IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Lia Hermont Blower. Nasci no Rio de Janeiro, no dia 10 de fevereiro de 1953, um dia de carnaval. FAMÍLIA Meu pai se chama Bernard David Blower e minha mãe, Marylia Hermont Blower. Por parte de pai, o meu avô era inglês, Joseph Henry Swinburn Blower ...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Lia Hermont Blower. Nasci no Rio de Janeiro, no dia 10 de fevereiro de 1953, um dia de carnaval.
FAMÍLIA Meu pai se chama Bernard David Blower e minha mãe, Marylia Hermont Blower. Por parte de pai, o meu avô era inglês, Joseph Henry Swinburn Blower e Carmen Blower, minha avó era descendente de portugueses. Meus avós maternos, Antonio Hermont, que inclusive é o nome de uma rua em São João de Meriti, e Geni Hermont. Meu avô paterno era engenheiro elétrico. Ele trabalhou muito tempo na Light, foi da leva de ingleses que vieram para trabalhar na Light. Minha avó Carmem era dona de casa, mas era uma grande matriarca, juntava todos os sete filhos da família. Meu avô materno era mineiro, não sei direito o que ele fazia, acho que era comerciante. Eu sei que a história dele no Rio de Janeiro começou comprando uma fazenda que hoje é São João de Meriti. Ele casou com a minha avó quando ela ainda não tinha 18 anos, ela inclusive, mudou a identidade, a data de nascimento, para ficar um pouco mais velha para poder casar com ele. E ficou sendo dona de casa, cuidando dos cinco filhos.
Meu pai é militar da Marinha e a minha mãe é dona de casa. Tenho dois irmãos: o Alex, que é o do meio, e trabalha em obras, acompanhando, fazendo orçamentos, e o Marcos, que é Analista de Sistemas, trabalha na Marinha, não como oficial, mas como civil.
INFÂNCIA Até agora, estava vendo um projeto social de São João de Meriti e tinha uma grande diversão nossa. Quando éramos pequenos, no Dia de Finados, pegávamos um trem para São João de Meriti, para ver o túmulo de meu avô. A nossa infância toda foi em Niterói, morávamos em um morro localizado no Bairro de São Francisco, tínhamos o morro inteiro de quintal.
BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA Meus pais ficaram com medo se eu ia ser homem ou mulher Porque não havia meninas para brincar, então as minhas brincadeiras eram pique-esconde, corta-queijo, subir em árvore, mergulhar no poço, andar de cavalo, jogar bola, e depois fomos morar em Angra dos Reis, onde meu pai foi servir. Em Angra dos Reis, o mar era o nosso quintal. Da mesma forma, eu não tinha meninas para brincar, eu jogava bola. Foi uma grande infância.
FAMÍLIA Minha mãe cuidava de casa e o meu pai dava plantão. Às vezes, sábados e domingos, ele não estava, viajava. Minha mãe era mais presente. De manhã, íamos para a escola, tínhamos que andar quilômetros para chegar na escola, pelo menos uns dois quilômetros, com sol ou chuva, subindo e descendo morro. Almoçávamos, fazíamos os estudos e depois, o morro era nosso. Morei em Niterói até uns 17, 18 anos. Como militar, papai fora transferido para Angra dos Reis, depois nós voltamos para Niterói, onde vivemos em outro bairro, em Santa Rosa. Depois voltamos para São Francisco, nos Estados Unidos, onde passamos dois anos. Voltamos para outro bairro e depois fomos para Brasília e Rio de Janeiro.
RELIGIÃO O primeiro colégio em que estudei, era um colégio católico, das Irmãs Paulinas, Nossa Senhora da Assunção. As famílias, tanto por parte de pai como por parte de mãe, são muito católicas, então a minha educação foi católica. Não vou à missa, mas sou católica.
ENSINO FUNDAMENTAL Comecei a estudar bem cedo. Comecei no Jardim de Infância. A idade eu não sei, mas foi cedo.
INFÂNCIA Sou a irmã mais velha e, como tal, tinha que dar exemplo. Entretanto, sempre fomos bem livres e a natureza era a nossa grande brincadeira. Éramos nós que fazíamos nossos brinquedos.
EDUCAÇÃO A primeira escola em que estudei foi Nossa Senhora da Assunção, depois eu fui para Angra dos Reis e foram dois colégios. Posteriormente, voltei para o Centro Educacional de Niterói. Nos Estados Unidos, foram dois outros colégios. Passei de um para o outro, porque lá mudamos de colégio obrigatoriamente. Depois voltei para o Centro Educacional, depois fiz UNB e terminei na UFF.
ENSINO FUNDAMENTAL Duas escolas me marcaram de forma especial. Uma foi o Centro Educacional, por toda a educação que existia dentro do Centro Educacional de Niterói, era uma educação pioneira e inovadora para a época. A Dona Mirtes, que era Diretora na época, dizia que ela queria que os alunos dela saíssem de lá sem necessitarem de ler o pé da página, a nota, quer dizer, ter um conhecimento e uma cultura geral muito grande. Ela nos obrigava a ter responsabilidade. Não sei como está agora, não sei se ela mudou, mas tínhamos liberdade de pensar. Por isso, esse colégio me marcou muito. Ele dava oportunidade também de você fazer outras coisas, na sexta-feira podíamos fazer teatro, coral etc. Isso abria o seu leque de opções e de conhecer um pouco do que tem além do estudar.
ENSINO SUPERIOR A UNB também me marcou muito, em 1971, era um momento crítico na História do Brasil e num local que estava em ebulição, com todos os questionamentos políticos, questionamentos da ditadura. Comecei a ter contato do que é ser um ser político na UNB e isso me marcou muito. Na Universidade de Brasília, fiz o curso de Comunicação.
INFÂNCIA EM NITERÓI Niterói era uma cidade onde, basicamente, todos se conheciam. As famílias eram muito grandes, uma com sete filhos, outra com cinco, então bastava reunirem as famílias para ter uma grande festa. Tínhamos o hábito de estarmos reunidos, as duas famílias, na casa da minha avó. Íamos para a casa de uma ou para a casa de outra, vários primos e amigos, muitos amigos. Era uma grande festa, porque você sempre tinha gente da sua idade para estar brincando. O fato de morarmos em um morro já fazia com que praticássemos um esporte obrigatório, só o fato de termos que subi-lo. Minha mãe não sabe da metade do que fazíamos.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Na subida do morro, tinha o Clube Hípico de Niterói. Ouvimos o diretor do Clube dizer que ia ter que desmanchar uma casinha e nós desmanchamos a casa por conta própria. O vizinho começou a fazer quase que uma muralha no morro, chegou o caminhão, jogou a areia que caiu em cima de umas árvores. Pegávamos um triciclo que meu pai tinha dado para minha tia, que depois ficou para a gente, subíamos um pouquinho e vínhamos com o triciclo. Quando o triciclo chegava perto da areia, a gente virava, o triciclo batia, a gente pulava, agarrava um galho e caía lá embaixo. Então, eram coisas assim, de subir o morro atrás de pipa, ficar perdido, mas sempre tinha um cachorro atrás da gente, o Bandit que era o nosso guia. O Bandit era um cachorro inteligente, muito inteligente. Qualquer coisa, ele voltava para avisar. Ou então, se alguém se perdesse, ele levava de volta.
