Nasci na cidade de Cametá dia 28 de julho de 1965. É uma cidade do Pará, perto de Tucuruí. Meus pais são de Cametá e todos os meus avós também. Eles trabalhavam na roça, apanhando pimenta do reino. O meu pai trabalhava na feira da cidade de Cametá. Ele era vendedor de café, de suco...Continuar leitura
Nasci na cidade de Cametá dia 28 de julho de 1965. É uma cidade do Pará, perto de Tucuruí.
Meus pais são de Cametá e todos os meus avós também. Eles trabalhavam na roça, apanhando pimenta do reino. O meu pai trabalhava na feira da cidade de Cametá. Ele era vendedor de café, de suco, vendedor ambulante. Minha mãe era só da casa. O nome do meu pai é Wilson de Oliveira Valente, e minha chamava-se Maria Adejar de Bahia Valente. Meu pai conheceu minha mãe numa festa que teve na casa dos meus avós, ele participava da música lá que tocava, ele era um dos músicos da banda lá. Ele era tocador de violão.
Eu cresci escutando música e nunca aprendi a tocar violão. Cametá tinha muita plantação de pimenta do reino, cacau. A cidade era muito assim pacata, era pouca população que tinha, eles trabalhavam com pesca. Nós somos sete. Eu sou a mais velha dos filhos dos meus pais. A casa era de tábua, coberta com telha, aquelas telhas de barro. Tinha dois cômodos só. A gente gostava muito de brincar de casinha, gostava de brincar de peteca, jogar essas brincadeiras de peteca, de pular corda também.
Eu tinha minhas coleguinhas também. Brincava com meus irmãos, com minhas irmãs e com meus colegas, vizinhos de casa. Tinha muita brincadeira de rua. Tinha brincadeira de dança de folclore também, aquelas de quadrilha. Nossa, antigamente, parece que era mais bonito!
Eu fiquei com meus pais só até uns 4 anos. Aí dos 5 anos eu fui criada por meus avós. Minha avó não tinha filha mulher e eu era a neta mais velha. Aí eles me pediram para os meus pais, meus pais deram para minha avó, do meu pai, paterno. Aí
me criei com eles, com meus avós. Eles moravam próximo de casa. A gente ficava tudo perto deles, porque eu ia lá em casa, ia na casa dos meus avós. Porque eu morava na casa dos meus avós, mas sempre ia na casa dos meus pais. Meus avós da parte do meu pai eles eram muito bons comigo. Meu avó, nossa! Nossa, eu gostava demais deles! Minha avó contava muita história.
Na minha família, dos meus pais, nós fomos católicos, sempre católicos, nunca passamos para outra religião. A gente participava das novenas da Nossa Senhora, a gente rezava os terços das novenas, a gente fazia procissão para os santos. Tudo isso a gente fazia lá. A gente participava das procissões com a santa, e quando chegava na capela a gente cantava, né, cantando, levando as velas, quando chegava lá a gente rezava e cantava. Lembro muito da Nossa Senhora do Perpétuo Socorro: (cantando): “Com minha mãe estarei. Na santa glória um dia. Junto a Virgem Maria. No céu triunfarei. No céu, no céu, com minha mãe estarei. No céu, no céu, com minha mãe estarei. A gente escutava muito isso daí. Eu até me emociono porque a minha mãe já morreu... (choro) Foi ano passado que ela morreu.Eu entrei na escola com 8 anos.
Era perto de casa. A gente ia a pé mesmo. A escola chamava Dom Romualdo de Seixas. Foi a primeira escola em que eu estudei lá em Cametá. A gente ia junto com meus irmãos, com minhas colegas também. Nós tínhamos uniformes, era tudo de camisa branca, de saia, daquelas saiazinhas que tem a prega. A gente gostava dos trabalhos que a gente fazia junto com os colegas. A gente fazia apresentação dos trabalhos, e das brincadeiras também que tinham.
Uma professora uma vez puxou a minha orelha, que eu não soube matemática, porque sempre fazia aquela tabuada. Aí lá, quando a gente não soubesse, eles puxavam a orelha da gente. Lá na nossa cidade a comida predileta é o nosso peixe, o mapará.
Nossa, ele é muito gostoso! Ainda tem até hoje. A gente come de todo jeito, é assado, é cozido, é frito, com açaí. A gente tem que ter a farinha também. O peixe, o açaí e a farinha. Eu ajudava a fazer. Ajudava minha mãe a limpar a casa, lavar louça, lavar roupa. Sempre ajudei
a minha mãe. Meu pai trabalhava na feira, quando ele chegava a gente ajudava. A gente ia para lá com ele também. Eu comecei a estudar com 10 anos, 12 anos. Eu estudava e ia para feira. Ele ia todo dia, ele ia todo dia, menos dia de domingo. Aos domingos ele não ia para feira, não trabalhava. Às vezes meu irmão que ia com ele também. Nesse tempo meu pai tinha que estar junto. A gente ia também.
Ajudava ele lá a lavar os copos, atender os clientes dele lá.A gente participava do coro da igreja, de jovens, clube de jovens, a gente ia para os encontros da catequese, ia nos passeios. Logo apareceu o meu marido. Eu conheci meu marido com 18 anos, terminei o meu ensino médio, casamos, no mesmo dia da minha formatura foi o dia do nosso casamento, foi só uma festa que nós fizemos. Eu me formei em auxiliar técnica de contabilidade, só que quando a gente namora é uma coisa, depois quando a gente casa é outra. Meu marido não me deixou trabalhar. Tinha que ficar em casa para cuidar da casa. Aí depois com três meses de casado veio filho, um atrás do outro. Eu tenho 5 filhos. Casei com 21, com 22 eu tive a primeira filha. Depois da mais velha veio a segunda, com dois anos, quando minha menina, a bebê já estava começando a andar, aí veio o terceiro, aí da quarta já passou mais uns 3 anos, aí da quarta para o quinto passou cinco anos, já demorou mais. Primeiro a gente morava no Laranjal, que meu marido veio para Almeirim.
De Almeirim mudamos para Laranjal. Nós viemos de Cametá para Almeirim, porque a família todinha do meu marido é de Almeirim. Então ele chegou em Almeirim ele não conseguiu trabalho, a gente teve que vir para cá, para o Laranjal. Ele alugou um quartinho e nós ficamos lá com todos os nossos quatro filhos, porque nós viemos com quatro filhos de lá, já o quinto nasceu aqui. Ele conseguiu um trabalho em Monte Dourado, e nisso a gente morava no Laranjal. Ele conseguiu trabalho de mecânico. Conseguiu se fichar numa empresa. Nós passamos um tempo lá em Monte Dourado, aí mudamos para cá. Ele saiu da empresa. Viemos para cá para o Planalto. Já estamos aqui no Planalto há 9 anos. Ele tinha saído da empresa, teve que trabalhar autônomo, como ele trabalha até hoje. Quando a gente veio para Planalto tinha uma associação de mulheres, que existia aqui e uma vizinha que me convidou para participar desses encontros. Ela falou que eram encontros de mulheres. Era Associação de Mulheres da Vila do Planalto.
Eu vim participar, eles faziam os encontros, eles davam o sopão todo final de semana para todos os moradores da vila. Foi com o apoio da Fundação que veio fazer os encontros e formou o CEM - Centro de Excelência da Mulher. A gente fazia muitas capacitações, negócios de recursos humanos, era brincadeiras que tinha também, que eles faziam com a gente, e palestras também que eles davam para gente. Essas palestras eram sobre relações humanas, era sobre trabalho, eles faziam várias coisas. Foi através da Fundação Orsa que foi feita a pesquisa sobre o que as mulheres do Planalto queriam: “Não, vamos costurar. Vamos montar uma cooperativa”.
A gente via que a necessidade era bem mais aqui na região, porque tinha as empresas e eles compravam os uniformes fora. E a gente botando uma empresa de costura eles comprariam daqui da gente. Aí nós tivemos apoio das empresas pequenas, da NDR, para reformar aquela casa dali, as máquinas também foram doadas, tudo isso eles nos ajudaram.
Quer dizer que nós não entramos com dinheiro, assim, para comprar as máquinas, foi feito doação. Aí veio uma professora do Senai, uma técnica de costura e deu curso para gente. A gente já acabou aquele medo, já aprendeu mesmo a cortar, costurar, montar mesmo as peças tudinho. E essas máquinas aqui foi um pouco difícil para gente aprender, porque eram máquinas industriais, que a gente estava só acostumada com aquela máquina doméstica, pequena. Nosso primeiro cliente foi a NDR. Foi a NDR, a Marquesa, a Orsa , a Jari, que está sendo até hoje que para foram nossos primeiros clientes. E as outras empresas pequenas também, que chegaram até a gente.O nosso primeiro pagamento foi cinquenta reais, porque a gente tinha que pagar um monte de coisas e a gente não tinha mesmo, não sobrava nada mesmo para gente.
Aí sempre brigando, meu marido: “Não. Porque, não”, e brigava comigo para mim não vir, porque a gente tinha que vir todo dia, de manhã e de tarde, e até a noite a gente trabalhava. A gente tinha que cumprir a nossa meta de entregar os uniformes. Graças a Deus, agora não, agora ele já parou de brigar comigo, eu venho mesmo e ele não implica mais. Já consegue uma boa renda para ajudar. Eu ajudo com dinheiro em casa, a gente já consegue muita coisa. Inclusive eu estou com a minha filha que estuda em Belém, está morando em Belém, está fazendo a faculdade de farmácia e eu ajudo muito ela, esse dinheiro que eu ganho eu sempre ajudo ela a comprar uniforme, comprar apostila, plano de saúde também, que ela tem problema de asma.
Eu me tornei presidente
em 2010. Na época da Dona Marilene eu era a tesoureira.
Aí fiquei tesoureira sempre porque ninguém queria ficar como tesoureira, os dois mandatos eu fiquei como tesoureira. Depois ela saiu, disse que não dava mais para ela continuar, aí me elegeram como presidente. Eu acho que pela confiança que eles têm em mim aqui. Como tesoureira eu trabalhava na parte de compra, de pagamento, de fazer também as folhas nossas, das cooperadas, fazer pagamento daqui da cooperativa, recebimento, cobrança, tudo isso eu fazia. No ano passado que foi a eleição da cooperativa e eles estavam precisando de uma candidata a vereadora aqui do partido do PT. “Não, Dona Ana, a gente quer que a senhora seja candidata?”, “Não, eu não quero”.
