Projeto Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Entrevistado por Cláudia Fonseca
Depoimento de Jairo Rodrigues
Macaé 04/06/2008
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB350
Transcrito por Denise Yonamine
P/1 – Jairo queria começar a entrevista com você nos dizendo seu nome comp...Continuar leitura
Projeto Memória dos Trabalhadores da Bacia de Campos
Entrevistado por Cláudia Fonseca
Depoimento de Jairo Rodrigues
Macaé 04/06/2008
Realização Museu da Pessoa
Depoimento PETRO_CB350
Transcrito por Denise Yonamine
P/1 – Jairo queria começar a entrevista com você nos dizendo seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Jairo Rodrigues, nasci dia 18 de Julho de 1959, no Méier, Rio de Janeiro.
P/1 – E você entrou quando na Petrobras?
R – Eu tive o prazer de entrar nessa empresa dia 09 de novembro de 1984.
P/1 – Você fez um concurso Jairo?
R – Passei pelo concurso com bastante candidatos na época, ainda feito pelo Rio de Janeiro que Macaé ainda não tinha estrutura pra concursos grandes e aí passei, fui colocado e fui passando as etapas e fui admitido pelo Rio de Janeiro pra trabalhar na Bacia de Campos, especificamente.
P/1 – Em que função?
R – Na função de técnico de enfermagem do trabalho.
P/1 – O concurso então ele foi específico já pra técnico e já vir aqui pra...?
R – Especifico, é, na realidade na época eles faziam concurso pra auxiliar de enfermagem do trabalho e, depois o conselho regional modificou essa categoria e ela foi oficializada como técnico em enfermagem do trabalho.
P/1 – E daí você mudou pra Macaé?
R – Aí eu comecei embarcando eu fiz o meu primeiro embarque em janeiro de... eu entrei em 1984, 1985 eu fiz o meu primeiro embarque na (PNO2?), a Petrobras estava contratando uma mão-de-obra pra substituir uma mão-de-obra terceirizada na época e eu comecei o meu embarque, aí eu fiquei de 1985 a 1995 trabalhando embarcado e morando no Rio, eu morava em Nova Iguaçu, e de 1995 que eu procurei uma transferência e vim trabalhar em Macaé aí eu comecei a morar em Macaé, de 1995 até hoje.
P/1 – Houve um treinamento específico antes de você embarcar?
R – Não, não, houve um treinamento, a Petrobras tem uma característica de pra embarcar uma pessoa pra ficar, principalmente, na função que eu exercia, o único técnico cuidando de mais de duzentas pessoas, 24 horas por dia, precisa de um embasamento e eu tive a felicidade de participar da primeira turma que fez a monitoria de primeiro socorros na Cruz Vermelha, uma parceria da Petrobras, em 1984 mesmo, fui admitido em 1984, em novembro, em dezembro eu entrei numa turma e tive essa feliz oportunidade de melhorar meu currículo, meu conhecimento de emergência e ali a gente passou, inclusive, a multiplicar essa informação sendo palestrante de primeiros socorros a bordo, porque a Petrobrás entendia que ficar a bordo precisa ter uma qualificação diferenciada, não adianta depender de um técnico de enfermagem pra fazer todas as funções na hora de uma emergência e essa emergência se dá, as vezes, em dois, três, quatro, cinco vítimas, simultaneamente! As operações têm proporção pra isso e aí ela entendeu isso e a gente trabalhou, tive essa oportunidade de já começar na empresa com essa qualificação que ela foi dando, fora os cursos hoje com esse tempo de empresa, a qualificação da empresa, o que ela investe em treinamento faz que a gente tenha resposta pra diversas situações dentro da nossa função.
P/1 – Jairo você lembra do seu primeiro dia de embarcado?
R – Ah, lembro, lembro.
P/1 – Como é que foi? Conta?
R – Foi um dia que a gente entra sem conhecimento, né, por mais que a gente faça treinamento, mas tive um apoio muito grande, fui muito recebido, bem recebido pelo pessoal a bordo, o gerente, a gente sobe com uma carta na época Dr. Madeira era o chefe da unidade aqui de terra, recomenda a gente, a gente chega. Agora é muita novidade pra você se estabelecer, né, leva um tempo ainda pra você tomar conta da grandiosidade que era embarcar e responder pela saúde a bordo de uma série de empregados contratados Petrobrás.
P/1 – Mas você ficou nervoso?
R – Muito..
