Projeto Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Entrevistado por Tânia Coelho
Depoimento de Márcio Rogério Fogo
Macaé 17/06/2008
Realização Instituto Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB414
Transcrito por Augusto César Mauricio Borges
P - Nome completo, o local e a data de nascimento.
...Continuar leitura
Projeto Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Entrevistado por Tânia Coelho
Depoimento de Márcio Rogério Fogo
Macaé 17/06/2008
Realização Instituto Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB414
Transcrito por Augusto César Mauricio Borges
P - Nome completo, o local e a data de nascimento.
R - O nome completo é Marcio Rogério Fogo. Local eu sou de Santo André da unidade UNBS da Bacia de Santos.
P - Isso é onde você trabalha.
R - Sim.
P - Mas onde você nasceu?
R - Em Santo André.
P - Em que ano?
R - Mil novecentos e setenta e três.
P - E qual é a sua formação?
R - Eu sou formado em técnico em Mecatrônica.
P - Mecatrônica.
R - Positivo, mecatrônica.
P - E você se formou onde? Em Santo André?
R - No colégio Castro Alves em Santo André.
P - E o que é mecatrônica.
R - Mecatrônica engloba mecânica, eletrônica, e elétrica e uma parte de computação e instrumentação também. É um curso bem completo. De todas as áreas você tem um pouco do conhecimento.
P - E esse sobrenome Fogo?
R - É italiano.
P - É italiano?
R - É italiano.
P - É do seu pai?
R - Sim. Meus avós eram italianos.
P - E você chegou na Petrobrás como?
R - A Petrobrás foi uma história assim meio complicada. Teve um concurso em 2005. Eu prestei esse concurso. Na época que eu fiz esse concurso eu estava numa situação assim meio ruim. Eu não tinha grana em pra pagar a inscrição: quem pagou foi o meu pai. Ele falou: "vai lá que vai ser importante pra você" e aí me deu o dinheiro e eu fui lá paguei a inscrição e fiz a prova. Aí passei e tal. Não passei entre os primeiros, mas eu fiquei no cadastro reserva. Aí quando estava pra expirar esse cadastro eu fiz em 2005 e foi depois de dois anos e ia expirar em 2007. Aí dia 28 de dezembro eles me mandaram um telegrama da Petrobrás. E aí o meu pai falou: "filho, chegou um telegrama aqui em casa". Eu estava até que numa empresa legal, direto pela empresa e tudo. Aí chegou esse telegrama e ele falou: "filho chegou um telegrama da Petrobrás aqui". Eu falei "ah, você está de brincadeira". "Não. Eu estou falando sério". Aí pedi saída no serviço e fui lá ver. Aí cheguei lá
era convocando eu para vir trabalhar na Petrobrás. Aí eu nem acreditei na hora e vi tudo a relação dos documentos que precisava e corri na escola e tal e levantei a documentação toda e aí fui no dia dois de janeiro levar toda documentação que a admissão tinha que ser feita até dia 15 porque no dia 16 expirava. Aí levei toda a documentação e apresentei na hora e a moça falou: "está faltando um documento da escola que você não trouxe". Eu falei "não acredito". Ela falou assim: "infelizmente, não vai ter jeito". Eu falei "como não vai ter jeito?" Eu vou até a escola e busco o documento e volto aqui e te trago". Ela falou: "mas será que você vai conseguir? Você tem que estar aqui até três horas da tarde". Eu falei: "não tem problema". Final de ano, Imigrantes lotada e tal. Eu fiz essa seleção em Cubatão na refinaria Presidentes Bernardes, a RBPC. Aí peguei e subi a serra num trânsito terrível e cheguei na escola, pra resumir. Aí peguei o documento que eu precisa e a moça imprimiu lá e aí na hora eu olhei para o relógio e falei: "falta uma hora pra exceder o horário das três horas. Eram duas horas. Eu falei: meu, o que eu vou fazer?" Aí lembrei de um amigo, o Silvio, um grande amigo meu. Liguei pra ele e falei: "meu, você precisa me socorrer, cara. Eu preciso estar em Santos dentro de uma hora".Ele falou: "demorou, daqui a pouquinho eu estou aí". Aí trouxe dois capacetes e montamos na moto e descemos. Chegamos três horas em ponto na porta da Petrobrás. Entrei lá
e na hora que eu entreguei o documento pra mulher ela falou assim: "não, tudo bem, mas a carga horária que tem de mecânica aqui é pouco". Eu falei: "meu, como que é pouca minha querida? E outra. Está pedindo aqui no edital aqui é mecânica ou metalurgia. Minha querida, se você não sabe a mecatrônica está vindo pra suprir essa área de mecânica porque hoje não existe mais técnico mecânico. Esse curso não existe mais. Você pode procurar saber que a mecatrônica veio pra englobar essa parte de técnico mecânico". Aí ela falou assim: "porque isso não dá e não sei o quê". Aí eu falei "então faz o seguinte. Você não tem como comprovar a sua parte de mecânico?" Eu falei: "olha a minha carteira profissional o tanto de registro que eu tenho de