Eles vieram aqui comigo. Eu disse: “Não, eu não quero”. Insistiram. “Está, tudo bem”, eu aceitei. Eu saí como vereadora e candidata pelo PT aqui de Monte Dourado. Aí foi uma briga lá em casa porque meu marido não gosta do PT, ele tem maior raiva do PT, e eu já gosto do partido PT, porque é o partido dos trabalhadores, e eu dou o maior apoio para os trabalhadores. Consegui até chegar no dia da eleição, ainda consegui cento e poucos votos, com muita luta. Mas nunca deixei de sair daqui da cooperativa, eu sempre vinha aqui, se não era de manhã, era à tarde. Nunca saí de largar assim, mas eu ia fazer meus trabalhos, as visitas, mas sempre eu estava aqui. Aí passou a política, eu consegui uma vaga para mim na escola, na secretaria, à noite. Aí, eu estou trabalhando à noite na escola, de dia eu trabalho aqui e à noite trabalho na escola na secretaria.
Meu sonho é ter minha casa, minha casa própria. Aonde, Deus que me dar, eu tenho muita vontade de ter minha casa própria e montar o meu próprio negócio ligado à costura também, porque aqui na cooperativa a gente já pega experiência já, a gente já tem uma experiência muito boa que dá mesmo para gente conseguir. Recolher
resumo
Em seu depoimento Ana Maria narra sua infância na cidade de Cametá, as brincadeiras e as festas folclóricas. Conta como conheceu seu marido aos 18 anos e como mudaram de várias cidades antes de se estabelecerem na Vila Planalto. Boa parte de seu depoimento ela recorda como surgiu a cooperativa de mulheres Agulhas Versáteis, da qual é sua presidente atual.
Palavras-chave:
história
Nasci na cidade de Cametá dia 28 de julho de 1965. É uma cidade do Pará, perto de Tucuruí. Meus pais são de Cametá e todos os meus avós também. Eles trabalhavam na roça, apanhando pimenta do reino. O meu pai trabalhava na feira da cidade de Cametá. Ele era vendedor de café, de suco...Continuar leitura
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Depoimento de Ana Maria Valente dos Santos
Entrevistada por Rosana Miziara
Monte Dourado, 25 de julho de 2013.
Entrevista n° HVC056
Realização Museu da Pessoa
P/1 – Oi, Ana, obrigada por dar seu depoimento aqui para gente. Você pode começar falando seu nome completo, local e data de nascime...Continuar leitura
Depoimento de Ana Maria Valente dos Santos
Entrevistada por Rosana Miziara
Monte Dourado, 25 de julho de 2013.
Entrevista n° HVC056
Realização Museu da Pessoa
P/1 – Oi, Ana, obrigada por dar seu depoimento aqui para gente. Você pode começar falando seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Meu nome é Ana Maria Valente dos Santos. Nasci na cidade de Cametá. E nasci dia 28 de julho de 1965.
P/1 – Cametá é aqui no Pará?
R – Cametá é no Pará.
P/1 – É perto de quais cidades?
R – Perto de Tucuruí.
P/1 – Seus pais são de Cametá?
R – Meus pais são de Cametá.
P/1 – E seus avós, maternos e paternos?
R – Também são de Cametá.
P/1 – Tanto do lado de pai e de mãe?
R –
De mãe também.
P/1 – O que seus avós maternos faziam, e seus avós paternos?
R – Eles trabalhavam na roça.
P/1 – Os dois?
R – É, os dois.
P/1 – Que tipo de roça?
R – É, quer dizer, eles trabalhavam apanhando pimenta do reino. Eram apanhadores de pimenta do reino.
P/1 – Tanto os avós maternos, quanto os paternos?
R – Quanto os paternos.
P/1 – E seu pai fazia o quê?
R – O meu pai trabalhava na feira da cidade de Cametá. Ele era vendedor de café, de suco, vendedor ambulante.
P/1 – E sua mãe?
R – Minha mãe era só da casa, é de casa, caseira.
P/1 – E como é o nome do seu pai?
R – Wilson de Oliveira Valente.
P/1 – E da sua mãe?
R – Maria Adejar de Bahia Valente.
P/1 – E você sabe como eles se conheceram?
R – Ah, meu pai conheceu minha mãe foi numa festa que teve na casa dos meus avós, aí meu pai foi nessa festa, ele participava da música lá que tocava, ele era um dos músicos da banda lá. Aí foi através dessa festa que ele conheceu minha mãe.
P/1 – Seu pai é músico também?
R – Era músico. Ele era tocador de violão.
P/1 – Você cresceu escutando música?
R – Escutando música e nunca aprendi a tocar violão. Acho muito bonito tocar violão, e eu não consegui aprender. Tenho dois irmãos que tocam violão.
P/1 – Cametá era um local que tinha plantação de pimenta do reino?
R – Muita plantação de pimenta do reino, cacau...
P/1 – Como é que era Cametá quando você era pequena? Descreve. Conta um pouco como é que era a cidade?
R – Ah, a cidade era muito assim pacata, era pouca população que tinha, eles trabalhavam, assim, com pesca. Pequena mesmo.
P/1 – E quantos irmãos você tem?
R – Nós somos sete.
P/1 – Você é qual desses sete?
R – Eu sou a mais velha. Eu sou a mais velha dos filhos dos meus pais.
P/1 – E como é que era sua casa em Cametá?
R – Ah, era de tábua. Era de tábua, coberta com telha, aquelas telhas de barro.
P/1 – Quantos cômodos tinha?
R – Tinha dois, só.
P/1 – Você dormia com seus irmãos?
R – Muito pequeno.
P/1 – Era colchão no chão? Era cama?
R – Era, bem humilde mesmo.
P/1 – E você lembra das suas brincadeiras de infância?
R – Poxa, brincadeira de infância.
A gente gostava muito de brincar daquela que fazia a casinha assim. Deixa eu me lembrar agora, meu Deus!. A gente gostava de brincar de peteca, jogar essas brincadeiras de peteca. Agora não estou lembrada a brincadeira que a gente fazia, de pular corda também.
P/1 – Você brincava só com seus irmãos ou tinha amigos na vizinhança também?
R – Tinha minhas coleguinhas também. Brincava com meus irmãos, com minhas irmãs e com meus colegas, vizinhos de casa.
P/1 – Tinha muita brincadeira de rua?
R – Tinha muita brincadeira de rua. Tinha brincadeira de dança de folclore também.
P/1 – Dança de folclore?
R – Folclore. Tinha.
P/1 - Quais eram as danças?
R – Aquelas da quadrilha, de quadrilha.
P/1 – Como que era?
R – Nossa, antigamente, parece que era mais bonito, eu achava, mais bonito. Tinha os casais que faziam apresentações. Esqueci agora.
P/1 – E como é que era na sua casa, quem que exercia autoridade? Seu pai ou sua mãe?
R – Meu pai. Meu pai. Era ele que exercia autoridade. Sempre foi. Só que eu me criei, eu fiquei com meus pais até uns 4 anos. Aí dos 5 anos eu fui criada por meus avós.
P/1 – Por quê?
R – Porque minha avó não tinha filha mulher, aí eu era a neta mais velha. A primeira neta. Aí eles me pediram para os meus pais, aí meus pais deram para minha avó, do meu pai, paterno. Do meu pai, da parte paterna. Foi. Aí me criei com eles, com meus avós.
P/1 – Mas você via seus pais frequentemente?
R – Via, via, que eles moravam bem próximos. Eles moravam próximo de casa.
P/1 – E você foi? Você sentia saudade? Como é que foi esse período? Você lembra?
R – Não porque a gente ficava tudo perto. A gente ficava tudo perto deles, porque eu ia lá em casa, ia na casa dos meus avós. Porque eu morava na casa dos meus avós, mas sempre ia na casa dos meus pais.
P/1 – E como é que eram seus avós?
R – Muitos bons. Da parte do meu pai eles eram muito bons comigo. Meu avó, nossa! Nossa, eu gostava demais deles.
P/1 – Alguém contava história para você?
R – Minha avó contava muita história.
P/1 – Que história? Você lembra alguma?
R – Ela contava história. Deixa eu me lembrar agora. Não estou lembrada agora a história que ela contava. Ela contava muitas histórias. Agora eu não estou lembrada.
P/1 – Você teve algum tipo de formação religiosa?
R – Eu... Na minha família, dos meus pais, nós fomos católicos, sempre católicos, nunca passamos para outra religião. A gente participava das novenas da Nossa Senhora, a gente rezava os terços das novenas, a gente fazia procissão para os santos. Tudo isso a gente fazia lá.
P/1 – Você participava?
R – Participava.
P/1 – Você participava?
R – Participava.
P/1 – Como é que eram essas procissões?
R - A gente participava das procissões com a santa, e quando chegava na capela a gente cantava, cantando, levando as velas, quando chegava lá a gente rezava e cantava.
P/1 – Você lembra de alguma músicas?
R – Lembro muito da Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
P/1 – Como é que era a música? Canta um trechinho.
R – Com minha mãe estarei. Na santa glória um dia. Junto a Virgem Maria. No céu triunfarei. No céu, no céu, com minha mãe estarei. No céu, no céu, com minha mãe estarei. A gente escutava muito isso daí. Eu até me emociono porque a minha mãe já morreu... (choro) Tem problema não. Está recente. Foi ano passado que ela morreu.
P/1 – Você quer um pouquinho d’água?
R – Não.
P/1 – E aí você ia à missa, ia sua mãe, sua avó, todo mundo? Nas procissões...
R – A gente ia, participava todos. A única pessoa que não gostava muito era meu pai. Sabe? Ele não gostava muito de participar. Mas a mamãe sempre foi. Sempre a gente ia. Todas as novenas, todas as missas, a gente sempre ia.
P/1 – Ana, e com quantos anos você entrou na escola?
R – Com 8 anos.
P/1 – Era perto da sua casa? Como é que você ia?
R – Era perto de casa. Era perto.
P/1 – Como é que você ia para escola?
R – A gente ia de pés mesmo. Era de pés que a gente ia. A nossa escola lá... Deixa eu me lembrar o nome da escola era Dom Romualdo de Seixas. Foi a primeira escola em que eu estudei lá em Cametá.
P/1 – Você ia com seus irmãos?
R – A gente ia. A gente ia junto com meus irmãos, com minhas colegas também, a gente sempre ia, mas era de pés, porque era tudo perto lá.
P/1 – Tinha uniforme?
R – Nós tínhamos uniformes, era tudo de camisa branca, de saia, daquelas saiazinhas que tem a prega de sapato. Tudo mesmo de uniforme completo.
P/1 – E do que você mais gostava na escola?
R – Ah, a gente gostava dos trabalhos que a gente fazia junto com os colegas. A gente fazia apresentação dos trabalhos, e das brincadeiras também que tinham.
P/1 – E tem alguma professora que marcou sua história?
R – Ah, tem uma professora. Deixe eu me lembrar agora o nome dela. Essa professora que uma vez ela puxou a minha orelha, que eu não soube matemática, porque sempre fazia aquela tabuada, que perguntava. Aí lá, quando a gente não soubesse, eles puxavam a orelha da gente. A professora Jesusa, o nome dela, de matemática. Isso me lembrou muito.
