Memória Avon
Depoimento de Neusa Possamais Feres
Entrevistada por Laudicéia Benedito e Clarissa Batalha
São Paulo, 16 de junho de 2008
Realização Museu da Pessoa
Código de entrevista AV_HV016
Transcrito por Regina Paula de Souza
Revisado por Wini Calaça
P/1 – Bom dia! Vamos começar com a ...Continuar leitura
Memória Avon
Depoimento de Neusa Possamais Feres
Entrevistada por Laudicéia Benedito e Clarissa Batalha
São Paulo, 16 de junho de 2008
Realização Museu da Pessoa
Código de entrevista AV_HV016
Transcrito por Regina Paula de Souza
Revisado por Wini Calaça
P/1 – Bom dia! Vamos começar com a senhora falando o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Neuza Possamais Feres, São Caetano do Sul, 18 de setembro de 1947.
P/1 – Qual é a sua atividade atual, Neusa?
R – Hoje, eu sou mais dona de casa. Tenho alguns compromissos com a igreja, faço trabalho voluntário.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais?
R – Antônio Possamais e Virgínia Scarin Possamais.
P/1 – Qual era a atividade profissional deles?
R – O meu pai era pedreiro e a minha mãe era do lar.
P/1 – Qual é a origem da sua família, de onde eles vêm?
R – Os meus avós são italianos, tanto paterno quanto materno e, os meus pais, vêm do interior de São Paulo.
P/1 – Você sabe de que região da Itália eram os seus avós?
R – Da minha mãe é Palermo, mas o meu pai eu não sei de onde.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho uma irmã e dois irmãos. Eu sou a, mais ou menos, do meio, eu tenho dois mais velhos, meu irmão e minha irmã, eu e o caçula.
P/1 – Escapou de ser caçula?
R – Escapei (riso).
P/1 – Vamos voltar um pouquinho pra sua infância?
R – Vamos.
P/1 - Aonde vocês moravam?
R – De São Caetano do Sul nós viemos pra Moema, aonde moramos bastante tempo e, depois, fui pra Pedreira, a adolescência eu passei mais na Pedreira.
P/1 – Você saiu com que idade de São Caetano?
R – Com uns dois anos, então, faz muito tempo.
P/1 – Você saiu de São Caetano e foi para?
R – Moema.
P/1 – De, lá, você se lembra um pouco?
R – Sim, me lembro muito da minha infância, foi a parte melhor da minha vida.
P/1 – Então, conta pra gente, como era a sua casa, o seu cotidiano?
R – A minha casa sempre foi muito simples, o meu pai pedreiro, a minha casa sempre foi muito simples, mas nós tínhamos muitos vizinhos, muita amizade, muitas crianças, que nunca faltou, né? Muita criança, então, era muito gostoso, muita liberdade, nós podíamos sair, brincar na rua sem receio, sem medo, então, tínhamos bastante liberdade, brincávamos bastante, foi uma fase muito gostosa.
P/1 – Qual era a sua brincadeira preferida?
R – Ixi, menos casinha, eu brincava de tudo, corria, brincava, gostava muito, porque agora, não, vocês nem conhecem, mas, na época, tinha muito terreno baldio, então, tinha muita amora e nós íamos pegar amora, tinham chácaras, íamos pegar caqui do vizinho, goiaba. Então, não dava tempo muito de brincar, a gente ficava correndo de tudo, brincava de roda, de pega-pega, de esconde-esconde, era tudo uma brincadeira que, hoje, se perdeu, praticamente, né?
P/1 – Como era o seu bairro naquela época?
R – Era um bairro de periferia, que Moema não deixava de ser, tinham poucas moradias, as ruas não eram asfaltadas, eram todas de barro, terra batida. Tinha muito terreno baldio, tinha muito lugar pra você brincar livremente, né? Não dentro de casa, nem preso, então, era muito mais liberdade que, infelizmente, as crianças, hoje, não têm.
P/1 – Você tem uma lembrança marcante dessa sua época da infância?
R – Olha, é difícil falar uma lembrança marcante, falar que eu caí, quebrei o braço, foi o único acidente quando criança. Estava em cima do muro, caí do muro e quebrei o braço, a clavícula, só, em termos de marcante, todo o resto foi nada, as minhas lembranças, não tenho nenhuma lembrança triste, embora, simples. Meu pai e minha mãe tiveram muitas dificuldades, porque eram quatro crianças, como hoje, também, não é fácil, também, não tiveram facilidade, mas tivemos, assim, muita harmonia dentro de casa, nunca vi meu pai e a minha mãe discutindo, embora, eu creio que discutissem muito, mas nunca vi meus pais discutindo. Então, nós tivemos sempre muita união entre os irmãos, entre os pais, foi uma fase muito feliz.
P/1 – Quando você começou a estudar você estava em Moema?
R – É, eu fiz toda a, não! Que, na época, primeiro grau, eu fiz o primeiro grau e parei, não queria mais estudar e, como, realmente, eu não estudei, meus pais queriam que eu continuasse, porque eles sabiam a dificuldade, mesmo, na época, que não se exigia muito, mas se procurou ter, realmente o estudo. Nenhum dos quatro quis estudar, então, meu pai falou pra mim: “Já que não vai estudar, vai trabalhar, porque vagabundo não fica em casa”. (riso) Ele não queria vagabundo e, realmente, todos nós começamos a trabalhar cedo, eu comecei a trabalhar com doze anos e voltei a estudar com vinte e um, aí, por necessidade e por entender que precisava estudar, né? Então, eu estudei a parte primária em Moema.
P/1 – Você se lembra da escola em Moema?
R – Era Martim Francisco.
P/1 – E como era na escola?
R – Não é bem Moema, antigamente falava Moema, mas é mais Vila Nova Conceição, né? Era Escola, acho que, Estadual Martim Francisco, que ainda tem.
P/1 – E você se lembra da escola?
R – Lembro.
P/1 – Lembra do primeiro dia de aula?
R – Eu não tive dificuldade pra me adaptar a escola, só, que eu tinha um comportamento muito diferente em casa e na escola. Na escola, a minha mãe dizia assim: “Você tem que se comportar”. Porque em casa eu não era comportada, em casa eu era, realmente, dei muita dor de cabeça pra minha mãe. Então, quando eu entrei na sala de aula, a minha mãe: “Tem que se comportar”. E eu era uma santa dentro da sala de aula, nem comer eu não queria pra não fazer bagunça (riso). Em compensação, em casa, era um horror, mas dentro da sala de aula nunca tive dificuldade de adaptação, na classe, não, sempre fui muito comportada. Tinham os intervalos pra brincar, eu não queria brincar nos intervalos, na escola eu era muito quieta, muito anormal, mas anormal pro bem, porque, senão, a minha mãe, eu acho que a escola teria me expulso (riso). Talvez, é, na época era mais exigente do que agora.
P/1 – Você disse que voltou a estudar com vinte e um...
R – Vinte e um, vinte pra vinte e um.
P/1 -
...mas você foi fazer um curso ou você continuou?
R – Não, eu fiz a, como é que era o nome? Supletivo! Eu fiz o supletivo, tanto do ginásio quanto do colegial e, depois, entrei na faculdade.
P/1 – Fez faculdade de quê?
R – Eu fiz filosofia química na Oswaldo Cruz.
P/1 – O que te influenciou pra escolher essa carreira?
R – Primeiro, falta de orientação, né? Porque eu sempre estive na Avon como parte de administrativo, então, primeiro, foi falta de orientação e, depois, eu amo química, acho a coisa mais gostosa química, física. Embora, pra estudar eu tenha muita dificuldade em física, mas eu acho essa matéria fascinante, então, eu fui mais porque eu realmente gostei da matéria, nunca exerci, que eu tirei a licenciatura e seria professora, nunca exerci. Mas foi muito bom ter estudado.
P/1 – Você começou a trabalhar com doze anos?
R – Doze anos.
P/1 – Aonde, você se lembra?
