IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Edson da Silva Oliveira. Nasci em Itaberaba, região da Chapada Diamantina, Bahia, em 16 de abril de 1959. INGRESSO NA PETROBRAS Cheguei aqui em Salvador em 1978 e, francamente, eu nem imaginava entrar na Petrobras. Consumia bujão de gás e nem sabia que dia...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Edson da Silva Oliveira. Nasci em Itaberaba, região da Chapada Diamantina, Bahia, em 16 de abril de 1959.
INGRESSO NA PETROBRAS Cheguei aqui em Salvador em 1978 e, francamente, eu nem imaginava entrar na Petrobras. Consumia bujão de gás e nem sabia que diabo era Petrobras. Mas, eu fiz concursos, aquela epidemia de concurso, vários. Entrei no Correio, depois Receita, na Prefeitura de Camaçari e resolvi fazer Petrobras, apesar de que eu ter vindo para estudar. Naquela época, quando eu cheguei aqui, eu tinha 27 anos. Fiz o concurso com 25, 26. O que me deixa, assim, curioso é que eu nem sabia o que era Petrobras, com toda sinceridade. Cidade do interior, Nordeste brasileiro, pertinho do sertão, pertinho de Canudos, nem sabia o que era, logomarca, nada. Bujão de gás tinha em casa, cozinhava de carvão, mas depois passou a usar bujão de gás lá em casa, lá no interior.Petrobrás e o bujão
deve ter alguma relação. Aqui, em Salvador, via aqueles ônibus da refinaria, os ônibus que transportam empregados. Tinha um concurso, apareceu no jornal “A Tarde”, um dos maiores, o maior jornal aqui do Nordeste, jornal local. Eu fiz, passei, entrei e estou muito feliz. Apesar de ainda ser nível médio, estou muito feliz. A empresa é ótima. É sim, a maior empresa do País, da América Latina, e uma das 14 maiores do mundo.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu entrei no Sertel, antigo Serviço de Telecomunicações. Naquela época tinha a função de teletipista, trabalhava com telex. Depois a Petrobras excluiu essa função, foi modernizado. Hoje em dia, já tem internet e tudo. Até no correio, para se ter idéia, no correio que tem telex, já não tem mais teletipista, ou, se tem, essa função está sendo excluída, por causa da modernização de sistemas de telecomunicações. Então eu entrei primeiro pelo Sertel, não como teletipista, entrei como auxiliar de escritório, justamente porque a Petrobras estava querendo excluir aquela função. Aí se você disser: “Ué, você entrou como auxiliar de escritório?” Mas, entrei exercendo a função de teletipista, ou seja, digitando mensagens. Por que eu estou citando isso? Porque teletipista trabalhava 6 horas e eu passei àquele horário de 8 às 12 e de 1 às 5, recebendo e transmitindo mensagens para todo o sistema Petrobras.
ENTREVISTA Em primeiro lugar, quero aqui elogiar o projeto. Eu até estranhei por ser uma iniciativa de sindicato... nós estamos começando novos ares no Brasil, é ótimo. Me chamam de rato de biblioteca, porque sou super curioso, leio tudo, procuro estar por dentro de tudo. E eu estranhei, “meu Deus, sindicato fazendo um trabalho de memória?” Porque também pode, o sindicato também faz parte, não é mesmo? O brasileiro, a população brasileira faz parte da Petrobrás, do Correio, do Ministério da Agricultura. Mas, a gente estranha, assim, porque sindicato... Então foi ótima a idéia.
Vou até falar em primeira mão, que vocês usam essa linguagem, um projeto que eu lancei já tem 8 anos e ainda não vi resultado. Tem a ver com patrimônio. Saiu, o projeto foi entregue à determinada pessoa. Na Petrobras tem isso, até que eu quero te dizer: o Código de Ética tem que ser modernizado, tem alguma coisa que já está um pouquinho ultrapassada. Então eu tive que entregar ao gerente, o gerente mandou para o Rio. Não sei qual o blá, blá, blá, sei que a idéia foi aí colocada em discussão e parou. Então, quando eu vi esse projeto aí do sindicato, de memória, eu fiquei feliz da vida porque... Achei ótimo, excelente idéia, porque eu sou um pouquinho saudosista. Valorizo demais a gente ter uma coletânea de fatos, um documentário, alguma coisa para, mais tarde, poder conhecer o nosso trabalho, a nossa história. Foi ótimo. É excelente essa idéia.
