“Às vezes eu fico um pouco...como se fala? Frustrada. Porque eu não consigo falar direito e fica uma coisa chata. Não conto nem a metade da minha vida, não consigo abrir, entendeu. Pras pessoas eu sou difícil mesmo de abrir. Até com psicólogo não consigo falar sobre a minha vida ...Continuar leitura
“Às vezes eu fico um pouco...como se fala? Frustrada. Porque eu não consigo falar direito e fica uma coisa chata. Não conto nem a metade da minha vida, não consigo abrir, entendeu. Pras pessoas eu sou difícil mesmo de abrir. Até com psicólogo não consigo falar sobre a minha vida eu. Eu nunca estou pronta pra falar nada, entendeu? Aí fico tentando lembrar de mim. Eu tento pensar, eu falo assim “Nossa, será que eu fui assim?”, porque eu queria saber um pouco sobre a minha vida quando eu era pequena. Minha mãe conta, mas muitas coisas eu esqueci. Uma trava que eu tenho. Mas eu gostaria de contar sobre a minha vida... Quando eu nasci, a minha mãe já estava doente. Já a conheci doente. Ela faz hemodiálise desde que eu sou pequena. Eu não a vi trabalhando nunca. Não. Ela ganha INPS (Instituto Nacional de Previdência Social).
Eu sonhava em ser médica ou policial. Mas aí eu não fui nenhum dos dois. Fui crescida na igreja, não saía muito. Só com os jovens da igreja mesmo, pra retiro. Eu sempre fui fechada, na minha vida fui sem, assim, abertura. Eu brincava, fazia as coisas, mas não tive muito contato com ninguém. Eu fazia cursos, fiz Pró-Jovem, trabalhava com menor de idade, mas poucos contatos. Com dezoitos anos tive meu primeiro emprego de carteira assinada, na creche Santa Mônica. Eu era educadora de criança. Que eu adoro, adoro criança.
Por isso estou nesse projeto com outras amigas, o Celebrando Festas. Tem as meninas que sabem fazer bolo, docinhos, salgados: fazemos eventos pras crianças. Eu fico na recreação. Conviver com elas tem sido bom, porque antes eu tinha pouca coragem. Agora estou tendo mais atitude.
Somos em cinco e contratamos outras pessoas pra fazer coisas. Tem castelinho, tem moto, tem um jipe, a gente tem duas motos. E é isso, pra onde que as pessoas alugaram, pediram a gente leva lá. Isso pra mim é importante, lidar com as pessoas. Porque pra mim é uma dificuldade falar e interagir com outras pessoas. Quando eu falo, às vezes as pessoas reagem “Que bom que você falou. Pelo menos uma vez”.
Projeto: Mulheres Empreendedoras Chevron
Entrevistada por
P -
R - Laiane Louize Lopes
P – Laiane, muito obrigado em nome do Museu da Pessoa. Qual seu nome, local e data de nascimento?
R – Meu nome é Laiane Louize Lopes.
P – Onde você nasceu, Laiane?
R – Nasci aqui, no Rio de Janeiro.
P – E o nome dos seus pais?
R – Só tenho mãe.
P – Certo.
R – Vânia Lopes.
P – Você tem alguma recordação da sua mãe, do que ela fazia?
R – A minha mãe, eu, quando nasci, conheci ela, já era doente. Ela faz hemodiálise, e desde pequena. Eu não vi ela trabalhando, não. Ela ganha INPS [INSS].
P – E ela te contava algumas histórias sobre a infância dela, você teve esse contato?
R – Tive, bastante.
P – Você lembra de alguma história que a sua mãe te contou?
R – Ah, tem várias histórias assim.
P – Você se mudou com a sua família de algum lugar?
R – Eu morava lá em cima, (pausa) aqui no Borel, mas lá em cima, no final velho. Aí eu me mudei lá pra baixo.
P – E por que vocês se mudaram?
R – Porque ficou melhor pra minha mãe e minha vó.
P – Certo. Com relação à sua infância, você passou a sua infância...
R – Lá em cima.
P – E como é que era?
R – Ué, normal.
