IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Francisco de Paula Garcia Caravante, nasci em Lins, no estado de São Paulo, em 22 de outubro de 1942. INGRESSO NA PETROBRAS Eu morava em São Paulo e já era casado. Tinha um filho. E naquele bairro, na Zona Leste, Itaquera, vocês existia uma mulher, dona ...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Francisco de Paula Garcia Caravante, nasci em Lins, no estado de São Paulo, em 22 de outubro de 1942.
INGRESSO NA PETROBRAS Eu morava em São Paulo e já era casado. Tinha um filho. E
naquele bairro, na Zona Leste, Itaquera, vocês existia uma mulher, dona Joana, uma baiana, dizia para mim e para o meu irmão: “Vocês vão trabalhar na Petrobras porque eu conheço o superintendente da Refinaria de Mataripe na Bahia.” Isso em 1970.
Pouco tempo depois apareceu no jornal um edital convocando para concurso na área de operação da Petrobras em Paulínia e Cubatão. Meu irmão e eu fizemos o concurso, aqui em Campinas, em 1970. Passamos na primeira fase, depois fizemos o psicológico, passamos também. Em 10 de abril de1971, eu ingressei na Petrobras.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu entrei para área de utilidades, que seria vapor, água e energia elétrica, o coração da refinaria, o que move a refinaria. Meu irmão para operação da unidade 200, ou seja, destilação. Em julho eu fui fazer um estágio no Rio de Janeiro de dois meses na refinaria Reduc. Oito meses antes da explosão da Reduc, onde morreram muitos operários. Eu trabalhei naquela área que houve aquele acidente. Voltando para cá ficamos até o final do ano entre estudos e ambientação, saber o que era uma refinaria, porque a refinaria não existia. Só existiam as máquinas paradas. No finalzinho de 1971, começamos a dar início nas atividades, partindo primeiro a estação de tratamento de água, o vapor e a energia elétrica. Em maio de 1972, a refinaria foi inaugurada. Esta refinaria é tão famosa pelos 1.000 dias de construção, era um recorde.
CULTURA PETROBRAS Sou um dos primeiros operadores da refinaria de Paulínia, sou o número 32. A refinaria partiu com mão-de-obra que veio de fora, que veio da refinaria de Cubatão, da refinaria de Reduc, da Refinaria de Porto Alegre. Esses mais experientes, porque nós não tínhamos experiência com refinaria. Nós nos sentíamos donos da refinaria, de uma empresa nossa. Donos como brasileiros, donos do bem patrimonial, do bem Petrobras. E também esta gana, esta vontade, esta coisa que eu não sei como explicar, também foram passados pelos funcionários antigos, que vieram de Cubatão, que tiveram lutas homéricas pouco antes da ditadura. Adquirimos do pessoal de Cubatão, essa vontade de lutar, de ter a Petrobras como nossa.
Os militares tinham a Petrobras como um bem realmente, mas já havia interferências internacionais no sentido de trazer a Petrobras para esta questão que hoje se chama globalização, já existia algumas pontadas nisso aí. Era uma guerra entre tecnologia e a questão ideológica. Já começa a aparecer a questão ideológica, de ter a Petrobras como nossa. Mas o primeiro movimento nosso era de manter a operação, manter o trabalho a todo e qualquer custo. Agente mostrou o que é trabalhar, na primeira grande emergência que houve na refinaria, chamada Setembro Negro. Ninguém sabe por que a refinaria parou, houve uma reversão no tubo gerador e caiu, parou a refinaria. E nós mantivemos esta refinaria sem nenhum risco de explosão. Esse foi nosso primeiro embate entre operário e máquina, foi em setembro de 1972.
SINDICATO UNIFICADO DE SÃO PAULO – REGIONAL CAMPINAS O sindicato entrou na minha vida em 1973. O sindicato de Cubatão queria estender a base dele para Paulínia, então ficaria Cubatão, Santos e Paulínia. E aí começou a luta nossa. Seis meses após formamos nossa associação, Associação dos Trabalhadores da Indústria de Petróleo de Campinas, Paulínia, São José dos Campos.
