costurava pra fora e conseguiu manter o Eraldo Tinoco, na época ministro, estudando, e depois ele virou Ministro da Educação, acho que foi no governo do Collor, eu acho, eu não tenho muita certeza. O que acontece? Tem essas histórias e outras histórias como no Norte e Nordeste, todo mundo tinha aquela necessidade de buscar o conhecimento, e era por carta, era na carta que eles buscavam o conhecimento, como na época do Império era na carta, porque não tinha outro meio. O Brasil começou a se desenvolver em outras tecnologias na década de 1990, então, pensa bem, até lá era só carta e a televisão, na época de 1970, quando começou a televisão, na Copa do Mundo, mas ela demorou a entrar. A TV Globo, a TV Record, a Tupi, na década de 1970, 80 começaram a fazer o Telecurso. Mas ei participei do Telecurso na feitura dele, por quê? Porque o governo militar queria unir o Brasil e pela televisão. Dar educação pela televisão, mas em contrapartida o prefeito tinha que limpar a antena, então era mais um negócio do que educação. Já com os Correios não,
pela carta não. A carta, a pessoa ia lá, a pessoa lia, ela aprendia a ler, que era muito importante, revista, carta, na época era muito importante para português, pra leitura, mais isso foi acabando um pouco.
P/1 – Se o senhor puder contar como eram os materiais desse começo.
R – Ih, ótimo, esqueci de falar. Bom, meu pai foi cassado. Em 1975, eu e meus irmãos abrimos uma escola por correspondência e começamos também. Como era feito esse processo por correspondência? A gente fazia a publicação em revista, com um cupom embaixo, esse cupom vinha através dos Correios pra nós, nós pegávamos uma média de 20 mil cartas por dia. E naquele cupom o aluno escrevia o curso que queria, o plano de pagamento, todas as informações, nós mandávamos o material através, na época, do reembolso postal, tinha também o vale postal, o aluno também mandava o dinheiro pela carta que a gente pegava pra gente despachar o material. E o curso era composto pelas apostilas e pelo kit relacionado com aquele curso, então vamos supor: corte e costura, ele tinha as apostilas e mais a tesoura, a fita métrica, o giz pra tecido, tinha a régua pra fazer os cortes. A gente mandava um kit completo para o aluno. Era um começo, não era um kit que ele ia fazer uma indústria de costura, mas era um kit que dava para ele começar o que ele tinha aprendido na apostila, para pegar o material e fazer sua própria camiseta, ou sua própria camisa, ou a calça, ou o vestido. E isso era a base dos cursos, todos os cursos do Instituto tinham essa base, eram as apostilas, os kits que acompanhavam, material didático e as provas que vinham na apostila, Os alunos faziam, mandavam pra gente, a gente corrigia e depois devolvia pro aluno. Então essa era a base da educação por correspondência, que hoje em dia se tornou educação a distância. Infelizmente, naquela época nós éramos marginalizados pelos educadores, o que era um absurdo porque, como eu falei os padres ou a religião, o negócio deles era o professor e a sala de aula, eles não permitiam muito esse tipo de educação, que era uma burrada, na época da parte deles. Porque na União Soviética já tinha ensino a distância, na França tinha ensino a distância, na Inglaterra tinha ensino a distância, que era a Open University. Depois, após a Segunda Guerra do Japão, o japonês tinha sido destruído, então eles tinham refazer, era tudo à distância, era tudo por correspondência, teve uma época que o japonês aprendia tudo por correspondência, eles tinham que formar o povo rápido pra começar a gerar de novo. E no Brasil não, porque os padres não eram muito chegadinhos. E assim, no fundo, eu briguei bastante pela valorização da educação por correspondência, sempre colocava os Correios como maior parceiro nosso, porque, na minha opinião, nesse país o maior divulgador do conhecimento foram os Correios. Por que eu digo isso? Porque eles levavam o conhecimento e a educação, e os nossos governantes não davam essa devida valorização.
P/1 – Luiz Fernando, eu vou perguntar mais do Instituto. Agora, antes de chegar no Instituto vou querer saber da trajetória de vida do senhor, em que bairro que o senhor cresceu, como é que foi sua infância?
R – Eu, até os meus 9 anos, morei no Alto de Pinheiros, depois dos 9 anos eu vim morar no Brooklyn, na rua Nova Iorque, 927. E onde você está sentada é onde eu e meus irmãos dormíamos. Morando no Brooklyn, eu estudei no Colégio Kennedy, depois no Meninópolis, que naquela época tinha colégio de menino e menina, depois eu entrei na FMU [Faculdades Metropolitanas Unidas] para fazer Direito.
