Memória Avon
Depoimento de Odécio Lenci
Entrevistado por Laudicéia Benedito e Clarissa Batalha
São Paulo 04 de julho de 2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista AV_HV032
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques
Revisado por Leonardo Sousa
P/1 – Bom dia?
R – Boa tarde, né?
P/1...Continuar leitura
Memória Avon
Depoimento de Odécio Lenci
Entrevistado por Laudicéia Benedito e Clarissa Batalha
São Paulo 04 de julho de 2008
Realização Museu da Pessoa
Entrevista AV_HV032
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques
Revisado por Leonardo Sousa
P/1 – Bom dia?
R – Boa tarde, né?
P/1 – Vamos começar a entrevista com o senhor falando o seu nome completo, o local e a data de nascimento?
R – Odécio Lenci, nascido em São Paulo no dia 20 de julho de 1935, pertinho de fazer 73 anos, faltam poucos dias.
P/1 – Qual é a sua atividade atual?
R – Minha atividade atual é jogar golfe pelo menos no mínimo duas vezes por semana, pescar sempre que possível e passear.
P/1 – Que ótimo. Qual é o nome dos seus pais?
R – Meu pai chama-se Antônio Lenci e minha mãe Anunciata Lenci.
P/1 – E qual era a atividade profissional deles?
R – O meu pai trabalhou muitos anos em tipografia, na época existiam muitas tipografias que faziam impressos para muitas empresas ou pequenas empresas e ele sempre foi funcionário nessa área e minha mãe era atividade doméstica, ela nunca trabalhou.
P/1 – E qual é a origem da sua família?
R – Todos italianos, meus avós vieram da Itália tanto por parte de pai como de mãe e meus pais nasceram no Brasil.
P/1 – E o senhor sabe de que região da Itália?
R – Todos de Luca.
P/1 – E o senhor tem irmãos?
R – Tenho um irmão.
P/1 – Um irmão, tá bom, vamos falar um pouquinho da sua infância?
R – Vamos.
P/1 – Onde o senhor morava?
R – Bom, vamos falar do que eu me lembro, né? Porque quando eu era muito criança eu já não me lembro mais, mas a minha vida pra mim começou em Santo Amaro, eu sou santamarense fui criado no Socorro, na Avenida de Penedo pertinho da Represa de Guarapiranga. E ali foi toda a minha infância, estudei lá no grupo escolar da represa e só saí desse endereço quando eu me casei que eu mudei para o centro de Santo Amaro.
P/1 – E o senhor lembra como era a sua casa?
R – Minha casa era uma casa simples, nada especial, um lugar afastado, porque naquela época a Avenida de Penedo era um bairro afastado do centro de São Paulo e era uma casa com um quintal muito grande com muitas frutas. Eu me lembro que como a represa, a Avenida de Penedo era uma espécie de área turística de São Paulo naquela época, então muita gente vinha do centro para passear na represa, a represa tinha um paredão onde todo mundo ficava passeando lá. E como tinha muita fruta na minha casa eu aproveitava e montava minhas banquinhas de vender fruta para os turistas e ganhava meu dinheirinho vendendo fruta já com sete, oito anos de idade.
P/1 – E quais eram as suas brincadeiras preferidas?
R – Naquela época não tinha muita brincadeira, eu comecei a trabalhar muito cedo, com quanto? Acho que 12 anos, porque de 11 para 12 anos eu já trabalhava numa farmácia lá no Socorro na Avenida de Penedo. Depois trabalhei em armazéns, então não tinha muito tempo naquela época para brincar não, a gente começava a trabalhar cedo o que eu acho que era muito bom, não me fez mal nenhum começar trabalhar cedo, viu?
P/1 – E da escola o senhor lembra um pouquinho?
R – Sim. Comecei no grupo escolar da represa, fiz naquela época, tinha o grupo que se chamava, grupo, fiz o primário lá e depois vim para Santo Amaro no centro de Santo Amaro porque no Socorro não tinha escola. E vim estudar no colégio 12 de Outubro, aí eu fiquei até me formar em técnico em contabilidade, sempre estudei no colégio 12 de Outubro em Santo Amaro.
P/1 – E quais são as lembranças marcantes que o senhor tem dessa época sua da infância?
R – Ah tem muitas, né? Puxa meus amigos da escola que até hoje eu tenho muitos deles, a minha cunhada, por exemplo, formou-se comigo, a mulher do meu irmão estudou sempre comigo e se formou comigo. Então a gente tem tanta história daquela época, né? Mas eu diria as mais marcantes eram os bailes que a gente participava, todo fim de semana tinha bailinho da turma do colégio, então a gente ia dançar, era muito boa àquela época.
P/1 – E onde eram esses bailinhos?
R – Todos em Santo Amaro, no centro de Santo Amaro.
P/1 – Mas era na casa de alguém?
R – Não, era uma casa que tinha um salão próprio para... Tinha o conjunto que tocava e toda turma se reunia muitas vezes por mês nessa casa.
P/1 – Ah entendi. E o senhor ia com seu irmão?
R – Não, meu irmão é mais velho que eu seis anos, então a gente não teve muita convivência quando criança, porque eu era bem mais novo que ele, né?
P/1 – E o senhor falou que começou a trabalhar bem jovem ainda, né?
R – Comecei a trabalhar cedo e depois aos 13 anos, de 13 para 14 anos, eu consegui autorização do juiz para trabalhar, porque precisava ter autorização para trabalhar com menos de 14 anos. Aí comecei já a trabalhar legalmente registrado na Laborterápica Bristol na época era só Laborterápica, que era uma empresa farmacêutica em Santo Amaro, que era uma empresa muito grande e todo mundo trabalhava na Laborterápica.
E depois outros laboratórios vieram para Santo Amaro e eu fiquei quatro anos na Laborterápica e fui depois trabalhar na Squibb, depois fiquei alguns anos mais na Squibb e naquela época a gente mudava bastante de emprego, porque...