R – Lembro, o primeiro emprego, mesmo, foi em casa de família, mas não fiquei muito tempo, acho que não gostaram, nem eu. Mas, depois, comecei a trabalhar em fábricas pequenas que tinham próximo de casa, porque eu não podia ir longe que eu era muito criança, então, pequenas. Depois, trabalhei na Instrumentos Engro, onde toda a minha família trabalhou, meus três irmãos. Essa Instrumentos Engro ainda existe, eles fazem instrumentos de painel. De lá, saí, fui trabalhar como balconista, mas trabalhei muito pouco tempo, durante, eu estava trabalhando de balconista e uma amiga conseguiu vaga na Avon pra mim, eu estava com 17 anos na época, daí não saí mais, entrei como mão-de-obra direta com a linha de embalagem. Na Avon eu tive, assim, em termos de parte profissional, eu cresci bastante, vamos dizer assim, não estava estudando na época, comecei com 17 e, não comecei a estudar por uma ambição, pra conseguir algo melhor e, sim, porque eu sentia a necessidade do estudo, comecei a estudar e, a partir de que eu comecei a estudar, as portas foram se abrindo, também, na Avon pra mim. E aí, fui de mão-de-obra direta, passei por todas as etapas que você possa imaginar dentro da embalagem, comecei, lá, hoje, a embalagem, os cargos que eu exerci tem nomes diferentes, então, eu não sei os correlatos hoje, mas de mão-de-obra direta eu passei como inspetora, que era responsável pela linha de embalagem, de inspetora eu fui pro escritório, trabalhei como secretária dentro do escritório, trabalhei como responsável pela área do escritório, daí, eu passei pra supervisora, que era responsável pelas inspetoras, depois, de supervisora a coordenadora, de coordenadora passei pra gerente, na embalagem, fiquei até 1987. Depois, eu fui pro almoxarifado como gerente de almoxarifado, dentro disso, eu sei que fui a primeira mulher no Brasil a exercer função de supervisão na área produtiva, que é muito difícil, tinha muitas na parte, tinha em vendas, responsáveis e gerentes de vendas, na área administrativa tinha bastante, mas na área de produção, não. E, se eu não me engano, eu fui também a primeira, parece que só tinha uma nos Estados Unidos, mulher que trabalhava na parte produtiva com o cargo de supervisão.
P/1 – Como foi isso pra você?
R – Pra mim sempre foi muito natural, sei que foi, teve barreiras, porque era pra eu ter sido, segundo o diretor da época, ele havia dito que ele já tinha me indicado pro nível de supervisão e o vice-presidente, vice-diretor, alguma coisa assim, não permitia mulheres nessa função. Mas eu nunca me preocupei com isso, eu sei que não existe função, pelo menos a meu ver, que homem ou mulher não possa fazer, existe, sim, cargos, dependendo, se é um de muita força, força física a mulher tem muito mais dificuldade, mas nenhum outro, eu não vejo, mulher ou homem, tem sim quem tem ou quem não tem capacidade pra fazer o serviço, mas nunca tive problema com isso, não. E a pessoa, o vice-presidente, saiu, aí, esse diretor tornou a pedir e ele me colocou como supervisora, daí, eu fui a primeira supervisora de embalagem e, ele havia dito pra mim: “Você não foi antes, porque fulano não permitiu, mas agora você é”. Então, pra mim foi tudo sempre muito natural, sabe? Eu sempre amei trabalhar na Avon e, assim, eu gosto da parte produtiva, eu acho lindo qualquer transformação de um produto lindo, acho lindo da parte da Avon, qualquer parte produtiva, eu acho lindo você pegar o bruto e sair do outro lado com um produto acabado, sei que têm muitas pessoas que têm restrição, têm muitas mulheres que tem vergonha de fazer isso e, não o tanto dos homens, mas as mulheres. Quando eu fazia cursos eu era a única mulher, todos os cursos que eu ia da parte produtiva que a Avon fornecia, inclusive, só tinha eu de mulher, só tinha homem e as pessoas se admiravam: “Como? Por quê?” Eu não via porquê? Eu acho que se eu estava ocupando aquela função, alguém teve confiança ou eu demonstrei, de alguma forma, que tinha a capacidade de exercer. Eu nunca tive problema em nenhuma das atividades que tive, nenhuma. Quando você gosta, você faz desinteressadamente e, se você faz o que gosta desinteressadamente, tendo vaga, é, eu acho que é natural. Eu sempre amei o que fiz.
P/1 -
Em que ano você começou a trabalhar na Avon?
R – Em 1966.
P/1 – E foi uma indicação de uma amiga sua?
R – Isso, era na João Dias, que era a fábrica que a gente chamava Fábrica Avon, era na João Dias, muito pequena, depois, passamos pra Jurubatuba que é a potência de hoje.
P/1 – Você conhecia a Avon antes disso?
R – Não.
P/1 – Qual foi a primeira impressão que você teve quando chegou lá,?
R – Uma dor de cabeça tremenda, eu sou alérgica a perfume (riso). Eu passei quinze dias que eu mal abria os olhos, mas, depois, o corpo, meu organismo foi se acostumando e passou. Então, a primeira impressão, eu queria sair voando de lá, realmente, eu não queria ficar por causa da dor de cabeça, não pelo serviço, que eu gosto de mexer com as coisas, não sou de ficar parada, acho que por isso que eu me adaptei bem nova na parte de produção.
P/1 – Na João Dias, quais foram os cargos que você exerceu?
R – Lá, só mão de obra direta.
P/1 – E quando mudou pra Interlagos?
R – Não, de mão de obra direta eu passei pra inspetora, na João Dias, quando foi pra, porque de 1966, 1970 foi que nós começamos em Jurubatuba, eu já era inspetora.
P/2 – Como foi essa mudança da João Dias? Porque era pequena e, chegou em Interlagos?
R – Era pequena. Nossa, lá, era enorme.
P/2 – Como foi essa mudança pra produção?
R – Ah, foi muito gostoso, porque era tudo limpo, tudo melhor, tudo mais organizado. Na João Dias era como se fosse um vagão, ela era estreita e muito comprida, então, ficava dividida a parte, tinha uma parte de embalagem, depois, vinha a parte do processamento e controle de qualidade em frente, depois, na outra parte, uma outra parte de embalagem, então, era um corredor, e, quando você chega na Avon da Jurubatuba era num único espaço, tudo arrumadinho, tudo dividido, o que era pós, cremes, loções, líquidos, era tudo arrumadinho, a linha de batons, que na João Dias era uma salinha um pouco maior que essa pequena, então, era tudo muito manual, tudo manual, né? E na Avon da Jurubatuba já era maior, com outros equipamentos, então, era tudo muito gostoso, era vazio, pelo tamanho em relação a João Dias, né? Mas, depois, hoje, ela é pequena, graças a Deus que ela é pequena.
P/1 – Então, vocês saíram da João Dias e foram pra Interlagos, em Interlagos você já estava como inspetora, você pode falar um pouquinho pra gente dessa sua trajetória? Porque você chegou, lá, e foi uma mudança geral, pra todo mundo, né? Como foi pra Avon mudar?
R – Ah, eu acho que uma grande conquista, né? Primeiro, saiu de um terreno pequeno, mal distribuído, realmente, não tinha, atendeu as primeiras necessidades, mas, já não era mais possível se trabalhar ali. Então, eu acredito que foi muito bom para a Avon, foi uma grande conquista esse terreno, essa construção, ela era enorme, muito bem equipada, foi muito bom e uma satisfação, eu creio que pra todos os funcionários de todas as áreas, porque quando foi pra lá, quando foram, em todas as áreas, era tudo bonitinho, tudo limpinho, tudo novo. É a mesma coisa que nós quando estamos morando numa casa velha, de repente, você ganha uma casa maior, nova, espaçosa, então, você se sente, assim, sente aquela satisfação de estar num lugar maior, melhor, mais bem preparado.
P/1 – Foi uma melhora geral?
R – Foi uma melhora pra todos.
P/1 – Você já falou um pouquinho da sua trajetória e, essa questão de ser a primeira mulher, você acha que foi um desafio pra você?
R – Não.
P/1 – Pra você, não?
R – Não, eu nunca me preocupei de estar fazendo por ser mulher ou não ser mulher, competir com esse ou com aquele, eu sempre fiz porque gostava do que eu fazia, como eu comentei, se você faz, faz bem feito e alguém reconhece, e, tem vaga. Mas creio que foi uma abertura, porque a Avon começou a se preocupar, que a Avon que produzia mais pra mulher, porque agora o homem também está usando tantos produtos de beleza quanto a mulher, né? Mas, antes, era só pra mulher, 90%, então, uma Avon, uma firma que se preocupava mais com produtos pra embelezamento da mulher é natural que se preocupasse mais com mulheres dentro da própria empresa e, recentemente, eu estive na visita dos aposentados que teve, também, por comemoração dos 50 anos, eu vi o quanto tem de mulher, tem muito mais mulher do que no meu tempo, muito, muito mais mulher do que no meu tempo, é uma conquista pra mulher, mas é uma oportunidade que a empresa que trabalha pra mulheres, nada melhor do que valorizar dentro, também, da própria empresa, não só fora, né? Tem muita mulher mesmo.
P/1 – Quais foram os desafios que você enfrentou na Avon?
