Projeto Memória dos trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de Landoaldo Cordeiro Almeida Junior
Entrevistada por Larissa Rangel
Local: Macaé/RJ
Dia: 05/06/2008
Realização Museu da Pessoa
PETRO_CB366
Transcrito por Ana Lúcia V. Queiroz
P/1 – Pra começar queria que você dissesse seu n...Continuar leitura
Projeto Memória dos trabalhadores da Bacia de Campos
Depoimento de Landoaldo Cordeiro Almeida Junior
Entrevistada por Larissa Rangel
Local: Macaé/RJ
Dia: 05/06/2008
Realização Museu da Pessoa
PETRO_CB366
Transcrito por Ana Lúcia V. Queiroz
P/1 – Pra começar queria que você dissesse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome completo é Landoaldo Cordeiro Almeida Junior e minha data de nascimento é 28 de novembro de 1965.
P/1 – Local de nascimento?
R – Eu nasci no bairro de Cambuci, São Paulo, capital.
P/1 – Quando você veio pra Bacia de Campos?
R – Eu ingressei na empresa através de concurso, pela parte de perfuração, na época, grupo de execução chamado (GPEIM?) em meados de 1985.
P/1 – Qual a sua formação?
R – Atualmente eu tenho curso em técnico em eletrônica, técnico em eletrotécnica. Fiz alguma coisa de tecnologia em processamento de dados. Também cheguei a cursar na Escola Politécnica engenharia de eletricidade. Infelizmente aqui não teve fcondições de prosseguir em Macaé. Mas o meu desejo é terminar o curso superior. E eu tenho ainda um curso de aperfeiçoamento em automação.
P/1 – Em que área está trabalhando atualmente?
R – Estou trabalhando atualmente na área de contratação de serviços, como fiscal de contrato.
P/1 – Descreva um pouco do seu cotidiano de trabalho.
R – A minha função atualmente é, junto com a gerencia de contratos, exercer fiscalização de contrato e fazer diversas correções no sistema que a gente tem no SAP. Que é o SAP aqui, dentro da empresa. Que houve uma evolução: eram vários sistemas e foi unificado pra esse sistema. Evolução de material e mão de obra de pessoal e fechamento de medições que ocorrem geralmente na final do mês. Temos medições parciais no mês, algumas vezes por semana, de diversos tipos de contratos.
P/1 – O senhor comentou sobre a evolução de material. Você poderia me dizer como se processou essa evolução?
R – Existia um processo no ambiente DOS chamado BDMBDC, que era um processo que era utilizado pra você fazer esse controle de pessoas, de mão de obra e de material. Era no ambiente DOS. Então, a empresa comprou o SAP e todos os sistemas que administravam percurso, treinamento, pagamento, contratos, entraram no sistema SAP. E SAP tem vários módulos: tem módulo de manutenção, tem módulo de materiais e equipamentos, módulo de financeiro, módulo de investimento.e todos os outros sistemas foram integrados e passaram a ser subsistemas no SAP.
P/1 – Qual foi o seu maior desafio? Que você enfrentou no seu trabalho?
R – A readaptação da condição de planejador, que eu tinha, para a condição mais burocrática. Que é em relação à fiscalização e gerenciamento de contratos.
P/1 – Qual a sua maior dificuldade?
R – Completar os meus estudos de ensino superior e resolver problema de obesidade, que no momento está me atrapalhando. Porque eu desejo futuramente retornar a plataforma e exercer embarque. Uma vez que eu não consegui aplicar a minha formação. Eu tinha uma formação quando ingressei na empresa, eletrotécnica, mas aí, eu melhorei essa formação pra me adequar a essas melhorias, ao avanço tecnológico das plataformas. Tive o cuidado de fazer um curso de eletrônica e um complemento aí, aperfeiçoamento em automação. Exatamente pra adaptação à automação de processos na evolução tecnológica nas plataformas.
P/1 – Você já viveu na plataforma?
R – Já vivi essa jornada de 14 por 14. E também cheguei a pegara um pouco da jornada de 14 por 21 também.
P/1 – E como foi o seu primeiro dia na plataforma?
