IDENTIFICAÇÃO Meu nome é José Alcivam. Nasci em Natal, Rio Grande do Norte, em 18 de janeiro de 1963. INGRESSO NA PETROBRAS Por coincidência eu entrei na Petrobras em 17 de janeiro de 1984, na véspera do meu aniversário. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu entrei na Petrobras lota...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é José Alcivam. Nasci em Natal, Rio Grande do Norte, em 18 de janeiro de 1963.
INGRESSO NA PETROBRAS Por coincidência eu entrei na Petrobras em 17 de janeiro de 1984, na véspera do meu aniversário.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu entrei na Petrobras lotado no município de Açu, onde a produção fazia no campo de Alto do Rodrigues, onde até hoje eu trabalho. Entrei no cargo de mecânico e, após cinco anos, passei a trabalhar como inspetor de equipamentos, hoje técnico de inspeção. Eu era mecânico, trabalhava com instalação, manutenção corretiva e preventiva de equipamentos e hoje faço a parte de inspeção de metalúrgica, de materiais e equipamentos pertencentes à área de produção. No campo de Açu, a produção é terrestre através de unidade de bombeios, bomba de cavidades progressivas, e também temos estações coletoras de petróleo, oleodutos de produção, onde hoje é minha atividade, a parte de inspeção e oleodutos.
SINDICATO - TRAJETÓRIA SINDICAL Desde 1985 sou sindicalizado. Hoje nós assumimos a direção, onde eu faço parte, sou o diretor representante da federação. A luta no sindicato se deveu à péssima condição de trabalho do início, quando trabalhamos em Alto do Rodrigues, devido a nós estarmos chegando de um regime totalmente ditatorial, vindo da ditadura, e as pessoas que nos gerenciavam, vinham com essa cultura ainda, pensando que nós estávamos no quartel. Por isso, as condições de trabalho eram tipo quartel, tipo regime de quartel, e inclusive se usava a diferença entre você ser chefe, você ser executante. Hoje, ainda tem algum resquício disso, mas diminuiu bastante, que primeiramente é o saudoso crachá. Nós que éramos executantes, na parte de mecânica ou operação, usávamos uns crachás azuis e as pessoas que nos supervisionavam, gerenciavam, usavam crachá vermelho. Capacete, vou usar esse termo nosso, o peão usava o capacete cinza e a parte de engenharia e nível superior usava capacete branco. Isso já dava diferenciação. Onde você chegava, a pessoa já sabia: “Aquele é peão, aquele é chefe”. Então criou-se essa divisão na qual, desde o inicio, nós combatíamos e até hoje combatemos. Graças a nossa luta, hoje temos o maior peão do Brasil sendo nosso presidente. As discordâncias começaram por condições ruins de trabalho. Um trabalho exige uma certa condição de segurança e, naquele tempo, o camarada, a pessoa que nos supervisionava: “Não rapaz, dá para fazer. Você faz e a gente endossa e tal”. E na hora se opunha a fazer, por isso passávamos a ser perseguidos: “Aquele camarada não quer trabalhar, porque não quer fazer o serviço”. E ele queria que o serviço saísse a qualquer preço, não observando as condições de segurança. Inclusive temos várias evidências de acidentes por falta de questão de segurança e, no entanto, de lá para cá ninguém foi punido por causa disso. Quer dizer, o regime era encoberto pelas altas gerências e assim por diante. Eu entrei no sindicato como ativista nessas coisas, mas, por exemplo, tinham condições de moradia na cidade que nós fomos lotados. Eu nasci em Natal, hoje uma boa cidade, já era uma boa cidade de morar em relação à Açu, chegávamos lá nós íamos alugar uma casa, a casa lá em Açu era mais cara do que uma casa em Natal. Então nós começamos a nos organizar, no início era uma associação, não tinha fundado o sindicato ainda, começamos a nos organizar e reivindicar à prefeitura, chamar pessoas