Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de Haroldo José Siqueira da Igreja
Entrevistado por Márcia de Paiva
Macaé, 10 de junho de 2008
Realização Instituto Museu da Pessoa.net
Entrevista PETRO_CB389
Transcrito por Luísa Lima
P/1 – Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 –...Continuar leitura
Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de Haroldo José Siqueira da Igreja
Entrevistado por Márcia de Paiva
Macaé, 10 de junho de 2008
Realização Instituto Museu da Pessoa.net
Entrevista PETRO_CB389
Transcrito por Luísa Lima
P/1 – Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Pra gente começar a entrevista, pedimos que você nos diga seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome completo é Haroldo José Siqueira da Igreja, nasci em 30 do quatro de 51. Eu trabalho na (US-Sub?), na área de engenharia submarina.
P/1 – Só um minutinho, você nasceu em que cidade?
R – Em Belém do Pará.
P/1 – E trabalha no US-SUB?
R – Engenharia submarina, ancoragem.
P/1 – Ancoragem. Como é engenheiro?
R – Eu sou engenheiro de equipamentos sênior.
P/1 – Você ingressou na Petrobras quando?
R – Veja bem, como engenheiro eu entrei em 84. Mas antes de ser engenheiro eu trabalhei na Petrobras como técnico, com a opção de máquina da Marinha Mercante. A primeira vez que eu entrei foi em 72. Eu sou antigo na Petrobras.
P/1 – Você então, quando entrou, você trabalhava pra Marinha Mercante?
R – Posso contar a história?
P/1 – Pode.
R – Eu me formei oficial da Marinha Mercante pela Escola do Pará, onde eu nasci em 71. Qu7ando eu me formei a Petrobras foi lá apanhar todo o pessoal da minha turma, dez pessoas, pra trabalhar como oficial da Marinha Mercante. Então eu vim pro Rio de Janeiro já empregado pela Petrobras. Trabalhei na Petrobras como oficial da Marinha Mercante por um ano, um ano e meio aproximadamente. Depois pedindo permissão eu fui estudar engenharia.
P/1 – Você trabalhava na Transpetro?
R – Na Fronape. Depois, durante o curso de engenharia, eu ainda trabalhei na Petrobras algumas vezes como maquinista, né, como marítimo até me formar engenheiro. Quando eu me formei engenheiro, trabalhei pra uma empresa grande chamada Equipamentos de Vilares, onde eu tive a formação mecânica naval. Depois de aproximadamente uns três anos de formado foi que eu entrei para a Petrobras já como engenheiro mecânico, tá?
P/1 – Lá na Vilares você trabalhava também ligado à área de...
R – Ligado à área de mecânica naval, todo o tempo.
P/1 – Mas pra Petrobras também? A Vilares prestava serviços, era uma das...
R – A Vilares na verdade, ela era fabricante de motores marítimos, que abastecia os estaleiros e montava os motores das embarcações que iam trabalhar pra Petrobras, tanto navios quanto barcos offshore.
P/1 – E aí, quer dizer, então você chegou a trabalhar com barcos offshore, ligados à Bacia de Campos?
R – Sim, trabalhei já na Bacia de Campos, começamos com barcos como, por exemplo, o Nossa Senhora do Loreto, Nossa Senhora da Conceição. Eram barcos na época da Delba Marítima, tinha barco da Norsul também, tipo Norsul Macaé e alguns outros barcos parecidos, que eu não lembro o nome, que eram pra trabalhar na Bacia de Campos.
P/1 – Esses barcos eram pra perfuração, só pra gente entender...
R – É apoio marítimo...
P/1 – É apoio marítimo.
R – Apoio marítimo que a gente chama. Apoio marítimo é barco supply, né, na época. Praticamente no Brasil só se fabricava barco supply. Então se tinha barcos, por exemplo, de grande porte. Barco de grande porte trabalhando na Bacia de Campos geralmente só estrangeiros. Os primeiros barcos brasileiros eram suppliers.
P/1 – E você vinha com a Vilares pra Bacia também?
R – É o seguinte, eu era empregado da Vilares em São Bernardo do Campo, mas representava a Vilares no Rio de Janeiro. E toda vez que tinha problemas com os motores Vilares aqui na Bacia de Campos, no Porto aqui de Imbitiba, eu tinha que vir ver o que estava acontecendo pra tomar providências, né? Chamar a equipe de manutenção, de reparo que fosse necessária. Então a primeira vinda era a minha pra ver a situação do barco, né?
