IDENTIFICAÇÃO Ruth Pacheco, nasci no dia oito de janeiro de 1933. Em São Paulo, Itaim Bibi. ATIVIDADE ATUAL Agora que eu não trabalho mais? Doméstica, mais eu não estou gostando. Não gosto muito. Eu ia trabalhar na Avon e levantava cedinho. E agora fica difícil. Você levanta, u...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Ruth Pacheco, nasci no dia oito de janeiro de 1933. Em São Paulo, Itaim Bibi.
ATIVIDADE ATUAL Agora que eu não trabalho mais? Doméstica, mais eu não estou gostando. Não gosto muito. Eu ia trabalhar na Avon e levantava cedinho. E agora fica difícil. Você levanta, um dia faz uma coisa, outro não, agora eu moro sozinha e estou começando a acostumar. Já vai fazer dois anos que saí da Avon.
FAMÍLIA Meu pai Dom Pacheco e minha mãe é Vitalina Mendes Pacheco. Meu pai era pedreiro e minha mãe doméstica. A origem da família é portuguesa, meu pai era português, os avôs da parte do papai eram portugueses e da minha mãe também, o pai e a mãe dela eram portugueses. Mas minha mãe nasceu em São Paulo. Nós éramos três irmãos: Terezinha de Jesus Pacheco, Sérgio Pacheco e Ruth Pacheco. Infelizmente meu irmão faleceu e agora só tenho a minha irmã, ela está com 76 anos.
INFÂNCIA Nossa casa era no Itaim Bibi. A cara tinha dois cômodos, quarto, cozinha e banheiro. Tinha um quintal bom, e minha infância praticamente foi boa. A mamãe trabalhava e lavava roupa para fora, então ela dava as nossas tarefas. Era assim: na parte da manhã minha irmã ia à escola e eu ainda não ia à escola, então eu tinha que varrer a casa, fazer todo o serviço de casa para ajudar mamãe. E tomar conta do meu irmãozinho. E quando minha irmã chegava, eu ia para escola. A nossa infância foi assim, brincávamos bastante na rua porque naquele tempo não tinha ônibus nem nada, era carroça. O leiteiro tinha carroça, o padeiro também. A gente podia brincar bastante porque era rua de terra, chamava Rua Heloísa, agora é uma avenida. A nossa infância foi muito boa, de brincar, muitas atividades. Meu pai trabalhando, minha mãe trabalhando, dava para controlar, manter a gente. Eu trouxe até uma foto que eu estudei no colégio Aristides de Castro, estudei até o quarto ano. Mais foi tudo ótimo.
BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA Para falar a verdade nós brincávamos muito na rua. Pulava corda, vira lata, sabe aquelas latas de azeite? A gente punha fogo e virava, andava na perna de pau, tinha muito moleque na rua e a gente brincava de todas essas coisas. Agora o nosso terraço era enorme então a gente brincava de casinha com as nossas bonecas, os nossos brinquedos. Eram as nossas atividades.
CIDADES / SÃO PAULO / BAIRRO ITAIM BIBI Mamãe conta que eu nasci no Itaim Bibi, era sítio onde eu nasci. E depois onde nós fomos morar na Rua Heloisa já tinha bastantes casas. Tinha um vizinho, uma família que eles tinham até o nosso sobrenome também, eles vieram de Portugal, mas não eram nossos parentes. E eles tinham vacas, era que nem um sítio. Tinha aquelas árvores, era uma coisa muito bonita, nós brincávamos muito lá. Com a parte dos Pachecos de cá com os de lá, tinha muita criançada então à gente brincava muito. Era uma coisa ótima que depois foi evoluindo. Onde era o colégio não tem mais, agora são prédios e departamentos. É a avenida principal. A maior parte de lá são prédios. Tem a Rua João Cachoeira que são só lojas, antigamente não tinha nada disso. A gente passeava por lá. Saia da nossa casa e subia bastante, uns quatro quarteirões e ia passear porque antigamente era assim, não tinha coreto, mas a gente passeava, as meninas para um lado, os rapazes para o outro e tinha um rinque de patinação onde à gente ia assistir quando tinha festas. Ficava em uma travessa da Rua Tabapuã, a gente ia muito lá assistir essas coisas, andar. Era isso, nossa juventude era assim.
LEMBRANÇAS MARCANTES Tem algumas que são tristes. Porque a mamãe teve um casal de gêmeos e infelizmente o menininho ficou no hospital, a menininha foi para casa e infelizmente depois ele faleceu. Eu achei uma coisa tão marcante, uma criança no caixão cheia de flores. Então o que eu fiz, coisa que não devia, lógico. Eu peguei uma caixa de sapato, coloquei uma boneca, enchi de flores e convidei as meninas para fazer o enterro da boneca. A mamãe ficou muito zangada, ficou até doente, a vizinha me salvou e eu não apanhei. Isso foi uma coisa muito marcante para mim.
As lembranças boas que a gente tinha era o divertimento, passeios, assistir os jogos de boliche na Vila Paiva, que era “pegado” na minha casa. E quando tinha aquelas festas eles faziam fantasias, os homens fantasiados de mulher. Eu e minha irmã subíamos nas madeiras que tinha no quintal e ficávamos assistindo. Eram coisas muito bonitas para mim. Outras alegrias que eu tinha, é que a gente viajava muito para Santos. Porque eu tinha parente lá então a gente viajava muito para Santos e eu gostava muito da praia.