mecânico. Eu sou formado em Analista de Vibração pela faculdade lá da Fupai em Minas Gerais. Tenho o nível um, dois e três e eu sou formado em Termografia também, técnico em Termografia. Tenho curso de compressores, tenho curso de rolamento, de alinhamento, tenho "ene" cursos. Será que é a quantidade de cursos e de informação que eu tenho adquirida isso não serve pra vocês?" Ela falou: "espere aí que eu vou chamar uma pessoa aqui que ela vai resolver isso daí". Aí foi lá e chamou o gerente da RBPC que era o senhor Pimenta lá. Aí ele chegou e falou: "o que está acontecendo?" Eu falei: "essa pessoa que vocês colocaram pra fazer a seleção está dizendo que o meu diploma não serve pra área que eu estou prestando aqui". Aí ele olhou e tal e falou: " a carga horária de mecânica que tem aqui é pequena". Eu falei: "porque é um curso que engloba várias áreas dentro desse curso. É um conhecimento bem grande. Eu tenho outros cursos aqui que podem comprovar e mais a carteira profissional" . Ele começou a olhar e falou: "você tem muita história aqui". Pegou e assinou o papel e falou: “está aprovado por mim”. Qualquer problema pode vir falar comigo". Aí graças a ele eu estou aqui hoje. Se não fosse por ele.
P - Que agonia.
R - É aquele tal negócio: quando é pra ser é. Não tem por onde. Por mais que você corra, corra e corra se não for a sua hora você não vai conseguir. Mas graças a Deus deu tudo certo.
P - Foi um feliz ano novo.
R - Foi um maravilhoso ano novo. Foi um grande presente.
P - Então você está aqui há um ano mais ou menos?
R - Aqui em Macaé eu já estou a um ano aqui em Macaé. Que eu estava trabalhando embarcado na plataforma de __________1 que logo que eu fiz o meu.
P - Não foi em 2007? Janeiro de 2007?
R - Janeiro de 2007.
P - Enfim, então você passou 2007 embarcado e depois é que você veio pra cá. Você está há um ano e meio na empresa mais ou menos?
R - Um ano e meio. Que logo que eu entrei na empresa eu fiquei mais ou menos uns cinco meses na Unisantos, na Faculdade de Santos lá fazendo uns cursos de formação. Essa unidade que eu estou foi a unidade do gás natural da Bacia de Santos. Então essa foi a primeira turma de mecânicos dessa unidade. Então o que acontece? Eles fizeram uma formação bem abrangente. Então nós temos todas as qualificações necessárias que a Petrobrás existe hoje nós temos.
P - Pra que função?
R - Para a função de mecânica. Nós temos de técnico
em mecânica, né?
P - Você entrou nessa área com essa função?
R - Nesta área, nessa função de técnico. De início eu fui admitido como mecânico especializado. Aí teve essa repactuação do PCAC aí que adequou o cargo e aí ficou como técnico mecânico e aí a gente foi e teve uma leve promoção e tal e a gente está como técnico mecânico hoje. Aí com o meu desempenho que foi um dos melhores da turma aí toda e as avaliações todas eles me promoveram pra essa área de turbomáqinas aí, de técnico de turbomáquinas. É onde eu estou estagiando hoje aqui Emboacica na OTBM.
P - Fazendo o que exatamente? O que faz um técnico em turbomáquinas? Qual é a sua rotina?
R - A nossa rotina a gente segue os procedimentos do fabricante. Detendo o procedimento em mão a gente coleta informações do pessoal das plataformas das outras unidades o sintoma que a máquina teve que veio ocasionar a falha ou a quebra do equipamento. Então com base nisso daí e mais o manual a gente vai fazer inicialmente uma buroscopia que isso aí seria no caso, vamos supor, uma turbina uma buroscopia seria como você pegar uma filmadora e filmar a máquina com a máquina montada, você tem um equipamento que você vai circulando dentro da máquina e vai vendo as condições dela pra ver se é viável a manutenção aqui no nosso país ou se tem que mandar pra fora no fabricante. Então com o auxílio dessa buroscopia a gente tem condições de fazer um laudo técnico aí com uma avaliação bem apurada pra saber se é viável fazer aqui e se todas as peças que estão danificadas nós temos aqui, se a gente não tiver qual é o tempo que demora pra essa peça chegar no nosso país pra gente fazer essa manutenção. Então com base nisso daí põe na balança e vê o que é mais viável: você mandar pra fora ou você fazer a manutenção aqui. Aí depois desse procedimento a gente faz a desmontagem baseada nos manuais todos e aí avalia as peças e aí tem todos o procedimento de limpeza, tem o dimensional, que seria as medidas de todo o equipamento. Aqui nessa unidade aqui eles têm uma parte que chama de tridimensional. É uma leitura como se fosse a laser assim. Então eles tiram a medida do equipamento assim bem precisa mesmo. Tecnologia de ponta mesmo, que você não encontra em qualquer lugar. Então aqui tem essa tecnologia também.
