IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Itamar José Rodrigues Sanches. Eu nasci no dia 19 de outubro de 1964, em São Caetano do Sul, São Paulo. INGRESSO NA PETROBRAS Eu comecei a fazer estágio de técnico químico no laboratório na refinaria em janeiro de 1983. Eu saí da escola de química e ...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Itamar José Rodrigues Sanches. Eu nasci no dia 19 de outubro de 1964, em São Caetano do Sul, São Paulo.
INGRESSO NA PETROBRAS Eu comecei a fazer estágio de técnico químico no laboratório na refinaria em janeiro de 1983. Eu saí da escola de química e fiquei aqui até uns dias antes de se iniciar a greve de julho de 1983, quando fui dispensado. Faltavam 40 horas para terminar meu estágio. Estava um processo conturbado aqui na refinaria, foi quando estourou a greve. Eu já estava fora, fazendo estágio na Rhodia. Depois da greve, fui chamado para trabalhar.
GREVE DE 1983 Foi uma greve complicada, ímpar na Petrobras. Então, quem entrou substituindo teve um certo constrangimento, Era como se estivessem substituindo os grevistas. Tem também um fato marcante: a volta desses companheiros em 1985. Aí eu me senti aliviado e acabou aquilo de tirar o emprego de alguém. O pessoal demitido na greve voltou em 1985 porque os petroleiros conseguiram na Justiça a reintegração. Tive o prazer de ver os companheiros voltar e falar para eles que era muito bom tê-los de volta na Replan.
Foi uma greve na época da Ditadura. Numa época de repressão. Eu era novo na época, estava preocupado em andar de bicicleta. Sempre ia dar uma volta de bicicleta e via os trabalhadores acampados, em assembléias. Mas o que mais marcou mesmo foi o centro de convivência, os momentos de tensão, de alegria, de união, de companheirismo.
SINDICATO UNIFICADO DE SÃO PAULO - REGIONAL CAMPINAS Eu devo ter me filiado logo depois que foi retomado o Sindicato. Foi aí que a gente voltou a ter algumas conquistas, porque logo depois da greve a organização sindical ficou quase aniquilada. Foi um jeito de retomar a organização. Eu lembro que depois de a gente ter conseguido, a empresa começou a ceder, talvez por uma questão de mercado mesmo.
Depois, o que eu mais lembro mesmo é da organização das greves, vigílias que a gente fazia, greve de 1987, de 1989, de 1991 Eu sou dirigente sindical desde 1995. Quando estourou aquela greve, que foi a maior que a gente já fez, 32 dias na refinaria. Foi a primeira greve contra Fernando Henrique.
SEGURANÇA DO TRABALHO Olha, a gente sempre tinha a preocupação na Cipa, de ter alguém um pouco mais atento às questões de saúde e segurança. Eu me interessei por fazer este trabalho. Depois acabei gostando e fui me aprofundando nesta coisa de mapa de risco.
No primeiro ano, eu fui eleito pelo Sindicato, pelos companheiros. No ano seguinte, pelo trabalho feito, a empresa me indicou. Mas o importante era o trabalho desenvolvido na época da Cipa, o que levou a me convidarem a participar da direção do Sindicato. Fui diretor um ano e meio, dois anos, depois saí liberado. Desde 1997 estou afastado para o Sindicato.
GREVE DE 2001 Uma coisa interessante foi a última greve em outubro de 2001. Desde 1995 a gente ficou vários anos sem fazer uma greve. A gente tinha feito mobilizações, greve de 24 horas, mas uma greve maior, nacional, a gente só voltou a fazer em 2001. Foi uma greve de ocupação. E ficamos, eu e o companheiro Marcelo à frente deste movimento, organizando estes companheiros e controlando a rendição dos trabalhadores. Não teve corte de produção, não teve nada, mas a gente tinha um bom controle no pessoal na refinaria, tanto que a gerência estava em contato direto com a gente.
O que aconteceu em 1995 foi que a gente perdeu 32 dias de salário, perdeu férias, perdeu organização sindical. Ninguém queria mais protestar. Mas nessa greve de 2001, a gente votou por fazer uma greve de cinco dias, com início e fim.
A empresa não acreditava que ia ter greve, os próprios trabalhadores não acreditavam que a gente conseguiria fazer uma greve daquele porte. Era para começar à zero hora, mas a gente começou às 15h30, a gente antecipou 8 horas e ficamos com três grupos dentro da refinaria, sob o controle do Sindicato. Aí a bacia de Campos começou a parar as plataformas. Campinas, a Replan, que é a maior refinaria do país, com 22% a 25% da produção nacional. O que se viu foi um efeito dominó, 90% das refinarias com corte de rendição, mas produzindo. O principal era a bacia de Campos, que estava quase zerada a produção de petróleo. A empresa teve que negociar e segurar, porque a pressão era grande. Tanto que uma das coisas mais emocionantes que senti foi quando saímos da refinaria. A família da gente esperando lá fora. A gente chorando, um negócio emocionante. Nas entrevistas para a imprensa, eu falei que me orgulho de ser dirigente sindical de uma categoria tão politizada como é a dos petroleiros. Eu fico até meio arrepiado quando falo nessas coisas, mas é um negócio muito interessante.
EMPRESA Um momento marcante da refinaria foi a construção das unidades. Acho que, toda vez que amplia, a gente passa por um processo com bastante gente terceirizada trabalhando aqui, na construção das unidades de craqueamento, do HDP, do coque. Eu vejo a refinaria um pouco mais dinâmica.
RELAÇÕES DE TRABALHO Eu acho que a Petrobras e o Sindicato têm que se tratar como instituições. Eu sempre converso aqui, a gente tem até uma boa relação com a gerência de Recursos Humanos, com a superintendência. A gente tem que ver que não é o Itamar que está falando com o João Carlos, com o Joca ou o Ubaldo. É o Sindicato falando com a empresa. Nós tivemos avanços durante este tempo. Na hora em que você está com um pouco mais de força, você avança. Lógico, tem suas dificuldades mas sentando a gente resolve.
MEMÓRIA PETROBRAS
Resgatar a história dos trabalhadores da Petrobras é de fundamental importância. Porque a história está realmente um pouquinho na cabeça de cada um, e a gente está vendo que a empresa está fazendo 50 anos. É fundamental isso, resgatar essa história para contar para os nossos filhos, para as próximas gerações o que foi esta empresa, o que é e o que ela vai ser ainda. Espero que ela cresça mais e que gere muitos empregos e riqueza para este país.Recolher