FORMAÇÃO Estudei no Colégio Aristides de Castro, lá no Itaim Bibi. Eu estudei quatro anos lá, foi muito bom, muitos colegas. Eu só tinha uma tristeza, eu era muito gordinha (risos). Eu era a mais gordinha da minha turma. Mas fui bem na escola. Quando tinha que declamar, de vez em quando eles me chamavam e eu cheguei a participar de algumas. Antigamente tinha menos atividades do que agora. Agora tem muito mais.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu nunca gostei de cursos nem de estudar. A minha irmã quis estudar algumas coisas. Mas eu gosto mais de serviços ativos. Tanto é que no dia que eu fiz 14 anos eu trabalhava na casa da minha madrinha como empregada doméstica para ajudar em casa porque meus pais estavam separados e tinha que colaborar. Então no dia que eu fiz 14 anos eu resolvi que tinha que trabalhar numa firma, eu peguei, deixei de trabalhar sem avisar mamãe, eu fui à manufatura de Tapetes Santa Helena que era lá na Rua da Consolação, eu tinha uma parente lá, ela falou que trabalhava lá e era muito bom. Nesse dia ao invés de eu descer para tomar o bonde, tomava o bonde lá na Rua Augusta, eu tinha que descer e ia na minha madrinha . E eu segui e fui até lá, eu entrei e falei que eu queria trabalhar, e eu tinha levado meu registro de nascimento. O escritório era pequeno, tinha pouca gente e quando eles me perguntaram que idade eu tinha eu mostrei o documento: "Hoje eu faço 14 anos". Nunca me esqueço, todos levantaram e me deram parabéns: "Olha uma menina que no dia do aniversário vem pedir para trabalhar." Eles fizeram uns papéis, me deram e mandaram fazer todos os exames que eu tinha que fazer. Antigamente era difícil fazer todas essas coisas. E quando a minha mãe chegou em casa, nessa época minha mãe trabalhava na fábrica de chocolates Nirvana que era no Itaim Bibi. Quando ela chegou em casa disse que minha madrinha tinha ligado
e que eu não tinha ido trabalhar, eu falei: “De fato, eu não fui trabalhar porque eu fui procurar um emprego, eu quero ganhar o meu dinheiro.” Ela achou ruim, achou ruim em parte porque minha madrinha ficou chateada, ela falou que não ia me levar para tirar os documentos porque ela não podia. Sinceramente eu levei uma semana para tirar os documentos. Porque eu tomava o bonde e passava os lugares, ia parar lá na Vila Maria ai eu tinha que voltar. Naquele tempo eles escolhiam 100 pessoas, depois fechava o lugar, tinha que voltar no dia seguinte. Mais eu consegui, em uma semana eu tirei toda a minha documentação, me apresentei e fui trabalhar. E eu adorei, nozinho por nozinho do tapete feito a mão. A gente trabalhava num tapete grande e trabalhava em quatro, cinco pessoas dependendo do tapete. E tinha até os tapetes em alto relevo, tinha uma flor no tapete em alto relevo. Eu aprendi a fazer tudo isso. Eu trabalhei por quatro anos. Na época eu morava no Jardim Paulista então ficava perto para eu trabalhar, era uma condução só. Só que eu voltei a morar no Itaim Bibi, então ficava muito longe, tinha que andar muito a pé, tomava um ônibus na Vila Olímpia descia na Avenida Nove de Julho e subia tudo a pé até chegar à Rua da Consolação, na Rua Augusta por ali, então eu pedi para sair. Mas eu pedi para sair porque minha prima tinha falado que em janeiro daquele ano, ela ia ter um lugar vago na Laborterápica que era na Vila Olímpia e ela era chefe de fechamento de ampolas. E uma menina que trabalhava com ela ia casar. Ela me ofereceu esse emprego e eu aproveitei. Mas nesse pedaço eu tive que esperar uns quatro meses, não podia tirar a menina antes. Eu tinha umas primas que trabalhavam na fábrica de chocolate Kopenhagen no Itaim Bibi. Elas falaram: "Ruth você não quer entrar agora perto do natal, eles pegam as pessoas só para o natal." Eu fui trabalhar na fábrica de chocolates. Quando eu cheguei na fabrica de chocolate, o seu Miguel que mandava no escritório me perguntou a idade, no que eu já trabalhei e conversando com ele eu falei que tinha uns quatro primos lá dentro. Ele falou: "Você vai entrar, mais você vai ser efetivada. Não vai ser temporária." E eu não tinha feito teste nem nada, ele já me efetivou na hora. Já fez as documentações e eu fui trabalhar com ele e tive que pedir desculpa para minha prima, ela teve que arranjar outra pessoa. Nessa firma que eu entrei, tive muita sorte porque na seção que fui trabalhar era a seção de miniatura e a chefe da seção de miniatura era irmã de uma colega minha que trabalhava na Tapeçaria Santa Helena e eu freqüentava a casa dela. Para mim foi ótimo porque ela tinha a minha idade. Na Kopenhagen eu trabalhei em vários setores, montar embalagem, fazer bombom, em todos os setores que fossem necessários. Eu trabalhei em diversos setores. E lá eu fiquei oito anos. Nesses oito anos eu comecei a namorar, a gente ia a bailinhos, festa, então eu comecei a namorar e resolvemos casar. Acontece que nessa firma quando você casava você era mandada embora, naquele tempo não ficavam as mulheres que casavam. Não tinha restaurante, não tinha ambulatório, tanto na Kopenhagen como na Tapeçaria não tinha. Então se você tivesse um filho, você não tinha onde por, não tinha berçário não tinha nada. Naquele tempo eles dispensavam as pessoas que casavam. Ainda o seu Miguel falou: "Ruthinha escolhe." Era Ruthinha porque na época tinha três "ruths" lá: Ruth, Ruthinha e Rutona. Eu era Ruthinha porque era a menorzinha. Ele falou: “Se casar, você vai embora, não é melhor você ficar?" "Não, eu resolvi casar." E casei. Eu casei no dia 27 de setembro de 1958. Infelizmente fiquei desempregada e por acaso o meu marido também ficou desempregado em 1958. Então quer dizer que ficaram os dois desempregados.