P/1 – Era laboratório também?
R – Era laboratório, Squibb é laboratório porque tinha muita oferta de emprego, então você tinha facilidade de sair de um emprego para outro, sempre ganhando mais, não é como hoje não, então naquela época era muito boa. Aí saí da Squib e fui para a Hyster do Brasil que era uma empresa que estava começando no Brasil naquele momento, naquele ano. E o propósito deles era fabricar empilhadeiras e até hoje eles têm atividades na Marginal, perto da Avon inclusive, e eu fiquei três anos nessa empresa, na Hyster, desde que a empresa chegou ao Brasil, aí um amigo meu da Hyster que trabalhava comigo na Hyster, aliás, da família como é que chamava aquilo? Era do Açúcar União eu me lembro bem, o Marcelo era o nome dele, ele foi trabalhar na Avon e depois em conversa com ele, ele sugeriu que eu fosse trabalhar na Avon, porque ele achava que a Avon era uma empresa que ia ter certo... A Avon estava começando no Brasil. Aí eu fui à Avon, fiz uma entrevista na Avon com o gerente da contabilidade, na minha época eu trabalhava com contabilidade, ele me aprovou e quando chegou ao gerente geral da Avon que era o senhor Moss, pessoa extraordinária, ele simplesmente me rejeitou e me rejeitou por quê? Porque ele era amigo do presidente da Hyster, os dois jogavam golfe juntos. Então ele dizia que não podia tirar um funcionário da Hyster. Aí passado alguns dias o presidente da Hyster me chamou e quis saber por que eu queria sair. Então eu expliquei pra ele que eu achava que a Avon era uma empresa que ia oferecer mais oportunidades futuras do que a Hyster, a Avon era uma empresa de cosméticos, uma empresa de venda direta que estava começando no Brasil dava muito mais esperança do que a Hyster fabricando empilhadeiras, né? Aí ele acabou concordando comigo e autorizando que eu fosse trabalhar na Avon e assim eu comecei na Avon em 1960 eu já tinha 25 anos de idade quando eu fui pra lá.
P/1 – Então o senhor soube da Avon por intermédio desse tem amigo?
R – É.
P/1 – Mas o senhor já conhecia a Avon antes disso?
R – Não eu fiquei conhecendo através desse amigo meu que ele foi trabalhar lá, a Avon não era... Na época que a Avon se instalou no Brasil muita gente não acreditava, muita gente achou que eu era louco de trabalhar na Avon, porque imagina a empresa que vende de porta em porta, isso não vai dar certo nunca, muita gente contestava isso, né?
P/1 – E qual foi a sua primeira impressão quando chegou lá na Avon?
R – Eu comecei trabalhando na contabilidade de custos, que era minha especialidade, e por coincidência o meu supervisor era o João Maggioli na contabilidade de custos. Era como uma outra empresa qualquer onde a gente tinha que trabalhar, cumprir horários e fazer as coisas necessárias, então não tinha nada especial, mas era uma empresa que desde o início, o relacionamento, a amizade sempre foi muito interessante, então isso prendia muito a gente na companhia, né?
P/1 – E o senhor lembra do seu primeiro dia lá na Avon? Do primeiro dia de trabalho?
R – Nem fale, quem não lembra, né? Meu primeiro dia foi no dia 19 de dezembro, você imagina, cinco dias antes do Natal, então já era tudo festa, já comecei trabalhando com festa, dois ou três dias depois teve festa, então em vez de trabalhar eu fui à festa. No dia 24 já ganhei um prêmio de décimo terceiro, não era décimo terceiro, não tinha naquele tempo, mas sei lá me deram um prêmio já depois de dois dias de trabalho. Então o começo foi excepcional, né? Não podia ser melhor, aí no dia 31 de dezembro eu trabalhei a noite inteira, não teve final de ano não, no dia 31 nós trabalhamos a noite inteira e no dia primeiro para fazer inventário, para fazer estoque, essas coisa, foi um começo muito interessante.
P/1 – E o senhor começou na Avon onde? Na João Dias?
R – Na João Dias, a Avon começou na João Dias.
P/1 – E como era lá a João Dias?
R – A Avon era uma empresa interessante porque era conhecida como a linguiça, né? Tinha 600 metros de vários galpões um atrás do outro e nós ficamos lá muito tempo, hoje tem uma universidade lá, uma escola, acho que é uma escola, não sei se é universidade ou uma escola que prepara pra cursinhos na universidade, mas é interessante foi muito bom lá.
P/1 – Conta gente como foi essa sua trajetória na Avon.
R – Bom, está naquele papel que eu te dei escrito tudo direitinho, não sei se vou conseguir repetir tudo. Eu comecei na Avon como auxiliar de escritório e depois de alguns meses eu fui substituir um supervisor que estava com um problema de saúde na área de orçamentos, aí acabei ficando na área de orçamentos, fui promovido a supervisor na área de orçamentos.
P/1 – E como era esse seu trabalho na área de orçamentos? Quais eram as suas responsabilidades?
R – O trabalho de fazer orçamentos na empresa, ou seja, prever o que vai acontecer amanhã, o que está acontecendo hoje a gente sabe, né? A gente precisa prever o que vai acontecer amanhã, o que vai acontecer o ano que vem, o mês que vem, era esse o meu trabalho. Então a gente projetava junto com os responsáveis os objetivos futuros e esses objetivos eram comparados com os efetivos quando aconteciam. A gente tinha que fazer comentários porque deu diferenças, porque não atingiu determinados objetivos e esse era o meu trabalho, um trabalho muito interessante, muito bom para minha carreira. Daí eu fui promovido a gerente da contabilidade, fiquei muitos anos como gerente de contabilidade e fiz minha carreira ainda para diretor de finanças, depois vice-presidente de finanças até chegar a gerência geral do Brasil no final da minha carreira, né?
