IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Heitor Garcia Júnior, nasci em Santo André, no dia 08 de junho de 1954. FORMAÇÃO Sou formado engenheiro civil, fiz uma pós-graduação em engenharia de petróleo durante dois anos dentro da Petrobras, em 1980. E depois de uns nove anos, em 19...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Heitor Garcia Júnior, nasci em Santo André, no dia 08 de junho de 1954.
FORMAÇÃO Sou formado engenheiro civil, fiz uma pós-graduação em engenharia de petróleo durante dois anos dentro da Petrobras, em 1980. E depois de uns nove anos, em 1989, 1990 fui para Unicamp e fiz um mestrado, pela Petrobras, em engenharia de petróleo na Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, me formei mestre.
INGRESSO NA PETROBRAS Em 1979 estava me formando na Faculdade de Engenharia da Fundação Armando Álvares Penteado em São Paulo, Capital , e era um momento muito difícil para carreira de engenheiro. Lembro muito bem que, nessa época, arranjar um emprego era uma coisa muito difícil, e estava no final do meu curso de engenharia civil procurando lugares para trabalhar, e a melhor proposta de emprego foi para ganhar 10 mil unidades de dinheiro, não lembro se era Cruzeiro, para trabalhar como fiscal de obra civil. E ao final do ano, um amigo que estudava junto comigo falou assim: “Heitor, está tendo um concurso para Petrobras, vamos fazer?” Eu falei: “Vamos”. Nem sabia do que se tratava. Naquela época a Petrobras começou a descobrir algumas coisas na Bacia de Campos. Lembro até que o Shingeaki Ueki, que era o Ministro das Minas e Energia, chegou a fazer uma palestra na minha faculdade, sobre o petróleo. E fui fazer esse concurso sem muitas pretensões, e quando veio o resultado fiquei até surpreso, acho que no final de outubro, em novembro de 1979 vi o resultado do concurso e, tive a felicidade de ver que tinha entrado na Petrobras para ganhar 30 mil e alguma coisa, é quase três vezes o que eu iria receber como fiscal de obra.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Ao longo desses 29 anos, passei por muitas experiências dentro da Petrobras, trabalhei em vários lugares. Saí de São Paulo, fui trabalhar em Salvador onde nós fizemos nosso curso de formação. Nesse curso de formação tinha um período de nove meses que trabalhávamos como peão nas plataformas, hoje isso não existe mais. Trabalhávamos como plataformista, como torrista, como sondador, fazia o revezamento de turma, andava nas caçambas de caminhão no Recôncavo Baiano, passava frio nas madrugas baianas, e ficava em alojamentos precários. A questão de SMS era muito mal tratada naquela época, preocupávamos muito com as sondas perfurando em terra, com os dejetos sendo jogados de maneira descuidada nos diques de perfuração. Embora como recém-formado, tendo uma consciência ambiental, preocupávamos com as coisas que não caminhavam muito bem.
E hoje a Petrobras está querendo ser assim uma excelência em termos de cuidados ambientais. A minha história dentro da Petrobras ela teve vários caminhos. Depois desses dois anos que passei na Bahia me formando, vim para o Rio de Janeiro trabalhar na sede, e fazia alguns embarques eventuais na Bacia de Campos, isso foi em 1982. Era uma espécie de formação que estávamos tendo. E depois de um ano no Rio de Janeiro havia a necessidade de profissionais em várias partes do Brasil, inclusive na Amazônia. Fui para Amazônia, em 1983, e fiquei até 1987 quando houve a descoberta dos poços de Rio Ourucu. Até trabalhava na perfuração nas sondas de selva, na costa do Pará e Maranhão, cheguei a trabalhar até no Acre, uma distancia enorme. Para ter uma idéia, saindo de Belém para o Acre era mais distante do que de Belém ao Rio de Janeiro. Se não estivesse trabalhando na Petrobras jamais teria conhecido aquelas regiões tão distantes. E depois vim para o Rio de Janeiro, foi na época que fiz o mestrado em Campinas.E 10, 11 anos atrás vim trabalhar embarcado na Bacia de Campos e estou até agora.
Não embarco mais, agora coordeno uma equipe de 15 engenheiros .
VIDA DE EMBARCADO Eu embarcava como técnico de pescaria. A pescaria quando têm alguns problemas em poços que se perfuram, em poços que se completam, às vezes alguns detritos ficam dentro dos poços impedindo que desçam novos equipamentos, ou que consiga produzir esse petróleo dentro desses poços. Têm umas técnicas para desobstruir esses poços, por isso que é chamado pescaria, os pedaços de ferro que ficam dentro do poço é chamado de peixe, por isso temos que ir lá e pescar,
trabalhei nessa área. Depois a coisa de uns seis, sete anos é que voltei para área de perfuração direcional. Perfuração direcional é conseguir alcançar um ponto no reservatório que os profissionais da área de reservatório, da área de geologia determinam para ser drenado um poço. Por exemplo, imagine que tenha que perfurar a partir de um ponto e navegar, como se fosse um avião mesmo, um avião navega mexendo as asas, mexendo o bico e fazendo essas curvaturas, e esse tipo de navegação é feito dentro da rocha com equipamentos específicos. São brocas, são ferramentas chamadas defletoras que vão se direcionar numa determinada direção que precisamos que ela seja perfurada. Só que a velocidade de navegação é infinitamente inferior a de um avião, a gente perfura 10, 15 metros por hora. Navega em qualquer direção dentro da rocha perfurando.