Nessa época eu comecei a trabalhar com a empresa que a gente tinha feito, eu e meus irmãos, que era a Escolas Associadas, era aqui mesmo no fundo dessa casa, da casa dos meus pais, e estudava à noite na FMU, eu e meu outro meu irmão, o José Carlos. A gente foi crescendo com a escola, fomos tomando as dependências da minha mãe, alugamos, saímos, eu tive que parar, não era problema financeiro, é porque o trabalho consumia tudo, então eu preferi ficar com a escola, trabalhar exclusivamente com a escola. E assim novos fomos crescendo. Na época já existia o Instituto Universal Brasileiro e a gente era bem pequenininho perto deles. Portanto, nós começamos em 1975, até 1982 nós crescemos. Saímos daqui, fomos ali na Brasiliano, depois fomos na Américo Brasiliense e em 1982 nós compramos o Instituto Universal Brasileiro e nesse período também eu casei, tive dois filhos. E foi isso. Em 1982, em outubro de 1982, o dono do Instituto Universal Brasileiro não tinha herdeiros, mas foi um grande mestre porque ele formou o Instituto em 1941. A história é muito interessante: eram dois irmãos, que tinham feito o Instituto Monitor. O Monitor era de 1939, os dois irmãos tiveram um desentendimento e um abriu o Instituto Universal Brasileiro e o outro ficou com o Monitor. Só que o Sr. Miguel, que era o dono do Instituto, era um pouco mais arrojado em matéria de anúncios. E é muito interessante essa história porque quando a Editora Abril, senhor Vitor Civita veio para o país, quando abriu a Editora Abril ele tinha uma revista chamada Capricho e ele foi oferecer para o Sr. Miguel para anunciar no meio da revista, e foi o Sr. Vitor Civita mesmo que fez isso. E desde então o Seu Miguel, que era o dono do Instituto Universal Brasileiro, anunciava direto na Editora Abril, nós chegamos, mesmo eu depois de comprar, eu mesmo fui falar com o Sr. Vitor. E nós, como clientes individuais, não de agência, nós éramos um dos primeiros da Editora Abril. E toda revista que era publicada pela Revista Abril a gente estava no meio, era dupla página no meio, era um problema depois pagar, mas tudo bem. Aí o Instituto Monitor na época também ficou um pouco pra trás, o outro irmão não tinha essa visão que o Sr. Miguel tinha e o Instituto cresceu bastante. Mas ele não teve herdeiro. E como nós, eu e meus irmãos, tínhamos a Escolas Associadas, a gente ia pagar a Editora Abril no mesmo lugar que o Instituto pagava. Daí o pessoal falava: “Meu, tem dinheiro?” Eu falei: “Não, não tem dinheiro. Por quê?” “Porque o Instituto está complicado”. Daí faleceu o Sr. Miguel. As pessoas que começaram a administrar não foram das melhores e não ser porque cargas d’água a viúva, a Dona Maria, veio oferecer pra gente comprar. A gente era muito novo na época, e todo moço faz as maluquices, não é que eu fui diferente de vocês, eu fiz as minhas maluquices. Meu irmão olhou pra mim, eu olhei pra ele, falei: “Meu, se a gente vender o que nós fizemos nesses... de 1975 a 1982. Quantos anos dão? Vendendo tudo você multiplica por 10 que vale o negócio, o IUB. É, mas vamos nessa, vamos nessa”.
E compramos. E a viúva, a Dona Maria, encanou que queria vender pra gente, eu não sei porque, isso aí alguém explica um dia. E compramos. Em 1982 voltamos com os anúncios na Editora Abril, o método, a metodologia era a mesma, era por correspondência, era carta. Pegávamos numa média 15 mil cartas por dia. Era um movimento bem respeitado. Isso foi da década 1982 até 2000, até que a internet começou a entrar pra valer, foi diminuindo, na televisão começou também a ser divulgada mais, isso já foi na década de 1990, foi entrar pra valer, foi diminuindo, a Editora Abril começou a diminuir um pouco as revistas na tiragem, enfim, e daí a rede social tomou conta.
P/1 – Sr. Luiz Fernando, deixa eu fazer um pergunta para o senhor, como é que era lidar com esse fluxo de 15 mil cartas por dia, como é que funcionava?
R - Nós tínhamos só para abrir carta acho que uns 25 funcionários, só pra abrir carta. Abria, grampeava, separava cupom, carta de reclamação, quando era apostila pra corrigir, prova. Era uma seção de uns 20 caras.
P/1 – E como é que funcionava o curso assim, se você puder dar um exemplo, desde a hora em que ele era vendido até a hora que a pessoa recebia o certificado?
