Este é o primeiro conto escrito em agosto de 1998. Trata-se de minha autobiografia. O narrador é um anjo e a personagem RENÊ refere-se à minha própria pessoa. Dedicado às seguintes pessoas: * Aos pais adotivos Alberto e Luiza (in memorian) que me acolheram. * À dona Anair (in memo...Continuar leitura
Este é o primeiro conto escrito em agosto de 1998. Trata-se de minha autobiografia. O narrador é um anjo e a personagem RENÊ refere-se à minha própria pessoa.
Dedicado às seguintes pessoas: * Aos pais adotivos Alberto e Luiza (in memorian) que me acolheram. * À dona Anair (in memorian) que deixou como herança, seu filho. * Ao esposo Cicero que acreditou em mim. * Aos filhos Iris e Eris que sempre sonhei em tê-los. * Às minhas irmãs Rose, Yolanda e Eleonor pelo mesmo sangue. * Ao Ray (in memorian) que eu amei e * Antonia (in memorian) que me deu a vida(foto em destaque)
Há muito tempo tenho este sonho. Você não imagina o quanto é importante. É pura satisfação.
Pretendo criar outros contos, das quais VOCÊ poderá fazer parte. Espero que se lembre de mim em algum momento interessante da sua vida
* * * * * *
Lá estava mais um feto a vir ao mundo sem saber que sua hora já estava encerrada ...
E agora que aconteceu comigo, que nem sequer pude cumprir minha missão. Não soube nem qual seria meu sexo. E o que importa agora? O que importa é que estou vagando, tentando voltar e não consigo. Ajudem-me Ajudem-me
Numa manhã chuvosa, um casal pobre estava nas últimas tentativas de um péssimo relacionamento. Talvez culpa dele, talvez culpa dela, ou talvez culpa de ambos. Sabe lá os valores que tinham na época, não sabemos. O que sabemos é que um ser prestes a vir, não veio. Um ser prestes a morrer se foi. Como? De repente, sem querer ou querendo que acabasse com sua tristeza. Ou quem sabe iniciar sua alegria. E lá estava eu, dentro daquele ser inquieto, infeliz, insatisfeito, incrédulo, mas com uma única esperança, de ser feliz. Será que a coisa teria sido melhor se tivessem me dado a chance de vir. Não sei, pois não tive nenhuma alternativa de escolha. Fui simplesmente interrompido.
Numa tarde ensolarada, três crianças, de mãos dadas com seu progenitor, caminhavam sem rumo pelas ruas movimentadas da cidade. De repente pararam em frente a uma casa de abrigo para menores e lá estavam três órfãs, a mercê da vida. Foram acolhidas com certo carinho, como todas aquelas que vinham permanecer por um determinado período. Estavam felizes, pois tinham comida, banho e cama para dormirem. Mal sabiam que estavam à disposição da justiça. Que pena, murmurou uma das guardiãs, estas crianças tão pequenas, e sua família destruída. Outra fingiu que não ouviu, e logo foi ajeitando-as. Nori, Landa e RENÊ estes eram seus nomes. Com idades de quatro, três e dois anos. Pobres criaturas comentavam as serviçais da casa.
Do outro lado da cidade, haviam mais duas crianças, Meire e Yar, com sete e seis anos respectivamente. Separados também, uma ficou com seus avós verdadeiros. A outra foi entregue a um casal amigo. Meire era a mais velha, mais sofrida, alimentava seus irmãos, da maneira que podia, até que foi separada deles.
O Yar, esse sim ficou com a família. Menino forte, orgulho da família, presenciou minha partida. Pobre coitado, mal sabia que em breve estaria ao meu lado.
Em dezembro, todos gostavam de passar o natal presenteando seus filhos. E aqueles que não tinham, estes não comemoravam felizes. Até que um casal resolveu buscar a alegria numa casa de abrigo para menores. Trouxeram para casa, uma garotinha de franjinha, muito desconfiada, só gritava e se escondia. Custou para ela acreditar que era ali seu novo lar. Lá estava ela, a caçula, RENÊ. Landa também teve a sorte de ser acolhida por uma nova família. Nori também teve, mas ficou longe das outras.
