IDENTIFICAÇÃO Irene Inês Vandsbergs Preyer, nascida em São Paulo no dia 17 de abril de 1948. ATIVIDADE ATUAL Atualmente eu trabalho com eventos corporativos e abri uma empresa própria para cuidar desses negócios. FAMÍLIA Meus pais são Alfredo Vandsbergs e Martha Vandsberg...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Irene Inês Vandsbergs Preyer, nascida em São Paulo no dia 17 de abril de 1948.
ATIVIDADE ATUAL Atualmente eu trabalho com eventos corporativos e abri uma empresa própria para cuidar desses negócios.
FAMÍLIA Meus pais são Alfredo Vandsbergs e Martha Vandsbergs. O meu pai na verdade por uma característica de nacionalidade, domínio de idioma, trabalhava como caseiro numa chácara. Trabalhou muitos anos com uma mesma pessoa. E minha mãe era dona de casa. A origem da família é da Letônia, um país pouco conhecido. Nós éramos seis irmãos, cinco vivos.
INFÂNCIA Morei a vida toda quase que na mesma região, mudava só de casa, mas na chácara Santo Antonio. Nasci e vivi lá durante quase toda minha vida e ainda moro na região de Santo Amaro, chácara Santo Antonio hoje é onde fica o nosso escritório. Nós morávamos numa chácara, uma família grandona, de seis irmãos, e pai, irmão, avós morando conosco. Era um lugar muito espaçoso, muito gostoso. Hoje muitas pessoas gostariam de ter a oportunidade de viver lá, só que naquela época a gente não sabia dar o devido valor. Era um lugar que tinha um lago, bosque, horta, plantação de árvores frutíferas, então foi um período muito bonito da nossa vida, muito legal.
BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA A brincadeira era rodar pneu ou pular em descaídas. Eram carrocinhas puxadas por pôneis, pescarias no lago da própria chácara, bolinha de gude, empinar pipa, brincar de casinha fazendo a comidinha, catando as verduras, os legumes na horta e ovos também que tinha lá na chácara, então a gente, minha mãe deixava pegar os ingredientes e fazer comidinha de verdade, então foi uma coisa muito natural a nossa vida, não tinha jogos e televisão e essas coisas. Hoje em dia, eu tento repassar para as crianças, mais é pouca oportunidade que você tem de fazer isso.
CIDADES / SÃO PAULO Eu acho que [antigamente] era um lugar bem mais tranqüilo e hoje se tem excesso de carros, naquela época tinha falta. Para locomoção até um lugar para compra, para fazer alguma coisa, tipo assim, centro de Santo Amaro que era o lugar que eu morava, íamos de charrete ou então no lombo de cavalo mesmo, naquela época, atravessávamos um bairro que é bem conhecido naquela região, chama-se Granja Julieta, e por ali íamos, e era o nosso meio de locomoção. Senão andávamos a pé mais ou menos uns dois quilômetros para pegar ao bonde que passava na [rua] Vereador José de Lins. Na época não tinha ônibus, então esses eram os meio de locomoção mais usados naquele período, o que gravou mais na memória.
INFÂNCIA Nós nascemos e fomos criados em igreja batista, e como tinha muito espaço na nossa casa, muito quintal, muita área verde, fazíamos festas juninas. Então o pessoal da igreja vinha e era festa assim de duzentas, trezentas pessoas, com fogueira de varar a noite e o dia seguinte. Todo mundo dormia conforme dava no terraço, no livre da casa. Eram coisas gostosas, fazer brincadeiras, porque dentro da nossa religião não se dançava, então fazia outro tipo de brincadeiras, de roda, de pular fogueira, uma série de outras brincadeiras que eram comuns na época. Isso traz lembranças gostosas, porque era uma maneira diferente de se divertir, mais sadia talvez.
FORMAÇÃO Os estudos foram sempre em escolas públicas e comecei aos sete anos mesmo, para o primário. Fiz ginásio longe de casa, mas também em colégio estadual e equivalente ao colegial que era secretariado. Esse eu fiz no centro da cidade, mas sempre morando onde eu comentei que morei. Naquela época faculdade não era uma coisa acessível para todo mundo, sei que hoje ainda é difícil, mas naquela época era mais ainda, então não tive oportunidade de fazer uma faculdade, depois fui, na medida em que a necessidade foi aparecendo, já na Avon inclusive, fui fazendo cursos complementares: inglês, estenografia que pouca gente já sabe o que é isso, não é. Isso é taquigrafia, um método usado para você anotar reuniões, resultados de reuniões, de excursões através de sinais. Então fizemos esse curso em português depois fiz para inglês e usei bastante, bastante mesmo. Hoje a turma da risada, não sabe o que é, mas isso foi um método muito legal inclusive em escolas, para você anotar a explicação do professor, ajudava bastante, era bem legal, hoje o gravador resolve (risos). Minhas irmãs todas foram secretárias. Então, talvez tenha sido uma coisa que veio naturalmente, para mulher na época. Era difícil escolher uma profissão e achávamos que sendo secretária seria uma coisa legal, eu acho que foi por ai.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Comecei a trabalhar com 12 anos. Minha mãe quase apanhou do juiz de menores, porque precisei tirar uma licença especial. Eu já era meio maluca na época, arrumei um emprego bem perto da escola, que eu estava no ginásio. Cheguei em casa e simplesmente expliquei para minha mãe: “Faz uma marmitinha para mim, domingo à noite, que amanhã eu vou trabalhar.” E assim comecei a minha vida profissional e não parei mais até hoje. Meu primeiro emprego foi numa loja de doces em frente ao hospital São Luís, na Avenida Santo Amaro. Fui trabalhar no balcão. Depois disso, vizinha a essa loja havia uma relojoaria. Eu estava há um ano mais ou menos nessa loja e os donos da relojoaria convidaram se eu não queria passar para lá, que me pagariam um pouco mais. Eu fui (risos), só que não gostei muito do que eu fazia lá, voltei para doceira mais tarde (risos), fiquei mais um bom tempo na doceira. Depois disso, de bico em finais de semana, havia uma empresa, isso é outra coisa estranha, porque hoje em dia vocês não ouvem mais falar, havia uma empresa limpadoras de fossa e eles precisavam de plantonistas para atender telefone no final de semana. Eu trabalhei nisso. Mais tarde, eu estava em casa exatamente assim, parada, eu não estava fazendo nada e tinha uma irmã que trabalhava numa empresa. Nessa empresa, um funcionário que trabalhava na fábrica, teve um problema sério de pulmão, por intoxicação de produtos, então para que ele pudesse sair de licença, precisavam de um alguém para substituir, e eu fui fazer essa substituição. Trabalhei nessa empresa três anos, comecei lavando vidros de experimentos de produtos químicos, depois eu passei para o escritório como telefonista. Depois disso fui auxiliar de faturamento, passava as faturas em extenso, em gelatina, fazia cópias na gelatina, era um processo bem diferente. Fiz isso, passei para um escritório.