TRAJETÓRIA AVON A minha mãe trabalhou de diarista na casa do seu Vinicio Rodrigues Bueno, então a minha mãe pediu a ele se fosse possível que eu ou meu marido entrassem na Avon, então o meu marido entrou, entrou em 1959 e eu fui ser vendedora da Avon. Foi muito difícil. Ninguém conhecia produtos de limpeza de pele. E você ia falar com ela e: "Não. Se eu quiser um perfume eu vou comprar na farmácia." "Isso não existe de porta em porta vender perfume." Foi difícil. Nesse período todo eu fiquei um ano praticamente vendendo Avon, eu morava no Jardim Paulista e lá as casas são de pessoas de alto nível, você vendia mais para empregadas domésticas e as patroas que compravam eram aquelas que iam aos Estados Unidos, viajavam e já conheciam. A gente batia de porta em porta, deixava cartãozinho, algumas começaram a comprar e começaram a perguntar: "Mas o produto é feito aqui?" No começo não era, ainda tinha embalagem que vinha dos Estados Unidos. Elas queriam saber do conteúdo e muitas coisas ainda vinha dos Estados Unidos, a gente explicava isso a elas, então elas passaram a comprar da Avon Brasil. Mas era um período difícil porque quase ninguém conhecia e você tinha que ir lá, levava as amostras, tirava o pedido, depois tinha que ir entregar e receber. Era muito difícil porque muitas empregadas domésticas quando você ia entregar elas já não estavam mais, foi mais de um ano e assim. Depois o meu marido falou com o chefe das embalagens, o Antonio Vergaro e pediu se eu podia entrar para trabalhar lá. Porque eu tinha agilidade nas mãos, já trabalhei na fabrica de tapetes e era manual, já trabalhei na fábrica de chocolates e era manual, então eu tinha agilidade nas mãos. O Vergaro mandou me chamar para fazer um teste, eu fiz o teste e graças a Deus eu passei. Fui lá fiz o teste direitinho, você fazia o teste na linha, tinha que ter agilidade mesmo e tinha máquinas que eu nunca tinha visto é lógico. E ele falou: "Nas máquinas a gente ensina e você faz um teste e depois você vai praticando até aprender tudo." Eu entrei na Avon Cosméticos no dia 19 de janeiro de 1961 e fiquei por 44 anos e alguns meses. Faltavam oito meses para fazer 45 anos. Faz dois anos em abril, dia 21 de abril que eu saí da Avon, devida a muita idade e agora o serviço lá você tem que fazer de tudo e com mais idade você não tem mais agilidade. Eu tive um problema também que eu caí uma vez na rua, e tenho pino no braço, tinha alguns serviços em algumas máquinas que não dava para eu fazer. Mas em todas as máquinas que dava para trabalhar eu trabalhei desde o começo até que eu fui embora da Avon.
REVENDAS / AVON Quando entrei na Avon não continuei vendendo, só para algumas mais conhecidas. Elas pediam então eu comprava para elas na Avon. Mesmo agora de manhã que eu estava na Avon, minhas vizinhas pediram, porque eu tenho a revistinha da Avon e como eu sou aposentada nós recebemos a revista em casa. Quando começou o Renew novo as vizinhas lá de casa onde eu moro: "Nossa Ruthinha dá para você tirar para mim, sai um pouco mais em conta?" Sai um pouco mais em conta, pelo preço que eu tirava eu revendi para elas. Mas eu continuei, se alguém me disse alguma coisa eu sempre me prontifiquei até agora. Uma vez por mês eu vou à Avon e eu já falo para elas: "No fim do mês eu vou à Avon, dia 28, dia 29 eu vou à Avon se vocês precisar de alguma coisa vocês me falam. Eu vou na lojinha e se por acaso tiver na campanha o preço de oferta, se vocês quiserem, eu trago." E é o que eu faço com as minhas vizinhas até hoje.
AVON / PRIMEIRAS IMPRESSÕES Era na João Dias. A impressão que eu tive? Eu vou te contar o que tinha na Avon (risos). Quando eu entrei na Avon era pequeno, tinha seis linhas apenas trabalhando e uma sala de batom que era pequena, trabalham só 12 meninas. Tinha a fabricação, embalagem, alguns escritórios, refeitório, ambulatório, tinha um médico e uma enfermeira. O depósito que armazenava todos os materiais que chegavam e depois tinha a expedição. Eu acho que era mais ou menos isso que tinha. Não tinha muito espaço, era pequeno. Era comprida, não tinha frente, era pequena e bem comprida, conforme foi crescendo não tinha mais onde crescer e foi chegando um ponto quando não tinha mais espaço, eles alugaram na Capela do Socorro um galpão para colocar o material que estocava. Quando ia fazer o produto tinha que mandar buscar lá, às vezes um dia antes para ficar ali para a gente poder trabalhar. E eu gostei muito da Avon porque o primeiro dia que eu entrei (risos) eu fui trabalhar e eles me puseram para começar na fragrância, que era mostruário, naquele tempo você enchia numa caneca, não tinha máquina, uma caneca que tinha uma mola e você tinha que encher os frasquinhos. Então eu tinha que tampar os frasquinhos no primeiro dia que eu fui trabalhar lá. Eu tampei os frasquinhos, quando chegou à hora de ir embora, faltava mais ou menos uma hora, passou pedindo hora extra até as nove horas. Então eu fiz hora extra desde o primeiro dia que eu entrei na Avon, fui aprendendo as coisas.
COTIDIANO DE TRABALHO Antigamente só tinha algumas máquinas, por exemplo, o vidro de perfume amostra, como o esmalte, era muito pequenininho, então enchia nessas canecas. A caneca era dura, as coleguinhas falavam: "Você quer revezar um pouco?" Uma envasava outra tampava. Como o esmalte, você envasava, o rótulo era colocado na mão e tinha que por etiqueta embaixo da cor do esmalte, era tudo bem manual. E perfume também, esses pequenininhos, a Velma era que enchia os frascos maiores de perfume. Era uma máquina que coloca os frasquinhos, abaixava as agulhas, injetava e tinha umas alavancas a qual você fazia assim, para ficar bem nivelado. Você empurrava e as meninas iam tampando, geralmente eram duas meninas. Você ia tampando e tinha que por a etiqueta e a maior parte tinha rótulo porque naquele tempo os frascos não vinham escritos, carimbados como eles falam agora, o nome, nem a quantia nem nada. Então você tinha que colocar. E era tudo embalado em caixinhas, essa máquina era uma linha que você fazia tudo isso. Nós tínhamos também a Arenco, é uma máquina de bisnaga que tem até hoje na Avon. Agora têm diversas e além de ter diversas, a maior parte é só apertar o botão. Naquele tempo não, você apertava a bisnaga, injetava, ela passava, fechava, saia fogo, e ela caia. Mas as bisnagas eram metálicas, não como a de hoje, ela amassava e tinha que tomar muito cuidado com elas. Era também tudo encartuchado. Nesses tempos fazia os cremes de mão, tinha essas coisas, tinha até creme dental. Eu acho que evoluiu demais a Avon, foi uma coisa maravilhosa mesmo.
