Projeto Memória Avon
Depoimento de Ulisses Carlos Gobbi
Entrevistado por Clarissa Batalha e Laudicéia Benedito
São Paulo, 18 de junho de 2008.
Realização Instituto Museu da Pessoa.net
Código da entrevista AV_HV017
Transcrito por Ana Caroline de Aguiar
Revisado por Wini Calaça
P/1 – Vamos c...Continuar leitura
Projeto Memória Avon
Depoimento de Ulisses Carlos Gobbi
Entrevistado por Clarissa Batalha e Laudicéia Benedito
São Paulo, 18 de junho de 2008.
Realização Instituto Museu da Pessoa.net
Código da entrevista AV_HV017
Transcrito por Ana Caroline de Aguiar
Revisado por Wini Calaça
P/1 – Vamos começar, o senhor pode me dizer o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Eu sou Ulisses Gobbi, nasci em São Paulo, capital, em 19 de dezembro de 1944.
P/1 – A sua atividade atual qual é?
R – Estou como consultor independente em vendas.
P/1 – O nome dos pais?
R – O meu pai já falecido se chamava Ulisses Gobbi e a minha mãe também já falecida se chamava Inocência Gobbi.
P/1 – Qual que era a atividade profissional deles?
R – O meu pai era economista e a minha mãe comerciante.
P/1 – Ela trabalhava em alguma venda, alguma coisa assim?
R – A minha mãe teve uma loja, que hoje nós podemos chamar assim, uma boutique.
P/1 – Certo entendi. E a origem da família, qual que é?
R – A origem da minha família é italiana e portuguesa, por parte da minha mãe eram portugueses por parte da minha mãe, italianos.
P/1 – Certo, e tem irmãos?
R – É eu tenho dois irmãos, né, mais novos do que eu. Ambos vivem em Paris já há muitos anos. Esse meu irmão está com 60 anos, também aposentou-se recentemente.
P/1 – Algum deles trabalhou na Avon?
R – Não, ninguém trabalhou na Avon a exceção da minha esposa que trabalhou também na Avon, e aonde nós nos conhecemos. Nos conhecemos na Companhia, lá pelos idos de 1966, 1967 por aí e nos casamos em 1969, né?
P/1 – Vamos lembrar um pouquinho da sua infância. Onde é que o senhor morava?
R – A minha infância foi muito boa eu diria que ela dá show em qualquer (Mark Plan?) da vida porque eu vivi até os 14 anos no interior do estado de São Paulo, numa época em que nós não tínhamos televisão. Lá, o asfalto não chegava lá também então, a vida das crianças não era presa a televisão nem aos joguinhos eletrônicos, as crianças tinham que usar muita criatividade pra realmente se divertirem em relação ao seu dia a dia das férias, dos feriados
etc. Então foi uma infância com rios, com lagos, com pescarias, com estilingue, varinha de pescar etc.
P/1 – E a casa como é que era, como era o cotidiano da casa? Morava em fazenda ou não?
R – Nós morávamos numa cidadezinha pequena, Paraguaçu Paulista, muito próximo à Marília e Assis, essa cidade até hoje é extremamente agrícola e então a nossa infância era basicamente envolvida com as chácaras, as fazendas, os sítios em volta. Então, nós ficávamos envolvidos com os animais, com as plantações de café, toda a infância era direcionada para os cavalos, passeio a cavalo, charrete, carro de boi aquela coisa que hoje existe muito pouco.
P/1 – Dessas brincadeiras qual que era a favorita?
R – Normalmente como eu disse que a gente tinha que usar muito a criatividade, todos os primos e todos os amiguinhos, nós nos envolvíamos na confecção de espadas de madeira, de escudos, cuidar das bicicletas, montar as bicicletas, desmontar as bicicletas, andar a cavalo sem o arreio normal do cavalo, passear no meio dos cafezais, passar o dia pescando no lago. A gente tinha que se ater a confeccionar praticamente todos os brinquedos que a gente tinha, porque naquela época os brinquedos que se compravam pronto eram muito limitados, era uma quantidade muito pequena, não existia eletrônica nem brinquedos elétricos, então a direção da criançada era exatamente para a confecção e elaboração dos seus próprios brinquedos, então diversão era essas lutas de espada, de lança. Os filmes que havia naquela ocasião dos super heróis eram muito limitados e a gente buscava copiar, desses filmes desses seriados o que se via para a brincadeira do dia-a-dia.
P/1 – O senhor poderia falar um pouquinho sobre a cidade, como ela era?
R – Como era?
P/1 – Como ela era, a cidade?
R – A cidade de Paraguaçu Paulista mais ou menos 550 quilômetros de São Paulo capital, ela fica na alta sorocabana bem próximo a Marília e Assis, que naquela ocasião nós tínhamos uma única linha de avião, DC 3 da Vasp que ele descia Paraguaçu, Assis, Presidente Prudente, naquela região. E curiosamente, o asfalto saia da região de São Paulo e parava ali na altura de Sorocaba, de Sorocaba até a alta sorocabana nós tínhamos todas essas estradas em terra, pedregulhos, o asfalto era muito raro, somente as grandes cidades do interior que tinham o seu centro um pouco asfaltado. Paraguaçu era extremamente pequena e toda de terra, pronta para o areão e pro barro na época das chuvas, onde os carros se encalhavam todos, né, (risos) não só nas estradas mas às vezes também na própria cidade.
P/1 – Tinha linha de trem que ia até lá?
R – Tínhamos a estrada de ferro sorocabana, né, que ela saía de São Paulo e por isso que eles chamavam alta sorocabana, porque a estrada de ferro sorocabana parava na altura de Presidente Epitácio, Presidente Prudente por ali, né? Naquela época que eu era bem recém-nascido, bem pequeninho o trem ainda era Maria Fumaça, nós tínhamos o trem que demorava não sei quantas horas para chegar nesses 550 quilômetros. Depois é que começaram a circular os trens diesel, que eram as máquinas diesel elétrica que eles chamavam. Aí os trens se aperfeiçoaram passaram a ter vagão restaurante, passaram a ter vagão dormitório com cabines, o conforto aumentou bastante, mas eu ainda me lembro da Maria Fumaça que queimava a roupa da gente se você ousasse abrir a janela (risos) porque as fagulhas que vinham da máquina invariavelmente iriam queimar alguma coisa, o calor forte não permitia que você abrisse a janela porque as fagulhas iriam entrar mesmo.
