IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Olga DIppolito. Eu nasci em São Paulo em três de junho de 1958. ATIVIDADE ATUAL Hoje, na Avon, sou coordenadora de pesquisa e desenvolvimento de produtos. FAMÍLIA Meu pai é Pietro DIppolito e minha mãe Lúcia DIppolito. Só que os dois já são ...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Olga DIppolito. Eu nasci em São Paulo em três de junho de 1958.
ATIVIDADE ATUAL Hoje, na Avon, sou coordenadora de pesquisa e desenvolvimento de produtos.
FAMÍLIA Meu pai é Pietro DIppolito e minha mãe Lúcia DIppolito. Só que os dois já são falecidos.
Meu pai era metalúrgico e minha mãe cuidava da casa. Eles eram italianos, do Sul da Itália. Tenho um irmão só o Antonio.
INFÂNCIA Eu morava no Bom Retiro, que é tipo Centro-Zona Norte de São Paulo. Era uma casa grande, antiga. Era tranqüilo porque a gente podia ainda brincar na rua, tinha um monte de amigos. Ia pra escola, era seguro, pelo menos a gente se sentia seguro. Na nossa infância minha família não era rica, então a gente não passava necessidade, mas não esbanjava, não tinha abundância, não tinha excessos. Então tudo que a gente tinha era muito esperado, a gente curtia, dava valor pra tudo que tinha. Porque justamente não vinha fácil. Hoje em dia eu acho que as pessoas não dão tanto valor porque vem mais fácil pra alguns.
BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA Brincava na rua. Todas as brincadeiras que hoje as crianças não têm: correr, pular corda, juntar aquelas pedrinhas, brincar de se esconder, todas aquelas coisas de criança.
CIDADES / SÃO PAULO / BAIRRO DO BOM RETIRO A rua que eu morava no Bom Retiro tinha muita firma, muita fábrica. Então em certa hora do dia ficava com menos pessoas porque tinha poucas casas, residências mesmo. Era tranqüilo, não tinha muito movimento, não tinha tanto carro como tem hoje. Depois de um tempo a minha rua virou acesso para a rodoviária. Então todos os ônibus que iam pra rodoviária antiga, não a Rodoviária do Tietê, tinham que passar pela minha rua. Aí ficou horrível, já não podia brincar na rua, ficava congestionada literalmente, de ficar buzina e trânsito de ônibus que estavam indo pra rodoviária, principalmente em feriado prolongado. Então mudou, ficou um pouquinho pior. Mas aí também a gente já começou a estudar, passando o período de escola, então cada vez estudando por mais tempo e acabava não ficando tanto tempo na rua pra brincar.
LEMBRANÇA MARCANTE Lembrança marcante da infância são os amigos. A gente tinha a turminha. Então fazia de tudo, até teatro e cobrava ingresso dos menores (riso). Fazia roupinha de boneca e vendia. Aquelas coisas que hoje não tem mais. Isso aí eu lembro, eu acho que era interessante porque era a criatividade que a gente tinha com os recursos que a gente podia ter na época. Era legal.
FORMAÇÃO Foi curioso porque meus pais falavam italiano em casa, então eu falo italiano porque aprendi com eles, o dialeto. E acho que talvez por falta de informação, eles não sabiam que tinha colégio do Estado. Então com todo sacrifício a gente foi para uma escola particular. Do bairro, mas particular. E foi bom porque eu acho que a base de se ter um bom aprendizado é tendo uma base boa. E a gente teve uma base boa. E só quando fomos para o ginásio, é que fomos para o colégio do Estado. Durante todo o primário fiquei em escolinha particular do bairro, aprendi bastante. Eu acho que foi lá que a gente acabou tendo mais incentivo, apesar de que na época que eu estudei em colégio de Estado, o colégio de Estado era bom, não era que nem hoje. Então eu tinha bons professores. Eu lembro que eu tinha professores do colegial, que eram do Mackenzie, da faculdade, hoje em dia já não tem isso. Então eu tenho essa lembrança da época da escolinha pequena lá do bairro particular antes de ir pra escola grande, que era o colégio do Estado que eu estudei. Depois fui fazer o ginásio. Na minha época era colegial. Fiz cursinho e depois fui fazer faculdade de Farmácia e Bioquímica.
