IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Geraldo. Eu nasci em três de setembro de 1957, em Curvelo, uma cidade de Minas Gerais. ATIVIDADE ATUAL Hoje eu sou líder do setor de Malote. Vou explicar rapidamente para vocês terem a noção do que é: todos os pedidos da gerência de setores, têm em m...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Geraldo. Eu nasci em três de setembro de 1957, em Curvelo, uma cidade de Minas Gerais.
ATIVIDADE ATUAL Hoje eu sou líder do setor de Malote. Vou explicar rapidamente para vocês terem a noção do que é: todos os pedidos da gerência de setores, têm em média duas mil revendedoras por setor. Eu sou responsável por retirar esses pedidos nas residências delas e levar até o local de coleta, onde esses pedidos vão ser escaneados e onde vai gerar o picklist e a nota fiscal para separar os produtos. Em torno de 70, 80 mil por dia.
FAMÍLIA O meu pai, Marcílio é aposentado, ele tinha uma fábrica de beneficiamento de arroz. Minha mãe, Maria José, é doméstica. Somos eu e mais dez, somos 11. São sete mulheres e quatro homens. Família grande.
INFÂNCIA Eu nasci em Curvelo, em Minas, onde morei até os 12 anos. Aos 12 anos vim para São Paulo, onde estamos até hoje. Até gosto de falar, porque apesar de uma infância humilde, eu tinha todo o conforto de uma família. Uma casa enorme, apesar de ser uma casa tipo da roça, mas praticamente no centro da cidade. Por ser uma família grande, minha casa estava sempre cheia. Sempre tinha festas e bastante amigos. Tive uma infância saudável, muito boa, que hoje, infelizmente, nós não podemos estar patrocinando para os nossos filhos, porque envolve tudo: segurança, espaço. Nós não temos mais isso. Então eu não posso reclamar da minha infância, não.
Era uma cidade pequena, e praticamente todo mundo conhecia todo mundo. Eu tinha bastante amigos, com quem eu jogava bola, ia para o rio nadar, pescar. Então foi uma infância maravilhosa.
BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA Apesar de eu não ser lá grande coisa, (riso) eu sempre gostei demais de futebol. Sempre.
MUDANÇAS As amizades. As amigas da minha mãe, os amigos do meu pai, tudo. Na verdade nós sentíamos até uma proteção a mais, porque: “Ah, é filho do Marcílio, filho da Mariinha”. É como se eu fosse filho. Então onde eu ia eu me sentia protegido. Isso aí marcou bastante. Eu gosto de fazer bastante amizade, mas hoje aqui em São Paulo, por exemplo, onde eu moro, nós chegamos tarde, saímos, tem outras atividades, então nós mal conhecemos os vizinhos. Sabemos quem é, de bom dia, boa tarde. Não é como era antigamente, que você freqüentava as casas, então isso aí marcou bastante para mim.
FORMAÇÃO Naquela época você tinha que entrar na escola com sete. (riso) Eu era meio levado, como diz o outro. Eu brigava muito na escola, então não era de estudar. Só no dia da prova e olhe lá. Era um aluno regular, mas eu reconheço que eu dei bastante trabalho para os meus professores. Mas, apesar de tudo, até quando eu vou à cidade, e eles sabem que eu estou lá, eles vão à minha procura. E eu procuro visitar o pessoal também. Mas eu fui levado, muito levado.
Eu vim para São Paulo, e aí eu até atrasei um pouco os estudos, porque eu tive que ajudar a minha família. Porque nessa empresa que meu pai tinha, havia um sócio que levou meu pai à falência. Então eu tive que correr atrás para ajudar no orçamento da casa.
FAMÍLIA Na verdade mais porque uma irmã mais velha casou, veio para cá. Então minha mãe ficava mais aqui do que lá. Aí ela falou: “Vamos para São Paulo, porque apesar do que aconteceu aqui com seu pai, o campo de trabalho é mais amplo, tem mais oportunidade”. Aí nós viemos.
CIDADES / SÃO PAULO Ah, muito bom. Apesar da garoa e frio, era muito bom. Nós podemos falar o que for,mas nós só damos valor a São Paulo quando saimos daqui. Para trabalhar, por exemplo, realmente você sente falta, porque em São Paulo tem tudo. Mas para nós, no início, foi meio complicado para nos acostumarmos, porque onde nós morávamos era uma cidade muito pacata, muito tranqüila. Então aqui, já naquela época, comparando com a cidade lá, era um monstro.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Engraxate. (riso) Eu trabalhava como engraxate em durante a semana na feira, e nos finais de semana como engraxate. Eu acabei conquistando o pessoal lá e o pessoal queria só que eu engraxasse. A turminha ficou revoltada, e começou a brigar comigo. Aí o dono de uma loja viu e falou: “Quer trabalhar comigo?”. Eu falei: “Quero, quero sim”. Então ele falou: “Segunda-feira você vem, pega seus documentos e vem falar comigo”. Mas nesse dia coincidiu de meu pai estar aqui. Porque meu pai continuou em Minas. Aí foi meu pai e minha mãe. Então ele pegou e falou: “Um dos maiores requisitos foi você ter trazido os seus pais com você. Então você, para nós, inspirou mais confiança”. Com dois meses, eu na loja, ele falou: “Eu tenho que fazer uma viagem para Recife, e quero que você ajude a Sheila a tomar conta da loja.”