R – Era assim, como eu tinha explicado, pegava a revista, o cidadão preenchia o cupom, punha nos Correios, dos Correios vinha pra gente, a gente pegava o cupom, via o curso que ele queria, e todos nossos cursos eram parcelados, a gente despachava pra esse aluno o curso que ele queria pelo reembolso postal. Em cada fascículo, ou apostila, no final de cada apostila, tinha a prova pra ele preencher e mandar pra gente. Aí tem aquelas velhas histórias idiotas: “Pô, ele podia colar”, aquelas papagaiadas. Tá. Mas só que com os nossos alunos o problema não é esse, não tinha o que colar, ele tinha que ter o conhecimento, Ele devolvia pra gente, a gente corrigia e devolvia pro aluno, pelos Correios. Daí o aluno recebia e pedia outra remessa. Eram na época acho que oito remessas. E assim ia até a última remessa dele. E a gente tinha todo um controle das notas que ele tinha. Terminando tudo ele recebia o certificado de conclusão, que não era válido pra nada, mas ele recebia, e eu cheguei a entrar na casa de umas pessoas ali em Minas, eles tinham pendurado na parede. Quer dizer, o problema de diploma, de certificado, disso e aquilo, para aquele tipo de profissão, pra eles não adiantava muito, o que adiantava era eles aprenderem. E daí você vai falar: “Bom, mas eles aprendiam mesmo a consertar um relógio?” Eu vou falar: olha, acredito que os três primeiros relógios ou cinco primeiros relógios os caras entraram pelo cano, mas depois iam embora, não tinha outra opção, não tinha. É que nem a televisão, corte e costura, tinha um monte, desenho artístico, eles aprendiam, não tinha outra opção, pra ganhar dinheiro de alguma maneira
.
P/1 – E, Sr. Luiz Fernando, tinha algum jeito deles tirarem as dúvidas?
R – Tinha. Na época tinha, por correspondência, eles escreviam e mandavam, porque o telefone não funcionava muito bem, porque era muito longe, custava muito caro, era também por carta. Teve até um filme que a mulher escrevia e tal. Era tudo por carta. Os Correios levavam conhecimento, levavam alegria, tristeza, levava, tudo para as pessoas do Brasil.
P/1 – E dessas cartas de aluno, além de receber dúvidas, tem algum caso peculiar, algum aluno que tenha se apegado mais à instituição, que o senhor lembra, que tenha tido uma vida marcada por um curso que fez?
R – Olha, tenho. Meu, tem um monte de história.
P/1 – O senhor pode contar uma ou duas pra gente.
R – Tem uma, eu não sei nem se vai pegar, eu até enquadrei ele. Um cara que queria ser fotógrafo. Um cara de eletrônica, de rádio e televisão, tem um monte, eu assim, especificamente, mas tem milhões que eu posso contar. Que nem
é o que eu te contei do Corte e Costura.
P/1 – E vocês recebiam esse feedback, assim, esse retorno deles?
R – Não. A gente não recebia não. A gente depois ficava sabendo. Depois que eles terminavam o curso não tinha essa troca de correspondência se o cara está indo bem ou não. Depois que eu ficava sabendo. Nesses anos foi uma estruturação inteira do Brasil.
P/1 – Sr. Luiz Fernando eu quero
voltar um pouco na história do senhor, na história pessoal do senhor...
R – Mas minha história não é muito interessante.
P/1 – Ah, todo mundo tem um história interessante.
R – Eu só trabalhei.
P/1 – Qual que era a brincadeira preferida do senhor quando o senhor era pequeno?
R – Não tinha brincadeira, eu apanhava muito porque eu ia jogar bola, eu pulava essa janela aqui, minha mãe achava que eu estava estudando, porque minha mãe achava que eu tinha que ser médico. E eu não gostava, eu gostava de jogar bola. E vinha apanhando do campinho de futebol ali até aqui, dava uns dois quarteirões apanhando (risos).
P/1 – O senhor contou do seu avô, da história do teu avô, o senhor chegou a conviver com esse avô, acompanhou a trajetória dele?
R – Não, com meu avô não convivi muito tempo porque eu era muito pequeno. Com quem eu convivi bastante, admiro, amei bastante, foi meu pai, ele foi um grande professor, pela vida que ele teve também, ele era jornalista e depois fiscal de remo e foi cassado, então acho que todo jornalista tem a história da vida, é muito difícil porque o jornalista sai, conversa com um monte de gente, tem muita informação da vida.
P/1 – O senhor acompanhava teu pai no trabalho às vezes?
R – Não, ele trabalhava com a gente. Trabalhava com a gente. E a gente o respeitava tanto que a turma achava que ele que era o dono, era muito interessante, eu e meus irmãos.
P/1 – Quais são as suas primeiras lembranças escolares?
R – Minhas primeiras lembranças na escola? Mas não era um bom estudante, eu não era um cara de tirar boas notas. Que meus filhos não me escutem.
Mas eu não era um cara de estudo, e ficava em segunda época toda vez, eu não conseguia passar um ano direto.
P/1 – Tem alguma história marcante do tempo escolar, ou talvez alguém que tenha marcado, um amigo, um professor?
R – Não, só na faculdade que eu tive dois grandes amigos que até hoje sou amigo deles. Mas é como eu te falo, eu e meus irmãos a gente trabalhava.
P/1 – E na casa do senhor tinha festa, tinha aniversário?
