IDENTIFICAÇÃO Sou Luiz Gonzaga de Medeiros, nasci na cidade de Buri, em São Paulo, em sete de junho de 1954. INGRESSO NA PETROBRAS Eu ingressei na Petrobras no fim de 1977, através de um concurso que eu fiz em Curitiba. Eu estudava na Universidade Federal do Paraná e fui admitido c...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Sou Luiz Gonzaga de Medeiros, nasci na cidade de Buri, em São Paulo, em sete de junho de 1954.
INGRESSO NA PETROBRAS Eu ingressei na Petrobras no fim de 1977, através de um concurso que eu fiz em Curitiba. Eu estudava na Universidade Federal do Paraná e fui admitido como bolsista para concluir o meu curso de engenharia química na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Eu me transferi para o Rio de Janeiro e fiquei estudando um ano, durante 1978 todo. Em fevereiro de 1979, fui efetivamente contratado pela Petrobras para trabalhar na Replan, em Paulínia, no Estado de São Paulo.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu cheguei em Paulínia e fui trabalhar na área de transferência de estocagem, que é o Parque de Tancagem, oleodutos e movimentações, mistura de produtos. Fui fazer um estágio nessa área de, mais ou menos, seis meses até ter um conhecimento um pouco mais profundo dessa atividade. Depois, eu trabalhei com análise de processo ligada a essa área e, mais tarde, me encaminhei para outras áreas. Um ano depois, eu já estava em programação de produção.
BACIA DE CAMPOS - ADEQUAÇÃO DO PARQUE DE REFINO
As refinarias são projetadas para processar óleo do Oriente Médio, árabe leve, árabe pesado, esses óleos do Kuwait. Normalmente, esses óleos que a gente processava tinham um grau API de 28, 30, que é um óleo bastante leve para os padrões atuais. Quando nós vimos que a Petrobras descobriu óleo na Bacia de Campos, que começaram a pipocar as descobertas de campos, era um óleo relativamente parecido, em Cabiúnas, Garoupa. Mas, conforme foi se avançando em direção ao mar, águas profundas, os óleos vieram bem mais pesados e também com outra característica, acidez naftênica. Nós percebemos que aquilo não era processado com a planta existente porque, por causa da acidez naftênica, tinha que ser lavado e, por ser muito pesadão, dava muito fundo e pouco diesel, gasolina, que são produtos mais nobres. Isso tornava as operações da refinaria bem mais difíceis, abordando o ângulo da acidez naftênica. Processando o óleo daquele tipo, as torres e os vasos seriam corroídos em pouco tempo e não atenderia o mercado, porque geraria muito óleo combustível e pouco diesel e gasolina. Imediatamente, verificou-se que tínhamos que tomar uma atitude, principalmente com relação à acidez naftênica e, em seguida, quanto ao perfil de refino. Foi o que as refinarias começaram a fazer, a cada nova parada de processo, eram feitas algumas adaptações para aumentar a capacidade de processar o óleo naftênico e também para processar óleo mais pesado e obter um rendimento mais adequado em leves. Como eu trabalhei em várias áreas da refinaria, eu tinha me envolvido com várias áreas. Basicamente, naquela época, eu estava em formação de produção. Os petróleos brasileiros eram reservados só para produzir óleo combustível BTE – baixo teor de enxofre -, que era a grande especialidade deles. Depois, praticamente todos os óleos viraram BTE e já não tinham mais especialidade, então o desafio era como fazer os derivados que se fazia antes, tipo querosene de aviação, que ficou difícil de fazer, aguarrás. Era obrigado fazer esses produtos mais nobres para atender o mercado. E esses petróleos novos, com os processos existentes, não davam rendimento satisfatório, então, na verdade, foi correr atrás da dificuldade que apareceu. Quanto mais processava esse óleo, mais dificuldade tinha, então, na minha função, a dificuldade era atender o mercado, porque esse tipo de petróleo causava dificuldades.