JUVENTUDE Para quem saiu de Angra dos Reis, vivia uma vida de moleca... Eu tinha uma vida de moleca, pegava carona na boléia do caminhão, era uma moleca. Quando eu cheguei de volta, com 13 anos de idade, as meninas já estavam mais mulherzinhas, então o que era esse mundo que estava entrando? Eu ainda pulava, ainda jogava, então, entrar nas festinhas não foi ruim, mas também não foi tão aceito de início por mim, era um pouco estranho. Meu pai e minha mãe sempre provocaram a conversa familiar. Não me preocupava com essas questões de moda. Gostava de conversar, lia muito. Fui “rata” Li desde o Inferno de Dante, que achei do meu tio, até a fotonovela. Eu queria era ler, tinha uma ânsia de ler muito grande. Li O Amante de Lady Chatterley, escondida na cama, no último quarto, pois tinha apenas 12 anos. Gostava de conversar sobre cinema, de ver teatrinho Troll, essas coisas. E com as pessoas não era essa a conversa. Mas você vai se adaptando. Depois, ninguém ia à minha casa, tinha que subir o morro, eu é que ia mais na festinha dos outros. Ouvíamos Beatles, Rolling Stones. Depois, quando voltei dos Estados Unidos, como sabia inglês, ajudava a traduzir, a tirar letra de música. Mas era a mesma coisa também, festa na casa dos amigos ou depois sair para bater papo. Niterói era uma grande cidade pequena, uma pequena grande cidade.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Sempre quis muito ser independente. Sempre achei que tinha que fazer a minha vida e não ficar dependendo de ninguém. Minha família me ajudou muito, a minha escolha não foi forçada, eu mesma escolhi. Custei muito a escolher, eu queria passar de Direito para Economia, Psicologia, até que cheguei no Jornalismo. E foi inclusive com a Dona Mirtes, que eu falei: “Dona Mirtes, achei o que eu quero.” Embora eu já tivesse escrito no Jornal do Colégio, eu não sabia direito o que queria. Aí, eu falei: “Dona Mirtes, eu já escolhi, vou fazer Propaganda ou Jornalismo.” Ela disse: “Agora você acertou.” Antes de ir para a faculdade, eu queria fazer tudo. Economia foi a primeira coisa, mas logo descartei porque odeio matemática, gostava de pensar a questão da economia. Depois Psicologia e Direito. Psicologia ainda gosto.
VIAGENS Quando fui para os Estados Unidos, tinha 14 para 15 anos. Fiz 15 anos lá. Fomos para Washington D.C., capital. Meu pai era chefe da Comissão Naval Brasileira, da parte de pessoal. Vivemos dois anos lá. Foi ótimo o período que passei lá, me integrei rápido. Era uma vida totalmente diferente. As amizades eram brasileiros, americanos, e também tinha as festas, boate. Com 14 anos, eu já ia para boate – minha filha não pode saber. Com 15 anos, achava que era chiquérrimo fumar, mas não fumava. As pessoas achavam que eu tinha 18 anos, depois fui falar com amigos e eles perguntaram: “Você não tinha 18 anos?” Respondia que não, que tinha apenas 14 ou 15 anos. Porque a pessoa mais nova do grupo tinha 21 anos e eu não queria ser a mascote. Mas foi muito bom, foi uma fase de crescimento também.
JUVENTUDE Nessa época, já tinha passado o susto das festas. Viajar, mudar é ruim porque você não cria aquele grupo de amizades. Eu vejo as pessoas dizendo: “o meu pessoal começou no primário e saiu no mesmo colégio”, então tem aquele grupo que se encontra. Eu não tenho esse grupo, porque não dá para ter. Tenho lembranças das pessoas, sei quem são as pessoas. Mas isso foi muito bom para saber que as pessoas são diferentes, e como conhecer e tratar dessa diversidade que existe, dessas diferentes culturas e diferentes modos de pessoas viverem e conviverem. Isso aí foi bom.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Sempre gostei muito de escrever, escrevia, fazia poesias. Tínhamos um grupo que gostava muito escrever, então fazíamos poesias, gostávamos de ler. E eu sou muito curiosa. Eu fazia o que queria, escrevia, era curiosa. Mas acho também que o Jornalismo não era o meu caminho mesmo. Trabalhei na Manchete, na Bloch e na Rádio JB, mas encontrei meu caminho na Petrobras.
ENSINO SUPERIOR Fiz vestibular primeiro para o CEUB – Centro Universitário de Brasília. No CEUB, fiz o primeiro semestre, fiz o vestibular para a UNB, passei e terminei o segundo semestre na UNB. Nessa ocasião, estava em Brasília por conta da transferência do meu pai. Primeiramente, entrei no CEUB. Nesse momento, comecei a ter contato com o que é cultura, o que é política e em um momento muito crítico. Na UNB, conheci pessoas que marcaram, foram pessoas que sumiram, um ou dois, você não sabia para aonde foram. Não me envolvi diretamente com o movimento estudantil. Acho que eu tinha muito mais essa questão de conhecer, de ouvir, de aprender e começar a ter uma posição política. Como falei, comecei a pensar em política, a saber o que é ter uma posição política na UNB. Na UNB, comecei a fazer Cinema, tudo que tem a ver com passar informações, com pessoas. Sai da UNB e fui para UFF – Universidade Federal Fluminense – e fiz fotografia. Completei o curso de Jornalismo na UFF. Porque meu pai foi transferido. Na época, tinha uma lei que dizia que, quando um funcionário público era transferido, os filhos teriam direitos de entrar na Universidade, como já havíamos feito vestibular. Então, eu vim, e terminei a faculdade na UFF. Foi totalmente diferente. A UNB era mais forte. A UNB era mais politizada. Os cursos também, tudo que tinha era muito mais pesado, eram mais informações e estudo. Na UFF, no segundo ou terceiro semestre, já estava trabalhando. Chegou um ponto que eu estudava com meus colegas de trabalho. Aprendi muito mais fazendo do que na própria faculdade. Não tive tempo para analisar o que não gostava na UNB, uma vez que estudei apenas um semestre. Tem uma questão que para mim foi muito importante, como crescimento e como pessoa. E da UFF foi um passo para eu conhecer o que era Jornalismo e para ter uma convivência no meio jornalístico. Lá também era uma grande festa. Porque, como falei, estudava com pessoas que trabalhavam comigo, ou meus professores eram meus amigos de trabalho.