R – Não, tinha, normal, como em toda casa, mas não era que a gente era de festas, assim... Eu pelo menos...
P/1 – Tem algum Natal que tenha sido marcante, aniversário, evento?
R – Nossa, cada pergunta interessante você está fazendo e eu estou aqui pensando: “Pô, será que eu não tenho nenhuma?”, acho que eu tenho. Natal sempre foi aqui com a família, quando a minha mãe e os irmãos dela eram vivos, a gente passava o Natal, mas não tinha nenhuma coisa que marcasse tanto assim. Você me pegou. Eu não sei.
P/1 – E na escola, tinha alguma comemoração que era bacana?
R – No Meninópolis só, que eu gostava de jogar bola, teve um campeonato e eu sempre fui baixinho. Não cresci muito, e jogava bem, mas era muito baixinho pra jogar bola profissional. Mas jogava bem, porque meu tio era do Palmeiras, ele queria me levar, minha mãe quase matou ele.
P/1 – E já mais velho um pouquinho, assim, na adolescência, na juventude, o que você gostava de fazer?
R – Na juventude? Isso que eu te falo, sabe o que a gente gostava de fazer? Trabalhar. Eu e meu irmão a gente trabalhava sábado, domingo. Como era só a gente aqui eu passei a juventude assim. Arrumei uma namorada, com quem depois casei, Até falo para meus filhos: “Não entrem pelo cano como eu”. Eu trabalhei, namorei e casei com 23 anos. Então não tenho nada assim que nem eu vejo meu filho, ele deve ter histórias porque eu forcei ele a fazer cursos, vai pra cá, vai pra lá, ele deve ter histórias. Que história eu tenho? Trabalhei aqui na educação por correspondência. Meu pai era cassado, ele não podia trabalhar. Daí tive que trabalhar o dobro.
P/1 – Fale algumas conquistas que o senhor foi adquirindo ao longo de toda essa trajetória da educação a distância ou talvez um aprendizado?
R – A conquista que eu acho que foi a luta, desde 1978 que nós fomos lá em Brasília, quando começou um movimento com o próprio Formiga. Eles estavam já em 1978, já começando a chamar todo mundo para começar a montar o Telecurso. E todo aquele movimento pra mim foi marcante porque eu sempre lutei para isso, para a educação por correspondência sair da marginalidade e entrar numa metodologia educacional, porque eu sempre achei certo. E nisso eu sabia que precisava da política. Não que eu adore, mas você não tem outro jeito, eu sempre falei pro meu filho isso e aquilo, já falei há uns anos. Agora que eu adorei essas passeatas da molecada. Vocês têm que integrar mais na política, é disso que eu gostava. Por quê? Porque a classe média se ausentou um pouco da política. Infelizmente deixou a política nas mãos de uma meia dúzia, e para você fazer uma chapa você pegava qualquer cara que era analfabeto e punha na chapa, de repente saía um deputado e olho só no que deu, até o dia que essa geração de vocês foi em turma para a rua. Espero que em 2014 tenha uma renovação de 80% naquele congresso. Mas, era isso, tudo precisava política, você vive de uma política, não a política efetiva, mas tudo é uma política. Eu comecei a participar mais da política, só que naquela época a gente tinha um governo duro, então era a ditadura, o governo forte, e a gente não tinha muito espaço, eles não davam muito espaço, mas das passeatas que tinham, as Diretas Já, eu participava, me integrei muito no partido do Roberto Freire, do Arnaldo Jardim. E nisso eu fui conseguindo. Depois entrei e conheci a turma do Paulo Renato, do Fernando Henrique. Daí o Paulo Renato quando entrou no governo e já estava há dez anos no Congresso, e teve a nova LDB [Lei de Diretrizes e Bases], a nova legislação da educação, e o artigo nº 80 beneficiava a educação a distância. Então nós começamos a sair da marginalidade. Quando o Paulo Renato foi pra Ministro da Educação, como estava no Congresso, teve muitas modificações no projeto da nova LDB e em uma delas falaram do Instituto Universal. Não é exclusivo, mas um dos quesitos do artigo 80 era o Instituto Universal ou o Instituto Monitor. Era a educação por correspondência tomando fôlego e aí começou a vir internet. Infelizmente começou uma guerra do setor privado nesse negócio, porque a turma achava que eu ia tirar muito aluno, e não é nada disso. O que a educação a distância faz é pra fora da idade escolar, onde nossos educadores deviam se preocupar na idade escolar. É a minha briga hoje em dia que, infelizmente, o Conselho é formado por vários empresários da educação – particulares – e eu não concordo com isso, eu concordo que o governo tinha que ser rigoroso na idade escolar. Por que ele vai se meter fora da idade escolar se ele não tem competência na idade escolar? A nossa média de aluno aqui é 28, 30 anos...
