IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Sônia Maria Zuchelli Gomes da Silva, nasci na cidade do Rio de Janeiro, em Bangu, a 18 de maio de 1947. INGRESSO NA PETROBRAS Entrei na Petrobras em 21 de novembro de 1977. Era professora há 12 anos, não tinha vontade de fazer nenhum curso superior, até q...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Sônia Maria Zuchelli Gomes da Silva, nasci na cidade do Rio de Janeiro, em Bangu, a 18 de maio de 1947.
INGRESSO NA PETROBRAS Entrei na Petrobras em 21 de novembro de 1977. Era professora há 12 anos, não tinha vontade de fazer nenhum curso superior, até que resolvi fazer Comunicação. Quando eu estava terminando o curso, vi no jornal um anúncio para um concurso, nem sabia que era para a Petrobras. Quando comecei a estudar Comunicação, o meu sonho era trabalhar na Petrobras. Fiz a inscrição e recebi um telegrama, foi quando vi que o concurso era para a Petrobras.
O concurso foi no próprio Edise, estava cheio de professores meus para fazer a prova. Eu estava já saindo, quando chegou um colega, para quem eu disse: "Eu não vou fazer essa prova não, vou-me embora". Ele me respondeu: "Não, você vai fazer, porque está bem preparada". Eu disse: "Não, vou-me embora". Ele: "Se você for embora, eu vou também." Aí eu fiz a prova e passei. Quando comecei a estudar comunicação, comecei a conhecer a parte de Comunicação da Petrobras. Comecei a trabalhar em uma Assessoria de Comunicação, onde fizemos vários trabalhos, inclusive algumas crônicas para a Petrobras. Depois, eu fiz um concurso para a Móbil Oil, e passei. Fiz um concurso para a Marinha, para chefiar dois setores de comunicação, passei também. Fiz outro concurso para a Companhia Estadual do Gás, para ser assessora na área de comunicação, aí passei. Passei também para a De Millus, para ser assessora do presidente e montar a área de comunicação. Foi quando larguei os concursos todos e falei: "Ah, eu não tenho coragem de deixar as crianças da escola". O seu Nahum Manela, então presidente da De Millus, me falou: "Você pode dar a sua aula, você chega aqui a hora que quiser e termina seu expediente sempre às seis horas." Aí eu chegava à uma hora e meia e saía às seis; comecei a montar a área de comunicação da De Millus.
Nisso, veio o resultado da Petrobras. Avisei ao Nahum Manela que, provavelmente, eu iria sair. Ele me disse: "Não, você vai gostar daqui, não vai sair". Quando veio o chamado da Petrobras eu falei: "Seu Nahum, eu só tenho 30 dias. Eu preciso tomar uma decisão". Ele fez um desfile lá em homenagem a mim e falou: "Lá, você vai ser um número, heim? Você não vai ser uma pessoa. Aqui você é a Sônia, lá você não vai ser". Eu falei: "Não, eu vou ser a Sônia sim. Em qualquer lugar que se vá, a gente é a gente". Fui e ele continuou sempre meu amigo, me deu vários trabalhos depois. E eu comecei lá na área de Comunicação da Petrobras.
EDUCAÇÃO / FORMAÇÃO Sou formada em Comunicação Social. Como meu curso não tinha divisão, depois fiz especialização em jornalismo e relações públicas.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Quando entrei, existia o Serpub, Serviço de Relações Públicas. Eu fui trabalhar, primeiro, na área de Impressos. Trabalhei na Revista Petrobras e na Revista Gente. Fiz vários relatórios anuais da Petrobras. Produzi a revista e a editei. Editei relatórios também. Depois passei para o setor de Relações Internas. Trabalhei lá durante um tempo, até que me chamaram para chefiar o setor de Relações com os Empregados.
COTIDIANO DE TRABALHO Eu fazia a parte de redação de matérias. Depois o pessoal começou a viajar muito, mas eu sempre fui muito agarrada com a minha família, então sempre preferia fazer a parte de pesquisa. Como eu tinha curso de pesquisa também, eu fiz vários questionários. Eu elaborava os questionários e aplicava. Era um negócio mais rudimentar, hoje a Petrobras contrata e tal, mas na minha época eu elaborava o questionário. Aí havia um grupo que ia e fazia a aplicação de campo. Depois eu tabulava tudo e fazia os gráficos, as tabelas. Ainda fazia análise das pesquisas para a revista. Então, era uma época em que o trabalho era meio braçal. Eu fazia também a parte de revisão da revista. Depois, a chefe do setor me colocou para substituí-la. Comecei a editar vários números da Revista Petrobras e trabalhei também na Revista Gente. A Revista Gente foi meio pingue-pongue; ia e voltava, mas trabalhei também nela. Teve uma época que foi feito o Jornal Petrobras. Teve também um Jornal Elo. Eu trabalhei nessa parte toda. No Setor de Relações com os Empregados, comecei fazendo atendimento aos empregados em geral. Pediram-me para estruturar um meio de comunicação interna. Foi quando sugeri a criação dos quadros de aviso. Foram feitos os quadros de aviso. Eu criei um layout para eles. Colocávamos representantes em diferentes andares.