Tudo ia se encaixando novamente, cada criança com seu lar, cada lar com sua criança. E eu, como fiquei? Sem lar, sem vida. Ah como eu gostaria de ter vida
Era domingo de páscoa, RENÊ levantou e foi direto à sala. Olhou para o espelho de uma enorme cristaleira, mirou alguns segundos e depois chamou Landa. O espelho não respondendo, ela insistiu, gritou novamente, mas nada de resposta. E lá estava eu, ao seu lado, tentando acariciar seu rosto, sentir seu calor e gritar também por Landa, Nori, Meire e Yar. Mas de que adiantaria, ninguém poderia me ajudar. Eu estava, mas não era.
Já eram duas horas da manhã, o corpo de RENÊ ardia em febre. Seus pais assustados, não sabiam o que fazer. E eu, meio que flutuando, segurei sua mão. Num momento de egoísmo, quase a tive ao meu lado, mas não achava justo tirá-la daqueles que lutaram para ter um filho, porisso soltei imediatamente sua mão e devolvi-lhe a vida. Parei por alguns momentos a sua frente e assoprei seu rosto, aliviando o calor intenso daquele corpo febril, ela voltou ao normal e continuou a dormir. Sonhamos juntas, levei-a para nadar bem no fundo do mar, voamos bem alto sobre as nuvens, caminhamos horas sem parar, e estando completamente exaustas, paramos, rimos e ela murmurou: que sonho maravilhoso.
Passaram-se nove anos e RENÊ crescia como uma criança relativamente feliz. Numa de suas travessuras, sua mãe havia ficado muito zangada com ela, e não medindo conseqüências, relatou um segredo até então guardado, de que ela não era sua filha. RENÊ não entendeu nada, e foi para dentro de um tanque velho que estava no fundo do quintal, e se pôs a chorar. Não compreendia, como ela, sua mãe, havia lhe dito que não era a sua verdadeira mãe. Neste momento, eu estava bem próximo a ela e senti a tristeza que invadia. Aproximei e me encolhi ao seu lado. Ela estava toda trêmula, gelada e sangrando. Pensava ela, que tinha se machucado, mas era apenas seu sinal de mulher tinha chegado. Apenas com nove anos e já estava pronta para gerar um novo ser. Pena que tenha acontecido tão cedo e numa hora tão triste.
Ela se escondia para fingir que nada lhe havia acontecido, mas não tendo jeito informou. Sua mãe auxiliou-a neste momento, mas já era tarde para pedir desculpas, a verdade foi dita numa hora imprópria de sua vida. Ela foi crescendo meio insegura e infeliz. Suas notas na escola não eram lá grande coisa, mas conseguia passar de ano.
Um dia, RENÊ após chegar da escola, indagou ao chegar em casa, quem eram seus verdadeiros pais e se tinha irmãos. Foi informada de que sua mãe havia morrido e que sua prima Landa era irmã de sangue. Neste momento, num ato de desespero e busca de identidade, correu até seu encontro, caindo em lágrimas de emoção, ao saber que tinha uma irmã. Não me contive também, e me emocionei.
A partir deste dia, todos os domingos RENÊ e Landa se encontravam para brincar. Passavam momentos felizes. Saiam sempre juntas, e num dos passeios foram à casa da madrinha de RENÊ. Landa parecia já conhecer muito bem aquela família. RENÊ estranhou, mas aquietou-se. Quando foi ao banheiro, viu caído no chão um cartão com o mesmo sobrenome e desconfiou de algo. Até que descobriu que a filha de sua madrinha, a Meire, também era sua irmã e que Landa havia omitido este conhecimento. A princípio, ficou aborrecida, mas depois se conscientizou de que era mais uma irmã para dividir suas brincadeiras. E eu aqui sozinho, sem elas perceberem minha presença, quase morri de novo.
Ouvem-se palmas insistentes no portão e RENÊ, supercuriosa corre para verificar quem era. Sua madrinha que chegara com um rapaz, entrou e apresentou-o como seu sobrinho. Logo começaram a conversar e iniciaram uma bela amizade. Iam passear juntos até o zoológico, jardim botânico e sempre de mãos dadas e ao se despedirem trocavam beijos no rosto. Estava totalmente apaixonada, com doze anos.
Era sua primeira paixão. Não comentava nada em casa, pois a época não era de muitos esclarecimentos e os valores eram diferentes.
Os dias iam se passando e a paixão de RENÊ ia aumentando, até não se conter mais e fazer leves comentários. Deste dia em diante, foi proibida de se encontrar com sua paixão. Ela custou a acreditar no que tinha ouvido. Ele o primeiro amor de sua vida, aquele que seu coração jovem batia além do normal, que daria sua vida para viver feliz ao lado dele, não poderia nunca mais vê-lo. Era impossível o que estava acontecendo, comentava ela com o espelho. Chorava e gemia de tanta dor que sentia em seu peito. Acabara ali seu sonho, sua vida...