P/1 – E como foi essa passagem pra própria Petrobras?
R – A passagem foi o seguinte, depois que eu saí da Vilares, foi na época da crise da construção naval, começou a crise da construção naval. Não se vendia mais motores, não se fabricava mais embarcações, então tava começando a cair...
P/1 – No início da década de oitenta?
R – É, início da década de oitenta. Aí eu fui trabalhar numa empresa chamada (Marpetrol?) como gerente de treinamentos, gerente de treinamento. Eu era gerente de treinamentos nessa empresa quando a Petrobras começou a chamar as pessoas pra fazer prova de admissão. Eu fiz prova na Petrobras, passe e fui mandado pra Natal, Rio Grande do Norte, onde eu passei 12 anos lá. Foi um ano na Petrobras como gerente marítimo, já que a minha formação era toda essa, e após 12 anos lá em Natal, eu fui fazer mestrado em engenharia oceânica na USP. Depois do mestrado em engenharia oceânica, eu fui transferido pra Macaé de novo. Então eu vim pra Macaé, agora pela Petrobras.
P/1 – E aí você chaga aqui em Macaé quando?
R – Eu vim pra cá em 96, final de 96, início de 97. Então já pra atividade de transporte lá em Imbetiba, comecei lá em Imbetiba. Já conhecia o Porto, já conhecia a atividade. Passou um tempo, fiz umas obras lá no Porto, né, de renovação e depois de aproximadamente dois anos lá na (USTA?) na área de transportes, fui chamado pra trabalhar na engenharia submarina em função de meu mestrado na parte de engenharia oceânica.
P/1 – Só um minutinho, em Natal você também trabalhou na parte offshore? Porque também tem, né, lá no Rio Grande do Norte.
R – Sim. Nós tínhamos as jaquetas só que, veja bem, lá não é águas profundas. Não tem águas profundas, toda a atividade é em águas rasas. A maior lâmina d'água lá é em torno de 80 metros. A gente lançava a jaqueta até uma lâmina d'água de três metros e meio, pra você ter uma idéia. Três metros e meio, pra você ficar em pé e levantar a mão, já tá com a mão fora d'água. Então o desafio era conseguir colocar plataformas em águas rasas, totalmente diferente do desafio aqui na Bacia de Campos, que é voltado pra águas profundas. Você tem que ter grandes conhecimentos de pressões e tempo no fundo do mar.
P/1 – Dentro dessa sua trajetória, antes de trabalhar na Petrobras, você sempre manteve essa ligação, né? E essa ligação sempre fazia um charme pra você, te puxava? Como é que foi?
R – Da Petrobras?
P/1 – É.
R – Eu sempre...
P/1 – Ou foi ocasional? Como é que foi? Foi sua vontade ou a vida foi te encaminhando pra Petrobras?
R – Eu sempre tive uma ligação muito forte com a Petrobras...
P/1 – Por quê?
R – Eu considero até que visto a coisa até mais que muitos companheiros por causa dessa ligação. Meu pai foi um dos fundadores da Petrobras, né?
P/1 – Como é o nome do seu pai?
R – Manoel Raimundo da Igreja Filho. Eu tenho até hoje o diploma de 25 anos de Petrobras do meu pai em casa, guardado. Ele já morreu, faleceu há uns dez anos atrás. Meu pai foi uma das primeiras pessoas que trabalhou na Amazônia. Tem várias pessoas ainda na Petrobras que conhecem meu pai, conheceram meu pai.
P/1 – Ele era engenheiro ou geólogo?
R – Não, ele era assistente administrativo da Petrobras. Ele era formado em contabilidade. Naquela época não tinha economia, o curso de economia ainda não existia. Ele era técnico em contabilidade e trabalhava como assistente administrativo na Petrobras. Então ele, naquele tempo as sondas eram administradas todas no local da sonda mesmo. Não tinha o apoio onde você ia no escritório pra gerenciar a sonda, não. Toda a atividade administrativa era feita na própria sonda.
P/1 – Era local?