P/1 – Você era muito jovem, né?
R – Muito jovem, tinha 26 anos, mais ou menos, 24 anos.
P/1 – Então voar já foi...?
R – Já foi um grande desafio! O próprio treinamento, pular de três metros, seis metros de altura com colete, tudo isso que antecede o embarque já era um grande desafio, mas eu acho que esse não era o emprego normal, já percebia que as possibilidades e o que a empresa faria de proporções, porque como ela investe na pessoa eu já estava sabendo que tava entrando numa grande empresa e que a minha carreira estaria segura e a minha familia também.
P/1 – E você hoje, atualmente, qual é a sua função?
R – Hoje eu fui, vamos dizer assim, abençoado de ta fazendo parte, quando eu desci, passei a não embarcar mais eu vim fazer parte de uma outra grande equipe, que é uma equipe considerada, hoje, a equipe do resgate aeromédico da Petrobras, ou seja, todas as vezes que um paciente a bordo, passa mal, empregado e ele tem uma doença que tira a capacidade dele sentar numa aeronave e poder se defender de uma queda da aeronave, ele tem que vim através de um vôo especial, deitado com uma equipe médica e eu passei a fazer parte dessa grande equipe, a partir que eu vim de 1995. Em 1995 assim que eu desci, já passei a fazer parte como coringa, e depois consegui uma vaga no turno, um turno de revezamento, 24 horas, e aí isso foi um engrandecimento muito grande pra minha função.
P/1 – São várias equipes desse resgate?
R – É nós temos a cada oito horas, nós tínhamos um técnico de enfermagem e um médico, hoje a situação está melhor até, nós tivemos uma melhoria na escala, e hoje, a Petrobras ela estabeleceu a partir de 1º de novembro de 1987, nós passamos a trabalhar dentro do aeroporto, ou seja, nós estamos próximos da aeronave com uma resposta muito mais rápida pro resgate, com médico 24 horas a disposição tanto ele atende as consultas, as orientações médicas, como ele faz o vôo e, também, a Petrobras dotou essa equipe de algumas ferramentas como telecárdio, que a gente faz hoje um eletro a distância, ele vai pra São Paulo ele é feito uma avaliação pelo profissional, o laudo chega pro médico em 15 minutos, nós temos a troponina que dosa a enzima pra dores, dores no peito que a gente tem alguma suspeita de ser alguma coisa cardiológica a Petrobras também muniu a gente com essa ferramenta e a questão da vídeo conferência, nós hoje temos uma situação que é muito superior a minha época, que essa foi a evolução que a carreira e a função foi desenvolvendo, em que o médico fala com o doente, um técnico de enfermagem a distância e ali estabelece padrões de tratamento, de terapêutica e até mesmo a retirada dele o mais rápido possível.
P/1 – Quer dizer que no teu cotidiano fica essa equipe monitorando por meio de vídeo...?
R – Monitorando a saúde através dos técnicos de enfermagem, o tempo todo, 24 horas, seja de dia, de noite, a hora que o empregado a bordo sofrer qualquer interrupção da tua saúde normal o técnico de enfermagem liga, ele tem um médico à disposição pra informar ele...
P/1 – O técnico que...?
R – O técnico que ta a bordo?
P/1 - .. que ta a bordo?
R – Hoje a grande parceria, o pilar de sustentação é o técnico a bordo com médico a distância e eu ajudo o médico nos vôos, então essa parceria que faz com que hoje a gente tenha índice bastante satisfatório de desembarque, de tratamento, que recuperam a saúde durante o período de embarque e outros que o médico julgar necessário desce no vôo de aproveitamento, que não é a gente que faz, mas é a gente que solicita e quando a saúde dele ta acometida de algum risco, em que ele não pode vir numa aeronave se defender de qualquer risco dentro do vôo, ele é desembarcado por nós. E os acidentes normais de grande proporção, de média intensidade também nós retiramos uma pessoa de lá...?
P/1 – Ele se comunica por rádio...?
R – Ramal, ramal único e exclusivo pra isso 17979.
P/1 – Ta, ninguém usa esse ramal?
R
-Ninguem usa esse ramal a não ser os técnicos de enfermagem que ta
ligado com o médico, né, é um veiculo de comunicação único pra ele.
P/1 – Ta certo. E Jairo, me conta um momento assim muito crítico, uma coisa que te marcou muito, uma situação?
