IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Elias da Silva Júnior, sou carioca, nasci no Rio de Janeiro no dia 25 de janeiro de 1963. Eu nasci no dia do aniversário da cidade de São Paulo, mas eu sou carioca flamenguista. INGRESSO NA PETROBRAS Eu entrei na Petrobras em duas fases: uma fase na que in...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Elias da Silva Júnior, sou carioca, nasci no Rio de Janeiro no dia 25 de janeiro de 1963. Eu nasci no dia do aniversário da cidade de São Paulo, mas eu sou carioca flamenguista.
INGRESSO NA PETROBRAS Eu entrei na Petrobras em duas fases: uma fase na que iniciamos o curso de formação, dia 30 de junho de 82; e outra fase, uma vez concluído o curso, a de registro como empregado, no 27 de dezembro também de 82.
FORMAÇÃO O curso foi feito em Salvador, no setor de ensino da Bahia. A primeira parte do curso foi feito um trabalho de campo na época do Recôncavo Baiano e depois a parte laboratorial e de treinamento, capacitação no centro de ensino lá em Salvador.
MOTIVAÇÃO Eu tinha uma motivação muito antiga. Quando eu era criança, nós morávamos próximos à Refinaria Duque de Caxias e eu tinha um sonho de criança de trabalhar na Petrobras. Engraçado que eu me projetava com um jaleco branco trabalhando com Química na Petrobras. As coisas vieram acontecendo e eu acabei realmente fazendo um curso técnico de Química na época Escola Técnica Federal de Química, hoje chamado de CEFET. Eu prestei concurso para a Petrobras, passei e fui fazer esse curso de formação. Quando fui dar por mim, eu estava realmente na Bacia de Campos trabalhando com Química, não com jaleco branco, mas exercendo uma função trabalhando com petróleo, ou seja, quando eu percebi estava realizando um sonho de criança.
PRIMEIRO DIA DE TRABALHO No dia 27 de dezembro de 1982, eu embarquei na Bacia de Campos. Eu lembro que quando nós chegamos lá, chegamos num módulo provisório de Garoupa, chamado MPG. E eu já sabia que um tio meu tinha trabalhado na Bacia de Campos exatamente em Garoupa ele era mergulhador e o primeiro projeto grande de petróleo na Bacia de Campos foi Garoupa. E quando nós chegamos, porque eu trabalhava na perfuração a área que nós ficávamos inclusive era uns contêiners, não eram aquelas sondas moduladas porque na realidade a área de produção estava assim... A sonda modulada eu estava lá com aquela estrutura já convencional, mas a parte de produção ainda eram aqueles contêiners, então era coisa muito inicial é um grande desafio. Eu posso dizer para você que chegar à Bacia de Campos foi como uma grande aventura de vida foi uma coisa assim muito gostosa eu era um garoto novo de19 anos começando a vida e realmente... Eu tenho um filho de 19 anos, eu olho pra ele e digo: “meu Deus do céu com essa idade eu estava embarcado numa plataforma” então foi uma coisa muito gostosa, muito viva, muito importante para minha vida.
COTIDIANO Era um cotidiano muito duro, era uma estrutura como eu falei ainda muito rústica. Considerando a estrutura que hoje se tem na exploração de petróleo, hoje se tem um conforto muito maior do que aquele que eu gozava na época. E eram 12 horas de trabalho corridos e mais o estar sobre aviso durante as outras 12 horas e então nós... Eu lembro quando eu cheguei e o pessoal da perfuração era um pessoal que como diz a expressão ralava muito, tinha até aquilo que a gente chamava de cama quente que levantava uma equipe que estava dormindo, trocava o lençol e vinha outra equipe para descansar, então era um cotidiano muito severo é um pioneirismo acredito de grande luta, de guerra de... Não era só um trabalho, acho que era uma coisa muito bonita em termos de conquistar, de fazer algo novo para o país. A Petrobras tem uma história de superação. Só a área de perfuração devíamos ser em torno de 80 pessoas, nós tínhamos a área de produção se não em engano era algo em torno de 230 pessoas e tinha um flotel que era tipo um hotel flutuante que tinha acabado de sair de Garoupa nessa ocasião, nós não tínhamos mais o flotel. Mas o efetivo que aquele flotel deixou de trabalho era cerca de 200 pessoas.