ESCOLHA DA CARREIRA Na realidade, Farmácia e Bioquímica não é tanto ligada com a área química. É mais ligada com a área de corpo, com a medicina. Não que eu quisesse ser médica, mas eu gosto muito da área médica. Então eu fui aprender a parte de farmácia, porque naquela bobeira que hoje eu acho meio idealismo, eu achava que eu ia encontrar a cura de alguma doença, de alguma coisa. Porque na área de farmácia você vai estudar medicamentos, vai fazer pesquisa com medicamentos. Só que depois de formada é que eu fui ver que essa área é muito difícil. O campo de trabalho para pesquisa no Brasil, quando eu me formei há 25 anos, era difícil. E fazendo estágio com a área de cosméticos, eu vi que era muito mais dinâmico. Tem as estações: primavera, verão, outono e inverno, mudam as cores, muda o perfume, muda tudo, então, você consegue trabalhar e desenvolver alguma coisa. Enquanto se você está na área de medicamentos, um medicamento pra ele ser pesquisado e lançado, tem anos de estudo, é muito mais lento o processo. Então por isso eu acabei indo para área de cosméticos, adorei e estou lá há 25 anos.
AVON Conhecia a Avon de consumidora. Sempre comprava produtinho, na época a Avon tinha muito, não sei se nesses 25 anos de Avon, eu acho que vocês vão colocar fotos... Antigamente tinha muita coisinha de enfeite. Tinham loções na forma de chaleirinha, bonequinho, então tudo aquilo era novidade e a gente acabava comprando como novidade. Então eu conhecia como consumidora. Nunca imaginei, idealizei um dia ir lá procurar emprego e trabalhar lá por tanto tempo.
TRAJETÓRIA AVON
Eu comecei a trabalhar em 83, com 25 anos. Só depois de formada. Fiz Farmácia e Bioquímica e na faculdade tem um estágio obrigatório que você tem que cumprir para poder se formar. Na época eu fiz estágio na Pfizer, que é uma indústria farmacêutica. Terminou o período de estágio, não teve oportunidade de efetivação. Éramos oito estagiários e os oito foram pra rua. Passou isso, eu era formada, não tinha experiência porque eu fiz curso diurno, então nunca tinha trabalhado. Ia procurar emprego, como estagiária, não podia mais porque já estava formada. Eu ia como funcionária, mas não tinha experiência, ninguém me pegava. Então o que é que eu fiz? Eu voltei a estudar. Porque na época tinha dentro de Farmácia, análises clínicas, indústria farmacêutica e indústria de alimentos. Então eu tinha feito indústria farmacêutica e fui fazer análises clínicas. Assim continuava sendo estudante e podia ser estagiária. Aí eu fui fazer estágio na Avon e do estágio eu fui efetivada. Fiz um processo em outra empresa, que eu fui até as finais do processo, mas não fui escolhida. O próprio RH daquela empresa me apresentou para o RH da Avon e teste que eu fiz pra outra empresa foi aproveitado. Fiz só as entrevistas e já fiquei como estagiária.
Eu entrei na Avon no laboratório de microbiologia, eu não lembro exatamente o dia como foi. Mas todos os dias eram muito parecidos tinha uma rotina muito igual. Chegava, fazia determinadas atividades e era aquilo direto. Então, como eu era estagiária, tudo pra mim era aprendizado. Só que para o meu estilo, eu queria uma coisa mais dinâmica. Fiquei dois anos lá e fui transferida para o laboratório químico. E quando eu fui para o laboratório químico já fui para a área de desenvolvimento. Aí sim já começou a ser uma coisa melhor. No laboratório químico me lembro que cheguei lá e o produto que hoje eu faço, em uma, duas horas, eu levava o dia inteiro para fazer. Eu não conseguia nem levantar o equipamento, eu levantava demais, eu abaixava demais, eu esquentava uma parte, a outra esfriava; a hora que eu esquentava a outra, aquela primeira tinha esfriado. Não tinha ainda sincronia de fazer as coisas na ordem certa. Hoje não, hoje enquanto esquenta a água, faz outra coisa, já consigo fazer em muito menos tempo.
AVON / PRIMEIRAS IMPRESSÕES É que são duas coisas. Uma é como empresa. Como empresa foi maravilhoso, eu adorei. E no trabalho tudo era novo, então também foi bom porque tudo era aprendizado. É claro que tem dia que você tem alguns problemas, que algumas coisas não dão certo e durante esse tempo todo eu tive muitos dias assim. Mas se você for pensar no balanço de tudo, cada dia é um aprendizado.
LABORATÓRIO MICROBIOLÓGICO Entrei como estagiária no laboratório de microbiologia. Depois eu fui efetivada no laboratório de microbiologia, fiquei ainda um ano e meio. a gente fazia análise da parte microbiológica, pra saber se o produto está contaminado ou não. Então vinha amostra para o laboratório, a gente fazia só a dosagem. Quando era na área de desenvolvimento, então eu dava suporte também pra produção. Eu tinha contato com eles, mas só quando eu tinha algum problema. Normalmente não, normalmente o meu trabalho ficava meio independente porque eu atendia mais marketing para desenvolver novos produtos do que propriamente os problemas. Agora, quando tinha os problemas, eles vinham e a gente tinha que ajudar a resolver.
