IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Maria Elizabeth Yang. Eu nasci em Carezinho, no Rio Grande do Sul. CIDADE Eu não conheci Carezinho, porque saí com menos de um ano de idade. Morei em Passo Fundo antes de fazer faculdade em Porto Alegre, na Federal do Rio Grande do Sul. Passo Fundo é uma c...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Maria Elizabeth Yang. Eu nasci em Carezinho, no Rio Grande do Sul.
CIDADE Eu não conheci Carezinho, porque saí com menos de um ano de idade. Morei em Passo Fundo antes de fazer faculdade em Porto Alegre, na Federal do Rio Grande do Sul. Passo Fundo é uma cidade do planalto médio, vivia basicamente da agricultura e tinha algumas universidades. Não tinha engenharia, eu fui fazer em Porto Alegre.
EDUCAÇÃO Eu optei por engenharia porque tenho um gosto pela matemática e pela física. Já tinha dois irmãos mais velhos engenheiros. Eu fiquei um pouco em dúvida sobre artes ou engenharia, gosto de tocar piano e pintar. A independência financeira que eu queria me levou pro campo técnico. Mas sou meio artista, continuo pintando.
TRABALHO Meu marido veio para o Paraná, para a Fábrica da Siemens. Antes do Paraná, me formei e fomos para a Alemanha.
Chegando em Curitiba, eu entrei numa firma de estrada de rodagem, que fazia a Ferrovia do Aço, de Minas Gerais. Eu era responsável pela área de obras especiais - bueiros, pontes.
INGRESSO NA PETROBRAS Quando eu vi o anúncio da Petrobras, coloquei o meu currículo e me chamaram. Teve uma série de provas. Só eram duas vagas nesta refinaria, eu preenchi uma delas. Esta é a empresa onde fiz a minha carreira.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Entrei na área de projeto, depois fui para manutenção, coordenação de empreendimento. Me aposentei na área de engenharia. Depois, voltei novamente como contratada.
RELAÇÕES DE TRABALHO Na Repar, eu fui a primeira mulher em área industrial. Cheguei na refinaria e tinha um superintendente também do Rio Grande do Sul. Lá, as torcidas de futebol são divididas entre Grêmio e Internacional. Engenheira nova, eu tinha temperamento meio forte. Me apresentaram para ele e a primeira coisa que me perguntou: “Muito prazer, você vem da mesma universidade que eu. Prá que time você torce?” Eu disse: “Sou gremista.” Ele: “Ainda bem” Acertei com o superintendente, na escola e no time de futebol.
O pessoal da área de projeto me tratava com uma consideração exagerada. Não era um tratamento normal como o de hoje. Eu achei que estava ótimo. O pessoal sempre teve uma camaradagem pelo fato de ser a primeira mulher; procuravam ser mais gentis, não tive nenhum problema.
Tive que me adaptar em algumas coisas, porque era vinculada com a área operacional. Quando estava em cima da casa de controle e caía a energia, dava aquele estrondo, dava medo, eu dizia: “Agora sei por quê estou ganhando 30%, é por periculosidade.”
Quando eu cheguei na área industrial, não tinha banheiro feminino. Como eu era engenheira civil, fiz algumas reformas e foi criado um. Depois vieram operadoras, outras engenheiras. Na oficina de manutenção, que era a caldeiraria, também não tinha banheiro feminino; tinha que dividir com o chefe. Eu o fiz organizar aquele banheiro direitinho. Eu achava que a Petrobras tinha inúmeras possibilidades, era uma empresa que oferecia treinamento, desenvolvimento, mas eu não conseguia sair da área de projeto. Batia um pouco com a mentalidade machista de não pôr mulher no campo, de não poder ir para a manutenção, ir para a obra. Eu queria pelo menos mudar de setor e não conseguia.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Foi o momento em que eu fui para outra área. Comecei a me realizar como profissional, na hora em que eu deixei um pouco de lado o gosto pela engenharia civil e me propus a trabalhar na manutenção. Depois na área de qualidade, depois na área de empreendimento. Foi quando o pessoal também viu que eu podia ir para uma área de campo.
RELAÇÕES DE TRABALHO
Esse foi o momento fundamental na minha carreira. Trabalhar na oficina, foi um dos melhores períodos que eu passei na refinaria. A oficina não era moderna como hoje. Tinha o pessoal de supervisão na parte de cima, e os caldeireiros na parte de baixo. Lembro que o pessoal tinha um certo carinho. Eu fazia absurdos, porque não sabia fazer direito, mas o pessoal tinha paciência, um tratamento muito bom. Nesse começo na Repar, a gente dizia que o tipo de gerência era autoritária. Mas eu não tinha queixa disso, porque o pessoal que ocupava determinadas posições, conhecia bem o assunto e decidia bem. Andava todo mundo numa mesma direção. A refinaria era muito mais simples, até em termos operacionais. Tinha mais gente para fazer as coisas, até office-boy. A gente podia sentar na mesa, ainda não tinha micro. As unidades eram mais simples.
LAZER Dava tempo para sair. Praticamente todas as semanas ia tomar chope, tinha uma tradição do pessoal da documentação técnica. Festa na associação, era só futebol. No máximo, deixavam a gente ficar na torcida. O pessoal organizava um campeonato no mês de fevereiro que era chamado de troféu Lingüiça. O pessoal não tinha muito dinheiro para comprar churrasco, chope, então, faziam lingüiçada. O máximo que deixavam era a gente dar o primeiro chute na partida. No começo tinha bastante gaúcho. E o time era assim: gaúcho contra o resto do mundo. Um superintendente ficava no time dos gaúchos, diziam que a partida só terminava quando os gaúchos estavam ganhando. Podia estar noite e não tinha iluminação no campo de futebol.
APOSENTADORIA
Eu voltei à Repar porque me aposentei. Na verdade, não penso nunca em parar de trabalhar. Eu sou bastante irrequieta, gosto do que faço, gosto de engenharia. Quando me aposentei, disse: “vou montar uma firma.” Ainda estava organizando o escritório, veio o primeiro convite para eu prestar serviço para a Petrobras.
RELAÇÕES DE TRABALHO
E eu fui contratada por uma firma do Rio de Janeiro, que prestava serviço pro Detesul, em São Francisco e Paranaguá, para fazer um tipo de coordenação de projeto. A unidade que no começo era HDT – Unidade de Hidrotratamento, depois virou HDS, uma forma mais branda do tratamento. Achei também que era uma coisa que faltava na minha carreira, uma experiência com obras grandes. Daí vim para a área do HDS da refinaria. Fiquei mais de um ano acompanhando o projeto no Rio de Janeiro e depois na fiscalização de obra. Daí eu disse: “Bom, eu vou tirar férias.” Daí o pessoal da engenharia da Repar, disse assim:
“A gente está precisando de um tipo específico de trabalho.” Eu voltei novamente prá refinaria. Estou me sentindo extremamente prestigiada com tudo isso.
MEMÓRIA PETROBRAS Contar um pouco da minha experiência de vida aqui dentro mexe com o sangue, porque gosto do trabalho daqui. Tenho muitos laços. É um negócio extremamente gratificante falar sobre isso.Recolher