PROCESSAMENTO DO ÓLEO O petróleo sai da Bacia de Campos, vai por navio ao Tebar - o Terminal Almirante Barroso. No Tebar, é descarregado, colocado em tanque e é bombeado para quatro refinarias em São Paulo. Recap – Refinaria de Capuava e RPBC – Refinaria Presidente Bernardes. Pelo oleoduto Osbat – Oleoduto de São Sebastião da Baixada Santista, vai até Cubatão. Pelo oleoduto Osvat - Oleoduto de São Sebastião, que vai até a Revap – Refinaria Henrique Lage e a Replan – Refinaria de Paulínia. Esse óleo, chegando na Replan, é colocado num tanque onde se tem um preparo: tira um pouco de água e sal dele, deixa algumas horas de repouso, ele é tratado nesse processo, depois é alinhado, é enviado para a unidade de processo, cada petróleo ao seu tempo. Tem as campanhas específicas e, às vezes, o óleo fica aguardando uma campanha específica que ele vai ter que fazer. Mas, em geral, ele chega na refinaria e processa logo. Em algumas horas de repouso, ele está apto a ser processado na refinaria. Se o teor de água e sal já se enquadra na chegada, não precisa nem preparar, é só processá-lo. Enviado para a unidade de processo, ele é pré-aquecido. Tem um sistema de trocador de calor de produtos quentes que estão saindo com o petróleo frio que está entrando, para melhor eficiência energética. O teor do sal do petróleo é removido da faixa de 500 partes por milhão para três partes por milhão. A água é removida também, sei lá, 1,5% de água, e aí o óleo está adequado para o processamento mesmo. Começa as separações nas torres de destilação, tem a torre que tira nafta e GLP, tem a torre periférica que tira a nafta pesada, querosene e diesel, de leve para pesado. Depois, tudo que foi possível tirar dessas torres é tirado e levado para um outro processo que se chama vácuo, onde é tirado o gás óleo, aí é submetido a um vácuo profundo, tipo 80, 100 milímetros de mercúrio de pressão e lá se tira o gás óleo, esse é carga do craqueamento catalítico, o fundo que sobra de vácuo, que era o grande problema, hoje em dia se destina grande parte de umidade dele para as unidades de coque que vão produzir diesel, basicamente, e gasolina, então, na verdade, o processamento ocorre por aí, as grandes mudanças foram destinar resíduo de vácuo numa unidade que o transforma em produtos mais nobres.
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO A primeira tecnologia em que se trabalhou foi nas próprias torres: fizemos colocação de aço inox em diversos pontos das torres para agüentar a acidez naftênica. A segunda tecnologia, que também é tecnologia da Petrobras, foi aumentar a capacidade das refinarias de lidar com produtos de fundo, nós chamamos de revamp, aumento de capacidade ou adequação que se foi fazendo, também com tecnologia nacional. Aí surgiu uma outra questão: se gerava muito óleo combustível e a refinaria conseguia trabalhar com isso, mas tinha que vender esse produto muito mais barato no mercado internacional. Aí o Cenpes entrou num acordo tecnológico com o IFP francês e começou a instalar unidades de hidrotratamento, que pega correntes instáveis, mais o diesel pesado de Marlim, que tem compostos hidrogenados nocivos à qualidade, compostos de enxofre. Nós começamos a instalar hidrotratamento em várias refinarias.
HIDROTRAMENTO O hidrotratamento na Replan, por exemplo, foi inaugurado em 1999, mas refinarias como Revap e Regap já tinham isso desde a década de 80. Até no princípio, quando surgiram essas unidades, nem sabiam bem para o que elas serviam, mas logo em seguida nós percebemos que elas são uma ajuda. A lei ambiental foi mudando com o tempo, ficando bem mais rigorosa, e se viu que essas unidades são fundamentais para acertar a qualidade. Essa tecnologia foi implantada pelo Cenpes, o serviço de Engenharia contratou a montagem e a refinaria condicionou essas unidades para a partida. O HDT, o hidrotratamento, ainda está intimamente ligado a uma outra unidade, que é o coque. O coque pega o resíduo de vácuo e transforma em diesel, sai 50% de diesel dessa unidade e o resto é gasolina, GLP, gás e coque. Essa unidade gera um diesel de qualidade ruim, que não é adequado para o consumo, e tem que passar no hidrotratamento para virar um diesel de altíssima qualidade. Primeiro, você passa no coque e gera um ocorrente de diesel de qualidade ruim. Esse diesel de qualidade ruim entra no hidrotratamento e vira um diesel de qualidade boa, ambientalmente correto, em termos de desempenho do motor, em termos de estabilidade do produto muito boa. Então, na verdade, hoje em dia você tem um conjunto praticamente casado de coque e hidrotratamento. O hidrotratamento pode vir até sozinho, se você só quer remover enxofre do produto, mas o coque não vem sozinho, porque o coque gera esses 50% de óleo diesel de qualidade ruim, é impraticável para você usar como óleo diesel. Então, na verdade, ele requer o hidrotratamento junto, são duas tecnologias desenvolvidas. O coqueamento é inteiramente do Cenpes e o hidrotratamento teve um auxílio do IFP para projetar as unidades, onde ele projeta por si só. E os craqueamentos catalíticos, que são unidades antigas – nós temos um que é de 1972 e o outro que é de 1992, por aí –, foram adaptados, com o passar do tempo, para processar um gás óleo que é a matéria-prima bem mais difícil de processar, outras matérias-primas, tipos resíduos atmosféricos, bem mais difíceis. O Cenpes também foi gerando tecnologia para que se colocassem cargas bem mais difíceis de tratar, de processar nessa unidade de processamento de craqueamento catalítico, para gerar basicamente gasolina, 50% de gasolina, mas também uns 20% de diesel, 20% de GLP. Então, o diesel dela também vai para o HDT para ser tratado e virar um diesel de alta qualidade. A gasolina já sai quase que pronta do FCC. Essas unidades foram modernizadas também. Em várias unidades, nós temos um programa de fundo de barril, as destilações foram modernizadas para pegar óleos mais pesados, o coque foi feito para processar esses resíduos de vácuo que vieram da unidade que faz o óleo mais pesado, para transformar em diesel e gasolina, e o FCC foi melhorado para pegar cargas mais difíceis e transformar em produtos.
