IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Carlos Roberto de Araújo. Nasci em Jardim Piranhas, uma cidade do Rio Grande do Norte, em 28 de setembro de 1964. INGRESSO NA PETROBRAS Ingressei em 1º de agosto de 1984. Aqui, no nosso Estado, é muito pobre. As pessoas, que querem ter alguma coisa, v...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Carlos Roberto de Araújo. Nasci em Jardim Piranhas, uma cidade do Rio Grande do Norte, em 28 de setembro de 1964.
INGRESSO NA PETROBRAS Ingressei em 1º de agosto de 1984. Aqui, no nosso Estado, é muito pobre. As pessoas, que querem ter alguma coisa, vão estudar na Escola Técnica. Pessoas que não tem dinheiro, não são abastadas, têm como um grande sonho, entrar na Petrobras. O grande sonho das pessoas, que vem das classes mais baixas e até a classe média, aqui do estado, o grande sonho é ser petroleiro. Eu fiz curso técnico na Escola Técnica, em eletrotécnica.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Entrei na Petrobras como ajudante de manutenção. Só depois que, realmente, fui ser técnico de manutenção. Entrei para ficar na área mais penosa da empresa, que é, exatamente, a área de perfuração. As sondas de perfuração são uma verdadeira agressão ao ser humano. Porque é uma atividade, onde tem muito ruído, é um maquinário muito pesado, tem poeira, calor, frio.
Realmente, é uma área da empresa muito penosa, para os trabalhadores. Nós ficamos nos campos de perfuração, aqui do Estado. São na área do município de Mossoró, de Açu e na região do oeste da cidade, além de ter, também, nas plataformas marítimas. Eu fiquei na sonda desde que entrei em 84, até 88, quando eu fui para o sindicato.
SINDICATO TRAJETÓRIA SINDICAL Em 1988, entrei na primeira diretoria cutista do nosso sindicato aqui, o Sindipetro RN. Fiquei no sindicato da primeira diretoria cutista de 88 a 91. Aconteceram muitas coisas nesse período...
SINDICATO SINDIPETRO RN O sindicato era desorganizado. Era dirigido pelas pessoas ligadas a CGT, ao MR 8 e, de repente, estávamos formando a oposição cutista. Ganhamos a eleição em 88, só que, logo após, teve greve geral, no mesmo ano,uma greve de 11 dias. Foi a primeira greve nacional da categoria. Essa categoria cutista, que era formada por Olegário, que era o presidente, o Geraldão, o Chicão, o Paulo Sérgio, o Paulo Manteiga, que saiu daqui e foi para São Paulo. Eu, na realidade, estava entrando no movimento sindical e essas pessoas, já eram do movimento há muito tempo. eu e mais outros estávamos entrando, naquele momento.
Foi uma experiência muito rica. Logo no primeiro momento, antes de assumir, fizemos uma greve geral. Foi contra o plano Verão, do Sarney .Pela primeira vez, nesse trabalho de sonda, que era um trabalho muito penoso, fizemos greve. Saímos do local de trabalho em cima de caminhões, o sindicato não tinha dinheiro para retirar o pessoal. A empresa põe carro, van, ônibus, para levar o pessoal, mas o sindicato não tinha.
Nós alugamos um caminhão e saímos recolhendo as pessoas, espalhadas, em distância de um raio de 100 quilômetros, para trazer a Mossoró, fazer a greve na cidade. As mobilizações foram concentradas no centro da cidade, em Natal. Nesse dia inclusive, teve diretor do sindicato, que foi preso devido aos protestos, que aconteceram na cidade.