Você acha que um cara de 28 anos vai voltar pra sala de aula? Não. Fala sério. Hoje em dia tem o raio da internet, você estuda sozinho. Vai fazer um exame presencial, se passar, passou, toma o certificado e arrumou o problema. Concorda? Agora, eles não. Então toda essa luta que veio desde daquele tempo dos militares é sempre essa luta pela educação a distância.
P/1 – Agora, Sr. Fernando, o fluxo de envio de materiais de vocês, até pela metodologia de vocês, como funcionava, teve algum serviço dos Correios que apareceu, que facilitou esse envio?
R – Todos. Todos facilitaram. Não era um só, não. Você mandava pelo Reembolso Postal, você mandava pelo Vale Postal, quer dizer, todos facilitavam.
Tem gente que não gosta que fale nisso, mas os Correios era uma coisa até 1964, 1965, 1966. Meu pai contava histórias de que era uma loucura, era desorganizado, não sei o quê. Entrou o governo forte, eles estruturaram os Correios como nunca se viu. Todos esses prédios, Jaguaré, Rio de Janeiro, Central, é tudo época do governo forte. E eles comandavam e colocaram o correio numa situação de despacho, de recebimento, num nível muito bom, muito bom mesmo. Eu posso até contar casos que me aconteceram mesmo. Vamos supor: tinha um certo Coronel que tomava conta aqui de São Paulo e teve um dia que eu discuti com uma gerente aqui dos Correio, ele me deu um castigo de um mês que eu não podia despachar nada, ou seja, ele no dedo me cortou trinta dias de despacho. E depois ele veio me buscar, mandou o exército me buscar aqui com o jipinho, depois de trinta dias, perguntar se eu tinha aprendido, foram trinta dias. Mas isso era no Jaguaré ainda o centro, quer dizer não existia o Jaguaré, mas você não encontrava uma carta, um papel no chão. Não é que ele esteja errado, ele estava certo, porque a carta é pessoal, individual, e tinha que ser tratada da melhor maneira possível. Quantas vezes eu vi o coronel andando no corredor e eu tinha que ficar quietinho, lógico. E o correio mudou da água pro vinho. O que era de Brasília ele revolucionou também, fez colégios pra. Eles colocaram os Correios em alto padrão, gastou mais que a FIFA [Federação Internacional de Futebol], mas tudo bem.
P/1 – E o senhor, nesta casa que o senhor morava,
o senhor recebia correspondência, seus pais recebiam correspondência?
R – Sim, sim.
P/1 – Lembra de alguma carta que tenha recebido?
R – Eu namorava uma menina do Guarujá e era só por correspondência. A balsa demorava 8 horas, porque não tinha Piaçaguera [Rodovia Piaçaguera-Guarujá].
P/1 – Vocês trocavam carta de amor?
R – É, quer dizer, era só carta, não tinha outra coisa. Telefone era muito ruim.
P/1 – E teve alguma delas que marcou, que o senhor lembra do conteúdo da carta, o que ela escreveu?
R – Não, não lembro. Lembro que marcou, mas o que estava escrito. Eu já te falei, o negócio na minha vida foi que eu passei trabalhando, eu me arrependo disso.
P/1 – E cartão postal?
R – Ah, não lembro. Não tem nada que marcou assim. É que eu recebia muito de aluno. Lembro só de pegar e ficar olhando.
P/1 – Sr. Fernando se o senhor puder nos contar um pouco dos cursos que eram oferecidos quando o senhor pegou o Instituto Universal, o que foi mudando, o que entrou, o que saiu?
R – Mudou muita coisa, mas era meu irmão que tomava conta. Entende de todos esses negócios. Como eu era o financeiro tem muita coisa que ele lembra e eu não. Com o tempo as máquinas gráficas mudaram, a gente ia mudando o formato da apostila, colocando a cores, a gente ia estruturando. Os cursos, anualmente, a gente atualizava. Toda essa estrutura a gente foi mudando no curso, o conteúdo sofreu atualizações, mas não a maneira de despachar, a maneira que o IUB fazia. Não tinha muito o que mexer. Só depois com advento da Internet, em 1990, 2000, que começam os cursos online, isso e aquilo, aquele monte de coisas, em 2005 que começou a disparar. Na verdade, não tem muitos anos. A Internet acho que foi em 2004, 2005 que começou a disparar.
P/1 – E o senhor lembro de algum curso que tenha sido um sucesso?
R – Ah, lembro, corte e costura. E nunca parou. Nunca saiu, assim, do top. Desde a década de 1950 nunca parou de ser o top. Engraçado. Lógico, fomos atualizando todo o curso, mas nunca parou de ser um dos top. O técnico de rádio sim, ele disparou, veio a televisão, depois agora caiu, com essas televisões hoje em dia você não tem como consertar. Mas corte e costura, não. Calça é a mesma que na década de 50, não mudou nada, como costurar, só que a única coisa é um pouco mais fina, mais larga a boca, mas o costurar, como costurar mesmo, como fazer os moldes, é igual. Mecânica de automóvel, ficou muitos anos, depois que entrou injeção eletrônica que deu uma mudadinha, mas também, o motor é o mesmo. Hoje que mudou um pouco, vai na máquina, vem lacrado, mas no interior, outros estados, ainda é o Fusquinha.