Depois, eu continuei fazendo a Revista Gente, embora estivesse no outro setor. Eu gostava muito e gostavam do meu trabalho, eu criei uma seção na Revista que se chamava Clube dos Corujas com fotos de filhos, netos, familiares de empregados. Eu fazia alguns textos, pequenininhos, sobre essas fotos. Tentaram acabar várias vezes com essa seção, tiravam e daqui a pouco vinha uma enxurrada de cartas pedindo para voltar com o Clube dos Corujas.
EM BUSCA DO PETRÓLEO Eu fazia também os eventos internos, ajudava na criação. Criei também um jogo que, depois, quando eu já estava chefiando o setor, passei sua patente para a Petrobras, passei os direitos e as informações todas. A Petrobras encaminhou para o INPI [Instituto Nacional de Propriedade Industrial] e tirou a patente. Até me mandou a cópia e tal, com uma carta de agradecimento da Presidência, porque esse jogo foi feito e distribuído para o Brasil todo. O jogo se chamava Em Busca do Petróleo. Era um jogo que mostrava as diferentes fases, desde a pesquisa, a extração e produção do petróleo até as etapas de refino. Era um joguinho bem infantil. Acho que eu ainda estava me desprendendo um pouco desse meu lado professora. Quando trabalhava no Clube dos Corujas, fazendo muito texto com criança e tudo, me veio a idéia de fazer esse joguinho. A gente começou de brincadeira no setor, dava para o pessoal jogar e o pessoal gostou. Quando eu apresentei para o chefe da Divisão, ele falou: "Ah, a gente podia fazer esse jogo, mas aí você teria que ceder os direitos para a Petrobras". Eu falei: "Está aí, já está na mão". Disseram: "Então organiza e elabora tudo direitinho." Eu elaborei como seria a caixa, como seria isso e aquilo, esse negócio todo. Entreguei o jogo prontinho para eles, que encaminharam para o INPI. Quando saiu a patente, eles me mandaram.
SERVIÇO DE RELAÇÕES PÚBLICAS Eu lembro que havia uma Divisão de Recursos Audiovisuais, com um setor que cuidava da parte de slides, de filmes e fotos. Havia a Assessoria de Imprensa e a Divisão de Relações Internas, com uma parte para os Recursos Impressos – a revista, o jornal, os folhetos e os relatórios – e também um Setor de Relações Internas, que cuidava dos eventos. Havia ainda uma divisão de Relações Externas, no qual o Borges trabalhava, também com dois setores.
RELAÇÕES COM OS EMPREGADOS Quando eu já estava chefiando o Setor de Relações com os Empregados, houve um período de constantes mudanças de presidente da Petrobras. O presidente ficava pouco tempo e trocava. O meu setor era responsável por preparar as cerimônias de posse dos presidentes. Eu lembro de uma vez, em que eu me virei para o desenhista Fernando Araújo e lhe falei: "Fernando, eu quero que você faça uma transparência e coloque um monte de cabecinhas, dê um jeito de botar um cara com a faixa de presidente e todo mundo enfiando a camisa da Petrobras pela cabeça dele". Porque os presidentes entravam e saíam muito rápido. Eles não tinham tempo de conhecer bem a empresa. A gente vivia com a preocupação, como se dizia, de fazê-lo vestir a camisa da empresa. Havia muito essa preocupação com o empregado, para que ele gostasse da empresa em que estava trabalhando, respeitasse, procurasse ter qualidade no trabalho para que a empresa tivesse qualidade nos seus serviços. Isso era realmente uma preocupação muito grande. Duas fases foram muito importantes quando estava à frente do Setor de Relações com os Empregados [e, depois, o período na Fronape]. No setor de Relações com os Empregados, nós fizemos uma série de eventos. Alguns eu não sei se continuam. Eu acho que a colônia de férias existe até hoje; fui eu que a criei. Foi um negócio que me dá uma alegria muito grande, por ver que isso continua até hoje. Evoluiu, modificou em algumas coisas, mas está lá. Fico com muita pena que não tenha prosseguido com a Gincana Ecológica, um