E tem as outras linhas que eu posso citar para você. Tinha a linha de talco. A máquina que injetava o talco, você punha o talco acetinado, que eram estojos lindos, eram estojos muito bonitos. Então injetava e tinha um papel, e eu punha a esponja, fechava. Tempo de natal saía demais. E nessa mesma máquina injetava pó facial. Então era injetado e vamos caminhando. Até que você embalava, colocava na caixa e tudo bem. Tinha a linha de talco de latinha, a linha de talco injetava e era muito difícil para nós porque nós tínhamos a Canco, que era uma máquina que tinha que por no ombro a latinha com o talco. Você punha a latinha, batia o pé e fechava. Antigamente você vê o trabalho que dava para fazer um talco, muito difícil. Na João Dias chegou uma máquina que era melhor, deu melhor produção porque tinha uma canaleta. Você arrumava e quando a latinha passava, prensava, ela dava uma paradinha, caía e apertava. Para nós foi ótima essa máquina, foi uma maravilha. Agora as máquinas são mais modernas, são mais ligeiras, melhor ainda.
PRODUTOS / BATOM A sala do batom eram só duas meninas, eu trabalhei mais nos batons do que na embalagem. No batom era assim: eles fabricavam, traziam e só trabalhava mulher lá. Nós tínhamos que cortar aquelas barras grandes, por na panela, a gente chamava de panela, punha ali e derretia. Você tinha um termômetro, media a temperatura até que estivesse certo. Punha um molde em cima de um tanquinho, punha o molde, levantava a alavanca e enchia os moldes. Depois você tirava, punha numa mesa fria. E tinha outra menina que tirava o excesso, ai ficava só o batom. A menina ia abrindo, tirando e pondo numa caixa de madeira tudo arrumadinho. Tudo isso em uma salinha. Depois passava, a gente pegava a base e colocava a bala, flambava os batons a gás. Flambava o batom manual. Tinham quatro meninas flambando, uma tampava os batons, outra punha a etiqueta, a gente embalava também dentro daquela salinha. Nessa salinha fazia uns batonzinhos de amostra. Eu trouxe uma caixinha de batons de amostra antiga para vocês verem. A gente fazia que nem fazia o grande, tirava tudo diretinho. Chegava na mesa, você pegava a base numa mão, não podia ter a unha comprida, porque você estragava o batonzinho que era pequenininho. Só que a gente usava luva, no começo não usava a luva, mas logo depois eles puseram, fica mais higiênico. Então colocava ali, tampava e punha dentro de cinco em cinco num saquinho branquinho. Você tinha que passar cola e fechar. Na sala do batom antigamente era assim. Depois chegou uma máquina de fabricar o batom pequenininho, chamava Carrossel, tem até hoje na Avon. Na Carrossel era assim, o rapaz, já tinha o abastecedor, ele colocava a massa, derretia, conforme passava, injetava de cinco em cinco. Então injetava, uma menina punha a base, ela gira, carimbava o nome na máquina e passava para outra menina. Essa menina na parte de baixo, passava e punha a tampinha. Quando passava, levantava o batom, abaixava e estava ali a tampinha. Seguia, entrava numa canaleta, tinha outra menina que ela ficava com saquinho de cinco em cinco, injetava, depois a gente fechava e ficava pronto. Antigamente dava muito trabalho mesmo.
Cada cor, vamos supor, você tinha que fazer 20 mil de uma cor. Colocava aquela cor na máquina, derretia e fazia. Cada barra era uma cor. Você fazia o Vermelho Red, você tinha que fazer 20 mil, era só o Red que punha na máquina. Tinha que lavar, olha só o trabalho que dava, tinha que lavar tudo, trocar o carimbo do nome, punha outra e fazia. E depois o estojinho é assim, cada canaletinha é o nome do batom para você levar e apresentar para a freguesa. Agora é tudo diferente, agora é tudo feito nas máquinas. Então na base tem o nome e você ficava sabendo a cor do batom. A amostra chegava para a vendedora, ela passava, via a cor que queria.