R – Era local. Pra você ter uma idéia, umas das coisas que a gente convivia quando era criança, que o meu pai falava muito, é que tinha que administrar desde o rancho da plataforma, até a compra de equipamento da própria sonda. Então, por exemplo, o almoço, a comida do pessoal da beira do rio lá no Amazonas, o ribeirinho chegava com o peixe de manhã cedo, ou então com galinha, ou então com o tracajá, aquelas coisas, e vendia na hora lá pra Petrobras. Mas o meu pai tinha dificuldade porque não podia pagar com dinheiro porque eles não queriam dinheiro. Eles queriam alguma coisa em troca, né? Geralmente enlatados, alguma coisa diferente pra eles, eles não queriam dinheiro. Então é uma coisa engraçada. Outra coisa, naquela época não tinha esse negócio de meio ambiente, controle do meio ambiente, então meu pai quando voltava pra casa de folga, eram oito meses no meio do mato e um mês em casa de folga. Então ele trazia aquele saco cheio de tracajá. Tinha uma piscina no quintal de casa que a gente largava os tracajás e nos finais de semana a gente fazia os tracajás com farofa, todos aqueles pratos...
P/1 – Trazia?
R – Não, no Pará.
P/1 – Não, não. O seu pai trazia...
R – Trazia vivo e a gente soltava num tanquezinho que tinha no quintal, a gente tinha uma piscina, e no final de semana pegava o tracajá que meu pai trazia do mato. Então tem história do início da carreira da Petrobras que tinha muita ligação com a minha infância. Eu acho que isso fez com que eu me aproximasse muito da Petrobras. Eu mesmo antes de entrar pra Petrobras tive oportunidade de ir pro exterior quando começou a crise da construção naval no Brasil. Mas realmente eu acho que o Brasil é um país que tem muita oportunidade e quando você vai pra fora, você é comparado com o indiano, com chinês, com japonês, você fica no mesmo nível de tratamento.
P/1 – E aí então quando você veio de Natal pra Macaé, você já veio trabalhar com a parte de equipamentos submarinos?
R – Não, não. Quando eu cheguei da USP em Macaé, eu já tinha mestrado em engenharia submarina, mas quem me convidou pra vir pra Macaé foi um engenheiro, o Carlos André, que era o gerente de transportes. Então ele me trouxe para a gerência de transportes, que era a mesma gerência que eu trabalhava lá em natal. Tinha algumas diferenças, claro. Que lá, por exemplo, no Nordeste não tem engenharia submarina. Quem dá apoio pra engenharia submarina é o pessoal de transportes. E devido a minha formação, mais ainda. Eu era uma pessoa que atuava muito, vamos dizer entre aspas, em engenharia de transportes e engenharia submarina lá no Nordeste porque não tinha engenharia submarina. E quando eu vim pra cá, de novo eu fui muito atraído pela engenharia submarina em função desse conhecimento que eu tinha lá do Nordeste da atividade naval.
P/1 – Essa passagem pra atividade de engenharia de submarinos foi em que ano mais ou menos?
R – Noventa e seis. Final de 96 e início de 97, né?
P/1 – Você está pegando também uma segunda fase de expansão muito grande, né? Como é que foi isso também?
R – Bem, pra mim foi muito bom mesmo no aspecto profissional. Eu vim pra Macaé numa época que estava crescendo novamente, que tinha passado pelo primeiro ciclo e estava no segundo ciclo. Então tinha muita atividade. Eu lembro na época que a Petrobras trouxe uns 60 engenheiros do Nordeste na mesma época que eu tirei o mestrado. Eu cheguei justamente com os 60 engenheiros aqui. Então tava precisando de gente aqui, o pessoal não queria sair do Nordeste pra vir pra cá porque a vida no Nordeste é uma vida que tem uma qualidade muito boa. E o crescimento em Macaé estava muito grande, você tinha que pagar aluguel muito alto, então o lado familiar tinha algumas dificuldade. Mas em termos de trabalho você tinha um crescimento imenso, você tinha liberdade para poder atuar da maneira que você achava que era conveniente. Essa liberdade faz com que você tenha uma motivação muito grande, então eu achei muito bom.
P/1 – Os grandes campos já estavam descobertos ou tava ainda nesse...
R – Não. O Roncador tinha sido descoberto, então havia uma tendência muito grande em apoiar o Roncador. Eu comecei fazendo um levantamento das condições de trabalho no Píer do Imbitiba, já que a minha tese de mestrado foi voltada para a Teoria de Fila de Markov. Então a gente tinha muita...
P/1 – Pode repetir? Teoria de?