R – É, foram muitos, foram muitos, teve, em termos de trabalho, do meu trabalho, eu já comentei que eu não tive, sempre quis fazer aprendendo mais, eu nunca me contentava de estar fazendo, aprendia, e ficar ali, eu queria sempre aprender um pouco mais, não, como volto a falar, não almejando este ou aquele outro cargo, porque eu tinha a necessidade de saber e agradeço as pessoas que me proporcionaram essa oportunidade de aprender. Nós tivemos como, eu já estava como supervisora de embalagem, não, eu estava, ainda, como inspetora de embalagem quando nós tivemos uma super venda e tivemos que admitir pessoas sem experiência nenhuma, nenhuma, nenhuma. Então, foi uma fase muito difícil, porque, de repente, de 30 passou pra 700, mais ou menos, assim, então, você tinha que intercalar as pessoas que tinham experiência com as que não tinham experiência pra dar a mesma qualidade, pro produto sair com a mesma qualidade que saía antes, foi dificílimo, foi dificílimo, foi a época, assim, foi na época que eu estava fazendo faculdade, então, conciliar o trabalho com a faculdade foi muito, muito difícil, porque era sábado e domingo, tínhamos que trabalhar sábado e domingo, então, não foi fácil, foi muito, muito difícil. Passou essa época, a Avon é sempre de altos e baixos, um dia vende muito, uma campanha vende muito, uma outra normaliza, uma outra cai, a outra sobe, então, é sempre muito de altos e baixos, entre um e outro baixos, aí, já numa época muito difícil aonde tivemos que dispensar muitas pessoas, foi o oposto, aí, eu estava como supervisora, é muito triste, é difícil você admitir, assim, sem experiência, mas é muito mais difícil você demitir a pessoa, então, não foi fácil.
P/2 – Neuza, fala um pouquinho pra gente, como era o trabalho na linha de produção e como era inspecionar esse trabalho?
R – O trabalho de linha de produção é um trabalho mecânico, né? Como eu posso dar um exemplo pra você? Tem o equipamento que vai fazer o envase, dependendo do produto você pode ter um cartucho, hoje, têm máquinas pra colocar, mas, antigamente, era manual. Então, você armava esse cartucho, colocava o frasco, fechava, então, tudo são etapas, mas tudo manual, então, tinha que tampar, a máquina envasava, você tinha que fechar, colocar a tampa, apertar, colocar dentro um cartucho, embalar, fechar e colocar nas caixas por separação, isso aí é linha, falando grosseiramente, né? Então, eu fazia esse serviço ou eu armava cartucho, ou eu colocava a tampa, ou eu rotulava, que tinha uma outra máquina pra você rotular o frasco, dependendo do produto, esse é um serviço mecânico, é repetitivo, hoje, você está colocando tampa, tinha que fazer esse rodízio, porque existe o cansaço, existe o tipo de movimento que você, também, tem que se preocupar com isso. Então, um dia você estava colocando tampa, outro dia você estava armando o cartucho, outro dia você estava fechando o cartucho, outro dia você estava guardando e assim por diante. Eu falei, aqui, um que é um pouquinho mais completo que é esse de cartucho, tem o batom, o batom seria uma unidade, um tacho quente - eu vou falar tudo muito grosseiramente - um tacho quente onde derretia o batom, envasava em moldes, punha pra gelar, tirava, guardava as balas, depois, numa outra linha manual você colocava dentro da base, que é um tipo de mecanismo, flama pra dar o brilho e tira as imperfeições do batom, tampa, embala o cartuchinho e guarda, é isso, esse era o serviço que eu comecei fazendo. E, a inspetora de linha, ela tinha uma responsabilidade um pouquinho maior, ela vai pegar o que é a ordem de produção, o que tem que ser produzido naquele dia daquele produto, qual o nome do produto, cor, perfume, o que é que você vai fazer, qual é o ingrediente que você vai colocar, se é um frasco, um perfume, por exemplo, ela tem que conferir códigos, ela tinha que conferir o material, ela tinha que atribuir tarefas pras pessoas que eram da mão-de-obra direta, quem vai colocar a tampa, quem vai colocar o cartucho, quem vai rotular, quem vai fazer isso, então, dar essa tarefa pras pessoas de linha, responsável pela produção, o quanto produziu pela eficiência, que você tem que ver o, existe uma velocidade pra trabalhar, a eficiência da linha, isso é da inspetora, a responsabilidade de treinar as pessoas nos equipamentos, nos ensinos, a qualidade, então, essa inspetora de linha que era a responsável. A supervisão era responsável diretamente pela inspetora e indiretamente pela mão-de-obra direta, mas era a responsável pelo que está produzindo, se atendeu a necessidade, se havia uma emergência de um outro produto, de ir pedir pra que parassem, colocasse, desse a ordem pra inspetora acompanhar e treinar essa inspetora de linha a verificar o andamento, o funcionamento, o ambiente, se um equipamento quebrasse, desse um problema, a supervisão é que teria que verificar junto com a parte mecânica o que fazer, então, aí, vem a admissão, a demissão de pessoal, tanto de mão-de-obra direta como indireta, que seriam as inspetoras, também, responsabilidade da supervisão. Como coordenadora era responsável pelos supervisores, esse cargo foi muito pouco, porque não tinha hábito de ter coordenação, não tinha, era um degrau pra gerência, então, praticamente, era o mesmo serviço da gerência, que era responsável pela supervisão, que era responsável pelo planejamento de pessoal, pelo planejamento dos supervisores, pelo andamento de como que estava, de maneira geral, é gerenciar a área produtiva sempre fazendo com que tudo que a embalagem necessitasse, estivesse ali, disposta, hora extra, tudo, teria que verificar a partir da gerência, supervisão, aí, vai diminuindo o número de pessoas e vai aumentando a responsabilidade do que fazer.
P/2 – Desses cargos, quem é que se relacionava diretamente com o pessoal da qualidade? Como era essa relação?
R – O controle de qualidade? O controle de qualidade era diretamente da inspetora de linha.
P/2 – E como é?
R - O controle de qualidade, ele faz, ele pega algumas amostras pra verificar como está o produto, né? Ele faz por amostragem e ele tem que estar de acordo com as normas, existia uma tabela, eu não sei como é feito hoje, mas existia uma tabela aonde o controle de qualidade conferia todos os dados do produto que estava sendo usado e dava uma nota, se o produto estivesse em perfeitas condições ela ia por um tracinho, porque existe hora, como se fosse um relógio de, como que é? Como chamam esses guardas que tem um horário pra passar? Então, tinha um horário e o controle de qualidade passava naqueles horários, então, ele ia pondo tracinho em todos os ítens,
se não estava muito apertado, se a embalagem estava boa, se não tinha um defeito e, dentro desses defeitos, tem, assim, defeitos que você pode mandar o produto, mas alertar pra que seja corrigido, um toque, um aperto um pouquinho mais forte, então, era o tracinho, estava tudo em ordem, o número um tinha alguma coisa pra ser verificado, o número dois era uma coisa um pouquinho mais grave e o três era rejeição. O que é rejeição? Aquele lote não podia ir pra venda, então, você tem que verificar o que está acontecendo e revisar todo aquele lote. Então, o número um e o número dois você tinha que tomar uma ação aonde estava ocorrendo e, o número três, aquele lote não pode ser vendido, então, você tinha que parar e ver como você ia fazer, mas todo aquele lote tinha que ser revisado, depois que era revisado o controle de qualidade ia e inspecionava novamente, liberou, liberou, se rejeitou outra vez passava por nova análise. Então, esse contato seria com o inspetor de linha direto e, às vezes, havia critérios, tinha muito de empatia, também, né? Como em todo lugar tem, às vezes, tinham pessoas que não tinham muita empatia com o controle e vice-versa, assim, podia contar que, ali, tinha problema e era muito subjetivo, às vezes, de você, quando era gritante sabia que, realmente, tinha que revisar, você revisava, ele ia, rejeitava, você ia, rejeitava, então, chegava uma hora que você falava: “Não dá mais”. Aí, passava pro supervisor, fala: “Olha, já fiz, refiz”. Passa pro supervisor, mas era mais raro, era mais raro, mas, não que não acontecesse, né? Acontecia. Então, é a inspetora que tem mais ligação com, e não quer dizer que a quem ele era simpático ele liberava os produtos com rejeição, não, só que era mais fácil o diálogo, porque, às vezes, era tão, assim, uma pintinha, aqui, vai, duas pintinhas que não vai, mas você não conseguia, ninguém conseguia imaginar essa uma pintinha ou duas pintinhas, mas quando era preto no branco, que você conseguia ver, era fácil de ver, senão... Mas era uma área um pouco mais, tinha um pouco mais de atrito, mas sempre muito bem controlado, também. Tinha grandes problemas. E teve um outro momento, também, muito difícil, muito difícil! Quando houve uma greve na Avon, eu acho que desses vinte e seis anos não teve coisa pior que essa greve, tudo que os sindicalistas exigiam a Avon já tinha, então, foi muito, parou, acho que uma semana pra duas semanas, acho que uns dez dias e, nós temos produtos que chama-se (hold?), um produto que passa pela área de microbiologia que não pode ter, tem que ter aquele período de quarentena, então, você imagina? A Avon depende disso todo dia, se ficar uma semana, duas semanas, foi uma época muito difícil, principalmente, pra nós na parte de produção, foi terrível, terrível! Não teve coisa pior.