TRAJETÓRIA AVON Eu entrei na embalagem na João Dias. Uma vez a Orlanda, que era ajudante falou se eu queria ir para o escritório logo no começo. Eu tinha agilidade, eu fazia aquelas contas, antigamente não tinha nem calculadora, mais eu sabia fazer, então ela falou se eu queria ir para o escritório, eu disse: "Não, eu não tenho estudo e eu não gosto de fica atrás de uma escrivaninha, eu gosto de andar, eu gosto de movimento." Eu não aceitei. Depois mais uma vez eles falaram se eu não queria ir trabalhar na expedição, que era quando vinham aquelas caixas, que quebravam nos caminhões, ou entregava e a freguesa não tinha dinheiro e não pagava, devolução, achava as peças mas não achava as pessoas, você tinha que tiras as peças e arrumar tudo, limpar. Eles fizeram uma mesa grande e era para ficar fazendo essas coisas. Também não quis porque na embalagem eu gostava porque fazia hora extra. Uma vez também falaram se eu não queria ir para o laboratório que era lá em cima, já era aqui em Interlagos. Nesse tempo o seu Luciano, o nosso chefe ele falou: "Ruthinha, risquei aqui eu nome." Eu falei: "Por que Luciano?" "Você vai falar que não quer ir porque tem que lavar louça e não tem hora extra. Eu até já risquei." E assim foi. Uma vez me convidaram para ser inspetora de linha, tomar conta das meninas, dar serviço, era muita responsabilidade. Eu não tinha estudo então eu achei que ia quebrar muito a cabeça e depois a minha inspetora falou: "Ruthinha você não tem jeito de mandar em ninguém, teu coração é muito mole. Se uma menina chora você acode e fica triste. Se alguém está doente, você fica triste. E uma inspetora de linha tem que ter autoridade". Eu achei que não deveria ter aceitado também. Eu estava muito bem do jeito que eu trabalhava, trabalhava em todas as máquinas, tinha atividade em tudo e para mim era divertido porque eram muitas amizades. Uma hora você brinca, outra hora você chora, outra hora você briga, mas está tudo em família. Eu gostava demais. Quando nós já estávamos aqui, nós começamos a fazer o desodorante roll-on. Os primeiros desodorantes roll-on praticamente foi manual. Tinha que por a esfera e nós não tínhamos a máquina de por esfera. Você tinha que por a esfera, outra com o martelo batia e assim injetava, colocava a esfera, outra batia e depois tinha que por, era carimbado, então depois tinha que fechar, por a tampa e depois virava eles e carimbava manual. Dava muito trabalho e pouca produção também. Atualmente é tudo máquina. O abastecedor põe os frascos, a máquina mesmo ela leva os frascos, vira os frascos do jeito que tem que injetar, são todos injetados, passa na outra máquina que põem a esfera, aperta a esfera, só fica uma menina olhando, para não faltar. Passa numa outra máquina que põem a tampa, aperta a tampa, esse desodorante passa numa máquina embaixo, carimba a data tudo certinho. Já vai para a menina por em caixa e está tudo pronto. Tudo mais rápido, melhor para as meninas também que não precisa pegar o martelo nem nada. Nós tínhamos o desodorante simples também. O qual vai o pescante, que nós chamamos de pescante que é o spray. Antigamente nós começamos numa máquina que injetava desodorante. Então as meninas tinham que por os frasquinhos, eram duas meninas pondo frasquinho. Envasava e tinha quatro meninas para colocar o pescante, tinha que dar conta, bem rápido mesmo. Já tinha a máquina que punha a tampa e apertava. Depois passava que nem o outro, carimba e guarda. Agora já é diferente, porque o menino põe os frascos, cai do jeito direitinho, injeta, passa na máquina que põem o pescante, fica apenas uma menina olhando se precisa empurrar ou não. O pescante sai e já cai dentro do frasco, a tampa também é colocada e está pronto. Também melhorou bastante, tem muitas e muitas coisas que melhoraram bastante porque antigamente era tudo manual, a maior parte era toda manual. E temos a área de batom também que a maior parte é toda injetada, e a primeira máquina de batom grande que chegou chamava-se Comercial. Ela ainda está na Avon trabalhando. O rapaz punha a barra de batom, eles fizeram um pré, o pré você põe a barra inteira e derrete. Ela cai e desce num recipiente que parece uma panela. Dali a temperatura tem que estar exata e já injeta no molde, no molde ele vem e injeta de pezinho. Quando ele sai refrigerado ela abaixa e abre. A menina tira o batom e põe na caixa arrumadinho. Ela faz a bala, ai é que vai para as meninas colocarem na base e agora a flambagem é tudo máquina, só tem uma menina que olha no espelho e olha se tem algum furinho, alguma coisa, e ela tira de lado, corrige e continua. Agora os batons a maior parte não são mais embalados. Eles passam no seringado, você pega, ele já vem tampado, a menina só põe a tampa, aperta, a máquina passa, a etiqueta já é colocada na máquina e agora ela chega e você põe no seringue, seringue é um plástico e conforme você põe os batons vai destacando. Você põe tudo arrumadinho e nesse arrumadinho ele cai que nem um forno e nesse forno aquele plástico fica apertadinho no batom e fica pronto. Quando ele cai do lado de lá já da para por na caixa e ir embora. Melhorou bastante também. No começo foi muito puxado para nós, mas graças a Deus agora as meninas tem bastante facilidade e agora são três turnos. Cada sábado um turno trabalha e um descansa.