R – Fila de Markov. É uma teoria de fila que mostra como é o atendimento, né, como é a chegada pro atendimento, principalmente da chegada das embarcações. Então a gente fia as embarcações no horizonte, via o píer, e via que o tempo de atendimento da embarcação no píer era muito grande e precisava melhorar. Então nós fizemos uma série de avaliações e essas avaliações mostravam que o nosso píer era de primeira geração offshore e nossas embarcações já estavam saindo da terceira offshore para ir para a quarta geração offshore. Ou seja, nossas embarcações eram modernas, grande e o nosso píer ainda era de primeira geração offshore. Nosso píer, por exemplo, tem 90 metros de comprimento e 15 metros de largura. Pra você ter uma idéia, nossas embarcações hoje têm quase 90 metros e embarcações especiais têm cerca de 90 metros de comprimento, ou seja, é até difícil você amarrar a embarcação no píer. A embarcação fica alta e o píer fica baixo. Tem uma séria de limitações porque o píer é antigo, então precisava fazer uma série de mudanças. É claro que as mudanças iam ter limitações por causa da própria situação do píer, porque não dava pra você derrubar o píer e fazer novos píeres. Os trabalhadores que trabalhavam lá no píer eram Petrobras e estavam numa faixa etária de 42 anos; para trabalhar na beira do cas, o ideal é uma faixa de 20 a 25 anos porque tem que ter porte físico, né? Então toda essa avaliação levou à contratação de uma empresa chamada BSM, né, que com treinamento maciço em segurança e movimentação de carga, de uma maneira geral voltada pra transportes, para praticamente o pessoal Petrobras se tornar supervisores sendo deslocados para outras atividades e o pessoal novo tomar à frente do serviço lá no píer de Imbitiba. Também, além do aspecto pessoal, tinha o aspecto de equipamentos hoje, guindastes da Petrobras tinham dificuldade de fazer manutenção, guindastes antigos. Então nós pedimos pra sucatear esses guindastes, eles deram lugar aos guindastes da própria BSM. No contrato já havia esses guindastes. Ao invés de ter só um guindaste por píer, teria dois guindastes por píer. Você otimizava operando os dois lados. Ou seja: dois guindastes por píer, equipe nova, os guindastes novos. Então isso deu uma vida maior para o píer, otimizou mais o atendimento. Agora, não é a solução ideal, a solução ideal é fazer a ampliação desse píer, fazer novos píeres. Só seis píeres não é o suficiente; hoje são seis píeres. São três píeres e cada píer tem dois berços no atendimento. Então são seis berços de atendimento. Então a saída é construir novos píeres. Naquela época não dava, porque nós estávamos ainda no governo Fernando Henrique, então tinha as questões políticas que não deixavam a gente criar novos píeres. Hoje nós já estamos com novos projetos...
P/1 – Perdão, só um minutinho.
R – Bem, como eu estava falando, o píer é de primeira geração offshore, já em mais de 25 anos de idade; as embarcações que nós estamos trabalhando são de quarta geração offshore. Então o ideal seria construir novos píeres, né? A política do Fernando Henrique na época era de terceirização e nós ficamos com medo de acontecer isso, uma atividade... Esse é o único píer que tem em Macaé, então sempre tem entidades que estão de olho no píer, vamos chamar assim. E a política de meio ambiente também dificulta de você fazer novas ações. A Petrobras tem uma dificuldade pra liberação de obras, é mais uma... Mas hoje eu acredito que as nossas gerências têm conseguido driblar esse problema e nós já temos projetos novos, nós temos projetos...
P/1 – Pra construção de um novo píer?
R – De construção de um novo píer lá em Ubú. Ubú é lá no Sul de Guarapari, uns 25 quilômetros ao Sul. Tem um terminal lá de uma empresa chamada São Marcos, de mineração. A parte de (Pelotas?) de ferro fundido. De um lado a Petrobras tem um projeto de fazer um terminal chamado Terminal de Ubú, que daria um upgrade, vamos dizer assim, nessa atividade de apoio às embarcações de apoio marítimo da bacia de Campos. A visão maior pro Norte da bacia de Campos.
P/1 – Essas embarcações que param aqui nesse píer de Imbitiba são embarcações de apoio? O que é que pára ali?
R – Pára todo tipo de embarcação, não tem distinção. É claro que nos seis píeres, nos seis berços, tem alguma distinção em termos de onde é melhor amarrar alguns tipos de embarcação. Então, por exemplo, o píer um é mais voltado para embarcações pequenas, lanchas de passageiros, desculpa, lancha de transporte de pequenos malotes, que a gente chama de expressinho, pequenas embarcações tipo mini-supply e até supplies pequenos também. Já o outro píer, lá no extremo, o píer três que é o mais pro mar, se atraca mais embarcações de grande porte, por exemplo, (HTS?), _________, _________. São barcos especiais pra fazer manuseio de âncora, justamente pra fazer aquelas instalações das linhas de ancoragem pra poder segurar a plataforma na posição, que é o nosso trabalho dentro da ancoragem.