PRIMEIRO TRABALHO Comecei a trabalhar com 18 anos na Sucesu – Sociedade dos usuários de computadores e equipamentos subsidiários – e era recepcionista. Eu queria pegar dinheiro, começar a trabalhar, como falei, sempre quis ser independente. Nos Estados Unidos, trabalhei como babá, porque queria ter o meu dinheiro, para começar a comprar as minhas coisas e não precisar pedir ao meu pai. Então, eu comecei a trabalhar como babá de criança e babá de velho também. Havia uma senhora que tinha medo de andar sozinha e eu ia ao médico com ela. Comecei a trabalhar na Sucesu para ter o meu dinheiro, para poder ir para o carnaval na Bahia. Comecei como recepcionista, depois o diretor ficou sabendo que eu fazia Jornalismo, e a gente começou a esboçar um trabalho com um jornal interno. Já tinha um jornal interno e eu comecei a ajudar e trabalhar. Mas aí veio a possibilidade de ir para a Bloch. Eu fiz o curso Bloch e comecei a trabalhar na Manchete.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL / REVISTA MANCHETE Comecei a trabalhar com meus professores na Bloch. O ambiente na Manchete era muito bom. Isso em 1973. A Manchete é um folclore, dá uma história à parte. Era bom, eu estava aprendendo fazendo, mas a Manchete tem os seus folclores, têm as suas figuras. Tinha o Adolpho Bloch, que era uma figura, o Jaquito, o Jack Kappeler, sobrinho dele, o Justino Martins, uma pessoa que eu conheci e tenho o maior apreço, que é o João Máximo, tem a Ângela Cunha, que hoje trabalha na Petrobras também. A Bloch foi um grande aprendizado. Trabalhei lá três anos e pouco.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Foi interessante essa história da Petrobras, porque também tinha o Porfírio que trabalhava. Ele escreveu uma peça infantil e começamos a trabalhar, a Ângela e eu, para fazer a produção da peça, A Farsa do Coelho Rei, e lembrei que um dos meus professores, o Vânio Coelho, era chefe de uma divisão na Petrobras. Fui procurar o Vânio para pedir patrocínio; isso é o cômico da vida Essa peça era do Porfírio, um empregado da Bloch, e um grupo de amigos foi ajudar na produção da peça. Eu e a Ângela Cunha também estávamos na peça, cada uma com suas funções da parte de produção. Isso envolvia patrocínio, desfile, uma série de coisas. Não me lembro o que a Ângela fez. Eu sei que fiquei responsável pela busca de patrocínio. Eu me lembrei do Vânio Coelho, que era chefe da divisão na Petrobras e fui procurá-lo para pedir patrocínio. Quando cheguei lá, ele disse: “Não sou eu, é outra pessoa, vou te indicar. Mas foi bom que você tivesse vindo aqui, porque a Petrobras vai abrir um concurso, e eu estou procurando alguns alunos, que eu queria que participassem desse concurso. Você era uma dessas pessoas, só que eu não estava conseguindo o seu endereço”. Realmente, a faculdade tinha o meu endereço de Niterói e eu já tinha mudado para o Rio. Aceitei participar. Na época, meu namorado, com quem me casei, tinha feito concurso para a Petrobras e tinha passado. Ele estava fazendo Canal, era um curso que antigamente tinha na Petrobras. Era um curso preparatório, você fazia uma prova, passava, ficava um período fazendo esse curso e depois você entrava. Ele era Analista de Sistemas. Eu falei: “Vou fazer, não custa nada”. Ainda não tinha terminado a faculdade, estava terminando naquele semestre. Perguntei a um professor meu, o Nilson Lage: “O que você acha, Nilson?” Ele disse: “Lia, faz porque se você passar, a Petrobras investe muito nos empregados. Você fica lá um ano, dois anos, aproveita todos os cursos que você tem para fazer, depois você sai com um ótimo currículo”. Eu falei: “Boa idéia.” Fiz, passei e fiquei 28 anos. Antes disso, a peça saiu, sem o patrocínio da Petrobras. Quem me atendeu foi o Bayard Motta Lagrotta. Não saiu nenhum apoio da Petrobras, mas a peça saiu.
INGRESSO NA PETROBRAS Só saí da Manchete quando passei no concurso da Petrobras. Levou um tempo enorme para saber se tinha passado ou não, porque alguém entrou com recurso. Aliás, tivemos o resultado que tínhamos passado, mas demorou muito porque uma pessoa, que não tinha passado e também era da UFF, entrou com recurso. Na época, foi realizado concurso para jornalista, publicitário e relações públicas, mas a prova abrangia as três coisas. Você fazia uma prova para as três coisas. Eles não marcavam nossa opção. Tinha que fazer uma peça publicitária, lembro até que usei aquele personagem do Chico Anísio, o Gastão. Você tinha que fazer um storyboard. Para relações públicas, eu não me lembro qual era e para jornalismo você tinha que escrever uma matéria. Entrei em setembro de 1976, acho que a prova foi em 1975. Tem uma coisa interessante. Meu pai tinha voltado para Brasília com minha mãe. Nós ficamos, porque já estávamos na faculdade. Fiz a prova, mas não avisei a eles que iria fazer. Na época, o Gerente de Comunicação era o General Barros Nunes e o Ministro da Marinha era o irmão dele, Adalberto de Barros Nunes. Fiz a prova, mas não sabia se tinha passado ou não. Certo dia, minha mãe me liga de Brasília dizendo: “Lia, você fez uma prova para a Petrobras?” Eu disse que sim. Ela disse que a sobrinha do Ministro entrou em casa dando parabéns porque eu tinha passado para a Petrobras, acho que até em segundo lugar. “Você não me falou nada”, disse minha mãe. Queria até marcar isso, porque muita gente acha que, como o meu pai era Almirante da Marinha e gostava muito de mim, sempre tem aquele que solta aquela piadinha que entrou de alguma forma. Fiz o concurso, passei e, como falei, meus pais nem sabiam. Só teve uma coisa que me marcou na entrada da Petrobras, quando nos chamaram para ir ao Serviço de Pessoal para fazer a inscrição, uma pessoa que me atendeu olhou pra mim e perguntou: “Você já é da Petrobras?” Eu disse que não, ela respondeu: “Então, minha filha, nem espera muito, porque só vão chamar quem já é da Petrobras.” Essa pessoa informou que pessoas que eram da Petrobras, da área de comunicação, também fizeram o concurso e passaram. Essas pessoas trabalhavam em cargos administrativos. O concurso foi para profissional de comunicação. Eles tinham feito faculdade, tinham se formado, mas estavam na Petrobras como administrativos e não como profissionais de nível superior, era nível médio. Para passar de médio para profissional, tinha que fazer a prova. Eles fizeram e passaram. Então, o que eu ouvi e uma amiga minha também ouviu é que eles iriam priorizar as pessoas que já trabalhavam na Petrobras, nós ficaríamos por último. Eles não davam a classificação. O que sabíamos era que os cinco ou sete primeiros colocados iriam ficar no Rio de Janeiro. Se não me engano, fiquei em segundo lugar. Não publicaram a classificação, fiquei sabendo pelo comentário de alguém. Por isso, não tenho certeza. Eu soube, não oficialmente, que o primeiro foi o Janir, que morreu há alguns meses, e o segundo lugar fui eu. Mas não tenho certeza. Não havia um comentário explícito sobre a minha entrada na Petrobras, era aquele joguinho.