TEMPO DE CASA Um ano de Avon você ganha um broche, depois cinco anos você ganha um parabéns e depois um almoço. Depois tem dez anos, eu tenho o broche aqui e é outra comemoração. Junta aquelas pessoas e é aquela festa, comemora, ganha os parabéns, é tudo ótimo porque incentiva cada vez mais. Quando eu fiz 25 anos eu ganhei esse relógio, eu ganhei um broche, uma festa, tinha mais gente também com menos tempo de casa. Foi uma emoção muito grande você chegar a fazer 25 anos em uma firma. E teve outras comemorações de 30, quando chegou 35 anos de Avon eu ganhei um conjunto, uma corrente de ouro e os brinquinhos, além de que ganhava uma quantia e você tinha três dias para ficar em casa. A festa que foi maior foi num quiosque, foi uma festa que foi uma comemoração de gente de 10, 15, 20, 25, 30, 35 e eu de 40 anos. Foi lá no quiosque em Interlagos e foi uma festa muito grande, muito bonita e minha sobrinha que trabalhava como telefonista na Avon, ela foi em casa sem eu saber e pegou algumas fotos e levou. Na hora que eu subi no palco o Amílcar Melendez que era o presidente, ele até dançou comigo, me deu os parabéns e depois, como você vê na televisão, eu achava isso impossível acontecer, desde sua infância até fotos do casamento, eu entrando na igreja com meu pai, a minha infância, eu e meus irmãos. Mais adolescente e algumas coisas assim. Eu fiquei muito comovida mesmo. Eu ganhei o broche de 40 anos, e: "Agora o seu presente é uma coisa que você está querendo." "O que eu estou querendo? O que eu to querendo?" Ele falou para mim: “Uma televisão” Eu mais que depressa falei: "A minha está doente." E como eu gostava muito de filme, teve mais uma surpresa ele falou assim: "Então na sua televisão a senhora vai poder por o vídeo Para assistir mais filmes ainda." Deu uma vontade de chorar, aquela emoção que fica em tudo, foi ótimo, adorei. Naquele dia mesmo a minha sobrinha estava de carro me levou para casa com a televisão e minhas coisas. E depois teve a festa e foi muito bom. Tanto é que é muito comprido esse vídeo porque teve muitas pessoas que comemoraram em todas essas datas. E depois tem as fotos da comemoração dos 40 anos e eu fiquei muito contente, foi a comemoração que eu mais gostei, falando sinceramente eu até chorei. Quando foi o Dia das Mulheres, as meninas que saiam do restaurante falavam: "Ruthinha, sua foto está no restaurante" “Que foto? No restaurante?” E quando eu ia passando para entrar no restaurante de fato tinha, fizeram aquela exposição de muitas mulheres famosas, artistas e quando eu olhei, eu estava ali. Eu fiquei muito contente, para falar a verdade a comida nem entrava direito. Eu fiquei muito contente, foi uma comemoração que para mim valeu muito. 40 anos de firma, sendo apresentada para todo mundo ver. Eu tenho também honra ao mérito, placa, eu tenho uma placa de 30 anos que foi o João Maggioli que me deu. E tem uma coisa que eu gostaria muito de falar. Agradecer a uma pessoa que agora não trabalha mais na Avon, é a pessoa que quando eu comecei na Avon foi muito importante: Vinicio Rodrigues Bueno. Essa pessoa foi uma pessoa ótima, não só para mim quanto para todos. Todos os gerentes, e depois gerentes gerais e agora presidentes, todos eles me tratam bem, todos dão atenção, mas eu quero destacar sem ofender os outros, porque eu gosto demais do Bueno. Porque o Dr. Bueno ele que começou e ele que fez a Interlagos, toda a construção, foi quando ele foi gerente geral e foi ele que inaugurou. Começou menor e aumentou bastante, mesmo depois que ele saiu aumentou bastante. E ele era um gerente geral que, aquele tempo não tinha computador. Era tudo manual, ele trabalhava durante o dia e fazia viagens e ele nunca deixou de comparecer na embalagem, ver como é que a gente estava, o que estava faltando, mesmo os da faxina da Avon, porteiros da Avon, vigias da Avon, ele cumprimentava a todos, ele atendia a todos. A Avon era menor, tinha menos gente, mas mesmo assim ele procurava dar atenção a todos o mais que podia. Mamãe mesmo falou: "O Vinicio levava serviços para casa depois que saia da Avon porque não dava conta de tudo." Qualquer coisa podia ligar que ele comparecia, muitas e muitas vezes eram nove horas da noite, ele ia lá com a esposa, ver se estava tudo bem, a gente podia falar alguma coisa, podia reclamar, ele perguntava. E acredito que o gerente geral que deu mais atenção a embalagem, não desprezando os outros que eu sei que deram muita atenção, eu agradeço muito e acho que a Avon agradece muito a todos eles principalmente ao seu Vinício.
ESPORTES Nossa (risos) na João Dias nem te falo, não tinha espaço. Tanto é que um rapaz queria jogar futebol, não tinha espaço. Ele foi pedir no departamento de pessoal, ao seu Toni se podia fazer um clubinho de futebol, mas não tinha espaço, vamos ver o que se pode fazer para juntar as pessoas da expedição, de todo escritório e eles fizeram isso. Quem começou mesmo com o esporte foi o Lelis, ele que foi pedir. Depois disso começaram mais atividades, começou o pingue-pongue, o truco, tinha bastante coisa. Depois começou o futebol feminino ao qual eu não joguei, mas acompanhava todos os jogos delas. Elas foram jogar em São Bernardo e eu fui junto. Isso tudo era na João Dias e quando viemos para Interlagos é lógico, o espaço era bem maior, agora já tem campo de futebol, tem tudo quanto é jogo, tem corrida, as meninas correm no Sesc, tem prêmios, tem diversas atividades, muitas festas. E antes de ter esses jogos na João Dias eles alugaram uma casa na Rua Laguna que era logo em frente e fizeram um clubinho, então a gente saia da Avon, e ia para lá. Colocavam música, dançavam, jogavam, conversávamos, era muito bom. Tinha as festas juninas que eu participei assistindo. Mas tinha muita coisa, muitas festas que eu trouxe as fotos que vocês podem ver depois. Na João Dias foi muito bom, apenas era pequeno porque era novo, mais como foi aumentando tivemos que abrir o espaço, tinha que fazer. (risos)
MAQUINÁRIO Por exemplo, essa [máquina] Velba foi para Interlagos, mas praticamente não foi usada, porque já tinha máquinas modernas. Eles equiparam. Como o batom, lá não era uma salinha fechada de duas meninas. Em Interlagos você pode ver a linha de batom que você ia trabalhando, pondo numa linha. Você punha a bala na base, punha em uma linha, a outra pegava flambava, quatro, cinco, seis meninas que iam flambando, iam tampando. Ainda estava manual. Agora já tem batom que sai tampado na máquina. Quando nós viemos de lá para cá em Interlagos, a maior parte das máquinas, algumas foram utilizadas mas ainda ficaram muito tempo lá guardadas. A Velba foi usada com removedor de esmalte, que era um produto muito forte. Nós íamos lá fora que era uma casa, porque tinha um cheiro de canela forte. Então a gente enchia lá na Velba, monitorizava a máquina lá de dentro. Aproveitaram muito outras máquinas, vieram todas modernas, outras que você tem que somente olhar, aperta o botão, vê temperatura, a temperatura já passa tudo ali. Você não tem muito trabalho como tinha antigamente, graças a Deus ter muita gente lá trabalhando e espero que continue.