RELAÇÕES DE TRABALHO O trabalho embarcado cria vínculos que a gente nem imagina, porque querendo ou não aqueles dias que você estava embarcado você convive com a pessoa direto. E ali você compartilha dos medos das pessoas, você compartilhava da aflição, do risco, da preocupação com a família, a preocupação econômica. Então a vida das pessoas se misturava ali, então era um momento de... Era um convívio de muita interação em termos de vida.
Eu posso dizer que eu era o caçula da turma. Mas a posição que nós entramos na companhia, o tipo de formação que nós herdamos que foi passada pra nós nos davam um mínimo de senso de responsabilidade muito grande ao ponto de tanto haver um respeito pelas pessoas de idade como também eles nos respeitavam em termos do tipo de função que nós exercíamos. Então essa questão como eu diria da hierarquia, não é bem uma hierarquia eu posso até dizer, mas essa questão de respeitar a condição um do outro era uma coisa muito rigorosa, muito clara, os papéis eram bem definidos dentro do nosso convívio. O fato de ser novo ou ter alguém com mais idade não era motivo para se quebrar essa forma de operação que nós tínhamos... Dessa convivência dentro da plataforma.
BACIA DE CAMPOS A história na Bacia ela tem outro lado. Por um período de três meses acabei morando em Macaé, mas foi uma circunstância... Quando chegou ao final de 83 meados de 83 nós tivemos a grande crise. E essa crise mexeu muito com o nosso grupo, ou seja, o meu grupo de colegas que tinham iniciado na Petrobras naquele ano e nós acabamos tendo que ser deslocados para fazer outras funções. Nossa história na Petrobras tem tudo a ver com a história do país, aquilo que se vivenciava em termos de país. Então a gente viveu aquele momento de busca de alternativa e nós acabamos por um período sendo deslocado para outras atividades e eu por três meses fiquei em Macaé, na época Macaé... A gente só conhecia Macaé com a Rua Direita, uma cidade pequena que tinha sua Rua Direita onde estava o comércio. E que era a Avenida Rui Barbosa hoje lá... Eu estive recentemente lá eu quase não... Quer dizer eu não reconheceria quando eu voltei e vi aquilo que é hoje. E então eu vi o impacto da Bacia de Campos na cidade como a cidade foi transformada pela Bacia de Campos. A Bacia de Campos foi muito... Trouxe um dinamismo econômico absurdo pra cidade, hoje é irreconhecível em função daquela Macaé que eu conhecia. A crise de 83 trouxe uma conseqüência, ela trouxe uma... Até por questão de política governamental a Petrobras teve que cortar vários investimentos, esse corte de investimentos que significava retrair sua... O investimento na área de exploração fez com que houvesse uma sobra de contingente e esse contingente na realidade, ao mesmo tempo em que trouxe... Houve a sobra do contingente de exploração no modelo até então dominante a realidade se direcionou para aquelas sombras moduladas que se criou o NUSON na época era núcleo de som da moduladas você concentrava dentro de uma única estrutura e aquelas sondas contratadas que nós inicialmente trabalhávamos com as sondas contratadas em navios, contratadas. A nossa primeira fase foi um trabalho com navio em sondas com pessoas de múltiplas nacionalidades é interessante anotar isso que a nossa primeira fase não foi trabalhar especificamente com brasileiros. Eu comecei no módulo de Garoupa e depois nós fomos para outras unidades que na realidade eram sondas contratadas e em 83 você... Passou-se por um momento econômico no país onde esses investimentos foram cortados e essas pessoas precisavam ser remanejadas para as sondas moduladas e isso significava que toda aquela formação que nós tínhamos tinha que ser redirecionada para um novo momento e o desdobramento disso foi exatamente esse. Nós acabamos... Colegas meus foram trabalhar na área de informática, outros foram trabalhar na área de suprimentos, outros foram trabalhar com programação marítima, ou seja, houve uma mudança e foi uma fase muito difícil para nós mexeu muito conosco até porque nós tínhamos chegado com todo o idealismo, com toda uma formação e alguns nem conseguiram continuar na companhia, alguns foram embora. Fazia parte do processo num processo sempre tem perdas, mas foi bom ter vivido até mesmo essas crises com as crises a gente cresce.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Quando saí da Bacia de Campos em 86 eu fui trabalhar na área comercial da companhia e lá eu fui trabalhar com o comércio e exterior e fui muito influenciado por um colega meu o Edson Silveira Lima que era economista e interagindo com ele... Aliás, eu antes quando trabalhava embarcado o meu sonho... Eu digo assim eu gostava muito da Bacia, mas não era a vida que eu queria, porque eu sempre sonhei em crescer e eu percebi que aquele... Eu já tinha chegado a um estágio que eu queira sonhar mais e eu acabei optando por sair da Bacia de Campos e naquele período quando embarcado eu fiz o meu primeiro... Minha primeira inscrição para fazer Economia na UERJ na época e não consegui na ocasião desembarcar para fazer o vestibular, mas retive aquele sonho. E quando eu encontrei esse colega chamado Edson aquele ideal de fazer Economia acabou sendo forte. Talvez um pouco influenciado pela Maria da Conceição Tavares na época do plano do Sarney apresentando aquele gráfico dente de serra eu não sei o que foi, mas aquilo me estimulou e acabei vindo a fazer Economia comecei na UERJ depois terminei na Universidade de Brasília fiz Mestrado também. Então foi muito bom.