P - Pois é, quando você fez o curso você já fez o curso em função das novas tecnologias. Foi necessário qualificar. Como é que é esse salto tecnológico na sua área? É brutal, é diário? Na minha área, por exemplo, é diário na área de jornalismo. Todo dia tem um programa novo.
R - A área da Mecânica em si é um negócio como se fosse informática que toda hora lança uma tecnologia nova, uma coisa nova. Eu costumo ficar bem atualizado porque eu participo de vários grupos de manutenção. Eu participo de um grupo de manutenção do Yahoo que você tem contato direto com todas as tecnologias novas que está lançando. A gente tem uma sala de bate-papo e a gente se atualiza assim, né? Sou participante também de um grupo de manutenção de termografia. Termografia é uma técnica que é usada e é como se fosse uma filmadora que eles utilizam para diagnosticar pontos quentes dos equipamentos. Você usa como se fosse uma filmadora e você aponta para o equipamento e você vê a parte de calor, ele gradua do amarelo para o vermelho, a parte mais quente seria do vermelho e então você consegue diagnosticar com certeza qual é o ponto que está incidindo maior temperatura, maior calor. Essa é uma das técnicas. Eles utilizam hoje em dia mais na parte elétrica isso daí pra diagnosticar possíveis maus-contatos que possam existir. Então isso dá um aquecimento nos fios e tudo. Então é uma tecnologia. E tem também termografia. Ah, tem a parte da análise de vibração. Eu me formei nessa área também. Isso daí você coleta as informações dos equipamentos em funcionamento você tem uma resposta com base na vibração que eles está incidindo. Com base na informação da vibração você consegue diagnosticar se o equipamento tem um desbalanceamento, se ele está com folga nos __________ e etc.
P - Agora é comum vocês fazerem sala de bate-papo e se atualizarem pela internet? Numa área tão técnica, não é uma coisa que você vai buscar porque é um movimento seu de busca de conhecimento.
R - Isso é de mim.
P - Você não pára de fazer curso.
R - Sim. Eu procuro. Mesmo fora da empresa quando a empresa não patrocina alguns cursos eu mesmo procuro eu investir no meu potencial e procuro correr atrás sim. Eu vejo novas tecnologias, novos cursos, alguma coisa que eu vejo que vai agregar pra minha função
ou pra aquilo que eu estou planejando lá na frente aonde eu quero chegar eu vou procurar me interar.
P - É pouco tempo pra muita coisa, né?
R - Mas eu sou bastante ambicioso. A ambição move as pessoas, se você não tem como traçar um ponto e falar "olha, eu quero chegar neste ponto, eu quero chegar lá em cima".
P - Que ponto?
R - O meu ponto seria, sei lá, uma coordenação, alguma coisa assim. É o que eu estou traçando pra mim. Então eu procuro dar o melhor de mim dentro da empresa hoje em dia pra ter uma boa avaliação, ser bem reconhecido, ser pró-ativo, muito responsável, pontual. Então todas essas qualificações eu procuro deixar bem afloradas aí pro pessoal conseguir enxergar isso daí com facilidade pra ver que eu vejo aqui pra produzir petróleo. É pra isso que eu estou aqui na Petrobrás. Pra produzir petróleo. E na minha unidade onde eu vou trabalhar é pra produzir gás. A partir do momento que eu visto o macacão eu estou aqui pra produzir. Então você entra, veste a camisa da empresa pra produzir. Não tem porque é que muitas pessoas coisa que eu escuto fala assim: "eu entrei na Petrobrás e agora eu estou tranqüilo". Eu não. Eu quero mostrar até onde eu posso chegar. A confiança que estão depositando em cima da minha pessoa hoje eu quero mostrar pra eles que todo empenho e a confiança que eles estão depositando em cima de mim isso vai ter um bom retorno pra eles. Tanto é que as minhas avaliações é o que digam, né? O pessoal da minha unidade lá.