P/1 – Interessante. E o senhor tem uma lembrança que seja marcante dessa época da sua vida?
R – Essa infância foi extremamente saudável, extremamente agradável porque a gente tinha uma facilidade de a cada seis meses, na época das férias, nós pegávamos o avião e vínhamos de férias para São Paulo na casa dos parentes da minha mãe - os irmãos, os tios da minha mãe, minha avó materna - que morava em São Paulo. E nessa época, então, nós tínhamos uma infância muito agitada no interior e ao mesmo tempo bastante diferenciada quando a cada seis meses a gente vinha a São Paulo e passeava naturalmente, às vezes pra praia, pra Santos naquela ocasião que era o hit do momento. Às vezes nós íamos também para Poços de Caldas, que naquela época era também uma cidade com estação termal muito procurada. A minha mãe nos levava, quanto o meu pai ficava trabalhando evidentemente, nós vínhamos de férias a cada seis meses. Então foi uma infância extremamente preenchida com o seu tempo, a criatividade, com a família e os primos todos morando em volta, os amigos ali e também nós tínhamos essa variação de vamos dizer, clima, brincadeiras, quando vínhamos a São Paulo e encontrávamos os primos paulistanos, então foi muito fantástica essa infância, foi muito boa mesmo.
P/1 – E os estudos, o senhor começou a estudar quando?
R – Eu iniciei os estudos desde a época do jardim de infância, como era chamado naquela época, né? Dona Cota foi a minha primeira professora, na época do jardim com quatros anos, cinco anos de idade por aí. Eu me lembro muito bem que no jardim de infância a gente brincava a sombra de árvores muito grandes, muito frondosas e ali começou-se a carreira de estudos, e aí avançamos pra todo o primário, o começo da época do ginásio, naquela época foi feito lá, em Paraguaçu Paulista. Por volta dos quatorze anos de idade, é que nós nos mudamos para São Paulo, a família se transferiu para São Paulo, e aí continuei os estudos aqui em São Paulo. Naquela época nós começávamos o trabalho muito cedo não só por necessidade de ajudar o custeio da família, mas também porque era muito comum os jovens se estimularem uns aos outros pra começarmos a trabalhar meio dia, trabalhava meio dia e estudava isso foi por volta aí dos seus quatorze, quinze anos de idade.
P/1 – E o senhor chegou a fazer uma faculdade?
R – Aí, depois de todo o processo de estudo, sempre estudando a noite, aí do meio período de trabalho, passou-se a trabalhar o dia inteiro e estudar a noite, né? Naquela época as opções de estudo noturno eram muito raras, muito difíceis não eram tão comum, raras faculdades, pouquíssimas faculdades com cursos noturnos, né? Então fui seguindo os meus estudos, fui atraído naquela época pelo curso clássico que era um curso extremamente agradável que eu sempre gostei, de humanas, as cadeiras humanas eram sempre o meu preferencial, filosofia etc. depois disso foi-se para administração, cursos de administração de vendas, administração de negócios etc.
P/1 – Certo, então com quantos anos o senhor começou a trabalhar?
R – Comecei mesmo os trabalhos oficialmente na Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga que é uma Companhia muito sólida, até hoje é uma Companhia muito grande, né, de petróleo que está na moda hoje e eu comecei trabalhando meio dia como office boy. Eu estudava no período da manhã e na parte da tarde eu trabalhava na Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga como office boy, usava um uniforme de office boy circulava por São Paulo inteiro, que naquela época o centro de São Paulo era o grande acontecimento onde todas as empresas estavam sediadas, os bancos etc. e eu circulava pelas grandes Companhias, principalmente as grandes Companhias de petróleo Shell etc. né, levando os contatos as correspondências da Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga para essas outras Companhias de petróleo. Isso foi lá pro volta dos quatorze, quinze anos de idade.
P/1 – E os outros lugares que o senhor trabalhou?
R – Após a Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga, eu passei por algumas pequenas empresas, uma Companhia mineradora, uma Companhia de minérios, passei como balconista, vendedor balconista de materiais elétricos, depois eu fui para a especialização de compras, depois eu me tornei um comprador de materiais em geral de uma empresa de eletrônica, depois eu me especializei em comprador técnico e quando eu entrei na Avon, eu entrei como comprador técnico na área específica de suprimento de materiais.
P/1 – Então vamos falar um pouquinho de Avon. Como e quando o senhor começou a trabalhar na Avon?
R – Nesse período eu trabalhava como comprador no laboratório Le Petit, e apareceu a oportunidade de ir para a Avon, na época ficava sediada na Avenida João Dias em Santo Amaro e conversei com o Roberto Ventura que era um supervisor de compras, conversei com o Michael Smith que era um inglês, gerente do departamento de compras na época, e aí fui contratado para começar os trabalhos em Avon, isso foi em 1966. Comecei então no departamento de compras como comprador técnico na área de plásticos, né, bem especializados, bem técnico de 1966 à 1970 eu trabalhei no departamento de compras e em 1970 eu passei para a Divisão de Vendas ainda, na época, na João Dias.
P/1 – E antes o senhor já conhecia a Avon? Antes de começar a trabalhar lá?
R – A Avon iniciou no Brasil, não é, nós estamos comemorando 50 anos, em 1958 a Avon estava se estabelecendo em São Paulo, Brasil iniciando as atividades, 1959 as atividades foram se acelerando, nos famosos anos de 1960 a Avon em São Paulo capital já era bem conhecida como uma empresa pioneira com um sistema de vendas absolutamente pioneiro e com uns produtos extremamente agradáveis, atraentes, embalagens muito diferenciadas daquilo que existia no mercado, os produtos eram sofisticados, as embalagens mais sofisticadas e essa nova forma de vendas começou a se propagar e os produtos começaram a se tornar muito interessantes. Meu primeiro contato com um produto da Avon eu jamais esqueço, foi um frasco muito bonito, né, de uma loção pós-barba e se chamava Space na época, um frasco enorme num cartucho muito grande, bonito, uma embalagem presenteável realmente, ali foi o meu primeiro contato com o produto Avon, com a Companhia Avon. Logo cerca de dois anos após estava eu lá trabalhando, iniciando os trabalhos na Companhia Avon.