P/1 – Mas teve um motivo pra essa greve?
R – Eles queriam parar a Avon, esse era o objetivo. Não, eles não tinham um objetivo para parar, eu acho que foi aquele auge de greve pra tudo quanto era canto e, a Avon atendia as necessidades, mas do que o próprio sindicato pedia, o objetivo deles era simplesmente parar a Avon, porque a Avon era uma potência, pra eles parando a Avon eles tinham força pra qualquer outro lugar e, aí, foi isso, o objetivo deles foi isso, simplesmente, político, quem perdeu? Todos nós, não teve quem não perdeu.
P/1 – Mas teve como passar por essa greve, vocês conseguiram trabalhar ou parou mesmo?
R – Não, parou mesmo.
P/1 – Ficou parada?
R – Parada. Depois, nós conseguimos entrar, porque eles faziam muita pressão, era uma, vai furar pneu, vamos fazer isso, vai acontecer aquilo, vai quebrar, vai bater, então, as pessoas tinham medo, então, não entravam. Alguns funcionários aderiram a greve, mas a grande maioria, não, mesmo aqueles que aderiram foram iludidos, não foram, eram bons funcionários, eram pessoas que conheciam a Avon, mas é aquela ilusão de achar que vão fazer uma coisa melhor, então, foi péssimo.
P/1 – Tiveram funcionários seus que aderiram a greve?
R – Teve, teve, tiveram pessoas que mais foram ajudadas, e, foi uma das pessoas que mais contribuiu com a greve, então, porque como eu falei que eu saí de mão-de-obra direta, a Avon sempre se preocupou, também, de dar, proporcionar uma função melhor pras pessoas, porque já que está lá dentro, têm pessoas que estudam, hoje, têm muito mais pessoas que estudam do que na época, então, quando tinha uma vaga na parte administrativa se fazia uma seleção, fazia a seleção e aquele que passava na seleção era aproveitado internamente. Eu lembro de uma moça que teve um problema, ela caiu na casa dela e fraturou as duas mãos e ela trabalhava na embalagem, e pra trabalhar na embalagem o movimento é essencial, ela passou por fisioterapia, passou por tudo, mas você, também, nunca sabe o que dói, você está falando pra mim que a sua mão está doendo eu tenho que acreditar, você é que está sentindo a dor, não sou eu, né? Então, essa menina, ela estava fazendo o colegial e ela não queria mais trabalhar na embalagem, ela queria ir pra parte administrativa e tinha todo o direito de querer, também, mas, aí, ela fraturou a mão, só que ainda, ela não, ela tinha feito testes e não tinha passado pro escritório, em todo lugar que a colocava ela tinha problema: “Ah, não posso fechar o cartucho, não posso fazer isso, não posso fazer aquilo”. Então, nós perguntamos: “Aonde você quer ficar?” Porque não era dada essa liberdade: “O que você quer fazer?” Você tem uma linha de embalagem, como eu falei, que você tem que ter alguns movimentos, você tem que fazer o rodízio das pessoas, então, ela teve a oportunidade de escolher o que ela queria fazer, até que conseguisse uma vaga no escritório, se fosse isso, né? Aí, ela escolheu, ela ficou na linha do batom, porque ela pediu pra que ficasse lá, depois, ela cansou, ela pediu pra sair, fazer outro serviço. Então, o que ela queria fazer, foi a única das pessoas que eu me lembre, pelo menos que eu tenho a lembrança, que escolheu aonde que ela quis ficar e, quando teve a greve, ela aderiu, assim, de cabeça, mas por quê? Ela queria ir pra parte administrativa, só que na parte administrativa, os testes que ela fazia outras tinham ido melhor do que ela, mesmo da embalagem, então, ela foi, assim, porque ela não estava gostando do que estava fazendo, então, ela entrou de cabeça, por isso que eu digo, foi uma das pessoas que mais foi ajudada e foi a que mais entrou de cabeça, vamos dizer assim. Depois, ela viu que não, continuou trabalhando, continuou na embalagem, porque ela não passava nos testes, então, ela tinha a impressão que ela não passava no teste porque nós bloqueávamos a saída dela, e não era verdade. Então, esses momentos foram momentos difíceis. Depois, quando houve um outro momento difícil, que eu falei, foi quando nós tivemos que despedir muitas pessoas.
[Interrupção para troca de fita]
P/1 – Vamos retomar, Neuza, pode continuar, fique a vontade.
R – Eu ia falar da época que, eu acho que foi próximo de 1987, 1985, 1987, eu não lembro bem o ano, nós tivemos um problema muito sério por causa de inflação, de venda, e, nós tivemos que dispensar muitas pessoas, então, tinha o pedido pra aquelas pessoas que queriam sair voluntariamente, né? Mas chega um momento que não tem mais voluntariamente, então, você tem que opinar, tem que decidir e, quando você chega nesse ponto, nenhum daqueles funcionários que estão ali, você quer dispensar, então, você tem que começar a escolher, é casado, tem filhos, tem marido, tem pai, você começa a entrar na parte pessoal e quando você começa na parte pessoal isso machuca, é muito, muito difícil. Então, nesse tempo, vinte e seis anos de Avon, não teve nada pior, porque você tinha que decidir pela vida de uma pessoa. Como que estava, como não estava. Então, hoje, eu tenho os dois filhos, lá, na Avon, às vezes, eles comentam, eu falei: “Olha, é difícil você admitir que você tem, também, que fazer uma seleção, automaticamente, você está dizendo sim pra um e não pro outro, mas isso faz parte da vida e a pessoa está ali, fazendo essa entrevista, ela sabe, mas quando você chega pra dispensar no nível que todos são bons funcionários, e que você tem que decidir por ele, é muito difícil”. Então, eu espero que a Avon nunca mais, não só a Avon, em firma nenhuma, passe por essa situação, é muito difícil. Quando teve, também, momentos muito, assim, muito marcante, muito interessante, até, foi quando começou a trabalhar homens na linha de embalagem, eu falei pra vocês que eu nunca vejo, realmente, esse problema, aí, homem faz isso, mulher tem que fazer aquilo, não, mas por legislação a mulher não podia trabalhar de madrugada, não podia trabalhar no terceiro turno, hoje, eu não sei como está, porque está tudo tão igual, eu não sei como está, mas a mulher não podia trabalhar. E a Avon teve a necessidade, primeiro, por mandar todo mundo embora e depois tinha que produzir, então, nós tivemos que começar a colocar, introduzir homens no terceiro turno, no segundo turno, primeiro, depois, pro terceiro turno, foi difícil, (riso) porque homem já não aceita fazer esse tipo de serviço, não, agora tem muitos homens na linha de embalagem, tanto no primeiro, no segundo e no terceiro turno, mas, na época, não tinha. Então, eles já se sentiam meio inferiorizados, eles não se sentiam bem fazendo o serviço, porque era estritamente de mulher e os homens que trabalhavam, lá, eram mecânicos, outros ajudantes de linha, abastecedores, que era só homem, né? Então, aqueles que estavam começando, e, era muito engraçado, porque você tinha alguns que se adaptavam bem em fechar o cartucho, tinham outros que tinham aquela mão grosseira ,que não tinha aquela destreza, é terrível. (riso) Foi terrível, mas, ao mesmo tempo, foi prazeroso, porque, ao mesmo tempo, difícil, foi um outro estágio, né? Foi totalmente diferente, depois que você passa por dispensar todo mundo, que você tem que admitir, até, homem na linha de embalagem, então, foi uma loucura, mas foi muito bom, porque, hoje, está aí, os homens trabalhando, homens e mulheres trabalhando na linha de embalagem e, sem esse receio, o importante é você estar trabalhando honestamente, tendo o seu dinheiro e podendo sustentar a sua família honestamente, né? Então, mas é, essa época foi muito engraçada. Teve época que nós tínhamos que trabalhar, assim, eu sabia a hora que eu saía, mas eu não sabia a hora que eu chegava e nessa, principalmente, nessa época, foi engraçado, eu estava explicando, eu já era, eu acho que eu estava como gerente de embalagem e explicando pra um dos homens da madrugada como fazia pra trabalhar ali, e, eles estavam com bastante