R – Conhecer uma ilha de metal com diversos equipamentos e unidades. Muito ruído, muito barulho de máquinas. É conhecer as pessoas que estavam trabalhando. Verificar o óleo, o petróleo que está sendo produzido. O gás. Me inteirando dos processos. Antigamente muitos jargões em inglês, que o pessoal estava acostumado, eu não tinha o costume. Então eu tratei de fazer os aperfeiçoamentos que a empresa me possibilitava. Ainda tava no desenvolvimento de internet, de CDs, áudio visual. Mal tinha entrado na época de CD. Hoje em dia você tem cursos online. Naquela época não tinha nada disso. Estava muito cru, de escola técnica mesmo.
P/1 – E havia uma dificuldade lá?
R – É, dificuldade de entendimento, principalmente porque a literatura era toda em inglês, Frances, alemão. E você não tinha as traduções necessárias quando Havia necessidade nos processos de você ter um maior entendimento. O que gerava dificuldade na hora de fazer tanto a manutenção quanto a operação. Porque as unidades dependem de grupos geradores, que podem ser a Diesel ou a gás. Gerador e compressor.
P/1 – Qual o momento que mais te marcou nesses anos todos aqui na Bacia?
R – Foi o Collor. Eu fui um dos demitidos do Plano Collor.
P/1 – Poderia falar um pouco mais desse momento?
R – A empresa em 1994 reintegrou a gente. Mas em 1989, se não me engano foi isso, 1989, 1990, teve esse período do Collor que ele colocou em disponibilidade, demitiu diversas pessoas, funcionários públicos com estabilidade. Muita gente não agüentou esse período fora e veio a falecer. Teve algumas pessoas que falecera. Houve reintegração na época do Itamar e foi readaptando as condições. Na época tava embaçado. Eu fui desembarcado, desimplantado, quer dizer, você tem uma diferença relativamente grande, do pessoal que trabalha na área administrativa, num regime especial 14 por 14 da época. Ainda não havia sido implantado 14 por 21. E depois eu fui, a partir de 1994, eu fui me adaptando e testando as possibilidades de retornar a a embarcar. Eu entrei na empresa como eletricista, sendo que a empresa cobrou da gente a formação técnica em escola técnica. Mas depois de 20 anos que eu consegui ira à técnico de manutenção dentro da empresa.
P/1 – Dentro desse universo da plataforma. Você poderia me contar alguma história interessante, engraçada, que aconteceu com você? Entre os amigos?
R – Sob os holofotes não dá, não vai sair. Teria que penar, refletir um pouquinho, à noite sobre isso aí, e escrever isso por e mail, porque não sai o negócio imediato, não. Preciso de um tempinho pra relembrar.
P/1 – Alguma curiosidade, você poderia me dizer?
R – Outro fato marcante PE que eu presenciei uma morte na plataforma. A pessoa caiu e o corpo não foi resgatado. Isso aí foi em (Enxova?). E presenciei também um dos últimos incêndios perto de (Enxova?). Uma plataforma submersiva P7, Campo de (Bicudo?). Também presenciei, me marcou. Aquelas labaredas e os rebocadores fazendo a neblina. Foram vários e vários dias queimando.
P/1 – Muito medo nesse momento.
R – Apreensão porque nós tínhamos condições parecidas. Se você tem todos os elementos pra ocorrer incêndio e as plataformas, a manutenção era precária. A prioridade na época era produção a todo custo. Não havia responsabilidade social, nem ambiental, nem segurança, nada disso. A segurança era muito pífia, precária.
P/1 – Qual era essa época?
R – Foi na época Collor, Itamar, Fernando Henrique. Toda a época do Fernando Henrique. Depois houve uma boa melhoria, valorização. No segundo mandato já começou a conscientização pra certificação em segurança, meio ambiente e saúde. Aí houve uma mudança de visão gerencial dentro da empresa.
P/1 – A empresa se tornou muito mais internacionalizada.
R – Ela mudou um pouquinho o foco da produção a todo custo pra produzir desde que seja com segurança. Então, se preocupar com o trabalhador.
P/1 – Nesse momento você se sentiu mais valorizado?
R – Nesse sentido. Agora financeiramente, monetariamente, não. Não houve valorização. Só recentemente, no governo Lula, é que estamos recuperando a depreciação desde a época do Figueiredo, desde a época militar. Em relação ao mercado de trabalho. Em relação às grandes companhias de petróleo internacionais: EXOM, MOBIL, TEXACO, SHELL, e aí vai.