P/1 – E na sua casa, tinha festas? Fora as procissões, vocês comemoravam Natal?
R – Tinha festa.
P/1 – Que festas que tinham lá, que vocês comemoravam?
R – De aniversário que a gente sempre fazia.
Natal a gente fazia, Dia das Mães, Dia dos Pais também a gente fazia. Dia do Pai, dia da mãe, dia da criança também, a gente fazia, sempre tinha nossas festas.
P/1 – E de comida? Você tem alguma comida que marcou tua infância?
R – Ah, lá da nossa cidade a comida lá predileta é o nosso peixe, o mapará.
P/1 – Como chama?
R – Mapará.
P/1 – Mapará?
R – É. Lá da nossa cidade. Nossa, ele é muito gostoso. Ainda tem até hoje. A gente come de todo jeito, é assado, é cozido, é frito, todo jeito, com açaí. Tem o açaí. A gente tem que ter a farinha também. O peixe, o açaí e a farinha.
P/1 – E você ajudava em casa?
R – Ajudava.
P/1 – Assim, precisava ajudar. Como que era?
R – Ajudava a fazer. Ajudava minha mãe a limpar a casa, lavar louça, lavar roupa. Sempre ajudei a minha mãe.
P/1 – E seu pai trabalhava na feira?
R – Meu pai trabalhava na feira, quando ele chegava a gente...
P/1 – E vocês ajudavam ele ou não?
R – Ajudava. A gente ia para lá com ele também.
P/1 – Com quantos anos você começou a ir para feira?
R – Deixa eu ver... Comecei a estudar com 10 anos, 12 anos.
P/1 – Você estudava e ia para feira?
R – É, estudava e ia para feira.
P/1 – Quantas vezes por semana seu pai ia para feira?
R – Ele ia todo dia, ele ia todo dia, menos dia de domingo. Aos domingos ele não ia para feira, não trabalhava.
P/1 – Mas vocês se revezavam? Iam como?
R – Sempre era ele que ia, o meu pai. Às vezes meu irmão que ia com ele também. Nesse tempo meu pai tinha que estar junto.
P/1 – Mas você ia também às vezes.
R – É, a gente ia também.
P/1 – O que você fazia?
R – Ajudava ele lá a lavar os copos, atender os clientes dele lá.
P/1 – Tem alguma cena que te marcou assim na feira alguma vez que você tenha ido ajudar, que você lembra?
R – Não lembro. Não lembro uma cena.
P/1 – E a sua juventude, você passou em Cametá?
R – Foi, em Cametá minha juventude.
P/1 – Quais que eram os seus programas de jovem?
R – Sempre a gente participava do coro da igreja, de jovens, clube de jovens, a gente participava, a gente ia para os encontros da catequese, a gente ia nos passeios, sempre foi. Eu gostava muito de participar. A gente ia para o convento das freiras para ver se tem a vocação, para saber qual era a vocação da gente, se era para gente ser freira, se era para gente casar, mas sempre participava.
P/1 – Você participou nesse convento?
R – Participei.
P/1 – E deu qual vocação a sua?
R – Não achei muito, porque apareceu já o meu marido. Eu conheci ele com 18 anos, o meu marido...
P/1 – Foi seu primeiro namorado?
R – Foi meu primeiro namorado. Namorado mesmo, porque só assim mesmo de paquera parece que foi pouco, mas para casar mesmo foi esse meu marido que nós estamos agora com 26 anos de casado. Aí conheci ele com 18 anos, ainda estava estudando ainda no ensino médio, aí três anos nós passamos noivos, aí nós casamos.
P/1 – Em Cametá.
R – Casamos em Cametá.
P/1 – Mas além da igreja, quais outros lugares vocês se divertiam? Você ia em festas?
R – A gente ia no balneário, nas praias.
P/1 – Que praias?
R – Uma praia que tem lá muito bonita lá em Cametá. A praia da Aldeia, ela é muito conhecida, muito visitada, ela é muito bonita, a gente sempre participava lá, sempre ia lá nessa praia.
P/1 – E você ia em baile, festa?
R – É, tinha as casas de festa, eu não ia muito porque meus avós não deixavam eu sair muito, eles tinham ciúme de mim, e não deixavam eu sair. A gente ia muito pouco. Tempo de Carnaval a gente participava também de carnaval. A gente ia nas festas de carnaval.
P/1 – Onde que eram essas festas?
R – Era lá mesmo na cidade de Cametá.
P/1 – Mas era festa de rua...?
R – Era no salão mesmo. Era no salão mesmo de festa que a gente participava.
P/1 – Que músicas que tocavam?
R – Música de carnaval. Agora para me lembrar música de carnaval...
P/1 – E que músicas você gostava de escutar quando você era jovem?
R – Só música romântica, música do Roberto Carlos.
P/1 – Tem alguma do Roberto que tenha te marcado?
R – Do Roberto?
P/1- Que você gostava de escutar, assim que você falava “Essa eu gosto”?
R – Ai meu Deus, agora não tenho lembrada a música do Roberto Carlos. Não lembro. Eu sou de 1965. Eu vou fazer 48 anos agora dia 28 de julho. Não lembro agora.
P/1 – E nessa época, você continuou estudando? Você foi até o colegial?
R – Foi. Eu estudei, eu estudei, conheci meu marido com 18 anos, terminei o meu ensino médio, casamos, no mesmo dia da minha formatura foi o dia do nosso casamento, foi só uma festa que nós fizemos.
P/1 – Você casou vestida de noiva?
R – Foi, vestida de noiva.
P/1 – Como que era seu vestido?
R – Era vestido branco, com coisa aqui na cabeça. Aí a luva branca, o vestido até aqui, de sapato salto alto, vestido branco.
P/1 – E ele?
R – Ele foi com calça preta, um blaser preto, uma camisa branca por dentro.
P/1 – E você antes de casar, quando você estava fazendo o colegial, você tinha assim um sonho: “Quando eu me formar quero ser tal coisa, quero ter tal profissão”?
R – Trabalhar, porque eu me formei...
P/1 – Mas você tinha esse pensamento?
R – Eu tinha. Eu me formei em auxiliar técnica de contabilidade, só que quando a gente namora é uma coisa, depois quando a gente casa é outra. Meu marido não deixou eu trabalhar. Eu queria trabalhar.
P/1 – Mas você estava trabalhando ou até então você só ia na feira?
R – Só estudando mesmo.
P/1 – Você continuava indo para feira?
R – Ia para feira com meus pais. Mas depois que eu casei, pronto, já não foi mais. Tinha que ficar em casa para cuidar da casa. Aí depois com três meses de casado aí veio filho, um atrás do outro.
P/1 – Quantos filhos você tem?
R – Tenho 5 filhos.
P/1 – Quando você teve o primeiro filho?
R – Eu tive o primeiro filha? Deixa eu ver... Casei com 21, com 22 eu tive a primeira filha.
P/1 – Como foi a sua gravidez?
R – Nossa, foi a primeira vez eu não sabia de nada. Foi assim... É que eu não sabia mesmo. Quando engravidei eu comecei a passar mal, que dá aquele enjoo todinho na gente. Aí fui para o hospital, consultei, o médico, fiquei internada. Aí quando meu marido soube já estava no hospital, que ele levou um susto porque ele nem sabia que eu tinha. Era mecânico o meu marido, ele trabalhava e quando ele chegou em casa eu não estava, aí foi na casa dos meus pais, porque a gente morava sempre perto. Aí falaram: “Olha, ela está para o hospital, ela foi consultar”, ele disse: “Mas, até agora ela não veio”. Aí foi atrás de mim, quando chegou lá eu estava lá internada, tomando soro porque eu estava muito fraca porque estava me dando enjoo. Mas, graças a Deus, foi só isso, até os 9 meses,
tive normal minha filha mais velha. Aí, pronto. Aí, depois da mais velha veio a segunda, com dois anos, quando minha menina, a bebê já estava começando a andar, aí veio o terceiro, aí da quarta já passou mais uns 3 anos, aí da quarta para o quinto passou cinco anos, já demorou mais.
P/1 – Aí desde que você casou você não trabalhou mais fora?
R – Foi. Não trabalhei fora. Já vim trabalhar já para cá, quando nós viemos...
P/1 – Foi a primeira vez que você trabalhou sem ser com teu pai?
R – Isso aí. Foi.
P/1 – E como que foi, como que você virou costureira?
R – Hum, como foi? A gente primeiro morava no Laranjal, que meu marido veio para Almeirim. Aí de Almeirim mudamos para Laranjal.
P/1 – Peraí, vamos voltar: como é que você saiu da sua cidade e foi para Laranjal? Foi da sua cidade para Laranjal?
R – Sim, nós viemos de Cametá para Almeirim, porque a família todinha do meu marido é de Almeirim. Então ele chegou em Almeirim ele não conseguiu trabalho, a gente teve que vir para cá, para o Laranjal. Aí ele alugou um quartinho e nós ficamos lá com todos os nossos quatro filhos, porque nós viemos com quatro filhos de lá, já o quinto já é daqui. Aí foi que ele conseguiu um trabalho em Monte Dourado, isso a gente morava no Laranjal...
P/1 – Ele conseguiu trabalho do quê?
R – De mecânico. Conseguiu se fichar numa empresa aí. Aí passamos um tempo lá em Monte Dourado, aí mudamos para cá. Aí ele saiu da empresa. Viemos para cá para o Planalto. Já estamos aqui no Planalto há 9 anos.
P/1 – Por que ele veio para o planalto?
R – Porque a gente já tinha mais... Quer dizer, ele tinha saído da empresa, aí teve que trabalhar autônomo, como ele trabalha até hoje...
P/1 – Ele teve que trabalhar do quê?
R – Quando a gente veio para Planalto a gente tinha uma associação de mulheres, que estava aqui no Planalto.
P/1- Mas você já conhecia elas?
R – Não. Já a vizinha que me convidou para participar desses encontros. Foi...
P/1 – Ela falou que eram encontros do quê?
R – Encontros de mulheres. Era Associação de Mulheres da Vila do Planalto. Aí ela me convidou para mim participar. Aí eu vim participar, eles faziam os encontros, eles davam o sopão todo final de semana para todos os moradores da vila. Aí foi que a fundação veio, já com o apoio da fundação que veio fazer os encontros, que tinha o CEM, que na época formou o CEM que eram os encontros das mulheres, foi que a gente participou desses encontros...
P/1 – O que é CEM?
R – É Centro de Excelência da Mulher. Aí foi que a gente começou a participar dos encontros.
P/1 – E o que se discutia nesses encontros?