P/1 – Mas você permaneceu trabalhando nessa parte ligado ao píer ou à parte de transportes ou...
R – Trabalhei lá durante dois anos até eu terminar essa obra que eu falei, essa melhoria. Depois que terminou essa melhoria, eu fui convidado pra vir pra engenharia submarina. A engenharia submarina estava precisando aumentar a estrutura, tava precisando de gente e o gerente geral na época me convidou pra vir pra engenharia submarina. Eu me senti honrado com o convite. O pessoal do transporte não gostou de eu ter saído de lá. Porque realmente, como eu falei, desde que eu cheguei na Petrobras que eu era totalmente voltado para os transportes. Então tenho muitos amigos lá, tem muita gente lá que me conhece, sabe quem eu sou, né? Então vir pra engenharia submarina seria uma mudança, pra eles seriam uma mudança. Pra mim não seria muita mudança, como eu falei, porque lá no Nordeste eu já trabalhava com as duas atividades. Tanto que pra mim foi a primeira plataforma em águas profundas no Nordeste lá em Aracaju, eu fui coordenador da instalação dela, eu conheço. Aracaju eu instalei a jaqueta de (PERO-3?), uma jaqueta pequena. Então antes de ____, eu tinha ido lá instalar uma jaqueta. Um dos elogios que eu tenho escrito da companhia foi em função da jaqueta da (PERO-3?).
P/1 – E aqui na Bacia você trabalhou ligado a que projetos também com equipamentos?
R – Aqui eu comecei com o projeto da P-36 iniciando. Logo que eu cheguei aqui, com dois meses eu já estava participando do processo de instalação da P-36. Eu contratei um (ROV?) pra colocar em um barco pra poder acompanhar a instalação do sistema de ancoragem da P-36. Depois trabalhei com muitas monobóias, a instalação de muitas monobóias, uma (M-3?), depois uma (SBM-2?), que foi no litoral norte capixaba. Então do afundamento da P-36 eu também participei, porque tinha uma série de detalhes que a gente tinha que participar como a possibilidade de tirar a plataforma antes dela ir pro fundo, com a permissão da seguradora de Londres. Então a gente tinha que passar e-mail pra seguradora em Londres pedindo autorização, mandando procedimento. A gente ficava acordado até 11 horas da noite, meia noite. No outro dia, cinco horas da manhã, a gente tinha que vir pra Petrobras porque tinha que pegar a resposta lá de Londres pra saber o que tinha que fazer, naquela correria pra tentar salvar a plataforma. Esse foi mais um elogio por escrito que eu ganhei que eu acho que não merecia porque nós não conseguimos salvar a plataforma que foi o nosso objetivo.
P/1 – E como é que foi trabalhar num momento, assim, de tensão, como todo mundo em cima?
R – Eu acho que nós da Petrobras já estamos acostumados. Os engenheiros, de uma maneira geral, da Petrobras já estão acostumados. Eu acho que trabalhar sob pressão não é nada diferente pra nós...
P/1 – Mas ali, com a questão do afundamento não tinha uma pressão maior? Como é que foi?
R – Sim, claro. A adrenalina era maior. Você estava trabalhando ali sabendo que tinha pessoas que tinham morrido, sabendo que a plataforma de repente poderia afundar, que não poderia colocar mais gente à bordo dela pra tentar fechar os orifícios que estavam entrando água, né? Uma série de providências, diversas providências que você tinha que tomar. Fora o aspecto legal, que você tinha que ter autorização da seguradora pra poder tirar a plataforma dali pra poder levar pra um lugar onde ela pudesse ser encalhada e com isso salvar a plataforma. Então tinha muitas coisas pra fazer e a pressão era muito grande porque não tinha tempo pra pensar, a gente tinha que agir realmente. E preocupados com o fuso horário porque em Londres são cinco horas de diferença. Então você tinha que acompanhar todo esse processo como se tivesse em Londres e ao mesmo tempo tendo que acompanhar a plataforma no dia a dia aí.
P/1 – Mas teria dado pra levar ela pra algum lugar, arrastar ela pra algum lugar?
