Projeto Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Entrevistado por Larissa Rangel
Depoimento de Washington Luiz Rangel Gomes
Macaé 16/06/2008
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB405
Transcrito por Denise Yonamine
P/1 – Pra começar a entrevista gostaria de saber qual o seu nome ...Continuar leitura
Projeto Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Entrevistado por Larissa Rangel
Depoimento de Washington Luiz Rangel Gomes
Macaé 16/06/2008
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB405
Transcrito por Denise Yonamine
P/1 – Pra começar a entrevista gostaria de saber qual o seu nome completo, data e local de nascimento?
R – Washington Luiz Rangel Gomes, nasci dia 1º de janeiro de 1964, no Distrito de São João da Barra.
P/1 – E qual é a sua formação?
R – Eu tenho formação de Segundo Grau em eletrotécnica, sou eletrotécnico e tenho curso superior incompleto de Agronomia.
P/1 – E quando e como ingressou na Petrobras?
R – Entrei na Petrobras em 1º de março de 1984, eu fiz alguns concursos públicos na época, né, pra empresa e fui chamado em um desses que eu tinha passado e fui admitido no início de março então.
P/1 – E como foi esse dia?
R – Foi bastante expectativa, né, porque eu fiz a prova no final do ano anterior, ficamos aguardando resultado, verão e eu recebi a notícia eu tava na praia, né, com um tio meu, já falecido infelizmente, mas foi interessante porque ele veio gritando a margem da lagoa eu tava do outro lado e ele gritando que a ‘preta braba’ tinha mandado me chamar, eu não entendi nada, né? “’Preta braba’ tio?” “É, ‘preta braba’ lá de Macaé!” aí que eu fui entender, né, que eu passei no concurso da Petrobrás. Aí eu vim pra Macaé fiz, né, todo o processo de admissão, no dia 1º de março e integrado ao quadro da empresa.
P/1 – E qual era a sua função?
R – Naquela época? É uma história interessante, né, porque conta mais ou menos a história da evolução do quadro de técnico em operações, né, até hoje. Quando eu entrei, entrei como praticante de produção, naquela época era um nível assim até bastante baixo, né, pro plano de cargo-salário de hoje, entrei com nível oito, aí depois disso teve toda a evolução funcional, né, até chegar de hoje que é técnico de operações sênior.
P/1 – E essa profissão, essa função ainda existe, essa função?
R – Não, hoje não. Hoje pela definição atual do plano de cargo-salário você tem três escalas de avanço que seria: o técnico de operações júnior, quando você é admitido na empresa, depois técnico de operações pleno, e, depois, técnico de operações sênior que é o topo da carreira, né?
P/1 – E como era trabalhar nesse inicio em 1984?
R – Ah, eu acho que é mais ou menos a história, né, de todo mundo que foi admitido nessa época, a gente recém-formado de escola, é interessante esse registro, porque da minha turma, né, da antiga escola técnica federal de campos, hoje, (CEFET?) o sonho que o pessoal tinha naquela época era entrar pra Petrobras, né? Então pra você ver da minha turma, tirando as meninas, que na época não quiseram fazer prova, né, basicamente todos os alunos, né, da minha turma ingressaram na Petrobras naquela época, era bastante difícil, né, porque muito concorrido, mas a gente teve a satisfação aí de ser admitido e passar pra essa empresa.
P/1 – E como era o dia a dia no seu trabalho?
R – No inicio? No inicio era assim meio um misto de deslumbramento, de um certo receio porque era uma realidade assim bastante nova, a gente não tinha idéia de como que era o trabalho embarcado e no meu caso, né, isso foi na primeira hora, desde a primeira hora que a gente começou a embarcar e um susto, né, porque eu fui admitido no dia 1º de março, no dia 4 de março eu tava embarcado na plataforma da Bacia de Campos num projeto piloto na época que foi o Campo de Linguado, na extinta, né, antiga SS19, hoje P12, e era uma coisa totalmente diferente, tinha área industrial de grande porte, como eu falei, um misto de deslumbramento e medo, aquele receio do novo, era muita coisa, era o pioneirismo realmente, foi um pioneirismo dentro do processo de produção de petróleo na Bacia de Campos.
P/1 – E você sofreu algum trote quando foi pra plataforma?
R – Ah, isso (risos), não tem quem daquela época não tinha sofrido, né, tinha aquela coisa de pegar o alicate, de pegar a tesoura de cortar vidro, né, porque tinha que pegar a tocha, o isqueiro pra acender o queimador, tinha sempre essa história de assim esse pessoal que chegava a noite a gente chamava de borracha, os “borrachas” que chegavam sempre... era uma forma também interessante aquele quebra gelo de entrosar as pessoas, né, quando eu entrei na S19, antiga SS19, ela tinha recém chegado do Japão e a mão-de-obra era basicamente a mão-de-obra baiana que foi lá que começou toda essa história, né, Recôncavo que começou toda essa história do petróleo, mas a galera era muito boa e foi muito bom, o começo foi muito bom por essa receptividade, né, do pessoal.