P/1 – Chegando lá qual foi a primeira impressão da empresa?
R – Era extremamente impressionante a forma com que a Avon trabalhava no mercado brasileiro, né, nos fornecedores nós que na época trabalhávamos no departamento de compras, nós tínhamos extrema dificuldade em achar fornecedores que tinham qualidade a altura pra poder vender pra Avon, esse era o primeiro grande desafio, nós tínhamos que muitas vezes formar a mentalidade de qualidade desses fornecedores, que não estavam habituados a esse nível de qualidade exigida na época. E uma coisa muito interessante também é que nessa época uma outra empresa que estava recém começando no Brasil, a Volkswagen, era extremamente exigente na sua qualidade também, então o mercado como um todo de suprimento, eles sempre diziam: “olha duas empresas muito difíceis de se começar a trabalhar é a Volkswagen e a Avon”. Porque os desenhos, as especificações técnicas, as exigências, o controle de qualidade são extremamente fortes e exigentes e isso então imperava, né, a Avon foi pioneira também em puxar o nível para o alto de exigência de qualidade, e de nível de aparência e de produtos que realmente perdurassem, não fossem produtos facilmente descartáveis.
P/1 – Certo e o senhor se lembra do seu primeiro dia de trabalho?
R – Ah, sem dúvida nenhuma! O primeiro dia de trabalho na Avon, aquela integração no departamento de RH, a Companhia era extremamente pequenininha, a Companhia tinha muito poucos funcionários era realmente uma pequena família, hoje nós podemos dizer que é uma grande, uma enorme família, mas naqueles idos de 1966 era realmente uma pequena família.
P/1 – O senhor já falou a função que o senhor entrou, depois passou pra vendas, eu gostaria que o senhor falasse um pouco o que o senhor fazia em cada função, como era o trabalho, a rotina de trabalho?
R – Exatamente, quando eu comecei no Departamento de Compras nós recebíamos as especificações técnicas dos frascos, os desenhos, tudo mais, das tampas, cartuchos etc. e nós tínhamos na minha área, que eram os materiais plásticos, nós tínhamos que trabalhar e escolher os raríssimos e poucos fornecedores com capacidade técnica para poder fabricar uma tampa ou um frasco plástico, né, para a Avon porque era realmente difícil, aí nós tínhamos que desenvolvê-lo pra que ele buscasse logo as máquinas no exterior, muitas vezes estimulá-los a comprarem e investirem em novos equipamentos pra poder fabricar essas peças. Tínhamos uma dificuldade muito grande com os moldes plásticos que iam fazer essas tampas ou esses frascos, que também eram pouquíssimos artistas no Brasil que faziam praticamente manualmente aquele moldes de aço, que iriam ser colocados nas máquinas, que iriam produzir essas tampas e esses frascos, né? Então esse pioneirismo da Avon na parte, vamos dizer de produção, tanto artesanal como industrial foi um ponto muito forte muito marcante para todos nós no Departamento de Compras nesse desafio, né, de puxar a qualidade do Brasil para cima. Naquela ocasião o parque industrial era restrito praticamente a São Paulo capital, nós tínhamos raríssimas indústrias no Rio ou no Sul do país etc. A indústria automobilística começou nos anos de 1960 e aqui estava nascendo, estava começando esse parque industrial.
P/1 – E depois dessa função?
R – Aí em 1970, né, iniciei uma nova etapa da Divisão de Vendas naquela época. A Divisão de Vendas, na época, era bastante pequenininha nós tínhamos cinco Divisões de Venda, tínhamos, portanto, cinco gerentes de vendas, o nosso grupo de gerentes de setor, que antigamente se chamavam promotores de venda, era extremamente pequena, também se limitava a São Paulo-Rio, São Paulo interior, o Sul do país, Brasília e praticamente Salvador, né? Nessa ocasião nós tínhamos uma estrutura da administração de vendas, o chamado suporte de vendas, o chamado fio de suporte, né, éramos em quatro ou cinco pessoas que fazíamos tudo na administração de vendas. Ali essas quatro ou cinco pessoas, nós desenvolvíamos as conferências de natal, nós desenvolvíamos os folders, os flyers, o material de apoio pro campo. Nós desenvolvíamos o treinamento da revendedora, o treinamento da gerente de setor. Desenvolvíamos embasamento, o treinamento do gerente de vendas também. Nessa área nós fazíamos inclusive o chamado redistritamento, rezoneamento que era a expansão de vendas. Nessas alturas dos anos de 1970, nós estávamos já prestes a inaugurar a nova fábrica de Interlagos e estávamos nos preparando para uma enorme expansão nas vendas no mercado brasileiro. Aí foi um grande desafio porque esta minha função na área de suporte de vendas aonde eu aprendi a fazer tudo e automaticamente passava esses ensinamentos para novos funcionários que vinham chegando, nós iniciamos então um enorme rezoneamento expandindo as vendas para todas as capitais do Brasil, do Norte e Nordeste inicialmente, dois anos depois para os interiores do Norte e Nordeste e Centro-Oeste, foi um período de mais ou menos três anos de muito trabalho, praticamente dia e noite, sábados, domingos e feriados inclusive com a equipe que trabalhava comigo criando esses mercados para que fossem expandidos nas vendas. Então foram três anos de 1970 à 1973 nesse grande envolvimento, nessa enorme expansão, na ocasião. Depois em 1973 eu fui promovido a gerente de vendas iniciando a minha carreira de treinamento, como gerente em treinamento e posteriormente assumindo a divisão Pérola, chamava-se divisão Pérola na ocasião, que pegava a região do ABC de São Paulo Capital e uma parte do interior do Estado de São Paulo.