DIVERSIDADE CULTURAL O estrangeiro que nós convivíamos, a grande parte era texana e uma coisa curiosa é ele mascar aquele fumo e cuspir na frente da gente isso era uma coisa muito típica. Mas eu não sei se posso dizer que tenho uma história, quer dizer foram muitas coisas que nós vivenciamos. A mais curiosa era ver aquelas pessoas contratadas principalmente as mais simples tentando se comunicar com os estrangeiros e inventando uma língua própria, por exemplo, como tinha chilenos, espanhóis... Então você tinha um espanhol misturado com inglês, então aquela cena de você ver as pessoas tentando se comunicar naquela babel era muito curioso era uma convivência... Falar então usava algumas expressões tipo “meus bambinos” eu tenho que dar “chape chape” pra eles, ou seja, o cara querendo dizer que estava trabalhando que ele tinha que dar comida para os filhos. Então era muito típico você ver isso, era muito bom.
DESAFIOS O meu grande desafio de vida foi sonhar e realizar sonhos, a gente que nasce de uma realidade simples e quer crescer... Esse talvez fosse o meu desafio, um desafio que inclusive me levou a sair da companhia na condição de cedido trabalhar no Ministério de Minas e Energia, trabalhar na Agência Nacional de Petróleo, trabalhar na Câmara é sempre a idéia de conhecer mais. E hoje inclusive na Petrobras distribuidora na área tributária onde estou exercendo minhas funções eu costumo dizer que a Petrobras ela é muito rica ela te oferece um campo muito grande. Se você quer sonhar com algo diferente você certamente encontra um espaço dentro da companhia para você ampliar esse sonho de crescer, de encontrar esse horizonte novo que você queira abrir.
DIFICULDADES Foram vários momentos. A vida na Bacia de Campos... Eu quero usar uma palavra que possa expressar uma vida muito rústica e essa rusticidade se dava pelo risco, por aquilo que a gente via. É muito desafiador você pegar uma estrutura de ferro e colocar no meio do mar e começar a perfurar o chão e sair um petróleo, sair um gás você ver um fogo é lógico que é uma coisa desafiadora, mas a distância da família doía. Quando você voltava ao mesmo tempo em que você tem alegria de estar junto saber que logo em breve você teria que retomar aquele ambiente de trabalho que era bom trabalhar, mas também implicava em você estar distante do teu convívio. Então é esse mix de risco, ausência da família e até mesmo o sacrifício de você não poder continuar os seus estudos ou algo semelhante realmente era muito difícil pra nós.
SER PETROLEIRO Ser petroleiro é ser quem busca superar desafios, eu não quero fazer um plágio daquilo que tem, mas petroleiro... Petróleo para o meu país e para minha empresa é superar desafios e acho que isso está incrustado na nossa alma e ser petroleiro é isso é viver um desafio a cada dia.
PROJETO MEMÓRIA Eu me surpreendi, eu passava ali e não sabia do que se tratava me surpreendi com essa oportunidade de poder externar a nossa história de vida dentro desse contexto, a história de vida de nossa companhia. Eu acho que essa iniciativa ela é muito nobre e deve ser elogiado quem as tomou e é muito gostoso fazer parte desse momento com vocês.Recolher