P/1 – Então fale um pouco mais dessa receptividade sabendo que a plataforma, né, se concentra várias pessoas de várias regiões do Brasil, como é essa diversidade cultural?
R – Isso é uma das coisas muito interessante que a gente tem dentro da Petrobras, né, e esse início mostrou muito pra gente isso, eu trabalhava nessa plataforma, né, basicamente era mão-de-obra era baiana, o pessoal de perfuração, né, tinha muitos baianos lá e eu sempre costumo, né, lembrar dessa história, porque sempre que a gente ouve falar Bahia não, é um povo assim, aquela coisa malemolente, aquela coisa meio devagar e não foi isso que eu vi, né, eu tenho sempre essa referência muito positiva dos baianos, principalmente, porque a galera ralava e ralava duro, eu aprendi muita coisa com eles, né, mas além dos baianos a gente tinha, realmente, como você colocou, essa diversidade, né, tanto cultural quanto povos, línguas, quer dizer, havia muito isso, né? Muita mão-de-obra estrangeira também, além de no Brasil era praticamente assim do Oiapoque ao Chuí a gente encontrava gente, né, sempre de vários estados do Brasil e também de fora do país, né?
P/1 – Existia muita brincadeira?
R – Sempre teve, sempre teve, eu acho que uma das coisas que caracteriza bastante esse trabalho (offshore?) é exatamente esse desprendimento, esse bom humor do pessoal, né, a gente sempre encontrou muito isso em plataforma, no começo até mais, hoje até por questão da maior profissionalização, maior padronização de procedimento, do serviço, né, você perdeu até um pouco essa questão desse lado mais lúdico, mais engraçado e tal. Mas no começo, realmente, era assim a gente trabalhava muito, havia muito aquela questão não tinha esse cuidado que se tem hoje com a questão de normas, com a questão de segurança inclusive, né, apesar de haver, né, a preocupação com essas questões, mas não era uma coisa tão amarrada, tão assim mais profissional, mais procedimentada como é hoje. Então, quer dizer, essas brincadeiras era um diferencial realmente, era aquilo que dava aquele fôlego pra gente superar aquela questão dos 14 dias embarcado e todo aquele entorno envolvido, aquela pressão, do novo também, de estar numa coisa diferente, uma coisa que a gente nunca tinha visto, isso ajudou positivamente, né, pra gente conseguir vencer essas etapas.
P/1 – E como era ficar longe da família?
R – Difícil, difícil. No começo é, eu era solteiro, né, eu acho que mais ou menos como começa a história de todo mundo, mas logo depois eu me casei, na época eu já tava namorando, depois logo noivei, depois casei, né, constitui uma familia, é difícil, a gente tem várias histórias assim que a gente lembra, por exemplo, a história do primeiro filho que a gente não tava lá pra ver, então existe algumas coisas que realmente marcaram, né? Você ta longe da familia, longe daquelas pessoas que tinham mais contato com você, que você tinha aquele contado mais sentimento, que amava, aquelas pessoas que você mais ama, né? Mas o que ajudava a compensar era exatamente isso, que chegava na plataforma tinha aquela amizade também, quer dizer, era a nossa segunda casa, né, era a nossa segunda família e essa relação de reciprocidade, amizade, tal, ajudava muito nesse processo da gente ta longe da família, longe dos amigos, ajudava bastante.
P/1 – E nesses trinta anos de Bacia qual a diferença em termos de comunicação? Naquela época quando o senhor entrou em 1984 pra hoje?
R – Ah, é da água pro vinho, né, porque quando a gente entrou a gente dependia muito de contatos via rádio, a ligação telefônica era uma coisa assim de luxo na época, né, você tinha realmente muito pouco contato com o continente, era a nossa ilha particular lá, né, e o contato com o continente era sofrido, era difícil, muita gente querendo fazer esse contato, a própria comunicação era bastante difícil. Hoje não, hoje na verdade a Petrobras a gente pode dizer que é pioneira na área de telecomunicação, fibra ótica e tal, telefone, a facilidade hoje é, realmente, muito maior, a própria Petrobras se preocupou em fazer isso, em fazer essa ponte, ficar cada vez mais fácil entre os funcionários e sua familia e os ente querido, a própria comunicação profissional, a própria comunicação do trabalho, né, melhorou sensivelmente, a gente não tem hoje nenhum tipo de dificuldade pra poder reportar, né, o resultado do nosso trabalho e, isso é lógico, agiliza bastante o negócio, melhora muito, né, a questão do objetivo fim da companhia que é produzir petróleo.