P/1 – E como foi essa experiência para o senhor?
R – Ah sempre foi boa em todos... Trabalhar na Avon sempre foi uma satisfação muito grande, a Avon é uma empresa que... Não, para mim, não passou ninguém aqui que possa ter dito que não era bom trabalhar na Avon, eu costumo dizer que eu tive muita sorte por ter encontrado esse emprego, ficar 36 anos lá, 36 anos entre amigos, 36 anos excelentes. E inclusive tendo hoje uma aposentadoria que me permite fazer tudo isso que eu falei.
P/1 – E ser gerente geral, quais eram as responsabilidades? O que o senhor costumava fazer? Estava à frente da empresa, é isso?
R – Gerente geral é o primeiro homem da empresa no Brasil, eu era gerente geral da operação brasileira. A Avon está em centenas de países e acima de mim estava o Ademar Serodio, o Ademar já veio aqui? O Ademar era o meu chefe, que era o presidente para a América Latina, ele era responsável por todos os países da América Latina e eu era responsável pelo Brasil. Só que a sede dele era aqui no Brasil, então a gente trabalhava muito juntos, eu estava sempre junto com ele, quer dizer, eu estava sempre junto com meu chefe que os outros gerentes gerais não tinham essa facilidade não. Então a responsabilidade era total em todas as áreas e principalmente na área de vendas, em motivação para as promotoras, pras revendedoras. Eu criei uma coisa interessante lá para mim, eu tinha dificuldade para guardar os nomes, são 500, hoje são gerente de vendas, naquela época eram promotoras de vendas. Então eu criei uma saída que eu chamava a todas de meus amores, então a promotora era meu amor e todas juntas eram meus amores, por quê? Porque elas é que vendiam, que conseguiam resultado para que eu me mantivesse na gerência geral e isso ficou marcado como meus amores, ainda hoje quando eu encontro com a promotora do tempo antigo “oh meus amores, como vai?” Legal foi legal.
P/1 – E os desafios que o senhor enfrentou? Fala um pouquinho sobre eles pra gente?
R – Os desafios foram permanentes, né? Desafios eram anuais, mensais, semanais, viver numa empresa com inflação de 2000% como a gente enfrentou naquela ocasião era terrível, não era fácil não, então exigia muito, não tinha hora para sair da empresa, não tinha horas para trabalhar, a gente trabalhava o quanto necessário. Então os desafios eram constantes, mas tivemos resultados maravilhosos, né? A Avon ganhou... Na minha gestão, nos meus anos com o Ademar, nós ganhamos dois flemers em cinco anos, quer dizer seria como ganhar dois campeonatos do mundo em cinco anos, tem a revista aí depois eu te mostro.
P/1 – E as alegrias que a Avon lhe proporcionou?
R – Só alegrias, nunca tive tristeza na Avon, teve momentos de trabalho de problemas, mas eu não diria de tristeza na Avon não.
P/1 – Alguma coisa excepcional?
R – Alguma coisa o quê?
P/1 – Excepcional?
R – Não, com relação à Avon eu tenho uma coisa muito interessante, excepcional em relação a minha vida quando eu estava na Avon, né? Porque eu sofri uma desgraça muito grande de perder meu filho com 25 anos de idade num acidente, isso foi em 1987, então a recuperação desse trauma no trabalho é complicado. Então essa foi a desgraça da minha vida eu acho que se não tivesse acontecido isso na minha vida eu seria o homem mais feliz do mundo, não precisava ter nada melhor do que eu tenho hoje.
P/2 – Quais foram as mudanças que o senhor viu acontecer na Avon durante todos esses 30 anos?
R – Mudanças em que aspectos? Nos aspectos organizacionais? Nos aspectos econômicos?
P/2 – Pode ser nos dois aspectos.
R – Ah os aspectos organizacionais é como em qualquer companhia é sempre constante, né? Têm sempre mudanças, aparecem novas formas de administrar uma empresa, então há mudanças e estratégias que mudam o sistema de organização. Agora os desafios administrativos eram sempre relacionados à alta inflação, a inflação era um desafio muito grande porque os resultados para o exterior são reportados em dólar e quando você tem uma inflação muito alta e o dólar sobe junto com a inflação você tem dificuldade para fazer resultado na moeda estrangeira, certo? Então isso era um desafio muito grande. E foi um sucesso quando houve esse plano do real que reduziu a inflação e hoje a Avon é um espetáculo. Eu acho que entre tudo que nós realizamos, eu digo nós, porque eu nunca realizei nada sozinho na Avon sempre junto com meus colegas ou superiores ou subordinados. Mas eu acho que uma das grandes estratégias que a Avon fez antes de eu me aposentar foi separar a companhia em Avon Industrial e Avon Comercial com isso a economia de imposto foi fantástica. E isso eu tenho orgulho de dizer que fui eu e o Ademar que fizemos na Avon em tempo recorde que eles nem acreditam que a gente podia fazer aquilo tão rapidamente como fizemos.
P/1 – Então o senhor considera essa como a sua principal realização na empresa?
R – Eu diria que tiveram muitas, mas essa é uma das principais, se forem pensar em dinheiro essa é a que deu mais dinheiro.
P/1 – Tá certo. O senhor quer citar mais alguma realização sua?
R – Realizações assim marcantes eram do dia a dia, tivemos... Recebi muitos elogios dos americanos, tenho... Se vocês tiverem oportunidade de realmente ir ao meu escritório para pegar fotografia, aí vocês tem tudo lá que é da Avon. Tem o que eu recebi de homenagens, meus diplomas, que eu fiz muitos cursos com a Avon nos Estados Unidos, na Universidade Worton na Pensilvânia, então eu tenho muito material lá, eu tenho no meu escritório é só Avon.
P/1 – Como era o relacionamento com os colegas de trabalho?
R – Muito bom, nunca tive nenhum problema com nenhum colega.
P/1 - E o senhor tinha também contatos com os outros gerentes?