Dependendo do problema, tinha que investigar a causa pra evitar que acontecesse de novo.
E problema é assim: você vai perder o produto, você pode recuperar o produto e não perder? Então tudo isso era o estudo que a gente fazia na minha área.
LABORATÓRIO QUÍMICO Então fui para o laboratório químico como analista química. E fui tendo promoções: analista de desenvolvimento, analista de desenvolvimento sênior, químico de desenvolvimento, química de desenvolvimento sênior, até ser coordenadora.
Na parte de analista e de técnico, se faz muita análise regular de controle de qualidade. Então é checar se o produto está bom, se não está, fazer as dosagens, avaliações, sempre tem uma referência para poder compara se está bom ou não. E depois, quando fui pra área de desenvolvimento, apesar da Avon não ter desenvolvimento aqui no Brasil, as nossas fórmulas vêm todas da matriz, no Brasil a gente faz só algumas adaptações, faz cor nova, cheiro novo ou adiciona alguma coisa que vai ser utilizada para promover o produto. Então aí já começava a ser uma coisa mais desafiadora, tinha que checar a legislação brasileira, a legislação interna da Avon, checar se a fórmula estava de acordo com o que precisava fazer. Então, a responsabilidade era maior, mas o desafio e o trabalho também eram mais gostosos. E a quantidade de coisas, a gente achava muito naquela época, muita coisa. Hoje, se for ver o que era feito em um mês, hoje se faz em tipo três, quatro dias. Só que tem mais gente, é claro. E muito mais coisas, detalhes hoje do que era na época, então tudo evolui. A profundidade dos procedimentos, as coisas tudo que você tem de recortar, tudo complicou no sentido de ficar complexo, mas tudo é necessário. Complicou por causa da necessidade.
RELAÇÃO COM MARKETING Até hoje é assim: tudo que vai desenvolver é o marketing que dá a direção. Eles fazem a pesquisa do mercado pra ver o que precisa, o que falta no que a gente tem, no banco de produtos, no banco de dados, e eles informam o que eles querem. Poe exemplo, se o concorrente tem um xampu colorido, eles querem um igual e não tem nenhum no banco de dados da Avon. Então eu vou pegar e vou fazer o xampu da cor para eles. mostro pra eles, é o que eles querem? É. Então começamos a fazer os testes, aprova com a matriz e aí depois é aprovado, entra no esquema de todo departamento fazer a sua parte até o lançamento. Depende do que o marketing direciona. O que o marketing pedir, a gente faz, se ele quer uma sombra marrom, a gente vai misturar os corantes a ponto de fazer aquilo que eles querem. O cheiro também; agora, o cheiro a gente não faz, a gente só testa. Quem faz é a casa que desenvolve os cheiros, que são fornecedores externos. Eles fazem e a gente só aplica no nosso produto pra ver se aquilo vai ficar bom durante o tempo de vida do produto ou não.
LEGISLAÇÃO Não se pode misturar o que quiser. Tem uma direção da matriz de usar só corantes permitidos da Avon. Mesmo tendo a direção dos corantes permitidos pela Avon, também não pode misturar o que quiser. Porque de repente a Avon permite, porque ela fica nos Estados Unidos, mas a legislação não permite. Então tem que respeitar sempre a legislação mais restritiva. Se a Avon dos Estados Unidos permite e a legislação brasileira não, nós vamos respeitar a do Brasil. Senão, não adianta a Avon aprovar, porque a ANVISA não aprova aqui. Se a nossa lei brasileira permite, mas a Avon não, a gente vai respeitar aquela. Porque se aprova aqui, vai lá, pra aprovar, eles não vão aprovar.
CORES E CORANTES Então atendendo a legislação, podemos trabalhar com os corantes. Por exemplo: como que eu faço esse amarelo? Então eu vou pegar corantes amarelos; só que isso é um amarelo meio avermelhado, então eu misturo amarelo com vermelho. Pra ele ficar, assim, que não está transparente, é preciso por o branco junto, para dar o fundo. Então tudo isso é experiência que vai se adquirindo com a prática. Eu nunca achei que eu tinha experiência de saber fazer isso. No dia a dia também acontece, meu pintor uma vez foi em casa e ele não conseguia fazer a cor, aí eu falei: "Espera aí que eu faço pra você" (risos). Aí eu fiz e fiquei passando na parede e falei: "Viu como dá?" Outra coisa que às vezes também acabo ficando chata: você vai comprar uma roupa que às vezes o consumidor comum não vê, aí você abre a blusa em cima do balcão lá e vê que a manga está ligeiramente em outro tom. Uma pessoa normal não vê. Mas pra gente que tem o olho treinado, já vê que é a mesma cor, mas numa direção de tonalidade diferente. Aí você fala e a pessoa fala: "Ai que chata." Mas você enxerga. Não é que você fica procurando pegar essas diferenças. Isso não se consegue ensinar. Eu tive uma vez um estagiário, porque estagiário a gente sempre vai ensinando aos poucos, no primeiro dia ele já fez um monte de coisa. Eu fui ver como ele estava fazendo tanta coisa, que teoricamente ele não sabe. E ele falou que tinha como hobby pintar. Então uma pessoa que pinta tem percepção de cores, de misturas. Então ele foi super bem. Isso é tipo um dom, você melhora. Mas se de certa forma a pessoa não tem, não adianta.
