Memória dos trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de Iolanda do Carmo Lima
Entrevistado por Sérgio Ricardo Retroz
Macaé, RJ 17/06/2008
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB411
Transcrito por Jerusa Messina
P – Então, diz o seu nome completo, a cidade onde nasceu e ...Continuar leitura
Memória dos trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de Iolanda do Carmo Lima
Entrevistado por Sérgio Ricardo Retroz
Macaé, RJ 17/06/2008
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista PETRO_CB411
Transcrito por Jerusa Messina
P – Então, diz o seu nome completo, a cidade onde nasceu e data.
R – Iolanda do Carmo Lima; cidade do Rio de Janeiro, antigo Estado da Guanabara; em 30 de setembro de 1953.
P –
E de onde nasceu a idéia de trabalhar na Petrobrás?
R – Eu trabalhei no Edise, lá no Rio, como contratada; eu comprei um contrato, temporário, né? Eu vivia mudando de empresa; queria ganhar novas experiências e tal, até que cheguei à estatal do petróleo. Eu era inscrita na época numa agencia de emprego, né? _______, serviços temporários; e havia regulamentação: você poderia prestar por três meses, no máximo, o serviço, sem vinculo empregatício; prá substituir férias, impedimentos, doenças, né, de pessoas efetivas da empresa. E eu, como queria ganhar experiências, me lancei nessa aventura, né? Até que, por indicação dessa agencia, eu fui à Petrobrás – como eu também já tinha passado na UFRJ; fundão, né? Na Universidade, entre outros. E lá me informaram... era um grupo, né, que queria entrar prá Empresa. Todo mundo quer trabalhar na Petrobrás, né? (risos) Quando é jovem... E lá me informaram que aqui em Macaé ia ter um concurso, entendeu? Foi quando eu vim; me inscrevi e fui aprovada. Eu fiquei entre os cem primeiros; eu acho que recrutarem 500 pessoas nesse concurso; mas eram muitos candidatos, veio gente de muitos lugares: Rio de Janeiro, Campos; toda essa região aí, né? A cidade ficou cheia, de tanta gente querendo ocupar uma vaga dessa. E no final do ano, né, em dezembro, de 1987 – o concurso foi em 87 mesmo, no início do ano, março, se não me engano – eu fui admitida. Só que eu fiquei numa pensão provisória, né? E procurando, procurando um canto, assim, prá alugar, alguma coisa. Mas aí eu me deparei com a realidade da cidade, né? Muito cara, tentei transferência pro Rio, não consegui; até que apareceu essa cooperativa aqui; eu me inscrevi e comecei indo nas reuniões. Cooperativa Habitacional Desempregados da Petrobrás. Então, foram... acho que 500 sócios. Nós descontávamos um valor, um percentual igual do nosso salário... básico, né? Tinha um percentual lá, era igual prá todos. Até que começou a ser descontado em folha de pagamento também; da Petrobrás. Aquilo era um compromisso: todo mês, né, contribuir com aquela... E aquela expectativa, né? A finalidade da Cooperativa era entregar a casa pronta para os sócios, e daí você iria assumir um financiamento; entendeu? Junto à Caixa Econômica, talvez, coisa assim. E a Cooperativa começou; foi eleita uma diretoria, tinha um diretor financeiro, um diretor administrativo, um diretor técnico; vário diretores, né, responsáveis por essa áreas. E eles nos traziam informes, né, de como tava o andamento da Cooperativa, o que tavam resolvendo; e tinha que ser votado pelos associados, tinha que ter um quorum também, né? Xis número de pessoas
presentes; nós ouvíamos os informes, e sujeito à aprovação; ou não. De forma que, a Cooperativa se estruturou, né? Ela teve que alugar uma cede, comprar combis –duas, né? – prá andar na cidade, telefone, colocar secretarias, essas coisas.