Espero que a Petrobras venha colocar essa questão do museu. Tomara, quem sabe. Com fé em Deus, pode ser que venha até a reviver aquela briga do Rio e São Paulo da sede da Petrobras. Eu nem era nascido, mas teve aquela briga. A Bahia é o berço do petróleo,
por que a sede da Petrobras é no Rio? Eu não quero discutir questão política, estratégica. Mas, essa questão de museu, o projeto já foi lançado. Por sinal, daqui a algum tempo vai ser reenviado, porque já tem 6 ou 7 anos e até agora nada. Como também não estou dizendo, que é sou a primeira pessoa a enviar esse projeto. Outras pessoas já falaram sobre isso, deram a idéia. Mas, eu lancei ,também, a idéia e até agora não foi concretizado.
Dou muito valor à história, à preservação do patrimônio. Você chega na Chesf, da Eletrobrás, tem museu em Paulo Afonso. Você chega no Correio e Telégrafos, tem museu. Você chega na Casa da Moeda, tem museu. Banco do Brasil. Só falta a Petrobras. É a maior empresa brasileira, 50 anos. Bahia, berço do petróleo e até agora nada de museu. Então chegou a hora. O projeto já está aí. E o projeto está lá, guardadinho no meu arquivo particular, na biblioteca particular, mas eu resolvi que, qualquer oportunidade, vou mandar de novo. Não estou dizendo “Ah, você foi o pioneiro”. Não, mas eu fiz um trabalho maravilhoso. Pesquisei no Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, na Diretoria Regional da Bahia, na Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia, aqui na biblioteca; pesquisei via sindicato e no Departamento de Museologia da UFBA. Enfim, fiz uma coletânea. Pesquisei, elaborei o projeto e agora estou satisfeito de ter essa iniciativa do sindicato...
Relembrando a tua pergunta, é por sinal marcante, porque tinha muito interesse nessa questão de museu. Então foi ótima, excelente e espero que venha e que tenha aquela briga. O museu tem que ser aqui na Bahia. O Rio de Janeiro é sede da empresa, mas eu peço, pelo amor de Deus, o museu tem que ser aqui na, o berço do petróleo brasileiro.
Existiram fatos que foram marcantes. Ao ser admitido na Petrobras, essa questão de perfil, essa questão de rotulagem, ser petroleiro. Então tem muitos fatos e vocês vão ter um monte de histórias, um monte. Ainda mais aqui na Bahia. Mas eu até elejo esse fato, essa questão de museu, porque foi surpresa. ‘Pôxa, museu, sindicato? Por que é que não foi a Petrobras? Eu, com aquele projeto de museu... pô, é legal, é a questão da memória’. Quando eu fui ver: Sindicato. Então ótimo, a relação Sindicato - Petrobras, ainda mais agora, em 2003, que nós estamos com novos ares; novo Brasil.
RELAÇÕES DE TRABALHO Eu estou lembrando, agora, um fato marcante. A Petrobras, como sempre, permite cursos aos seus empregados pelo Brasil afora, principalmente no eixo Rio e São Paulo. Aqui nós temos, hoje, a Universidade Corporativa, que também é um centro de ensino. Logo quando eu entrei na Petrobras, em 1987, dois anos depois, o serviço de Telecomunicações estava oferecendo um curso em São Paulo, para o pessoal que trabalhava com telex. Da turma aqui da Bahia, eu participei. Então é um fato que você me lembrou. Um fato que eu vim aqui justamente por isso, está ali escrito o texto e aí eu vou dar a vocês o fato que marcou.