R – Ah, a gente fazia muitas capacitações, negócios de recursos humanos, era brincadeiras que tinha também, que eles faziam com a gente, e palestras também que eles davam para gente. Eram muitas palestras que a gente participava.
P/1 – Palestras sobre o quê?
R – Essas palestras era sobre relações humanas, era sobre trabalho, eles faziam várias coisas. Agora não estou lembrada. Aí foi através da Fundação Orsa que foi feita a pesquisa sobre o que as mulheres do Planalto queriam. Trazer um trabalho aqui para as mulheres, para nós. O que a gente queria no momento. Aí foi que todas: “Não, vamos costurar. Vamos montar uma...”. Vamos trabalhar na costura
.
P/1 – Por que vocês decidiram a costura?
R – Porque a gente via que a necessidade era bem mais aqui na região, porque tinha as empresas e eles compravam os uniformes fora. E a gente botando uma empresa de costura eles já comprariam daqui da gente. Aí nós tivemos apoio das empresas pequenas, da NDR, para reformar aquela casa dali, reformaram ali para gente, as máquinas também foram doadas, foi comprada ali para gente, tudo isso eles nos ajudaram. Quer dizer que nós não entramos com dinheiro, assim, para comprar as máquinas, foi feito doação. Aí veio uma professora do Senai, uma técnica de costura, deu curso para gente...
P/1 – De costureira?
R – De costureira. Aí pronto. Aí a gente começou
.
P/1 – E teve algum curso, assim, de gerenciamento, montagem de negócios?
R – Teve. Teve muitos.
P/1 – Quem que dava essa capacitação?
R – Era sempre o pessoal da fundação que trazia para gente. Sempre da fundação, Sebrae também sempre trouxe para gente.
P/1 – E no Senai eles ensinaram vocês a costurar?
R – Foi.
P/1 – Você não sabia até então.
R – Não, a gente sabia, mas não tinha aquela técnica ainda.
P/1 – Você sabia costurar?
R – Eu sabia, mas era pouco. Do cortar eu não sabia. Eu não sabia cortar. Aí eu tinha maior medo de pegar um pano e estragar, aí depois que ela veio a gente já acabou aquele medo, já aprendeu mesmo a cortar, costurar, montar mesmo as peças tudinho. E essas máquinas aqui foi um pouco difícil para gente aprender, porque eram máquinas industriais, que a gente estava só acostumada com aquela máquina doméstica, pequena. Já com essa aqui a gente já tinha um medo porque tinha que pisar com um pouco de delicadeza para não levar tudo, que ela é industrial. E a gente, graças a Deus, conseguimos aprender.
P/1 – Quem foi o primeiro cliente de vocês?
R – Nosso primeiro cliente foi a NDR. Deixa eu me lembrar agora. Foi a NDR, a Marquesa, a Orsa, a Jari, que está sendo até hoje, que para gente, foram nossos primeiros clientes. E as outras empresas pequenas também, que chegaram até a gente.
P/1 – E como foi na sua casa, você com cinco filhos, com marido, você entrar para uma cooperativa, começar a trabalhar, teve algum tipo de dificuldade?
R – Depois que eu vim para cá as minhas filhas já não estavam, as minhas filhas mais velhas, a primeira e a segunda, elas tiveram que viajar para estudar, terminar os estudos delas. Aí eu fiquei só com três, os dois meninos e a menina. Logo no começo meu marido não queria porque antes a gente não ganhava nada, a gente só vinha mesmo para trabalhar e por enquanto a gente não ganhava nada. Então nosso primeiro pagamento foi cinquenta reais, porque a gente tinha que pagar um monte de coisas e a gente não tinha mesmo, não sobrava nada mesmo para gente, sabe? Aí daí pronto, dos cinquenta reais aí foi aumentando. Aí sempre brigando, meu marido: “Não. Porque, não”, e brigava comigo para mim não vir, porque a gente tinha que vir todo dia, de manhã e de tarde, e até a noite a gente trabalhava. A gente tinha que cumprir a nossa meta de entregar os uniformes. Aí, graças a Deus, agora não, agora ele já parou mais de brigar comigo, eu venho mesmo e ele não implica mais. Já deu já para...
P/1 – Você já ganha...?
R – Já, Já consegue já uma boa renda para ajudar.
P/1 – Você ajuda com dinheiro em casa?
R – Ajudo com dinheiro em casa, a gente já consegue muita coisa. Inclusive eu estou com a minha filha que estuda em Belém, está morando em Belém, está fazendo a faculdade de farmácia e eu ajudo muito ela, esse dinheiro que eu ganho eu sempre ajudo ela a comprar uniforme, comprar apostila, plano de saúde também, que ela tem problema de asma. Sempre ajudo ela lá. Quer dizer, ela mora em Belém com a minha filha, a minha filha mais velha.
P/1 – Vamos voltar um pouco para quando teve a formação dessa cooperativa há 8 anos atrás: quais foram os principais desafios, teve alguma história marcante que aconteceu nesse período?
R – Teve. Era para gente comprar os materiais, para comprar os materiais porque era os insumos. Isso aí a gente tinha que fazer mesmo os uniformes, para vender, para comprar o material. Isso daí foi bem mesmo. Às vezes a gente não tinha o dinheiro, tinha o pedido, a gente não tinha dinheiro para comprar o material. Isso foi muito marcante para gente.
P/1 – Aí vocês faziam como?
R – Aí a gente tinha que emprestar, emprestava para cobrir, para comprar, aí quando entrava o dinheiro a gente pagava. Sempre foi assim.
P/1 – Ana, deixa eu te contar, você veio morar aqui, mas a sua família continua em...?
R – A minha família mora em Cametá.
P/1 – Cametá. Continua lá.
R – A minha família continua lá.
P/1 – Você se correspondia com eles por o quê? Por carta?
R – Por telefone. Por telefone. E às vezes também eu ia lá com eles, de ano a ano, de dois em dois anos. Sempre ia lá com eles. Sempre vou lá com o meu pessoal.
P/1 – Você tinha costume de escrever cartas?
R – Não, só por telefone mesmo. É, o telefone. Só que meus pais quando eu saí de lá foi um choro, porque sou a filha mais velha, os primeiros netos deles, ele sentiu muito meu pai, a minha família. Chorando mesmo porque não queriam que a gente viesse de lá, ficar sempre lá com eles. Só que não dava para gente ficar sempre lá com eles, a gente tinha que ter nossas coisas. Aí ele deu... Logo que nós casamos ele deu uma casa para gente morar lá, para ficar sempre perto dele, deles. Aí meu marido: “Não, não, a gente vai embora”. E a gente veio para cá. A família dele toda é de Almeirim.
P/1 – Vocês vão para Almeirim também?
R – É de Almeirim. Ele ainda tem pai e mãe vivo ainda.
P/1 – Ana, nesses 8 anos, conta assim algum episódio marcante, alguma entrega que vocês tiveram que fazer e tiveram que varar a noite. Conta algum episódio que aconteceu.
R – Ah, sim. Temos os uniformes...
P/1 – Um causo. Conta um causo aí para gente. Conta umas histórias.
R – Olha, tivemos que trabalhar à noite mesmo fazendo uniforme, foi uma entrega parece que era 200 camisas dessas camisas de malha e o cliente estava precisando demais desses uniformes, aí foi que nós tivemos que trabalhar. Aí foi que nós levamos até umas 10 horas da noite para terminar esses uniformes. Isso ficou. E a gente naquela correria lá, a gente tinha que entregar, e o cliente precisando, e tinha também para entregar aos funcionários deles, aí isso foi... às vezes acontece. Ainda acontece isso aqui com a gente, da gente trabalhar sob pressão, tem que entregar os uniformes o mais rápido possível, mas a gente consegue atingir, graças a Deus, isso a gente está conseguindo.
P/1 – E quando você se tornou presidente da cooperativa?
R – Quando? Foi em 2010. 2010. Teve o primeiro mandato, na época da Dona Marilene eu era a tesoureira. Aí fiquei tesoureira sempre porque ninguém queria ficar como tesoureira, aí os dois mandatos eu fiquei como tesoureira. Aí depois ela saiu, disse que não dava mais para ela continuar, aí me elegeram como presidente.
P/1 – Por que você acha que te elegeram?
R – Eu acho que pela confiança que eles têm em mim aqui, até hoje. Aí eu acho também que deve ser isso.
P/1 – O que você fazia como tesoureira?
R – Ah, eu trabalhava na parte de compra, de pagamento, de fazer também as folhas nossas, das cooperadas, fazer pagamento daqui da cooperativa, recebimento, cobrança, tudo isso eu fazia.
P/1 – E vocês tem algum costume, um hábito? Vocês cantam, brincam uma com a outra? Como é que é trabalhar aqui?
R – É, antes a gente fazia, logo no começo que eu assumi a direção, a gente chegava na mesa, a gente fazia orações, fazia as orações para começar a trabalhar. Mas a gente tem assim de chegar todos os dias e falar ‘bom dia’ para as meninas, fazer brincadeiras, a gente sempre tem isso aqui, graças a Deus. Às vezes que tem uma discussãozinha, mas isso é passageiro, não é assim sério.
P/1 – E fazer as orações foi você que trouxe isso para cá?
R – Foi, a Dona Deusa que é a vice ela é da outra religião, ela é da Batista, não, ela é da Paz, a Igreja da Paz, aí também sempre ela faz as orações dela. Antes, a presidente, a ex-presidente, ela é Assembleia de Deus, ela também fazia as orações também, logo que a gente chegava aqui na cooperativa.
P/1 – E aqui tem mulheres de várias religiões?
R – Tem, tem. Tem da católica, tem da Batista, da Paz, tem da Assembleia de Deus, mas graças a Deus não tem assim aquela discussão de igreja “que a minha é melhor”, não tem, cada um é respeitado, sabe? Uma respeita a outra.
P/1 – E como é que é morar aqui no Planalto?
R – Ah, é muito bom morar aqui no Planalto. Tem um clima muito frio, à noite faz frio e não tem aquele bicho que incomoda a gente, não tem. É bem tranquilo aqui na vila. Eu gosto muito.
P/1 – E aqui na vila, acontece alguma festa tradicional?
R – Acontece. Tem a daqui da nossa vila, o nosso padroeiro daqui é São José, ele é o mês de março, a gente festeja todo ano o padroeiro aqui da nossa vila, o São José. Aí tem as casas de festa, tem inclusive só uma agora que está aí funcionando. Tem aqui a escola que sempre tem, que eles fazem as festas juninas, as festas do dia das mães, da criança, e ano passado, foi ano passado que foi de eleição, a cooperativa fizeram uma pesquisa todinha aqui, então: “É, dona Ana...”, eles estavam precisando de uma candidata a vereadora aqui do partido do PT. “Não, Dona Ana, a gente quer que a senhora seja candidata?”, “Não, eu não quero”. Eles vieram aqui comigo. Eu disse: “Não, eu não quero”. Insistiram. “Está, tudo bem”, eu aceitei, como vereadora.