ADITIVOS Pode-se também colocar alguns aditivos. Por exemplo, se eu tenho um xampu que eu quero colocar uma proteína de trigo, então eu posso pegar essa proteína de trigo, colocar lá na minha fórmula e fazer um estudo pra ver se ele continua bom. Porque, assim, a hora que você põe qualquer coisa diferente na fórmula, você tem que acompanhar em testes. A gente coloca em geladeira, em estufa de 40 graus, congela. Depois uma amostra deixa na luz, na janela pra bater sol. Porque todo mundo deixa os produtos na janelinha do banheiro. Então dependendo do sol ele pode descolorir, mudar o cheiro, ficar estranho. Outro congela e descongela. Tudo isso pra ver se vai dar problema no produto. Então na hora que eu ponho alguma coisa diferente na fórmula, de um xampu por exemplo, o pessoal tem mania de pegar um xampu grosso, a gente chama de viscosidade esse grosso. Se o xampu tem viscosidade alta, que ele é grosso, o pessoal pensa: "Esse xampu é bom." Você cheira: "Hum, esse é bom". Você não sabe se o xampu é bom, o que é bom é o cheiro e ele é grosso, agora se ele vai ser bom para o seu cabelo, só utilizando e vendo a fórmula que você vai saber.
APROVAÇÃO DA MATRIZ De acordo com o que o marketing determina, a gente vai aplicar no produto pra tentar montar uma fórmula. Aquela fórmula que nós montamos, ela vai ser testada, e depois dos testes, vai para aprovação na matriz. Então tudo que vai vender no Brasil, não é vendido sem aprovação da nossa matriz. A gente manda pra eles os resultados dos nossos testes e as amostras que a gente testou pra eles avaliarem. Eles vão rever toda aquela fórmula. nos Estados Unidos cada departamento cuida de uma parte. Tem um departamento que vai olhar a fórmula, outro que vai olhar cada matéria prima, se ela está de acordo, o departamento que vai olhar o processo, porque depois aquela fórmula que eu fiz no laboratório só um pouquinho, vai ser feita na produção um monte. Então se eu fiz um quilo pra fazer o teste, a produção depois vai fazer mil quilos, então ela tem que estar certinha: como eu vou fazer esses mil quilos, o que eu vou esquentar, misturar com o que, em que temperatura, com que agitação, quanto tempo, quanto que eu vou esfriar. Então tudo isso o departamento lá vai avaliar. O pessoal de toxicologia vai avaliar se eu não usei nada que não pode ser utilizado. Então por exemplo se eu pego uma matéria prima desconhecida, e eu não posso pegar; eu só posso pegar o que é aprovado pela Avon. Mas vamos supor que eu pegasse, quando chegar lá, eles vão barrar porque aquela matéria prima não foi avaliada pra saber se ela é segura para uso. Porque a Avon tem muita preocupação de segurança de uso. Já que a Avo é uma marca mundial e o consumidor da Avon é um consumidor livre, ele não é uma receita de médico, onde o médico vai acompanhar o uso. Não, ele é um produto livre. Eu quero, vou lá, compro e uso. Alguns não lêem porque não sabem ler, outros não lêem porque pegam e usam. Então aquele produto tem que ser testado pra garantir que durante o uso ele não vá causar nenhum problema. Vamos supor que você tenha um creme para passar nas pálpebras, você tem que ter certeza que se você passar e cair um pouquinho dentro do olho, não vai te dar problema nenhum. Então esse pessoal vai olhar aquela fórmula e avaliar se aquilo é seguro ou não pra usar. Se eu falar que o produto que eu vou passar aqui em duas semanas vai tirar minhas rugas, vai ter um departamento lá que vai fazer testes com isso e vai comprovar que em duas semanas vai tirar rugas. Então quando eu falar isso aqui no Brasil, e falar para o consumidor, o consumidor não vai poder falar "mentira, não tirou". Não, eu vou ter testes comprovando que tirou. E para eu registrar aqui no Brasil no Ministério da Saúde, eu tenho que indexar o resultado desse teste para comprovar que o que eu estou falando não é mentira. Então todo esse processo lá nos Estados Unidos, ele é um ciclo que fecha, todos os departamentos envolvidos com aquilo avaliam. Na hora que cada um der o seu ok, significa que aquela fórmula está ok. Aí volta pra gente como aprovada. Vai para a área que vai fazer a regulamentação dessa fórmula com o Ministério da Saúde no Brasil.
