IDENTIFICAÇÃO Meu nome todo é Geraldo Leal. Nasci na cidade de Alagoinhas, em 10 de janeiro de 1926. INGRESSO NA PETROBRAS Entrei na Petrobras em 1954. Eu trabalhava em Usinas de Açúcar, mas lá a coisa não estava muito boa e decidi me aventurar. Nesse tempo não era Petrobras ain...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome todo é Geraldo Leal. Nasci na cidade de Alagoinhas, em 10 de janeiro de 1926.
INGRESSO NA PETROBRAS Entrei na Petrobras em 1954. Eu trabalhava em Usinas de Açúcar, mas lá a coisa não estava muito boa e decidi me aventurar. Nesse tempo não era Petrobras ainda, era Refinaria de Mataripe e o Campo era Conselho Nacional de Petróleo. Então, primeiro fui para a refinaria. Em 15
de julho de 1954, cheguei mais ou menos 1h da tarde e às 4h30 já estava empregado. Eu era motorista de caminhão. Fiz os testes e passei. Na mesma hora, recebi uma caçamba: “Você agora, às 4h30, vai começar. Acompanhe esse capataz” E eu perguntei: “Até que horas?” Aí ele disse: “Ah, isso aí o capataz é quem vai lhe dizer”. Resultado: trabalhamos nesse dia até 2h30 da manhã, carregando areia de um lugar que chamava Querente, para poder fazer a Represa de Mataripe, que hoje chama Represa da Coréia.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Trabalhei muito de motorista, depois fui trabalhar de turno, de plantão dentro da C-1. Naquele tempo não tinha muito carro e se houvesse qualquer problema naquele horário, de noite, tinha que ficar um carro daquele de plantão. Se houvesse qualquer coisa, algum acidente, tinha um carro ali para pegar e levar para o posto médico. Trabalhei muito de plantão na C-1, depois trabalhei de turno.
RELAÇÕES DE TRABALHO Eu me lembro muito pouca coisa, assim, para contar detalhes por detalhes, porque eu nunca esperava que fosse acontecer uma entrevista dessa. Se a gente pensasse antes, a gente colhia aquilo e ficava guardado para falar. Mas algumas coisas, por exemplo... eu trabalhava de motorista e tinha um controlador. A refinaria tinha a Casa de Controle, as torres, tinha as unidades da Catipoli. Então tinha um controlador que chamava Aldo. Só me lembro o primeiro nome: Aldo.
Toda noite, eu ali encostando dando plantão, ele disse: “Rapaz, você devia trabalhar era aqui no Processo” Eu: “Mas eu sou motorista, rapaz” Ele disse: “Não, eu vou falar com o doutor Rolf”. Era o engenheiro chefe da produção. Se não me engano, parece que ele era alemão. Aí falou, e então o chefe autorizou, me deu as apostilas para eu estudar. Eu sempre estudando, mas a minha profissão era motorista, para mudar assim... Quando eu já estava bem, quase me entrosando na coisa para fazer o teste, surgiu um incêndio, teve um incêndio na casa de bombas. Ah, eu caí fora Entreguei as apostilas e disse: “Meu amigo, não, negativo. Vou ficar mesmo lá no transporte, porque eu estou fora do fogo” São essas coisas que eu me lembro.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Entrei em 1954, quando foi em 1957, começava a ampliação de novas unidades na Refinaria de Mataripe. Aí saí, pedi demissão e fui para a região fazer teste na produção. Passei e fui trabalhar na região, porque eu gostava mais de ficar viajando e lá, na refinaria, era só viajando de Candeias para a refinaria, da refinaria a Candeias, e aqueles trabalhozinhos. Eu gostava muito de aventura, de viajar.
Na região a gente viajava entre campos: Boracica, Catu. Então eu gostava mais de trabalhar lá. Trabalhei até 1960.
O chefe de campo era o engenheiro Borborema, fulano de tal Borborema, não me lembro o nome todo. Aí surgiu esse incêndio em Mapele, estavam furando, não deu petróleo, deu gás e deu esse incêndio. Então se criou o Campo de Mapele, para providenciar, apagar o fogo. um campo para produzir lama, essas coisas.