do serviço pessoal para lá para ver a situação, para ver o nosso quadro. Para nos mantermos lá durante o período que fossemos trabalhar naquele local, precisaria de condições, como escola. Por exemplo, eu tinha 20 anos, a maioria dos colegas estavam chegando, entrando no mercado de trabalho, vindo remanescentes de escolas técnicas, de Senai e tal, então éramos a maioria solteiros. Então para aquela situação estava bom, porque você é solteiro, você não tem tempo ruim, qualquer lugar é local. Mas com o passar de um ano, dois anos, as pessoas foram conhecendo as outras e foram se casando, arrumando namorado, e precisava melhorar a sua situação. Você morava numa casa que tinha 10 pessoas, cada um levava a sua rede, a sua bolsa, mas com o tempo você vai ter que melhorar as suas condições de vida, de ambiente e tal. Melhorou muito, melhorou muito para o que era. Significativamente, para os outros locais da Petrobras que hoje eu tive a oportunidade de conhecer, nós aqui ainda somos um pouco arcaicos, precisamos avançar bastante. Inclusive é o que a gente almeja nessa nova gestão, nessa nova forma que vai ser gerenciada. Vou dar um exemplo. As outras áreas do Rio Grande do Norte, por exemplo, pólo de Guamaré, que é onde recebe toda a produção, plataformas, as pessoas têm adicionais a mais trabalhando nas mesmas condições que nós trabalhamos. São áreas circunvizinhas, mas no entanto não temos os direitos remuneratórios iguais. As pessoas que trabalham em Mossoró, por exemplo, é o mesmo local de produção, recebem auxílio almoço lá. Nós não, nós recebemos simplesmente o salário básico e até hoje não mudou isso. Apenas o que mudou foi com a demanda, nós fizemos pressão com a mudança que houve dez anos atrás, a gente fez uma avaliação, conseguimos que ele fizesse um quadro político geográfico da área e com isso teve que ver pessoas do recurso humano do Rio de Janeiro para cá: “Pôxa, como é que está uma situação dessas e vocês como gerente não fizeram nada?” Se a gente não tivesse feito esse movimento, essas coisas todas, até hoje estava indo assim. Então eles conseguiram fazer com que a gente passasse a trabalhar no mesmo regime, 40 horas semanais, sendo que a gente trabalhava oito horas diárias, a gente passasse a trabalhar dez horas diárias, folgava um dia a mais, tinha uma folga a mais, que também era nossa reivindicação para ficar mais com a nossa família. Mesmo com as melhorias, não conseguimos nos fixar naquela cidade, o nosso pólo de moradia básico de nossas famílias sempre foi Natal. O que eu vejo, isso são as formas gerenciais diferentes, as cabeças dos gerentes não coadunam com a coisa. Por exemplo, após eu mudar de atividade, eu era mecânico passei para técnico em inspeção, que é um nível, na época na parte de supervisão, a gente passou a ter mais cursos fora e nós íamos mais a congressos petroleiros, tal, e nós conversávamos, tirávamos feed-back dessas pessoas e víamos que, aqui, estamos andando na idade da pedra. Enquanto os camaradas já estão reivindicando o auxílio creche, a gente esta ainda querendo uma coisa básica que ainda não tinha. Isso as gerências daqui não viam, só queriam ver porque eles defendiam o cargo deles à finco. Então ele queria que o próximo chefe dele, que sempre aqui vai ser uma escala assim, soubesse que estava todo mundo satisfeito, então ele cobria essas coisas. Através da luta sindical, movimentos de grupos, através de Cipas, conseguimos reverter muita coisa, maas tem muita coisa ainda à avançar. Quando eu mudei de atividade, eu era ativista de linha de frente, não era diretor de sindicato, porque eu estava concluindo meu curso de nível superior em engenharia mecânica, eu vim da escola técnica, já no segundo ano de universidade eu entrei na Petrobras, então eu