dificuldade, então, eu fiquei bastante tempo com eles, aí fui pra casa e quando eu voltei a trabalhar eu passei por eles e eu ouvi uma conversa, assim: “Não, foi sim, ela mudou de roupa”. (riso) Que eu fiquei, mais ou menos, até, quase duas horas da manhã, às seis horas eu já estava de volta, (riso) então, eu acho que alguém comentou: “Ela não foi pra casa”. (riso) O outro falou: “Não, foi sim, ela trocou de roupa”. (riso) Eu olhei pra trás eles. (riso) Eu achei muito engraçado isso, porque você faz as coisas e você acha que não percebem, mas eles estavam percebendo que você estava ficando o tempo que tinha que ficar e isso, eu nunca fiz o meu horário de trabalho, nunca, eu brigo com os meus filhos hoje, que eu não suporto atraso, não suporto! Eu estava, até, preocupada de chegar aqui, hoje, falei: “Ai meu Deus, eu vou pegar trânsito, eu tenho que saber aonde é. Eu vou chegar atrasada, eu não gosto”. E, raramente, me atrasei no meu serviço durante os vinte e seis anos de trabalho, mas pra sair eu não tinha hora, então, enquanto, realmente, estava precisando eu estava lá, e eu acredito que isso tenha ajudado, principalmente, nessa época, porque se mulher não podia passar do horário eu ficava, pra mim eu não estava contra a lei, eu estava fazendo o meu serviço e estava ensinando quem estava, as inspetoras, porque foi assim, não podia ter mulher, então, as inspetoras não podiam ir à noite e não tinham homens como inspetores, só tinha mulher, então, eu falei: “Mas alguém tem que ensinar o serviço”. Eles ficaram a parte a tarde, mas era muito pouco tempo pra muito homem, não dava, então, eu fiquei até mais tarde, porque eu sabia que eles precisavam, eu acho que isso, também, ajudou com que eles quebrassem um pouco aquele receio, a brincadeira que faziam com eles, porque se eles vinham cedo e estavam fazendo o serviço, eu também, estava no embalo, no horário deles, né? Então, isso foi um período muito cansativo por causa do volume de trabalho, mas foi muito divertido, porque você pegava cada uma de frente que era coisa de louco, (riso) era coisa de louco, (riso) na mesma atividade as mulheres, quando eu falei da dificuldade que tinham das mulheres, mas elas se adaptavam mais fácil, o homem tem menos destreza e você pegava, tinham aquelas pessoas rudes, mesmo, que devem ter sido servente e que não tinha necessidade de destreza, então, não conseguia fazer, era cômico você ver o pessoal trabalhando, mas foi uma fase vencida, hoje, eles têm condições de fazer a seleção e de se trabalhar com o pessoal, né? Daí, é muito gostoso ver, muito gostoso, muito bom. Acho que fui muito exigente no meu serviço, também, como eu era exigente comigo eu acho que eu passava, acho não, eu tenho certeza, passava essa exigência, como eu sempre quis aprender eu achava que todo mundo queria aprender, então, querendo ou não querendo tinha que aprender. (riso)
P/1 – Está certo, afinal de contas era a sua responsabilidade, né?
R – Era a minha responsabilidade.
P/1 – Neuza, você falou de vários desafios que você enfrentou. E as alegrias?
R – Alegrias, foram muitas, em vinte e seis anos só foi alegria, porque, senão, eu não teria ficado vinte e seis anos na firma, porque se você não tem alegria aonde você está trabalhando, se não te proporcionar esse bem estar você não fica, né? Como eu falei, alegria, primeiro, de gostar do que eu fazia, então, isso já é uma alegria que vem naturalmente, você está gostando, então, você passa muito mais tempo na firma com um trabalho do que em casa, então, você tem que encontrar um bom ambiente de trabalho, eu sempre tive um ótimo ambiente de trabalho, amigos, não colegas, realmente, amigos. [Pausa, entrevistada se emociona] Eu falei da alegria, né? Da alegria dos amigos, alegria do ambiente, alegria de realizações, porque como eu tive a oportunidade e a graça de terem me dado a oportunidade, então, eu cresci profissionalmente dentro da Avon. Eu tinha prestado um concurso no Banco Central e passei, no Banco Central, entre ir pro Banco Central e na Avon fiquei na Avon, então, eu acho que foi uma opção de quem gostava do que estava fazendo, senão, eu estaria no Banco Central até hoje, né? (riso) Provavelmente. E, teve os meus dois filhos trabalhando, o Amauri e o Daniel, lá, o Daniel foi um dos primeiros, quando inaugurou o berçário, foi um dos primeiros. Eu só tive alegria em termos, profissionalmente falando, de amizades que eu cultivo até hoje, embora, com o tempo você vai se desligando, naturalmente, vai tendo outras ocupações, mas são pessoas que a gente tem, às vezes, mantém contato, pessoas queridas e que na última vez que nós tivemos o encontro dos aposentados, inclusive, pude encontrar, rever, então, é difícil falar, resumir tanto as alegrias, porque, tinha dor de cabeça? Tinha, mas tinha a conquista, se você não tem um obstáculo você não tem conquista, porque você não vai ultrapassar nunca aquele obstáculo, se está tudo muito normal, tudo bem, fica enfadonho, então, tem que ter as dificuldades pra você valorizar, você passar por elas, né? Então, eu só tenho que agradecer, realmente, esse tempo que trabalhei na Avon, foram vinte e seis anos, era o momento para eu parar e os meus filhos, principalmente, o mais velho, o Amauri estava na adolescência e, a gente tem que dar um pouquinho mais de atenção pro filhos em toda época, sempre tive, foi uma benção, porque sempre foi a minha mãe que cuidou dos meus filhos, então, eu nunca tive tanto problema com meus filhos de deixar aqui, ou ali, né? Então, eu sempre tive a confiança de ter alguém que olhasse por eles, mas com a adolescência a avó não toma conta não, avó só deseduca, (riso) mas agradeço toda a atenção que minha mãe deu, porque foi benção sobre benção minha mãe ter olhado os meus filhos. E, quando eu parei em 1992, o Amauri estava na, nem sei quantos anos ele tinha, 13, 14 anos, ele é de 1979, 12 anos, né? Ele é de 1979, 13 anos. Então, ele estava numa idade meio difícil, então, precisou um pouco mais de acompanhamento e, agradeço a Deus os filhos que tenho, são dois filhos maravilhosos, não é por eu ser a mãe, mas são, realmente, dois filhos maravilhosos, tanto o Amauri quanto o Daniel, são dois rapazes, dois homens, hoje, responsáveis, carinhosos, atenciosos, como poucas pessoas, hoje, tenho o prazer de falar dos filhos, nunca me deram problema que não pudesse ser resolvido, foram coisas simples do crescimento, mas, graças a Deus, são dois homens de caráter, de bom caráter, então, isso, também, a Avon me proporcionou, porque se eu tive condições da minha mãe olhar, mas a Avon me proporcionou, também, esse sucesso, esse crescimento que, também, contribuiu pra eu dar uma boa formação, uma escolaridade pros meus filhos, um ambiente de casa, também, mais tranquilo, né? Sem dificuldades, dificuldades financeiras sempre tivemos e sempre teremos, por mais que, só o Ronaldinho é que não tem, (riso) mas eu não quero o do Ronaldinho, eu quero a minha dificuldade financeira mesmo. (riso) Então, a Avon só me proporcionou coisas boas, de ambiente de trabalho, oportunidade de trabalho, de conquista, de vitórias e lutas dentro da companhia, né? No almoxarifado, foi uma outra, a maior experiência, muito diferente do que eu tinha na embalagem, são áreas que tem, correlatas, uma depende da outra, por informações, por necessidade de trabalho são ligadas, então, toda a experiência que eu tive na embalagem me ajudou muito no almoxarifado, embora, foi muito diferente, também, tinha, assim, mais homens, pelo próprio tipo de serviço, mas ali, eu também coloquei mulheres trabalhando. Hoje, eu não sei como está, mas, também, passou a ter mulheres trabalhando no almoxarifado. E, eu não sei mais, o que eu poderia contar? O que poderia ser interessante? O que vocês gostariam de saber?
P/1 – O que você considera a sua principal realização na Avon?