R – Sim, quando eu era vice-presidente de finanças tinha contato com meus colegas, outros vice-presidentes e todos os outros funcionários, funcionários de finanças sempre está a testa de tudo, certo? E como gerente geral então aí é maior ainda o relacionamento, mas nunca nenhum problema a gente tinha... Sempre tivemos um convívio muito positivo na Avon.
P/1 – E o que o senhor acha que a Avon representava ou representa para os funcionários?
R – Bom, eu não tenho dúvida em dizer o que representava, o que representa hoje eu não sei. Mas o que representava e sempre representou até que eu deixei a companhia era uma empresa que ninguém queria trocar por outra, certo? Uma empresa agradável de trabalhar, uma empresa ótima para convivência, depois que eu saí não sei.
P/1 – O senhor não retornou à Avon?
R – Não, eu retorno, até hoje eu retorno, mas eu retorno para ver os meus amigos ou para ir à lojinha comprar produtos. Eu retornava muito para ir ao Banco, porque a minha conta era lá dentro, hoje eu continuo sendo funcionário da Avon, eu tenho meu documento para entrar na Avon, a minha identificação, como têm todos os aposentados que pertencem ao clube de aposentados. O clube de aposentados é interessante, essa foi uma realização também muito legal que foi formada. Eu acredito que começou não sei se foi com o Bueno ou com o João Maggioli, mas a ideia foi de que todos os que se aposentassem na Avon e que tivessem contribuído com a companhia por mais de 25 anos teriam vários direitos. Inclusive direito ao plano de saúde, a visitar a Avon, uma vez por ano tinha um churrasco, tinha uma festa, isso foi uma coisa muito bacana que a Avon fez durante muitos anos. Depois que eu deixei a Avon... Isso também já não tem hoje com a mesma... Hoje tem o clube do aposentado, o pessoal ainda tem identificação, mas já não tem mais nenhum evento como tinha antigamente, né?
P1 – É que cresceu bastante a empresa também. Senhor Odécio o senhor tem algum caso pitoresco para contar pra gente? Alguma coisa engraçada que tenha acontecido lá que o senhor se lembre?
R – Engraçada? Puxa vida 36 anos tem tanta coisa, me deixa lembrar o que eu sei de pitoresco, não sei dizer... De pitoresco, alguma coisa interessante? Que eu me lembre assim, alguma coisa que fosse tão marcante assim ao ponto de dizer, não tenho não.
P/2 – Fale um pouco sobre as festas, as comemorações que a Avon promovia?
R – É, a Avon tinha festas interessantes, eu acho que ainda tem até hoje, primeiro tinha uma festa por ano que era a festa dos funcionários. Então a gente se reunia num determinado local e aí tinham competições de futebol, a gente jogava futebol e tinha churrasco, enfim era uma congregação muito legal de todos os funcionários da companhia e o principal as festas relacionadas às vendas, então festas, as conferências de natal, né? Uma coisa marcante que eu diria que pudesse dizer, por exemplo, eu tenho como marcante foi quando numa conferência de natal eu como gerente geral nós... Acho que oferecemos um carro para a campeã, alguma coisa assim, e eu me recordo que eu entrei com aquele carro no... Onde estava sendo feita a apresentação no palco com o carro e saí do carro aquilo lá foi um negócio fantástico. Eu tenho isso gravado tudo, meus documentos, então aquelas festas que faziam com as promotoras de vendas que hoje são gerentes de setor eu acho, mas eram festas... Todo ano o ponto alto era a conferência no natal, porque o volume de vendas no fim de ano era muito maior do que durante o ano, então a conferência de natal era o ponto de partida para o sucesso da companhia no ano, né?
P/1 – E como que iniciou essa conferência de natal? Sempre teve?
R – Isso faz parte já desde o início da Avon no Brasil, isso veio dos Estados Unidos.
P/1 – Veio no pacote, entendi, está certo. Vamos falar um pouquinho da sua família?
R – Vamos.
P/1 – O senhor é casado?
R – Sou, dia 19 eu faço 50 anos de casado.
P/1 – É mesmo?
R – Faltam poucos dias, né?
P/1 – E qual é o nome da sua esposa?
R – Clarisse Lenci.
P/1 – E como o senhor a conheceu?
R – Conheci na Laborterápica, no meu primeiro emprego registrado, conheci na Laborterápica, ela trabalhava lá e naquela época começamos a namorar, eu casei muito cedo, casei com 22 anos, eu ia fazer 23 anos, dia 20 agora eu faço 73 anos e dia 19 eu casei, então eu casei um dia antes de fazer 23 anos, certo? E foi na Laborterápica, ela trabalhava lá comigo e namoramos cinco anos antes de casar, então a gente começou muito cedo, né? Então se contar tudo já são 55 anos, ela já deve estar enjoada de mim, mas não tem mais jeito.
P/1 – É, acho que agora...
R – Não tem alternativa.
P/1 – É verdade. Bom eu vou fazer uma pergunta que o senhor já respondeu, mas o que o senhor gosta de fazer nas suas horas de lazer?