BACIA DE CAMPOS – ÓLEO PESADO Um desafio que eu não tinha abordado até agora é o fato de que os óleos, por serem muito pesados, muito viscosos, tinham uma dificuldade de dessalgação muito grande. A dessalgação é a etapa em que você aquece o óleo, em 120, 150 graus, quanto mais alto melhor. Você aquece os petróleos até essa temperatura para tirar sal e água, e os óleos brasileiros por serem muito viscosos, muito pesados, não se separavam da água. Então, como você não pode mandar água para a torre de destilação, o que acabava acontecendo é que ia um pouco de óleo junto com a água para o sistema de tratamento, estações de tratamentos industriais, e nós acumulamos grandes quantidades num negócio chamado slop de resíduo de ETDI – Estação de Tratamento de Despejos Industriais, que faz a separação de água e óleo. Esses resíduos foram se avolumando, aí nós tivemos que mexer na tecnologia de dessalgação para pegar esse óleo pesado, viscoso, e mesmo assim separar a água dele. Isso foi feito com mais temperatura, foi feito com mais dessalgação. Ao invés de duas dessalgaduras, nós começamos a trabalhar com quatro dessalgaduras, e o pacote de produtos químicos que punha lá dentro para separar o óleo e a água teve que ser melhorado. Isso foi um desafio também, não se compara com um desafio do Cenpes de projetar um coque, um HDT, mas para o pessoal local foi um desafio bastante grande. É uma fronteira, ninguém sabe se isso vai dar certo ou não, até você estudar, projetar, implantar, operar e falar: “Deu certo” Todas as refinarias tiveram, de alguma forma, que tomar uma iniciativa. A Replan eu entendo que é pioneira nesse sentido, hoje ela tem um estoque de resíduo baixíssimo, quase zero, tem 800, 900 metros cúbicos. Nós tivemos 60 mil de slop na refinaria, sem muita chance de usar, só ficava trancando os tanques, custando, parado em dinheiro. Nós trabalhamos para resolver esse problema e conseguimos. Hoje em dia não há praticamente arraste de óleo, junto com a salmoura, que é um produto que sai lá do dessalgador por baixo, uma solução de água mais sais. Você tem que separar, o óleo que vai para a dessalgadora não pode ter água, então é um processo de separação muito fino: os produtos químicos, mais temperatura, mais tempo de residência no dessalgador, tem que ser mexido.
REPLAN – REFINARIA DE PAULÍNIA A Replan processa, em média, 370 mil barris por dia, essa é a nossa carga. A Replan representa 22% do refino no Brasil, mais ou menos, atualmente. A gente fala entre um quinto e um quarto do que o Brasil processa. É a maior refinaria, praticamente são duas refinarias inteiras lá dentro, junto de destilação, FCC, coque, HDT e tem outro produto igualzinho, com destilação, FCC, coque, HDT, então são duas refinarias dentro de uma só. Ela opera com características de terminal, recebendo produtos de outras refinarias e fazendo misturas e tudo mais e bombeia para outros destinos. Ela tem características de ser uma refinaria dobrada e de ser um terminal de derivados também. São duas refinarias dentro de uma só, são várias unidades, mais de 10: uma de destilação, de coque é outra, HDT é outra, então são várias unidades. A refinaria é um conjunto desse inteiro e nós temos dois conjuntos completos. Não temos lubrificantes, porque o Brasil produz lubrificantes na Reduc e na Rlam – Refinaria Landulpho Alves, é suficiente para abastecer o mercado nacional e não faz sentido ter uma fábrica em São Paulo. Essas duas fábricas são plenamente satisfatórias, então não tem lubrificante.