P/1 – Senhor Luiz Fernando, eu queria que o senhor falasse um pouquinho das regiões do Brasil que o senhor atendeu, que atende, como que isso foi mudando.
R – Olha, nós atendemos do Oiapoque ao Chuí, se você quiser saber. No país inteiro. Os que compravam mais cursos eram Minas, Paraná, São Paulo, Santa Catarina. Vinha carta de todas as regiões do país, todas. Não é conversa, todas mesmo. Tinha um slogan: “Aonde tem Correios tem o IUB”. Ou seja, você pega a relação dos Correios, onde tinha um Correio a gente tinha aluno.
P/1 – E tinha alguma parceria de marketing, de anunciar os cursos do IUB, assim, junto com os Correios?
R – Tivemos. Os Correios foi um grande parceiro. A gente fazia panfleto e punha nos balcões no Brasil inteiro, faz uns 20 anos. A gente tinha essa parceria. É que com os militares o Correio não fazia esse tipo de coisa, depois de 1986, quando o Sarney entrou é que começou abrir um pouco. Daí saiu a ala dos militares, começaram as parcerias. Desde então a gente faz parceria com os Correios, até hoje a gente faz, são distribuídos panfletos do IUB em todos os correios.
P/1 – E eu queria perguntar para o senhor se talvez o fluxo dos cursos seja maior em regiões que não tenham tanto acesso a Internet, como é que isso funciona? O senhor falou que quando a internet veio e mudou muita coisa.
R – É. Hoje em dia está meio complicado, Por quê? A publicidade em si ela se pulverizou muito. Naquela época a gente só tinha a editora Abril, a Bloch, a rádio, que pegava. Depois não, a rádio começou a pulverizar, cada cidade tem duas, três rádios, então as frequências, é muito difícil você anunciar. As revistas, a mesma coisa, caíram muito as tiragens. Tem a televisão, mas aí fica muito caro pra esse tipo de educação. Nós anunciamos um certo período, mas é muito caro, não compensa o retorno. Com a Internet começou a voltar, porque é um produto caro. E essas regiões que você me perguntou como são, que não tem Internet, aí vai pelos balcões dos Correios, o que é distribuído no balcão, porque a televisão é muito caro, infelizmente é muito caro.
P/1 – Senhor Luiz Fernando, eu sei que várias vinhetas foram anunciadas em rádio, foram feitos roteiros.
R – Tem, tem.
P/1 – Se o senhor puder falar um pouco, contar um pouco sobre isso.
R – Mas isso já é na década de 1970 no Zé Betio, no Edgar de Souza. Aí o IUB tinha, era na Record, tinha uma antena, e à meia-noite pegava Moscou, para você ter uma ideia, e pegava o Brasil inteiro. Então o Edgar de Souza anunciava. A gente tinha um, que nem a televisão, a gente tinha um período das 4 às 8h, a gente comprava esse período todo. Tanto é que muitas duplas sertanejas se apresentaram lá, não vou falar os nomes porque eu tenho conhecimento, que são grandes hoje. Hoje em dia todo mundo já ouviu falar no Zé Betio, no Edgar de Souza não sei se tanto, mas no interior os mais velhos, da minha idade, com certeza, já ouviram falar no Edgar de Souza, no Zé Betio. Aliás, outro dia eu lembrei dele, tem um cara na televisão, que põe uma galinha, um galo. Eu não sei que canal que é, que o galo fica do lado, cantando. Bom, está indo na televisão. O Zé Betio fazia a mesma coisa, punha o galo, a panela: “Acorda, aí!”, cinco horas da manhã. Você queria matar o Zé Betio. Era isso. Na Editora Abril eu já te falei, era anúncio pra tudo. Na editora Bloch, na editora Vecchi, a gente anunciava em quase todas elas. Vocês nunca ouviram falar na Vecchi. A Vecchi era Grande Hotel. Antigamente a gente tinha as fotonovelas, não existia novela, então era fotonovela. A Capricho era fotonovela, Sétimo Céu, que era editora Bloch, Grande Hotel, que era editora Vecchi, era tudo novela, então vendia muito.
P/1 – E durante todo esse tempo aqui de Instituto, toda essa trajetória da vida do senhor de educação por correspondência, educação a distância, o que o senhor acha que tenha sido um ia um momento que tenha sido muito emocionante?
