IDENTIFICAÇÃO Meu nome é José Dilson Paula de Oliveira. Nasci no dia 9 de abril de 1940, em Pojuca, Bahia. INGRESSO NA PETROBRAS Eu entrei na Petrobras em 4 de agosto de 1958, através de concurso. Entrei, como diz, de baixo. Entrei como ajudante de produção, aí fui jogando todos...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é José Dilson Paula de Oliveira. Nasci no dia 9 de abril de 1940, em Pojuca, Bahia.
INGRESSO NA PETROBRAS Eu entrei na Petrobras em 4 de agosto de 1958, através de concurso. Entrei, como diz, de baixo. Entrei como ajudante de produção, aí fui jogando todos os níveis, cheguei no ápice do nível médio, que é técnico de operações de produção. A luta no início foi árdua, porque nós pegamos a Petrobras ainda menina, com 4 anos, tínhamos que ergue-la e, naquela época, as condições de trabalho eram horríveis. Para a gente trabalhar, ia num caminhão, em cima de um caminhão, estrada sem asfalto. A coisa era difícil, mas superamos isso tudo.
Trabalhamos, tínhamos e temos amor pela empresa. Talvez, eu não veja isso hoje, mas temos um amor muito grande. Quando fui solicitado a estar aqui, eu vim de imediato, me prontifiquei de imediato: “Não. Vou”. Isso é fruto do amor que nós temos pela Petrobras. Tudo que fiz na vida foi por ela. Então é o que eu falei: pegamos desde do início, atingindo metas, metas de 100 mil barris, de 250 mil, de 500 mil barris. Na meta de 1 milhão, eu já não estava na Petrobras, já tinha saído.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL A trajetória minha foi como operador de faca e registro, que consistia em descer uma ferramenta para desparafinar poços. Depois fui trabalhar em operações com arame, nós fazíamos pescaria e, ainda, colocávamos válvula em poços. O que são as válvulas? As válvulas são para tirar o petróleo, quando acaba o gás nos poços. Então nós fazemos a terciária. O que é isso? A gente injeta gás, de acordo com a profundidade do poço, que vai até 2 300 metros aqui na Bahia. Nós temos o sistema nessa coluna de válvula, você injeta uma pressão x em uma válvula, ela dispara, joga o óleo para outra, a outra dispara, joga o óleo para outra, e assim sucessivamente até chegar na estação coletora. Depois eu fui trabalhar no Semag, Setor de Movimentação de Água. Trabalhava com água. Já a recuperação secundária, tudo isso era feito através de água. O que é isso? Todos nós sabemos, que o óleo é mais leve que a água, a densidade da água é bem maior, então nós injetávamos água para levantar a camada de óleo dentro da tubulação nos poços.
Em 1978, fui classificado encarregado de produção. Aí, eu já era o comandante de uma equipe ou de várias equipes. Depois a Petrobras modificou o quadro e de encarregado, passei a técnico de operações de produção. Mas o sistema é o mesmo, o trabalho é o mesmo. Então foi essa a minha vida na empresa. Fiz com muito carinho, trabalhei com muito carinho, procurando dar o máximo de mim. Esse rapaz que estava ali comigo foi meu subordinado, então nós mantemos... porque eu era um encarregado diferente. Eu sempre dei mais... não seria valor, mais correspondência ao homem do que ao equipamento. Na minha concepção, o equipamento é feito em série, em um dia, se faz milhares. Um homem, se faz em 15, 20 anos. Nós fazemos aquela parte criança, adolescente; o homem para trabalho a gente só tem a partir dos 18 anos. Então eu tinha muito mais cuidado com meus homens, que trabalhavam comigo, do que com o equipamento.
Agora, eu fazia eles verem, que o equipamento era tão importante quanto eles, que nós devíamos cuidar. A Petrobras queria, que nós déssemos as nossas 8 horas, com honestidade. A minha equipe era uma equipe coesa e consciente das suas obrigações. Essa foi a minha vida na Empresa e, hoje, me sinto honrado. Já há 13, 14 anos que saí. Eu me aposentei em 89. Hoje ser querido pelos colegas, ser indicado por colegas para dar esse depoimento, para mim é um motivo de orgulho.
RELAÇÕES DE TRABALHO Uma vez, no Campo de Catu, um bombeador subiu no tanque para medir, hoje é tudo eletronicamente, mas, naquela época, a gente subia 12 metros para jogar uma trena, na boca daquele tanque, saindo gás. Tinha que medir aquilo de hora em hora, para colocar no boletim. Aí ele caiu, escorregou, o tanque tinha 12 metros. Graças a Deus, ele caiu fora. A boca, sempre ficava no meio do tanque e a medição, seria na beirada do tanque. Ele escorregou e caiu de costas, na hora que eu ia falar, desliga aí para não sair, ele caiu de costas e lascou os testículos.