R – Bom, eu estou muito envolvido com o golfe desde o tempo que eu trabalhava, eu costumava jogar com os americanos quando a gente fazia conferências nos Estados Unidos, eu era um dos poucos brasileiros que jogava golfe com eles, porque na Avon era só eu que jogava e quando eles vinham para o Brasil eu os levava pro meu clube. Eu entrei no Guarapiranga em 74, faz mais de 30 anos, né? Guarapiranga Golf Club é um clube que foi fundado há aproximadamente 40 anos atrás e depois que eu me associei a esse clube lá eu me envolvi muito com o golfe, eu trabalhei para a Federação Paulista de Golfe, fui presidente do clube durante muitos anos, fui presidente do Conselho Deliberativo do clube. Deixei a presidência do conselho agora recentemente, porque o estatuto do clube que eu mesmo fiz há 30 anos atrás não permite que sócio reeleja e é o meu caso, eu não preciso pagar mais nada no clube, porque eu já fiz 70 anos e contribuo há mais de trinta, mas também não tenho direito de exercer cargos no clube. Então eu tive que transferir o meu cargo, mas hoje eu continuo como associado e devo participar no futuro da Federação Paulista de Golfe. Então eu estou bastante envolvido com golfe, ainda ontem estive jogando lá no Arujá, no torneio... Tem uma associação de seniors no golfe do Brasil que os associados têm que ter 55 anos ou mais e essa associação organiza competições em todos os clubes, organiza competições no Brasil inteiro, você pode viajar através do... É muito interessante e eu participo bastante, então eu participo do golfe semanalmente, né? No mínimo duas vezes por semana eu jogo e quando tenho oportunidade de pescar com meus amigos também vou, gosto de pescar, tive agora faz uns quinze dias, fomos lá para Serra... Como é que chama aquilo lá no sul do Pará, no norte do Mato Grosso, é uma cidade... Como é o nome? Eu já estou naquela fase que eu esqueço muito os nomes das coisas, é Alta Floresta, Alta Floresta é o nome da cidade e a gente estava há uma hora de avião ou meia hora não sei de Alta Floresta e pescando num lugar que não tinha nada, só tinha essa pousada, era um lugar bem interessante.
P/1 – E aí vão só os meninos pescar?
R – É só homem, não vai mulher. Eu faço também junto com o Nelson Moura, não sei se o Nelson Moura está na lista de ex-Avon, não sei se ele vai participar disso, você sabe? O Nelson Moura saiu da Avon, foi ser presidente de uma outra empresa de venda direta e ele era diretor comigo, é muito amigo meu, então pelo menos uma ou duas vezes por ano nós vamos pescar em Panorama e vamos com as esposas e é um local muito legal, a gente fica lá em Panorama, você conhece Panorama?
P/1 – Não, ele está falando que vocês não são meninos e eu falei que só vão meninos pescar.
R – Só vão velhos e velhas.
P/1 – Bom, vamos falar mais um pouquinho da Avon agora. Em sua opinião qual é a importância da Avon nesse sistema de venda direta no Brasil?
R – A importância da Avon é total, a Avon trouxe isso pro Brasil e todos que estão nesse sistema copiaram da Avon ninguém nem sabia que existia antes e então a Avon é pioneira, hoje existe esse sistema de venda porque tem a Avon, a Natura é uma cópia da Avon e os outros que vieram dos Estados Unidos não... Por exemplo, tem empresas que não copiaram a Avon no sistema, porque eles têm o sistema deles lá nos Estados Unidos que é diferenciado, né? Mas esse sistema de revendedora, promotora, venda direta que a Avon trouxe quem tem isso copiou da Avon. Então a Avon foi fundamental para a criação disso no Brasil.
P/1 – E como o senhor vê o fato da Avon dar oportunidade de trabalho a tantas mulheres?
R – Mas a Avon tem obrigação de dar oportunidade de trabalho para mulheres, porque a Avon é uma empresa de mulheres, os homens lá estão, como se diz, estão fora do ninho deles, porque aquele é um ninho de mulheres, são mais de um milhão de revendedoras, 600 ou 700 gerentes de setor, mais todas aquelas funcionárias. Então eu acho que hoje a Avon deve ter 95% de colaboradores mulheres e 5% homens, então é uma companhia estritamente voltada para mulheres, né? Por isso que eu trabalhei lá 36 anos, você quer paraíso melhor que esse? Não existe, né?
P/1 – E esse fato da Avon chegar com os produtos dela em lugares tão distantes, como isso acontece?
R – Isso é uma coisa que muita gente não entende, mas é esse sistema de venda direta que proporciona isso, né? Você pode imaginar, por exemplo, eu fui pescar no começo do ano, eu fui pescar na Amazônia, então eu te dou um exemplo: a gente chega a Manaus, pega um avião vai para uma outra cidade de uma hora de vôo, aí pega um barco e viaja três dias para chegar num lugar para pescar, você encontra uma vila que tem meia dúzia de pessoas, lá tem Avon. Como é que chega? O sistema é que chega, a revendedora é que leva ou através de barco, ou através de qualquer meio de transporte, a verdade é que a Avon chega a qualquer ponto do Brasil, aliás, é um mérito da companhia, né? Não são todas que chegam não.
P/1 – Tá certo. E como o senhor vê a atuação da Avon no Brasil?
R – Bom, pelo que eu sei... Eu estive na Avon recentemente para também essa comemoração dos 50 anos da Avon no Brasil, participei lá de uma reunião e pelo que eu entendi, a Avon está maravilhosa aí e realmente na economia atual, a economia atual é extremamente favorável para as empresas multinacionais como a Avon, o dólar baixo é maravilhoso, porque produz maior resultado em dólar. Então a Avon está, segundo eu fui informado lá, esse ano inclusive a Avon deve voltar a dominar o mercado totalmente, ou seja, ser a empresa que mais vende cosméticos no Brasil, porque a Natura é um competidor bastante grande, mas a Avon deve superar a Natura esse ano.
P/1 – E qual a sua visão a respeito das ações sociais que a Avon realiza?