ENTREVISTA Quero até dizer a vocês: para esse projeto de memória, todo fato é importante,
do hilariante àquele relacionado à profissão, à relação de trabalho; se algum empregado fez alguma coisa, que foi excelente para o refino. Por exemplo, “Ah, teve empregado que criou uma máquina aí. Alguma coisa, uma idéia excelente. Na época ele foi castrado, o pessoal estava rejeitando mas...” então isso também faz parte da memória. Um fato, questão social, questão na família, questão na sociedade, na empresa. Então todo fato é ótimo. Eu sei que vai haver a seleção dos fatos, mas é ótimo dar essa oportunidade. É excelente, para os empregados, o povo, as pessoas terem oportunidade. Então, o fato que marcou primeiro: essa excelente idéia do coletar fatos para criar uma memória dos trabalhadores. Em segundo, a iniciativa de vocês, a iniciativa da Petrobras de coletar, de preservar a nossa memória. Eu estou satisfeito e, com fé em Deus, espero que o projeto do museu venha a ser concretizado.
RELAÇÕES DE TRABALHO Nós fomos fazer a viagem, esse curso que a Petrobras estava oferecendo. Foi janeiro de 90. Fomos fazer uma viagem para a São Paulo. A equipe foi juntamente com outros empregados de outros serviços de telecomunicação, antigo Sertel. Foi a primeira vez viajando de avião, primeira vez de hotel cinco estrelas, chiquérrimo,
luxuosíssimo. O hotel, rua Augusta, Ave Maria, mais de 10 andares. Eu fiquei no nono andar, aquele quarto maravilhoso. Eu, do interior baiano, imagine
Chegando no Hotel C’doro em São Paulo, em plena rua Augusta, centro velho da cidade.
Nós viajamos no domingo, à tarde, e o curso seria de segunda à sexta, uma semana só, 5 dias. Na segunda-feira, primeiro dia de curso, quando cheguei à noite no quarto e abri o free go bar, olhei aquelas castanhas maravilhosas, deliciosas. Quer dizer, deliciosas não, eu não tinha comido ainda, mas imaginava, castanha do Chile. Peguei e comi a castanha na segunda, terça, quarta, quinta, sexta. Eu, por toda a sinceridade, pensava que era de graça, que era a Petrobras que estava pagando aquilo tudo. Quando chegou na sexta-feira, eu tinha parente em São Paulo pensei “bem, como a gente pode viajar até domingo - eu tinha que estar em Salvador na segunda-feira para trabalhar - vou para a casa dos parentes e domingo eu viajo”. Aí, umas 6 horas da tarde, me arrumei, preparei tudo, desci do quarto, fui para a portaria e a recepcionista me chamou: “Ei, meu senhor” “Eu?” “É, meu senhor”.
“Pois não”. “Olha, a sua conta aqui”. “Eu, conta?” “É meu senhor, o senhor consumiu isso, isso, e isso. Castanha”. “Mas não é de graça?” “Não, não meu senhor. Isso, isso e isso”.
Apresentou a conta, foi um horror. Eu virei: “Mas meu Deus, isso não é de graça não? A gente tem que pagar?” Fiquei tão assustado, que ainda liguei para a gerência, em Salvador, perguntando. Disseram: “Você tem que pagar. Não é a gente que paga, porque já vai junto com a diária isso e aquilo”. Graças a Deus, eu tinha o bendito cartão de crédito, paguei via cartão. Na hora que eu ia descendo, passando na portaria, o pessoal que foi comigo estava presente. Foi um horror. Quando chegou aqui na segunda-feira de manhã, meu Deus, a galera toda já sabia: “É free go bar, free go bar”. Mas não pegou, o apelido não pegou. Às vezes o pessoal falava e eu dizia: “Não, é mentira. Isso é mentira. É brincadeira dele, é mentira”. Depois eu disse: “Olha, sabe de uma? Isso é besteira, é brincadeira”.
Aí, até eu mesmo, dou risada sozinho.Recolher