Depois, em 88 ainda, tivemos a primeira greve, que a categoria fez nacionalmente. Foi a greve de 11 dias. Um período, onde os trabalhadores da CSN estavam fazendo uma reivindicação, pelo turno de 6 horas. A CSN foi invadida pelo exército. Morreram 2, 3 trabalhadores e nós, lá em Mossoró, chegamos a fazer um protesto contra aquela invasão, em solidariedade à greve e aos companheiros que tombaram. Fizemos um protesto no centro da cidade, na praça principal da cidade. Temos, isso aí, registrado em fotografias. Uma mobilização, um protesto em solidariedade. Eram coisas, que essa categoria nunca tinha visto e nós começamos, a fazer naquele momento, naquela primeira diretoria cutista do sindicato. Foi um momento muito rico, para a categoria e de formação sindical para aquelas pessoas novas, que estavam entrando no movimento. Acho que, o terceiro momento, foi 2 anos depois. Em 1990, quando o Collor, aquele plano para tentar enxugar as empresas estatais, demitiu 105 petroleiros da nossa base. Naquele momento, essa diretoria cutista combativa fez uma greve de ocupação, A primeira greve de ocupação aconteceu também em Mossoró. Ocupamos a base do Canto do Amaro, que é onde se concentra a maior produção de petróleo de campo terrestre, do País.
Ficamos 3 dias nessa ocupação em condições precaríssimas, dormindo em cima de tubulação, sendo ameaçado pelo exército ou pela policia, que estavam fora das instalações, bem próximos. Ficamos lá 3 dias, com as pessoas ocupando aquela instalação, protestando contra as demissões dos 105 companheiros aqui da nossa base. Após a ocupação, saímos de lá numa negociação com a empresa, mas permanecemos em greve alguns dias, ainda.
Em 22 de junho de 1990, a greve acabou. Quando terminou a greve, tivemos a notícia de que quatro diretores, do sindicato, estavam demitidos. Naquele momento, eu era delegado sindical, lá de Mossoró, e estava entre os quatros demitidos. Vim a ser reintegrado na empresa, em 1º de janeiro de 94, por força de uma lei de anistia do deputado Luciano Zica, assinada pelo presidente Itamar Franco. Então, foi um período em que aconteceram muitas coisas na nossa categoria. O sindicato teve uma atividade muito intensa. A gente conseguiu várias pessoas, que estavam acabando de entrar no movimento sindical, com formação sindical. O quê fez, com que o nosso sindicato, passasse a ser referência para o movimento sindical, do Estado e
Nacional. Naquela diretoria, tivemos várias pessoas, do Departamento Nacional dos Petroleiros da CUT– DNPC. Várias pessoas, que foram para o comando nacional da categoria, que participaram depois da direção da FUP, que é a Federação Única dos Petroleiros. O Geraldão, o Olegário, o Humberto. Eu também fiz parte do DNPC e da Confederação Nacional dos Químicos.
Foram pessoas daquela direção do sindicato, daquela primeira direção cutista, que participaram de todas essas mobilizações.
Se destacaram, devido à força que a categoria passou a ter, com tanta mobilização. Se destacaram no cenário nacional da categoria. Hoje, o presidente do sindicato, daquela época, é vereador da nossa cidade. Olegário Passos é vereador aqui da cidade de Natal, no segundo mandato.
SINDICATO TRAJETÓRIA SINDICAL Fiquei demitido 3 anos, de junho de 90 até 94. Daí eu, nesse período demitido, continuei no Sindicato. Sendo que eu fiquei, na Confederação Nacional dos Químicos e na FUP. Nós participamos não mais lá, dentro do Sindicato. Em 91,vieram eleições e nós perdemos a eleição. Perdemos a eleição para o pessoal da Corrente Sindical Classista, que ficaram no Sindicato sozinhos. São cutistas, também, e ficaram até este ano.
Nesse ano estou retornando para o Sindicato, eu e outras pessoas, onde nós fizemos a composição...Fui readmitido em 1º de janeiro de 94. Nesse período, que eu fiquei afastado, nós aprovamos nas Assembléias da categoria, que a categoria aumentasse a contribuição, o que permanece até hoje. Era 1% e nós passamos a contribuir com 2%, para dar sustentação a esses dirigentes da categoria, que foram demitidos. Os quatro dirigentes demitidos, naquele período.