P – Do que você brincava, então?
R – De tudo.
P – Você tem alguma brincadeira que você se lembra, que ficou marcante?
R – (pausa) É porque, assim, eu tenho dificuldade de lembrar um pouco da minha infância. Aí eu não...
P – Não se lembra... E o que você queria ser quando você crescesse? Você tinha algum sonho?
R – Tinha. Eu queria ser médica ou policial.
P – Certo.
R – Mas aí eu não fui nenhum dos dois.
P – E você gostava de brincar disso quando você era pequena?
R – Gostava.
P – E sobre a sua juventude, você teve algum namoro na sua juventude?
R – Tive.
P – Você pode contar pra gente?
R – Ai...
P – Tá OK. E quando você começou a sair? Você sai sozinha, com amigos? Como é que são os seus amigos?
R – Foi depois de velha. Assim, depois de ter idade, com 18 anos, eu comecei a sair. Porque eu sempre fui, eu fui crescida na igreja, aí eu não saía muito. Assim, só com os jovens da igreja, ia pra retiro.
P – Como é que eram esses retiros, como é que era o pessoal da igreja?
R – Tá. Na minha vida toda, eu sempre fui fechada. Então, eu não tive muito, assim, abertura. Eu brincava, fazia essas coisas, mas eu não tive muito contato com ninguém, entendeu?
P – Que é que você fazia com o pessoal da igreja, nos retiros?
R – Ah, a gente... Várias coisas.
P – E o que que mudou da sua infância pros retiros, pra esse convívio com as pessoas?
R – Eu falo mais porque eu falava muito menos. E eu tenho muita facilidade de ter amigos, assim, porque sou bem… E eu tenho dificuldade de falar, assim, em público. Muita dificuldade.
P – E trabalho? Você lembra seu primeiro trabalho?
R – Eu sempre fiz, fazia cursos. Eu fiz Pró-Jovem, trabalhava menor. Com menor de idade, eu trabalhava. Aí, com uns 18 anos, eu fui pra Creche Santa Mônica, que foi meu primeiro trabalho de carteira assinada.
P – E como é que era o dia a dia na creche? O que você fazia lá?
R – Eu era educadora. Educadora de criança.
P – E como é que era o convívio com as crianças?
R – Era ótimo.
P – E o entrar em contato com a criança, como é que soa pra você isso?
R – Muito bom. Assim, muito interessante.
P – Porque a dinâmica com uma criança sempre tem momentos que marcam nossas vidas seja alguma fala, seja uma brincadeira...
R – Com certeza.
P – Você lembra de alguma?
R – Ah, são várias, assim. São várias experiências que a gente tem também lá, em creche, ainda mais dentro de comunidade.
P – Você pode contar um dia que foi especial pra você?
R – Ah, cada dia é especial com eles porque são crianças, assim, que precisam estar com pessoas.
P – E como é que era o Rio de Janeiro quando você era menor, quando você era criança?
R – O Rio?
P – É.
R – Não sei, eu não saía de casa - era muito agarrada com a minha mãe.
P – E quando você começou a ir pra igreja, assim, você lembra...
R – Eu ia da igreja pra casa.
P – Certo, mas como é que era a rua? Como é que era o tráfico?
R – Eu não gostava de ficar na rua. Eu não gostava do tráfico.
P – O tráfego de carros, assim, como é que eram os carros, as casas?
R – Diferentes.
P – Você tem alguma imagem que ficou marcante pra você?
R – Não, só eram menos casas.
P – E como você ficou sabendo do projeto?
R – Foi a Lila que me ligou. Ela falou sobre esse projeto, e aí eu fui lá e...
P – E quando você começou a fazer parte dele?
R – Foi já… Acho que já era na segunda ou na terceira aula, eu fui. Primeiro. teve umas aulas antes. Foi assim.
P – E nessas aulas, vocês faziam o quê?
R – A gente aprendia sobre tudo, sobre empresa, empresário - coisas empresariais.
P – Certo. Tá OK. E as pessoas que fizeram as aulas junto com você, como é que elas eram? Você já conhecia elas?