RESTRIÇÕES As restrições dependem da área que vai se usar o produto. A área mais restritiva é a área dos olhos. Se você vai desenvolver uma sombra, tem que olhar quais corantes vai usar, porque tem que usar corantes permitidos pra área dos olhos. Eu não posso usar nesta área um corante permitido, por exemplo, pra pele, pra contato breve. Então o que eu posso usar pra pele pra contato breve? Alguma coisa que seja pra sabonete, porque é uma coisa que eu vou passar e vou enxaguar; no xampu, no condicionador a mesma coisa, eu vou pôr um corante, mas eu vou enxaguar. Se eu for fazer uma base, um batom ou alguma coisa que vai permanecer em contato prolongado com a pele, já é outro tipo de corante. Na área dos olhos, ela é mais restritiva ainda porque qualquer coisinha pode causar cegueira. Então as restrições são essas: você saber pra que tipo de área que você vai ter o produto, se ele vai ficar em contato direto, prolongado, se ele vai ser enxaguado. É mais nesse sentido. E às vezes, mesmo um corante que é permitido pra essa área dos olhos ou pra área dos lábios, você só pode usar até certa quantidade, acima daquilo já não pode. Então eu tenho que ficar atenta pra não passar disso, senão você faz todo um estudo, todo um trabalho, chega pra aprovação e não vão aprovar. Aí você perde... A Avon tem muitos prazos, isso é o que mata a gente. A cada três semanas, muda aquele folhetinho, então todos os produtos estão programados pra uma campanha. E você tem que atender aquela campanha, se você não conseguir aprovar o teu desenvolvimento pra entrar naquela campanha, o marketing vai perder. Às vezes é capa, às vezes é uma coisa que está previsto um retorno financeiro naquilo. Então é grave você usar um corante que não pode e se não for aprovado, isso é grave.
Os prazos, sempre pra ontem (risos). É assim: até um tempo atrás a gente tinha um prazo. Até você aprovar a fórmula é um prazo, da fórmula aprovada pra frente, cada departamento vai fazer a sua parte até o lançamento. A gente pedia pelo menos quatro meses pra aprovar, agora já conclui com um pouco mais. Tem casos de levar até sete, oito meses, um ano. Porque é muita coisa, a complexidade está ficando maior cada vez mais.
TREINAMENTOS A primeira vez que eu fui pra Nova York, eu sabia falar inglês, mas eu tinha vergonha de falar. Então eu acabei mais ouvindo do que falando. Era aquela coisa, primeira vez, você não sabe como é, foi mais pra conhecer. Agora não, a gente já fica em treinamentos participando de tudo, então é muito legal porque lá é um centro de desenvolvimento, tem um monte de gente trabalhando, especialistas em várias áreas. Então cada vez que a gente vai lá, a gente aprende muito. Já fui fazer treinamento pra fragrâncias, para batom, tudo pra desenvolver produtos. Toda linha que tem desenvolvimento local é feita pela minha área.
EVOLUÇÃO A Avon sempre exigiu muito de todos. Em qualquer nível você tem responsabilidades. Ela te dá muita liberdade, mas você tem responsabilidades, e você tem que cumprir o que você estar lá pra fazer. Então o que eu senti é que apesar de tudo, o estagiário, ele não tem acesso a um monte de coisas. Então tem muita coisa que pra mim era fácil porque eu não via o todo. À medida que você vai conhecendo o todo, que você vai vendo a complexidade. Coisas que eu fazia sozinha, hoje nós somos quatro. Então tem muito mais coisas pra fazer, muito mais complexo, apesar da área física da Avon não ter crescido, o prédio continua o mesmo, porém foi mais aproveitado. Então se criaram novas linhas, novos aparelhos foram instalados. O laboratório era uma área de três por quatro, hoje tem tipo 20 metros, 30 metros quadrados. Então tem um espaço maior, tudo cresceu, tem que acompanhar a tecnologia, tudo foi evoluindo. Coisas que eram mais simples, hoje são muito mais complexas, acompanhando muito mais a tecnologia até pra se manter no mercado, se não, não conseguiria ficar tanto tempo bem como ela está, como a Avon está. No próprio laboratório a gente chegou a fazer uma bolsa para apresentação de vendas, na época pra compactar as sombras e os pós com a mão. A gente pegava essa parte aqui da mão [depoente indica como era feito o trabalho] e apertava o pó na bandejinha. Hoje não, tem a prensinha manual que você pode compactar, ou eles já programam direto na linha pra atender. Isso aí na época dava pra fazer no laboratório, o pessoal pedia. Hoje não tem nem cabimento pedir uma coisa dessas.