R – Olha, é como eu falei pra você, sempre existe possibilidade técnica pra você fazer o que você quer. As dificuldades são maiores, legais, administrativas, por aí. Eu acho que é por aí. O homem já foi à lua, o homem já instalou plataforma a dois mil e quinhentos metros de profundidade, eu acho que tecnologia a gente tem pra fazer. Naquela época, o que é que a gente pensava? Liberar as linhas de ancoragem, liberar os raios rígidos, que os raios rígidos são tubos que você não tinha como cortar com o RV. Você tinha que pegar, colocar dinamite o riser pra ele explodir, estourar e romper. Só que a dinamite é controlada, você teria que ter todo um processo de instalação de dinamite. Imagina você trazer dinamite em grandes quantidades, embarcar essa dinamite, colocar em barcos com equipe de mergulho, com RV, conforme fosse o procedimento, instalar essa dinamite no riser e estourar tudo isso. Não seria uma coisa muito comum, muito fácil de fazer.
P/1 – Isso foi um grande desafio ou uma grande dificuldade?
R – Eu acho que desafio, eu acho que foi um grande desafio. Depois que aconteceu isso, claro, a gente tem as lições aprendidas, sabendo o que tem pra fazer ou não, mas isso faz parte não somente da Petrobras. Essa história... Nós tivemos há um ano atrás um barco chamado Bourbon Dolphin, esse barco é muito novo, moderno, não tinha nem dez anos de idade.
Ele afundou nas Ilhas Shetland, na costa da Escócia numa operação muito rotineira, parecida com as operações que a gente faz aqui. E o relatório desse afundamento, das causas desse afundamento, esse relatório tem mais de 200 páginas, ele saiu agora na internet. Se você analisar o relatório, você vai ver que tem muita coisa que sendo um país de primeiro mundo, você acredita que não deveria estar acontecendo lá, que poderia também salvar o barco. Que bastaria eles navegarem com o barco numa velocidade de três nós, quarenta horas até a costa, encalhar o barco e salvar o barco. Mas as definições devido a questões legais, questões de seguro, questões administrativas não permitiram que o barco saísse dali e fosse levado até águas rasas.
P/1 – Isso vale pra P-36 também?
R – Vale.
P/1 – Eu queria saber também, desde que você começou a ter contato com a Bacia de Campos, o que mais mudou, qual foi a grande diferença?
R – Eu acho que com a Internet, com o computador, eu acho que o trabalho ficou mais dinâmico. Antigamente, eu venho antes do computador, eu comecei a trabalhar antes do computador, então os prazos eram mais dilatados. Você trabalhava de uma forma que você pensava mais, que você refletia mais. Hoje os prazos não são dilatados, os prazos não são dilatados. Todos os projetos nossos são apertados em termos de prazo. Então isso é uma questão que mudou muito, eu acho que mudou muito por um lado pra melhor e por outro pra pior. Eu estou convicto que por um lado foi pra pior mesmo, mas faz parte que a humanidade não é só a Petrobras, não é só o Brasil, é toda a humanidade, com a globalização. Esse processo é maluco, hoje você manda um e-mail para um cara, quando você vai duas horas da madrugada lá no computador já tem a resposta. No mínimo você faz um levantamento, chegou em casa, tomou um banho e vai pro computador novamente e não foi dormir pra mandar aquele e-mail de volta, o retorno. Então você ver a dinâmica de hoje.
P/1 – Estão mais rápidas?
R – É estão mais rápidas.
P/1 – E a parte toda desse complexo aqui da Bacia de Campos, de quando você trabalhava com a Vilares, de quando você vinha fazer as visitas e pra quando você veio morar aqui definitivamente. Quando você voltou, qual foi a tua impressão?
R – A impressão é que houve uma mudança brutal na cidade. A cidade não era aquela que eu vinha. Na época que eu vinha trabalhar pela Vilares, eu ficava em hotel e depois voltava pra casa. Eu morava em Niterói, meu filho era recém nascido, né? Eu nem pensava morar em Macaé porque Macaé não tinha condições de você morar, era um lugarejo, uma cidade muito pequena. Já Niterói é uma cidade bonita, até hoje Niterói é uma cidade bonita para se viver. Então quando eu vim depois da minha época que eu passei em Natal, que eu vim pra Macaé, eu notei a diferença. Diferença pra melhor, a cidade tava maior, tava com muito movimento, era construção civil pra tudo que era lado, né? Agora tinha dificuldades, dificuldade de você conseguir moradia porque muita gente estava vindo, esta parte até hoje é complicada aqui.