P - E o coração fica dividido entre a sua terra e Macaé?
R - Fica, fica porque eu tenho dois filhos. Eu tenho um menino que fez quatro anos agora e tenho uma menina de nove que vai fazer dez.
P - Que não ficam aqui com você?
R - Não. Eles ficam em Santo André com a minha esposa. Então é terrível. Mas é aquele tal negócio: eu estou batalhando pra dar um bom conforto pra minha família. Eu comprei um imóvel agora a pouco tempo e estou pagando, entendeu? Então se não for todo esse sacrifício, todo esse empenho que eu estou correndo atrás pra dar um bom conforto pra minha família, uma boa estabilidade, entendeu? Eu acho que por esse lado é muito válido. Então é um ponto em que a saudade bate, tem horas que você fica assim meio cabisbaixo e tudo por estar longe da família. Vários momentos, vários acontecimentos que tem e você não pode estar junto, mas eles sabem que eu estou aqui pra buscar uma coisa melhor pra toda a nossa família. Então é onde a gente se segura.
P - E essa nova vida também te trouxe muitos amigos e aqui você tem. Você convive com gente de todos os estados?
R - De todos os estados.
P - E isso enriquece como?
R - Enriquece na parte. Me traz muitas alegrias. Que nem quando eu estava embarcado era maravilhoso. A equipe que eu trabalhava era muito coesa, o pessoal era muito unido, muito pra frente. Quando você chegava as pessoas se importavam com você. "Pô, que bom te ver aqui de novo, poxa, que legal que você está aqui". Você sente assim um carinho muito grande pelas pessoas. Eu fui muito bem recebido onde eu trabalhei. Graças a Deus até hoje todo local que eu vou eu tenho, como que eu vou dizer?
Não encontro nem a palavra correta pra expressar isso daí.
P - A receptividade é grande.
R - É. É uma receptividade. Sempre pessoas assim muito positivas, muito pra frente. Mesmo o sentido de pensamento que o meu. Não são aqueles que, sei lá, estão parados. São pessoas que estão correndo atrás, estão empenhadas, estão procurando fazer o melhor, demonstrar que nós estamos aqui e vamos produzir, gente. Não é porque, sei lá, "eu entrei na Petrobrás e agora eu estou tranqüilo, a empresa não vai me mandar embora e tal". Não é por aí, cara. Tem que ter um pensamento que você vem pra cá você vem pra produzir. Então graças a Deus onde eu trabalhei eu tive bons amigos, bons parceiros de trabalho, entendeu? E aqui também na OTBM tem pessoas maravilhosas de um conhecimento assim muito grande que eu estou conseguindo aqui na OTBM agregar muitos valores pra minha carreira profissional. Adquirindo muitos conhecimentos, muitas tecnologias novas, entendeu? Então está sendo produtivo demais porque com isso eu vou levar pra minha unidade muito conhecimento, muita bagagem, muito know hall daqui do pessoal que são praticamente a melhor manutenção em grandes máquinas aqui do país é aqui na OTBM.
P - Quem diz isso? Você não vale porque você é suspeito.
R - Eu não valho porque eu sou suspeito, mas isso daí é certo. É certo porque os equipamentos de ponta que tem aqui naõ é qualquer lugar que você encontra, entendeu? E os profissionais altamente qualificados que eles detém aqui na manutenção não é qualquer lugar que você encontra isso. Então você vem pra cá e você vê assim uma gama muito grande de equipamentos um diferente do outro e tecnologia, ferramental, dispositivos tudo isso eles detém aqui. Então fica muito fácil trabalhar, são pessoas que tem um conhecimento muito grande
e então isso fica simples assim de se trabalhar.
P - E você vê como esse projeto de trazer a memória dos trabalhadores da Petrobrás para o registro que a gente está fazendo agora?
R - Eu acho muito válida essa parte aí porque com isso aí vai agregar muito tanto pra empresa assim em estar levantando esses registros, essas memórias, a passagem do pessoal toda aí isso é muito importante sim. É muito válido porque isso aí é uma história, né? Uma história não só do funcionário como da própria companhia. Então cada uma tem a sua particularidade, cada um viveu uma história, cada um passou por uma situação. Então com isso vocês vão poder registrar essa passagem aí toda e é muito interessante isso daí sim.
P - Tem alguma questão que você considera importante que a gente não tocou e que você queira falar?
R - Uma questão? Deixa eu ver. Assim de imediato assim eu não posso me lembrar
de mais alguma coisa.
P - Então muito obrigada.
R - Eu que agradeço.
P - Foi um prazer enorme.
FIM DA CABINERecolher