FORNECEDORES Todas as matérias primas da Avon têm uma especificação, elas só vão ser aprovadas se tiverem de acordo com aquele resultado. E os fornecedores já estão na especificação disso, qual o fornecedor que você tem que trabalhar pra determinada matéria-prima. O que acontece é que cada vez mais vão se criando matérias-primas mais complexas. Antes você tinha uma coisinha simples, hoje você tem moléculas que fazem uma combinação e aquela combinação é uma matéria prima. Mas isso é tudo comprado e é só adicionado no produto.
DESAFIOS Foram vários desafios. Cada produto novo é um desafio porque você não sabe como vai se comportar. Outra coisa que é um desafio é conseguir atender todos ao mesmo tempo, que todo mundo acha que o seu é prioridade. Até 2003 a Avon tinha um desenvolvimento local no Brasil e tinha a nossa matriz. A nossa matriz atendia às Avons do mundo inteiro. A partir de um momento, eles tiveram tanta coisa pra fazer, que eles resolveram descentralizar. Na América Latina ficou um satélite, outro no Japão, China, Polônia. E cada satélite faz algumas atividades. Com essa divisão, houve a regionalização também de marketing, da parte de embalagens. Então a área de marketing tem hoje umas 40 pessoas, várias para cada categoria. E nosso laboratório atende a todos. Por exemplo, o pessoal de cabelo tem um projeto, pra eles é o projeto deles; maquiagem tem um projeto, é o capa deles; o pessoal de pele tem um projeto... Só que nós atendemos a todos, então o desafio é conseguir atender a todos dentro do prazo, porque é um samba lá (riso). Você não pode deixar nada parado, mas ao mesmo tempo você não consegue atender a todos, então você tem que negociar as datas porque todos são importantes. E também você não consegue se atualizar com as tecnologias que estão no mercado no mesmo ritmo porque você acaba tendo só as que estão na Avon. Você acaba aprendendo, se inteirando mais das que a Avon utiliza, mas a Avon não usa todas as que existem. Então você acaba ficando sem tempo de conhecer melhor as outras que estão por aí.
ALEGRIAS Cada projeto que você entrega em tempo é uma alegria. Este ano não teve ainda, mas, eles costumam ter projetos em que todos os países se inscrevem na matriz, tipo um campeonato, pra ver os projetos que trouxeram os maiores retornos. Então é uma alegria quando o do Brasil é escolhido e você estar naquele grupo. Porque além do prêmio que você tem, financeiro, você tem aquela coisa de: "Puxa vida, eu consegui fazer parte disso, ajudei a acontecer".
PRINCIPAL REALIZAÇÃO Tem muita coisa. Eu acho que a realização, eu só trabalhei na Avon até hoje. Então tudo que eu tenho meu, pessoal, eu consegui com o dinheiro do meu trabalho e com as oportunidades que eu tive. Então isso é uma realização pra mim.
RELACIONAMENTO COM COLEGAS O nosso ambiente é muito bom. Eu acho que você não fica tanto tempo numa empresa se você não tiver um ambiente bom pra trabalhar, se você não tiver oportunidades. durante esses anos todos eu tive propostas, trabalho você vai ter em qualquer lugar, mas ambiente bom não é em todo lugar que tem. Então na nossa área, a gente tem um ambiente muito legal pra trabalhar. Na minha área, especificamente, a gente tem um ambiente muito bom. A gente tem um ambiente de parceria, de equipe mesmo, então eu gosto disso.
IMPORTÂNCIA DA AVON Eu posso dizer em meu nome, em nome de todos não sei. Eu adoro trabalhar na Avon, adoro o meu trabalho, não tem um dia que é igual ao outro. Eu não gosto de coisa repetitiva. lá eu posso até ter produtos parecidos, mas cada um vai se comportar de um jeito. Então eu nunca posso chegar lá e dizer: "Meu dia vai ser assim hoje." Não é. Eu não sei como vai ser o meu dia. Eu posso saber o que eu preciso fazer, mas eu não consigo fazer tudo que eu preciso porque tem mil coisas diferentes acontecendo. Então isso pra mim, pro meu jeito, eu gosto. Tem gente que gosta de todo dia aquilo, já saber o que vai fazer. Eu não gosto, pra mim é muito bom isso. Eu não sei para as outras pessoas, mas eu acredito que a Avon busca sempre que aquele seja o melhor lugar pra se trabalhar, estar naquele processo. E eu acredito que todo mundo que esta lá não estar só por necessidade.