R – Algumas sim. Acho que a maioria, assim, algumas de vista, mas eu tinha mais intimidade.
P – E você conseguiu criar um laço afetivo com essas pessoas, uma certa amizade?
R – Muito pouco. A gente tinha contato, mas não, ser amigo, assim, não.
P – Você se lembra do primeiro dia que você começou a atuar no Celebrando Festas?
R – Não me lembro.
P – Não se lembra? E você tem algum dia que ficou marcante pra você, algum dia que foi especial?
R – (não responde com voz)
P –
Você sabe o que é e o que faz o projeto Celebrando Festas?
R – O projeto...
P – Celebrando Festas.
R – Sim, ele aluga as coisas pra fora.
P – O que você faz? Você, especificamente, que [é] que faz nele?
R – Eu fico na, só na recreação.
P – Na recreação. E as atividades realizadas pelo projeto, você sabe quais são e, de forma específica, o que traz pra comunidade?
R – O projeto?
P – Isso.
R – Ah, não sei.
P – E o projeto é importante pra você?
R – É.
P – Por quê?
R – Ah, não sei, porque, assim, foi uma oportunidade que a gente teve pra... (pausa) Eu não sei.
P – De que maneira é realizada, é feita a divisão do trabalho dentro do projeto, dentro do Celebrando Festas? Como é que ele funciona, assim, quem faz o quê?
R – Ah, tem as meninas que sabem fazer bolo, docinhos, salgados. A gente só ajuda a enrolar, essas coisas. Tem umas que sabem já ornamentar.
P – E por que é importante um projeto desse pra comunidade, o que é que ele trouxe?
R – Assim, o custo, a gente cobra bem bem pouco, pra... E aqui quase não tinha essas coisas; eles sempre buscavam do lado de fora e agora tá aqui.
P – E esse “buscar fora”, qual é a diferença dele pro projeto?
R – Sobre eles estarem contratando o nosso serviço?
P – Isso.
R – Bem interessante, porque a gente trouxe novidade.
P – E o que ele agregou pra sua vida? O que ele trouxe pra você enquanto pessoa?
R – Amadurecer um pouco e... Não sei.
P –
Como que se dá o aprendizado do dia a dia do projeto, as relações construídas?
R – Em que sentido assim?
P – Como é que é. Você falou que fez você amadurecer, e como é que se deu isso, por quê? Te trouxe mais responsabilidade?
R – É porque são coisas que eu não tinha, eu não tenho, não tinha coragem de fazer porque... (pausa) Agora eu tô tendo mais atitude, entendeu?
P – Você consegue lembrar um dia que você teve que tomar a frente?
R – Ah, tem várias situações, assim, de festas.
P – Conta um dia de uma festa pra mim. Como é que é?
R – Ah, a gente vai, vem de manhã, “cata” as coisas pra levar pro salão [de] festas que é lá embaixo, e a gente começa a arrumar tudo, entendeu?
P – E quantas pessoas são?
R – Somos cinco. A gente contrata as pessoas pra estarem ajudando a gente.
P – E como é que é a relação com essas pessoas que são contratadas, elas entendem o projeto?
R – Entendem.
P – E como é que é essa, como é que as pessoas veem? Porque quando você contrata muitas vezes, as pessoas entram em contato e elas se sensibilizam pelo projeto também. Aí, assim: é agregado às pessoas também. Como é que é a soma dessas pessoas pra vocês, pra comunidade?
R – É, a gente contrata. Também, eles recebem porque eles estão.
P – E quais foram os principais desafios que você enfrentou dentro do projeto?
R – É lidar com pessoas, com as mulheres. Porque essa minha dificuldade de falar e de ter que interagir com as pessoas. Assim, é e muita gente.
P – Você teve um dia que ficou extremamente envergonhada e não podia?
R – Como, não podia falar?
P – Um dia que você teve que tomar uma iniciativa. Você pode contar esse dia pra gente?
R – É, foram situações, assim, porque, foi situação que teve, aí eu tive que falar. Aí eu falei...
P – E pelo fato de você falar, como é que é a reação das pessoas? Porque você é uma pessoa muito tímida.