RELACIONAMENTO COM OS COLEGAS Para falar a verdade nós achávamos que era uma família Avon, no começo de fato era uma família Avon. Nós tínhamos o gerente, que não era geral antigamente, depois vinham os outros gerentes de outros lugares. E a gente se comunicava com todos porque era pequeno, a gente tinha amizade com todos porque você conhecia todas as pessoas. Você sabia o nome das pessoas, era gostoso, você conversava com todos, tinha aquela amizade. Não tinha esse negócio de vou ser gerente, vou ser chefe e não conversar com as pessoas mais humildes, com trabalho menos elevado. Eram praticamente todos iguais. Tanto que é na João Dias, o seu Antonio Vergara, nós fazíamos hora extra demais, o que ele fazia? O restaurante fechava. As pessoas do restaurante depois de certa hora iam embora. Quando chegava às vezes nove horas da noite, oito e meia, nove horas da noite, ele mesmo ia lá, fazia um lanche, mesmo o cafezinho, ele punha um cafezinho a gente dava uma “golada”, para você ver como tinha coisa para fazer porque tinham os pedidos. Então era tudo como uma família mesmo. Esse Antonio Vergara no domingo ele ia trabalhar com a gente. Ele trabalhava na Poni. A Poni era uma máquina que colocava rótulos nos frascos maiores. Você colocava o frasco na máquina, a máquina descia o rótulo, apertava, com a outra máquina você tirava. Era de pedal e ele trabalhava junto com a gente, ele ficava trabalhando até o meio dia e depois ia jogar futebol. E se dava ele voltava e ajudava mais. Agora a firma é tão grande que não precisa as pessoas saírem de lá e vir aqui. Agora a Avon continua sendo família Avon, mas você não conhece quase ninguém. Eu tenho a minha equipe que até hoje eu adoro, e por isso mesmo eu vou lá uma vez por mês, eu vou na hora do almoço e almoço com elas. É uma coisa maravilhosa você poder vir. Agora também é muito mais separado porque antigamente você tinha uma equipe de 30 pessoas. A inspetora não conta. De 30, 60 pessoas, depois começaram a pôr mais inspetoras. Receber material, marcar o material, tomar conta das meninas, ver se o serviço está certo, do começo ao fim da linha. Menina que vai ao banheiro você tem que ficar no lugar, menina que vai ao ambulatório você tem que ficar no lugar. Então começaram a por mais inspetoras e agora não é mais assim. Cada linha é uma equipe, você tem poucas pessoas, mas você tem amizade com todos, tanto é que agora que fez 35 anos de Avon Interlagos. E eu e mais algumas antigas fomos chamadas no palco e eu me orgulho muito porque me pediram para falar algumas palavras e eu agradeci a família Avon em geral e depois eu falei principalmente com a minha equipe, que é quem eu tinha mais afinidade. Porque você vê de seis linhas da João Dias agora são mais de 60 em Interlagos. Eu fui aplaudida de pé, isso para mim foi uma emoção muito grande. São coisas assim que você guarda no coração. E eu gosto de dar um beijo grande no coração de todos da Avon.
DESAFIOS Desafios que eu posso falar é uma coisa que você acha que não vai fazer e acaba fazendo. É você olhar para uma máquina, como quando chegou a máquina de talco em Interlagos era um painel enorme e me falaram: “Ruthinha você vai controlar esse painel.” Vem escrito a maior parte em estrangeiro, agora como é que eu faço? Para mim foi um desafio muito grande, um painel enorme cheio de botões e você ter que apertar o botão certo para a linha inteira trabalhar. Não era só ali, você tinha que controlar a linha inteira, você tinha que controlar desde as latinhas que entravam na máquina, injetar, programava tudo. Isso foi um desafio muito grande. Eu vou meter os pés pelas mãos, mas eu vou aprender e aprendi tudo. E outra coisa também que foi interessante na Avon, foi quando começou a bijuteria. A bijuteria começou em uma salinha bem pequena, eu saí do talco, a minha inspetora ia tomar conta dessa sala e falou: "Rutinha você vai tomar conta dessa sala." Tinha que contar o material que chegava, o que chegava, por exemplo, era gatinho, tinha que contar quantos gatinhos. Era brochinho, tinha que marcar tudo aquilo, nós tínhamos que embalar, mas tinha que ver se estava tudo em ordem, por na caixinha, colocava o algodãozinho por baixo, algodãozinho por cima. Quando abriu a área de sabonete, eu também trabalhei na área de sabonete, vinham umas barrinhas, com os pedaços você tinha que fazer um gatinho. Você tinha que por no molde, apertava bem e fazia o molde. Você punha com uma mão e retirava com a outra, a menina tirava a rebarba e guardava para depois embalar. Isso foi uma coisa muito difícil para nós.
PRINCIPAL REALIZAÇÃO Eu acho que é a amizade. A amizade entre todos, porque dificilmente você tem uma fofoca ou outra, se tem aquela amizade com todos. Eu graças a Deus, tenho amizade com todas e sou chamada de beijoqueira se você quer saber. Porque eu entro na Avon eu beijo desde a faxineira que eu tenho amizade, eu vou cumprimentado todos, eu paro com todos e isso daí é amizade que a gente tem. A compreensão dos chefes também. Se eles vão te chamar atenção eles falam com você com carinho: "Olha você fez isso, não faz mais." Isso daí na Avon é uma coisa muito boa. Se você chega numa pessoa e grita, você já desgosta de trabalhar, não tem mais ânimo, eu acho que a Avon Brasil é uma maravilha em todos os sentidos, eles te dão toda a atenção como te falei. Quando eu entrei na João Dias tinha ambulatório, em Interlagos também, tinha o Doutor Perci, o Doutor Perci veio para Interlagos depois foi embora, entrou Doutor Matheus que ficou até dois anos e saiu, tem médico, duas enfermeiras, tem uma médica ginecologista que vai lá. Tem uma médica que, vamos supor, você precisa de uma massagem, a Avon tem. Nós temos tudo isso, temos ginástica na Avon, temos o berçário que foi o mais importante eu acho. Porque as mães têm filhos e ficam até dois anos, a mãe vai lá amamenta no horário. Você tem o restaurante que é enorme, você tem jogos, você tem ambulatório, você tem até dentista lá dentro, hoje você tem tudo completo lá dentro. A Avon Brasil é uma coisa muito maravilhosa.