P/1 – A estrutura da Petrobras também estava diferente?
R – Eu não conhecia muito a Petrobras antes. Eu tinha alguns amigos na Petrobras, né, que interagiram comigo: eu, pelo lado da contratada, e eles dentro da Petrobras. Eu tinha alguns amigos que conversavam e tudo... Engraçado que depois que eu entrei pra Petrobras, eu fui ser chefe de muitos deles, quer dizer, eles mais antigos de Petrobras do que eu e eu fui ser chefe deles, então engraçado isso. Mas a gente conversava muito naquela época que a Petrobras estava no começo, ainda mais nessa parte de apoio político, as embarcações construídas no Brasil eram pioneiras e ainda estavam começando, quer dizer, ainda tinha muita coisa pra melhorar. A tripulação dessas embarcações também eram pessoas com um nível de conhecimento ainda relativamente baixo pra importância da operação que tinha pra fazer na Bacia de Campos. É claro que se colocava muito a necessidade de melhorias, já naquela, há 30 anos trás quase, já se conversava de coisas que precisavam melhorar. Geralmente eram projetos de embarcações lá de fora, Mar do Norte, Golfo do México. Então eram embarcações que não tinham nossa visão, nosso perfil, né? Se você ver uma embarcação que trabalha na no Golfo do México, de primeira, segunda geração offshore, embarcações que trabalhavam em regiões de Pântano ali no Golfo do México, ali na costa da Luziânia. Embarcações que até praticamente iam encalhar na lama. E aqui não, aqui a gente já estava indo pra lâminas d'água de 200 metros, 250 metros e até mais. Então a gente queria embarcações que tivesse o nosso perfil. Então se discutia muito naquela época a necessidade de embarcações que não se via lá fora; hoje ainda se discute isso, porque ainda tem muitos projetos de embarcações que são voltados pro Golfo do México ou pro Mar do Norte, não tem o perfil da atividade nossa aqui. Já mudou, mas não totalmente, ainda tem muita coisa pra melhorar.
P/1 – Dessa parte de equipamentos, você falou que trabalha com a parte de ancoragem.
R – É, ancoragem.
P/1 – E tem algum projeto de desenvolvimento próprio da Petrobras que você destacaria?
R – Hoje a ancoragem tem uma gerência muito grande e com isso, como ela está muito bem estruturada, ela começa a receber pedidos de outras gerências até de dentro da própria (US-SUB?) pra ajudá-las no trabalho da própria gerência. Então, por exemplo, tem uma gerência que tem uma atribuição de fazer o lançamento de um determinado equipamento, mas que não é ancoragem. Mas como ela tem dificuldade de tocar esse projeto e nós estamos bem estruturados, temos barcos bem estruturados, aí eles pedem pra gente ajudar no projeto. A gente tem coordenado projetos, participado de projetos que não tem a cara da ancoragem. Mas por a ancoragem está bem agora, a gente tem recebido pedidos de outras gerências fora da (US-SUB?) pra ajudar.
P/1 – Me conta uma história marcante de seus anos de trabalho aqui na Bacia de Campos. Pode ser uma engraçada, uma que tenha te marcado, o que a sua memória selecionar.
R – De trabalho eu acho que o mais, eu não chamaria engraçado... Curioso foi lá no norte capixaba, lá no Espírito Santo, eu acho que foi um trabalho bastante interessante porque foi um trabalho que a gente tinha Fazenda Alegre e Fazenda Cedro, duas produções em terra de óleo pesado que precisavam montar pra produzir e escoar essa produção. O Chaves lá na Venezuela, na época que ele estava brigando com os Estados Unidos, há uns quatro, cinco anos atrás, teve uma greve muito grande lá na Venezuela e parou lá a produção de petróleo e com isso o óleo, que eles chamam de baixo __________, um óleo especial que vinha para (ASFOR?) lá em Fortaleza parou de vir, parou de ser importado pelo Brasil. Não tinha como, parou a produção de petróleo lá na Venezuela. Então houve uma determinação da gente tentar escoar a produção de Fazenda Cedro e Fazenda Alegre via terminal marítimo. Por que isso? Porque o óleo vinha de Fazenda Cedro e Fazenda Alegre via transporte terrestre, vinha nos caminhões tanque até numa cidade chamada Regência. Até Regência, ficava em tanques e dali embarcava em navios para dali ir pra a (ASFOR?). E passava 60 tanques desses caminhões tanques na BR101 e ali os acidentes tavam muitos altos e tudo, então eles tinham que correr, colocar uma monobóia em frente à Fazenda Cedro, ou seja não fazer mais o percurso terrestre, fazer só um percurso pequeno de três quilômetros até o percurso marítimo e fazer o escoamento da produção. Então esse projeto pra nós aqui é diferente, é interessante porque não são águas profundas, eram águas rasas, sei lá, 15 metros de profundidade só.