O chefe do campo na época era o doutor Garcia Chaves, ele era peruano e não achou palavras para descrever o episódio. “Olha, faz a comunicação, que ele caiu de costas e lascou o saco”. Esse é caso verídico e têm muitos outros. Tem muita coisa que aconteceu, muitos desastres, também, que deixaram a gente entristecido. Ver um colega morrer, eu vi vários morrerem, isso fazia parte do ofício e a gente não perdia aquela emoção de estar trabalhando, aquele carinho que a gente tinha pela empresa, a gente não perdia.
CULTURA PETROBRAS Para mim é um orgulho, um prazer muito grande, eu queria que ela tivesse o mesmo carinho, por nós, aposentados, como tivemos por ela e temos ainda. Temos o maior respeito. Hoje, sou um micro-empresário e agradeço a Petrobras, porque se não fosse ela eu não teria dinheiro para montar a minha empresa, a minha mini-empresa. Então agradeço a ela e tenho o maior carinho, tanto, que já falei anteriormente, foi com o maior carinho que eu vim. Ao longo do tempo nós fomos perdendo conquistas por causa do próprio operário, porque a Petrobras foi uma mãe para todos nós. Tínhamos a subsistência, e o que era subsistência, tudo o que a gente recebia no campo.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu, por exemplo, trabalhei em vários campos. Trabalhei em Catu, em Dom João, em Candeias, Miranga, Araças, Buracica. Então nós tínhamos a subsistência, fazíamos a nota, vinha aqui para Salvador, para Jequitaia e, no final do mês, ia um caminhão de compra para todos os operários. Além disso, tínhamos 300 litros de gasolina, 50 litros de querosene e tínhamos dois bujões de gás liquefeito. Quem tinha gás liquefeito usava os bujões, comprava bujão;
quem tinha fogão a querosene, comprava a querosene, e quem tinha carro, tinha os 300 litros. Mas tinha gente que fazia o seguinte, não tinha nem isso, só tinha um fogão, e comprava tudo para vender no armazém, para beber. Então fomos perdendo conquistas, perdemos e, hoje, estamos no que estamos.
Outra coisa também: o petroleiro gastava muito. Por isso, tem muita gente, hoje, sem condição nenhuma. A empresa pagava bem, principalmente a partir de 1961 quando teve equiparação, porque nós ganhávamos, aqui, diferente de quem ganhava no Rio de Janeiro, passamos a ganhar realmente melhor. E o que faziam? Gastavam tanto que o índice de alcoolismo - hoje não sei, mas até 89, quando eu estava - era muito alto, nos Campos. Eu gastei muito, mas também economizei. Se eu gastava 70% deixava 30%. A Petrobras, para mim, foi e é uma grande empresa, a maior da América do Sul, da América Latina. Para mim foi muito boa e benéfica. Eu entrei do nada, entrei carregando tubos nas costas e saí comandante. Então é gratificante.
ENTREVISTA Eu acho de suma importância, porque tem muita gente, hoje que só fala mal da Petrobras, principalmente quem está aí fora, mas não sabe realmente o que ela é. Ela está tentando fazer o quê? Modernizar. Está informatizando o sistema, hoje é tudo informatizado, isso é o progresso. Sem progresso, ela estaria naquele patamar de 1958. Então tem coisas, eu vou falar, porque às vezes me aflige, o que eu não acho certo é, hoje, a gente não ter condições nem de entrar na empresa, principalmente aqui, eu vou lhe contar um caso. Seis meses atrás, eu estava no shopping, no Pituba Park Center, e disse: “Deixa eu ir tirar um dinheiro, vou tirar dentro da minha empresa, que eu trabalhei lá”. Quando cheguei na portaria, me identifiquei com o meu crachá de aposentado, aí a moça disse: “Quem mandou o senhor tirar o dinheiro?”. Eu disse: “Minha amiga, o dinheiro é meu. Não preciso de ordem para tirar meu dinheiro”. “Ah, mas não pode não, tem que vir uma ordem de cima”. Isso é humilhante para a gente, que é aposentado, que deu o nosso sangue por ela. Se a chefia alta, lá em cima, não sabe disso, procure averiguar. Isso, para a gente, é humilhante, porque nós demos o nosso sangue, muita gente morreu, como morre até hoje. Ano passado morreram 11 ou 12. Conheço um rapaz, que mora perto de mim, que está em estado de choque ainda. Então isso, para a gente, é humilhante, dói, porque nós a fizemos crescer. Mas eu acho importante essa participação. Às vezes, por um depoimento, a gente conserta muitas coisas. Talvez até isso se conserte. Eu não tenho necessidade de vir aqui sempre. Botaram um atendimento aí, tudo bem, mas, se a gente quer visitar um amigo, como esse amigo meu que está aqui, tem 12 anos que não nos vemos... Porque o petroleiro tem muito disso, quando se aposenta, ou se afasta ou se afastam dele, tem as duas vertentes. Quando o elemento é ruim, lá no campo, ninguém nem quer ver. Mas foi muito bom, foi muito gratificante.Recolher