O engenheiro que trabalhava lá, o chefe de Campo, foi ao Campo de Candeias e disse: “Borborema, eu quero um encarregado de transporte para lá, uma pessoa para mandar no transporte, porque está uma bagunça. O motorista não sabe o que vai fazer, não tem uma pessoa para comandar”. Eu era motorista de caçamba nesse tempo, era caçambeiro lá da região. Aí ele chamou o meu encarregado e disse: “Tire aquele rapaz daquela caçamba e traga ele aqui no escritório” Cheguei no escritório e pensei: “Puxa, será que é a minha demissão? Chamado assim para falar com o chefão... ele disse: “Olha, meu filho, a partir de hoje você quer ser encarregado de transporte?”
“É para fazer, eu faço o que for. Estou pronto para qualquer coisa aqui dentro da Petrobras. Vim aqui para trabalhar” “Então, a partir de hoje, você é encarregado de transporte. Acompanhe doutor Paulo”. Aí fui para Mapele, trabalhar naquele campo.
ACIDENTE - INCÊNDIO DE MAPELE/BA Começou em 1960 e apagou em 1961. Não sei se levou um ano, ou se levou oito meses, não tenho lembrança o mês que iniciou e o mês que terminou. Demorou por que era gás. Vinha fogo lá de baixo, aquilo foi derretendo a tubulação, foi aumentando a cratera e aquele incêndio foi ficando maior, ficando mais largo. Era uma coisa horrível. Aquilo estava lá queimando a vontade, sem controle nenhum.
Cheguei a participar também da construção de um túnel, porque o poço era num morro e tinha aquela rampa, o terreno. Então embaixo, assim, a uma distância de uns 100 metros mais ou menos, se começou a fazer um túnel para achar a tubulação do revestimento do poço. É um tubo grosso de dez ou doze polegadas, que chamam revestimento.
Então eles alcançaram esse revestimento pelo túnel para apagar por ali, para furar e injetar, fazer lá uma operação na sonda, que eu não entendo. Uma operação ali que injetava lama no furo do revestimento, aí eliminava o fogo. Mas quando
se
descobriu o revestimento, o gás, eu não sei por quê, aquilo descia, aquele liquido era fluido. Aquilo estava descendo, escorrendo, parecendo água, mas era fluido. Então, não fizeram nada para apagar o fogo por ali porque, se fossem furar o revestimento, podia incendiar e morrer o povo que estava ali dentro do túnel. Quer dizer, foi isso que eu ouvi na época. Eu não ia lá dentro do túnel. Eu ficava fora comandando aquele pessoal que trabalhava, aqueles braçais, para carregar tubo para aqui, madeira para ali. Eu era do transporte, lá eu trabalhava em serviço de transporte e serviço de estrada, serviços gerais, comandava o transporte e o serviço de estrada.
APOSENTADORIA Trabalhei até dezembro de 1984. Pedi para sair em outubro e quando o processo terminou já era dezembro. Eu saí em 1984 e me aposentei.
IMAGENS DA PETROBRAS Tenho orgulho de ter trabalhado na Petrobras, orgulho de ver essa empresa um luxo e a potência que é. Naquele tempo não tinha cadeira acolchoada, a gente não tinha um auditório desse para conversar, a casa de transporte era de madeira, a oficina, os almoxarifados feitos de madeira, aqueles galpões de madeira. Depois foi evoluindo, evoluindo, ficou um luxo a Petrobras. Os alojamentos todos, de construção moderna, refeitórios, escritórios. Quando eu cheguei tudo era madeira, tudo era feito de compensado. Praticamente a Petrobras nasceu na minha mão, porque quando eu cheguei era Conselho Nacional de Petróleo. Não me lembro a data quando passou para Petrobras, foi 1954, já perto do fim do ano. Deve ser em setembro, outubro, que passou a Petrobras. Nesse tempo o presidente da República era Getúlio Vargas. Logo que ele morreu passou para Petrobras, aí a coisa veio melhorando. Naquele tempo não tinha muito carro, fazia tudo no braço,
os braçais, era carregando tubo nas costas.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu mesmo trabalhei em um porto que chamava Porto de São Paulinho, com um carro que vocês não entendem: Pau de Carga. Era um caminhão que ia sobre dois tubos, em cima bota uma Catarina, vai um cabo, que é justamente aquele cabo para servir de guindaste. Tem uma torre fazendo sair de cima do carro dois tubos, une assim, aqui botava uma Catarina e passava o cabo de aço para aquilo descer, para descarregar os tubos que vinham para petrovia de saveiro. A gente descarregava aquele saveiro para botar aqueles tubos, tubos de produção, de perfuração, tudo vinha em saveiro no início.