R – Olha, talvez, nem a própria Avon saiba, mas a principal realização que eu senti na Avon foi como supervisora de embalagem, onde eu podia informar a mão-de-obra direta do que estava acontecendo. É a comunicação, é a orientação, porque como eu vivi a mão de obra direta, hoje, eu creio que seja diferente e eu espero que eles tenham aproveitado alguma coisa do que foi feito, foi, exatamente, nessa época que nós tivemos uma queda muito grande de atividade, nós demos informação à mão de obra direta, o que ela faz, porque não pode perder material, tanto faz, porque a gente chegava, assim: “Ah, caiu, quebrou, tanto faz”. Não é caiu, quebrou, tanto faz! Isso faz parte de um custo, então, esse tipo de informação, valorizar o que ela faz, quer dizer, não precisa valorizar ela, mas é só de você dar uma atenção, explicar o que está acontecendo, o porque que se faz, não é vai e faz, mas o porque que você deve fazer assim, o porque que você tem que sentar assim e não assim, o porque que aqui e não aqui, você tem que dar uma informação. Então, essa parte foi onde eu cresci, foi uma grande realização a parte de comunicação, embora, talvez, tenha passado por despercebida, mas eu me senti realizada nesse item, que eu consegui passar para aqueles que não sabiam nada, informação nenhuma, o porque que eles realizavam. O serviço deles não é mecânico, tem importância, e qual é a importância que eles têm? Então, eu não sei, eu creio que isso não se perdeu, porque eu acredito que eles conversam, que eles passam, eu espero, pelo menos, que continuem valorizando a pessoa por ser pessoa, a função não importa, se ela é mão de obra direta, se ela é um gerente, se ela é um presidente, ela tem o valor por pessoa, isso é importante, isso eu creio que eu, na minha época, consegui passar e creio que a Avon, também, e se conseguir passar, porque a Avon tem essa mentalidade, de valorizar a pessoa por ser pessoa, não é um número, porque, hoje, eu não sou mais funcionária da Avon, mas eu creio que muitas pessoas ainda lembram do que eu fiz, sei, porque tem algumas pessoas que ainda comentam, comentam com os meus filhos, né? Então, eu deixei algo, e, se eu deixei algo, foi positivo pra mim por uma realização, e, foi positivo, também, que creio que, de alguma forma, influenciou positivo ou negativo, ou fizeram porque aceitaram ou, também, de uma forma positiva, porque acharam que aquilo era horrível: “Vamos fazer ao contrário”. Então, eu nunca vejo isso como negativo, ou valeu a pena fazer, ou eu não vou fazer, porque não valeu a pena isso, não é o certo, de qualquer forma ficou algo, então, isso eu acho importante.
P/1 – Como era o relacionamento com os seus colegas de trabalho?
R – Sempre foi muito bom, tanto é que eu falei, que uma das coisas que eu mais gostei e admiro na Avon, que creio que, ainda é, é o ambiente de trabalho, você se relaciona com uma pessoa no trabalho nove, dez horas e, em casa, duas, três horas, quando muito, quem estuda, mal chega e vai dormir, então, você quase não se relaciona dentro de casa e, num emprego, pelo contrário, qualquer área de trabalho você vai se relacionar nove, dez, onze horas com uma pessoa, se você não tiver um bom relacionamento a tua vida vai ser um inferno. Agora, se você tiver um bom relacionamento as maiores e menores dificuldades vão ser passadas, assim, com cansaço, com aborrecimento, mas vai passar bem, porque você sabe que tem uma outra pessoa te animando: “Não, não, deixa lá, vamos sair, vamos tomar um café, vamos deixar isso pra depois”. Então, as pessoas, naturalmente, te ajudam e você, também, porque quando você tem uma outra pessoa que você vê que está sobrecarregada, nervosa, aconteceu o que for, você está ali pra dar um apoio, então, o ambiente de trabalho pra mim foi sempre excelente, sempre.
P/1 – Neuza, o que a Avon representava para os funcionários?
R – Como assim? Eu não entendi a pergunta.
P/1 – O que a Avon representava, você ia todos os dias trabalhar, né? Você falou que você teve muitas alegrias, teve muitas dificuldades, que a Avon tinha um posicionamento, que o funcionário era uma pessoa e não um número, qual era, assim, a representação, como os funcionários viam a empresa?
R – Eu não posso falar de maneira geral, todos, né? Mas eu acredito que a grande maioria sempre teve, também, esse mesmo sentimento de bom relacionamento, de bom ambiente, porque qualquer coisa era muito isolado, algum problema que tinha era muito isolado, então, se é uma coisa isolada a grande maioria, também, pensa desta forma. E, a Avon, sempre foi uma empresa, assim, que todos lutavam muito pra conseguir, queriam muito entrar na Avon, então, entrar na Avon era, assim: “Ela é uma ótima empresa, então, eu quero trabalhar na melhor empresa”. Então, sempre foi uma seleção mais difícil, uma dificuldade maior pra entrar e, eu creio que, até hoje, porque tem pessoas até hoje me pedindo pra entrar na Avon, e eu não tenho acesso, eu não tenho condições nem de indicar e nem de deixar de indicar, mas tem pessoas: “Ah, eu gostaria muito de trabalhar na Avon”. Então, eu acho que o de fora se deseja entrar na Avon é porque os de dentro passaram essa informação, então, se os de fora desejam entrar ou porque é uma firma de cosmético, não importa, quer entrar na Avon, é porque os de dentro, ainda hoje, se sentem bem e sempre gostaram de trabalhar na Avon.
P/1 – Agora, vinte seis anos de Avon?
R – Vinte e seis.
P/1 – Você pode contar pra gente algum caso engraçado que aconteceu e que você presenciou?
R – Engraçado? Ah, esse, talvez, tenha sido só comigo, como eu falei pra vocês, eu sempre fui muito exigente em termos, assim, de trabalho e tinha dias, assim, terrível, nessa época que as pessoas foram sem prática nenhuma e de 300 foi pra 700 ou coisa semelhante. Nós não tínhamos cadeira pra sentar, não dá pra se arrumar cadeira de um dia pro outro, então, de manhã, antes de começar era um tal de um pegar a cadeira e levar pra onde ia, independente, só, que tinham tarefas que ficavam em pé, então, uma cadeira sobrava, mas era uma briga pra sentar. Chegou uma menina, o nome dela era Custódia, ela veio do interior, ela trabalhava na lavoura, chegou em São Paulo de véspera, um parente dela falou e ela foi pra Avon, então, dá pra vocês entenderem que ela não sabia nada de nada, e, ela queria sentar, isso era por volta de umas quatro pra cinco horas da tarde, já, então, o dia tinha sido super cansativo, eu já estava cansada, nervosa, eu era inspetora de linha, ela falou, assim, pra mim: “Neuza, eu quero sentar”. Eu falei: “Custódia, se vira”. Ela se virou e sentou em cima da linha, (riso) todo mundo começou a rir, quando eu olho, a menina sentada em cima da linha, eu falei: “Meu Deus! O que você está fazendo aí?” “Você não mandou eu me virar, o único lugar que eu posso sentar é em cima da linha”. E ela podia cair, porque as tábuas eram removíveis, então, era só um suporte, primeiro ela ia despencar com tudo: “Levanta daí, já!” (riso) Eu não sabia se eu ria, se eu brigava, o que eu fazia com ela (riso). Falei: “Se vira!”. Ela estava certa, né? Ela se virou (riso). Eu não sabia o que fazer ali com ela. Mas eu não, assim, outras coisas, eu não estou recordada, essa foi uma, que eu não sabia o que fazer com a menina, (riso) mas, depois dessa eu não tenho, realmente, eu não. (riso)
P/1 – Vamos falar um pouquinho da família. Você é casada?
R – Casada.
P/1 – Qual é o nome do seu marido?
R – Antônio Carlos.
P/1 – Como você o conheceu?
R – Estudando. Eu o conheci quando eu fazia o supletivo e nós formamos uma, eu era a única mulher, outra vez (riso). Não, tinham duas: eu e a Clarice. Nós formamos um grupo muito gostoso, éramos em quinze pessoas, quinze amigos, eu, a Clarice e treze rapazes, então, nós tínhamos muita amizade, depois, parou, cada um foi, foi no colegial, o curso supletivo no colegial, aí, foram fazer faculdade, mas a amizade continuou, a gente sempre se encontrava. Só que, na época, pra entrar, pra fazer cursinho, muitos fizeram cursinho e tudo, então aí, ficou mais difícil de se encontrar, e no final do ano, eu liguei pra comprimentá-lo, né? Na passagem do ano, aí, ele, voltamos a conversar e começamos a namorar, mas nenhum dos treze teve qualquer relacionamento de namoro, sempre foi muita amizade, e depois que nos afastamos, é que comecei a namorar com ele, acho que foi em 1972, 1972? 1977 menos três, 1974, acho que foi por aí, (riso) que eu fiquei três anos de namoro, então, eu acho que 1973, 1974.