Nessa associação, o pessoal do sindicato de São Sebastião e Santos já trazia uma chapa pronta e eu formei uma oposição naquele momento. Nós tivemos que retirar esta chapa de oposição em razão do tempo de trabalho, nós não tínhamos dois anos. Foi uma maneira que o pessoal de Santos achou para não deixar os meninos novos entrarem na oposição. Houve uma composição fizemos uma chapa e a associação começou a trabalhar bem. Em tempo recorde nós conseguimos transformar essa associação em sindicato. Isso foi em 1973. Fui eleito secretário-geral; Jacó Bittar, o presidente. E nós fizemos uma composição do pessoal mais retrógrado. Na outra eleição ficamos nós; eles saíram. Começa aqui esta luta do novo sindicalismo. Porque até 1979, tinha um sindicato totalmente atrelado ao Estado, de acordo com a legislação de 1945. Que foi Getúlio Vargas que traçou a linha de como o sindicato tinha que se portar. Veja bem, não se pode esquecer também as lutas dos operários estimuladas pelo Partido Comunista, anterior a isso aqui. Na época de Vargas já tinha movimento. Se a gente for mais atrás vai ver movimento anarquista. Eu tenho um pouco de anarquista, porque meus pais vieram da Europa.
EVENTOS HISTÓRICOS Em 1978, o Lula, surge no ABC. Começa a questão dos petroleiros e o Lula, num congresso da Bahia. A gente olhava um para o outro e dizíamos: “Tem que haver um partido dos trabalhadores.” E surgiu a idéia de formar o PT, entre o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e os Sindicatos de Petróleo de Campinas e da Bahia numa assembléia do Congresso Nacional dos Petroleiros, ao qual, o Lula foi convidado. A lei garantia os partidos da Arena e MDB, que depois se dividiram, mas davam aquela brecha de se formar os diretórios. E o PT foi o único que fez rapidamente, na luta mesmo, para poder surgir.
SINDICATO UNIFICADO DE SÃO PAULO- REGIONAL CAMPINAS Antes de 1983, teve um marco nessa refinaria aqui. A gente começava a mobilizar os operários, nós começamos a usar tarja negra. Hoje no Japão é tão comum isso, o operário descontente usa uma tarja negra. Então chamava tarja negra, foi o primeiro movimento de massa dessa refinaria. O segundo movimento foi greve de fome. Os operários, durante dois e três dias, não se alimentavam com a comida da refinaria. E o pessoal do restaurante, que era contratado, vibrava com aquilo, diziam: “Estamos no caminho.” Este foi um dos movimentos marcantes neste sindicato. Em 1983 eu fui cassado e saí da refinaria. No final de 1985 eu volto para a Petrobras, mas em São Paulo e me aposento em 1992.
GREVE DE 1983 A luta que mais me marcou foi a greve de 1983, toda a nossa diretoria foi cassada. E se não me engano, 50 ou 80 que foram demitidos. Essa sim foi um marco, a primeira greve no setor petrolífero do mundo. Pára aqui e na Bahia, dia 6 de julho de 1983. Então, este foi um marco na luta sindical, porque a indústria petrolífera é um marco. É uma indústria que todo o país segura com unhas e dentes. Então esta greve foi um marco histórico, de hegemonia dos trabalhadores no sentido de lutar contra a ditadura. O sindicalismo atuante, o sindicalismo novo que surge no Brasil
com os Sindicatos do Petróleo em Campinas e Salvador e com o sindicato dos metalúrgicos no ABC, com Lula.
MEMÓRIA PETROBRAS Realmente eu fiquei bastante emocionado, porque é um projeto que está buscando as raízes, pelo que eu entendi; isso nunca foi feito. Se você voltar hoje no movimento operário, pouco se tem do que os operários falam. O projeto de vocês
vai lá embaixo, vai onde está a camada que realmente fez a história, que participou da história, que sustentou esta empresa, que é o operário. Eu acho que vocês têm um grande campo. Deve continuar, porque não são só 50 anos de Petrobras, são 50 anos de um povo que tem a Petrobras.
CENTRAL SINDICAL E você vê, a luta do novo sindicalismo não parou. Nós tivemos um papel importantíssimo na CUT. A nossa candidatura e de outros companheiros, como Jacó para senador no primeiro mandato. Eu como deputado estadual e assim por diante. Houve uma luta muito boa dos operários. A gente tem uma histórica tão rica.Recolher