TRAJETÓRIA AVON Depois disso eu pedi demissão e surgiu uma vaga de auxiliar de escritório na Avon. Eu tinha uma irmã que trabalhava lá nesse departamento Cometi a loucura de me candidatar. Só que foi uma coisa muito louca, porque todo mundo torcia para que eu conseguisse passar nos testes. Eu era muito nova, tinha 16 anos, e o pessoal do departamento dizia: "Tudo o que o chefe perguntar, se você sabe, você responda que sim". E eu fui falando: "Sim, sei, sei." Porque eles diziam: "Depois nós te ajudamos". Só que chegou numa hora que ele falou assim, você sabe taquigrafia? Eu falei sei, só que ele falou, está bom, vamos a um teste, e começou, mandou trazer papel, lápis, um caderninho e começou a ditar um trecho. Até na hora eu estava começando a fazer esse curso, então eu sabia só os sinais básicos, aquilo me deu uma tremedeira, eu falei: “Agora danou-se”, mas peguei lá um pouco do texto que ele ditou em português. Ele era um homem muito bravo, e eu fiquei muito nervosa, entrei em pânico, só que Deus é pai, ele não abandona, ele foi chamado a uma reunião de emergência, não sei, daí todo mundo me ajudou a traduzir o texto (riso), para eu poder não passar um carão com ele, mas deu certo. Fui para o departamento pessoal fazer entrevistas e toda parte necessária para admissão de alguém.
E depois de uma semana trabalhando na Avon, graças a Deus, e no departamento dele —isso foi uma coisa que marcou porque tinha uma fama de ser muito bravo — havia um funcionário de idade na época, quando ele brigava com esses funcionários discutia, mostrava o erro, alguma coisa, um senhor Alemão saia da sala e batia a cabeça na parede de medo, de nervoso,. Batia a cabeça na parede. E eu conhecia todo esse histórico através da minha irmã que era secretária do departamento, então, morria de medo desse homem, eu morria, me pelava de medo, mas ele foi a pessoa que mais me incentivou a crescer dentro da Avon, ele me aconselhava a fazer cursos e chegou a pagar algum curso na época, Inglês, eu acho, chegou a pagar um curso de Inglês para mim e tudo. Ele era muito bravo, mas ele era muito gente boa, um coração muito grande, ele se chamava seu Quines, acho que pouca gente na Avon se lembra dele ainda, mas foi um dos homens mais bravos que eu conheci lá (risos), foi uma história para não esquecer. Quando entrei eu já conhecia a Avon através da minha irmã. Eu havia sempre, até por essa questão religiosa, toda moça é vaidosa e antes dessa minha irmã entrar na Avon, a gente não sabia o que era. Imagina usar uma sombra, um blush, um batom? Meu pai costumava dizer que era coisa do diabo, imagina, era uma coisa complicada e eu meninona não via a hora de poder trabalhar lá também. Eu praticamente gastava quase meu salário de tanto comprar produtos porque eu adorava. Aquilo foi uma transformação na nossa vida até em casa, no fim até minha mãe estava usando batonzinho. Então, mudou alguma coisa até dentro da nossa casa.
AVON / PRIMEIRAS IMPRESSÕES Foi ótima porque havia certa integração, o pessoal me recebeu muito bem, e eles me ajudavam em tudo, era uma coisa muito boa, porque tinha muitos rapazes e eu era meninona. Eu gostava sempre de muita brincadeira, foi fácil esse entrosamento com o departamento, e a partir daí eu agradeço a eles porque me ajudaram muito e acho que me desenvolvi bastante com essa ajuda, foi muito legal, tanto que eu fiquei lá tanto tempo. (risos).
PRIMEIRO DIA DE TRABALHO Eu me lembro do nervosismo que tomou conta de mim. Ai meu Deus como vai ser e como não vai, esse é um medo que a gente tem do desconhecido. Acho que isso é normal sentir, e sente até hoje. Apesar de eu ser uma pessoa alegre, eu sou tímida, não tomo iniciativa para um bate papo nem nada, agora se alguém vier e me deixar a vontade ai a coisa muda. Esse primeiro dia eu sei que cheguei bastante tímida e com medo, mas fui tão bem recebida que compensou tudo isso e passou rapidinho (risos).
AVON / JOÃO DIAS Naquela época o escritório era na Avenida João Dias, e comecei a trabalhar nesse prédio e num departamento que se chamava Controle de Produção e Inventário. Dentro desse departamento havia um pedaçinho que era o departamento de finanças, ele só estava localizado ali e vamos dizer assim, fisicamente, um não tinha nada a ver com o outro, mas por questão de espaço eram juntas as áreas.
TRAJETÓRIA AVON Entrei como auxiliar de arquivista. Não era arquivo de puxar esses gavetões que se tem hoje, era arquivo de cardex. Eram umas fichas que controlavam a produção, o que acontecia na fábrica. Aquilo devia estar sempre muito atualizado, então havia uma pessoa que digitava essas fichas e eu arquivava, para manter em ordem os estoques dos produtos que eram controlados praticamente manualmente. Trabalhei nisso algum tempo, aí passei a atender, sem registro, sem título, mas era como uma secretária auxiliar de finanças, que estava ali junto. Comecei a ajudar no departamento de finanças também, meu primeiro chefe lá era o senhor Ismael Ferreira, e nós trabalhamos alguns anos juntos, até que a minha irmã, que era secretária da gerência desse departamento se casou. Naquela época quando uma moça se casava ela era desligada, então ela saiu do Avon, e eu quase que automaticamente fiquei no lugar dela, então aí começou a trajetória, vamos dizer assim, da minha vida profissional na Avon. Fiquei muitos anos nesse departamento, talvez quase metade da minha vida profissional, estou exagerando um pouco, mas muitos, acho que uns quinze anos. Depois a Avon é uma empresa que muda sempre e começou uma transformação interna. Os departamentos começaram a mudar de nome e o meu chefe, que era o gerente do controle de produção e inventário nessa época, assumiu uma nova função que estava ligada a projetos, chamava-se Projetos Especiais, mas porque era para selecionar e estudar os projetos que seriam contemplados com os primeiros programas de computador, vamos dizer assim. A Avon estava iniciando a fase de processamento de dados. Era assim que se chamava esse departamento. E o seu Fernando começou a trabalhar nos projetos que priorizariam essa transformação para a informática, e eu fui com ele, ficamos alguns anos, trabalhamos uns três anos e ele se aposentou, saiu da empresa, foi embora para Mato Grosso com a família, e eu continuei na João Dias, mas fui convidada para ajudar, vamos dizer assim, o engenheiro, secretariar na verdade o engenheiro que estava construindo a primeira fase de expansão da Avon Interlagos. Naquela época, em Interlagos tínhamos só a expedição, então houve uma fase de ampliação da expedição, daí eu trabalhava meio período na João Dias e na parte da tarde eu ia para Interlagos. Assim contrabalançando as duas áreas. Até que surgiu a oportunidade de construir o edifício administrativo. Como eu já estava lá a mesmo, fiquei o período integral trabalhando com os engenheiros, tanto de Nova Iorque quanto do Brasil, que construíram esse edifício que vocês conhecem. Foi uma coisa muito interessante porque saiu completamente do ramo de perfumaria, de cosméticos, para falar de cimento, de ferro, de ar condicionado. Termos totalmente diferentes, materiais totalmente diferentes. Deu para aprender bastante coisa lá, foi muito interessante.