P/1 – Saiu candidata?
R – Saí como vereadora e candidata...
P/1 – Pelo PT?
R – Pelo PT.
P/1 – Aqui de Monte Dourado?
R – Aqui de Monte Dourado. Aí foi uma briga lá em casa porque meu marido não gosta do partido do PT, ele tem maior raiva do PT, e eu já gosto do partido PT, porque é o partido dos trabalhadores, e eu dou o maior apoio para os trabalhadores, nem fale, sou uma trabalhadora. E eu disse que não. Aí ele é do outro partido, aí ele brigou comigo, brigava que só. Aí eu falei: “Não, eu vou”. Aí me filiei pelo partido do PT. Aí foi até a eleição. Consegui até chegar no dia da eleição, ainda consegui cento e poucos votos, com muita luta, porque o pessoal não me deram muito apoio. Mas eles davam aquele apoiozinho. Só que eu não tive aquela oportunidade. Mas nunca deixei de sair daqui da cooperativa, eu sempre vinha aqui, se não era de manhã, à tarde. Nunca saí de largar assim, elas aqui, mas eu ia fazer meus trabalhos, as visitas, mas sempre eu estava aqui. Aí passou a política, aí consegui uma vaga para mim na escola, aí na secretaria, à noite. Aí, eu estou trabalhando à noite na escola, o dia eu trabalho aqui e à noite trabalho na escola.
P/1 – De secretária?
R – Na secretaria, de auxiliar administrativa?
P/1 – Na escola pública?
R – É, na escola pública do município.
P/1 – Aí você não se elegeu?
R – Não, não consegui.
P/1 – Faltou pouco para se eleger?
R – Nossa, fiz só cento e poucos votos, tinha que ter uns 300 votos para frente. Mas foi a primeira vez tive uma experiência. Mesmo porque eu não estava...
P/1 – Por que você é uma pessoa popular na região?
R – Muito popular. Nossa, onde eu for, se não tiver que falar com as pessoas... Tem que falar, tem que falar, dar um ‘bom dia’, pegar na mão, pegar no ombro. Popular mesmo.
P/1 – E hoje seus filhos estão com quantos anos?
R – Olha, a minha filha mais velha vai fazer 26, a minha segunda está com 24...
P/1 – Não moram mais com você essas...
R – Não, elas estão em Belém essas minhas duas filhas. O rapaz está com 22. Então, a segunda está com 24, o rapaz está com 22. Ele está morando agora em Tucuruí, casou, ele agora é da Igreja Batista, o meu filho. Eu tive essa oportunidade de ir lá, essa viagem que minha mãe faleceu, eu fui lá com ele, e ele estava morando sozinho e agora já casou com uma menina lá da Assembleia de Deus, inclusive ela está até grávida a menina, já vou ser até avó, vou ser vó pela primeira vez. E estou com uma filha aqui, que mora comigo, está com 19 anos, e tem meu filho caçula com 14 anos também. Só tem um casal agora morando com a gente, comigo.
P/1 – Ana, você tem uma vida muito rica, eu vi que você é super popular aqui na região, tem alguma fato marcante que você queira contar que aconteceu com você, que não apareceu aqui na entrevista e você queira deixar registrado? Alguma história?
R – Marcante...? Seu nome é?
P/1 – Rosana.
R – Rosana, é assim, eu me sinto muito bem quando a gente vai visitar as comunidades, porque quando a gente chega nas comunidades as pessoas tratam tão bem a gente. A gente se sente tão bem, sabe, como a pessoa recebe a gente. Eu, graças a Deus, não fiz nenhuma inimizade com ninguém e eu acho muito bonito isso da gente ir levar algo para eles, a gente se sente muito bem.
P/1 – Mas isso de você ir visitar as comunidades você ia quando você foi candidata?
R – Antes disso eu sempre ia, a gente sempre vai.
P/1- Por que você visitava?
R – Eu gosto, a gente gosta sempre de ir.
P/1 – Mas você vai para fazer o quê?
R – A gente vai para visitar mesmo.
P/1 – Quais comunidades?
R – A gente visita a comunidade do Braço, comunidade do Bandeira.
P/1 – Como é que é a comunidade do Braço? Vai descrevendo essas comunidades.
R – A comunidade do Braço ela é muito grande agora, ela trabalha com horta, é com horta que ela trabalha. E tem também lá na comunidade do Bandeira tem uma cachoeira lá também muito bonita, que a gente sempre vai lá, muito bonita essa cachoeira lá, a gente vai para tomar banho, muito bacana também lá.
P/1 – Mas vocês vão para essas comunidades para passar a experiência que vocês têm aqui na cooperativa? Para quê que é?
R – Não, a gente vai para visitar mesmo, não por... visita mesmo as pessoas, mesmo.
P/1 – Ana, quais são seus sonhos hoje?
R – Ah, meu sonho é ter minha casa, minha casa própria. Aonde, Deus que me dar, eu tenho muita vontade de ter minha casa própria e montar o meu próprio negócio também, porque aqui na cooperativa a gente já pega experiência já, a gente já tem uma experiência muito boa que dá mesmo para gente conseguir.
P/1 – Você quer ter um negócio só seu?
R – Um negócio meu mesmo.
P/1 – Ligado a o quê?
R – À costura. À costura.
P/1 – Mas só seu?
R – Só meu.
P/1 – Ana, o que você achou da experiência de contar sua história de vida para o Museu da Pessoa?
R – Nossa, eu achei muito interessante. Para mim, foi uma surpresa, porque o menino me falou que era só uma entrevista, não era com foto. Aí eu fiquei surpresa. Interessante. Muito bonito também da parte de vocês fazer a gente contar a história. Nossa, para mim foi até, assim, emocionante, porque de lembrar minha mãe. Estava com pouco tempo de falecida, minha mãe era muito boa. Ela alegra a minha mãe, que ela era assim, não brigava com ninguém. Sempre alegre. E ela ajudava todas pessoas que precisavam, que procuravam ela, ela sempre ajudava. E eu quero ser assim, sabe? Que nem minha mãe, uma pessoa muito boa, de coração.
P/1 – Obrigada.
R – Ai meu Deus. Já?!Recolher
Depoimento de Ana Maria Valente dos Santos
Entrevistada por Rosana Miziara
Monte Dourado, 25 de julho de 2013.
Entrevista n° HVC056
Realização Museu da Pessoa
P/1 – Oi, Ana, obrigada por dar seu depoimento aqui para gente. Você pode começar falando seu nome completo, local e data de nascimento?
R – Meu nome é Ana Maria Valente dos Santos. Nasci na cidade de Cametá. E nasci dia 28 de julho de 1965.
P/1 – Cametá é aqui no Pará?
R – Cametá é no Pará.
P/1 – É perto de quais cidades?
R – Perto de Tucuruí.
P/1 – Seus pais são de Cametá?
R – Meus pais são de Cametá.
P/1 – E seus avós, maternos e paternos?
R – Também são de Cametá.
P/1 – Tanto do lado de pai e de mãe?
R –
De mãe também.
P/1 – O que seus avós maternos faziam, e seus avós paternos?
R – Eles trabalhavam na roça.
P/1 – Os dois?
R – É, os dois.
P/1 – Que tipo de roça?
R – É, quer dizer, eles trabalhavam apanhando pimenta do reino. Eram apanhadores de pimenta do reino.
P/1 – Tanto os avós maternos, quanto os paternos?
R – Quanto os paternos.
P/1 – E seu pai fazia o quê?
R – O meu pai trabalhava na feira da cidade de Cametá. Ele era vendedor de café, de suco, vendedor ambulante.
P/1 – E sua mãe?
R – Minha mãe era só da casa, é de casa, caseira.
P/1 – E como é o nome do seu pai?
R – Wilson de Oliveira Valente.
P/1 – E da sua mãe?
R – Maria Adejar de Bahia Valente.
P/1 – E você sabe como eles se conheceram?
R – Ah, meu pai conheceu minha mãe foi numa festa que teve na casa dos meus avós, aí meu pai foi nessa festa, ele participava da música lá que tocava, ele era um dos músicos da banda lá. Aí foi através dessa festa que ele conheceu minha mãe.
P/1 – Seu pai é músico também?
R – Era músico. Ele era tocador de violão.
P/1 – Você cresceu escutando música?
R – Escutando música e nunca aprendi a tocar violão. Acho muito bonito tocar violão, e eu não consegui aprender. Tenho dois irmãos que tocam violão.
P/1 – Cametá era um local que tinha plantação de pimenta do reino?
R – Muita plantação de pimenta do reino, cacau...
P/1 – Como é que era Cametá quando você era pequena? Descreve. Conta um pouco como é que era a cidade?
R – Ah, a cidade era muito assim pacata, era pouca população que tinha, eles trabalhavam, assim, com pesca. Pequena mesmo.
P/1 – E quantos irmãos você tem?
R – Nós somos sete.
P/1 – Você é qual desses sete?
R – Eu sou a mais velha. Eu sou a mais velha dos filhos dos meus pais.
P/1 – E como é que era sua casa em Cametá?
R – Ah, era de tábua. Era de tábua, coberta com telha, aquelas telhas de barro.
P/1 – Quantos cômodos tinha?
R – Tinha dois, só.
P/1 – Você dormia com seus irmãos?
R – Muito pequeno.
P/1 – Era colchão no chão? Era cama?
R – Era, bem humilde mesmo.
P/1 – E você lembra das suas brincadeiras de infância?
R – Poxa, brincadeira de infância.
A gente gostava muito de brincar daquela que fazia a casinha assim. Deixa eu me lembrar agora, meu Deus!. A gente gostava de brincar de peteca, jogar essas brincadeiras de peteca. Agora não estou lembrada a brincadeira que a gente fazia, de pular corda também.
P/1 – Você brincava só com seus irmãos ou tinha amigos na vizinhança também?
R – Tinha minhas coleguinhas também. Brincava com meus irmãos, com minhas irmãs e com meus colegas, vizinhos de casa.
P/1 – Tinha muita brincadeira de rua?
R – Tinha muita brincadeira de rua. Tinha brincadeira de dança de folclore também.
P/1 – Dança de folclore?
R – Folclore. Tinha.
P/1 - Quais eram as danças?
R – Aquelas da quadrilha, de quadrilha.
P/1 – Como que era?
R – Nossa, antigamente, parece que era mais bonito, eu achava, mais bonito. Tinha os casais que faziam apresentações. Esqueci agora.
P/1 – E como é que era na sua casa, quem que exercia autoridade? Seu pai ou sua mãe?