LAZER Antigamente eu era mais rueirinha, mas agora não sou não. Eu sou muito caseira, eu adoro assistir televisão, adoro assistir filme. Saio algumas vezes, vou na casa da minha irmã. Tem um colega na minha rua que tem um sítio e às vezes eu vou lá, um colega que trabalhou na Avon, esse que eu citei, o Lelis, às vezes ele passa na minha casa e eu vou para o sítio desses meus colegas.
VENDA DIRETA Eu acho uma coisa ótima. No começo sinceramente foi difícil. Foi difícil porque ninguém conhecia o produto para começar, eu tinha até uma senhora que queria que eu vendesse remédio de reumatismo e cada vez que me encontrava ela falava: "Está fazendo remédio para reumatismo?" Eu falei: "Não dona é só perfume." Mostrava o catálogo a ela com toda a atenção. Dava para ganhar, mas não para ganhar que nem agora. Agora você vê, tem propaganda na televisão, tem propaganda em todos os lugares e depois você compra um produto, você gosta e você fala para outra e assim as vendas vão aumentando. Antigamente era mais difícil, você tem que andar de porta em porta. É sol, é chuva, você tem que atender a clientela, você não pode falar que não. Porque tem pessoas que elas marcam com você, não é você que vai marcar com elas, elas falam: "Você vem tal dia tirar o pedido." Elas querem ver o catálogo, querem ver o mostruário, você tem que levar tudo direitinho, conversar, dar atenção. Eu acho que isso evolui bastante e é ótimo. Porque às vezes o homem, acha que dá conta, mas não dá não, porque sempre a mulher quer ganhar um dinheirinho a mais, principalmente quando quer comprar uma coisa diferente. E você quer comprar uma coisa diferente e vai pedir para o marido? Eu achava isso uma coisa horrível, por isso eu sempre trabalhei desde os 14 anos. Eu queria ter o meu dinheiro e comprar o que eu queria e o que eu precisava. As mulheres estão certas de continuar vendendo, tem mesmo que ajudar o marido. Não precisa ficar pedindo, não precisa. Eu quero uma geladeira nova, o marido fica: "Não, esse mês não dá, não vamos comprar." Com o dinheiro que ela está ganhando pode fazer um orçamento e ter tudo dentro de casa. Tem pessoas que eu fiquei sabendo compraram até casa, alugaram a casa. Eu conversei com revendedoras que até isso conseguiram. É a força de vontade, tem que atender bem as pessoas, ser gentil. Falar, apresentar, diz que conversando a gente se entende. Para poder vender as mercadorias eu acho que está certo.
FATO MARCANTE As coisas boas para mim, falando sinceramente, são as minhas amizades. Quando elas chegam de manhã, quando nós chegamos de manhã, principalmente minha equipe, a gente se cumprimenta, dá um beijo, pergunta se está tudo bem e a coisa que eu mais gostava e gosto é perguntar das crianças dessas meninas, se elas passaram bem. Se uma das crianças está doente, até hoje eu sou assim, quando eu vou lá. Se souber que esteve doente eu pergunto, vou no berçário se alguma teve nenê. Agora uma menina teve dois nenezinhos, isso daí é uma coisa que você se dedica. Não só da minha equipe como todas elas que eu tenho amizade eu sempre pergunto da família se está tudo bem, a saúde e as crianças. Acho que o principal de tudo é você ter saúde em primeiro lugar. Você ter o seu emprego e harmonia e felicidade na casa da gente e dentro do emprego.
LIÇÕES DE VIDA Aprendizado de vida a gente apanha e vai aprendendo sempre. Eu acho que a gente está sempre aprendendo. Você nasce e não sabe nada, você vai crescendo e vai aprendendo as coisas. Vai à escola e aprende a ler e escrever, depois vai trabalhar e gostar do serviço. Tudo isso são aprendizados na vida da gente. Como quando você namora e casa. Você não sabe o que vai ser porque namoro é uma coisa, noivado é outro, casamento é outro. Você vai aprendendo com o passar do tempo o que é um namoro, o que é um noivado e o que é um casamento. Ai vem os filhos, você tem que aprender como educar os filhos, como ter autoridade e como falar sim e não. Acho que você vai aprendendo até a hora que Deus chama você para o céu, espero (risos).
AVALIAÇÃO / PROJETO MEMÓRIA Eu acho bom. Eu acho bom porque não se esquece das pessoas antigas. Tem pessoas que não me conhecem, lógico. Tem pessoas que agora entraram na Avon, essa última vez que eu fui lá a menina falou: "Ruthinha eu preciso te apresentar para um rapaz.” Nós temos um correio e uma farmácia e tem onde aprende computador, um escritório e em frente tem um painel com uma fotografia minha trabalhando. Então o rapaz viu e elas falaram: "É a Ruthinha." Ele queria saber quem era a Ruthinha. Cada vez que eu vou lá e eles querem saber quem eu sou, as meninas me apresentam. Eu abraço, beijo e desejo que eles fiquem na Avon 40 anos como eu fiquei. Eu acho que é uma grande coisa você ter esses painéis que apresentam as pessoas antigas. Eu acho que pelo menos é um exemplo para esses que entram a gente falar com eles o que era e o que é. É o respeitar as pessoas.
AVALIAÇÃO / ENTREVISTA Eu achei que iria ficar mais nervosa. Porque eu nunca me apresentei assim, você se vê na frente de uma câmera, as pessoas perguntando, conversando. Você vê isso na televisão, mas nunca pensa que vai acontecer com você, quando você vai em um lugar que você sabe que vai fazer tudo isso, então é lógico, dá um nervoso, depois a gente vai conversando e vê que não é um bicho de sete cabeças. É uma coisa muito boa, maravilhosa. Eu espero que muito dos funcionários da Avon que atualmente estão trabalhando possam chegar ao que eu cheguei. Adorei. Um beijo para todos vocês da Avon, e para vocês também do coração. Muita saúde e felicidade. Obrigada, muito obrigada mesmo.Recolher