R – Bom, a Avon é uma empresa muito voltada pra isso, esse programa do câncer de mama é um programa já antigo, eu tenho uma revista aqui comigo vocês podem ler, interessante, eu estava folheando antes de... Tem uma visita da Lady Di na Avon para tratar desse problema de câncer de mama, para incentivar o programa de câncer de mama, enfim a Avon tem muitas ações, né? Eu acho que a Avon tem uma ação que a própria Avon às vezes desconhece, há muitos anos atrás lá no meu clube, no Guarapiranga, nós fundamos uma associação para cuidar de crianças com... Não de crianças, de pessoas com problemas... Os deficientes que eles chamam... Que hoje são chamados de pessoas com problemas... Tem uma terminologia diferente agora de deficientes e lá na Avon na área de promoção da Avon é que foi dado até o nome dessa instituição cujo nome é Caminhando, então isso nasceu para essas pessoas poderem caminhar. Daí isso evoluiu para... A Avon tinha... A Avon tem muito papelão, sobra muito papelão e era vendido para essas pessoas que têm mercado fora. Aí um dos executivos da Avon sugeriu que o Irineu que acho que também vai passar ou já passou por aqui, sugeriu que a Avon em vez de vender para terceiros vendesse isso para essa instituição. E essa instituição faria o meio campo, digamos assim, que fazia o outro para ganhar dinheiro para se sustentar sem que a Avon tivesse nenhuma despesa. Bom, esse negócio deu tão certo que hoje essa instituição tem mais de 200 pessoas lá e o que essa instituição já... O objetivo era treinar essas pessoas para dar a elas emprego, o que essa instituição já empregou de gente e a Avon continua indiretamente ajudando hoje... Tem até máquinas da instituição dentro da Avon para recolher o material, etc. Tem muita gente na Avon que nem sabe que tem esse... Que a Avon contribui para esse projeto, mas é um projeto interessantíssimo.
P/1 – Vamos retornar. O senhor quer falar mais um pouquinho de ação social?
R – Não eu já falei tudo que tinha.
P/1 – Em sua opinião qual a importância da Avon para a história dos cosméticos?
R – A importância é total, a Avon é uma empresa... Não aqui no Brasil, mas no mundo, que já tem mais de 100 anos, então é uma empresa que desenvolveu o uso dos cosméticos no mundo, a Avon sempre foi participante, né? Eu tenho impressão que é uma das principais geradoras de ideias para que o cosmético crescesse tanto no uso feminino como masculino.
P/1 – Tá certo. Vamos voltar só um pouquinho o senhor falou que começou lá na João Dias, né? E como foi essa mudança para Interlagos?
R – Bom, Interlagos nós compramos o terreno, construímos a fábrica, mudamos a fábrica da João Dias para Interlagos e o escritório continuou na João Dias e então nós tínhamos a fábrica em Interlagos e o escritório na João Dias. Depois eu não sei quantos anos nós ficamos lá, mas eu acredito que ficamos uns seis ou sete anos até que se construísse o escritório e mudasse as instalações para a Rua João Dias. E depois que a gente mudou aí eu participei da venda do prédio como financeiro da venda do prédio da João Dias para uma empresa, eu me lembro que fabricava zíper, aí ficou em Interlagos até eu me aposentar e está lá até hoje, né? Deve mudar um dia, mas até hoje está lá.
P/1 – E eu queria que o senhor falasse um pouco também sobre o centro de distribuição que a Avon tem?
P/1 - Bom, quando eu deixei a Avon nós tínhamos o centro... Nós criamos o centro de distribuição de Osasco que foi o primeiro com esse objetivo de redução de imposto, essa foi... Era o grande ideal, não era ideia para ter um centro de distribuição para poder reduzir o custo do IPI e depois disso se mostrou eficiente, ainda antes de me aposentar nós fizemos um outro centro de distribuição em Fortaleza. A Avon chegou a ter também um centro de distribuição em João Pessoa que foi fechado, eu acho até erroneamente, muito antes de criar esse de Osasco. Aí depois cresceu naturalmente, porque isso é fundamental para distribuição dos produtos e hoje com a tecnologia existente tudo ficou mais fácil. Na época, há 20 anos atrás, ter centros de distribuições era muito complexo para você poder ter as mercadorias na hora certa, porque a Avon é uma empresa que não pode entregar amanhã, você como revendedora fez o pedido, o seu pedido vai ser processado hoje ou tem o produto ou não tem, então é fundamental isso. Para alimentar os centros de distribuições há 20 anos atrás era muito mais difícil, porque não tinha a tecnologia que tem hoje, né? Hoje eu tenho a impressão que a tecnologia favorece muito, então a Avon tem mais facilidade em manter os produtos na hora certa em cada centro de distribuição e a tendência... Eu acho que a tendência disso ainda é crescer mais acho, né? Apesar de que agora eu dou palpite só de fora, não estou lá dentro, não entendo mais, não sei o que está acontecendo.
P/1 – E na época que o senhor era gerente qual era o produto assim o carro chefe?
R – Ah, o Renew que nós trouxemos, o Renew entrou na minha gestão, né?
P/1 – Fala um pouquinho sobre isso como foi essa chegada do Renew?
R – O Renew foi um produto interessante que... A verdade é a seguinte: quando eu assumi a gerência geral, juntamente com o Ademar, eu sempre brinquei, dizia que o Ademar é gênio e todo gênio é meio maluquinho, então ele era gênio e tinha as maluquices dele, mas sem dúvida um gênio. Imagina, eu brinco com ele, falo: “esse menino eu admiti” eu admiti para trabalhar na contabilidade, certo? Trabalhava comigo na contabilidade, depois fez carreira e ficou meu chefe, quer dizer, era bom, viu? E com ele, com o Ademar, nós fazíamos pesquisas junto a consumidoras de cosméticos, não sabia quem estava pesquisando. Aí tinham aquelas pessoas em volta de uma mesa e a gente não participava, a gente só via depois, não tinha ninguém, a gente só via depois porque era filmado, interessante, ninguém usava Avon, falava em Avon pelo amor de Deus, era só empregada doméstica que usava “ah minha empregada usa, eu não” ninguém usava. Aí no fim da reunião as pessoas tinham que mostrar os cosméticos que tinham em seu poder nas bolsas das senhoras em volta da mesa, aí só tinha Avon. Acho que elas ficavam até com vergonha, em resumo usavam Avon e tinham vergonha de dizer que usavam. Então a gente precisava mudar essa imagem e a Avon deve muito isso ao Ademar, o Ademar conseguiu convencer os americanos a fazer propaganda na televisão e aí trouxemos o Renew e o Renew era para ser vendido, no Brasil era para ser vendido por 30 dólares, e eu dizia: “não vai vender nunca isso aí por 30 dólares” “vai.” Trouxemos o Renew, além de vender uma enormidade, porque o produto é realmente muito bom, acabou fazendo da imagem da Avon... Voltar à imagem que a Avon sempre devia ter tido, nunca devia ter perdido, imagem de uma empresa que produz cosméticos de alta qualidade, independente de vender barato. É esse conceito que o consumidor brasileiro tem na cabeça que é uma grande burrice do que é caro é bom, eu acho que tem que acabar, eu acho que está acabando, né? Nem sempre o que é caro é bom, muitas vezes o barato é melhor que o caro e é o caso da Avon. Então isso foi um aspecto fundamental, a vinda do Renew que foi o primeiro produto... Hoje tem Renew para tudo, né? Dizem que logo, logo vai ter também para calo.