evento voltado para jovens. Também dava um resultado muito bonito, com tarefas voltadas exclusivamente para a ecologia, mostrando os projetos ecológicos da Petrobras, a preocupação ecológica. Com a moçada era uma alegria só. A Gincana Ecológica começava geralmente às duas horas da tarde e terminava às dez horas da noite, lá no auditório do Edise. Nós também fazíamos o Natal no Rio de Janeiro todo, no Rio Centro. Foram momentos muito importantes. Principalmente, porque eu tive a sorte de ter no meu setor um pessoal, uma equipe que trabalhava comigo. Dei a sorte de escolher não só excelentes empregados, mas grandes amigos. Eu tinha a Elaine, quem eu sempre colocava à frente das cerimônias na Presidência. Na época do presidente Mota Veiga – ele adorava fazer grandes almoços na empresa – eu tinha que selecionar, fazer a recepção das missões estrangeiras que vinham e eram muitas. Então, era a Elaine que via essa parte. Eu tinha a Penha, que era meu braço direito, sempre foi minha amiga; quando trocávamos de setor o pessoal dizia que já era carta marcada, porque íamos sempre juntinhas. A Penha era uma menina inteligente, brilhante, muito ativa. Tinha a Cristina que é minha paixão, é como se fosse minha filha, está até hoje na Petrobras; uma menina meiga, doce, dedicada e gentil, atende bem a todo mundo. Tinha o Machado que começou a fazer apresentações de som, depois, passou a reger o coral e continua lá regendo. A Fátima, hoje, está na Faculdade da Petrobras, ela gostava muito de desenho para criança e trabalhava muito nessa área. Tinha ainda o José Carlos Cidade, que continua lá, ele trabalhava mais na parte de impressos. Era um grupo muito especial, um grupo muito amigo, muito colado, que trabalhava muito. Eram só estes, mas a gente conseguia fazer tudo. Então era um grupo muito especial.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Quando eu saí do setor de Comunicação na sede, fui trabalhar com o Doutor Albano, na Fronape [Frota Nacional de Petroleiros]. Eu pensei que sofreria um choque muito grande por estar fora do Sercom, onde comecei e onde conhecia todo mundo. Fui para lá. Veja como existem pessoas especiais na vida da gente. Quando o Doutor Albano me chamou ele disse: "Eu quero que você vá chefiar a área de Comunicação da Fronape". Eu falei: "Doutor Albano, pelo o que eu saiba, tem um menino que está lá há anos; não quero ocupar o lugar que é dele". Aí ele disse: "Ele soube que eu falei com você. Por favor, trás a Sônia para cá". No Sercom, eu fazia contato com todos os Ascom do Brasil. Então, eu fui para lá por insistência dele, do próprio George, que ficou trabalhando comigo o tempo todo.
FRONAPE / PROJETOS SOCIAIS Quando eu cheguei lá, de ônibus – havia um ônibus que nos pegava em casa e nos levava para a Fronape – na portaria, havia uma criançada de rua que agarrava a nossa roupa, era uma coisa muito triste. Então, eu cheguei lá e fiz uma adaptação do Programa de Criança, comecei a pegar as crianças da rua e botar no Programa. Tinha mãe e pai que vinham e diziam: "Por favor, bota meu filho". Naquela região havia nove favelas, no Caju. O tráfico era um negócio violentíssimo, além de haver um problema de prostituição infantil muito sério. Às vezes, chegavam meninos de 21 e 22 anos querendo entrar no Programa, para não trabalhar no tráfico. Eu conheci a Irmã Maria, que andava por aqueles morros todos, e comecei a andar com ela por ali. Na época, queriam implantar o Rio-Cidade no Caju, mas não conseguiam de jeito nenhum, porque as comunidades lá bloqueavam. Pediram-me e eu fui nas comunidades e falei com o pessoal; tive que juntar as comunidades todas. E a Prefeitura começou o trabalho do Rio Cidade sem problema nenhum. Depois, tivemos outro problema: o pessoal que morava nos trilhos dos trens; conseguimos com a ajuda da Prefeitura, tirar o pessoal de lá.