AVON / INTERLAGOS Eu era recém casada, não tinha filhos Então foi legal, eu acho que é bom mudar, eu gosto de mudanças, eu gosto de desafios. Na vida pessoal não interferiu em nada, e na vida profissional, eu gostei do que eu fiz lá, foi uma coisa, eu trabalhava dentro de um barracão de obra mesmo. Então, o escritório era dentro de um barracão. Foi uma experiência boa, porque esse pessoal que trabalha em obras é um pessoal muito humilde, vem de longe, não sabe os termos da gente. Ali aconteceram muitas coisas que hoje a gente dá risada, mas na época tive pena. Por exemplo, eles me chamavam de doutora e não entrava na cabeça deles que eu não era doutora, mas eles me chamavam assim. A gente tinha que usar aquelas botas, aqueles capacetes para andar na área que estava em obra, e uma vez veio um senhor com muita humildade, e ele tinha cortado bem feio a perna dele e veio me pedir um socorro, e estava sangrando, estava muito feia a perna dele. Eu quis levá-lo ao ambulatório porque já tinha um ambulatório lá e ele não queria. Falou: “Não, eu só quero que a senhora me dê um negócio branco, daquele que a mulher usa.” Eu falei: “Meu Deus, o que o senhor quer? O que é branco? Que mulher usa?” “Aquele negócio que a mulher usa quando sangra.” Na verdade, ela queria um modess para fazer um curativo na perna. Então sabe, trabalhar com gente simples assim é muito bom. É muito bom porque esse pessoal tem um reconhecimento tão grande pelo mínimo que você fizer por eles que enche seu coração de alegria, é bom poder trabalhar com pessoal assim. Tudo é muito sincero, eles faziam pipoca lá no barracão onde eles dormiam e vinham trazer para gente, aquele café assim bem ralinho, coado não sei nem aonde com a pipoca, mas todo dia eu ganhava um pratinho fundo de pipoca, um prato assim desses de porcelana branca, da mais simples, mas toda lascada, toda rachadinha. Eles vinham trazer com aquele carinho e aquele copinho de café. Então foram experiências únicas para mim, foi um crescimento pessoal, não só profissional, mas o crescimento pessoal de ver a bondade do coração dessa gente e assim. O mínimo que eles têm, dividem com você, é uma coisa incrível isso, foi uma lição de solidariedade, de vida mesmo.
Aí quando o escritório se mudou para Interlagos, os funcionários que estavam nesse barracão tiveram a oportunidade de escolher o que gostariam de fazer para serem recolocados. Eu queria trabalhar em marketing naquela época e tinha vontade de trabalhar e conhecer um pouco de marketing, então eu consegui ir para um departamento que se chamava Incentivos, naquela época era dentro de marketing, então eu fui como secretária do gerente de Incentivo, eu trabalhei pelo menos seis anos nessa área. E ela foi um total aprendizado para mim, principalmente no crescimento do idioma inglês que antes eram mais raras as oportunidades para praticar, para falar. E eu tinha que traduzir boletins de procedimento, uma série de coisas e foi muito legal, eu cresci muito em Incentivos, aprendi muito, foi muito bom. Depois disso se formos somar esse tempo todo, desde o início da minha vida na Avon, se passaram 20 anos. Aí surgiu a minha primeira oportunidade para concorrer a uma vaga de secretária de diretoria. Fomos chamadas, dentre outras candidatas também internas, não sei se havia externas, para fazer um teste em RH. E até fiquei muito brava porque, você está trabalhando 20 anos em uma empresa, todo mundo te conhece, fazer um teste de datilografia, eu queria morrer. Então aquilo me deixou queimada, eu fiquei muito chateada, mas fui bem, devo ter passado porque recebi essa promoção e aí fiquei alguns anos como secretária de diretoria de marketing. Foi muito bom porque daí para frente foi tudo muito mais rápido, daí para frente eu acompanhei o meu chefe, que foi o seu Ademar Serôdio. Então quando na diretoria eu estava com ele, à medida que ele foi sendo promovido, foi para vendas e eu fui também, e a medida que ele foi sendo promovido, ele me levava junto, e aí nós chegamos até a fase da presidência. Essa fase foi gratificante porque, aí você vê depois de quase trinta anos de empresa, eu senti a necessidade de voltar a estudar outra vez, porque ele se tornou Presidente do Brasil e Vice-Presidente para América Latina, então ele cuidava de toda América Latina. E eu tinha contato direto com os países da América Latina e cadê o Espanhol? Estava fazendo falta, então foi aí que nós reiniciamos os estudos e fiz um curso bem puxadinho de Espanhol. Então também graças ao trabalho eu melhorei o meu currículo, já sabia o inglês, já tinha um bom conhecimento, e adicionamos Espanhol, mais o português e o Letão que quase não serve para nada, mas de certa maneira ajuda a desinibir a língua.
AVON NO MUNDO Meu relacionamento com os demais países era por telefone, fax, e assim; receber os visitantes internacionais. Acho que por receber esses visitantes nesse período é que surgiu a idéia de um dia poder trabalhar com eventos, porque eu cuidava de tudo deles, da vinda, da agenda, do hotel, mandar uma cartinha de boas vindas. Coisas que nós criamos e que não existia antes na Avon, então mesmo se viessem visitantes para outra área, foi na gestão de seu Ademar que nós criamos um procedimento para receber esse visitante na sala do presidente no primeiro dia. O visitante dizer a que veio e depois no último dia da agenda também alguns minutinhos para ele dizer qual foi a experiência dele no Brasil, se ele gostou, se foi válido, produtiva. Então lidar com visitantes internacionais hoje é o que eu mais curto fazer, e saiu daí, aprendi aí.
DESAFIOS Os desafios são constantes, acho que um desafio que a gente tem no dia-a-dia é você aprender a lidar com todos os tipos de pessoas, eu acho que o relacionamento é, com as pessoas, saber filtrar porque você de certa forma, está representando uma pessoa numa função importante, você não pode simplesmente deixar tudo chegar até a pessoa. As pessoas irem conversar direto com o presidente, tem que saber até ser delicada para dizer um não, ou para marcar uma hora ou para dissuadir a pessoa de alguma idéia. Então eu acho que essa parte de desenvolvimento de relacionamento pessoal, para mim foi muito bom. Eu aprendi muito com isso, foi um desafio muito grande porque, às vezes, nós agimos por impulso, e não pode, você tem que aprender a ter calma e saber, vamos dizer assim, realmente peneirar as coisas. Ver até que ponto vale a pena ou não levar até o chefe ou poupá-lo de algumas coisas desagradáveis muitas vezes.