FAMÍLIA Meu pai não foi aquele militar, primeiro porque ele achava que tinha ficar na caserna, não era um militar forte, não teve participação ativa. A gente conversava pouco, mas ele nunca influiu, nunca foi de dizer: “Não quero, não faça” No momento em que entrei na universidade, conversávamos muito pouco sobre o que estava acontecendo. Mesmo quando a gente conversava, se eu tinha a minha idéia e ele tinha a dele, a gente discutia, mas nada era imposto. Ele nunca dizia: “Você tem que ser.” Se discutíamos, falávamos que um não sabia de nada, mas ficava desse jeito, nunca foi uma coisa impositiva. A gente sempre teve diálogo.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu queria muito passar no concurso. E tem aquilo que o Nilson Lage falou: “Você vai entrar, vai fazer o seu currículo e sair.” Foi com essa expectativa que entrei. Se bem que eu não era tão nova. Quando entrei na Petrobras, a primeira matéria que fiz para a Revista Petrobras, a Revista Gente, da época, acho que ali é que ficou marcado. A primeira matéria que fiz, fui para fora, não fiquei no escritório, saí para conhecer uma unidade. Então, eu começava dizendo na matéria que a Petrobras não era aqueles escritórios frios com cadeiras altas, que a Petrobras estava fora. Acho que ali eu falei: “Aqui eu fico.” Hoje tenho essa consciência, acho que antes não. Ir para o campo me seduziu muito. Tenho paixão por esse trabalho. Assim que entrei, fui para a Divisão de Recursos Informativos e o chefe era o Vânio Coelho, que eu tinha procurado. Ele me chamou para trabalhar com ele. Foi interessante também porque uma entrevista fazia parte da seleção. Tinha quatro ou cinco pessoas me entrevistando, inclusive o Vânio. Na faculdade, nós discutimos um pouquinho, porque ele dava aula de legislação e ética e, às vezes, discutíamos um pouquinho algumas coisas. Tinha as quatro ou cinco pessoas me entrevistando e pediram para eu ler um texto em inglês. Foi o Vânio quem me deu esse texto. Era um texto do Times, que dizia que uma mulher tinha feito todos os esforços, tinha ido à Justiça, para entrar naquela Academia Americana que só tinha homens. Depois de um tempo, ela foi pega com um cadete tendo relações e foi expulsa. Acho que ele já fez de propósito. Ele me deu para ler, para ver se eu tinha inglês e para eu passar em inglês qual era a minha opinião. Acho que foi provocação. Respirei fundo e disse: “Se ela lutou tanto para entrar na Academia, ela sabia tudo o que aquela Academia significava e quais eram todos os deveres do cadete, se ela rompeu com esses deveres, ela fez errado.” Não era o que eu pensava, mas era o que eu tinha que dizer. Depois ele cutucou alguém, passou, foi combinar e perguntou o que eu achava do contrato de risco. Respirei fundo novamente e disse que não podia dar uma opinião porque o que eu conhecia do contato de risco era só aquilo que lia nos jornais. E que, primeiro, eu tinha que estar na Petrobras para conhecer o outro lado, para poder dar uma opinião exata sobre isso. Acho que foi alguém que me iluminou.
CONTRATO DE RISCO Na verdade, a Petrobras era a única que operava, que escolhia, que perfurava e o governo, numa abertura, nas primeiras aventuras, fez um contrato que o Presidente Geisel assinou – dizem que a contragosto –, em que outras operadoras poderiam entrar e operar no Brasil. Foi a primeira quebra desse monopólio. Houve uma polêmica muito grande porque já se falava da quebra do monopólio e o contrato de risco realmente era a primeira coisa para essa quebra do monopólio. Havia um debate muito grande sobre essa questão.
CASAMENTO Nessa época, já namorava meu marido. Entrei na Petrobras em setembro de 1976 e me casei em 1977. Ele também era da Petrobras. Ele se chama Eduardo Pereira da Silva Passos. Mas, depois de um tempo, ele saiu da Petrobras, acho que uns cinco anos depois.
COTIDIANO DE TRABALHO Comecei trabalhando na Revista Gente. Era uma divisão de recursos informativos, em que havia uma área de publicações, que tinha a Revista Gente, a Revista Petrobras e outras publicações, e uma outra área que era de recursos audiovisuais, toda a parte de cinema, documentários, parte de fotografias, parte de layout, essas coisas. Ele me pediu que ficasse nessa área da Revista Petrobras e da Revista Gente, mas que também ficasse fazendo uma coisa para a outra área. Então, eu fiquei mais na área em que a Déa Marques era a chefe. Fiquei nessa área, mas fazia também coisas para o outro setor. Uma pessoa me chamou para almoçar, meses depois que eu já estava lá, para dizer que isso não era bom, que eu tinha que decidir onde iria ficar. Primeiro, eu disse assim: “Não sou eu quem tem que decidir, quem tem que decidir é o meu chefe.” Não estava pegando bem, eu era uma pessoa nova e, sempre quando chegavam pessoas novas, os antigos nos achavam metidos. De repente, devíamos ser mesmo. Ainda mais, imagina, uma pessoa que fica de curinga Então, essa postura não pegava bem. Mas eu era muito metida e achei que ali era bom, porque ali eu estava conhecendo. Aquilo me chateou, mas não sei se teve resultados. Possivelmente, foi fofoca, mas me chateou muito. Depois, saí dessa área de publicações e fiquei em outra. Na época, não tinha uma agência de publicidade, então, eu e essa minha amiga, a Annie Descharter, entramos juntas, ela era formada em publicidade. Nós fizemos algumas peças publicitárias, uma até ganhou um prêmio e a outra foi criticada, e fazíamos documentários. Eu fiquei mais nessa área depois. Na época, se fazia para toda a Petrobras, era ali que centralizava. Então, inaugurações, documentários sobre a Petrobras como um todo, sobre determinados assuntos, a gente que fazia. Não sei dizer quanto tempo fiquei, mas foi um bom tempo. Outro dia me lembrei que precisava pegar o meu histórico.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Meu caminho sempre foi a Comunicação, circulei por todas as áreas. Trabalhei também na área de Relações Internacionais. Editava dois veículos, internos e externos, para o público interno e no exterior, recepcionava pessoas que vinham de fora também. Depois, voltei para um outro setor que era dessa parte, fui chefe por pouco tempo nesse setor de documentários,
não tinha nem nome. Foi uma fase em que um gerente estava reformulando toda a área de Comunicação e depois não foi aprovada. Aí eu voltei para o setor de Relações com os Empregados, onde se fazia toda a parte de projetos para os empregados, não era mais revista, era o Jornal Petrobras, fazia o Jornal Mural, fazia projetos para os empregados, a parte de campanhas.
COTIDIANO DE TRABALHO O setor era Divisão de Relações com os Empregados. Tinha dois setores. Havia um setor que fazia os projetos normais, por assim dizer, que eram gincanas, visita de empregados etc. E o outro que era de publicações. Então, todas as campanhas para empregados, como a campanha do “Poupe”, que era de economia de energia, fomos nós quem fizemos, o Jornal Mural, o Jornal Petrobras. Era nesse setor que eu trabalhava e substituí o chefe naquela época. Depois, fui para o setor de Relações com os Empregados, comecei a chefiar esse setor, que passou a ser um Setor de Relações com a Comunidade. Não tinha esse nome, mas era mais ou menos isso. A idéia era relacionar a Petrobras com o publico externo. A Petrobras teve uma preocupação muito grande com a comunidade onde trabalhava. Havia uma preocupação, mas não tinha nada estruturado. Então, nossa área foi criada para começar a estruturar uma preocupação da Petrobras junto a esse público externo, que eram os militares, acionistas. A gente começou a trabalhar nesse ponto. Tinha um chefe, o Antonio César Cabral, que foi uma pessoa que me ensinou muito, gosto muito dele, ainda temos uma amizade muito forte. O César, se vocês ainda não ouviram, devem ouvir, porque ele tem muito da história da Companhia. Se tivéssemos um problema em Macaé, tinha também uma pessoa que trabalhava, a Maria Benedicta, uma pessoa excepcional. Pensávamos num projeto e tocávamos o projeto para frente. Então, daí, você tem a Escola Planta e Colhe, que depois veio a se chamar Plantando o Futuro, tem Caravanas da Cultura, tem o Leia Brasil. Tinha programas de rádio também, em que você distribuía informações de utilidade pública sobre a Petrobras para uma série de rádios. Alguns programas eram regionais, outros eram nacionais. A maioria começava em âmbito regional e se transformava em nacional.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Nessa época, desenvolvemos o Programa de Criança. Quando entrei, ele já estava mais ou menos formado. Eu só fui acompanhando o Programa de Criança, a Caravana da Cultura. Trabalhei mais com o público interno. Tem a Orquestra Petrobras, que a gente acompanhava, era responsabilidade minha, e o Coral. Eu coordenava o Coral e a Orquestra Petrobras, como chefe. Era a Orquestra de Músicos da Petrobras, não era essa Orquestra Petrobras de agora. Tinha uma orquestra de empregados da Petrobras. Os dois setores que citei, depois, se uniram. Passei a ser responsável pela Orquestra de Empregados. Era só de empregados da Petrobras, depois foi esvaziando um pouco. Tinha uma parte de empregados da Petrobras e uma parte de contratados. Eles tocavam jazz, música popular, era uma orquestra mais popular. Eu fazia isso, o Coral também, que era com o Maestro Armando Prazeres, e a Corrida Rústica. Nós ficávamos com esses, que eram os mais marcados. A Corrida Rústica tinha nacional e regional. Em um determinado dia, tinha os empregados que corriam na Lagoa, por exemplo. Eles corriam, chamavam a família. Antes, a corrida era só para os empregados, depois a gente ampliou para a família. Começamos a trazer a família para a Corrida Rústica. E isso foi crescendo. Nos 50 anos, já foi um grande movimento. A gente começava também junto com o clube a fazer os jogos, tinha futebol. Comecei também, com o setor de Relações com os Empregados, a trabalhar com a área de Recursos Humanos a parceria entre essas duas áreas, não na criação, porque alguns clubes já existiam, mas na estruturação do Clube dos Empregados da Petrobras, junto com a Petrobras. Então, na época, era o Heitor Chagas de Oliveira, que hoje voltou a ser Gerente de Recursos Humanos. Na primeira vez, ele reuniu todos os presidentes de clube para conversar e ver como a Petrobras poderia estar trabalhando também com os clubes. Daí saíram as diretrizes, o estatuto, saiu uma série de coisas voltadas para os clubes.