R – Meu pai. Meu pai. Era ele que exercia autoridade. Sempre foi. Só que eu me criei, eu fiquei com meus pais até uns 4 anos. Aí dos 5 anos eu fui criada por meus avós.
P/1 – Por quê?
R – Porque minha avó não tinha filha mulher, aí eu era a neta mais velha. A primeira neta. Aí eles me pediram para os meus pais, aí meus pais deram para minha avó, do meu pai, paterno. Do meu pai, da parte paterna. Foi. Aí me criei com eles, com meus avós.
P/1 – Mas você via seus pais frequentemente?
R – Via, via, que eles moravam bem próximos. Eles moravam próximo de casa.
P/1 – E você foi? Você sentia saudade? Como é que foi esse período? Você lembra?
R – Não porque a gente ficava tudo perto. A gente ficava tudo perto deles, porque eu ia lá em casa, ia na casa dos meus avós. Porque eu morava na casa dos meus avós, mas sempre ia na casa dos meus pais.
P/1 – E como é que eram seus avós?
R – Muitos bons. Da parte do meu pai eles eram muito bons comigo. Meu avó, nossa! Nossa, eu gostava demais deles.
P/1 – Alguém contava história para você?
R – Minha avó contava muita história.
P/1 – Que história? Você lembra alguma?
R – Ela contava história. Deixa eu me lembrar agora. Não estou lembrada agora a história que ela contava. Ela contava muitas histórias. Agora eu não estou lembrada.
P/1 – Você teve algum tipo de formação religiosa?
R – Eu... Na minha família, dos meus pais, nós fomos católicos, sempre católicos, nunca passamos para outra religião. A gente participava das novenas da Nossa Senhora, a gente rezava os terços das novenas, a gente fazia procissão para os santos. Tudo isso a gente fazia lá.
P/1 – Você participava?
R – Participava.
P/1 – Você participava?
R – Participava.
P/1 – Como é que eram essas procissões?
R - A gente participava das procissões com a santa, e quando chegava na capela a gente cantava, cantando, levando as velas, quando chegava lá a gente rezava e cantava.
P/1 – Você lembra de alguma músicas?
R – Lembro muito da Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
P/1 – Como é que era a música? Canta um trechinho.
R – Com minha mãe estarei. Na santa glória um dia. Junto a Virgem Maria. No céu triunfarei. No céu, no céu, com minha mãe estarei. No céu, no céu, com minha mãe estarei. A gente escutava muito isso daí. Eu até me emociono porque a minha mãe já morreu... (choro) Tem problema não. Está recente. Foi ano passado que ela morreu.
P/1 – Você quer um pouquinho d’água?
R – Não.
P/1 – E aí você ia à missa, ia sua mãe, sua avó, todo mundo? Nas procissões...
R – A gente ia, participava todos. A única pessoa que não gostava muito era meu pai. Sabe? Ele não gostava muito de participar. Mas a mamãe sempre foi. Sempre a gente ia. Todas as novenas, todas as missas, a gente sempre ia.
P/1 – Ana, e com quantos anos você entrou na escola?
R – Com 8 anos.
P/1 – Era perto da sua casa? Como é que você ia?
R – Era perto de casa. Era perto.
P/1 – Como é que você ia para escola?
R – A gente ia de pés mesmo. Era de pés que a gente ia. A nossa escola lá... Deixa eu me lembrar o nome da escola era Dom Romualdo de Seixas. Foi a primeira escola em que eu estudei lá em Cametá.
P/1 – Você ia com seus irmãos?
R – A gente ia. A gente ia junto com meus irmãos, com minhas colegas também, a gente sempre ia, mas era de pés, porque era tudo perto lá.
P/1 – Tinha uniforme?
R – Nós tínhamos uniformes, era tudo de camisa branca, de saia, daquelas saiazinhas que tem a prega de sapato. Tudo mesmo de uniforme completo.
P/1 – E do que você mais gostava na escola?
R – Ah, a gente gostava dos trabalhos que a gente fazia junto com os colegas. A gente fazia apresentação dos trabalhos, e das brincadeiras também que tinham.
P/1 – E tem alguma professora que marcou sua história?
R – Ah, tem uma professora. Deixe eu me lembrar agora o nome dela. Essa professora que uma vez ela puxou a minha orelha, que eu não soube matemática, porque sempre fazia aquela tabuada, que perguntava. Aí lá, quando a gente não soubesse, eles puxavam a orelha da gente. A professora Jesusa, o nome dela, de matemática. Isso me lembrou muito.
P/1 – E na sua casa, tinha festas? Fora as procissões, vocês comemoravam Natal?
R – Tinha festa.
P/1 – Que festas que tinham lá, que vocês comemoravam?
R – De aniversário que a gente sempre fazia.
Natal a gente fazia, Dia das Mães, Dia dos Pais também a gente fazia. Dia do Pai, dia da mãe, dia da criança também, a gente fazia, sempre tinha nossas festas.
P/1 – E de comida? Você tem alguma comida que marcou tua infância?
R – Ah, lá da nossa cidade a comida lá predileta é o nosso peixe, o mapará.
P/1 – Como chama?
R – Mapará.
P/1 – Mapará?
R – É. Lá da nossa cidade. Nossa, ele é muito gostoso. Ainda tem até hoje. A gente come de todo jeito, é assado, é cozido, é frito, todo jeito, com açaí. Tem o açaí. A gente tem que ter a farinha também. O peixe, o açaí e a farinha.
P/1 – E você ajudava em casa?
R – Ajudava.
P/1 – Assim, precisava ajudar. Como que era?
R – Ajudava a fazer. Ajudava minha mãe a limpar a casa, lavar louça, lavar roupa. Sempre ajudei a minha mãe.
P/1 – E seu pai trabalhava na feira?
R – Meu pai trabalhava na feira, quando ele chegava a gente...
P/1 – E vocês ajudavam ele ou não?
R – Ajudava. A gente ia para lá com ele também.
P/1 – Com quantos anos você começou a ir para feira?
R – Deixa eu ver... Comecei a estudar com 10 anos, 12 anos.
P/1 – Você estudava e ia para feira?
R – É, estudava e ia para feira.
P/1 – Quantas vezes por semana seu pai ia para feira?
R – Ele ia todo dia, ele ia todo dia, menos dia de domingo. Aos domingos ele não ia para feira, não trabalhava.
P/1 – Mas vocês se revezavam? Iam como?
R – Sempre era ele que ia, o meu pai. Às vezes meu irmão que ia com ele também. Nesse tempo meu pai tinha que estar junto.
P/1 – Mas você ia também às vezes.
R – É, a gente ia também.
P/1 – O que você fazia?
R – Ajudava ele lá a lavar os copos, atender os clientes dele lá.
P/1 – Tem alguma cena que te marcou assim na feira alguma vez que você tenha ido ajudar, que você lembra?
R – Não lembro. Não lembro uma cena.
P/1 – E a sua juventude, você passou em Cametá?
R – Foi, em Cametá minha juventude.
P/1 – Quais que eram os seus programas de jovem?
R – Sempre a gente participava do coro da igreja, de jovens, clube de jovens, a gente participava, a gente ia para os encontros da catequese, a gente ia nos passeios, sempre foi. Eu gostava muito de participar. A gente ia para o convento das freiras para ver se tem a vocação, para saber qual era a vocação da gente, se era para gente ser freira, se era para gente casar, mas sempre participava.
P/1 – Você participou nesse convento?
R – Participei.
P/1 – E deu qual vocação a sua?
R – Não achei muito, porque apareceu já o meu marido. Eu conheci ele com 18 anos, o meu marido...
P/1 – Foi seu primeiro namorado?
R – Foi meu primeiro namorado. Namorado mesmo, porque só assim mesmo de paquera parece que foi pouco, mas para casar mesmo foi esse meu marido que nós estamos agora com 26 anos de casado. Aí conheci ele com 18 anos, ainda estava estudando ainda no ensino médio, aí três anos nós passamos noivos, aí nós casamos.
P/1 – Em Cametá.
R – Casamos em Cametá.
P/1 – Mas além da igreja, quais outros lugares vocês se divertiam? Você ia em festas?
R – A gente ia no balneário, nas praias.
P/1 – Que praias?
R – Uma praia que tem lá muito bonita lá em Cametá. A praia da Aldeia, ela é muito conhecida, muito visitada, ela é muito bonita, a gente sempre participava lá, sempre ia lá nessa praia.
P/1 – E você ia em baile, festa?
R – É, tinha as casas de festa, eu não ia muito porque meus avós não deixavam eu sair muito, eles tinham ciúme de mim, e não deixavam eu sair. A gente ia muito pouco. Tempo de Carnaval a gente participava também de carnaval. A gente ia nas festas de carnaval.
P/1 – Onde que eram essas festas?
R – Era lá mesmo na cidade de Cametá.
P/1 – Mas era festa de rua...?
R – Era no salão mesmo. Era no salão mesmo de festa que a gente participava.
P/1 – Que músicas que tocavam?
R – Música de carnaval. Agora para me lembrar música de carnaval...
P/1 – E que músicas você gostava de escutar quando você era jovem?
R – Só música romântica, música do Roberto Carlos.
P/1 – Tem alguma do Roberto que tenha te marcado?
R – Do Roberto?
P/1- Que você gostava de escutar, assim que você falava “Essa eu gosto”?
R – Ai meu Deus, agora não tenho lembrada a música do Roberto Carlos. Não lembro. Eu sou de 1965. Eu vou fazer 48 anos agora dia 28 de julho. Não lembro agora.
P/1 – E nessa época, você continuou estudando? Você foi até o colegial?
R – Foi. Eu estudei, eu estudei, conheci meu marido com 18 anos, terminei o meu ensino médio, casamos, no mesmo dia da minha formatura foi o dia do nosso casamento, foi só uma festa que nós fizemos.
P/1 – Você casou vestida de noiva?
R – Foi, vestida de noiva.
P/1 – Como que era seu vestido?
R – Era vestido branco, com coisa aqui na cabeça. Aí a luva branca, o vestido até aqui, de sapato salto alto, vestido branco.
P/1 – E ele?
R – Ele foi com calça preta, um blaser preto, uma camisa branca por dentro.
P/1 – E você antes de casar, quando você estava fazendo o colegial, você tinha assim um sonho: “Quando eu me formar quero ser tal coisa, quero ter tal profissão”?
R – Trabalhar, porque eu me formei...
P/1 – Mas você tinha esse pensamento?
R – Eu tinha. Eu me formei em auxiliar técnica de contabilidade, só que quando a gente namora é uma coisa, depois quando a gente casa é outra. Meu marido não deixou eu trabalhar. Eu queria trabalhar.
P/1 – Mas você estava trabalhando ou até então você só ia na feira?