Neste momento intercedi com toda minha força, e não a deixei vir até mim. Por alguns instantes pensei que a teria ao meu lado, pois sua tristeza era tão grande que achava que ela não iria suportar.
Também pudera a surpresa fôra tanta e a dor tão forte da separação, que todos a perdoariam pelo ato a ser cometido, mas se não fosse Tonia e eu juntos, talvez não tivesse conseguido evitar esta tragédia, pois descobriu que ele, seu primeiro amor, era seu próprio irmão Yar.
Recuperada da dor que sentiu novamente, RENÊ recomeçava sua vida voltando-se totalmente aos seus estudos.
Na escola conheceu várias pessoas interessantes, mas nada que a conquistasse como seu irmão, que estava proibida de vê-lo outra vez. Sua vida seguia normalmente, seus encontros com Landa e Meire eram mais constantes. Todo aniversário, lá estavam se cumprimentando e se beijando.
Numa sexta-feira, RENÊ soube que iria receber visita de uma senhora que traria sua filha para fazer companhia. Ao chegarem ela convidou a garota para ir até o quintal para conversarem. Assim que começaram a questionar sobre o que cada uma fazia, a garota chamada Nori, se identificou como sendo sua irmã. RENÊ quase desmaiou, outro segredo desvendado em tão pouco tempo. Mas logo se recuperou do susto e se abraçaram por alguns momentos. Ficou somente neste abraço, pois Nori tinha sido acolhida por uma família que morava distante e foram poucos os contatos que mantiveram.
Os dias, meses iam acontecendo normalmente. Numa tarde, RENÊ e Landa resolveram ver Meire, e esta as convidou para visitarem uma senhora conhecida.
Lá chegando sentamos a mesa, começamos a conversar e num determinado momento, a senhora comentou a seguinte frase: - “Pena que eram cinco, agora só ficaram quatro”. Sempre alerta às conversas, pois estava sempre descobrindo novos relatos, indagou o por quê desta afirmação. A senhora muito claramente disse que Yar havia falecido. RENÊ quase desmaiou naquele momento, não conseguia acreditar que mais uma vez escondiam um segredo e relatavam com a maior frieza. Era demais para ela. Mais uma vez tive que interceder, evitando que uma tragédia acontecesse a partir deste relato.
De um certo modo fiquei feliz em conhecer Yar, sua passagem para cá não foi também normal, morrera de doença grave, que a família verdadeira por parte de pai, não conseguiu ajudá-lo na hora certa.
Passavam-se os dias, meses e a vida continuava acontecendo em cada um daqueles que permaneciam na vida terrestre. Já não eram tão felizes, como gostariam.
Ela tentava buscar alguém que conseguisse preencher seu vazio. Nesta busca incessante achou uma pessoa que ela se identificou deste o primeiro momento. Este alguém já estava bastante experiente da vida e ajudou renascer a esperança de ser feliz. Sua boa vontade em ouvi-la, fez com se entregasse de corpo e alma. Eis que surgiu uma chance de voltar novamente, mas sua pouca experiência fez com que me poupasse outra vez. Era sua primeira noite de amor e lá estava eu tentando renascer, mas não consegui, fui interrompido novamente. Minhas tentativas eram inúteis para retornar, mas não desistia...
Certa vez RENÊ teve um sonho, lá estava eu novamente. Sonhava que seus cabelos eram bem mais compridos e que dava à luz a uma criança e que não conseguia visualizar seu rosto. Era tudo que eu queria, estar ao lado dela, de um dia ela me descobrir. Mas ainda não havia chegado minha hora.
RENÊ ainda não estava preparada para receber um novo ser. Ela finalmente resolveu se casar. Após sete anos de casada, insistia em ter filhos, e seu esposo não estava muito interessado nesta grande responsabilidade. E eu aqui esperançoso, no aguardo do meu retorno.
Na época RENÊ era proprietária de uma escola técnica, e estava muito feliz em ter seu próprio negócio. Numa das manhãs, que normalmente chegava à escola, por volta das oito horas, sentiu-se mais cansada do que nunca. Sentou-se para controlar uma pequena tontura.