R – É, sou.
P – Como é que é, como é que as pessoas reagem quando você fala?
R – Não sei, eles falaram: “Que bom que você falou pelo menos uma vez”.
P – Quais são as principais motivações que você tem pra participar do projeto?
R – Motivações? Ah, não sei.
P – Que é que você pensa quando vai ter um evento e tem que fazer, você tem que tomar frente? Que é que passa pela sua cabeça nesse momento, da festa, de preparar?
R – Ah: "Mais uma festa a ser realizada". Só isso.
P – Que é que essa festa traz, do ponto de vista pra comunidade, pras pessoas?
R – As pessoas elogiam. (pausa) E também, como eu te falei, eles gostam porque é um preço bom. Eu acho que o que está ajudando, assim, na comunidade mais é a coisa, são, financeira, as condições.
P – Como você se sente trazendo alegria às pessoas?
R – Ah, legal.
P – Você sente uma “missão cumprida”? Alguma pessoa já veio conversar com você sobre uma festa super bacana que teve?
R – Já.
P – Como é que é, como é que você se sente depois desse retorno?
R – Ah, me senti bem. Poxa, que bom que uma pessoa veio elogiar.
P – E quais foram seus principais marcos pra você, na sua atuação do projeto?
R – Como assim? Não entendi.
P – Quais foram os dias que mais foram importantes pra você no projeto? Que você pôde sentir esse espírito de equipe, que você pôde se sentir acolhida?
R – No projeto?
P – Com o projeto.
R – Com o projeto?
P – Isso.
R – Sobre o Grupo Elas?
P – Isso.
R – Ah, eu acho, assim, [que] elas estão sempre ligando...
P – Como é que você sente esse grupo, fazendo parte dele?
R – Como eu me sinto?
P – Isso.
R – Eu me sinto bem. Bem.
P – E enquanto ser humano, o que é que trouxe pra você?
R – É... (respira fundo)
P – O que você ainda espera alcançar com o projeto?
R – Eu espero que bombe. E que as pessoas contratem mais.
P – Certo. E o que você faz hoje dentro dele?
R – O que eu faço hoje?
P – Do projeto.
R – Eu faço recreação; eu mexo na, no computador.
P – E quais são as coisas mais importantes pra você hoje?
R – Na minha vida ou no projeto?
P – Nas duas coisas.
R – Na minha vida, as coisas mais importantes? Ah, é poder ter saúde pra trabalhar. E o projeto, eu espero que (pausa) o projeto continue.
P – Que é que você espera com a sua atuação dentro do projeto?
R – Que é que eu espero da minha atuação?
P – É, no projeto.
R – Que a gente continue trabalhando. Não sei responder...
P –
E seus sonhos dentro do projeto, o que você espera dele?
R – Eu espero que a gente consiga um local que coloque as coisas, que a gente tenha um espaço pra gente, entendeu?
P – E hoje, as coisas estão guardadas onde?
R – Na nossa empresa, lá embaixo, que tem um quartinho.
P – Que coisas são essas?
R – Que estão guardadas?
P – Isso.
R – Pula-pula, a piscina de bolinha, tobogã…
P – Que equipamento, então, o projeto tem pra agregar na; como é que é uma festa? Que é que tem de físico nela, [quais] são os equipamentos que têm nesse local? Você falou do tobogã, do pula-pula, que mais tem?
R – Tem castelinho, moto, um jipe - a gente tem duas motos. E é isso, a gente leva pra onde que as pessoas alugaram, pediram, e a gente leva lá.
P – E com relação à sua infância de criança tímida, que sempre foi pra igreja, como é que você se sente, hoje, trabalhando em festas? Porque é uma coisa distante. Numa festa, tem que estar sempre animada, você tem sempre que animar...
R – Não, e eu sou animada, é porque estou envergonhada. Parece que eu sou muito assim, mas é que não sou. Eu gosto muito de trabalhar com criança, adoro trabalhar com criança, gosto muito. E é, assim, uma coisa que eu sempre gostei, desde pequena eu tô trabalhando com criança. Eu cresci e estou aqui. Eu fiz vários cursos...