P/1 – Então nessa posição que o senhor assumiu existe uma ligação com as revendedoras mesmo.
R – Nesse período evidentemente a Divisão Nacional de Vendas, ela estava diretamente envolvida com as revendedoras porque como sempre a nossa área era responsável pela captação, o recrutamento dessas revendedoras, novas revendedoras. Nós éramos responsáveis pelo treinamento dessas novas revendedoras. E à medida que havia o crescimento dessas novas revendedoras, nós contratávamos novas gerentes de setor ou promotoras de vendas como eram chamadas na ocasião. Então a nossa Divisão de Vendas estava diretamente envolvida com a revendedora que era a base do nosso negócio, filosoficamente sempre foi, né, a revendedora a grande responsável pelo crescimento da venda, pelo resultado da Avon e pelo lucro e pelo desenvolvimento pessoal de todas as pessoas, sem a revendedora evidentemente não existiria nem a Avon.
P/1 – O senhor falou dessa mudança, né, da João Dias pra Interlagos, gostaria que o senhor falasse de mudanças internas que ocorreram, diferenças, comparações.
R – Tão logo nós inauguramos a nova fábrica, né, foi um período extremamente fantástico essa inauguração da enorme fábrica de Interlagos que na ocasião ela foi baseada no design da fábrica da Avon da Alemanha, muito moderna, muito bem estruturada etc. E ali nós estávamos paralelamente abrindo as vendas no Norte e Nordeste, nas grandes capitais do Norte e Nordeste e Centro-Oeste. E a mudança foi radical porque ali nós começamos a crescer muito mais rapidamente e muito mais fortemente. Logo em seguida, foram construindo os escritórios, o prédio atual dos escritórios, aí a João Dias definitivamente deixou de existir, nós deixamos os escritórios e nos mudamos ao lado da nova fábrica Interlagos e ali a interação ficou maior e mais fácil a comunicação. Nesse período a expansão de vendas criou fantásticas experiências pra mim, pessoalmente foi muito impactante essa abertura do Norte e Nordeste porque pessoalmente a gente pôde sentir, né, nas capitais como Recife, como Fortaleza, Belém etc. que há quantidade necessitando de mulheres, necessitando de trabalho, era uma coisa gigantesca chegávamos a ter fila de revendedoras, candidatas a revendedoras, elas queriam revender, queriam ganhar dinheiro, na porta da casa da nossa gerente de setor. E entravam homens na fila também porque eles não tinham oportunidade de trabalho, existia, queriam trabalhar com a Avon e com as vendas etc. E ali começou um segundo trabalho, né, o primeiro foi a oportunidade de ganho, a oportunidade de lucros de trabalho para esse pessoal; e a segunda que me tocou muito foi que a maioria esmagadora dessas senhoras que vinham pedindo uma oportunidade de trabalho elas não tinham absolutamente um documento, essas pessoas não existiam perante a nossa sociedade elas não tinham registro de nascimento, elas não tinham uma carteira de identidade elas eram casadas com cinco, seis, oito filhos, não tinham registro de nascimento dos filhos e isto eu estou me referindo às grandes capitais imagina pelos interiores. O trabalho desenvolvido pela Avon diretamente pela nossa gerente de setor foi fantástico, foi uma coisa de um valor social muitas vezes não mencionado, porque as nossas gerentes já tinham o papelzinho pronto com endereço, com o nome da pessoa, com quem ela deveria falar naquela repartição pública para que ela conseguisse rapidamente tirar um documento inicial que iriam gerar outros documentos necessários pra que ela pudesse ser estabelecida, porque sem os documentos básicos ela não podia ser estabelecida. E isso foi fantástico porque as nossas gerentes como sempre muito ativas, elas já deixavam o terreno preparado nas repartições, né, quando chegava uma revendedora da Avon a procura já era rapidamente atendida e rapidamente eles providenciavam os documentos pra que essa pessoa pudesse existir, né, dentro da nossa sociedade e isso foi pra mim uma experiência viva muito forte, muito forte porque ali a gente não tava, a enorme diferença que existia entre o Norte e o Nordeste e os Sul, Sudeste naqueles anos de 1960, né, lá se vão alguns anos, mas de grandes modificações, enormes modificações, quando a gente vê o norte e nordeste de hoje.
P/1 – O Senhor falou um pouco desse crescimento pro nordeste, o senhor poderia falar um pouco da criação do centro de distribuição nesses estados.
R – Exatamente nessa época, não é, a nossa produção estava aumentando bastante na nova fábrica nós estávamos aumentando as vendas, começamos a ter um suprimento bastante acelerado, apesar das turbulências econômicas que o Brasil passava por todos aqueles anos, os planos econômicos, a inflação, dificuldades enormes que todas as indústrias tinham e a Avon não fugia disso, mas nós fomos superando, nós fomos vencendo todas essas dificuldades. À medida com que a Avon foi crescendo nós tínhamos o Centro de Distribuição de Osasco que foi responsável para acelerar esse crescimento, em seguida nós abrimos o CD, o Centro de Distribuição de Fortaleza, depois por último o CD da Bahia, próximo a Salvador um enorme e moderníssimo centro de distribuição, isso tudo fez parte da expansão necessária para que a logística de distribuição fosse possível atender cada revendedora no dia certo na hora certa com a mercadoria que ela havia pedido.
P/1 – Voltando só um pouquinho, na década de 1980, teve uma greve na Avon o senhor se lembra desse acontecimento?
R – Exatamente, nos anos de 1980 nós tivemos um período assim bastante atribulado no serviço social brasileiro, no sindicato brasileiro, nós tivemos muita atividade, esse segmento sindical cresceu bastante e houve um bastante movimento, assim, agressivo por parte do sindicato em relação a Avon, porque na ocasião a Avon sem dúvida nenhuma tinha um atendimento muito bom, muito justo com todos os trabalhadores e essa agressividade do sindicato nos pegaram um pouco desprevenidos não acreditávamos que pudesse acontecer uma greve e mais, de repente eles conseguiram parar a Avon e aquela agressividade de não deixar ninguém entrar pra trabalhar, mas nós que éramos da parte administrativa e que tínhamos uma responsabilidade.