R – Só estudando mesmo.
P/1 – Você continuava indo para feira?
R – Ia para feira com meus pais. Mas depois que eu casei, pronto, já não foi mais. Tinha que ficar em casa para cuidar da casa. Aí depois com três meses de casado aí veio filho, um atrás do outro.
P/1 – Quantos filhos você tem?
R – Tenho 5 filhos.
P/1 – Quando você teve o primeiro filho?
R – Eu tive o primeiro filha? Deixa eu ver... Casei com 21, com 22 eu tive a primeira filha.
P/1 – Como foi a sua gravidez?
R – Nossa, foi a primeira vez eu não sabia de nada. Foi assim... É que eu não sabia mesmo. Quando engravidei eu comecei a passar mal, que dá aquele enjoo todinho na gente. Aí fui para o hospital, consultei, o médico, fiquei internada. Aí quando meu marido soube já estava no hospital, que ele levou um susto porque ele nem sabia que eu tinha. Era mecânico o meu marido, ele trabalhava e quando ele chegou em casa eu não estava, aí foi na casa dos meus pais, porque a gente morava sempre perto. Aí falaram: “Olha, ela está para o hospital, ela foi consultar”, ele disse: “Mas, até agora ela não veio”. Aí foi atrás de mim, quando chegou lá eu estava lá internada, tomando soro porque eu estava muito fraca porque estava me dando enjoo. Mas, graças a Deus, foi só isso, até os 9 meses,
tive normal minha filha mais velha. Aí, pronto. Aí, depois da mais velha veio a segunda, com dois anos, quando minha menina, a bebê já estava começando a andar, aí veio o terceiro, aí da quarta já passou mais uns 3 anos, aí da quarta para o quinto passou cinco anos, já demorou mais.
P/1 – Aí desde que você casou você não trabalhou mais fora?
R – Foi. Não trabalhei fora. Já vim trabalhar já para cá, quando nós viemos...
P/1 – Foi a primeira vez que você trabalhou sem ser com teu pai?
R – Isso aí. Foi.
P/1 – E como que foi, como que você virou costureira?
R – Hum, como foi? A gente primeiro morava no Laranjal, que meu marido veio para Almeirim. Aí de Almeirim mudamos para Laranjal.
P/1 – Peraí, vamos voltar: como é que você saiu da sua cidade e foi para Laranjal? Foi da sua cidade para Laranjal?
R – Sim, nós viemos de Cametá para Almeirim, porque a família todinha do meu marido é de Almeirim. Então ele chegou em Almeirim ele não conseguiu trabalho, a gente teve que vir para cá, para o Laranjal. Aí ele alugou um quartinho e nós ficamos lá com todos os nossos quatro filhos, porque nós viemos com quatro filhos de lá, já o quinto já é daqui. Aí foi que ele conseguiu um trabalho em Monte Dourado, isso a gente morava no Laranjal...
P/1 – Ele conseguiu trabalho do quê?
R – De mecânico. Conseguiu se fichar numa empresa aí. Aí passamos um tempo lá em Monte Dourado, aí mudamos para cá. Aí ele saiu da empresa. Viemos para cá para o Planalto. Já estamos aqui no Planalto há 9 anos.
P/1 – Por que ele veio para o planalto?
R – Porque a gente já tinha mais... Quer dizer, ele tinha saído da empresa, aí teve que trabalhar autônomo, como ele trabalha até hoje...
P/1 – Ele teve que trabalhar do quê?
R – Quando a gente veio para Planalto a gente tinha uma associação de mulheres, que estava aqui no Planalto.
P/1- Mas você já conhecia elas?
R – Não. Já a vizinha que me convidou para participar desses encontros. Foi...
P/1 – Ela falou que eram encontros do quê?
R – Encontros de mulheres. Era Associação de Mulheres da Vila do Planalto. Aí ela me convidou para mim participar. Aí eu vim participar, eles faziam os encontros, eles davam o sopão todo final de semana para todos os moradores da vila. Aí foi que a fundação veio, já com o apoio da fundação que veio fazer os encontros, que tinha o CEM, que na época formou o CEM que eram os encontros das mulheres, foi que a gente participou desses encontros...
P/1 – O que é CEM?
R – É Centro de Excelência da Mulher. Aí foi que a gente começou a participar dos encontros.
P/1 – E o que se discutia nesses encontros?
R – Ah, a gente fazia muitas capacitações, negócios de recursos humanos, era brincadeiras que tinha também, que eles faziam com a gente, e palestras também que eles davam para gente. Eram muitas palestras que a gente participava.
P/1 – Palestras sobre o quê?
R – Essas palestras era sobre relações humanas, era sobre trabalho, eles faziam várias coisas. Agora não estou lembrada. Aí foi através da Fundação Orsa que foi feita a pesquisa sobre o que as mulheres do Planalto queriam. Trazer um trabalho aqui para as mulheres, para nós. O que a gente queria no momento. Aí foi que todas: “Não, vamos costurar. Vamos montar uma...”. Vamos trabalhar na costura
.
P/1 – Por que vocês decidiram a costura?
R – Porque a gente via que a necessidade era bem mais aqui na região, porque tinha as empresas e eles compravam os uniformes fora. E a gente botando uma empresa de costura eles já comprariam daqui da gente. Aí nós tivemos apoio das empresas pequenas, da NDR, para reformar aquela casa dali, reformaram ali para gente, as máquinas também foram doadas, foi comprada ali para gente, tudo isso eles nos ajudaram. Quer dizer que nós não entramos com dinheiro, assim, para comprar as máquinas, foi feito doação. Aí veio uma professora do Senai, uma técnica de costura, deu curso para gente...
P/1 – De costureira?
R – De costureira. Aí pronto. Aí a gente começou
.
P/1 – E teve algum curso, assim, de gerenciamento, montagem de negócios?
R – Teve. Teve muitos.
P/1 – Quem que dava essa capacitação?
R – Era sempre o pessoal da fundação que trazia para gente. Sempre da fundação, Sebrae também sempre trouxe para gente.
P/1 – E no Senai eles ensinaram vocês a costurar?
R – Foi.
P/1 – Você não sabia até então.
R – Não, a gente sabia, mas não tinha aquela técnica ainda.
P/1 – Você sabia costurar?
R – Eu sabia, mas era pouco. Do cortar eu não sabia. Eu não sabia cortar. Aí eu tinha maior medo de pegar um pano e estragar, aí depois que ela veio a gente já acabou aquele medo, já aprendeu mesmo a cortar, costurar, montar mesmo as peças tudinho. E essas máquinas aqui foi um pouco difícil para gente aprender, porque eram máquinas industriais, que a gente estava só acostumada com aquela máquina doméstica, pequena. Já com essa aqui a gente já tinha um medo porque tinha que pisar com um pouco de delicadeza para não levar tudo, que ela é industrial. E a gente, graças a Deus, conseguimos aprender.
P/1 – Quem foi o primeiro cliente de vocês?
R – Nosso primeiro cliente foi a NDR. Deixa eu me lembrar agora. Foi a NDR, a Marquesa, a Orsa, a Jari, que está sendo até hoje, que para gente, foram nossos primeiros clientes. E as outras empresas pequenas também, que chegaram até a gente.
P/1 – E como foi na sua casa, você com cinco filhos, com marido, você entrar para uma cooperativa, começar a trabalhar, teve algum tipo de dificuldade?
R – Depois que eu vim para cá as minhas filhas já não estavam, as minhas filhas mais velhas, a primeira e a segunda, elas tiveram que viajar para estudar, terminar os estudos delas. Aí eu fiquei só com três, os dois meninos e a menina. Logo no começo meu marido não queria porque antes a gente não ganhava nada, a gente só vinha mesmo para trabalhar e por enquanto a gente não ganhava nada. Então nosso primeiro pagamento foi cinquenta reais, porque a gente tinha que pagar um monte de coisas e a gente não tinha mesmo, não sobrava nada mesmo para gente, sabe? Aí daí pronto, dos cinquenta reais aí foi aumentando. Aí sempre brigando, meu marido: “Não. Porque, não”, e brigava comigo para mim não vir, porque a gente tinha que vir todo dia, de manhã e de tarde, e até a noite a gente trabalhava. A gente tinha que cumprir a nossa meta de entregar os uniformes. Aí, graças a Deus, agora não, agora ele já parou mais de brigar comigo, eu venho mesmo e ele não implica mais. Já deu já para...
P/1 – Você já ganha...?
R – Já, Já consegue já uma boa renda para ajudar.
P/1 – Você ajuda com dinheiro em casa?
R – Ajudo com dinheiro em casa, a gente já consegue muita coisa. Inclusive eu estou com a minha filha que estuda em Belém, está morando em Belém, está fazendo a faculdade de farmácia e eu ajudo muito ela, esse dinheiro que eu ganho eu sempre ajudo ela a comprar uniforme, comprar apostila, plano de saúde também, que ela tem problema de asma. Sempre ajudo ela lá. Quer dizer, ela mora em Belém com a minha filha, a minha filha mais velha.
P/1 – Vamos voltar um pouco para quando teve a formação dessa cooperativa há 8 anos atrás: quais foram os principais desafios, teve alguma história marcante que aconteceu nesse período?
R – Teve. Era para gente comprar os materiais, para comprar os materiais porque era os insumos. Isso aí a gente tinha que fazer mesmo os uniformes, para vender, para comprar o material. Isso daí foi bem mesmo. Às vezes a gente não tinha o dinheiro, tinha o pedido, a gente não tinha dinheiro para comprar o material. Isso foi muito marcante para gente.
P/1 – Aí vocês faziam como?
R – Aí a gente tinha que emprestar, emprestava para cobrir, para comprar, aí quando entrava o dinheiro a gente pagava. Sempre foi assim.
P/1 – Ana, deixa eu te contar, você veio morar aqui, mas a sua família continua em...?
R – A minha família mora em Cametá.
P/1 – Cametá. Continua lá.
R – A minha família continua lá.
P/1 – Você se correspondia com eles por o quê? Por carta?
R – Por telefone. Por telefone. E às vezes também eu ia lá com eles, de ano a ano, de dois em dois anos. Sempre ia lá com eles. Sempre vou lá com o meu pessoal.
P/1 – Você tinha costume de escrever cartas?
R – Não, só por telefone mesmo. É, o telefone. Só que meus pais quando eu saí de lá foi um choro, porque sou a filha mais velha, os primeiros netos deles, ele sentiu muito meu pai, a minha família. Chorando mesmo porque não queriam que a gente viesse de lá, ficar sempre lá com eles. Só que não dava para gente ficar sempre lá com eles, a gente tinha que ter nossas coisas. Aí ele deu... Logo que nós casamos ele deu uma casa para gente morar lá, para ficar sempre perto dele, deles. Aí meu marido: “Não, não, a gente vai embora”. E a gente veio para cá. A família dele toda é de Almeirim.