P – Você fez cursos do quê?
R – Fiz curso de Técnico de Enfermagem, eu fiz a SB, sabe? Fiz é, Informática, fiz Educadora Infantil. Fiz vários cursos, assim.
P – E hoje você trabalha com o que, profissionalmente?
R – Profissionalmente, agora, estou trabalhando como monitora, mas estou correndo atrás.
P – O que é que ajuda seu trabalho com o Celebrando Festas?
R – Assim, eu consegui, saí da creche e... O que ajuda?
P – Porque a experiência... O contato com a criança, como é que, o que é que isso traz?
R – É a mesma coisa, assim. Eu adoro trabalhar com criança, me traz uma felicidade imensa. Prefiro trabalhar com crianças do que com adultos.
P – Dentro do Celebrando Festas, como é que as crianças agem?
R – Criança é criança, né? Todos são iguais, assim, de idades diferentes, mas...
P – Tem algum dia que você lembra que alguma criança fez alguma coisa especial?
R – Não, as crianças, elas, no caso do Celebrando Festas, a gente fica no pula-pula monitorando as crianças. Eles só conversam. Só, conversam.
P – O que é que elas falam pra você?
R – Não sei. “Ô, tia, eu gostei de você”, não sei, alguma coisa assim, entendeu?
P – O que é que você sente quando você olha o brilho do olhar de uma criança feliz?
R – Ah, eu me sinto muito feliz. Muito, sabe? Não sei, uma coisa, (pausa) uma felicidade imensa, me dá uma emoção muito grande. Criança, adoro criança.
P – Como você se sente quando uma criança fala esse tipo de coisa...
R – Conversa, essas coisas? Me sinto muito lisonjeada, assim, sabe?
P – Do ponto de vista humano, assim, o que isso trouxe de benefício pra você?
R – Eu aprendo muito com elas a cada dia. Às vezes você não, é uma atitude que você não imaginava que ela ia fazer, assim, mas não sei.
P – Você se vê nelas?
R – Não.
P – É, de forma diferente. Você pensa em você criança frente elas?
R – Eu tento pensar, falo assim: “Nossa, será que eu fui assim?”, porque eu queria saber um pouco sobre a minha vida quando eu era pequena. Minha mãe conta, assim, mas muitas coisas eu esqueci. Uma trava que eu tenho, entendeu? Mas eu gostaria de contar, entendeu? Aí travou isso e eu não consigo. Eu queria, entendeu, assim, uma coisa assim...
P – E enquanto seus sonhos enquanto pessoa mesmo, pra você, o que é que você sonha?
R – Eu agora pretendo trabalhar, e [em] uma coisa que eu goste. Eu gosto muito da área da saúde, entendeu? E, assim, saí da creche, eu tô construindo minha casa, tô fazendo uma casa. Esses são meus sonhos, assim. Eu tento. Eu queria fazer uma faculdade, mas eu renunciei minha faculdade pra fazer minha casa, entendeu? Porque eu poderia. Eu saí da creche com dinheiro já na mão, aí falei: “Vou fazer minha faculdade”, mas aí eu preferi fazer a minha casa. Aí, agora, pretendo ter um carro. Não sei, eu quero trabalhar pra poder conquistar, porque tá vivendo, tem que trabalhar. Conquistar... Queria ter um filhinho assim, mas eu queria dar o melhor pra ele. Eu vejo as crianças aí, sabe? Eu gosto muito de criança, então, eu queria. Sou muito, assim, apegada à criança, não queria que meu filho sofresse, não sei, com a vida, assim, que eu vejo mães levando pra escola, sabe?
P – Você falou muito de escola: teve algum professor ou professora que te marcou na época da escola?
R – Eu sempre fui um pouco, é, rebelde. Muito rebelde nas escolas. Então, os professores eles me, eles conversavam muito comigo, todos os professores.
P – Mas teve algum que te marcou, alguma disciplina que você gostou?
R – Que gostava de mim, essas coisas?
P – Que você gostava.
R – Ah, eu, do Ensino Médio, gostei. É, do ensino...
P – Alguma matéria?