E
foram, é... parece que eles conseguiram comprar áreas grandes que... não era loteado ainda, por que um terreno pequeno, um terreno pra cada um, ia ser difícil atender a todos, né? E constataram que as áreas grandes, sem infra-estrutura, era mais barato, né? A primeira área que a Cooperativa comprou, se localiza ali próximo ao Sesi. Sesi é o Serviço Social da Indústria aqui em Macaé, que fica localizado no bairro Riviera Fluminense. Ali foi comprada a primeira área, de 60 mil metros quadrados, o total da área. E, foi dividida em lotes, deu cento... Isso é o que eu me lembro da Cooperativa! Que ela foi constituída, se eu não me engano, em 1990 ou 91; entendeu? Durou entorno de 6 anos... 6, 7 anos, mais ou menos. Nós contribuímos durante cinco anos e três meses; todo mês; nosso compromisso, né? Foi durante cinco anos e três meses. E essa primeira área, foi dividida em 143 lotes, eu me lembro como se fosse hoje. É... havia a lei municipal, que impedia que os lotes tivessem menos de 180 metros quadrados; entendeu? De forma que deu 143... E o critério, foi reunir as pessoas, né, os associados – foi no Clube Cidade do Sol, aqui em Macaé, essa reunião – e fazer o sorteio, entendeu? “Quem ia cair em tal área?” Em tal lote, tal vila... dividido em vilas: A, B, C, D... entendeu? Acho que vai até o G, se não me engano. E eu, fui logo sorteada no primeiro (risos). Na vila B, eu lembro até hoje... lote 13. Vila B; fica... é, eu pego duas ruas: a Rua da Vila, interna à vila, e a Estrada Cancela Preta; entendeu? Essa Estrada Cancela Preta, é... do lado do bairro Cancela Preta, que eu acho que é o bairro mais valorizado que tem aqui. Essa área aqui dos Cavaleiros, conhece, onde estão sendo construídos esse hotéis aqui?
P – Não...
R – Pois é... Mas nós não podíamos sair da Cooperativa, nós tínhamos que continuar, prá continuar capitalizando a Cooperativa até atender todos, entendeu? Eles iriam continuar, comprando áreas, pesquisando, né? Porque a área não podia ser, assim, de herdeiro; tem toda aquela exigência legal prá se vender uma área, um terreno. Teve uma outra área também que lembro, que foi comprada aqui no Mirante da Lagoa, ao lado da escola técnica; sabe mais ou menos onde é?
P – Não.
R – Aqui do lado. Tem o Mirante da Lagoa; ali deu 212 lotes. Aquela primeira foram 143 lotes; e aqui... não, 227 lotes, essa outra. Então, os outros que foram comprados foram áreas menores, né? Prá 40 lotes, se não me engano, no Bairro da Glória; só, assim, área nobre, né? Onde encontraram isso aí. Então, é...
P – E como é nesse bairro? Porque a maioria são moradores...
R – Hum?
P – ...a maioria dos moradores trabalha na Petrobrás, então, nesse bairro...
R – Dos moradores?
P – É.
R – Aí eu não sei... Quando nós nos associamos, a exigência era que fossem empregados da Petrobrás; de Macaé; Bacia de Campos. Entendeu? Até entregar as escrituras... Agora, depois quem fez o quê com seu lote, se vendeu, se construiu, esse dado eu não tenho, entendeu? Eu construí. Com muito sacrifício, mas consegui fazer uma casinha lá; tô querendo até ampliar também, entendeu? Eles também fizeram os projetos, sujeito à aprovação na Prefeitura, os projetos das casas, né? Foi contratado acho que arquiteto... profissionais da área, com competência prá fazer isso, né? E tudo isso aí nós pagamos; nosso dinheiro serviu prá isso. Até os terrenos nós tivemos que pagar também, fora nossa contribuição. Claro que um preço bem menor, né, aquele preço de custo, né? Fomos beneficiados por ter sido adquirida uma área grande, entendeu? Não foi o preço, assim, de mercado, como praticado aqui fora, né, se você fosse comprar um terreno isolado; tivemos uma certa vantagem nisso, acredito. E fizeram as plantas, sujeito à aprovação pela Prefeitura também, que demorou um pouco. Na época não podia-se construir prédio, na cidade; existia lei municipal que regulava isso aí. Hoje pode, de uns tempos prá cá pode; cê tá vendo surgir prédios aí na cidade... Acho que tinha uma limitação de três ou quatro andares, de forma que o projeto lá ficou assim: ou uma casa simples, né, de um pavimento só; ou duplex, de dois a quatro quartos; com garagem... uma casa simples, prá atender as famílias, né? Dos petroleiros. E tinha também no projeto uma areazinha de lazer em cada vila, ia ficar tudo muito bonitinho, entendeu... (risos)
P – Aí num foi construído?