CONFRATERNIZAÇÕES Todo estagiário quando vem para ele se integrar ao grupo, a gente sempre faz assim: põe creme no telefone, deixa ali fora, faz tocar, alguém liga; só que atende e não encosta chama o estagiário. Aí o estagiário vai (riso), aí enche o ouvido de creme. É uma bobeira, mas é legal porque integra, quebra aquelas barreiras, já recebe a pessoa que já fica mais à vontade. Tem os churrascos, tinha muito mais há um tempo, tínhamos mais tempo. Tiveram umas pessoas que já saíram, mas a gente fazia muito churrasco. Às vezes até nas casas das pessoas. Hoje menos, hoje não sobra tanto tempo para essa integração. Hoje já não tem com tanta freqüência quanto antes, mas era muito bacana. Tinha churrasco, brincadeiras, batucada, tinha um monte de coisa. As próprias festas da Avon, que tinha muita festa no final de ano, na época de festa junina. Este ano passado eu não fui, mas as festas são boas. Mas eu acho que é muita gente, por mais que você fique com vários grupos, a gente fazia mais com o nosso grupo, só com a nossa área, então era mais gostoso.
FAMÍLIA Eu tenho uma menina, ela tem quinze anos. A gente gosta de sair, cinema, compras, que tem que ser todo fim de semana, ou ir pra alguma festinha, uma reunião, alguma coisa. É só o fim de semana, passa muito rápido. Agora ela esta começando a sair sozinha, então sobra um pouco mais de tempo.
VENDA DIRETA No começo, eu não conhecia muito, quando eu não trabalhava na Avon, apesar de comprar algumas vezes na escola os produtos, eu não conhecia muito as revendedoras. Hoje já sabendo dos números, eu sei que a Avon tem um exército de revendedoras, é muito abrangente. Então eu acho muito importante porque pra muitas mulheres isso é um meio de sobrevida até. É a maneira delas se sentirem importantes, delas terem um retorno financeiro. A gente sabe de histórias dos próprios jornalzinhos internos que tem pessoas que conseguiram colocar os filhos para estudar, comprarem casas, então isso é super bonito. E do porta a porta, é interessante porque você escolhe, fica esperando aquela coisa chegar e você cria expectativas. Quem é cliente fiel da Avon sabe que o produto é bom. Então sabe que vai chegar o produto e quando chegar é um produto que vai atender. Então eu acho que é legal.
LOGÍSTICA A gente já ouviu aquela história que existem lugares da Amazônia que nem o Correio chega, mas a caixa da Avon chega. Isso é a maneira deles se sentirem fazendo parte até do Brasil, porque se você não tem nem o Correio chegando e a caixa da Avon chegando, é muito importante isso. É uma maneira de a pessoa sobreviver naquele lugar, lá longe onde ela está.
AVON / HISTÓRIA Hoje se você perguntar para as pessoas a marca que vem à cabeça, a Avon é uma delas que vem primeiro. Apesar de ter muita coisa em supermercado, em farmácia, a Avon ainda é muito importante. Pelos dados que a gente tem de cada três batons vendidos, dois são da Avon. Isso é muita coisa. Se você pensar no número de revendedoras, eu acho que a Avon faz parte dessa história de cosméticos no Brasil. Se eu comento que trabalho na Avon, a pessoa já responde: "Ah, eu uso tal produto da Avon." Não tem um que não use alguma coisa da Avon.
AVON E A MULHER Como mulher eu acho maravilhosa essa grande oportunidade de trabalho que a Avon dá num mundo onde ainda tem predominância masculina Nós temos toda a condição de responder a toda altura. Ainda mais maquiagem, mulher entende muito. Você vai olhar como profissional e como consumidora. Poder participar dar o seu parecer como consumidora daquele produto, então isso às vezes é até bom no momento de você decidir, aprovar alguma coisa ou não. Vamos supor você tem um padrão de referência para aprovar. O produto tem critérios de aprovação, onde ele é aprovado ou ele é 100% perfeito, você pode usar aquela fabricação como sendo o próximo padrão. Então aquele aprovado, de repente ele estar com uma corzinha um pouquinho mais clarinha. Eu me ponho na condição de consumidor. Se eu fosse o consumidor, eu iria perceber essa diferença? A gente pode até perguntar para uma pessoa da limpeza, para um estagiário que não tem tanta experiência: "Passe isso aqui. Você vê diferença?" "Ah, não". “Cheire isso aqui. Você vê diferença?” “Não." O nosso nariz é treinado, o nosso olho é treinado pra enxergar, mas o consumidor normal veria? Você se põe como consumidor e avalia como consumidor. Você percebe que como consumidor aquilo não é perceptível. Aí você pode até deixar aquilo porque não vai impactar em nada na performance do produto.
AÇÕES SOCIAIS Eu acho que fortalece ainda mais a marca Avon. Porque quando você sabe que uma empresa não está só preocupada em ganhar dinheiro, mas ela está preocupada também em atender alguma coisa que é mais a imagem que ela vai mostrar. Eu acho importante, eu acho muito legal. Eu acho que deveria ter mais divulgação disso, a Avon ainda faz coisas que não aparecem tanto.