PROJETOS SOCIAIS A Petrobras sempre fez investimentos, como falei, mas não havia uma forma estruturada. Posso dizer que, a partir de 1979, ela já começa a ter essa preocupação de estar fazendo de uma forma estruturada. Esses programas, em sua maioria, ou já existiam, ou alguém vinha e a gente tratava. Mas, na época, era muito mais a partir de uma necessidade da Petrobras ou dos empregados. No caso, pensávamos um projeto ou chamávamos alguém para pensar um projeto que viesse a resolver aquele problema e depois tocávamos. O Escola Planta e Colhe, que depois se tornou Plantando o futuro, era conduzido por nós, Bené, a Maria Benedicta, e umas outras pessoas. Depois o Leia Brasil, que tinha outro nome e se transformou em Leia Brasil. O Caravana da Cultura, já foi uma empresa que chamamos para conduzir, porque a gente não tinha condições. O Caravana da Cultura era como um grande circo mambembe, que ia para as praças públicas levando a cultura para essas partes onde não havia possibilidades, sempre com a marca Petrobras. Na hora se distribuía informações sobre a Petrobras e era um relacionamento, não só com a comunidade, mas com o poder público local também. Eram feitos shows. Era um circo mambembe, com shows, teatro. Era um caminhão grande que chegava e virava um palco, era uma caravana Holiday bem trabalhada. E o Leia Brasil era uma biblioteca ambulante. Era um caminhão também, onde ia a biblioteca com todo o material para as escolas. Lá faziam um clube, onde ensinavam também. O objetivo era trazer o prazer da leitura, criar o hábito de leitura. Então, se fazia capacitação com os professores, o caminhão passava, depois ele voltava. A biblioteca funcionava dentro do caminhão, portanto a comunidade escolar só tinha acesso ao acervo quando o caminhão passava. O aluno lia, escrevia, depois ele voltava, tinha uma seqüência. Fazendo um corte, o interessante é como a vida dá voltas. Por último, eu estava na área de Comunicação gerenciando a Gerência de Comunicação Nacional, onde estava a questão da política social da Companhia ambiental.
GERÊNCIA DE COMUNICAÇÃO NACIONAL Podemos perceber que, no mesmo caminho, a mesma pessoa que trabalhou na construção desses projetos, volta para estruturar realmente uma política social dentro da Companhia. Ao estruturar a política, são cenários e realidades políticas, não no sentido político, do partidário, mas política econômica e social totalmente diferente, era um outro cenário. E a Petrobras era uma outra, a comunidade tinha outra demanda. Uma das coisas que fiz na estruturação dessa política foi uma grande análise desses projetos que estavam sendo tocados pela eficiência e para saber se eles estavam atendendo os objetivos. Não estavam atendendo aos objetivos? Qual é o custo-benefício, tanto social quanto o investimento da Companhia em cima desses projetos? Porque eles foram construídos com um determinado objetivo, o processo evoluiu e será que eles continuaram acompanhando? Infelizmente, o Leia Brasil e o Caravana foram cortados. O Caravana foi totalmente cortado. Por volta do ano 2000, esses dois projetos foram cortados. O Leia Brasil ia ser reestruturado, mas por uma série de razões ele acabou nem sendo reestruturado. A idéia era reestruturar para manter o conceito, o objetivo principal, mas com o custo-benefício, tanto de investimento quanto social, não deu. A última política social que ajudei a desenhar ocorreu no ano de 2000.
COTIDIANO DE TRABALHO Ao longo desse caminho, quando saí do setor de Relações com os Empregados, setor de Relação com a Comunidade, passei a Assistente de Superintendente. Antes, eu passei até por um setor que era Setor de Projetos para Públicos Especiais. Ali nós tínhamos relacionamento com vários públicos da Companhia, acionistas, comunidade, militares. Então, esses projetos voltaram para ficar comigo. Isso antes do lado do desenho. Esses projetos voltaram para mim e depois houve uma separação novamente. Passou a existir o Setor de Projetos para Públicos Especiais e o Setor de Relação com a Comunidade. Esses projetos saem de onde estão sendo gerenciados e vão para uma outra área. Depois, eu volto a pegar esses projetos novamente. O interessante é isso, fui sendo envolvida.
PROJETOS SOCIAIS
Hoje esses projetos mudaram muito. Toda a política da Companhia está bem diferente, está muito mais voltada para a busca de uma mudança no tecido social, uma mudança social. Os projetos que existiram não existem mais, pela nova perspectiva da Companhia e do que a sociedade exige de uma companhia. No passado, a comunidade demandava, mas ela não estava estruturada e organizada para saber como estar demandando. Com a mudança da Constituição, o início da globalização, com a estruturação das primeiras leis ambientais, isso foi começando a mudar. A sociedade civil começou a saber como exigir e como trabalhar. E a Petrobras, assim como qualquer outra empresa, começou a sentir essa pressão que vinha de baixo para cima e ela precisava atender a essa demanda, que hoje está mais organizada. Antes, a Petrobras era uma pioneira, porque não era assim que as empresas trabalhavam. Quando tinha um problema na comunidade, passavam um dinheirinho para o prefeito, passavam um paninho e estava tudo bem. A Petrobras já tinha uma visão, as pessoas que trabalhavam lá, incluindo a mim, a Maria Benedicta do Nascimento, o César Cabral e outras pessoas, sabiam que era muito mais do que isso, você tinha que procurar um relacionamento mais forte com a comunidade. E qual é? O que a comunidade precisa? Leitura, educação? E de que forma podemos trabalhar para que ela tenha leitura, tenha educação? Na época, era aquele caminhão. Hoje você tem internet, podemos substituir um caminhão por um telecentro, mais rápido, mais eficaz e vamos atender a um número maior de pessoas. Na época, se formos pensar no conceito de atender e selecionar, o conceito era o mesmo. Hoje, a forma de atender é que é diferente. Muitos desses projetos surgiram em Macaé, porque a Companhia foi a Macaé, fez o que fez e depois viemos consertando aquilo que estava sendo feito. Hoje não, antes de ir, ela já pensa como vai chegar. Então, a Caravana da Cultura, o Leia Brasil, surgiram dessa necessidade da Companhia estar recuperando a imagem dela em cima de um trabalho comunitário, social. Hoje ela já se antecipa, tem uma política clara, o que eu chamava de um DNA. O componente social já está no DNA da Companhia, antes não. Antes, talvez fosse o trabalho da Comunicação ou de um ou outro. Hoje a Companhia já está mais consciente disso. Antes, ouvíamos a área de Engenharia. O serviço de Engenharia ligava dizendo que haviam entrado em uma determinada cidade, feito um monte de furos, e perguntavam se podíamos ir até lá fazer um trabalho. Hoje não, isso é bem diferente, os departamentos já entram com todo um trabalho.