ALEGRIAS Muitas (risos), tudo é alegria. A gente olha a Avon e ela é uma empresa que entra no sangue, faz parte da tua vida. Hoje, mesmo fora de lá, se alguém me chama para alguma coisa, eu vou feliz da vida, porque me sinto parte de um todo ainda, mesmo que distante. As alegrias foram muitas, eu me casei com uma pessoa não “avoniana” e ele simplesmente não entendia que tanto tinha nessa Avon que eu curtia trabalhar. Era legal. Eu não voltava para casa reclamando. E depois de muitos anos de casamento, tive minhas filhas e elas também cresceram sabendo que a Avon é legal, então elas também não tinham ciúme da mãe estar na Avon. Tanto que mais tarde, bem mais tarde, quando elas já eram moçinhas, elas também tiveram oportunidade de fazer alguns trabalhos por meu intermédio dentro da Avon como recepcionistas em algumas ocasiões especiais. Ajudar por exemplo no final de ano, na distribuição de cartões de Natal, o meu chefe gostava de mandar cartão de Natal para todo mundo, ele tinha um relacionamento enorme, então, o que hoje nós chamamos de gerente setor, promotoras de venda, todos recebiam cartões de Natal dele. E ai se ele não mandasse, elas se sentiam lesadas, e todo relacionamento dele com as Avon de outros países, o pessoal de fora. Os executivos da amizade dele. Então, sozinha eu não dava conta desse recado, apertava muito o trabalho para mim no final de ano, como as meninas já estavam grandinhas e eu pedi autorização para ele para levá-las lá uma ou outra para pelo menos colar os cartões. E ali era um departamento que não pode entrar qualquer pessoa. Tinha que ser pessoa de confiança. É um setor que você tem que ter certo cuidado, então por causa disso elas me ajudaram bastante assim nos finais de ano lá trabalhando e esse convívio foi legal, porque elas também aprenderam a gostar da Avon. Hoje elas me ajudam nessa área de eventos, principalmente condução e eventos da Avon, as duas vão para ajudar na recepção no que precisar. Trabalhamos juntas, elas cresceram aprendendo a dar valor ao trabalho, também começaram cedo e eu acho que tudo isso eu devo a Avon.
EVENTOS AVON Quando da aposentadoria do meu chefe eu passei a trabalhar no departamento de comunicação, que algum tempo respondeu para marketing, foi responder para RH, depois retornou para marketing. Lá já era um departamento formado, tinha gerentes, tinha, vamos dizer assim, uma supervisora. Então tudo que elas precisavam de eventos internos ou externos e que eu pudesse ajudar eu ajudava também, só que de certa forma, acho que por causa dessa experiência que adquirimos no lidar com os Vips, eu acabei sendo mais requisitada para cuidar dos em qualquer evento que acontecesse. Eu cuidava da alimentação, do transporte, acompanhava a segurança então, dentro da Avon eu acho que o que mais contou para mim em área de eventos foi essa parte. Por exemplo, já como empresa de eventos fora, nós tivemos o privilégio de ser convidados. O primeiro evento legal da Avon que surgiu, foi receber a presidente mundial. Porque a gente tem certo cuidado, além de ajudar a parte de idiomas, eu sei o que ela gosta de comer o que ela não gosta, eu ia tomando nota no decorrer dos anos. Isso ela não comeu, mas por observar, sabe, o prato, olha ela não gostou disso, ela não gostou daquilo, então isso eu nunca mais oferecia, mas esse cuidado com a alimentação, sei lá, se você sabe que alguém tem um problema de saúde, então você vai tratar de cuidar, dar o que a pessoa pode comer, entende, então acho que por causa desses cuidados eu fiz muito isso na Avon, cuidar mesmo das festas, mais da parte de A e B e receptivo de Vips.
TRAJETÓRIA AVON Trabalhar com o Ademar foi fácil, porque o Ademar era uma pessoa de muito bom humor, lógico, eu nunca esqueci que ele era meu chefe, sempre o tratei assim, mas ele era uma pessoa que delegava, e muitas vezes ele me dava liberdade de dar soluções para alguns casos. Lógico, com a ciência dele, mas sozinha, então isso me dava certa tranqüilidade, porque é muito difícil você trabalhar com alguém que viaja muito, que é o caso de todos esses executivos. Nenhum deles foi presidente da empresa, mas estando lá o tempo todo, eles viajam muito, é uma loucura a vida deles. E o que foi mais legal trabalhar nessa gestão do Ademar, foi que a família dele passou a ser a minha família, porque na ausência dele você precisa ajudar a família. Ele tinha filhos pequenos, jovens ainda, adolescentes quando nós começamos a trabalhar juntos, tinha uma esposa, tinha mãe, então eu tinha uma liberdade de ligar para casa de um ou de outro e resolver todas as pendências, o que me deixava muito à vontade, isso foi uma coisa que firmou minha autoconfiança no trabalho. Eu acho que foi muito fácil trabalhar com ele, muito fácil, ele foi um chefe muito bom para mim, muito compreensivo, sempre muito ligado na vida familiar minha e dos funcionários também. Estou falando de mim porque trabalhávamos diretamente, e na família dele também, então eu ajudei muito no casamento da filha dele. A coisa transcendia um pouquinho, aquele trabalho dentro da empresa. Só que eu organizava, fazia tudo e depois caía fora, eu não misturava as coisas, com delicadeza eu saía e tal. Até, às vezes, ele falava assim: “Puxa você é orgulhosa”, mas não é questão de orgulho, eu acho que a gente tem que saber o nosso lugar, nunca pode se esquecer disso. Mas gostei muito de trabalhar com ele, eu trago lembranças muito boas, muito positivas.
MUDANÇAS Foram muitas. Teve mudanças, não que não fossem significativas, mas que não mexia muito com as pessoas. Só mudanças de um departamento, transferências, de nome de departamentos, enfim, mudanças de nomenclaturas de cargos, mas houve um período que houve uma mudança muito difícil, muito triste, uma reestruturação muito grande na Avon Brasil, principalmente, e isso acho que foi lá para os anos 80. Muita gente deixou a companhia, a gente não gosta de chamar isso de corte, mas acaba sendo, naquela época foram mais de cem pessoas mandadas embora de uma vez. Mas a Avon tem o cuidado de preparar isso. Só que quando chega na hora de você enfrentar essa realidade, é muito difícil, porque você vê pessoas queridas indo embora, e a gente sabe como é difícil o desemprego, não importa o cargo que essas pessoas exerciam. A ligação era mais forte, a ligação era assim, você considerava tudo amigo, todo mundo era querido para você, então você ficava sabendo de um, de outro, do terceiro que estava na lista. É muito duro. Essa época tudo aconteceu, que tudo terminou, os que ficaram se sentiam como num período que luto. Foi uma coisa muito ruim superar e as mudanças foram muitas, depois houve a era da globalização. Anteriormente tudo que se fazia na Avon a gente abria um livro de procedimento, uma bíblia enviada por Nova Iorque então tudo era de acordo com que Nova Iorque determinava, mas com a globalização isso mudou. Eu acho que foi aí que o Ademar pegou, exatamente no período da globalização e esse período também foi muito difícil para o pessoal se adequar porque de repente você pára de dizer amém e está tudo resolvido. Você tem que usar mais a tua cabeça, tem que saber o que é melhor para o Brasil, resolver as coisas localmente, então, eu acho que esse foi um período difícil de adaptação. Mas graças a Deus acabaram bem, foram superados e hoje é essa potência indiscutível.