A gente andava no meio da lama, não tinha asfalto. No inverno, por exemplo, eu, o motorista, a gente ia levar um tambor de óleo para uma bomba de água que tinha que ser abastecida com diesel. Quando a gente chegava perto, como que o carro ia? Atolava, não tinha estrada. Mas o óleo tinha que chegar na bomba. O que a gente fazia? Jogava aqueles tonéis no chão, os ajudantes, eu como motorista, dois ajudantes: “Vamos rolar” Aqueles tonéis de 200 litros quando chegava no local onde estava localizada a bomba d’água, o tonel estava dessa grossura de lama. E tudo isso para essa Petrobras nascer assim. Foi na raça. Tenho orgulho de dizer que a Petrobras foi feita pelos meus braços e os colegas daquela época.
EMPRESA Quando a gente chegou, a gente comia no campo, numa panela. Às vezes a gente está trabalhando numa base, preparando uma base para furar, aí chegava o carro: “Chegou o carro da comida e tal” Naquela época não levavam pratos, nem talheres, nem nada. A gente tirava o capacete, lavava o capacete e botava a comida ali, comia de mão mesmo, não tinha talher, não tinha nada. Depois a coisa foi
evoluindo, ia naquelas quentinhas, com talheres de plástico, já tinha refeitório bem montado, comia na bandeja. Depois, nos refeitórios técnicos os garçons serviam. Tudo isso foi uma evolução, porque quando eu cheguei não tinha. E as máquinas que foram aparecendo Como os guindastes, os carros-guincho... Daí foi se comprando, foi aparecendo. Eu mesmo fiz parte de uma equipe, fui para o Rio de Janeiro para transportar carro novo do Rio para Jequitaia, para distribuir. Não sei se antes foi alguém, mas,
acho que a primeira turma foi quando eu fui. Tenho essa foto aí, eu tirei lá no Pão de Açúcar, foi a primeira vez que fui ao Rio. E a Petrobras também não tinha transporte para o povo trabalhar naquela época. O povo vinha de trem, dormia em alojamento e ia para casa no dia que folgava, quando tinha condições de ter folga. Depois surgiu a estrada, fizeram as estradas. Aí fizeram aqueles caminhões de carroceria longa, coberto de lona, para transportar o povo. Vinha pegar mais em Salvador. Depois chegou o asfalto, a BR 324, a estrada para Santo Amaro da Purificação, estrada para Feira. A empresa botou ônibus, progrediu, saiu de carroceria de caminhão para ônibus.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu mesmo trabalhei aqui em Jequitaia de 1980 a 1984, aí passei de motorista para encarregado, quer dizer, fui classificado contramestre em Movimentação de Carga. O chefe da Ditran me trouxe de Catu para Jequitaia, para fazer roteiros, trabalhar fazendo roteiros para apanhar os funcionários em Feira de Santana, em Alagoinhas, Santo Amaro da Purificação, aqui dentro de Salvador. Aí foi o progresso.