EXPLORAÇÃO DE GÁS NA BOLÍVIA Ganhei a medalha do Instituto Rio Branco, do Governo Federal. Foi um agradecimento, uma homenagem ao trabalho que fizemos no Bolívia-Brasil – não somente eu, mas que outras pessoas também fizeram, como o Otomar Lopes Cardoso, principalmente. Nós começamos a trabalhar o Gasoduto Bolívia-Brasil, quando ainda era Gerente desse setor de Projetos para Públicos Especiais, antes mesmo de começarem as obras. A área de Engenharia já estava preocupada. Começamos a trabalhar, por volta de 1980, na chegada do Gasoduto Bolívia-Brasil antes mesmo da obra começar, uns dois, três anos antes. Como eu era Gerente, ficava mais na parte estratégica. Tínhamos reuniões, a Benedicta trabalhou também, mas era mais o
Otomar. Nos reuníamos, pensávamos uma estratégia e depois as pessoas iam operacionar essa estratégia. Uma das primeiras estratégias que implementamos foi a seguinte: como entraríamos primeiro no Mato Grosso do Sul, comecei a atravessar meio Brasil. No Mato Grosso do Sul, você vai atravessar o pantanal. Nós fomos lá conversar primeiro com as entidades, conheci as associações, conheci quem eram os líderes, todo um trabalho de conhecimento, de pesquisa. Fizemos um trabalho com o governo de um plano. Qual era o planejamento estratégico para o Mato Grosso do Sul? Onde estava o caminho econômico do Mato Grosso do Sul? Então, a gente já começa a fazer uma relação ali. Depois, tinha um projeto do Governo que era o Prodeem - Programa de Desenvolvimento Energético de Estados e Municípios – no qual levávamos energia solar para locais onde não ia chegar energia elétrica comum. Parte do Prodeem foi para o Nordeste e a outra parte foi para essa região do Mato Grosso do Sul, para as tribos indígenas, os assentamentos, para novamente fazer essa relação. E, nessa relação, estávamos fortificando as parcerias e também conhecendo o local para onde iríamos. Tem um fato que é interessante. O Otomar foi fazer uma reunião com os engenheiros que estariam construindo o Gasoduto Bolívia-Brasil e, na reunião, a pessoa que estava coordenando disse: “Bem, Fulaninho, por favor, eu queria que você apresentasse o plano de comunicação.” O Otomar levantou-se e disse: “Então vou me retirar, vou pedir para marcar uma outra reunião.” Eles o indagaram: “Por que você vai se retirar?” E o Otomar respondeu: “Porque eu não trouxe o plano de Engenharia. Se o Gerente de Engenharia vai trazer o plano de Comunicação, eu, que sou da Comunicação, também tenho o direito de trazer o plano de Engenharia.” Aí, eles caíram em si. Então, a gente começou a trabalhar juntos e isso valeu também para os engenheiros saberem da importância da Comunicação, que Comunicação não era imprensa e propaganda, como era visto. Aprenderam que Comunicação era muito mais. Começamos a fazer um trabalho. Para resumir, a gente tinha um programa nas rádios falando o que era o Gasoduto. No primeiro grande encontro, que foi realizado em Corumbá ou Campo Grande, com todos os empreiteiros, o que eles, os donos da obra, ouviram? Primeiro, o que era aquela obra, que não era apenas uma obra, o que ela
significava para o desenvolvimento econômico e social do país e o que significava para a Petrobras. Fizemos um trabalho de relacionamento, o que era o relacionamento com a comunidade, que ainda não tinha esse nome de Responsabilidade Social. E, por último, nós fizemos um trabalho de media training de imprensa. Exemplo do que o jornalista responsável por esse media training disse: “Aconteceu um acidente onde tiveram duas mortes. Como vocês vão fazer?” O empreiteiro disse: “Vou dizer para a imprensa que não posso falar nada porque a responsabilidade é da Petrobras.” “Engano seu”, disse o Jornalista. A responsabilidade é sua, não da Petrobras. Foi a primeira vez que eles perceberam que estava mudando. A Petrobras não podia assumir uma responsabilidade que não era dela, então ele tem que ser responsável sim, porque ele é que era o responsável pela obra e ele teria que responder por aquilo. A gente começou a fazer toda uma campanha. As comunidades receberam muito bem. Não tivemos problemas em todo o trajeto, tanto que o modelo adotado nesse Plano de Comunicação passou a ser um modelo de excelência pelo Banco Mundial e marcou bem a mudança na área de Engenharia e no posicionamento da Companhia. Para mim, foi uma vitória ter trabalhado nesse Projeto. Foi um trabalho de equipe e um trabalho muito bem feito.
IMAGEM DA PETROBRAS Eu acho que a Petrobras me deu condições de me encontrar profissionalmente. Acredito que se, tivesse continuado na Bloch, seria uma jornalista medíocre, desempregada e insatisfeita. Consegui me encontrar na Petrobras. Ela me deu a oportunidade de entender comunicação dessa forma ampla e trabalhar muito para o meu país. Não é demagogia. Sou resultado de uma mistura de raças, mas, acima de tudo, sou brasileira. E a Petrobras me deu essa chance. Eu conheci brasileiros simples como o Cristiano, o Seu Amado, da Maré, o Vovô do Ilê Ayê, da Bahia, o seu Amparo, no Recife. Pessoas incríveis e pessoas muito grandes. Pela Petrobras, pude conhecer e conviver muito com o Betinho, que pra mim foi um ídolo e ainda é, o Gilberto Gil também.
PROJETOS SOCIAIS / RESPONSABILIDADE SOCIAL Como eu falei, já tinha na cabeça essa coisa de trabalhar o social e que a minha Empresa trabalhasse o social, tivesse o que hoje chamamos de
responsabilidade social. Quando o Betinho começou a trabalhar na campanha de combate à fome, ele e o Luiz Pinguelli Rosa mandaram uma carta para todas as entidades públicas que dizia assim: “Estamos trabalhando com a sociedade civil. E as empresas públicas? Como é que elas podem estar trabalhando conosco?” Eles nos escreveram uma carta, convocando os presidentes para participar desse primeiro encontro, para pensar a questão da fome e da miséria em termos de estatais, de entidades públicas. Eu estava operada, estava na casa da minha mãe em Laranjeiras, de quarentena. Havia retirado o ovário esquerdo. O Rennó, Joel Mendes Rennó, que na época era o Presidente da Petrobras, chamou o Gerente de Comunicação, que era o Carlos Leonam. O Carlos Leonam e o Ricardo Vieira, que era outro Gerente, foram na minha casa, porque sabiam que eu gostava daquilo. Tinha uma planilha para preencher com projetos que a Petrobras fazia, conceitos, e o que você achava que tinha que fazer. Era uma coisa bem complexa. Como eu não podia ir a Petrobras, chamei um, chamei outro, montei o que eu achava que era correto dentro da Companhia e a gente começou a participar do Comitê. O Rennó foi. Nós montamos o primeiro grande encontro e, a partir daí, comecei a conviver bastante com o Betinho. Nós criamos o Coep - Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida -, o Oficina Social, que é o braço econômico do Coep, e isso foi me dando gás para estar pensando na estruturação do social e do ambiental dentro da Companhia. Isso ocorreu por volta de 1994. Tive a oportunidade de conhecer várias pessoas e aprender com elas.