[FIM DO ARQUIVO]
P/1 – Pode retomar.
R – Vamos recomeçar, da greve?
P/1 – Isso pode recomeçar.
R – Por volta dos anos de 1980, nós tivemos uma aceleração do processo sindical brasileiro que foi ganhando muito corpo e o sindicato na ocasião adquiriu uma agressividade anormal em relação a Avon especificamente, apesar que nós tínhamos os atendimentos sempre acima daquilo que os sindicatos exigiam. E nós não acreditávamos que eles pudessem levar a greve, imaginávamos que as negociações pudessem seguir no contínuo diálogo, mas de repente eles conseguiram paralisar a entrada dos funcionários na Avon, naquele dia param e mesmo nós que éramos da área administrativa, nós tínhamos necessidade de entrar para trabalhar mais do que os operários em si, negócios urgentes principalmente comunicação na área de vendas e nós conseguimos furar um pouco esse bloqueio, muitos funcionários administrativos, conseguimos entrar, conseguimos trabalhar um pouco e tal e com isso a gente sentiu de perto como era efetivamente uma parada, uma paralisação, né, inesperada do segmento. Muitas vezes nós fomos para a linha da separação, ajudar na separação, inclusive, para que as nossas revendedoras não sofressem com isso, as caixas programadas pra entrega e todos os funcionários que conseguiram furar aquele bloqueio, nós fomos ajudar na expedição com a separação das caixas e fizemos o possível e o impossível para que o serviço não fosse paralisado principalmente no atendimento a revendedora.
P/1 – O senhor falou de desafios que enfrentou, eu gostaria que o senhor falasse mais sobre isso, desafios que enfrentou na Avon.
R – Olha, os desafios sempre foram muito grandes, quando você trabalha na área de vendas você tem desafios diários, você tem como a gente usa uma expressão com muita frequência: “você mata um leão por dia”, muito costumeira essa expressão, porque as vendas elas são extremamentes desafiantes sempre, sempre, sempre. Você tem que acompanhar um crescimento, a gente brinca muito dizendo que em vendas: “o céu é o limite”, nunca existe um patamar que você diga: “vou parar aqui que aqui está bom”. Não, não existe isso, né, você sempre precisa crescer pra ganhar mercado, você precisa crescer, porque a população cresce a população do Brasil, das cidades etc. você precisa sempre buscar atender com o objetivo sempre 100% dos clientes, consumidores, você tem o desafio dos concorrentes, né, cada vez mais agressivos que também têm necessidade de crescer, então você tem que estar muito bem alicerçado com as suas forças com as suas energias para que você combata essa concorrência e para que você procure atingir o máximo possível dos consumidores. Isso é o dia a dia das vendas e ao longo dos anos muitos desafios, como eu disse os planos econômicos que o Brasil sofreu antes que nós atingíssemos a estabilidade da inflação havia um desafio muito maior porque os preços subiam com frequência, os folhetos de oferta da Avon eles tinham que sofrer “campanhalmente” reajuste dos preços, houve uma época uma inflação de 80% e que nós chegamos a ter três folhetos de oferta pra mesma campanha, era o folheto A, B e C com preços diferente a cada semana, tal foi o desafio que as vendas tinham necessidade de superar, haviam impostos do dia pra noite, assim, simplesmente os folhetos estavam prontos e a gente tinha que reajustar os preços por causa do aumento de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), por exemplo, né? Desafios enormes, desafios em você vencer a corrida contra o tempo, às vezes em vendas você tinha uma região muito alagada com chuva coisa que você nem conseguia chegar lá pra trabalhar. Você tinha épocas de muita seca numa determinada região provocava um desafio econômico naquela região para que você pudesse atender as vendas, em muitas ocasiões nós tivemos regiões sofrendo uma catástrofe onde todas as nossas revendedoras precisavam ter um suporte extra diferenciado na Avon no que tange ao recebimento e prorrogação dos vencimentos de pagamento, concedendo um crédito maior, um apoio maior àquelas revendedoras afetadas. Então ao longo dos anos você teve essa felicidade de participar da vitória de muitos desafios, várias etapas foram vencidas quando eu comecei em vendas em 1970, nós deveríamos ter por volta, algo em torno de 30, 40 mil revendedoras, 30, 40 mil pedidos, aí nós quebramos a barreira dos 100 mil pedidos depois a barreira dos 200 mil e por final a barreira do um milhão de pedidos que foram números extremamentes simbólicos no aspecto barreira de desafio a ser vencido. E tudo isso quando você olha e para um pouquinho e reflete sobre os desafios vendidos e o sacrifício que aconteceu, nós nos damos por felizes porque você tem a satisfação de ter participado dessas enormes vitórias e barreiras vencidas.
P/1 – Então fala um pouquinho das alegrias que o senhor vivenciou.
R – As alegrias, todas elas foram muito fortes porque a cada desafio vencido era uma alegria e a gente em vendas a gente sempre diz que “a cada vitória você deve celebrar, você deve comemorar”, pequenas vitórias, pequenos degraus significam grandes comemorações, porque você está indo para o crescimento está indo para frente, então isso merece a celebração e grandes desafios foram muito bem celebrados. Nós tivemos evidentemente, durante esse período de crises no Brasil, a Avon não deixava de ser afetada por essas crises, então a cada vitória era uma celebração muito forte por parte da equipe de vendas, faz parte disso então ao longo dos anos a gente dizia muito: “olha vamos chorar agora pra gente poder rir amanhã” pra você dar uma risada, antes disso ter que chorar ou como a gente dizia: “para melhorar, antes piora” com isso as vitórias se tornam mais comemoradas.
P/1 – E essa questão das vendas pela internet, qual foi impacto disso?