P/1 – Fala pra gente como foi essa volta da Avon à mídia?
R – Então, foi a necessidade de mudar a imagem da companhia no Brasil.
P/1 – Como foi esse processo?
R – Foi necessário convencer os americanos, isso tem um custo elevado, sai do lucro da empresa, então havia necessidade de convencer os Estados Unidos de que isso ia realmente trazer retorno, porque nada se faz numa empresa que não tenha retorno. A gente gasta o dinheiro porque espera ganhar mais do que gastou. E propaganda é sempre uma interrogação, mas o Ademar com a capacidade dele vendeu para os Estados Unidos a necessidade, ele tinha um bom relacionamento lá e os americanos toparam investir alguns milhões de dólares em propaganda e hoje então nem se fala, porque hoje a Avon faz muita propaganda. Quer dizer que nós estávamos certos na época.
P/2 – O senhor pode falar um pouquinho dos produtos que existiam quando o senhor entrou na Avon lá na década de 60? Das embalagens? A linha infantil? O que o senhor se lembra?
R – Ah, era interessante, tem produto que está até hoje na linha, né? Toque de Amor está lá. Tem mais perfumes que estão até hoje, mas o Toque de Amor era o principal, né? Então a Avon fazia muitos produtos com embalagem de Natal para realmente atrair o consumidor, a criança, então era patinho, tinha o frasco era um patinho, tinham muitas coisas, né? O sapinho. Tinha muitos produtos nessa época que hoje não existem mais, deve ter na história da Avon eu acho que ainda... Onde tem a história das embalagens da Avon acredito que vão encontrar lá, mas era muito interessante, a Avon tinha produtos bastante específicos para o Natal, né?
P/1 – Voltando à publicidade, como foi esse processo de escolha de agência de direcionamento, de público? Porque a Avon ficou muito tempo sem fazer publicidade né?
R – Eu não me recordo como que nós... Mas devemos ter feito muitas pesquisas para chegar a... como é essa mesmo de hoje?
P1 - DPZ.
R – Como é o nome da empresa que faz?
P/1 – DPZ.
R – A DPZ, então eu não me lembro como chegamos à DPZ, mas com certeza fazendo pesquisa e fazendo orçamentos e... Mas a DPZ foi muito... Eu me lembro que trabalhei bastante com a DPZ, é uma empresa que foi muito importante pra Avon, as ideias que eles trouxeram e como eu digo o Ademar meio gênio também, fazíamos juntos coisas excelentes, mas não me recordo a forma que foi feita para chegar na DPZ.
P/1 – Quantos anos o senhor ficou como gerente geral?
R – Cinco anos.
P/1 – Cinco anos? E depois o senhor se aposentou?
R – Aposentei, eu já tinha data de aposentadoria definida que é quando eu fizesse 30 anos de Avon, ou seja, eu comecei em 1960, não, quando eu fazia acho que 35, porque tem o plano de aposentadoria que nós tínhamos que para começar a receber tinha que sair da Avon. Então eu queria sair da Avon para receber, não queria trabalhar mais, já estava feliz com o que eu trabalhei. Mas quando completou, eu ainda fiz um acordo com o Ademar, eu montei... Eu saí da Avon, rescindi meu contrato, montei uma empresa que se chamava Lenci Assessoria Empresarial e a minha empresa passou a trabalhar para a Avon que era eu mesmo, era só para mudar a configuração e eu poder receber a aposentadoria. E aí eu fiquei com a Lenci mais um ano ou um ano e meio, mas meu objetivo era de aposentar.
P/1 – E desses anos todos de Avon qual o fato mais marcante que o senhor se recorda?
R – É como eu digo, teve muitos, mas uma coisa que marcou bastante é que pelo conhecimento que eu tenho, não sei hoje, mas com certeza até a data que eu saí, o único executivo que saiu da Avon com uma tremenda festa fui eu. Uma festa que veio... como é o nome? Um da televisão fazer apresentação onde eu pude convidar pessoas do meu relacionamento que estudaram comigo, meus amigos, gente que trabalhou comigo em outras empresas. Então foi uma festa realmente espetacular que eu tenho gravada tudo direitinho, e que eu saiba não existiu outra, porque todos que acabaram saindo, algum problema tiveram na saída, o João Maggioli brigou, o Ademar saiu, não sei como saiu, o Amílcar não sei como saiu também, mas com festa só saí eu.
P/1 – Que bom, né? Quem assumiu o cargo depois que o senhor saiu?
R – Então, quando eu saí veio o Amílcar, eu acho que ele está lá nos Estados Unidos, no México, está no México e ele veio pro Brasil, ele trabalhava no Brasil, né?
P/2 – Como é que foi a sua nomeação? O Ademar indicou? Você já sabia?