GASODUTO BRASIL - BOLÍVIA Todo o processo de construção foi muito importante para a Companhia, para comunidade e para mim, até porque eu fui desde o início até o final. Mesmo saindo e voltando de Gerência dentro da Comunicação, eu consegui acompanhar toda a construção do Gasoduto. Mesmo quando saí desse setor, fui ser Assistente dos Superintendentes da área de Comunicação – eu não era Assistente para Projetos Especiais – então, o Bolívia-Brasil continuou comigo em algumas coisas. Foi bom porque eu pude terminar. Coordenei a cerimônia de inauguração do Bolívia-Brasil, que foi uma loucura, porque era no meio do nada, em Corumbá, na fronteira com o povo boliviano que não tinha absolutamente nada. Não existe ordem para eles e com um bando de engenheiros que não entendiam porque tinha que fazer aqui, igual ele fez ali. Tinha um engenheiro que, quando eu chegava, ele já ficava com o olho vermelho e dizia que preferia construir 10 gasodutos a fazer aquela cerimônia Conheci uma outra pessoa também na área de eventos e de pensar – porque não é só fazer um evento, você tem que ter condições de pensar rápido e decidir rápido, ter jogo de cintura – que foi o Embaixador Frederico do Itamaraty, na época, era o chefe cerimonial do Itamaraty. Aprendi muito com ele e com as pessoas que trabalhavam com ele. Esse engenheiro não sabe o quanto me ajudou, agora não lembro o nome dele, mas gostaria de lembrar. Porque, cada vez que ele me via, seus olhos ficavam que nem de papagaio quando vê o inimigo, ficavam vermelhos, ele não entendia. E, na verdade, quando a gente acabou, nós estávamos com um evento para 400 ou 500 pessoas, no meio do nada, com luz, telefone e água. A pessoa que trabalhou, a Teresa Zahran, que é responsável pela Certame, a empresa que nos ajudou, é uma pessoa humana, incrível. Em uma semana, eu perdi quatro quilos, quase não comi, fora uma disfunção que eu tive brava, acho que de nervoso, de ansiedade, eu passei acho que 24 horas. Chegou a ponto do Embaixador boliviano dizer assim: “Não vai ter a cerimônia porque onde é a fronteira?” O
Presidente Hugo Banzer não podia sair da Bolívia sem a autorização do Congresso. Ele tinha saído antes, ido para o México sem autorização e o Presidente mexicano não o recebeu. Não havia tempo hábil para ele pedir essa autorização ao Congresso. Para atender a isso, nós criamos uma linha de fronteira que tinha alguns quilômetros, alguns metros, um negócio imaginário para ele poder sair, no dia, na hora, tudo pronto. E não tinha brita, tinha que colocar brita no lado boliviano – não sei de onde surgiu a brita. O Embaixador ficava preocupado se a galinha ia ciscar no tapete na hora em que os presidentes passassem. Cismaram que tinha que ter um gás Queriam mostrar que o gás estava passando, quando o gás ainda não estava passando. Então, o que a gente fez? Criamos uma espécie de tocha olímpica, que ficava no meio, entre os dois palanques, o palanque vip e o palanque dos convidados. Isso tudo pensado de madrugada, na véspera. O pessoal fez com os tubos do Gasoduto mesmo, como se fosse uma tocha olímpica e dentro tinha um foguinho, do foguinho passava um caninho, que era um “liquigás desses da vida”, e lá atrás, no mato, tinha um carinha esperando. Na hora em que os dois Presidentes iam mexer numa manivela fictícia, alguém dava um sinal e ele aumentava a chama. Deu tudo certo, graças a Deus. Pode até ser cômico, mas começou num primeiro contato e a gente conseguiu terminar. Isso para mim foi muito gratificante. Aprendi muito a lidar com essas situações, a manter a calma, e ter jogo de cintura. O Embaixador me jogava para falar com o Chanceler boliviano porque ele sabia e eu entendi que ele não podia estar falando, porque senão era o Brasil falando com a Bolívia. Agora eu, que não era ninguém, podia estar falando, e aí a gente resolvia.
Quando terminou tudo, cadê o avião da TAM que ia levar o povo inteiro embora para o Rio de Janeiro e São Paulo? Não chegou. Estava quebrado. Fui discutir com o Vice-Presidente da TAM, já histérica, às seis horas da tarde de um dia que eu não havia dormido. Acho que cresci muito como pessoa e como profissional, com as oportunidades que a Petrobras me deu e por conhecer pessoas grandes assim.
COTIDIANO DE TRABALHO Não vou ser modesta. Eu pensei, amadureci isso durante muito tempo. Todo esse trabalho, do Bolívia-Brasil, do Coep –Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida – do Betinho, de relacionamento, fui vendo como cidadã e como funcionária da Petrobras, estou com o uniforme porque, como falei no início, eu vesti essa camisa, vesti mais do que a camisa. A Petrobras é mais do que a minha família, acho até que deixei muito a minha família por causa da Petrobras. Eu fazia parte dela ou ela fazia parte de mim. Foi até papo de analista. A analista disse que eu não estava na Petrobras, eu era a Petrobras, nos tornamos uma figura só. Aí, eu comecei a pensar: “Acho que a minha Empresa, a Petrobras, é muito grande, ela tem uma imagem, tem toda uma responsabilidade.” Ela foi criada pelo povo brasileiro, então tem toda uma responsabilidade com esse povo que a criou, com esse que hoje ainda é o governo, ou não, na verdade indiretamente, o grande dono da Companhia é o Brasil. E ela sempre puxava; a Petrobras fazia e alguém vinha atrás, andava junto, ela sempre foi alavancadora. Então, eu falei: “Eu tenho que pensar em alguma coisa e construir isso dentro da Companhia.” E esse sempre foi meu grande objetivo: transformar essa Companhia. Não vou dizer que sou a grande responsável, ela já tinha isso dentro dela. E aí cabe um parênteses, uma coisa que me impressionou quando entrei na Petrobras e comecei a fazer as matérias era ver que a Petrobras, para muitas pessoas, era uma pessoa viva, um ser vivo, uma grande mãe, mas era um ser vivo. O que acontecia não era a Petrobras, era um dirigente que tinha errado, mas a Petrobras não, a Petrobras estava acima de tudo. Ela tinha um coração, ela tinha uma alma. E acho que isso está se perdendo um pouco, os novos estão vindo e isso está se perdendo um pouco.