MUDANÇAS TECNOLÓGICAS Antes da era do computador tivemos uma transformação grande que você passou da maquina de escrever manual para elétrica. Nessa oportunidade havia um departamento que se chamava OM (Organização e Métodos). Como a empresa não disponibilizava uma máquina para cada secretaria ou para cada departamento, não sei como era isso, tinha que se priorizar quem ia receber as primeiras máquinas elétricas.
Eu passei por essa fase de testes e a gente tinha que comprovar qual era o teu volume de trabalho datilografado por mês para saber se fazia jus ou não a uma máquina elétrica. Esse departamento que ia julgar se você era merecedor ou não, ou se tinha gente que tinha uma prioridade maior. Essa foi uma fase interessante, hoje contando é uma coisa engraçada. Depois a fase do computador. Eu já estava na presidência e para secretária, acho que o meu foi um dos primeiros computadores, senão o primeiro. Aquilo para mim era um bicho de sete cabeças, eu o deixei seis meses na minha mesa sem nem tirar capinha para não empoeirar. Morria de medo, até que as colegas foram ensinando. Eu tenho medo de tecnologia. Sou péssima em tecnologia até hoje, mas aos poucos, a Avon mesmo nos proporcionou alguns cursos internamente. Aí sim eu comecei a me desinibir. Então também o que eu sei hoje, devo a eles, pelo cursos que fiz. Não sou uma expert, mas eu acho que evolui bastante, (riso) na fase do computador, mas foi legal.
PRINCIPAL REALIZAÇÃO Profissional. Acho que eu cheguei ao ápice da minha carreira, se eu elegi ser secretária a minha carreira principal, eu cheguei ao que eu podia chegar, até mais do que eu sonhava, porque eu jamais pensei que chegaria a uma presidência por nem faculdade ter na época. Então, acho que estou totalmente realizada nesse sentido. E [realização] pessoal, eu ainda digo que tudo o que tenho hoje, que não seja muita coisa, devo a essa carreira que construí dentro da Avon. Porque foi com o salário, com os acertos, com indenização, com toda minha vida dentro da Avon, que eu construí, junto com meu marido, nossa própria casa, carro. Temos um apartamento pequeno na praia, esse apartamento nós compramos naquela virada da aposentadoria que você continua trabalhando, mas teria direito de tirar seu fundo de garantia. Então fiz isso, dei entrada em um apartamento em construção, paguei as prestações com a aposentadoria, porque eu não queria que o dinheiro da aposentadoria fosse consumido em supermercado. Em coisas banais da casa, porque isso vai mesmo. Então virou um apartamento que está lá até hoje, graças a Deus, e com a última indenização. Fiz umas loucurinhas a mais, vendi carro, um monte de coisas e compramos outra casa em Campos do Jordão. Bonitinha. Pequena e simples, mas era mais um sonho. Então, eu acho assim, estou com meu sonho profissional realizado em termos de carreira dentro da empresa, o meu sonho pessoal também, e hoje eu continuo realizando esses sonhos de certa maneira profissional. Porque eu continuo prestando eventualmente serviços para Avon, em termos de organização de eventos, quando são eventos que tem aquelas características que eu fazia lá dentro, também somos cotados, participamos da cotação de agências e a acabamos ganhando, fazer o quê (risos).
RELACIONAMENTO COM COLEGAS É muito bom, se eu tiver inimigos na Avon. Ah, sempre tem, deve ter aquela coisinha de ciúmes, um ranço: “porque ela, nessa função e não eu?” Mas isso é bobeira, porque muitas coisas acontecem sem que você espere, sem que você peça, mas eu acho que de maneira geral eu deixei muitos amigos. Tanto que continuamos com contato até hoje. Ninguém é obrigada a gostar de alguém, certo? E se isso existir em relação a mim, eu nem sei, não conheço e prefiro não saber. Mas tenho muitos amigos ainda, e praticamente os amigos que eu tenho, que vieram para casa, vieram da Avon também, de certa forma, porque foi lá que eu passei a maior parte da minha vida. Eu não tive muitos outros caminhos para fazer amigos. Eventualmente um ou outro sim, mas a maior parte deles é os que fiz na Avon.
IMPORTÂNCIA DA AVON
Eu sou um pouco assim, eu não deveria nem dizer isso, porque sou macaca de auditório da Avon. A Avon foi a minha vida toda. Eu sei de muitos funcionários que saíram de lá, com os quais eu tinha algum contato, que sentem muito falta. Porque é como eu te disse, existe alguma coisinha lá que contamina, entra no sanguinho das pessoas e você se lembra sempre das pessoas com muito carinho.
Ontem mesmo aconteceu uma oportunidade, fui fazer uma visita técnica a um hotel, e a pessoa comentou sobre os produtos da Natura. Fiquei fula da vida, porque eu estava representando a Avon ali, fui fazer essa visita técnica para um trabalho para Avon, ela nunca devia ter dito que gosta mais da Natura. Então a gente sente ciúmes da empresa, parece que a empresa é tua. É bobagem, mas, a gente sente. É muito interessante também quando se vê um funcionário novo iniciando. Na minha época nós olhávamos e falávamos assim: ”Esse é estilo Avon ou esse não é Avon estilo Avon” e não ia dar outra, não importa a função que essa pessoa desempenhasse. Ou ela entrava e se integrava totalmente, ou não conseguia. A Avon é uma empresa típica, não existe nenhuma empresa igual lá fora, tanto que quem trabalho muito tempo lá, acho que quando sai tem algum problema de adaptação. Porque ela é completamente diferente das demais empresas. Antigamente existia essa coisa de paternalismo, de família. De alguns anos para cá, já estão trabalhando para tirar essa idéia da cabeça das pessoas, mas ainda assim ela é família. Ainda assim ela é um ambiente muito saudável e um lugar gostoso, prazeroso de você trabalhar. “Você não vai para Avon? Ai que droga Vou ter que trabalhar hoje”, você não vai assim. Não sei se alguém sente isso, mas, eu acho que não. Acho que até hoje com todas as mudanças que possam ter ocorrido na empresa, novas cabeças pensantes e tudo isso, há ainda as pessoas que lá estão e curtem trabalhar na Avon. Você forma um circulo de amizade muito bom e um relacionamento muito saudável. É muito gostoso.