R – Uma situação que eu passei de bastante risco foi quando a gente foi fazer um resgate num navio da (Afronape?) que esse navio não possuía, como alguns não possui heliponto, a aeronave nós tivemos que o médico descer num guincho, era uma amputação de perna total, amputação total, não foi possível nem trazer a outra parte pra nem pensar num reimplante que era muito difícil também na época, mas a gente tirou esse paciente com vida e entregou dentro do hospital e, nesse evento, a gente percebeu a grandiosidade e a necessidade de poder fazer esse, realmente, foi o de maior risco, eu fiquei dentro da aeronave com o médico, depois ajudei o médico a entrar, recebi o paciente e foi uma operação de risco pra todo mundo, aonde a vida ali foi a prioridade numero um, a gente só enxergava a necessidade de tirar aquele homem com vida e foi isso que foi feito.
P/1 – E você lembra que época foi isso?
R – Isso já faz mais ou menos oito anos, mais ou menos.
P/1 – Oito anos! Ta. Mas aí você conta também uma situação de alegria, porque vocês recuperaram, mas tem uma outra de alegria que seja assim, que você ficou muito satisfeito?
R – Alegria, que a gente vê hoje, uma coisa que marca muito a gente, que faz esse tipo de trabalho é quando você vai fazer um vôo noturno. O vôo noturno tem os riscos naturais, mas ele quando você chega na plataforma, o que marca muito a gente é você vê todos aqueles que tão de folga eles fazem um corredor humano e eles olham com a gente, assim pro nosso rosto, pro do médico, muito obrigado por você terem corrido o risco de vida, e poder ter vindo a noite tirar o nosso companheiro que ta sofrendo, eu acho que esse é o momento que a gente vê muita necessidade de fazer isso.
P/1 – Isso é totalmente espontâneo?
R – É.
P/1 – Que bacana! Que coisa bacana! Então é uma satisfação, né, essa sua profissão, apesar de...
R – É muita. Como eu já tive no mar, eu sei, a gente tem, todos os colegas que trabalham com a gente no turno, a maioria deles passaram pelo mar, então a gente sabe o quanto aquele colega deve ta sofrendo, com aquela situação e sabe da importância da resposta de levar o médico dez horas da noite, onze horas, uma hora da manhã, duas horas pra que ele possa intervir pra evitar que esse paciente tenha seqüelas graves e levar ele pra um ambiente hospitalar o mais rápido possível. Então isso prova que a Petrobras, além de cuidar da produção de óleo ter esse grande evento que ela é, essa importância que ela tem no Brasil e fora do Brasil, ela também busca cuidar da saúde do trabalhador da melhor maneira, inclusive, a nossa situação ela não se restringe a plataforma, se tiver um pescador, se tiver alguém da marinha, já houve caso de um helicóptero da marinha cair, eu fui também participar de uma queda do helicóptero uma vez, em 2004, em julho, e ali você vê, chega aquelas pessoas tudo na enfermaria e você poder levar um alento numa resposta rápida, isso é um prazer que ta fora de uma questão de salário, de profissão é uma resposta fantástica participar de um grupo desse, então tem muitas experiências boas que a gente viveu, e nós não temos uma história de óbito dentro da aeronave, a gente sempre faz. E o técnico de enfermagem do mar hoje pra mim é o homem pra mim de excelente desenvoltura que é o que prepara o ambiente pra gente chegar e quando a cena ta muito difícil, a gente ainda conta com o apoio de voluntários que é socorrista voluntários treinados por ele, então a gente acredita que tem condição de responder a muitos eventos como já respondeu. Porque o resgate faz 20 anos, já fez 20 anos em 2007, ele começou em março de 1987, em 2007 ele fez 20 anos, já ta indo pra 21, já passou de 21 e há sete meses nós estamos próximo da aeronave, dando uma resposta muito mais rápida que a gente dava antes, porque a gente ficava aqui na base e perdia um certo tempo, mas hoje isso a Petrobras já resolveu também.
P/1 – Jairo o que é ser petroleiro?
R – Olha, ser petroleiro antes de tudo é defender o país, é como se a gente tivesse uma missão pro povo brasileiro, é você trabalhar numa empresa que faz um serviço social brilhante, é minha familia, tranqüilidade pra mim, pro meu filho, pra minha filha, é poder dizer que todos os meses eu vou poder ter o alimento em casa, que nunca atrasa pagamento, é uma empresa que valoriza a sua força de trabalho. E ser petroleiro é a minha familia, meus parentes, todo mundo que conhece, que me conhece valoriza a empresa, a empresa tem uma imagem muito forte dentro do país, então ser petroleiro hoje é alguém que defende os interesses do Brasil.