R – Ao longo dos anos nós vimos a evolução tecnológica ir acontecendo, me lembro do primeiro computador da Avon sem dúvida nenhuma e as etapas vencidas pelo crescimento da informática dentro da Avon, primeiro laptop,
primeira calculadora eletrônica e assim foi esse crescimento de informática que acelerou muito a informação a necessidade que a gente teve de informações e até que surgiu a internet, evidentemente a internet. Hoje o Brasil está numa ponta fortíssima no mundo, né, nos primeiros lugares mundiais de uso da internet. A internet começou a crescer muito rapidamente, às vezes eu diria até muito sem controle, mundialmente falando a velocidade do crescimento da informação e da comunicação entre pessoas automaticamente as vendas pela internet começaram a surgir com cartão de crédito, os perigos das compras via internet, os riscos e isso tudo foi sendo vencido, isso tudo foi sendo regulamentado e cada vez mais bem elaborado. Hoje a gente sabe que a venda pela internet é uma realidade ela acontece cada vez com mais frequência as Companhias estão se especializando nisso, na Avon sempre teve essa preocupação de estar sempre muito atualizada e a coisa pela globalização, Avon sempre mundialmente fazendo testes e experiências com a venda pela internet também, né, então isso hoje é uma realidade é um fator que a gente considera já em andamento.
P/1 – Senhor Ulisses o senhor entrou na década de 60 e foi saí só na década de 2000, foi isso, mais ou menos?
R – Como que é?
P/1 – O ano que o senhor saiu da Avon?
R – 2007.
P/1 – Foram longos anos, né?
R – É longos anos, nesse período na hora que eu me aposentei em Avon em agosto de 2007 foi um período extremamente emocionante pra mim, foram alguns meses de uma expectativa normal, de uma ansiedade normal no ser humano porque você entende e compreende que tudo tem um começo, meio e fim e que então você está se preparando, você está se encaminhando para, vamos dizer assim, a saída de uma etapa, de vida e eu comecei a enxergar isso como uma mudança, mais uma mudança na minha vida que você… Nós que estamos vivendo temos muito jogo de cintura, muita flexibilidade pra mudanças porque a cada dia você tem que mudar, né, então eu estava me preparando para uma grande mudança que era deixar a Companhia, deixar o convívio do dia a dia com os meus amigos, meu colegas, com a minha equipe de vendas e eu estava psicologicamente me preparando para isso, né, e a Companhia me ajudou muito no aspecto dessa preparação porque houve uma desaceleração no ritmo e no modus operandi do trabalho de tal forma que em agosto de 2007 culminamos com uma grande despedida, muito emocionante, muito celebrada na conferência de natal de 2007, quando eu deixei a Companhia numa forma mais ativa e passei a me preparar para uma nova etapa como consultor de venda, como um consultor independente não deixei de trabalhar, continuo me dedicando a auxiliar pequenas empresas nas vendas, isso me traz muita satisfação nessa ocupação e no uso dessas ferramentas e nesse conhecimento que eu sempre tive. São etapas na vida que as pessoas precisam vencer, nem sempre as pessoas estão preparadas pra essa mudança, isso é que (___?) às vezes a pessoa sofrer mais ou sofrer menos é o quanto ela está preparada pras mudanças o quanto ela se auto ajuda nessas mudanças, seja de um avião a hélice para um jato, no que for o mundo muda e as pessoas precisam ir se preparando para essas mudanças.
P/1 – E o que você considera a sua principal realização na Avon?
R – Eu tenho uma visão muito ampla desses 40 e poucos anos que eu estive trabalhando na Companhia, a minha satisfação sempre foi muito grande e eu tive muitas vitórias e eu consegui com o meu time, porque em vendas a gente sempre trabalha com o time, você nunca está sozinho, você está envolvido no seio de um time e esse time muitas e muitas vezes foi levado a vitória. Eu consegui prêmios significativos, comemorações significativas de resultados sendo celebrados, e eu fico muito satisfeito quando eu olho que as vitória foram imensuravelmente maiores do que as derrotas, os insucesso foram muito pequenos perto da quantidade enorme das vitórias e de momentos celebrados e agradáveis. Então isso supera esses momentos desagradáveis, aqueles que você não venceu, que você ficou inseguro, você ficou em terceiro isso nunca é agradável porque você sempre quer o primeiro lugar, né, mas as vitórias foram maravilhosamente tão grandes que você nem se lembra das derrotas.
P/1 – E como é que era o relacionamento entre os colegas de trabalho?
R – A divisão de vendas, ela prima por um relacionamento muito forte, a alma da Avon é o relacionamento, a grande necessidade principalmente na Divisão de Vendas o relacionamento, é fundamental. As pessoas que não tem facilidade de relacionamento, as pessoas que não conseguiram se relacionar em todos os níveis tanto horizontalmente, quanto verticalmente, essas pessoas não entraram na alma da Avon, não entram na cultura da Avon, essas pessoas não foram felizes, essas pessoas não ficaram na Companhia. Eu julgo que um dos segredos por eu ter ficado tanto tempo na Companhia foi porque eu consegui exatamente entrar na alma da cultura avoniana que é o relacionamento, fundamental porque você precisa, você precisa sentar na sarjeta ou na beira de um poço pra conversar com uma revendedora e muitas vezes uma hora, duas horas, depois você está na sala do presidente conversando com o presidente, essa capacidade camaleônica de comunicação e relacionamento é fundamental, é extremamente necessária, você precisa ter essa flexibilidade, essa facilidade nem todas as pessoas tem essa flexibilidade, mas ela se faz necessária porque a linguagem de uma pessoa semi-analfabeta é muito diferente da linguagem do presidente da Companhia, sem contar que às vezes uma hora depois você vai estar falando em inglês se comunicando com o visitante da área que veio da China e você precisa se comunicar em alto nível numa língua diferente, então é fundamental isso, né, pra que você seja feliz, pra que você torne as pessoas felizes nessa capacidade camaleônica de mudança.
P/1 – E na sua opinião, o senhor acha que a Avon representa o que pro seus funcionários?
R – Avon sempre foi uma grande família, principalmente pra mim sempre foi porque eu tive a felicidade de conhecer a minha esposa dentro da Avon, casei-me com ela, tive filhos, tenho dois netos e isso tudo em função de ter estado na Avon, né, a Avon foi diretamente responsável pela minha família, pela minha realização profissional, pelo meu pecúlio, pela minha realização financeira. Isso tudo é um conjunto de coisas que torna a Avon uma grande família, quando eu entrei era um pequena família, hoje a Avon é uma enorme família no Brasil, sem contar no mundo todo e essa grande família, ela exige essa necessidade de interação, comunicação e integração para que ela seja feliz.