R - ...se chegasse até o final. Mas aí num... ficou na compra dos terrenos, todos os terrenos foram comprados; os 500 sócios iam receber seus terrenos; tinha área prá atender a todos. Em assembléia se decidiu aplicar o dinheiro – que sobrou, né? – e não devolver aos sócios; fazer a infra-estrutura, urbanizar o terreno; fazer a terraplenagem... né? Foi feito a obra da galeria pluvial, né, prá escoamento de água de chuva; calçamento, que se colocou paralelepípedo nas ruas todas das vilas; as ruas internas, né? Se fez a obra prá trazer a água, né? E toda aquela tramitação junto à Cedae, também; eles ficaram de frente até concluir a diretoria, né? Da luz, também, entendeu? A rede, passava bem próximo. Quando eu construí, pra mim ligar a luz lá em casa, a (serge?), aonde passava a rede, precisava fazer uma extensão de rede; eu precisei, junto com os meus vizinhos, né, proprietários de terreno, fazer uma extensão de rede: colocar mais dois postes prá poder chegar lá em casa, entendeu? Eu fui a terceira pessoa a construir nesse loteamento; nesse primeiro, de 60 mil metros quadrados, próximo ao Sesi.
P – Você foi morar, quando construiu a casa?
R – Fui.
P – Ah, é? E no bairro bem vazio, então?
R – Ãrran, bem vazio... Quer dizer, não tão vazio: já existia o Sesi... O Sesi é tipo o quê? Um clube, né? Tem piscina, tem... é uma área de lazer; lá tem cursos, também, do Senai; funciona à noite, tem restaurante. Mas, assim, entorno, não tinha nenhuma casa; nem iluminação à noite, postes na rua... Eu me considero uma pioneira naquela área. Agora tá valorizadíssima: um terreno ali você não compra por menos de cem mil, se encontrar. E na época eu vi terreno ali vendendo por nove mil, dez mil, seis mil, oito... entendeu? Cê vê como é que valorizou, né, a área? Fizeram condomínios de casa também próximos, fechados. Quer dizer, então eu, particularmente, acho interessante colocar num livro de memória da Bacia de Campos; porque a dificuldade prá se morar em Macaé é grande; muitos petroleiros hoje optam por cidades próximas, como Rio das Ostras, entendeu? Muitos vêm de Campos, também, todo dia vêm trabalhar de Campos. Agora, quem vem de São Paulo, do Nordeste, tem que morar de qualquer jeito, né? Ou de aluguel, ou comprar, ou... entendeu? Quem vem do Rio também já fica distante, né?
P – Mas como é hoje a cidade, você acha que oferece condições boas, assim, pros moradores?
R – Com relação a? Segurança?
P – É, Segurança, Educação, Saúde, enfim...
R – Quando eu cheguei aqui em Macaé, há mais de 20 anos, não tinha nem escola técnica; hoje nós temos escola técnica. Esses cursos universitários também, essa quantidade de cursos, também não existia. Esse ano foi inaugurado também um complexo universitário aqui em Macaé, na Linha Verde, entendeu? Além de outros, né? Convênios que fazem aí, com Fundação Getúlio Vargas, UFRJ, UFI e outras instituições. Aqui existia a FAFIMA, é lá no Centro da Cidade.
P – Essa faculdade...
R – Oferecia os cursos de Pedagogia e Letras; até hoje tem; essa quando eu cheguei tinha. Aqui era difícil você comprar até alimentos... Não é? Essa infra-estrutura assim de cidade... Bom, Macaé prá mim era uma cidade provinciana; sem shoppings, essa quantidade de supermercados, isso não existia; poucos, poucos existiam. E até hoje ela ainda tem um ar provinciano. Tem uma feirinha ali na cidade, toda quinta-feira; que vende artesanato, trabalho manual, umas comidinhas caseiras, entendeu? Toda quinta-feira tem isso, à tarde; naquela praça que fica em frente ao Banco do Brasil. Cê vai ao medico aqui em Macaé, dependendo de onde ele tá instalado, você é muito bem recebido. Sabe? As pessoas conversam com você, é diferente. Ela ainda tem aquele ar provinciano, entendeu? O que é muito bom, né? Com esse fenômeno que nós estamos vivendo, de mudança, né, em relação à Segurança, não é? Essa falta de valores, não é, que as pessoas estão enfrentando aí... Tá, bom, deu prá entender, alguma coisa? (risos)
P – Sim.