P/1 – Era o inverso.
R – É. Então o que é interessante na história é o seguinte: homens na Bacia de Campos produzem no mar e escoa para a terra, certo, em águas profundas; esse projeto era pra escoar de terra pro mar e era água rasa, totalmente diferente do que a gente estava acostumado a fazer (riso).
P/1 – Haroldo, como é que um projeto desses, distante de uma certa forma, vem parar na sua mão? Só para eu entender.
R – Porque as monobóias normalmente são equipamentos da Bacia de campos. No Brasil só tinha monobóia na Bacia de Campos e uma monobóia no Rio Grande do Sul, Não tinha monobóia em outro lugar, agora já tem mais, mas não tinha no litoral norte capixaba, lá no Espírito Santo. E know-how também nosso, principalmente em engenharia submarina, como eu falei, nós temos uma equipe de engenheiros muito boa que atua em várias atividades. Você consegue integrar várias atividades com um cara que é especialista realmente. Isso também é a grande sacada do atendimento a esses projetos.
P/1 – Tem algum projeto especial pra você, que tenha sido o projeto do coração?
R – Não, eu não tenho nenhum projeto, assim, especial da Bacia de campos. Todos os projetos que eu participei, P-38, P-40, P-50, _________, lá em Sergipe, são projetos que são muito interessantes, eu gostei bastante. Deram muito trabalho, mas foram bons projetos, não tem nenhum especial.
P/1 – Eles vão se modificando à medida que vão... Você deu uma série de "p(s)", aí, o último foi o 50?
R – Não, a última que eu participei foi a P-50, mas tem a P-51, P-53, continua, né?
P/1 – Mas são diferentes?
R – De ancoragem sempre são diferentes em função da lâmina d'água, inclinação do fundo, em função do solo, se o solo é duro, se o solo é mole.
P/1 – Retornando, Haroldo, você estava falando que cada projeto é diferente um do outro.
R – É. Um projeto de ancoragem, ele nunca é igual uma ao outro. As diferenças são, principalmente, o solo, o tipo de solo que vai influenciar naquela ação ________ torpedo, âncora; a inclinação desse solo que vai influenciar as linhas de ancoragem, o tamanho e comprimento dessas linhas; e o porte da plataforma, em função da alocação. Então sempre tem diferença, você não consegue nunca ter um projeto igual ao outro.
P/1 – E esses trabalhos são feitos em conjunto?
R – É, sempre são equipes: tem a equipe da ancoragem, tem a equipe da unidade, tem a equipe do pessoal da geologia marinha, do solo, que vai estudar e dar subsídios pra gente analisar o que a gente pode fazer no sistema da ancoragem. Então essas informações das diversas equipes vão alimentar o nosso processo pra gente ter condições de fazer o projeto que vai atender realmente a instalação daquela plataforma. Então cada plataforma é um estudo diferente.
P/1 – Agora a gente vai terminando a nossa entrevista. Eu queria perguntar se ficou alguma coisa que a gente não conversou aqui e que você gostaria de deixar registrado.
R – Não, não. Eu acho que deu pra ser bastante abrangente. Nós conversamos desde informações do meu passado, do meu passado, que foi uma história antiga da Petrobras, até o dia de hoje. Eu acho que foi bastante legal.
P/1 – Então tá, Haroldo. Eu queria agradecer por você ter vindo aqui e perguntar se você gostou de ter contribuído aqui pro projeto de memória.
R – Sim, eu achei positivo. Obrigado também a vocês.
P/1 – Obrigada, a gente que agradece a participação.
FINAL DA ENTREVISTA
(US-Sub?)
(Marpetrol?)
(USTA?)
(jaqueta?)
(pelotas?)
(HTS?)
(PERO-3?)
(ROV?)
(M-3?)
(SBM-2?)
(riser?)
(Douffe?)
(Borcu?)
(Chetwers?)
(US-SUB?)
(Cedro?)
(ASFOR?)Recolher