P/1 – E o senhor falou da sua esposa, qual o nome dela?
R – Maria Helena, conheci Maria Helena logo depois que entrei na Avon pelos idos de 1966, nos casamos em 1969, logo em 1971 veio o meu primeiro filho e eu sempre ligado a vendas desde 1970, sempre viajei muito sempre estive muito ausente da família e a minha esposa Maria Helena super foi responsável na criação desses filhos, os dois que tive, na educação dos filhos, na administração não só do lar, mas a administração das finanças, administração de toda a nossa vida, porque era necessário que ela estivesse durante a semana a frente de todas as decisões que tinham que ser tomadas financeiras etc. enquanto eu estava fora houve uma dedicação muito grande, um empenho muito grande e sem dúvida nenhuma é muito difícil você estabelecer esses percentuais no meu sucesso, o quanto eu devo a ela também, porque a compreensão dela, a aceitação com uma facilidade, um amor muito grande me permitia que eu viajasse absolutamente tranquilo de que tudo estava seguro, sob controle na minha casa, no meu lar, porque você só desenvolve um trabalho 100% dedicado se você tem essa retaguarda se você consegue ter em casa alguém que assuma essas responsabilidades que não foram poucas.
P/1 – E os filhos quantos são?
R – Os meus dois filhos, né, o mais velhos casou-se e nos deu dois netos: hoje o Joãozinho com nove anos e a Flora com quatro anos; o meu filho mais novo é solteiro. E eles levam a vida de uma forma independente, isso permite que a gente mantenha a família o mais unida possível durante as atividades de cada um e da minha atividade também, mas a gente consegue graças a Deus
manter essa unidade, de estar sempre se encontrando, visitando, às vezes curtindo um fim de semana todos juntos, às vezes alguns dias de férias também todos juntos, mas graças a Deus a família está muito bem estruturada.
P/1 – Vamos falar um pouquinho mais de Avon então, qual é a importância da Avon em relação a venda direta de porta em porta?
R – Qual a relação?
P/1 – A importância.
R – A Avon foi como eu disse a pioneira no Brasil, né, nos anos de 1958, 1959 quando se iniciavam as atividades porta a porta, naquela época que logo após a gente denominou de venda direta, mas naquela época existia quase 100% digamos assim de venda porta a porta, as pessoas batiam na porta com facilidade, as pessoas eram bem recebidas com facilidade, as pessoas foram se acostumando àquela maneira diferente de vender de porta em porta e as mulheres se sentiam orgulhosas e até prestigiadas em receber uma revendedora em casa e de uma maneira cômoda elas compravam, escolhiam no folheto o que elas queriam, recebiam em casa, enfim, iniciava-se uma nova forma de comércio. Isso foi um pioneirismo muito grande, muita gente não acreditava no Brasil que não ia dar certo: “imagina esse negócio de vender de porta em porta, isso não vai dar certo, num funciona e tal.” E a Avon mostrou evidentemente que houve uma enorme receptividade no mercado brasileiro até hoje, a essa venda direta. O sucesso da Avon a cada ano que passava evidentemente chamou atenção, despertou atenção de muitas pessoas empreendedoras que resolveram se tornar concorrentes da Avon, e começaram assim os pequenos concorrentes da Avon copiando o mesmo sistema, a mesma estrutura, a mesma logística, muitas e muitas empresas tentaram sem sucesso conseguir chegar numa estabilidade grande. Hoje nós temos até empresas multinacionais que vieram para o Brasil se tornando concorrentes da Avon, o mercado hoje sofre realmente uma grande concorrência não só na venda direta como na venda convencional, inúmeras empresas de cosméticos estão aí no Brasil, Brasil também era muito fechado às importações naquela época, o Brasil era um país muito fechado de maneira geral. Á medida que essa abertura foi ocorrendo, as empresas de fora foram também se estabelecendo, trazendo capital, montando o seu negócio e hoje sem dúvida nenhuma o mercado é muito mais agressivo, muito mais competitivo. Mas no mundo todo, nós devemos lembrar que o McConnell realmente pôs em pé um sistema muito agressivo e que foi muito pioneiro no mundo todo em termos de vendas diretas.
P/1 – E como que o senhor avalia essa questão da Avon dar oportunidade para tantas mulheres no mercado de trabalho?
R – É no início da Avon, né, somente as mulheres começavam a trabalhar na venda porta a porta, e poderíamos dizer que até determinado ponto havia um preconceito “imagina um homem vender Avon”, talvez porque a atividade era quase que 100% feminina, despertava uma tensão negativa nos homens em vender Avon e tal. Com as crises de desemprego que o Brasil sofreu, muitos homens começaram a vender Avon e esse número foi crescendo, esse número foi aumentando e também há muitos anos atrás os homens começaram a se unir às esposas fazendo uma dupla de sucesso como empreendedores, se tornando grandes comerciantes, grandes mesmo em termos financeiros, a união do marido e da mulher e às vezes puxavam os filhos, a família etc., e faziam uma equipe muito sólida, muito forte e que ganharam muito dinheiro com a Avon e que ganharam até hoje cada vez mais, né, hoje são chamados de distribuidores tamanho a importância que eles ganharam no mercado brasileiro.
P/1 – E como é que o senhor vê a atuação da Avon no Brasil? Esse alcance que todos os produtos da Avon chegam para qualquer pessoa para o Brasil todo?
R – A logística da Avon, né, fazer com que a caixa da revendedora chegue na casa dela no dia exato, marcado e programado essa precisão, essa qualidade de serviço ela foi se desenvolvendo à medida em que nós fomos avançando para os interiores do Brasil e hoje nós podemos dizer que a caixa da Avon chega em Fernando de Noronha, ela chega na Ilha de Marajó, ela chega muito mais do que o Oiapoque ao Chuí, muito além disso, né, nas fronteiras, nos garimpos no meio da selva, em muitas aldeias indígenas está lá a caixa da Avon chegando, a logística é perfeita, o envolvimento de toda a equipe de distribuição é perfeita, isso faz com que possamos ter revendedoras em qualquer canto do Brasil que a gente possa dar a segurança desse atendimento, isso é muito importante, né, porque no sistema ela vende e ela manda o seu pedido na data certa.