R – Ah, e com relação à construção da casa, eu vim pra Macaé com a minha bolsa de viagem; algumas roupas dentro e tal; de forma que, conseguir um terreno em Macaé, ser proprietária, construir uma casa, por mais simples, dentro de um projeto, né, prá mim foi uma grande vitória! Isso aí eu fiz com recurso que eu consegui dentro da Petrobrás; entendeu? Eu vi tudo! Eu vi construir a casa, eu contratei o pessoal pra construir, eu empreitei, eu negociei, eu virei uma pessoa, assim, de negócio também (riso); eu vi cavar as sapatas, encher as sapatas, entendeu? Fazia aquele cintamento dividindo os cômodos; levantar as paredes; colocar aquela cinta em volta da... né, prá colocar a laje; aqueles trabalhadores colocando a laje, né? Eu e uma outra pessoa, nós fomos – que me deu uma carona, que eu não tenho carro até hoje – fomos comprar lanche prá aquelas pessoas, entendeu, aquele operários; um bocado de homem, que não foi nem laje dessa que o carro coloca; feita assim no chão, eu vendo eles fazerem; pegando os baldinhos, levando, dois, três, assim, subindo nos andaimes prá... entendeu? Quer dizer... pena que eu num fotografei isso aí. Mas eu me senti uma vitoriosa. Aí quando colocou também o telhado, né? Tem a laje, tem o telhado... Pintou, _________, colocou piso, entendeu? Todas essas fases eu acompanhei, entendeu? Na casa... (riso) E eu me considero uma pessoa vitoriosa nesse ponto; quer dizer, uma coisa que você vê nascer e você vê que é possível, né, pessoas se juntarem e fazerem as coisas mesmo, com seus próprios recursos, entendeu? O exemplo tá aí. Acredito que a maioria daquelas pessoas não tinha o dinheiro sobrando, foi, assim, com um sacrifício, né? Cê deixava de comprar outras coisas, ou até uma roupa mesmo, prá você, um calçado, viajar, ou curtir melhor uma férias e tal, prá poder economizar, entendeu? Eu, por exemplo, eu pensava em fazer uma poupança, certo? Todo mês... De forma que quando eu recebi a minha escritura, o meu terreno, eu já tinha uma poupança prá iniciar uma obra, mas não prá fazer tudo. Também eu não sabia onde eu ia chegar, certo? Nessa época eu fui na Caixa Econômica Federal, ver se eu conseguia tirar o fundo de garantia prá obra; não podia prá construção nessa época; agora pode; agora pode prá tudo, né? Mas nessa época prá construção não podia; então, com aquele dinheiro eu não podia contar. Pedi na Fundação Petrus um empréstimo – nós podíamos tirar até, no máximo, três salários, básico, tirei – lancei mão de tudo o que eu podia; negociei férias – tinha uma vencida, outra já vencendo – peguei o Abono Pecuniário, aqueles dez dias que você vende, né, de cada férias; consegui com a minha gerencia tirar as outras férias, logo a seguir – não junto, mas com um espaço curto de tempo – prá não parar a obra, né, que eu empreitei a obra... Fui nas casas, nas lojas aqui de comércio, prá negociar, tentar, assim, um parcelamento. Já na fase do acabamento, né? O compromisso eu assumi com a mão-de-obra, o que eu empreitei; toda semana eu tinha que pagar “tanto”, entendeu? Por cada fase...
P – Vamos dar uma paradinha um minutinho?
R – Tá, já tá terminando.
P – Cê tá terminando?
R – Então chega. Deu prá entender já?
(troca de fita)
P – Só uma coisa que você tava falando que, de todo esses período, né, depois que conseguiu se organizar, prá fazer alguma coisa, né? Mas teve um período que não foi assim, né, você teve que morar em pensão, né? Como foi esse período?
R – A pensão?
P – É.
R – Na pensão eu fiquei duas semanas só. O que eu ia pagar lá, não ia dar prá mim pagar com o que eu ganhava, certo? Eu ia pagar, mas eu ia ficar muitíssimo apertada. E lá era uma pensão de homem, masculina. Ela fica ali do lado do Banco do Brasil. E então a moça lá, dona da pensão – ela herdou da mãe dela, né, a mãe dela faleceu e ela, o irmão dela e um filho garoto que ela tem que assumiram aquilo ali, né? Eu fiquei num quarto que ela alugou prá uma advogada; essa advogada é de Campos, ela tava de férias, mas depois que ela voltasse não tinha outro quarto prá ela me ceder, eu tinha, assim, tipo um mês prá resolver tudo! Entendeu? Porque o que tinha nessa pensão eram suítes, quartos coletivos, que ela preferia alugar para homem; homem é mais fácil; homem, por exemplo, vem lá do Nordeste, aí vai embarcar, aí ele pernoita se precisar e depois vai embora, entendeu? Agora, eu, como ia trabalhar em terra, no escritório administrativo, né, eu precisava de todo dia de ter um lugar, não é? E a finalidade lá daquela pensão não era essa.