ÓLEO DA BACIA DE CAMPOS Tem diferença do óleo da Bacia de Campos e dos demais do país, mas não é tanta. Eu diria que os óleos da Bacia de Campos, tanto faz do Rio de Janeiro ou do Espírito Santo, são bem parecidos. No Espírito Santo, se descobriu algumas bacias mais ao norte que são mais leves e na Bacia de Santos os furos que foram feitos resultaram em óleos mais leves, mas em pequeníssimas quantidades, então não dá nem para comparar. Em Santos, descobriu-se uma bela acumulação de gás, no litoral paulista, que já é um petróleo muito maduro, virou petróleo, virou gás até, esse negócio ficou alguns milhões de anos. Não tem muito petróleo no Nordeste também. O petróleo da Bahia é bem mais leve do que aqui do Rio. Os petróleos do Rio Grande do Norte, Ceará, também são mais leves. Mas comparando esses Estados que produzem – somando tudo, são 200 bacias –, é bem pouco comparado ao Rio de Janeiro, com 1,4 milhões de barris. A grande jazida de petróleo que nós temos é a Bacia de Campos. Esse óleo da Bacia de Campos é mais pesadão, o Rio de Janeiro é mais pesado que o resto, mas como ele é a grande maioria, a gente só o considera, porque o resto é pouca coisa. Rio Grande do Norte, Urucu é uma boa reserva, mas é pequena comparada com Campos, que realmente tem uma mega reserva. Um dos grandes campos que foram descobertos no mundo, depois da 2º Guerra Mundial, é em Campos, para a sorte nossa.
MEIO AMBIENTE O meio ambiente requer produtos cada vez com melhor desempenho ambiental, que joguem menos poluentes na atmosfera, no mar nem pensar, no chão também não, na verdade é basicamente na atmosfera. O combustível, uma vez queimado, gera gás carbônico, gera óxido de enxofre, óxido de nitrogênio, de hidrocarbonetos não-queimados. Então, teve duas evoluções: primeiro, a do automóvel, que foi evoluindo de tal forma que consegue queimar todo o combustível e não gerar compostos, cetonas, hidrocarbonetos não-queimados, que seriam poluentes. E nós tivemos que evoluir e tirar nitrogênio e enxofre, que são dois outros poluentes, que iriam para a atmosfera causando chuva ácida. Na verdade, foi uma evolução conjunta, e também no mundo inteiro está ocorrendo isso. Europa e Estados Unidos estão um pouco na frente do Brasil, e nós estamos acompanhando eles dentro do possível. Normalmente, nós pegamos a legislação européia com três, dois, quatro anos de defasagem e implantamos no Brasil, quer dizer, a gente prevê isso com muita antecedência, de fato a gente tenta chegar perto dos padrões europeus e perto dos padrões americanos. Vai chegar uma hora que nós vamos empatar com eles, porque eles são países que consomem muito mais hidrocarboneto e combustível fóssil que a gente, eles têm problemas de poluição bem maiores, mas nós não vamos nos fiar nisso, nós vamos realmente transformar nosso combustível num combustível internacional.