RELAÇÕES DE TRABALHO A convivência era muito boa, todo mundo se entendia, não tinha briga. Você via um alojamento daquele, com mais de 40 funcionários, gente ali dormindo, e não tinha briga, não tinha nada. Agora, tinha muita brincadeira. Quando eu iniciei na refinaria, fui dormir num alojamento que, para a gente sair da refinaria para o alojamento, tinha que ir dentro da lama. Tirava as botas para ir andando, quando chegava no alojamento, ia ao banheiro, tomava banho, se ajeitava. Às vezes a gente fazia hora extra e ia dormir, assim, 11h, meia-noite, trabalhava o dia todo. Então, tinha um colega que era carpinteiro, chamava Valdemar. Ele fez um tamanco de madeira de uma tábua de ipê, um tamancão dessa altura. A gente pegava 7h30, às vezes a gente chegava 11h, meia-noite, cansado, ia dormir, queria dormir até mais ou menos umas 6h, 6h30. Que nada Quando era cinco horas da manhã, ele acordava - no alojamento era cama de um lado, cama do outro e aquele corredor compridão no meio - e ele chegava lá, calçava o tamanco e: “Praá-praá, acordem” Mas ninguém brigava. Aí o povo: “Mas rapaz, deixa dormir” “Mas dormir o quê, rapaz O serviço está esperando lá em baixo. Vamos embora, acorda todo mundo” Nunca ouvi dizer que tivesse briga dentro de um alojamento daquele. Nos refeitórios nunca houve briga. E era gente, muita gente.
SINDICATO Sempre fui associado do sindicato. Agora, fazer parte da diretoria, nunca quis. Houve muita greve, muita greve mesmo. Eu mesmo participei. Teve na região, teve na refinaria. As maiores eram da refinaria. Naquele tempo tinha um cidadão chamado Mário Lima, que era o chefe do sindicato. Tinha muita greve, mas terminava tudo em paz. Quando chegou a ditadura, acabou-se o sindicato, aquela coisa toda, mas eu não vi incidente de maior repercussão, de ter morte, nada disso.
Na empresa, nunca vi ninguém brigar. Trabalhava muita gente, mas todo mundo era cordeiro, todo mundo acompanhava o ritmo do seu setor e ninguém brigava. Podia ter uma discussãozinha, mas de chegar mesmo às vias de fato, eu nunca vi.
O movimento sindical sempre foi atuante, porque naquela época a gente só tinha alguns direitos, alguma coisa a gente tinha direito de ter, e o sindicato é quem puxava, quem discutia o assunto. Muitas coisas a gente teve direito através do sindicato. Outras não, outras eram dadas mesmo pela empresa.
Quando veio mesmo a ditadura, aquele que foi o primeiro...o Castelo Branco, o homem que botou...
não me lembro o nome do presidente da Petrobras, que minha memória não está muito boa, mas, foi o maior aumento que a gente teve na época. Foi com esse presidente que entrou na ditadura, deu logo, parece, 54% à gente. Quer dizer, coisas que às vezes eram ruins para uns, outros achavam bom. Eu mesmo nunca achei nada ruim na empresa, porque essa empresa eu adoro, Petrobras. Foi a empresa onde eu me casei, criei minha família.
CASAMENTO Eu conheci a minha esposa na Usina. Quando eu vim trabalhar na Petrobras, eu era noivo dela. Ela trabalhava numa usina, Usina Santa Olivia, da Empresa Magalhães. E eu vim trabalhar na Petrobras, casei-me na Petrobras, constituí família, quatro filhos, criei muitos sobrinhos. Foi o lugar onde eu ganhei dinheiro, graças a Deus. Hoje eu estou aposentado, não sou rico, mas não sou tão ruim assim.
ENTREVISTA Eu acho isso uma maravilha. A refinaria de Mataripe já tem, eu tenho até um álbum que uma pessoa da refinaria me deu. Eu disse assim: “Puxa, saiu da refinaria, não saiu da região”. Mas depois, minha filha, essa que trabalha aqui, disse: “Não pai, vai ter da região e o senhor vai fazer parte. Vou inscrever o senhor lá” É da Petrobras inteira. Esse faz parte das refinarias, das regiões de produção, de tudo. Eu já vi gente da refinaria de Aracajú. É ótimo.Recolher