P/1 – Em que período foi essa mudança?
R – Na verdade ela sempre veio acontecendo, foi uma coisa contínua, não foi uma coisa que a gente naturalmente se você conversar com alguém da comunicação institucional eles vão ter essas datas bem mais precisas pra te dar, mas pra gente lá, operador, o plataformista, quer dizer, o homem de sonda mesmo, o homem que trabalhava lá na plataforma, ou seja na produção, ou seja, na área de perfuração e completação isso foi acontecendo de forma paulatina, não houve assim, pelo menos que eu me lembre, um momento assim que a gente pudesse dizer “Olha, isso aqui foi um marco, a partir daqui melhorou substancialmente” foi um continuo, foi um crescendo.
P/1 – E qual foi o seu maior desafio?
R – Na verdade, a gente poderia reproduzir esse tempo embarcado, eu vou fazer 25 anos já embarcado, né, mais ou menos que se confundi com o próprio lema da Petrobras hoje, né, de que... o dia a dia na verdade é o nosso grande desafio, né, a produção dessa energia, né, de biocombustível é realmente um desafio a cada dia, a gente literalmente costuma dizer, né, a gente costuma matar um leão a cada dia é por aí mesmo, porque os desafios estão sempre acontecendo. Quando a gente pensa que transpôs uma barreira outra já se coloca e é isso, a própria história da Petrobras ela se confundi, o próprio lema da Petrobras se confundi com a vida e o dia a dia da gente, realmente o desafio sempre foi uma coisa presente na nossa vida.
P/1 – E o momento mais difícil dentro da Petrobras?
R – Olha, como funcionário eu diria que, como funcionário e brasileiro, uma pessoa que aprendeu a gostar e a amar essa empresa, eu penso que pra mim o momento mais difícil foi quando aconteceu todos aqueles rumores de privatização e tal, ali foi realmente complicado, porque eu não consigo ver essa empresa fora do contexto dela ser uma empresa pública, uma empresa com responsabilidade social, uma empresa que serve ao Brasil, então aquele período foi realmente um período difícil, foi um período pra pensar, muita luta também que essa possibilidade envolveu, né, mas a gente ta aí como empresa pública ainda e empresa que ta crescendo, mostrando que ela independente de ser pública ela pode ser produtiva e é, ela pode vencer os desafios, ela pode seguir em frente e isso que é importante.
P/1 – E pra você qual fase da produção da Bacia foi mais marcante? E por quê?
R – Ah, a gente teve várias fases marcantes, quando a gente conseguiu passar dos quinhentos mil barris, quando a gente conseguiu passar de um milhão de barris, agora a satisfação pra gente é quando a gente conseguir os dois milhões de barris, auto suficiência, é mais ou menos isso, né, como eu falei dos desafios a história da Petrobras ela vai se confundindo com a nossa própria história, vai se confundindo com a própria história do país, e cada marco desse que a gente consegue ultrapassar e alcançar é tanto uma vitória da empresa como é uma vitória pessoal nossa, como que a gente acredita que seja uma vitória também de todo o povo brasileiro.
P/1 – Em que momento você percebeu que a Bacia de Campos deu certo?
R – Na verdade desde sempre. A gente sempre acreditou nisso, né, a gente não veio pra essa história a passeio, né, a gente sempre acreditou nessa história, a gente sempre acreditou naqueles que estavam do nosso lado, nós sempre acreditamos, na verdade é isso, porque a vida em plataforma como eu acredito que seja toda a vida __________ também, a vida e a história da Petrobras, né, ela sempre foi pautada por esses desafios, então a cada desafio vencido a gente acreditava nessa história e quando a gente olhava pro lado a gente via pessoas que tinham esse mesmo comprometimento, esse mesmo compromisso e não tinha como dá errado, na verdade essa mão-de-obra maravilhosa da Petrobras, essa galera que ta sempre disposta a fazer acontecer não tem como dar errado.
P/1 – E como você descreveria quem é o trabalhador da Bacia de Campos?
R – Quem é o trabalhador? É um obstinado, é um vencedor, é um ser humano, como eu falei, faz acontecer, porque tem que fazer acontecer, tem determinadas situações em que a gente se sente, não seria bem encurralado, mas a gente se sente na situação de desafio tal e que o entendimento ali é, ó, nós é que temos que fazer a coisa dar certo, nós é que temos que fazer alguma coisa pra poder essa história continuar, né, e na verdade é isso, alguém, o grupo sempre fez com que isso acontecesse.