R – Pra mim, acho que quando foi na LDB, que a gente saiu da marginalidade e começamos a ter uma lei. E pros educadores até hoje, até hoje, é complicado. Eu não sei, vamos supor, você pega os grandes colégios aqui, gastaram fortunas em sala de aula então eles ficam batendo muito no à distância. Ficam intrigando. Eles acham que o bom é o que eles gastaram na sala de aula. Mesmo a professora Irene, a hora que você entrevistar, quando ela veio trabalhar comigo ela não acreditava, ela não acreditava. Ela era professora do Estado, ela não acreditava de maneira nenhuma. Por quê? Porque a gente teve essa cultura. Já a geração de vocês não vai ter essa cultura. Vocês entram na internet, fazem curso. Mas não é que vocês estão fazendo curso pra colar, vocês estão pelo conhecimento.
P/1 – E o senhor falou que mandava carta, mandava as apostilas e o kit. O que eram? Dá uns exemplos de kit.
R – Os kits era, por exemplo, para os cursos como Corte e Costura, isso e aquilo. O Rádio a gente mandava um kit de rádio, para o cara montar um kit de rádio, e depois no final ele ligava e ficava falando, então nesse kit, ele montando, ele ia aprender tudo o que ele queria. Fotografia, tinha DF Vasconcelos que fazia uma máquina fotográfica assim, então ele aprendia nas apostilas, tinha o laboratório. Eu mandava um laboratório preto e branco para ele revelar todas as fotos em preto e branco. Perfumista: mandava todas as essências e tal, mando até hoje, do kit pra ele fazer shampoo, sabão. Então todos os cursos têm essa relação com o kit. A professora que você vai entrevistar ela falar bastante do supletivo. É por isso que eu não quero falar tanto de supletivo, já é outra parte, eu acho que ela tem mais conhecimento pra falar.
P/1 – E agora eu queria saber do senhor um pouquinho, tem alguma história aqui da convivência no trabalho com seu irmão, com seu pai, que tenha sido peculiar, engraçada, desse tempo aqui?
R – Tem bastante, mas eu não me lembro. A gente sempre brincou bastante. A turma que trabalha com a gente é de anos e anos.
P/1 – Sr. Luiz Fernando, como é que o senhor conheceu sua esposa?
R – Ela estudava com a minha irmã na mesma classe, eu ia buscar minha irmã no colégio e a conheci.
P/1 – E teve festa de casamento?
R – Teve. Foi boa a festa. Foi no Bufê França, chique. É que a família dela é libanesa, os pais eram libaneses lá da 25 de Março. Mas foi bonito. Daí, separamos em 1996. Você quer saber essa história também?
P/1 – Ah, pode contar, é a história de vida do senhor.
R – É que depois pra edição é meio complicado. Eu vou te contar. Eu casei em 1978. Tivemos dois filhos: a Rafaela e o Fernandinho. Em 1996 ela se apaixonou perdidamente e eu fiquei com a guarda do Fê e da Rafaela. O Fernandinho tinha 7 anos e a Rafaela tinha 17. Daí, paixão você sabe que uma paixão é durável,
ela tem uma duração. E na época como eu era muito ligado ao negócio de família e só trabalhava eu fiquei com os filhos, na boa. Mas Sempre fazia força pra Rafaela e o Fernandinho verem a mãe. Nunca. A família dela é muito boa, não tem nada. É lógico que a gente sente, mas o que vai fazer? É a vida.
Não que eu dava pulo de alegria. Passei um momento meio complicado. Passou. Aprendi um monte de coisas, e fui na boa. Infelizmente vida é assim. E depois encontrei uma moça que era casada, tinha dois filhos, daí eu propus pra gente ficar junto, na boa, mas cada um morando no seu apartamento, eu sempre preservei a identidade e o espaço dos meus filhos. Eu já tinha vivido. Eu não podia impor umas certas coisas que eu sabia que ia mexer muito, já mexia, não queria mexer muito com eles. E estou junto com ela até hoje. Aí eu falo pra todo mundo: “Quer dar certo o casamento? Vive separado”. É isso, a história é essa.
P/1 – E como foi pro senhor ser pai?
R – Fui pai com 23, 24 anos. Hora boa.
P/1 – Fala um pouco dos filhos.
R – A Rafaela mora em Bragança, ela é casada. Eu sou avô já. E o Fernandinho, como eles têm a diferença de 10 anos, o Fernandinho agora começou a trabalhar, está num banco. Ele fez IBMEC [Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais] e agora o primeiro emprego do bicho. Mas os filhos são maravilhosos.
P/1 – Senhor Luiz Fernando o que o Instituto significa para o senhor?
R – O que ele significa? Não é só Instituto, é Escolas Associadas e Instituto. É a minha vida.
P/1 – Como é a rotina do senhor hoje?