passei esses quatro anos tentando fazer meu curso, tentava negociar com a gerência, mudar de um regime que eu pudesse fazer, e nada. Mas eu disse: “Não vou desistir”. Como eu trabalhava de segunda a sexta, eu falava com o camarada: “Rapaz, deixa eu trabalhar sábado ou domingo e a outra segunda e a outra semana de aula”. Então ficava de uma forma que eu tentei ajeitar, conciliar, tanto com os professores da universidade que já eram um trauma, quanto com a nossa gerência. As pessoas tinham medo da Petrobras. Você chegava lá o cara falava: “você é petroleiro, você está rico, você...” Esse paradigma que sempre teve na sociedade não é real. E isso a gente tentou levar durante quatro anos. Ao final de cinco anos, consegui terminar meu curso, quer dizer, um curso que era para mim ter terminado em cinco anos, terminei em sete anos e meio, mas foi uma vitória, foi um avanço muito grande. Por exemplo, de domingo eu terminava meu plantão, meu serviço, e pegava, andava 30km para pegar um ônibus que talvez viesse, que passasse naquele local. Peguei muitas vezes carona de caminhão até outra cidade mais próxima para pegar outro ônibus. E assim foi, essa luta, banho de chuva, todo o tipo de coisa ruim de caroneiro que existe por aí. E nisso, entrei no movimento estudantil, eu estava no movimento estudantil aqui da universidade e as pessoas: “Rapaz, você trabalha, você não é sindicalizado, porque você não vai para a frente do movimento?” Porque tem muita reivindicação, muita demanda e isso a gente definiu. Foi na época que houve a primeira eleição direta, que Collor concorreu com Lula, e eu estava no Rio fazendo curso de técnico de inspeção. Naquele momento, o Brasil era visado, aparecia mais na mídia. Aquilo eu acompanhei, aquilo me alucinou, eu fui para linha de frente mesmo, porque tinha pessoas nossas que na época da revolução foram banidas daqui para lá e essas pessoas eram as que eu tinha contato lá no Rio de Janeiro. Eu ficava em Macaé e ao final de semana voltava e essas pessoas me deram uma bagagem boa. A gente está vivendo aqui o que a gente está vivendo em 61, 62, então você em que absorver essas coisas bem para poder dar seqüência à cabeça, para você não se desnortear, porque às vezes você vai pelo caminho errado. Quando a gente chegou formado do Rio de Janeiro em técnico de inspeção, foram sete meses, fomos convidados a entrar numa chapa, numa eleição sindical. O Lula tinha acabado de perder a eleição e o Collor tinha entrado. Aquele período inicial do Collor que foi a maravilha, o marajazão, o caçador grande, aquilo foi onde nós levamos a primeira porrada grande: vocês não têm direito, funcionário público, não têm direito à nada. O que a gente foi conseguir, foi na luta. E nisso, o Collor já relacionou uma penca de pessoas que não interessavam ao serviço público, no serviço público ele não podia demitir, na Petrobras ele podia, porque era uma empresa de capital misto. Então ele demitiu uma pancada de gente e inclusive eu era uma das pessoas, só que a empresa tinha investido muito na minha atividade, porque eu tinha sito um dos últimos concursados da empresa e tal. E alguém chegou, não sei quem foi essa mão que deixou, eu continuei trabalhando. Mas eu não abaixei a cabeça e continuamos a luta, reivindicando sempre, trabalhando, através de Cipas, porque aí já saí da parte de execução de serviço mais pesado para uma parte de serviço mais técnico, a parte de inspeção de vasos, tanque de equipamentos, demanda já você pensar mais do que você executar em si. E as pessoas foram criando uma certa forma de respeito que nos credenciou a entrar no movimento sindical, quer dizer, nos convidaram, e eu não era partidário, torcia por um partido mas não era afiliado, não era ativista partidário. Fizemos uma