P/1 – Washington você comentou no inicio do seu trabalho aqui na Bacia, e agora qual é a sua função? Qual é o seu cotidiano?
R – É, atualmente eu trabalho no setor de serviço de poço o SPO – Serviço de Completação e Avaliação, especificamente na atividade de arame, é difícil até pras pessoas que estão lá fora entender, eu sempre digo isso, eu sempre tive uma grande dificuldade até em explicar pros meus parentes, pro meu filho que me pergunta, minha filha, a minha esposa “que que você faz?” é difícil muitas vezes porque as nossas atividades dentro do petróleo são tão especificas da indústria de petróleo que algumas coisas, principalmente nessa área de perfuração e completação tem muito pouco ou quase nenhuma similaridade com qualquer outra coisa que tenha lá fora, aí fica difícil realmente da gente explicar. Mas hoje se eu pudesse definir seria isso, eu trabalho na atividade de arame, basicamente enrolando e desenrolando arame que é uma bobina, né, de arame lá que você aciona através de um guincho hidráulico e de um motor e você coloca e tira equipamentos do poço, né, que a gente chama na fase de completação, possibilitando posteriormente a fase de produção que é quando o petróleo vai ser bombeado e pro navio ou pra refinaria, refinado pra ir pro tanque e nossos carros lá.
P/1 – E o que mudou na Bacia de Campos desde a sua entrada?
R – Nossa! Mudou da água pro vinho. Quando a gente chegou, quer dizer, a produção tinha começado há poucos anos atrás, começou lá em meados da década de 1970, né, e eram poucos poços ainda, eram poucas plataformas, hoje, literalmente, se a gente for fazer um sobrevôo na Bacia a gente vai ver que é uma cidade, né, aquilo respira, aquilo tem vida orgânica, né, a gente passa por ali as noites, as plataformas estão todas iluminadas parece uma cidade mesmo, então quer dizer, quando a gente começou era quase que uma luizinha aqui, outra lá, outra acolá.
P/1 – E em termos de equipamentos?
R- Também a tecnologia nesses últimos anos da indústria do petróleo aumentou muito, principalmente porque né, a Petrobras também desenvolveu muita tecnologia e não é a toa que nós somos pioneiros, né, na produção de águas profundas. Hoje a Petrobras ela detém o pioneirismo em várias áreas da produção de petróleo, então quer dizer, essa tecnologia mudou e mudou bastante.
P/1 – E como o senhor vê a Bacia no futuro?
R – Eu vejo a Petrobras cada vez mais alcançando as metas que ela se propõe, né, nós estamos produzindo aí hoje pouco mais de dois milhões e cem barris, acredito que daqui mais uns cinco anos, seis anos, dez anos a gente vai ta dobrando isso, nós temos notícias aí, né, a sociedade tem notícia e nós participamos dessas conquistas de que a gente ta cada vez mais descobrindo novos campos de petróleo, alcançando profundidade cada vez maiores e eu não tenho dúvida de que a tendência é a Petrobras se tornar realmente uma grande empresa, senão a maior, é o que a gente diz lá, né, a nossa meta de produção de hidrocarbonetos e também de energia. Hoje é a empresa que ta diversificando cada vez mais a sua atuação, não trabalhando somente com a possibilidade de descoberta de hidrocarboneto, mas difundindo, né, no ramo de energia.
P/1 – E o que é ser petroleiro?
R – Como eu defini anteriormente, petroleiro pra mim é um vencedor, é alguém que não só determina o objetivo, mas se determina também a alcançar, se determina transpor esse objetivo e fazer novos objetivos a partir daí. A gente tem muitos percalços, tem como todo ser humano tem, como toda profissão tem, a gente tem alguns reveses, tem lá alguns momentos de baixa imunológica, né, imunológica não no sentido biológico, mas no sentido próprio do trabalho, no sentido da vida, mas a empresa também ta sempre surpreendendo, sempre surpreendendo e a gente de certa forma ta fazendo isso acontecer, as próprias mudanças de Rh na companhia, a própria pesquisa de satisfação que eu acho que é uma ferramenta poderosa nessa correlação aí, então a empresa ta sempre surpreendendo positivamente e é isso.
P/1 – E o que o senhor achou de ter participado dessa entrevista contribuindo para o projeto Memóris dos trabalhadores da Bacia de Campos?
R – Acho importantíssimo, acho importantíssimo porque eu não entendo, né, nada que não revisite o seu passado ela tem perspectiva de futuro, eu acho que o passado é a história, são lições que tem que ser sempre revistas, sempre revisitadas, porque através dos acertos e erros desse passado e dessa história que a gente pode construir um futuro cada vez melhor.
P/1 – Obrigada.
R – Estamos aí.
(Fim da Entrevista)Recolher