PROGRAMA DE ÓLEOS ULTRAVISCOSOS Por exemplo, como a gente gerava muito óleo combustível e óleo combustível requer uma grande quantidade de diesel para diluí-lo, tipo 60% é resíduo de vácuo e 40% é diesel, a matéria-prima valia muito para vender por um preço que não era tão compensador assim. A primeira tecnologia desenvolvida ao longo do refino foi incentivar a nós mesmos e depois incentivar os clientes a consumir óleo mais viscoso, em que vai menos diesel, vai 40% de diesel. Pega o óleo dois, é 30%, pega o óleo três é 25%, pega o óleo quatro vai 20%, pega um óleo sete vai 10% de diluentes. Então, nós fomos reduzindo a quantidade de diesel que se tem, o óleo fica mais viscoso, tem que ser transportado em temperaturas mais altas e estocado em temperaturas mais altas. Por um desconto de preços, nossos clientes toparam isso, então tem um programa de óleos ultraviscosos. Normalmente, para o cliente tem que ter o óleo um, o óleo dois, o óleo três. O quatro e o sete são todos os óleos mais viscosos que o um e o dois. O sete foi uma forma encontrada de reduzir consumo de diesel nas indústrias porque, na verdade, a indústria estava consumindo uma mistura de RV mais diesel. Quanto mais você reduz o diesel, mais você consome o RV, resíduo de vácuo, que é a matéria-prima mais barata. Os nossos clientes aceitaram bem o desafio e nós também passamos a consumir óleos mais viscosos no país inteiro. Esse programa de consumir óleos mais viscosos começou a aumentar a quantidade de viscosos e, logo em seguida, nós passamos a trabalhar nesses projetos de coque, HDT, FCC para pesados. O FCC só refinava coisa mais leve, passamos a colocar produtos bem pesadões dentro do FCC, tipo o resíduo atmosférico. Gerando muito óleo combustível, como é que vivia com isso? Tem que reduzir essa coisa, como é que reduz isso pra valer? Na unidade de coque, com o HDT junto. Enquanto ela não está pronta, o que é que eu posso fazer? Incentivar os consumidores a consumir um óleo mais viscoso, a gente mesmo a consumir um óleo mais viscoso, e processar parte desse óleo viscoso no FCC, pegar o resíduo de craquamento, resíduo atmosférico para craqueamento e jogar na FCC. Foi isso que a gente fez, enquanto esperávamos a unidade de coque aparecer. Hoje nós temos duas unidades de coque em Cubatão, duas em Paulínia, uma na Regap - Refinaria Gabriel Passos e já estamos nos preparando para construir mais. Reduc – Refinaria Duque de Caxias, Refap – Refinaria Alberto Pasqualini, Repar – Refinaria Presidente Getúlio Vargas, Revap- Refinaria Henrique Lage, todo mundo está se preparando para construir outras unidades de coque, que acerta o problema da sobra de óleo combustível de uma forma por atacado. Aquelas atitudes que nós estávamos tomando eram mais para varejo, funcionava e funciona até hoje, mas o que funciona mesmo é você instalar uma unidade de coque em maior quantidade.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Eu trabalhei um tempo em turno e o pessoal de turno era muito animado, eles trabalham num horário diferente da gente, têm uma vida social à parte. O horário para quem está no Grupo três só coincide com quem também está nesse Grupo, não adianta ficar no Grupo cinco ou no Grupo um ou no Grupo dois, ele está num horário diferente. Então, eles têm uma amizade entre eles, as famílias vão fazer churrasco junto, vão viajar junto, jogar bola junto, jogar baralho junto. Eu achava interessante essa coesão que eles tinham dentro do grupo.
Teve uma época que eu cheguei na refinaria e nós estávamos treinando o pessoal da Revap, então tinha bastante gente, era animado, mas depois o pessoal da Revap foi embora. Nós passamos por vários processos de enxugamento de pessoal, a mão-de-obra foi um processo que a Empresa entrou nessa e fez com sucesso, mas era muito divertido ver todo aquele pessoal várias vezes, parecia um timinho de futebol, as pessoas tinham que estar juntas, não tinha outro jeito. Quando alguém estava de folga, só os caras do grupo dele é que estavam também, daquela unidade onde trabalhava e de outras. Eu achei muito importante a coesão que eles tinham, espírito mútuo e tudo mais. E o que a gente viu também é que o pessoal de turno é muito esforçado, muito deles estudavam, tinham que fazer trocas de turno para poder freqüentar a faculdade, ou seja, pegava aquele turno bem de fim de fazer, de zero hora, com o amigo dele que fazia de oito às quatro, que ele ia na faculdade, ou de quatro à meia-noite, é um horário bom de fazer. Então, na verdade, ele estava sempre trocando pelo zero hora, que ninguém queria. Eu via muita gente esforçada para concluir uma faculdade. O grau dos nossos operadores é muito elevado, uma vez que grande número deles é formado em alguma coisa. A maior parte do nosso pessoal de nível médio é formada; são pessoas com formações de importância aí fora e tudo mais. E esse grau de coesão, o jeito que eles trabalhavam, o jeito que eles faziam as coisas me impressionou muito. O que me impressionou muito também foi a habilidade que eles têm com as mãos, de montar coisas, consertar, fazer e construir. Eu não tenho essa habilidade, de fato, eu nunca tive. A minha habilidade é raciocínio rápido, foi isso que Deus me deu, mas eu nunca fui páreo para eles. Fui coordenador de turno durante praticamente dois anos na refinaria. E é impressionante a habilidade e a acolhida que eles tinham para com a gente também. Eles inventavam de fazer comida na casa de controle, naquela época não era só servido lanche, hoje em dia só é servido comida, está mais difícil. Foi muito bom aprender com aquele pessoal, aquele ato de solidariedade que eles tinham, a vida que eles levavam. Eu aprendi muito também a técnica que eles tinham, a gente tem uma formação acadêmica forte, mas quando você vê a técnica, o cara usando, você aprende rápido, devido ao grau de formação que a gente teve. Mas foi muito bom passar em turno, foi muito bom conhecer muita gente e ver que eles têm uma habilidade que a gente nem sonha em ter.