R – Todas as matérias.
P – E você teve algum dia na escola que foi importante pra você?
R – Importante? Foram normais, estudei...
P –
Certo. E como é que é feito o aprendizado dentro do projeto Celebrando Festas?
R – Já foi feito. O aprendizado foi no começo, antes de a gente começar a nossa empresa.
P – Certo. E como é que era feito?
R – Era um, eram aulas. Eram... É.
P – Aula do quê?
R – Várias, de tudo. De... Agora esqueci, sou muito esquecida.
P – Certo. Como é que é feita a comercialização do produto, que no caso é a festa?
R – Em que sentido?
P – Como é que é feita a venda da festa?
R – Eles vão lá onde que a gente se localiza, lá embaixo, e pedem pra ver as fotos que a gente fez, e eles contratam.
P – E como é que é? As pessoas que contratam, elas são sempre da comunidade?
R – Sempre da comunidade.
P – E elas já sabem que lá é o espaço, como é feito?
R – Isso.
P – E há muita procura?
R – É, até que tá tendo, assim, bastante procura, mas às vezes, num mês, a gente fica todos os sábados, entendeu? Às vezes tem aluguel de coisas, nem sempre é a festa inteira. Sempre aluga só um pula-pula, só cadeira.
P – O que é que a geração de renda do projeto mudou na sua vida, que é que trouxe pra você?
R – No momento, não está tendo tanto rendimento assim. Mas, assim, está tendo... Não sei.
P – E como é que é essa questão da verba que é destinada, como é que é feita essa questão do dinheiro?
R – Não, a gente já comprou o nosso material com o dinheiro, entendeu?
P – Da onde vem esse dinheiro?
R – Veio da Chevron.
P – Da Chevron. Como é que foi contar a sua história pra mim?
R – É, foi um pouco, como que se fala? Frustrada. Porque eu não consigo falar direito e fica uma coisa chata. Porque nem a metade da minha vida eu contei aqui, porque não consigo abrir, entendeu, assim? Pras pessoas, eu sou difícil mesmo de abrir. Até psicólogo, não consigo falar sobre a minha vida, eu.
P – Por que você acha que não consegue?
R – Não sei, porque eu acho que as pessoas não vão se interessar naquilo que eu tenho pra contar, entendeu?
P – Você tem alguma coisa pra contar, que pra você é relevante [e] que agora, neste ponto da entrevista, você se sente pronta pra falar e com vontade de falar?
R – Assim, eu nunca estou pronta pra falar nada, entendeu?
P – E se você pudesse deixar alguma mensagem pras pessoas da comunidade, pras pessoas que acompanham o projeto Celebrando Festas, que é que você falaria pra eles?
R – Que acompanho, ou pra comunidade? Como assim?
P – Pras duas. Assim, pra campanha e pra comunidade.
R – Ah, que eles venham procurar saber mais, assim, do nosso projeto, porque às vezes as pessoas ficam meio: “Ah, como é que é?”, entendeu? Com dúvidas. Só isso.
P – E como é que é feita a divulgação?
R – Do nosso...
P – Do projeto pra comunidade?
R – Tá tendo nas festas, assim, folheto, essas coisas.
P – E pras pessoas do projeto, o que você tem a falar? Pras pessoas que dividem a equipe com você, que fazem parte do Celebrando Festas, o que você tem pra falar?
R – Ah, pra gente ter forças, ter ânimo e olhar pra frente.
P – E sobre a união das pessoas do projeto, você poderia falar alguma coisa?
R – União? Como assim, você diz?
P – Da amizade que é construída e do trabalho em equipe que é feito.
R – Assim, como eu te falei, é... Ai, não sei como contar, não. Não sei. Amizade... Eu acho que a gente, é, se uniu pra fazer um dinheiro, mas, assim, é muito difícil lidar com pessoas.
P – E sobre lidar com pessoas, você tem uma última mensagem pra finalizar a nossa entrevista? Pras pessoas de forma geral, familiares, amigos? Alguma coisa que você deseja pro mundo?
R – Eu desejo pro mundo paz.
[Fim do depoimento]Recolher