P – E como você resolveu depois? Depois da pensão, prá onde cê foi?
R – Assim: todo dia, depois do expediente eu saia, procurava... Tinha outras pessoas também com esse mesmo problema, né? Porque nessa é poça a Petrobrás recrutou muita gente que veio de fora; tinha muita gente na cidade procurando, entendeu? Tanto transferência, como um local mais barato prá ficar, entendeu? Então... Eu fui ao Sindicato dos Petroleiros aqui da região e lá eu consegui um contato com uma pessoa da Petrobrás que, talvez, pudesse me indicar alguma coisa. Eu dei sorte, porque essa pessoa, acho que era responsável por um grupo, né, um setor, e nesse grupo tinha uma pessoa que veio de Campos e aonde ela tava tinha uma vaga no quarto (risos). Ela morava na casa de uma senhora, aqui no Bairro do Visconde de Araújo; e essa senhora, viúva, né, bem idosa mesmo, ela abriu a casa dela prá receber algumas pessoas, poucas também, né? E dentre essas pessoas, eu. Uma das primeiras perguntas que essa senhora me fez, é qual era minha religião. Aí eu falei: “Católica”, né? Sou católica, porque minha família é católica, eu fui batizada e tal; a referência que eu tenho de religião é essa. Aí ela falou que me aceitava, porque era Testemunha de Jeová, ela. Ela ainda falou assim: “O católico ainda tolero.” (risos) Cê entendeu? Quer dizer, ainda tem esse preconceito também com relação à outras religiões, né? Sei lá qual, a que ela tava se referindo. E aí eu me senti no Paraíso, né, porque embora não tivesse refeição – eu tinha que fazer as refeições fora – eu ia ter o quarto, dividindo com outra moça, né, da Petrobrás também; e banheiro, tudo direitinho, dentro da casa de uma pessoa, e tudo mobiliado, eu não ia precisar comprar mobília, nem tá sozinha, né? E com relação à refeição, também eu caí numa unidade da Petrobrás, lá em Cabiúnas, foi ande eu trabalhei em primeiro lugar, durante uns dois anos e três meses mais ou menos, fiquei lá; e lá tem refeitório, né, próprio da Empresa; e tinha também o café da manhã, certo? E todo final de mês uma festinha, que eles faziam prá todos, de aniversário; acho que prá integrar o pessoal também, coisa de Petrobrás, né, a Petrobrás tem muito isso. E continua tendo esse tipo de coisa, de reunir as pessoas, prá comemorar o aniversário, prá esse negócio.
P – Ótimo...
R – E nessa casa dessa senhora, eu dei sorte, porque, graças a Deus, era um ambiente saudável; ela, embora morasse sozinha, ela tinha família, uma família boa, uma família que me aceitou bem também, né? E ela mesmo falava prá mim: “Iolanda, você não precisa alugar outro lugar enquanto você não tiver sua casa”; própria, né, eu tava nessa cooperativa. E eu fiquei lá na casa dela durante nove anos. Nove anos... (risos)
P – E o que cê achou dessa iniciativa de entrevistar as pessoas prá conhecer a história da Bacia, e também da região, através da história de vida das pessoas?
R – Já te tinha dado essa sugestão prá uma colega que aposentou agora, há pouco tempo; não sei se ela procurou vocês. Sônia. Ela trabalhou 28 anos na Petrobrás, se aposentou agora, esse ano. Então quando ela escreveu o e-mail prá nós, se despedindo, né, dando o endereço dela, aquelas coisas, eu falei: “Sônia, por que você num escreve um livro, agora que você vai ter mais tempo, com as suas memórias na Petrobrás?” Né? Porque 28 anos é uma vida, né? E foi uma empresa que ela se identificou tanto, achou tão maravilhoso, na despedida, falando prá nós. E os discursos também, que ela fazia sobre essa empresa, entendeu? Que eu achei, que devia. Como também ela poderia reunir um grupo, né, de aposentados como ela, ou pessoas mais antigas, e fazer isso aí, tomar essa iniciativa. Logo, logo, surgiu isso aí. Passaram um e-mail prá nós dizendo que tinha essa... entendeu?
P – Muito bem.
R – Mais alguma pergunta?
P – Não, obrigado, viu Iolanda?
R – Satisfeito? Tá bom...
FINAL DA ENTREVISTA
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