P/1 – E você tem dois filhos?
R – Dois filhos, o Amauri e o Daniel.
P/1 – Quer falar um pouquinho deles?
R – Eles são a minha riqueza, é tudo que eu mais amo, como eu já falei, são duas pessoas de caráter, são dois homens, mesmo, e que eu só tenho que me orgulhar, entraram na Avon, não por mim, entraram por conhecimentos. O Daniel pode ter sido através do Amauri, o Amauri já tem oito anos de Avon, o Daniel vai pra quatro anos, e, o Amauri é casado há três anos, dois anos e meio, o Daniel vias de, então, está encaminhado na vida, graças a Deus, só me deram alegria. O Daniel, quando eu falei que a gente trabalhava e não sabia a hora de sair, não sabia a hora de chegar, ele tinha por volta de uns quatro anos, ele falou pra mim, assim: “Oh mãe, a gente tinha que ter duas mães, né?” Eu falei: “Ué, teu pai não aguenta com uma, você quer duas?” Eu falei pra ele: (riso) “O que você quer? Duas mães?”. “Ah, uma pra ficar em casa e outra pra trabalhar”. Então, aí, eu senti o quanto que meus filhos sentiram esse período. O Amauri sempre dormia muito cedo e, nesse período, dos homens trabalhando, ele sempre dormiu cedo, por volta de oito horas ele já estava dormindo, e eu cheguei em casa por volta de meia noite e o Amauri acordado, eu falei: “O que houve?”. “Ah, eu estava com saudades”. Ele ficou uma semana sem me ver, eu o via, lógico, né? Mas ele não me via, porque ele dormia cedo. Então, essas coisas faz lembrar o quanto a Avon, também, tomou o meu tempo, né? Não que tomou, eu tinha horário, tinha liberdade de sair, eu não saía porque eu achava que não devia mesmo, mas, aí, eu vejo o quanto meus filhos, talvez isso hoje reflita na vida deles, creio que eles são bons profissionais, pelo o que eu já ouvi, pelo o que eles, também, fazem, né? São bons profissionais e eu creio que isso, mesmo eles não entendendo nada que estava acontecendo ali, refletiu na vida deles, não é? E eles, duas mães não vai ter nunca, né? (riso) Agora, também, não precisa mais, agora está pra casar não precisa da mãe, né? (riso) O outro já casou e, também, não precisa. (riso) Mas são períodos que pra mim ficaram marcantes, coisas que eles falaram e que pra mim ficou marcante, que eu vi, mas eu não me arrependo, não, eu acho que se eu tivesse que fazer, eu acho que eu faria tudo, tudo igual, acho que eu não mudaria, talvez, eu fosse um pouco mais maleável, porque disseram que eu fui muito brava (riso). Talvez, talvez, só, porque eu sei, se eu exijo de mim eu sei que eu acho que eu exigi muito também das pessoas, não que eu exigia além do que a pessoa podiam dar, nunca obriguei ninguém a fazer nada que não quisesse fazer, mas eu exigia dentro do trabalho, vida pessoal nunca interferiu, nunca, e também, tanto homem quanto mulher eu nunca tive problema, nem com homem nem com mulher, depende da tua postura, depende da tua conduta, né? As pessoas vão até onde você permite, se você não permitir ninguém vai te invadir, também era assim, foi o meu comportamento com as pessoas, e com os meus filhos não foi diferente. Eu brinco com eles, falo, os dois fazem o que eu tive vontade de fazer nova, eu gosto muito da parte de computação, se eu tivesse que passar de novo eu não teria feito química, com certeza eu teria feito matemática ou a área de processamento de dados, que era na época, né? Mas, ali sim era um clube do bolinha na época, não existia mulher, né? Achavam que mulher não podia participar, então, era muito mais difícil. É engraçado, porque eu fiz uma vez um, eu estava na João Dias, inclusive, fiz esses processos seletivos, como eu falei que a Avon sempre proporcionou, pra trabalhar no processamento de dados e eu não passei no psicotécnico, não é que eu não passei, teve um outro rapaz que trabalhou comigo e ele foi melhor no psicotécnico do que eu, então, a vaga foi dele, só, que ele nunca saiu daquilo que ele fez, eu falei: “Será, que eu também não teria saído? Será, que eu teria chegado?” Porque na embalagem eu cheguei a gerente. Será, que eu teria ficado só naquela conferência? Eu não creio, eu não creio que eu teria ficado só naquela conferência, eu não sei aonde que eu teria chegado ali, sim, talvez, por ser mulher eu teria mais dificuldade, (riso) não hoje, mas na época, né? Então, eu falei, os meus dois filhos, embora, eu nunca falei pra eles o que eles tinham que estudar, o que eles tinham que fazer, os dois fazem o que eu gostaria de fazer, ele fala: ”Ah, você, só porque eu estou na faculdade”. “Não, não era por vocês, vocês fazem mesmo”. Essa parte de processamento de dados eu amava, mas não tive QI pra entrar. (riso)
P/1 – O que você gosta de fazer nas suas horas de lazer?
R – Eu participo da minha comunidade, tenho atividade na igreja, porque pra mim isso não é lazer, isso é uma responsabilidade, isso eu amo tanto ou mais do que o que eu fazia na Avon. Então, eu acho que você tem que preencher o seu tempo, o meu tempo eu não consigo ficar parada, né? A minha mãe diz que a minha casa não cai na cabeça, (riso) coisa mais difícil que tem, tanto, você que ligou pra mim, não foi? (riso) Minha casa não cai na cabeça, é difícil me achar, então, eu estou sempre saindo, sempre fazendo alguma coisa, mas tenho mais voltado, mesmo, pra parte de ajuda na igreja.
P/1 – Como você vê o sistema da Avon de venda direta, de porta em porta? Qual é a importância que a Avon tem nesse processo?
R – Ela é pioneira, né? E foi muito importante, primeiro por ser a pioneira, e, você sabe que as pessoas que revendem Avon, revendem outras coisas, então, pra uma grande parte, principalmente, mulheres, ela deu um outro, como se dizer? Perspectiva de ganho, não é? De realização, porque mesmo sem saírem de casa, trabalhando, cuidando da família, cuidando das coisas, ela consegue ter o seu dinheiro, consegue manter, muitas conseguem manter, mesmo, uma família revendendo porta a porta, então, isso foi um grande passo, foi uma grande ajuda pro Brasil inteiro, porque é no Brasil todo que tem esse, estou falando no Brasil, né? Porque não é só no Brasil, eu estou falando mais no caso, mesmo, nosso, de quantas mulheres que não teriam condições de ter uma renda por não ter uma capacitação, por não ter escolaridade, por ter dificuldade de sair de casa, porque tem filhos, porque tem família, porque tem isso, e, consegue ter o seu trabalho, ter o seu dinheiro, consegue se sustentar, eu acho muito importante.
P/1 – Na sua visão, a Avon foi a responsável por colocar a mulher no mercado de trabalho?
R – Ah, sem dúvida, foi uma das razões, foram poucas as pessoas, principalmente, é difícil você falar agora, né? Hoje. Hoje, a mulher tem muitas portas abertas, mas na época, principalmente, que a Avon veio pra cá, não tinha, então, a mulher teve, sem saber que estava sendo inserida no campo de trabalho, ela começou a trabalhar sem perceber, ela começou aos poucos e, com isso, outras empresas imitaram, né? Tentaram copiar o sistema de porta a porta, começaram também a se utilizar das mesmas revendedoras.
P/1 – E o fato da Avon levar os produtos de beleza pra lugares tão distantes dentro do país?
R – É importante, não é? Quem não gosta de se arrumar, têm pessoas que são mais ou menos vaidosas, mas, quem não gosta? Seja ela homem ou seja ela mulher, mas, principalmente, a mulher, que já é nato na mulher essa vaidade, né? Então, elas estariam sendo privadas, principalmente, no Brasil que é tão grande e com tanta dificuldade de área de acesso, só barco, isso é muito difícil e a Avon está levando pra pessoa se sentir melhor, você pode passar, não importa se está bonito, importa que a pessoa se sinta bonita, ela pode estar todinha desfigurada na maquiagem, mas ela se sentiu linda, ela se sentiu bem, fez bem pra ela, então, não importa aonde, um cheirinho, um perfume. Embora, como eu já falei, eu sou alérgica, mas têm muitas alérgicas que usam, porque gostam de perfume, eu acho que é se sentir bem, fazer pra melhorar a auto-estima, né? Aonde quer que seja.