Havia um grupo de artistas circenses. Nós reunimos o grupo e criamos um projeto com a ajuda do próprio pessoal da comunidade. Esse projeto, pelo o que eu sei, hoje é uma ONG, chama-se Arte no Circo. Havia alguns meninos maiorzinhos que não podiam ficar no Programa de Criança, mas que queriam fugir dos problemas que tinham, era muito problema de criança armada, uma coisa muito séria. Nós criamos o Projeto Crescer: as crianças aprendiam a fazer biscoito e trabalhos manuais com jornal, eles faziam cestinhas etc. Nessas feiras de [artesanatos], eu sempre conseguia um estandezinho para eles venderem e ganharem o dinheirinho deles. Depois, eu arranjei um garçom, o Roberto, que trabalhava nos eventos da Petrobras, ele prestava serviços. Eu vi que ele era muito habilidoso. Então, eu pedi se ele se incomodaria de, no tempo livre, dar aulas de garçom. Tivemos cinco meninos que se formaram como garçons e continuaram até hoje trabalhando: eram crianças de rua também.
HISTÓRIA / CAUSOS / LEMBRANÇAS Certo dia, fui a um enterro no Caju e quando eu estava saindo, veio um destes meninos de braços abertos; era um menino que tinha muita habilidade manual.
Outro dia, eu saí com meu marido e veio um menino gritando de braços abertos: "Tia, tia". Ele veio, chegou perto e me disse: "Não está se lembrando de mim?". Eu falei: "Ah, é o Marquinhos?". Ele disse: "Sou eu. Hoje em dia sou artesão". Este menino começou no Programa de Criança, fazendo massinha de modelagem. Como ele fazia figuras muito elaboradas, comprei argila, por ser melhor para ele trabalhar. Neste dia, ele me disse que suou e sofreu muito para conseguir sair da argila, mas que passou a trabalhar com pedra-sabão e, hoje, estava trabalhando com pedra, está tocando sua vida.
Então, os dois foram os momentos mais importantes na minha carreira. O período no Setor de Relações com os Empregados, principalmente, por causa do pessoal e dos trabalhos que desenvolvemos lá e esse período na Fronape, porque havia essa ligação com as crianças, de saber que estava fazendo alguma coisa por elas, foi uma coisa muito gostosa.
COMUNICAÇÃO SOCIAL A atividade de comunicação na Petrobras foi saindo de um aspecto quase artesanal e foi ficando mais empresarial, aprimorando a qualidade. Nós ficávamos muito dependentes de grupos muito pequenos. Podendo utilizar de mão-de-obra externa, terceirizando algumas coisas, obviamente a qualidade melhora. O empregado pode se voltar para atividades que precisam do seu conhecimento de empresa. Então, acho que [o uso de terceirizações], principalmente nesse sentido, foi muito bom, aprimorou a qualidade.
APOSENTADORIA Hoje, tenho uma empresa de eventos. Durante um período, fizemos festas, mas já nos afastamos disso, porque quando fazíamos festas, eu perdia muito o convívio com a família. Tenho três filhas maravilhosas, amigas. Tenho um marido especial que, quando eu estava na Petrobras, muita gente pensava que ele era empregado da Petrobras, porque estava sempre junto comigo, me ajudando.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Hoje, temos essa empresa, mas trabalhamos só com eventos empresariais. São clientes nossos: a Marinha, o TRT [Tribunal Regional do Trabalho], TER [Tribunal Regional Eleitoral], a Procuradoria Federal, o Ministério da Fazenda, a Interlig, o Carrefour, a Gerdau, a UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], o INPI [Instituto Nacional de Propriedade Industrial], o grupo Green Matt Global Tech, que são várias empresas na área de Informática. Já fizemos muita coisa para a Globo também. Quer dizer, é uma área grande, mas trabalhamos mais para empresas públicas, porque elas precisam que a empresa tenha o SICAF [Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores] e, para isso, é preciso estar com todos os pagamentos em dia. E como temos o SICAF, isso ajuda bastante. Com a minha empresa, durante dois anos, tive um contrato com a Petrobras. Depois que me aposentei continuei o trabalho na Frota por dois anos. Trabalhamos também com vários serviços nessa área de Comunicação, no lançamento do Gasoduto Bolívia-Brasil. Na época da implantação do SAP [Sistema de Gestão Empresarial], a também prestei um serviço para a Petrobras. Mas é mais esporádico. Hoje, o nosso maior cliente é mesmo a Marinha, onde vários almirantes fazem questão. Eu tenho um monte de cartas de elogios da Marinha e do Ministério da Fazenda também. Sempre que há posse no TER, chamam a gente. Então, temos uma série de clientes muito queridos, muito amigos mesmo.
MEMÓRIA PETROBRAS É um orgulho muito grande participar do Memória Petrobras, porque eu não esperava ser lembrada. Agradeço a vocês. Agradeço à empresa por mais esse momento importante na minha vida. E desejo sorte a todos vocês que são tão jovens. Muito sucesso. Façam sempre as coisas com coração, com amor, isso deixa uma alegria muito grande. Tudo de bom para vocês.Recolher