“CHEIRADORES PROFISSIONAIS” Você tem o nariz da mesma forma que os olhos. É um dom que você tem de perceber o cheiro. Então ou você sente ou não. Você pode ir associando um cheiro com alguma coisa. Às vezes, você tem aquela capacidade, mas você não sabe. Você tem que ir treinando pra você perceber que você tem. A gente tem uns testes internos, o teste vem da matriz, tem várias substâncias que nós que aplicamos o teste sabemos o que é. A gente aplica com várias pessoas que estarão envolvidas com cheiros de produtos. Então, a pessoa tem que ter memória olfativa. Ela vai cheirar uma coisa e vai falar assim: isso me lembra laranja quando eu era criança; isso me lembra o mato quando eu ia pro sítio na casa da minha avó lá no interior. Então a memória olfativa é um ponto. Outro ponto é um teste triangular: você coloca duas coisas iguais e uma diferente, mistura e a pessoa tem que separar a diferente. Ou você mistura três coisas iguais em cheiro, porém diferentes em quantidade de cheiro: um mais fraco, um médio e um super forte para a pessoa dizer qual é o mais forte, qual é o mais fraco. Então isso é pra medir o grau de acuracidade do nariz. Não podemos ter mal cheiradores profissionais. O teste é pra você identificar pessoas que têm capacidade maior de saber diferenciar melhor ou não cada cheiro.
LIÇÕES DE VIDA Aprendi que nada é impossível Isso é o nosso lema lá. Porque tudo, você tem uma meta que marketing te põe, você tem que atender, você tem que fazer. Pode não ser exatamente o que eles queriam, mas você tem que dar opções pra eles. Um exemplo que coloca muito isso: uma vez eu fiz um curso de homeopatia, de pós-graduação. O professor vinha de Santos para dar aula. Era um curso para a área de saúde: vinham diversos profissionais, médicos, veterinários, farmacêuticos, dentistas, enfermeiros, um monte de gente. O curso era em um salão em Moema, tinha um restaurante embaixo e em cima tinha um salão para reuniões e o pessoal alugava esse salão pra fazer o curso. Era sábado e minha filha era pequena, ela devia ter um aninho, dois. Eu montava o maior esquema pra deixar uma pessoa para olhá-la, e poder ir à aula. Começava as nove, eu cheguei e todo mundo lá fora esperando porque alguém do restaurante que abria a sala não tinha chegado para abrir. E alguém falou que eles dormiam lá e que estavam lá dentro. Todo mundo batia na porta e ninguém acordava. Então, assim, eu não me conformo muito com as coisas, talvez por esse aprendizado da Avon. Pensei comigo: todo mundo já estava lá, tinha gente que vinha de Santos, outros que vinham de outros estados. Eu pensei assim: não, eu montei o maior esquema pra poder ter aula e já estavam falando de ir embora. E o professor vinha lá de Santos. Eu sei que eu lembro que tinha um prédio do lado, eu falei com o porteiro se ele me deixava entrar. Eu entrei nos fundos do prédio, subi no muro, e acordei os empregados do restaurante, pedi para abrir e a gente teve aula. Eu não aceito que não dá, o que depende de mim, acontece
AVALIAÇÃO / PROJETO MEMÓRIA Eu acho legal, mas são coisas que a gente nunca pára pra pensar porque não dá tempo. Ainda mas, assim, essa memória minha que é mais longa. Tem gente que tem menos tempo de Avon, tem menos tempo pra lembrar. A minha tem um período maior pra lembrar, é legal.
AVALIAÇÃO / ENTREVISTA No primeiro dia eu estranhei porque ninguém tinha me comunicado nada. Normalmente, eles comunicam. E por ser da minha área, eu recebo um monte de ligações do Brasil inteiro oferecendo produto, pedindo informação. A Avon não trabalha assim. Todos os nossos produtos têm que ser aprovados pela matriz, segurança de uso. Às vezes, vêm os vídeos que mandam, CD gravado de uma planta que descobriram numa garagem do vizinho, que é boa, que tira estria, não cai cabelo. Então, eu falei: "Será que é mais alguém que vai..." Mas depois, eu vi que não era. Eu achei muito legal esse projeto de colocar pessoas, documentar a memória que está com a gente, fazer com que ela seja um documento e fazer com que ela esteja disponível para todo mundo.
MENSAGEM FINAL Eu diria que se eu tivesse que voltar 25 anos atrás, quando eu escolhi a Avon – se eu fosse voltar no tempo -, eu escolheria a Avon de novo. Eu acho que isso resume tudo. Porque todos os dias eu tive aprendizados bons e ruins, mas até dos ruins você tira os bons, não é? Então essa é a mensagem.Recolher