P/1 – O senhor citou aí o criador da Avon, né, gostaria de saber o que o senhor acha da importância da Avon para a história dos cosméticos?
R – Muito interessante essa história da Avon mundial. Eu tive o prazer, muitos anos atrás, de conhecer o bisneto do McConnell, ele era bisneto do McConnell e ele estava nessa ocasião que eu conheci, ele veio ao Brasil especialmente para se despedir porque ele estava se aposentando, ele já era idoso naquela ocasião, né, e muito interessante essa filosofia que veio através do McConnell do relacionamento, pq o McConnell era um homem de vendas, né, o McConnell ele tinha o espírito de vendas, ele tinha alma da venda e isso foi se propagando ao longo dos anos, das décadas, além de um século e essa filosofia ficou muito impregnada e é uma coisa impressionante quando a gente visita a Avon de outros países, que a gente encontra grupos de avonianos de outros países, você percebe claramente essa filosofia, essa seriedade no trato a revendedora e a responsabilidade do serviço à revendedora. E aí, você fica imaginando como é que isso consegue se propagar ao longo de décadas, ao longo de países tão distantes um do outro, culturas tão diferentes, mas essa alma, essa linguagem avoniana ela é ímpar, ela é uma coisa da cultura avoniana.
P/1 – E quais foram os aprendizados de vida que o senhor tirou ao longo desses anos todos da Avon?
R – Ao longo desses anos todos a gente aprende muito, afinal, você ajudou a solidificar a sua personalidade, a sua estrutura não só como pessoa, como profissional e o aprendizado enorme, enorme, e como o mundo muda cada vez mais rápido a necessidade desse aprendizado se torna cada vez mais rápida e eu agradeço imensamente a todos os avonianos, não só do Brasil, mas também dos países de onde eu estive que me ensinaram, que me transmitiram, que me colocaram caminhos de alternativas diferentes me fazendo um melhor profissional, uma melhor pessoa. Porque sem esse aprendizado você não vai a lugar nenhum e essa cultura da transmissão do aprendizado de um para o outro avoniano faz com que você se sinta uma pessoa cada vez mais atualizada no mundo.
P/1 – E o que o senhor acha da Avon estar resgatando a memória dela através desse projeto aqui?
R – É quando, conversando com o Luis Felipe, num almoço ele conversou rapidamente comigo no almoço e disse: “olha estou preparando uma grande festa, uma grande celebração, uma enorme comemoração dos nossos 50 anos no Brasil e eu vou procurar resgatar a memória da Companhia, procurar resgatar o passado, vou procurar com isso aumentar a aproximação dos ex-avons, das pessoas que trabalharam, que contribuíram com o crescimento da Avon, numa grande união”. Eu fiquei muito feliz, eu dei os parabéns a ele por essa iniciativa porque eu acho que é muito importante celebrar as vitórias, e o fato da Avon estar comemorando os 50 anos no Brasil é uma enorme vitória do ponto de vista humano de Companhia, de corporação.
P/1 – E o senhor gostou de ter participado dessa entrevista?
R – Eu, quando eu recebi o convite eu fiquei muito feliz de ter sido lembrado, a gente quando é um ex-avoniano a gente fica muito feliz de ser lembrado de alguma coisa é muito agradável, isso toca sempre o coração e eu fiquei muito feliz quando me comunicaram que eu ia estar vindo pra fazer uma gravação falando um pouco sobre a Avon, um pouquinho sobre esse passado avoniano, isso deixa a gente sempre muito motivado e muito emocionado.
P/1 – E o senhor gostaria de falar sobre algum assunto que eu não comentei, que eu não perguntei?
R – Acho que falei bastante, né?
P/1 – Falamos bastante, foi bom.
R – O questionário é bastante, né, vocês queriam reforçar alguma coisa, algum ponto, que chamou atenção.
P/1 – Ah! Eu pulei uma pergunta. Tá certo, tem mais uma pergunta sim, eu gostaria de saber a sua visão a respeito das ações sociais da Avon.
R – A muitos anos atrás, a Avon começou a criar até, antes do Instituto Avon, fantástico Instituto Avon, Avon começou a criar algumas ações sociais. Mas como eu falei muito antes disso, quando eu participei ativamente da abertura das vendas no Norte e Nordeste e Centro-Oeste ali, a Avon começou pra mim sentindo na pele a maior obra social que eu tinha visto nesse país porque naquele momento nós começamos a ensinar as mulheres a pescarem e não a darmos o peixe, naquele momento nós estávamos ensinando àquelas mulheres e aos seus maridos muitas vezes como ganhar dinheiro, como preservar o dinheiro, como crescer comercialmente e despertando o espírito empreendedor no Norte e no Nordeste aliás, esse pessoal do Norte e Nordeste têm um espírito comercial muito aguçado muito forte, são grandes comerciantes e nós simplesmente estávamos lançando essa semente do ensinar a pescar isso foi pra mim um impacto maravilhoso do ponto de vista humano, social, até hoje eu não consigo esquecer o quanto foi forte isso pro nosso povo, pros nosso brasileiros lá daquele cantão esquecido dos anos de 1970 que era o Norte e o Nordeste, né?
P/1 – Vamos encerrar, então, em nome da Avon e do Museu da Pessoa, a gente agradece bastante a sua participação Ulisses.
R – Você quer que eu fale algo de agradecimento.
P/1 – Se o senhor quiser pode falar.
R – Mais uma vez eu gostaria de reforçar os meus agradecimentos, a Avon pela lembrança de um ex-avoniano de ser convidado pra vir fazer um depoimento, uma gravação tão interessante, é sempre muito gostoso a gente relembrar um pouco os bons momentos do passado, como eu disse, os maus momentos foram muitos, mas eles foram totalmente superados pelos ótimos momentos.Recolher