gestão boa no sindicato. Conseguimos organizar o sindicato, tiramos o sindicato da mão de uma casta de pelego que tinha lá, expulsamos esses caras do sindicato e organizamos, fizemos sedes, fizemos tudo aqui, nós mais alguns companheiros que ainda hoje permeiam. Parece que sindicalista esté no sangue da pessoa, a pessoa tenta sair, mas não. E continuamos essa luta, perdemos uma eleição, perdemos outra, duas eleições, mas continuamos na base e trabalhando, sempre convidado para concorrer na Cipa, porque no meu ver era uma forma de você ter um local para falar, reivindicar as coisas. Nós éramos organizados, levávamos para o Ministério do Trabalho, a empresa não queria bancar essas coisas. O Ministério do Trabalho chamava a empresa e, assim, fazia uma forma de conciliação, mas tinha que ter alguém, porque as diretorias que nos sobrepuseram não tinham essa questão de ir para o embate com as pessoas, gostavam mais de conciliação e o sindicato não é para isso, na minha visão o peão sempre tem que estar preparado para tudo. Por exemplo: agora, houve uma mudança governamental, a maioria das pessoas são do movimento sindical, mas agora que o sindicato ganhou, a idéia da nossa peãozada é que o sindicato ganhou, agora vai resolver tudo. E não é nada disso, porque nós estamos pegando um legado de 500 anos. A primeira vez que entrou mesmo uma mudança, uma proposta de mudança é essa e esperamos que melhore. Estamos aqui para dar apoio ao que for certo e, no que estiver errado, nós vamos para a luta mesmo.
ENTREVISTA A idéia é excelente, excelente. Sinto pena porque o subsídio para você contar a história do Rio Grande do Norte, a Petrobras do Rio Grande no Norte não vai ser, na minha concepção, você não vai pegar a coisa mais condensada aqui, porque eu creio que você só trabalhando com as pessoas daqui, eu acho que, por exemplo, de Alto ldo Rodrigues vieram duas pessoas, vieram dois de Mossoró e assim vai. Mas por exemplo, a história do Rio Grande do Norte da Petrobras, de produção, a sede, ela é uma base. Claro que tiveram muitas pessoas aqui que trabalharam no campo e sabem alguma coisa, mas se você tiver essa oportunidade de ir à esse local e pegar pessoas históricas, você pega ali as histórias mais bonitas. Por exemplo, temos lá uma barragem que estourou no ano de 85. Muita gente que teve que ir lá mergulhar de barco, ir num barquinho lá para tirar os equipamentos de dentro da água. Mergulhava, desapertava, subia, mergulhava até conseguir, ir na mão. Tem muita história dessa assim que precisa ser contada para você dizer: “Ih rapaz, essa história foi bem construída”. Se você passa naquele local: “Isso era uma lagoa. Em 1985, aqui encheu, transbordou. Estavam todos os equipamentos lá. Qual era a decisão, deixar os equipamentos lá ou salvar?” Alguns eram vanguardeiros, iam salvar o patrimônio e foram mesmo. Então essas pessoas mereciam ser ouvidas eu acho. As questões das lutas mesmo que houveram, no ano de 90, tudo colorido, um ano colorido, a gente teve que tomar uma sub-estação elétrica lá no Alto do Rodrigues. Assumimos mesmo, desligamos todos os equipamentos e eles só voltaram a trabalhar quando houvesse uma negociação. Passamos lá durante três dias fazendo revezamento, pessoas querendo invadir com a polícia, fazendo terrorismo, dizendo que iam demitir não sei quem, tal, e não conseguiram. A gente conseguiu avanço nessa parte. Em 1988, por exemplo, estávamos trabalhando quando foi declarada a greve. Fizemos uma assembléia via rádio, você pegava um carro de incêndio, pegava uma ambulância, pegava tal e todas as bases estavam com rádio, eles diziam: “Base 34?” Eles diziam: “Apóia” “Base tal...” E fizemos essa assembléia através de rádio, então era uma coisa, foi bonita para a evolução da coisa.Recolher