TECNOLOGIA A tecnologia ajudou bastante para direcionar essa ferramenta dentro da rocha. Nós temos ferramentas modernas que conseguem com sensores computacionais, fazer com que algumas valetas empurrem a broca lá embaixo, a coluna de perfuração e vá na direção que precise. Antigamente para se determinar qual era a posição da broca, precisava descer dentro dessa coluna, descer uma ferramenta que tirava uma espécie de foto lá embaixo e essa foto utilizava a gravidade da terra, utilizava a orientação de uma bússola, por exemplo, e esses instrumentos lá embaixo eles tiravam uma espécie de uma fotografia que em cima era revelada e o técnico observava aquelas medições e sabia para que direção e em que inclinação que estava aquele determinado ponto. Hoje em dia nós temos tecnologia que essa informação vem em tempo real, nós temos acelerômetros que são posicionados lá embaixo que eletronicamente enviam sinal através do fluído de perfuração, e na superfície computadores eles captam essas informações como num código Morse, decodificam isso e dão informação em tempo real para o perfurador direcional. A tecnologia ela está permitindo que se façam trajetórias complicadas, dentro da rocha, coisa que a uns tempos atrás não era possível.
VIDA DE EMBARCADO Trabalhar embarcado tem que ter um equilíbrio emocional muito grande, porque vai estar privado de encontrar os seus amigos, os seus familiares, e sabe que, na maioria das vezes, são duas semanas embarcadas e tem que conviver com um número fixo de pessoas. É quase que um Big Brother, só que sem essa invasão das câmeras filmando o tempo todo, mas tem que conviver com um número fixo de pessoas e tem que se dar bem com elas, porque vai está almoçando, jantando, tomando café constantemente com essas mesmas pessoas. Se a pessoa que embarca focar a atenção no resultado do trabalho que está executando, o tempo passa bem tranqüilo.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS O que marca, às vezes, a perda de um ente querido e está embarcado e não haverá tempo de desembarcar para ir ao funeral. Por exemplo, o pai da minha esposa, não pude ir.
Tenho vários colegas que tiveram filhos que nasceram e eles estavam embarcados. Tem esses problemas. Lembro uma vez que eu estava numa unidade de cimentação e estávamos deslocando uma pasta e era meia-noite e o operador falou assim: “Feliz Ano Novo”. Era a passagem do ano de 1983 para 1984. Não [houve comemoração] naquele momento, eu não podia sair daquela operação. A operação estava em curso, não dava para fechar as válvulas, perderíamos o poço. O cimento ia dar pega e não conseguiríamos fazer o trabalho.
DESAFIOS Os grandes desafios é ter que morar em lugares diferentes. Ter que sair, por exemplo, de São Paulo, uma megalópole, e
viver lá no interior da Bahia numa cidade que não tinha nem cinema, não tinha uma rua asfaltada, e a diversão era tomar cerveja com amigos ou ir a igreja.
CIDADES / MACAÉ / RJ Macaé conheci em 1982, era uma época que a cidade terminava na Costa do Sol e o Cavaleiro e, tinha algumas coisas espalhadas, era uma cidade infinitamente menor do que é hoje. Mas quando vim morar aqui, isso já faz dez anos, ouvia-se dizer que a cidade ia dobrar de tamanho, e achávamos meio difícil que isso acontecesse, e de fato aconteceu, a cidade cresceu e continua crescendo.
PRODUÇÃO Marcou particularmente o período em que foram descobertos os campos de Marlim e Albacora. Tinha um amigo que se formou junto comigo na faculdade e ele trabalha na parte de reservatórios, encontrei com ele ,acho que foi em 1989 no Rio e, ele trabalhava na área de reservatórios e falou para mim: “Olha, esses dois campos que nós encontramos, Marlim e Albacora estão dobrando a reserva nacional de petróleo”. Aquilo marcou muito, saber que aquelas duas descobertas tinham dobrado toda a reserva de petróleo provada naquela época. E hoje nós estamos vivendo momento semelhante, praticamente, dobrando o que naquela época já tinha dobrado, que são essas novas reservas que estão sendo descobertas na área de pré-sal. De Marlim e Albacora acho que foi no final da década de 1980, começo da década de 1990 [foram descobertas]. Nesta época sempre trabalhei misto, em escritório, em plataforma.
SER PETROLEIRO Ser petroleiro é um orgulho muito grande, trabalhar enfrentando dificuldades no mar, na selva, na terra e vivendo longe da sua família, e enfrentando essas dificuldades e vendo resultado positivo das coisas que nos faz sentir, um pouco orgulhoso. O entusiasmo não perco nunca Estou sempre pronto a novos desafios. O fato de ter morado em vários lugares demonstra essa minha vontade de estar querendo sempre enfrentar as coisas novas. E hoje faz parte do negócio cuidar da saúde dos trabalhadores, segurança e do meio ambiente que convivemos. Produzir petróleo sem cuidar disso não tem o mesmo valor.
PROJETO MEMÓRIA Esse projeto é muito importante. Qualquer grande organização deveria se preocupar com esse tipo de coisa porque, de certa maneira, daqui a alguns anos os empregados que estarão entrando na empresa eles vão poder ver, ter o contato com alguns outros empregados, no caso da Bacia de Campos da Petrobras, que tiveram experiências, da importância dessa história, dessa caminhada de sucesso até agora.
DIVERSIDADE CULTURAL Tem [diversidade cultural]. Isso serve para diminuir o nosso bairrismo. Temos amigos que são nordestinos, sulistas, estrangeiros. Hoje nós temos vários trabalhadores que vem da Venezuela, da Argentina, de Bolívia, Colômbia e estão todos trabalhando, vestindo mesmo o crachá, somos todos trabalhadores do mesmo ideal. E trabalhando nesse ambiente faz com que a gente não seja tão bairrista. Considere igualmente todas as partes do Brasil e do mundo como importantes.Recolher