COTIDIANO DE TRABALHO Coordenador de Otimização Eu estou como Coordenador da Otimização da refinaria. Eu programo a produção da refinaria junto com a equipe: todas as matérias-primas que vão chegar, que vão ser processadas e todos os produtos que vão ser feitos, o que vai ser entregue aos clientes. A gente programa a produção em consonância com a logística da Sede, que é quem programa as refinarias como um todo; a união das refinarias é com a logística da sede. Esse é um trabalho que eu faço para atender aos clientes internos, que são as unidades, providenciar todas as matérias-primas para todas elas, para nenhuma sofrer redução de carga ou paralisação por falta de matéria-prima - é uma vergonha muito grande se acontecer isso. A segunda é preparar todos os derivados para os nossos clientes levarem. Então, nós estamos atendendo aos clientes: primeiro, os nossos clientes internos, que são as unidades que têm que operar, segundo, os clientes externos, que são as companhias que compram os produtos junto a Replan e junto aos oleodutos abastecidos pela Replan e mesmo os que estão lá fora. Cingapura está comprando o nosso óleo, Porto Rico também compra óleo combustível.
VALOR DOS PRODUTOS Hoje os produtos que mais valem numa refinaria standard dizem que é o diesel de aviação. Esses produtos estão na faixa de 70 dólares por barril, porque a gente importa e traz tudo aqui, com frete, e dá 70 dólares por barril. Você pega uma nafta, uma gasolina, está na faixa de 50 dólares por barril, a nafta importada. A gasolina exportada está na faixa de 45 dólares o barril, bem menos. Quando você fala em exportar um óleo combustível a 25 dólares, comparado com um diesel a 70, não tem a menor graça, então tem que fazer é diesel. Na verdade, eu tenho outra atividade lá dentro, eu sou coordenador de otimização, que é fazer com que tudo vire diesel, QAV – querosene de aviação, tudo que for possível virar diesel. Tem que virar diesel, porque a empresa importa e isso é muito caro, é um dispêndio de divisas imenso com isso e o lucro vai para o ralo, então tudo que é nafta, que tem alguma característica em diesel, que eu possa agregar ao diesel, tudo que é parte pesada do petróleo que eu posso colocar diesel e, ainda assim, atender qualidade, atender todos os requisitos da legislação, tem mais que fazer, porque realmente ele vale muito. Atendemos tudo, porque, para nós, o cliente é muito importante. Eu falei de um cliente, que é o cliente interno, e tem o cliente externo, o acionista, que é o nosso grande cliente, que é quem nos contratou para fazer o serviço que ele achou importante fazer. Então, nós estamos sempre tentando, sempre trabalhando para atender a todos os clientes internos e externos da melhor forma. Eu trabalho coordenando essa atividade dentro da Replan, de modo a fazer com que os derivados dêem mais retorno à Empresa e para atender a tudo que o cliente necessita.
PROJETO MEMÓRIA PETROBRAS Eu acho muito bom, porque a gente já está numa fase da carreira e nós estamos transferindo o conhecimento para os outros. É um projeto pessoal meu começar a preparar os novos para assumir funções, para que a Empresa continue crescendo e tendo esse desempenho. O que temos de mais importante são as pessoas. Estamos numa fase de contar o que a gente sabe para os novos, para os gerentes que estão chegando, para o Projeto Memória e tudo mais. Então, é uma hora de passar aquilo que a Empresa permitiu que a gente aprendesse e de compartilhar com todos. Eu acho muito bom. Daqui a alguns anos, eu vou dizer: “Olha, eu estava lá ajudando o pessoal a contar essa história da Petrobras” Isso é um negócio muito importante. Eu agradeço o convite e a oportunidade.Recolher