Então, quando nós fomos reintegrados, esse salário, que a categoria nos sustentou durante aquele período, foi devolvido ao Sindicato e à categoria. Quando eu retornei, não era mais Diretor do Sindicato. Nós tínhamos perdido a eleição e retornei a trabalhar nas sondas, nas sondas de perfuração, como eu disse antes, que é uma área muito penosa pra categoria.
SEGURANÇA DO TRABALHO Com relação às sondas, eu gostaria de falar uma coisa. Em 89, chegou um gerente, para comandar as sondas de perfuração. Naquele período, tínhamos oito sondas perfurando naquela área de Mossoró, e ele implementou uma competição entre elas. A sonda, que perfurasse mais metros no mês, metros perfurados, a turma e a sonda ganhariam um churrasco, um brinde. Era uma competição entre as equipes, entre as sondas.
Mas, não se levava muito em consideração, a questão de segurança. Começou acontecer muito acidente, nessa tentativa de se ganhar, em produtividade, a qualquer custo. Nós, do sindicato daquela época, chamamos essa competição de “Olimpíada da Morte”. Então, passamos a fazer uma campanha contra. Passamos a fazer mobilização e teve greve, só das sondas, contra essa Olimpíada da Morte.
Começamos a fazer uma campanha tão forte, que conseguimos, depois de uma greve só das sondas, fazer com que a direção da empresa, a gerencia geral trocasse o gerente, botasse uma pessoa, que não pregasse essa competição a qualquer custo, sem levar em consideração, principalmente, as questões de segurança. Tivemos muitas pessoas mutiladas. Na história da perfuração, em toda industria de petróleo do mundo, tem acidentes e, quando acontecem, são graves. Aqui mesmo, na nossa unidade, temos várias histórias de pessoas que se acidentaram e faleceram, dramaticamente, nesses acidentes. Então, enquanto o gerente fazia a campanha de competição, na realidade, muitas pessoas se mutilaram. Perderam o dedo e até chegaram a morrer. Nós conseguimos, com a nossa mobilização, barrar e colocar para fora da nossa gerência, aquele gerente, que no meu ponto de vista, era incompetente. Hoje, as sondas produzem e perfuram mais, do que produziam na época da Olimpíada da Morte, sem que se deixe, em segundo plano, a segurança.
ENTREVISTA Acho uma iniciativa muito boa, preservar a memória e a história da empresa, principalmente a história das pessoas que construíram e constróem essa grande empresa. Uma iniciativa muito boa do sindicato e da empresa. Isso vai dar uma contribuição muito grande. Para as pessoas, que atualmente não conhecem a nossa história, porque o nosso País é realmente muito fraco, nessa questão de preservar a história.
Contribuição,não só para geração atual, para a nossa geração, mas, principalmente para o futuro. Quando as pessoas quiserem saber o que foi a empresa, o que foi o movimento sindical. Como os trabalhadores reagiram e aceitaram determinadas condições, que a empresa quis implementar, como os sindicatos se organizaram. Acho uma grande valia ,que a gente tenha esse registro, sendo feito. Todo trabalhador, todo o petroleiro deveria a ser incentivado, a vir dar esse depoimento. Inclusive, falei com o Moraes, há pouco, que esse projeto deveria ter ido à cidade do interior do Rio Grande do Norte, onde tem a Petrobras. Acho, que deveria ter ido a Mossoró, porque lá, é onde estão as sondas de perfuração, os campos de produção Alto do Rodrigues, Pólo do Guamaré. Tem lá, histórias riquíssimas para serem contadas. Pelo menos, a cidade principal da Petrobras do Rio Grande do Norte, que é Mossoró. Por incrível que pareça não é Natal.
Aqui está a gerência, a administração, uma parte do corpo do técnico da empresa. Mas a produção, o maior campo de produção terrestre, do Brasil, está em Mossoró. Então, realmente não entendo, como a gente faz esse projeto, para resgatar essa memória e não vai, onde se encontra o maior campo de produção, as sondas e várias pessoas, que deveriam estar contando a sua história. Contando como contribuíram e contribuem para a grandeza dessa empresa. Ou as pessoas, que contribuíram e contribuem para fazer o movimento sindical, na nossa categoria.Recolher