PROGRAMA NACIONAL DE QUALIDADE Então, eu achava que tinha que trabalhar, esse era o meu objetivo, como cidadã e como uma pessoa da Petrobras. Esse foi o meu grande objetivo. Comecei a trabalhar nisso sempre procurando aonde e com quem a gente poderia estar tratando dessa questão. E quando começou o Programa Nacional da Qualidade, um dos itens falava de relacionamento com a comunidade. Comecei a me envolver nisso para trazer essa questão da responsabilidade com a comunidade para dentro do PNQ. Porque se você fosse falar para um Engenheiro: “a Empresa tem que ser responsável, eu tenho que ter relacionamento com a comunidade porque senão ela vai perder”, ele não entendia isso, porque não é uma coisa palpável. Na hora que você leva para um projeto, que para ele é importante, ele consegue avaliar, porque ele recebe um prêmio ou qualquer coisa, ele já começa a ver e a entender aquilo, a importância daquilo. Porque a Petrobras é feita de Engenheiros e Técnicos. Até em áreas administrativas você encontra Engenheiros, então não adianta fugir disso. Comecei a trabalhar com o pessoal da Qualidade, tinha uma área só para a Qualidade. Começamos a fazer cursos de capacitação, tinha sempre aquela pessoa que pensa igual a você, então você começa a formar os grupos, os líderes que vão mudando essa mentalidade. Depois veio o PNQ - Programa Nacional de Qualidade -
que a Petrobras teve essa questão muito forte dentro dela. Tinha os relatórios, todas as unidades tinham que fazer. Um dos itens diz que é resultado. Quando você pegava os resultados da área social, eram assim: três hortas, 10 quilos. Isso não são resultados, são indicadores, dados quantitativos e não qualitativos. Então, como poderíamos mudar isso? Comecei a pensar na minha cabeça: “Como vou mudar isso, transformar o quantitativo no qualitativo?” Depois, criaram a área de relações com os acionistas e começaram a entender que a imagem tinha um valor. Comecei a trabalhar nessa área, para começar a trazer essa mudança dentro da Companhia. A área de Engenharia já estava trabalhando em cima do Bolívia-Brasil e em cima de outros projetos. E eu pensei: “Agora que estou chefiando a área de Gerência de Comunicação Nacional, que o ambiental estava nas minhas mãos e que eu tinha uma certa liberdade - porque os Gerentes da época eram pessoas que confiavam em mim -, agora está na hora de transformar isso numa política da Companhia, como você tem a política de Recursos Humanos, como você tem a política de contratação.” Transformar isso numa política e que seja realmente o DNA da Companhia. Eu já tinha, mais ou menos, algumas coisas estruturadas na minha cabeça e fui me cercando de pessoas que poderiam estar trabalhando, porque ninguém trabalha sozinho. Isso é outra coisa também que aprendi. A Companhia é um grande órgão e ela trabalha em conjunto. Isso aí eu aprendi também na Companhia. Eu conhecia pessoas, em outros locais. Isso tomou muito de mim, porque era um grande objetivo.
RESPONSABILIDADE SOCIAL O que acontece hoje é a criação de uma área de Responsabilidade Social da Companhia, a possível criação, porque me parece que vai ser criado. O tema, o conceito, Responsabilidade Social, está dentro do planejamento estratégico da Companhia. E dentro do estudo do Planejamento estratégico da Companhia de 2005 para 2010, foi criado um grupo multisetorial para discutir a Responsabilidade Social. A questão do comprometimento, da reputação, está muito mais forte dentro da Companhia. Quer dizer, hoje, aquilo que antes era um afazer da Companhia, passou a ser o seu DNA, a sua filosofia de trabalho. O grupo foi formado durante o estudo do Planejamento Estratégico, agora eu não sei como vai ser feito. Há uma proposta de se ter um Comitê de Responsabilidade Social na Companhia, eu não sei se já saiu do papel, mas acredito que sim. Mas se transformou tão forte a questão que hoje é uma disputa política. E se hoje ainda não tem um comitê, é porque quem é que vai ficar chefiando esse comitê? Quem ficar, ficará com o poder. Então, há uma disputa interna. E há uma disputa de poder na Companhia, acho que se tornou uma coisa importante.
RELAÇÕES DE TRABALHO A minha saída dessa área foi traumática. Tem muita gente que sai da Companhia magoada. Eu não saí magoada, até porque acho que ela é mais do que as pessoas que a formam. Mas foi muito traumática. Inclusive, a forma como fui anunciada de que não seria mais Gerente dessa área não foi correta nem ética. Fui avisada cinco minutos antes de uma reunião. E quando perguntei o porquê para a pessoa, eu disse que iria obedecer, porque sou filha de militar, mas que não concordava e, por isso, queria saber o porquê. A pessoa me disse: “Eu também sou filho de militar.” Aí me lembrei daquilo, que não era bom ficar em duas áreas, porque na Companhia não era bom. Ouvi a mesma coisa: “Você não sabe, depois de tanto tempo de Petrobras, que a gente não pode aparecer muito, que isso faz mal?” Isso incomoda. É como subir um degrau, quando você está conseguindo, alguém te tira a oportunidade. Mas estou feliz porque todas as coisas que deixei em idéias estão sendo estruturadas. E vão frutificar, graças a Deus Pena que não sou eu, mas pior seria se nem isso estivesse acontecendo. É um pouco triste, não sou eu que estou lá, tem todo o lado da vaidade, óbvio, todo mundo é humano. Tem outro lado também, não sou eu quem está tocando o objetivo da minha vida, mas me deixa muito feliz saber que frutificou, que não interessa quem está lá agora, mas que a Companhia está fazendo a rede social que eu tinha pensado, as pessoas estão tocando. Talvez não da forma que eu desejava, mas estão tocando. Vejo que isso que, para mim, sempre foi muito forte, a questão da Empresa ser forte nessa área de responsabilidade, de sustentabilidade, ela está se firmando e isso me deixa feliz. Diminui a minha tristeza.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Até pouco tempo, eu estava com a Gerência de Comunicação da área de Exploração e Produção, que é uma área importantíssima na Companhia, eu estava estruturando a área de Comunicação porque ela ainda não tinha uma atuação forte, e é a minha paixão, eu adoro. Como falei, ali no campo é que está a verdadeira Petrobras, adoro. Estava tendo possibilidade de estar indo a campo, de conhecer as pessoas, de estar trazendo mais informações sobre essa área da Companhia. Tinha a idéia, e espero que a pessoa que me substituiu continue, de fazer um levantamento. Depois seria interessante para o Projeto Memória, se for feito, senão fica a sugestão, de quem é que forma esse E&P, que perfil tem essa gente. Porque você é diferente do que existe nas outras áreas da Companhia. O E&P tem o homem e a mulher da plataforma, tem o homem e a mulher que estão na perfuração, são atividades diferentes dentro de um mesmo órgão. E quem é esse? Como ele pensa? A gente tem a pesquisa de ambiente, que diz: “Eu gosto daquilo, eu não gosto daquilo.” “Eu acho que tem comunicação ou que não tem.” Mas o que ele pensa? Quais as diferenças, se existem diferenças? Como é transformar isso numa figura, num indivíduo? Essa era a coisa que eu deixei de fazer. Estou trabalhando agora numa área, de uma rede de informação do terceiro setor, em que vou poder estar trabalhando uma coisa nova, reviver, quase que voltar a juventude para ter novos objetivos e trabalhar. Não dá para parar.
PROJETO MEMÓRIA PETROBRAS Achei a iniciativa ótima, adorei ter participado. Gostaria até de ter falado mais. Eu acho muito importante essa ação de estar construindo, de ter uma memória viva do que é esse ser Petrobras. Por último, queria dizer que eu não me sinto fora da Petrobras. Eu ainda tenho o meu povo lá da floresta, lá de Urucu, que eu adoro, as pessoas da plataforma, todas aquelas pessoas com quem convivi, Bené, não quero nem falar nomes porque são milhares de pessoas que eu amei e que foram muito importantes na formação da minha vida. Eu gostaria que os que estão entrando agora entendessem e sentissem essa mesma força, essa mesma emoção da grande Empresa que temos, que formamos e que fizemos.Recolher