CASOS PITORESCOS Ai meu Deus Algum caso engraçado é chato. É engraçado, mas é triste. Uma vez nós fomos num velório de uma colega de trabalho. Todo mundo naquele desespero. A moça faleceu meio que prematuramente. Teve um câncer, foi uma coisa muito chata, uma coisa meio fechada, não divulgada dentro da Avon. E chegou na hora praticamente do sepultamento, tinham esquecido de chamar um padre, um sei lá, um pastor, um alguém para cercar aquele momento com um pouco mais de espiritualidade. Eu olhei aquilo e via as pessoas desesperadas e meio chateadas e pensei, o que nós vamos fazer? Aí chamei um colega que havia sido do grupo de estudantes de padre, chamava José Sebastião. Ele não está mais na Avon, mas é o José Sebastião. Cheguei nele e falei: “Zé, o que vamos fazer? A turma vai entrar em desespero, vamos fazer alguma coisa, você topa me ajudar? Topo, mas o que você quer fazer? Ah sei lá, vamos rezar, vamos fazer alguma coisa, falar alguma coisa bonita para ela, você é bom nisso. E nós dois fizemos a despedida do corpo dessa nossa colega, que foi uma coisa que até me arrepia de falar hoje, porque é muita pretensão de minha parte, mas foi uma coisa de momento que eu não me arrependo. Porque é um momento triste para família, então, eu acho que se você preencher esse vazio com um pouco de Deus, um pouco de amor ao próximo, falar alguma coisa boa daquela pessoa que está partindo, enche o coração das outras pessoas de alento. Acho que isso a foi uma coisa muito maluca e pitoresca que nos aconteceu.
FAMÍLIA Sou casada. Meu marido é Luis Antonio Preyer. Ele não foi da Avon, eu o conheci fora da Avon, namoramos quatro anos, nos casamos. Amanhã domingo vai fazer 41 que nos conhecemos. 37 anos de casamento. Nós temos duas filhas. Ele quase acabou com o casamento por ciúme da Avon, várias vezes (risos). Ele tinha muito ciúme. Qualquer evento que eu fosse participar, ele queria morrer, achava que a Avon era mais importante que ele na minha vida. Não vou contar para ele, mas quase que era, puxa vida, deu tanta coisa boa, não gostava dessas características de ciúmes, isso me fazia muito mal e nós estamos juntos, graças a Deus, até hoje.
LAZER Eu sou uma pessoa bem ligada a forças da natureza. Eu gosto muito de programas externos, não gosto de me enfiar em barzinhos, em restaurante, na casa dos outros, então hoje eu curto muito a casa lá em Campos do Jordão, sempre posso fujo um pouco para lá.
GREVE Essa greve é uma incógnita até hoje. Ela foi uma situação única que nós vivemos, existem controvérsias, mas ela se iniciou na parte operacional, pessoal de expedição. Havia um diretor, que era um pouco duro, no tratar com os funcionários. Ele era diretor operacional na época e eu tenho a impressão que os funcionários da fabrica se sentiram meio que desafiados por alguma colocação que ele possa ter feito e escolheram um momento muito infeliz, porque o presidente na época, era o Seu João Maggioli, estava viajando. Foi um momento em que a Avon estava meio sozinha, os funcionários meio sozinhos e desprovidos dos executivos mais importantes da empresa, agora esse diretor estava lá. Nossa gente, triste isso, porque o pessoal externo que foi lá ajudar, fazer esse alarde todo, eles acamparam na Avenida em frente a Avon, num jardim que havia com barracas literalmente. Ficaram ali por uma semana e impedindo os funcionários de entrarem Teve que chamar a policia, a segurança, não sei o quê, e aqueles que insistisse em entrar, tinham que entrar com proteção policial. Então o pessoal, principalmente do escritório, o que fez? Entrou. Combinava-se ponto de encontros, ninguém era para ir de carro, a gente ia de ônibus. Tinha um cordão de policiais, a gente passava no meio e isso era muito humilhante porque, eu ouvia coisas horríveis. Eles falavam coisas muito pesadas, agressão verbal. Aquela turma que entrava para trabalhar, o pessoal do escritório começou a se dividir e se organizar de maneira para que a produção não parasse. Então a embalagem continuava, eu mesma cheguei a trabalhar numa linha de envasamento de desodorante líquido e pessoal de vendas, gerentes de vendas, foram para um restaurante fazer comida e servir os colegas.
Foram atribuições das mais diversas. Isso durou uma semana, e isso foi, até tinha esquecido, porque eu te falei, eu não gosto de lembrar de coisa ruim, só de coisa boa. Isso foi um marco muito negativo para gente lá na Avon. Nós sentimos vergonha desse momento, porque a Avon não merecia isso, eu acho, e a partir daí passou a ter um líder, algum funcionário nomeado líder do sindicato. Enfim, de vez em quando tinha que acontecer.Não sei bem qual era essa prática, as reuniões com RH. Mas esse líder do sindicato era o porta voz dos funcionários em RH para as discussões, as negociações e tudo isso.
Foi uma única vez e foi muito triste, sabe, não acredito em greve para uma a causa justa não.Eu acho que tem muita politicagem no meio, isso é um trampolim político e daquela vez também foi. É triste porque atrapalha a vida de todo mundo, não só dos funcionários, como da empresa e cria um ambiente muito pesado, muito insatisfatório, muito chato isso, foi uma experiência muito ruim, não gostaria de passar de novo não.
VENDA DIRETA Então, eu vou contar um pouquinho do que sei. A história da Avon é bonita, como venda de porta a porta, foi ela que iniciou esse sistema. Ela é pioneira nisso. Depois outras empresas aderiram, mas a história dela vem do fundador da Avon, que na verdade era um vendedor de livros. O que ele fazia? Para poder ser recebido pelas donas de casa, começou a fabricar uns frasquinhos, umas amostrinhas de perfume no quintal da casa dele. Dava como um agrado a senhoras que o atendesse, de dia quem está em casa é a mulher, marido está trabalhando, imagina isso naquela época, 1800 e lá vai coisa. E ele começou a se tornar famoso pelos perfumes e não pelos livros, o pessoal começou a curtir os perfumes dele, até que ele resolveu arrumar uma ajudante para distribuir esses perfumes, que chamava Miss Albee, essa senhora que ajudava e assim vamos dizer.