P/1 – Vocês vão para Almeirim também?
R – É de Almeirim. Ele ainda tem pai e mãe vivo ainda.
P/1 – Ana, nesses 8 anos, conta assim algum episódio marcante, alguma entrega que vocês tiveram que fazer e tiveram que varar a noite. Conta algum episódio que aconteceu.
R – Ah, sim. Temos os uniformes...
P/1 – Um causo. Conta um causo aí para gente. Conta umas histórias.
R – Olha, tivemos que trabalhar à noite mesmo fazendo uniforme, foi uma entrega parece que era 200 camisas dessas camisas de malha e o cliente estava precisando demais desses uniformes, aí foi que nós tivemos que trabalhar. Aí foi que nós levamos até umas 10 horas da noite para terminar esses uniformes. Isso ficou. E a gente naquela correria lá, a gente tinha que entregar, e o cliente precisando, e tinha também para entregar aos funcionários deles, aí isso foi... às vezes acontece. Ainda acontece isso aqui com a gente, da gente trabalhar sob pressão, tem que entregar os uniformes o mais rápido possível, mas a gente consegue atingir, graças a Deus, isso a gente está conseguindo.
P/1 – E quando você se tornou presidente da cooperativa?
R – Quando? Foi em 2010. 2010. Teve o primeiro mandato, na época da Dona Marilene eu era a tesoureira. Aí fiquei tesoureira sempre porque ninguém queria ficar como tesoureira, aí os dois mandatos eu fiquei como tesoureira. Aí depois ela saiu, disse que não dava mais para ela continuar, aí me elegeram como presidente.
P/1 – Por que você acha que te elegeram?
R – Eu acho que pela confiança que eles têm em mim aqui, até hoje. Aí eu acho também que deve ser isso.
P/1 – O que você fazia como tesoureira?
R – Ah, eu trabalhava na parte de compra, de pagamento, de fazer também as folhas nossas, das cooperadas, fazer pagamento daqui da cooperativa, recebimento, cobrança, tudo isso eu fazia.
P/1 – E vocês tem algum costume, um hábito? Vocês cantam, brincam uma com a outra? Como é que é trabalhar aqui?
R – É, antes a gente fazia, logo no começo que eu assumi a direção, a gente chegava na mesa, a gente fazia orações, fazia as orações para começar a trabalhar. Mas a gente tem assim de chegar todos os dias e falar ‘bom dia’ para as meninas, fazer brincadeiras, a gente sempre tem isso aqui, graças a Deus. Às vezes que tem uma discussãozinha, mas isso é passageiro, não é assim sério.
P/1 – E fazer as orações foi você que trouxe isso para cá?
R – Foi, a Dona Deusa que é a vice ela é da outra religião, ela é da Batista, não, ela é da Paz, a Igreja da Paz, aí também sempre ela faz as orações dela. Antes, a presidente, a ex-presidente, ela é Assembleia de Deus, ela também fazia as orações também, logo que a gente chegava aqui na cooperativa.
P/1 – E aqui tem mulheres de várias religiões?
R – Tem, tem. Tem da católica, tem da Batista, da Paz, tem da Assembleia de Deus, mas graças a Deus não tem assim aquela discussão de igreja “que a minha é melhor”, não tem, cada um é respeitado, sabe? Uma respeita a outra.
P/1 – E como é que é morar aqui no Planalto?
R – Ah, é muito bom morar aqui no Planalto. Tem um clima muito frio, à noite faz frio e não tem aquele bicho que incomoda a gente, não tem. É bem tranquilo aqui na vila. Eu gosto muito.
P/1 – E aqui na vila, acontece alguma festa tradicional?
R – Acontece. Tem a daqui da nossa vila, o nosso padroeiro daqui é São José, ele é o mês de março, a gente festeja todo ano o padroeiro aqui da nossa vila, o São José. Aí tem as casas de festa, tem inclusive só uma agora que está aí funcionando. Tem aqui a escola que sempre tem, que eles fazem as festas juninas, as festas do dia das mães, da criança, e ano passado, foi ano passado que foi de eleição, a cooperativa fizeram uma pesquisa todinha aqui, então: “É, dona Ana...”, eles estavam precisando de uma candidata a vereadora aqui do partido do PT. “Não, Dona Ana, a gente quer que a senhora seja candidata?”, “Não, eu não quero”. Eles vieram aqui comigo. Eu disse: “Não, eu não quero”. Insistiram. “Está, tudo bem”, eu aceitei, como vereadora.
P/1 – Saiu candidata?
R – Saí como vereadora e candidata...
P/1 – Pelo PT?
R – Pelo PT.
P/1 – Aqui de Monte Dourado?
R – Aqui de Monte Dourado. Aí foi uma briga lá em casa porque meu marido não gosta do partido do PT, ele tem maior raiva do PT, e eu já gosto do partido PT, porque é o partido dos trabalhadores, e eu dou o maior apoio para os trabalhadores, nem fale, sou uma trabalhadora. E eu disse que não. Aí ele é do outro partido, aí ele brigou comigo, brigava que só. Aí eu falei: “Não, eu vou”. Aí me filiei pelo partido do PT. Aí foi até a eleição. Consegui até chegar no dia da eleição, ainda consegui cento e poucos votos, com muita luta, porque o pessoal não me deram muito apoio. Mas eles davam aquele apoiozinho. Só que eu não tive aquela oportunidade. Mas nunca deixei de sair daqui da cooperativa, eu sempre vinha aqui, se não era de manhã, à tarde. Nunca saí de largar assim, elas aqui, mas eu ia fazer meus trabalhos, as visitas, mas sempre eu estava aqui. Aí passou a política, aí consegui uma vaga para mim na escola, aí na secretaria, à noite. Aí, eu estou trabalhando à noite na escola, o dia eu trabalho aqui e à noite trabalho na escola.
P/1 – De secretária?
R – Na secretaria, de auxiliar administrativa?
P/1 – Na escola pública?
R – É, na escola pública do município.
P/1 – Aí você não se elegeu?
R – Não, não consegui.
P/1 – Faltou pouco para se eleger?
R – Nossa, fiz só cento e poucos votos, tinha que ter uns 300 votos para frente. Mas foi a primeira vez tive uma experiência. Mesmo porque eu não estava...
P/1 – Por que você é uma pessoa popular na região?
R – Muito popular. Nossa, onde eu for, se não tiver que falar com as pessoas... Tem que falar, tem que falar, dar um ‘bom dia’, pegar na mão, pegar no ombro. Popular mesmo.
P/1 – E hoje seus filhos estão com quantos anos?
R – Olha, a minha filha mais velha vai fazer 26, a minha segunda está com 24...
P/1 – Não moram mais com você essas...
R – Não, elas estão em Belém essas minhas duas filhas. O rapaz está com 22. Então, a segunda está com 24, o rapaz está com 22. Ele está morando agora em Tucuruí, casou, ele agora é da Igreja Batista, o meu filho. Eu tive essa oportunidade de ir lá, essa viagem que minha mãe faleceu, eu fui lá com ele, e ele estava morando sozinho e agora já casou com uma menina lá da Assembleia de Deus, inclusive ela está até grávida a menina, já vou ser até avó, vou ser vó pela primeira vez. E estou com uma filha aqui, que mora comigo, está com 19 anos, e tem meu filho caçula com 14 anos também. Só tem um casal agora morando com a gente, comigo.
P/1 – Ana, você tem uma vida muito rica, eu vi que você é super popular aqui na região, tem alguma fato marcante que você queira contar que aconteceu com você, que não apareceu aqui na entrevista e você queira deixar registrado? Alguma história?
R – Marcante...? Seu nome é?
P/1 – Rosana.
R – Rosana, é assim, eu me sinto muito bem quando a gente vai visitar as comunidades, porque quando a gente chega nas comunidades as pessoas tratam tão bem a gente. A gente se sente tão bem, sabe, como a pessoa recebe a gente. Eu, graças a Deus, não fiz nenhuma inimizade com ninguém e eu acho muito bonito isso da gente ir levar algo para eles, a gente se sente muito bem.
P/1 – Mas isso de você ir visitar as comunidades você ia quando você foi candidata?
R – Antes disso eu sempre ia, a gente sempre vai.
P/1- Por que você visitava?
R – Eu gosto, a gente gosta sempre de ir.
P/1 – Mas você vai para fazer o quê?
R – A gente vai para visitar mesmo.
P/1 – Quais comunidades?
R – A gente visita a comunidade do Braço, comunidade do Bandeira.
P/1 – Como é que é a comunidade do Braço? Vai descrevendo essas comunidades.
R – A comunidade do Braço ela é muito grande agora, ela trabalha com horta, é com horta que ela trabalha. E tem também lá na comunidade do Bandeira tem uma cachoeira lá também muito bonita, que a gente sempre vai lá, muito bonita essa cachoeira lá, a gente vai para tomar banho, muito bacana também lá.
P/1 – Mas vocês vão para essas comunidades para passar a experiência que vocês têm aqui na cooperativa? Para quê que é?
R – Não, a gente vai para visitar mesmo, não por... visita mesmo as pessoas, mesmo.
P/1 – Ana, quais são seus sonhos hoje?
R – Ah, meu sonho é ter minha casa, minha casa própria. Aonde, Deus que me dar, eu tenho muita vontade de ter minha casa própria e montar o meu próprio negócio também, porque aqui na cooperativa a gente já pega experiência já, a gente já tem uma experiência muito boa que dá mesmo para gente conseguir.
P/1 – Você quer ter um negócio só seu?
R – Um negócio meu mesmo.
P/1 – Ligado a o quê?
R – À costura. À costura.
P/1 – Mas só seu?
R – Só meu.
P/1 – Ana, o que você achou da experiência de contar sua história de vida para o Museu da Pessoa?
R – Nossa, eu achei muito interessante. Para mim, foi uma surpresa, porque o menino me falou que era só uma entrevista, não era com foto. Aí eu fiquei surpresa. Interessante. Muito bonito também da parte de vocês fazer a gente contar a história. Nossa, para mim foi até, assim, emocionante, porque de lembrar minha mãe. Estava com pouco tempo de falecida, minha mãe era muito boa. Ela alegra a minha mãe, que ela era assim, não brigava com ninguém. Sempre alegre. E ela ajudava todas pessoas que precisavam, que procuravam ela, ela sempre ajudava. E eu quero ser assim, sabe? Que nem minha mãe, uma pessoa muito boa, de coração.
P/1 – Obrigada.
R – Ai meu Deus. Já?!Recolher
Título: Costurando sonhos
Data: 25/07/2013
Local de produção: Monte Dourado (almeirim)
Autor: Museu da Pessoa
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