P/1 – Qual é a sua visão a respeito das ações sociais que a Avon realiza?
R – Isso é importante, eu participei uma vez, foi no início, quando a Avon fazia dois prêmios, né? O da parte de literatura e na parte social, eu estive visitando um asilo na Zona Leste, eu fui obrigada, obrigada entre aspas, né? Eu fui pela Avon, mas foi uma visita muito importante, você vê o quanto essas pessoas são carentes de atenção e, creio, que a Avon faça, continua fazendo isso em outras áreas. No Câncer de mama, um programa tão bonito, você compra um batom, está toda bonitinha e, ao mesmo tempo, você está ajudando, divulgando e incentivando a mulher, principalmente, com o cuidado da mulher, isso é muito importante e tem que ser divulgado cada vez mais, tem que ser incentivado cada vez mais.
P/1 – Pode continuar Neuza. As ações sociais da Avon.
R – É, que eu acho importantíssimo que se faça, não é? Principalmente, a valorização da mulher, a explicação, porque, por incrível que pareça, nós ainda temos muitas mulheres com câncer de mama por falta de informação. A gente fala em ignorância, dá a impressão, não é no sentido de ignorância pejorativa, não, é falta de informação, e sempre acha que: “Não acontece comigo, só acontece com os outros”. Então, quanto mais se divulgar, quanto mais se fizer. E não é só nessa área, não. A Avon tem outras áreas, também, sociais, porque todas as áreas sociais são importantes. A gente não pode esperar só que o governo faça, nós e as empresas, também, tem que fazer a parte dela, né?
P/1 – Como você vê a atuação da Avon no Brasil?
R – Você quer que eu veja como funcionária, ex-funcionária, aposentada? (riso)
P /1 – Como você quiser.
R – É muito importante, é uma firma organizada, bem administrada, de sucesso, que emprega tantas pessoas direta e indiretamente. Se tivessem mil Avons no Brasil, que nós estamos precisando desse tipo, nós temos um mercado de trabalho informal aí, ganhando, não é? Nós teríamos que começar a voltar a ter mais pessoas com carteira assinada, com pessoas com mais dignidade de trabalho. E a Avon proporciona isso. Então, que tivessem muitas Avons, a responsabilidade com o funcionário, a responsabilidade com o social, então, que tivessem muitas Avons no Brasil, seria uma benção.
P/1 – Qual é o fato mais marcante que você presenciou ao longo desses seus anos na Avon?
R – Primeiro, o próprio crescimento da Avon, né? Isso é uma coisa marcante, a Avon era tão pequenininha e cresceu tanto, não é? Nós chegamos, chegou uma época onde falavam que a Avon Jurubatuba era um elefante branco, hoje, eu digo que ela é uma mosca, ela tende a crescer muito mais. E que ela se torne, sim, um elefante, mas não branco, mas enorme, que ela possa crescer, possa ter esse mercado de trabalho, um mercado, a marca conhecida pela qualidade que ela tem. No meu ver a Avon divulga muitos produtos e as pessoas não conhecem a qualidade do produto da Avon, se conhecessem a qualidade do produto da Avon não teria concorrente, a qualidade é excepcional, não teria concorrente.
P/1 – Na sua opinião qual é a importância da Avon para a história dos cosméticos?
R – Ah, acabei de falar (riso). Primeiro, você levar, dar a oportunidade das pessoas ficarem bonitas aonde elas estejam, não é? É animar, dar um tchan mais pra quem quer que seja, qualquer nível, qualquer categoria, qualquer idade, né? E outro, é a qualidade que a Avon sempre prezou, sempre. Uma qualidade condicional e incondicional. Essa qualidade incondicional as pessoas não conhecem, nós estamos muito acostumados a comparar as coisas, um ano de garantia, dois anos de garantia, três anos de garantia, mas é a tua satisfação que a Avon vende, que proporciona, a qualidade incondicional, você tem que estar sempre bem servida, bem atendida. E os produtos são excepcionais, são ótimos, é de ótima qualidade, não só o serviço, mas o produto em si é de ótima qualidade. É, acho que foi daí que as outras começaram a tender, creio que outros, ex-funcionários que se tornaram concorrentes, pessoas que foram crescendo. Também, deu a oportunidade de um outro crescimento, abriu as portas pros outros também, e isso faz bem pro Brasil, né? É emprego pra mais pessoas e, mais pessoas bonitas usando Avon. (riso)
P/1 – Neuza, o que você acha da Avon estar resgatando a sua história através desse projeto?
R – Acho isso muito importante, não por eu estar aqui falando. Não, porque o brasileiro não tem muito de resgatar o passado, a história, é muito imediatista, esquece das coisas com muita facilidade, eu mesma, por mais que vocês perguntaram, também tive dificuldade de falar algumas coisas, né? Embora, é muito, vinte e seis anos passa rápido, mas tem muita história e, mesmo assim, eu acabei não relatando. Eu acho importante, porque cada um vai lembrar de um fator e de uma época, então, é uma palavrinha de um, é uma palavrinha do outro, que vai resgatar o que é a Avon desde 1959, me parece, né? Então, vai resgatar isso. Eu acho importante pra valorizar a empresa e para que aqueles que estão trabalhando, possam ver o que a empresa fez pra que essas pessoas que passaram, vocês disseram que foi em torno de cinquenta pessoas escolhidas, mais ou menos, quantos milhares de pessoas já fizeram parte da Avon, foram muitas, quantos que tiveram sucesso, quantos momentos bons foi proporcionado a milhares de pessoas. Então, que essas pessoas, esses funcionários que vão ter acesso a essas informações um dia, vão fazer parte, também, da história, vão dar continuidade, não pode parar, porque se parar, a Avon parou, e a Avon não pode parar. Então, eu acho, assim, um projeto muito importante. Muito importante, não por eu ter sido chamada e, estou muito grata por ter sido lembrada, mas porque eu sei que é um pouquinho de cada um, como foi, é uma gota d’água de cada um pra contar a história de cinquenta anos, que não se resume em cinquenta pessoas, se resume em milhares de pessoas que já passaram por nós, que fizeram muito. Como eu já comentei no intervalo, não fazem mais parte do dia a dia nosso, infelizmente, mas tiveram a sua missão, tiveram o seu tempo de construir também essa história, que eles, também, serão relembrados, de certa forma, de um ou outro comentando a maravilha que foi trabalhar com essas pessoas. É isso.
P/1 – O que você achou de ter participado desse processo, dessa entrevista?
R – Primeiro, curioso, embora eu não sou muito curiosa, né? Eu tenho a curiosidade, pergunto, respondem, se não responde, eu também não vou perguntar mais, mas eu achei interessante, porque eu não sei o critério que tiveram pra escolher cinquenta pessoas, creio que são as cinquenta mais antigas, isso sim, estiveram mais no início da história da Avon, mas eu achei interessante, achei gostoso, e estar aqui com vocês foi ótimo.
P/1 – Que bom.
R – Eu quero agradecer a oportunidade de estar aqui, de terem me escolhido, porque, de certa forma, eu como essas milhares de pessoas fazemos parte da história da Avon e, entre milhares de pessoas, ter sido uma das escolhidas. Eu agradeço a quem fez essa escolha, agradeço por ainda poder estar contribuindo, de certa forma, com alguma coisa com a Avon que, de certa forma, também, posso estar passando pra outros que estejam ou que estão trabalhando na Avon, que sintam e reconheçam que a Avon foi, é, e creio que sempre será uma firma que se responsabiliza pela parte humana de não ser número, de não ser um registro, e ser um indivíduo de corpo, alma presente no trabalho, que com as suas características tem sucessos, insucessos, tem os seus problemas, tem as suas alegrias e, que os jovens, esses que ainda fazem, que estão atuando, também, vão fazer parte, embora: “Nossa! Cinquenta anos”. No dia que tiver o centenário da Avon eles estarão no meu lugar fazendo (riso) a entrevista, que todos eles possam se entregar, trabalhar com amor, fazer o que gostam e, fazer da melhor forma possível, com uma competição sim, sadia, sem puxar tapete de ninguém, porque não é esse o espírito da Avon, se tem ou não tem, tire o tapete debaixo dos pés (riso). Agradeço, realmente, a oportunidade de estar aqui, e que as pessoas possam saber que a Avon sempre valorizou e sempre estará valorizando a pessoa humana. Muito obrigada.
P/1 – Então, Neuza, em nome da Avon e do Museu da Pessoa, nós agradecemos a sua entrevista.
R – Muito obrigada.
[Final da entrevista]Recolher