P/1 – E como o senhor vê a Bacia no futuro?
R – O foco da empresa é energia. Algum tempo atrás era óleo petróleo e derivados. Não era óleo e gás, gás fazia parte desses derivados. Anos 1950 até meados de 1970, 1980. A partir dos anos 1980 a visão de energia foi sendo incorporada à empresa. Eu penso que para a sobrevivência da empresa não é o suficiente. Se a empresa deseja sobreviver, os combustíveis alternativos e a escassez progressiva do óleo, do produto que não é renovável. Ainda não existe uma tecnologia que faça ser possível haver uma renovação. Então, nessa hipótese, pra esse século ainda de 2000 a 2100, tem que estabelecer um parâmetro. Eu creio que você vai ter o petróleo subindo cada vez mais e o esforço das energias alternativas crescendo, como o caso dos bicombustíveis agora, e o etanol, como combustível. Enfim, como se tirar de algumas coisas que são alimentícias outras não. Então acredito que isso aí deve haver um bom desenvolvimento como alternativa à esse preço exorbitante do petróleo num determinado momento. Como a gente atingiu a auto suficiência, a gente conseguiu bloquear esse aumento absurdo do petróleo. Se fosse o governo anterior provavelmente não iria bloquear. Nós estaríamos com uma inflação violenta agora, nesse cenário aí. E não sei quando seria debelada. Talvez tivesse que fazer um negócio violento como um congelamento, assim. Não seria essa inflaçãozinha que o pessoal está gritando aí. Se não fosse essa segurada que o governo está dando agora. Estou falando do cenário recente, para falar do cenário futuro. Se não fosse isso aí provavelmente a gente estaria um caos de inflação de novo. Então, a auto-suficiência em ordem tem segurado o preço da gasolina, do gás de cozinha, e aí vai. Mas infelizmente não no setor de alimento e nem aço. Porque aí a empresa não tem como interferir. Por enquanto. Aí, como eu desejo que ela sobreviva, essa é a minha intenção para o futuro, eu gostaria que ela não ficasse restrita a visão de energia. A energia que move a nossa gente, alguma coisa assim. Não ficar nisso não. Partir também para a água, através de parcerias público-privadas. Ver se consegue vingar nesse governo, que não sei se no outro governo vai continuar isso. Aí já é um cenário mais pra frente um pouquinho. E pegar todas as concessionárias de água, porque a Eletrobras, as concessionárias de energia. É mais difícil. Mas as de água, não. Nós temos um aqüífero imenso, que é o aquífero guarani, muito utilizado. A empresa tem condições de gerenciar isso com as concessionárias estaduais e as municipais. A água é um em muito importante. Povos, as nações vão se matar por causa de água. Então, a empresa além de gerenciar o óleo ela tem condições de gerenciar a água.
P/1 – É uma visão de futuro?
R – É uma visão de futuro que eu gostaria que a alta administração tivesse. Eu tenho entrado em contato em alguns de diretores informalmente. Eu não fui formalmente pra responsáveis da área. Pelo que eu entendi os responsáveis da área são diretores relativos a segurança, meio ambiente e saúde. Mas isso aí seria o plano estratégico da empresa. Ela não ficar limitada à visão de energia. Tudo bem que ela pode abandonar a visão de óleo, porque pé um produto não renovável, haverá escassez. E a água tem que haver gerencialmente principalmente por causa da poluição. É uma coisa que a empresa tem que dar o exemplo contrário. Em vez de ser classificada como poluidora ela pode exercer o papel contrario. Controlar essa poluição e reverter pra população. E até exportar essa água, desde que saiba gerenciar. Eu acredito que ela tem capacidade pra isso.
P/1 – Landoaldo, só pra finalizar, o que o senhor achou de ter participado dessa entrevista, contribuindo pro projeto Memória dos Trabalhadores?
R – Eu penso que a memória da PETROBRAS deve ser resgatada pra você aplicar no futuro. Você pega tanto os erros quanto os acertos do passado pra você aplicar no futuro. E que sempre tem que se conservar a idéia do ___, a melhoria contínua. Mas você não pode ignorar o passado, apesar de ter uma cultura pra quebra de paradigmas que dê uma idéia que você deve ignorar o passado. Ele não deve ser ignorado. Você deve aprender com ele.
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