IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Vítor Revidiego Lopes, nasci em Catanduva, no interior de São Paulo, no dia 21 de fevereiro de 1952. MIGRAÇÃO Eu saí de Catanduva quando eu tinha nove anos. Naquela época era êxodo rural, era comum as pessoas saírem de região rural para i...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Vítor Revidiego Lopes, nasci em Catanduva, no interior de São Paulo, no dia 21 de fevereiro de 1952.
MIGRAÇÃO Eu saí de Catanduva quando eu tinha nove anos. Naquela época era êxodo rural, era comum as pessoas saírem de região rural para ir morar nas cidades. As cidades começaram a crescer, a população urbana começou a crescer. Nós tínhamos um sítio, meu pai vendeu. Nós moramos inicialmente em Araraquara e depois viemos para Campinas.
INFÂNCIA Você ter uma infância num ambiente rural é gostoso, é uma infância rica, com espaço, liberdade, e na cidade já existia toda uma preocupação com aspecto de relacionamento, meio social.
IMAGENS DA PETROBRAS Quando eu consegui a liberação do serviço militar, consegui meu primeiro emprego. Eu nunca tinha ouvido falar em Petrobras. A rede de distribuição não era tão grande assim, não existia a figura do posto BR que nem é hoje. A única coisa que a gente conhecia um pouco da Petrobras era quando íamos para Santos, na Baixada Santista a gente via o flare da refinaria..
INGRESSO NA PETROBRAS
Estava começando a obra aqui, a gente fazia os concursos para você trabalhar numa empresa fornecedora de mão-de-obra e depois ser absorvido nos quadros da Petrobras. Quando entrei em janeiro de 1971, trabalhei durante um ano e pouco numa empresa chamada Manobra. Durante a fase de construção, os empregados da Petrobras que estavam aqui tinham vindo de outras unidades. Em junho de 1972 entrei na Petrobrás.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu entrei na Replan e trabalhava na área administrativa, depois trabalhei na área de serviços médicos, na área de recursos humanos, na fase de recrutamento, seleção, treinamento. Depois trabalhei na área de serviços, depois na área de gestão, na área de marketing e agora estou há um ano na área de comunicação. Fui migrando por vários tipos de atividades.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO Era a época do pleno emprego, do Brasil grande, do desenvolvimento. As pessoas trocavam de emprego com muita facilidade. Como a falta de pessoal era grande, a Petrobras teve algumas medidas, como ampliar a área de recrutamento. Não se limitava aos grandes centros de Campinas e Paulínia. Começaram a procurar nas cidades vizinhas.
Quando eu entrei aqui, nunca sonhava em ficar mais de que cinco anos. Você até achava interessante quando via algumas pessoas que eram premiadas por 10 anos de empresa e já estou nos 30.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu trabalhei muito nessa área de recrutamento. E depois os próprios cursos de formação, estruturar, capacitar as pessoas, porque a indústria de petróleo é um segmento muito específico. A manutenção de equipamentos numa indústria petroquímica é bem específica. Então, a gente montava esses cursos. Eu participei ajudando a elaborar as primeiras apostilas de cursos de formação dos primeiros operadores da refinaria.
PROCEDIMENTOS DE TRABALHO As primeiras máquinas calculadoras eram manuais Facit. Depois começaram a aparecer as primeiras eletrônicas e depois a entrada do computador. Primeiro ele começou a entrar nas áreas técnicas; quem tinha um computador era porque desempenhava um trabalho de alto nível de exigência, em termos de cálculos e desenvolvimento de trabalho e projeto. Hoje, qualquer um tem um computador. E aí todo processo de automação foi entrando na refinaria. Com isso, uma série de atividades se tornando automáticas, mesmo no nível administrativo. Com isso foi reduzindo o número de pessoas que trabalhavam aqui. Antes de 90 a lotação nossa era acima de mil pessoas, hoje nós temos 715 pessoas trabalhando. Uma coisa positiva que aconteceu aqui na Petrobras e na Replan é que este processo foi muito bem feito, não causou demissões. Foi todo um processo de aposentadoria. Teve alguns incentivos à demissão, mas nenhum de escolher pessoas para serem demitidas. Isso foi muito bem gerenciado, houve o respeito às pessoas de maneira geral.
REPLAN Tem vários momentos marcantes. A inauguração em si, com a presença inclusive do presidente da República. Na época era presidente da República o Garrastazu Médici, e o presidente da Petrobras era o Geisel. Na inauguração, o contingente de seguranças era muito grande. Exército na rodovia para fazer o esquema de segurança, hospitais de prontidão em Campinas para atender o presidente caso ocorresse algum mal súbito. Foi uma estrutura muito grande. Naquela época nós tínhamos duas unidades. Uma unidade de destilação a vácuo e a unidade de craqueamento.
GREVE DE 1983 O momento mais marcante foi em 1983, quando que teve a primeira grande greve. Na década de 70, praticamente o sindicato era assistencialista, não tinha uma atuação sindical como hoje a gente conhece.
No início da década de 80, começaram os movimentos sindicais. E aqui na refinaria nós tivemos uma primeira greve no meio sindical. É interessante que muitas pessoas que não pensavam em fazer greve, mas todo aquele movimento, algumas lideranças sindicais fazendo toda aquela pressão.
RELAÇÕES COM O GOVERNO Depois teve uma série de conseqüências desse movimento.
Na época, o presidente da Petrobras era o Shigeaki Ueki, ele imediatamente determinou demissões de um contingente muito grande de pessoas. E começaram aqueles movimentos das pessoas se concentrarem e reunirem-se com as famílias, a empresa solicitando que as pessoas retornassem.
RELAÇÕES DE TRABALHO A minha função na época era ajudante administrativo. Aí acabou a greve, tinha um número de pessoas que foram demitidas. Essas pessoas foram e começou todo um processo de gestão do retorno desse pessoal, que aconteceu um tempo depois, foram readmitidos.
A relação da Petrobras com o sindicato eu acho que é franca, é boa. Acredito que depois dessas greves, já na fase de abertura militar, houve uma abertura bem maior em termos de relacionamento. Eu vejo uma postura de contato constante, não vejo antagonismo.
CULTURA PETROBRAS Uma coisa interessante é exatamente a evolução dos conceitos. No início da refinaria é muito comum o flare. Então, era muito constante nos ajustes operacionais você mandar produtos para serem queimados no flare. Naquela época, não existia o conceito e a exigência ambiental. Hoje é inadmissível isso. Então, eu me recordo que a gente brincava porque tinha uma música dos Golden Boys que dizia: “He he he, fumacê, ha ha ha fumaçá.” E a gente fez analogia, tipo de um desenho caricaturista da fumaça do flare com esta música. Naquela época eu trabalhava no serviço médico e tinha um enfermeiro que já tinha habilidade para jornalista. E a gente chegou a fazer um primeiro jornalzinho não oficial da refinaria. Era feito no mimeógrafo, uma coisa bem inicial, porque na Petrobras não tinha estrutura para isso, nem tinha esse objetivo, nem a mentalidade de uma comunicação empresarial. Eram completamente diferentes os valores.
MEMÓRIA PETROBRAS A Petrobras tem uma característica: ela teve que construir tudo isso que existe hoje. Construir não só em termos físicos, mas em termos de competência, habilidades. E buscar toda essa evolução de como foi feito isso é muito interessante, registrar tudo.
Pessoas vivendo essa fase de evolução tecnológica é muito interessante.Recolher