P/1
- O que você acha, Jairo, do projeto memória, de ouvir as pessoas como você com histórias tão bonitas?
R – Eu acho que valoriza a gente como empregado, que começamos isso tudo, eu já encontrei alguma coisa, mas numa época que a gente fazia tudo na mão, que não tinha informática, que pra ligar pra casa era só três, quatro, cinco pessoas por dia, pra ver televisão tinha colega que tinha que ficar na antena, em cima tentando que alguns pudessem ver só um canal, isso é o começo de tudo. Então é muito dignificante, é muito importante pra gente poder dizer alguma coisa. Eu não sabia exatamente, mas é uma oportunidade de ouro que eu to tendo novamente aqui de pode expressar minha gratidão e essa oportunidade que a empresa ta dando a gente falar alguma coisa do que a gente viveu na nossa... e contribuiu pra Petrobras ser hoje a cada dia despontando pra grandes oportunidades, desafio, eu acho que é a nossa energia é uma frase, mas é a Petrobras é a nossa energia, a gente se une e faz aquilo que a Petrobras precisa de ter aquele resultado.
P/1 – Ta, mas agora eu queria encerrar, mas antes você vai me contar como é que era essa coisa de cinco, quatro ligações por dia, como funcionava isso?
R – É porque nós não tínhamos uma comunicação tão facilitada, né, com fibra ótica, com essas coisas, então pra ligar pra nossa casa era ou por rádio, que era muito difícil, mas os cinco primeiros que chegassem na administração é que conseguiria dar o nome, aí teria uma chance de falar pelo rádio, né, e nem todo mundo também tinha telefone, então era muito difícil a comunicação era muito por carta, a gente recebia e mandava muita carta pra casa, era 14 por 14, não era essa escala de hoje 14 por 21, então isso ficou marcado, ali a gente tinha essa dificuldade, mas todo mundo gerenciava isso da melhor maneira, as unidades muito cheia, a gente tava aprendendo a trabalhar, os operadores também não tinham noção de tudo em 1984, 1983, 1985 pra cá e aí cada vez mais foi ganhando experiência com essas situações. A gente tinha dois vôos, tinha também limite pra isso e tinha a comunicação era uma das coisas que todo mundo, hoje nas enfermarias têm pra tu ter uma idéia, o enfermeiro liga pra casa dele de dentro da enfermaria, passa aí, tem a Internet, tem vários recursos, ferramentas chegaram, televisão tem canais diversos.
P/1 – Quer dizer, antes alguém ficava lá segurando?
R – É, tinha um colega que num dado momento ele tinha que segurar, a gente fazia um revezamento, ficava com rádio pra poder dizer, olha ta boa pra
posicionar a antena pra ver pelo menos o Jornal Nacional.
P/1 – E tinha muito trote nas plataformas?
R – É, tinha umas brincadeiras quando as pessoas chegavam, né, mandar pegar uma ferramenta, pegar uma coisa que era muito difícil de encontrar e chamar uma pessoa e fazer, tinha essas brincadeiras que acaba inserçando a pessoa dentro de um convívio muito alegre, muito divertido, o ambiente lá é de amizade, até hoje eu tenho colegas que a gente se abraça, porque vivemos momentos juntos. Uma coisa interessante no embarque é o seguinte não tem classe social, não tem dinheiro, ninguém compra nada, ninguém compra ninguém, não tem como, porque a comida é a mesma pra todo mundo, o local pra dormir, as instalações, ambiente de tv tudo é compartilhado, então é um ambiente que faz que as pessoas se juntem realmente em torno daquela produção, daquele serviço que ta sendo executado e a minha função nobre era zelar pelo que a empresa tem de melhor de recursos humanos, né, eu ficava nessa retaguarda, não produzi, mas garantia trabalhar em condições razoáveis de saúde e até muito boa, dependendo da situação a gente retirava a pessoa de lá, então eu acredito que eu contribui de alguma forma pra essa história bonita que ta sendo escrita por muitos colegas nosso.
P/1 – Com certeza, Jairo muito obrigada, um privilégio fazer entrevista com você.
R – Não, pra mim também é uma grande oportunidade poder falar.
(Fim da Entrevista)
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