A Avon surgiu porque ele acabou não vendendo mais seus livros e abriu uma empresa chamava Califórnia Perfume Company. Ele abriu a Avon e com essa idéia, eu fico imaginando o que era, em 1800 e alguma coisa, uma mulher na rua vendendo, sabe, isso foi uma coisa, deve ter sido muito difícil para a Miss Albee.Tanto que a Avon de certa maneira traz a Miss Albee como um troféu para as revendedoras e hoje em dia existe um critério para elas ganharem esse troféu. Ela é uma bonequinha de porcelana, não sei se vocês já viram, muito bonitinha, e a cada ano ela ganha uma roupagem nova, mas uma roupagem à moda antiga, representativa da época. Então, as revendedoras são doidas por essa Miss Albee, eu até tenho alguma lá em casa que acabei ganhando também. Tenho umas três delas, em três modelos diferentes. Mas é uma briga, pois elas querem ganhar, só que assim, a Miss Albee, ela é o "oscar" da Avon. Eu acho que é isso, e a venda direta é uma coisa que deu certo, está aí. Então a gente está vendo que muitas outras surpresas adotaram esse mesmo sistema com sucesso, só que tem pessoas mais especializadas para contar para vocês sobre isso (risos).
AVON E A MULHER Eu acho isso muito bom. Porque a mulher sempre sofreu muito preconceito. E eu diria que isso é uma guerra grande, porque a mulher, no mercado de trabalho, é tão capaz quanto o homem. Em algumas áreas, eu diria que aquela questão da sensibilidade feminina, acho que a mulher até é privilegiada. Por causa desse dom da sensibilidade, ela pode até ser mais feliz em algumas áreas de trabalho e a Avon até onde eu sei, foi uma empresa que apostou bem nas mulheres, eu acho que a Avon deu oportunidade de níveis gerenciais, diretoras. Nós tivemos até uma mulher na presidência, então eu acho que isso é muito bacana, porque a Avon é uma empresa voltada para mulher e ela comprovou isso mediante essas oportunidades que tem dado e são crescentes, agora não só no Brasil. Acho que o Brasil foi pioneiro em termos de ter uma mulher na presidência, mas, para você ver, a nossa presidente mundial da Avon é uma mulher. Andrea Jung já está no poder a quantos anos? E você vê, ela é uma mulher bem sucedida, continua dando os resultados que a empresa espera. Se não fosse isso ela não estaria mais no poder. Então, eu acho que a Avon foi muito feliz em dar essa oportunidade. As mulheres estão agradecidas.
LOGÍSTICA Eu acho que a Avon, além de levar os produtos para o Brasil inteiro, houve uma época há alguns anos atrás, na época do seu Ademar inclusive, que saiu uma reportagem, não sei se foi na Veja ou Exame, que a Avon chegava aonde nem a Coca-cola ia. O que é uma coisa rara, porque a Coca-cola está em todos os lugares do mundo e é apreciada. Mas eles descobriram algum lugar em que a Avon chegava e a coca cola ainda não estava lá. A Avon tinha sido pioneira. Eu acho que essa é uma oportunidade boa para mulheres, eu mesma já cheguei a revender Avon um tempo. Fiz essa tentativa e foi muito legal, foi uma experiência boa, porque muitas mulheres hoje em dia tiram o sustento da família, o estudo dos filhos, da revenda do produto. Basta se dedicar, o campo aberto para todo mundo. Se você se dedicar com afinco, você consegue. Vende e é lucro certo. Hoje em dia que estamos vivendo um mundo com tanto desemprego, eu acho que esse é um bom negocio ainda. Porque tem muita gente humilde que não consegue nada. Às vezes, a pessoa é faxineira em um prédio e aproveita para revender Avon, dos níveis até mais humildes, mas ela tem acesso a várias casas, a outras colegas, entra na casa da patroa e vai indo, e é por ai que eu acho que muita gente conseguiu sustentar a família, é uma oportunidade muito grande. Sem contar o outro lado, que a Avon tem um potencial para fazer o que ela quiser em termos de distribuição de informação, haja visto que ela fez, ela tem um Instituto Avon, e ela fez uso desse canal para batalhar sobre a prevenção do câncer de mama, sobre a violência á mulher, esse é um canal que para ela não custa nada, e ela pode estar levando conhecimento para fora, para o pais inteiro, até nos lugares mais longínquos, isso que eu acho que é uma coisa legal, que pode estar sendo aproveitadas, também usar as mesmas revendedoras para melhorar o nível de conhecimento de alguma maneira do povo brasileiro, eu acho que isso é muito bacana, é um potencial muito grande.
AÇÕES SOCIAIS Eu sou fã do Instituto Avon porque acho que toda empresa tem que fazer alguma coisa por alguém. Eu comecei a trabalhar com o Instituto Avon, fazendo os eventos deles desde a sua inauguração, e esse trabalho que eles tem feito de prevenção do câncer de mama, agregando conhecimento para médicos ou técnicos que trabalham em hospitais longínquos, o pessoal não tem a mínima condição, nem de tecnologia, não tem acesso mesmo à informação, o Instituto Avon tem trabalhado de uma maneira muito séria e eu acho que é muito legal porque eles trazem essas pessoas, fazem uma triagem, processo, programa. Às vezes tem um médico oncologista ou não que ele quer instituir um projeto gratuito voltado para comunidade dele, mas ele precisa de um apoio, sozinho ele não consegue, é aí que entra o Instituto Avon. Eles mandam essas idéias, esses projetos para o Instituto Avon, existe uma seleção, eles convocam esses interessados seja lá de que parte do Brasil for a virem para uma reunião em São Paulo, com tudo pago pela empresa e com a ajuda de pessoas experts da área de câncer de mama ou de outras doenças que eventualmente a gente esteja trabalhando na prevenção, eles ajudam as pessoas a definirem melhor esses projetos e depois os que conseguirem concluir todas as etapas exigidas, dentro desse critério da Avon, eles tem uma ajuda do Instituto para poder botar esse projeto em funcionamento. A gente tem visto coisas muito bonitas, de montar um ônibus aparelhado para ir a lugares distantes que o pessoal não tem acesso à médico, a nada, fazer exame nas mulheres, exames preventivos. E isso que é em Botucatu que aconteceu, foram muitas cidades do Brasil já beneficiadas com mamógrafos, São Paulo inclusive, tem várias comunidades carentes que já foram beneficiadas. Tomara Deus que esse projeto seja levado sempre a frente senão pela Avon por outras instituições ou esses hospitais que foram de alguma maneira beneficiados com cheques ou com contribuições de alguma forma que também dêem continuidade no trabalho porque esse é um trabalho muito sério, é muito sério e muito bonito, muito bonito. Eu acho muito legal o que a Avon faz.
BERÇARIO A Avon foi uma das primeiras empresas, não sei se alguém já falou, que inaugurou um berçário dentro do local de trabalho e eu acho que isso é outro ponto de grande orgulho, porque esse berçário da Avon ele foi alvo de muitas reportagens pela mídia, mas o mais importante foi a tranqüilidade que trouxe para as funcionárias poderem trabalhar em paz e poderem continuar amamentando seus filhos lá dentro, e o tratamento que esses bebes recebem lá, e essas mães não tem que pagar nem um tostão por isso, eu acho que isso é outra grande benção dentro da empresa.