R – Não, foi o Ademar, quando o Ademar, o Ademar veio... tem uma história interessante aí também, viu? O Ademar foi para a Argentina e aqui no Brasil estava o João Maggioli e ele trouxe para cá um americano, que eu acredito que era o objetivo de substituí-lo, um americano que era casado com uma brasileira do norte, uma nordestina. E eu me lembro que uma vez eu fui para a Argentina para ver o que o Ademar estava fazendo em relação à inflação na Argentina e eu poder copiar o que ele estava fazendo de bom, porque eles estavam fazendo a coisa certa lá e fazer o mesmo no Brasil que tinha a inflação idêntica da gente. Fiquei acho que uns dez dias lá com o Ademar e o Ademar como sempre excepcional, no meu ponto de vista, né? Aí quando eu voltei pro Brasil, o João que era muito amigo meu também, eu sempre fui amigo de todos, eu nunca tive nenhum inimigo na Avon. Então eu falando com o João, eu acho que o convenci ou pelo menos eu dei a ele a... Pra que trazer outra pessoa de fora se você tem o Ademar na Argentina pô, traz o Ademar pra cá para ser o seu substituto e não um americano, né? Aí nós fomos pescar no Mato Grosso e o Ademar foi junto, eu sei que eles fizeram lá um acordo e o Ademar acabou voltando pro Brasil e depois acabou assumindo a gerência geral do Brasil, né? Então essa foi interessante, que são essas coisas que acontecem na administração e eu sei que acho que pra Avon foi bom, pro João acho que não foi muito. Mas eu não podia prever nada, né?
P/1 – Senhor Odécio nesses anos todos quais os maiores aprendizados de vida que o senhor obteve trabalhando na Avon?
R – Eu acho que não é trabalhando na Avon, acho que o meu aprendizado de vida veio junto com a minha criação, minha família que... Meus pais que sempre tiveram uma orientação positiva, o ambiente que eu vivi, enfim, o meu aprendizado de vida foi sempre ser honesto, portanto eu fiquei 36 anos na Avon e saí da Avon e nunca teve uma única pessoa que dissesse assim: “o Odécio fez alguma coisa em benefício próprio ou para beneficiar a terceiros” nada disso, sempre uma conduta, pelo menos no meu ponto de vista, exemplar e que meus amigos concordam com isso e apoiam, né? Então eu acho que é isso, a vida é isso, a gente tem que viver sem almejar coisas desnecessárias. Eu nunca me interessei em frequentar restaurantes onde eu possa sair dizendo: “ah eu fui ao Fasano...” acho que eu nunca fui ao Fasano e tem pessoas que vão ao Fasano só para dizer: “eu fui ao Fasano.” Eu não tenho esse... A minha filosofia de vida é outra, eu gosto de ir a lugares onde estou contente e onde eu gasto pouco, eu gosto de ser econômico, por isso que eu estou vivendo bem aposentado, certo? Se eu tivesse gasto durante a minha vida, tudo que eu ganhei fazendo essas coisas, hoje eu não estaria nem pescando e nem jogando golfe, porque jogar golfe custa dinheiro. Então esse aprendizado eu tenho e eu passo pra todos os meus amigos, nunca me interessei em ter aqueles carros importados e coisas desse tipo, sempre coisas dentro do meu padrão de vida.
P/1 – Tá bom, então vamos finalizar agora. O que o senhor acha da Avon estar resgatando a sua memória através desse projeto?
R – Bom, eu diria que é uma coisa positiva, eu acho que é importante para a empresa ter a sua história... Saber as pessoas que passaram por ela, né? E eu acho que hoje a Avon, no meu ponto de vista, sem querer fazer nenhuma crítica, mas eu acredito que nos últimos anos a Avon inclusive abandonou um pouco isso, porque, por exemplo... Eu dou um exemplo, eu me afastei como gente lá o Ademar, eu acho que em dez anos eu nunca fui convidado para almoçar na Avon um dia, certo? Agora com a mudança da gerência com o novo gerente geral como é o nome dele?
P/1 – Luís Felipe.
R – Eu esqueço, é Luís Felipe, é isso, o Luís Felipe é uma pessoa muito mais aberta, legal, ele me convidou uma vez para almoçar com ele quando o Amílcar já tinha saído. E incrível acho que um dos principais amigos que o Amílcar teve na Avon fui eu, antes dele ir embora para os Estados Unidos, quando ele foi promovido a diretor, o diretor que mais tinha relação com ele era eu, mas a filosofia dele era diferente da minha. Então ele passou dez anos na administração da Avon e nunca convidou um ex-executivo para estar junto, para formar, enfim para deixar a pessoa envolvida com a Avon, né? Então eu acho que essa história da Avon é muito bacana, vai ser útil para a companhia.
P/1 – E o que o senhor acha de estar participando desse projeto?
R – Eu tenho impressão que não só eu, mas todos os executivos que passaram pela Avon têm que... Se for fazer tem que fazer direito, né? E para fazer direito tem que cobrir todos aqueles que tiveram direta ou indiretamente uma relação maior com a Avon, dedicaram parte da vida para a companhia, muitos exemplos tem na Avon, muitos. Eu acho que vai ser até difícil fazer com que todos participem disso porque são tantos que acho que demoraria mais 50 anos para fazer o trabalho.
P/1 – Tá certo. O senhor quer deixar alguma mensagem sobre esse projeto?
R – Não, eu diria que uma mensagem de reconhecimento a essa atitude da Avon, porque eu espero poder receber esse produto e poder relembrar e ver o que os meus amigos também falaram, ver o que eles falaram e eu acho que vai ser uma coisa muito interessante para a história não só da companhia, mas também para nossa história, né? Para todos aqueles que passaram pela companhia.
P/1 – Tá bom. O senhor quer falar mais alguma coisa?
R – Não, eu diria... O Luís Felipe eu tenho certeza que isso é uma ideia dele, então a ele meus parabéns pela iniciativa.
P/1 – Tá certo, então em nome da Avon e do Museu da Pessoa nós agradecemos muito a sua entrevista.
R – Ok, obrigado.Recolher