Ao conversar com sua vizinha, dona da loja ao lado da sua escola, esta indagou se ela estava grávida e ela respondeu que não no primeiro momento. Por dúvida, pediu a ela para comprar um teste de gravidez. A partir deste momento eu fiquei mais ansioso que ela, pois seria mais uma chance de entrar no mundo carnal. Não deu outra, RENÊ estava grávida
Que felicidade para ambos, ela e eu.
Após um exame mais seguro, planejou seu pronunciamento ao esposo, que ao primeiro instante se assustou, mas depois se acostumou com a idéia e aceitou normalmente.
Passavam-se os meses de gravidez, RENÊ toda feliz. Eu também
Numa tarde super quente, terminado o verão, já início de outono, RENÊ ao retorno do centro da cidade, sentiu-se muito cansada e foi deitar-se. Sonhamos juntos, que estávamos sobre as ondas de um mar muito azul, calmo e morno. Nadávamos intensamente. A alegria daquele momento parece que jamais havíamos sentido. Ao acordar, RENÊ encharcada de água por todo lado, estava preste a dar à luz.
Sua bolsa tinha sido rompida e mais um ser viria ao mundo. Imaginava eu, que estava prestes tomar forma humana. Mas na hora da decisão, achei melhor outro ser muito mais esperado do que eu, passar na minha frente. Eis que nasceu sua filha, prematuramente. Quase tive as duas ao meu lado, mas vibrei intensamente para que elas tivessem a chance de se conhecerem e serem muito amigas. Pela primeira vez fiquei realmente feliz.
RENÊ vivia intensamente para sua filha. Estava mais feliz do que nunca, pois sempre quisera ser mãe. Curtia muito dela, no rancho de seus pais adotivos. Foi um ano de muita alegria. Foi lá que sua filha começara a dar os primeiros passos. Foi lá que todos souberam novamente que estava grávida e eu novamente esperançoso em ingressar no mundo carnal.
No decorrer da segunda gravidez, descobriu que seu pai adotivo, que mantivera um relacionamento muito bom, estava preste a morrer. Fiquei muito triste, por não poder intervir nesta morte.
Queria que ele curtisse mais RENÊ e sua filha, mas sua missão já havia sido cumprida e infelizmente não chegaria a conhecer seu próximo neto. RENÊ tentou de tudo para mantê-lo vivo, mas nada adiantou.
Após vinte dias do falecimento de seu pai adotivo, RENÊ segue ao hospital, onde deu à luz ao seu próximo filho. Tive mais uma chance de surgir, mas ainda achei que não era a hora.
Lá estava RENÊ feliz da vida com seu casal de filhos. Cuidava deles, da sua mãe, sogra e principalmente do esposo.
No decorrer de quatro anos, as crianças brincaram com suas avós, que já não estavam tão bem, vindo a falecerem com uma diferença de menos de um ano. Lá estava eu recepcionando elas aqui deste lado. RENÊ com esposo e filhos continuavam sua vida, batalhando para ultrapassar as tristezas ocorridas em menos de um ano.
No final do ano, de costume, passavam o natal e o ano novo fora da cidade. Resolveram ir à praia, pois se encontravam deprimidos, por ser a primeira vez que passariam as férias sem nenhum pai ou mãe presentes. Foi muito triste. No primeiro dia do ano, RENÊ se encontrava melancólica na sacada de seu apartamento, olhando as estrelas misturadas com o brilho dos fogos, relembrando seu passado.
Eu ao seu lado, balançando na rede, senti que era hora de entrar em sua vida. Tive a plena certeza de que o momento certo chegara...
Era Dia de Reis, todo mundo iniciava um novo ano, cheio de esperança e fé. RENÊ havia comprado uma estátua em forma de anjo e nela depositou toda sua esperança de realizar seu maior desejo, resgatar sua origem e num simples telefonema sua vontade foi realizada.
RENÊ não se conteve de alegria em saber que sua família materna lhe encontrara. Chorou muito, mas desta vez de alegria em descobrir, que sua mãe foi uma mulher digna, batalhadora e principalmente honesta.
A PARTIR DESTE DIA RESOLVI PERMANECER COMO ANJO, PROTEGENDO TODA FAMÍLIA E AMIGOS. AJUDAR A CONCRETIZAR TODOS DESEJOS DE RENÊ, PRINCIPALMENTE O ÚLTIMO, DESCANSAR AO LADO DE SEUS ENTES QUERIDOS.
Foi criada por Irene da Rocha em 1998 e lançada na rede Internet em 2000Recolher