DEMOCRATIZAÇÃO Meu Deus. É grande. O histórico é grande, a concorrência também, mas eu creio que a Avon tem produtos excelentes, principalmente quando deu essa reestruturada de linha e ela incrementou nos produtos para o cuidado da pele principalmente, tratamento de pele que é essa linha Renew que hoje ela está enorme, ela começou com um produtinho e hoje tem uma infinidade de produtos nessa linha e, a contribuição dela foi enorme e a preços mais acessíveis que outros concorrentes. Os produtos são excelentes, não deixa nada a desejar para ninguém. Eu acho que o que a gente tem que vencer um pouco ainda é certo preconceito, e a Avon tem lutado muito por isso, de que a Avon tem uma linha de produtos do tempo da vovó, acho que isso ainda falta, trabalhar um pouquinho para você atingir por completo a classe A mas tem muita gente da classe A usando e que não admite que usa porque ainda está com aquela antiga idéia na cabeça, mas a Avon não deixa nada a desejar, eu acho que os produtos são excelentes e a contribuição dela é muito grande principalmente porque pessoas dos mais diversos níveis do poder aquisitivo podem ter acesso a esses produtos.
FATOS MARCANTES De positivo, é bom sempre falar o positivo primeiro, a Avon Brasil ganhou um super prêmio internacional dentro das "avons" por bater o recorde em vendas, foi o país entre todos os países que mais se distinguiu em vendas no ano e a gente fez uma reunião, um café, lá nos quiosques, lá no fundo tem um jardim e a gente fez um café comemorativo e foi muito bacana porque nesse café foi passado um vídeo que foi gravado quando o doutor Amilcar estava recebendo o prêmio nos Estados Unidos, foi uma choradeira, todo mundo chorou muito e depois para tirar uma foto generalizada, soltaram um monte de balões de gás, foi um momento muito bacana. Pusemos a música do Sena [Ayrton Sena – ex-piloto de Fórmula Um] para tocar, tcham, tcham, tcham, tcham, na hora em que ele recebia o prêmio, e a gente pôs, aqui no Brasil, a música e aquilo emocionou. Naquela época, o Sena estava com a bola toda também então houve uma associação, uma sinergia muito boa e todos os funcionários participaram nesse momento desse vídeo, desse café e dessa comemoração. Foi um negócio que marcou bastante, foi muito bonito.
LIÇÕES DE VIDA Todos, porque a vida é uma escola eterna, você nem pode dizer que você já está pronto porque a cada dia você está aprendendo e lidar com pessoas, é praticar o dom da paciência, saber esperar. A gente começa lá de baixo, eu comecei como auxiliar de escritório, porque que eu digo o dom da paciência, porque eu esperei 20 anos para conseguir uma promoção e chegar naquele lugar que eu achava que eu queria chegar, que era minha meta, ser secretária de diretoria, e hoje em dia a moçada já começa um trabalho já quer ser gerente, e não tem paciência, não se dedica. A pessoa além de não ter paciência, não quer começar de baixo e não quer aprender de baixo, então ela não pode ser um bom executivo, uma boa executiva, se ela não teve as experiências anteriores, lá atrás. É que nem escola, você começa no bê-á-bá, não adianta você querer ir de trás para frente que esse negócio não vai dar certo. Então eu acho que para mim, na Avon, cada dia foi um dia de um aprendizado diferente e, entre alegrias e tristezas as vezes a gente espera por uma coisa que não acontece, te decepciona, mas o final, o positivo ganha porque eu acho que eu devo muito do ser humano que eu sou hoje eu devo a duas coisas, ao berço que eu tive em casa, eu não tive escolas tão chiques e importantes na minha vida mas eu acho que o aprendizado que veio dos meus pais, da religião, com tudo que eu vivi dentro da Avon, esses pontos todos fizeram de mim uma pessoa melhor. Eu acho que você tem que ter uma dose de paciência, mas a abnegação também é outro e você não pode desistir nunca, se alguma coisa que você queria não aconteceu é porque você não está pronto ainda. Você tem que melhorar, melhorar e melhorar a cada dia para você chegar. Você mesmo tem que auto-analisar e ver o que está faltando, você aparar de arestas para chegar onde você quer, e não é pisando em cima dos outros, você chega lá sim, demora mais um pouco, mas com honestidade, com trabalho mesmo, com trabalho duro, com amor, com dedicação você chega lá.
AVALIAÇÃO / PROJETO MEMÓRIA Tenho o maior orgulho de a Avon estar resgatando seus 50 anos nesse projeto. Eu acho que é muito bacana. A Avon fez, por causa dessa comemoração dos 50 anos, ela fez um resgate lindo, que eu não sei se alguém já contou para vocês, mas que foi assim: pessoas que saíram há muito tempo, e que não tinham tido a oportunidade de nem ter mais um contato com a Avon, nem visitar a Avon, nem nada. Ela resgatou ex-presidentes, ex-executivos, ex-colegas da embalagem, ex-colegas da expedição e mesclou essa turma toda, fez um evento por ocasião desses 50 anos que foi a coisa mais linda, foi uma choradeira, todo mundo ficou super emocionado, e eu tive a honra de fazer parte, ser convidada para fazer parte desse evento e eu acho que o senhor Luís Felipe, que é o atual presidente, se alguém havia deixado a empresa com alguma mágoa, com algum sentimento não muito bom, com essa atitude da Avon isso tudo acho que ficou para o passado, foi esquecido, porque houve um resgate muito bonito. E não precisou ser uma festa de gastar dinheiro, não foi nada disso. Foi uma palestra no auditório, mostrou o que a Avon tem feito, onde começou, onde está, um almoço normal no restaurante, todo mundo junto, e um kit depois de agradecimento que foi uma surpresa porque, todo mundo já era da Avon mas um kit muito bem feito, muito bem embalado, um vídeo depois de presente para gente, um CD da história do que aconteceu e eu esperava que isso um dia acontecesse, eu acho que a gente não tem que sair de uma empresa guardando mágoas em nenhuma circunstância e eu acho que se isso aconteceu com alguém no passado, essa atitude, esse momento do resgate nesses 50 anos ele foi muito expressivo, ele foi muito feliz, deixou muita gente feliz, muita gente contente. Eu acho que essa comemoração foi muito legal também por causa disso.
AVALIAÇÃO / ENTREVISTA Eu me senti lisonjeada porque não esperava que fosse fazer parte disso, eu achei que seriam umas fotos, que a gente ia trazer algumas fotos para vocês, de alguma maneira montar algum trabalho para fazer parte da história da Avon, mas jamais pensei que ia ter essa gravação, nesses moldes, e eu agradeço muito a oportunidade, foi muito bonito, e não sei no que vai dar, mas espero que vocês gostem (risos) um pouco dessa história.Recolher