R – Depois de velho inventei, que os filhos já cresceram todos, inventei de morar em Bragança Paulista e venho todos os dias pra cá. Então eu saio de Bragança, Pinhãozinho, às cinco horas da manhã, arrumei um estacionamento na Mooca, na Rua do Oratório. Eu venho da Fernão Dias, eu pego a Salim, entro na Rua do Oratório, comprei uma motinho 125, com caçambinha, antena de cerol, pra não pegar esse trânsito miserável encosto meu carro lá, pego minha motinho e venho trabalhar aqui. Aí, assim, a única coisa que eu fiz, que acho que tenho direito, em vez de sair às seis, sete horas, eu saio às cinco horas. Cinco horas eu vou pro estacionamento, daí eu mudo, pego o carro e vou pra Bragança. E fim de semana fico lá esperando todo mundo chegar.
P/1 – E quais são as coisas mais importantes pro senhor hoje?
R – As pessoas que eu amo.
P/1 – Sonhos?
R – É ver se o Conselho para de encher o saco e eu paro de trabalhar sexta-feira. Meu sonho? Não tenho, assim, um sonho. Meu sonho é
não parar de trabalhar, que eu não vou parar nunca, mas pelo menos um dia não trabalhar, ficar com sexta, sábado e domingo. Esse é um sonho que eu tenho. Não sei se eu vou conseguir, mas já estou conseguindo sair às duas na sexta-feira. Ah, esqueci de falar um negócio: gosto de correr. Corro dez quilômetros, há uns três meses atrás eu corria todo dia. Agora que eu estou meio paradão, mas eu corro 10 quilômetros por dia. Corria. Olha, eu vou te falar, eu fico olhando as minhas fotos e eu falo: “Olha, eu vou voltar a correr”. Depois que eu corri aqueles 25 quilômetros da USP, eu quero morrer.
P/1 – E como o senhor acha que os serviços dos Correios, tanto o Reembolso, todos os serviços deles, marcaram muito a tua trajetória.
R – Eu conheci muita gente legal nos Correios. Nem sei se hoje em dia eles trabalham. Acho que um trabalha, o Antônio Carlos. Eles sempre foram muito gente boa. Depois dos militares. Porque com os militares era complicado. E sempre deram assistência, sempre fui lá. Assim, de marcar mesmo é o Antônio Carlos de Oliveira, acho que ele chama. Não sei se ele está trabalhando ainda nos Correios.
P/1 – E quanto que essa parceria do Instituto com os Correios, essa questão da distribuição de panfletos, de estar junto onde tem Correio tem IUB também, como que isso, para o senhor, impulsionou o desenvolvimento...
R – Foi Brasília. Brasília depois da época dos militares eles começaram a abrir os Correios pra isso. Então eles começaram a fazer várias parcerias assim. Como o Instituto era um cliente antigo deles, pra nós foi um pouco mais fácil de fazer essas parcerias, mas tudo por Brasília. Brasília começou a abrir as portas. Depois vinha pra São Paulo, Jaguaré já estava pronto. Mas sempre fomos bem atendidos no Correio, sempre. Nossa, não tenho o que falar.
P/1 – E agora pra finalizar, o que o senhor acha de um projeto pra resgatar essa história de 350 anos dos Correios?
R – Ah, eu acho maravilhoso. Eu acho que a história do Brasil deve ser resgatada, inclusive dos Correios. Nós sofremos, olha que eu vou falar uma coisa que meu pai já falava. Meu pai foi cassado pela Revolução de 1964 e ele falava que o que os militares fizeram nos Correios, a inovação, a construção do Jaguaré, de todos os correios estaduais e inclusive Brasília. Não é que os militares só fizeram coisa ruim não, a maioria das coisas foram boas. Eles eram nacionalistas. Se você for comparar a Argentina com o Brasil, vê quem que na época dos militares saiu na vantagem. A Argentina não tinha nem telefone, era tudo umas porcarias, o Brasil tinha uma estrutura. Itaipu foi construída. Por quem? O Correio foi todinho reestruturado porque antes de 1964 era não era tão organizado. Os militares organizaram, fizeram um Correio pra no futuro ser de primeira linha. Coronel Boto e os outros têm os seus valores. Dito pelo meu pai.
P/1 – Sr. Luiz Fernando, agora só falta contar como é que foi pro senhor contar sua história, dividir um pedacinho da sua história com a gente.
R – Foi complicada, não vou te falar que foi fácil não. É complicado. Você me deixou de calça curta, eu não estava esperando. E umas perguntas que eu não sabia se eu falava ou ficava quieto. Eu acho que isso aí é reflexo de 1964. Mas é como eu te falo, tem muita coisa boa que eu falei que os os militares fizeram. Vem essa porcariada de imprensa e só fala coisa ruim. É lógico que eles bateram, mataram, prenderam, como toda ditadura, mas eles fizeram Itaipu, arrumaram os Correios, fizeram estradas, Não é que eu estou defendendo. Eu repito, meu pai foi cassado pela revolução, mas meu pai mesmo falava.
P/1 – Bom, Sr. Luiz Fernando, então em nome do Projeto eu queria agradecer novamente.Recolher