Era uma loja que tinha tudo: sapatos, roupas. Quando eu entrei lá, eu limpava o chão, varria, tudo. Em dois meses eu já ficava no caixa, apesar da minha pouca idade. Então, daí para frente eu saí de lá porque eu achei uma coisa melhor, e ele até me incentivou e me ajudou. E eu fui trabalhar na Embaixada Alemã como office-boy. Até que eu gostava muito de trabalhar lá, até eu sofrer um assalto na rua. Aí eu tive que sair de lá. No que eu saí, eu entrei no Bradesco. Fiquei no Bradesco três anos. Saí, entrei na Avon e estou até hoje.
FORMAÇÃO Como eu retardei bastante os estudos eu voltei a fazer aquele que era o supletivo. Eu fiz o supletivo no Santa Inês, e tentei começar uma faculdade, mas aí não deu porque logo me casei. Casei novo, então eu parei os estudos. Pretendo ainda continuar, mas nós chegamos a uma certa idade que você começa a investir nos filhos. Então aí já te atrapalha um pouco.
TRAJETÓRIA AVON Meu cunhado - que na época não era meu cunhado, era um amigo - trabalhava lá e falou: “Lá está precisando, mas trabalho temporário”. Eu falei: “Eu faço qualquer coisa”. Aí eu trabalhei três meses como temporário no CPD. Depois eles renovaram para mais três meses, e aí falaram: “Geraldo, você vai ter que fazer um teste e quem sabe surge uma vaga”. Todos nós fizemos esse teste, e aí eu fiquei chateado porque todo mundo queria trabalhar na Avon, até hoje. Então eu fui trabalhar com meu pai. Meu pai já tinha montado um depósito de gás, eu fui carregar bujão lá com ele. No dia seguinte chegou o telegrama para que eu retornasse, que eu tinha sido aprovado. Estou até hoje.
FAMÍLIA A minha mãe revendia Avon lá em Minas. Então nós sempre tínhamos aquela curiosidade: “Como é a fábrica da Avon?”. Nunca imaginávamos trabalhar na Avon. Então isso, para nós, foi muito gratificante, até para a minha mãe. Ela começa a contar história de quando ela vendia. E a maior parte do nosso orçamento, na época em que meu pai estava com a empresa e praticamente faliu, o que bancou a minha casa, uma boa parte, foi ela vendendo produto da Avon.
PRIMEIRO DIA DE TRABALHO É lógico, você chega meio acanhado. Então, em primeiro lugar, eu fui conhecer a empresa. Eu me perdia lá e não sabia nem como andar na empresa. O que eu queria mesmo era conhecer a linha de produtos, a linha de embalagem, porque minha mãe revendia Avon. E eu não via a hora, então eu fiquei totalmente perdido lá dentro, mas logo fui muito bem aceito pelo pessoal. Acho que, de fato é pelo meu cunhado estar trabalhando lá, acho que ele tinha falado de mim para o pessoal. Eu fui muito bem recebido por eles, e aí eu, no segundo dia, já estava à vontade. (riso) Acho que até hoje eu não conheci totalmente, mas conheci uma boa parte. Mesmo porque está sempre mudando, renovando, mas é bastante interessante.
TRAJETÓRIA AVON / COTIDIANO DE TRABALHO Eu comecei como temporário no CPD, que era separação e corte, de onde saíam todas as notas fiscais. Nós tínhamos que micro-filmar, cortar, separar o picklist da nota fiscal e anexar o pedido de compra da revendedora para os produtos serem separados. Ao mesmo tempo eu ajudava o pessoal do Itemdata, que é onde que tem a liberação do faturamento. Dali eu passei para processamento de pedidos, que envolvia toda área de coleta de dados, que na época era digitação, era tudo digitado. Também tinha parte de malote que era um departamento muito grande. Então tinha várias atividades dentro desse departamento. E aí eu comecei a cuidar de trocas e faltas. Depois fiquei como líder do departamento inteiro. Aí comecei também a cuidar do setor de Correspondência da Avon, tanto o nacional como o internacional. Utilizava Correio, Federal Express. E com isso aí você vai só agregando mais conhecimentos e mais responsabilidades. Também já peguei o setor de Motoboy da empresa, de todo o pagamento bancário. Dali eu fui para o RH, sempre cuidando da área de Malote, que é aquela que eu falei dos pedidos de compras. E depois eu fui para vendas, de vendas fui para a área de Custom Care, que é onde estou até hoje, com a responsabilidade também de cuidar do Malote, relacionado a todos os gerentes de vendas, gerentes de setores, agências de cobrança. Então hoje toda a correspondência aqui da Avon, no nível de Brasil, passa por nós. E com isso a responsabilidade vai aumentando, porque vai mudando, você tem que acompanhar alguns projetos que nós participamos para reduzir o tempo de malote, ou seja, aumentar o tempo de vendas para gerentes de setores. Para a companhia isso é bastante interessante. E estamos lá, cada dia aprendendo mais. Porque você fala: “Já sei tudo”. Não, pelo contrário. Nós somos eternos aprendizes.
DESAFIOS Foi quando eu passei a responder para o RH. O gerente, na época, era o Eduardo Ribeiro, e eu fazia determinada coisa. De repente ele falou: “Você vai ficar responsável pela área de FedEx Federal Express, do Correio, e mais o serviço interno”. Também tinha um serviço interno lá que tinha os motoboys. Além dos motoboys tinha os mensageiros, que seriam os contínuos internos. E então, quer dizer, eu abracei um monte de coisas, e ele falou assim: “Você tem até amanhã para responder”. Eu falei: “Eu não vou conseguir”. Para mim algumas coisas eram novidade. Porque você estar no comando é uma coisa, agora, você por a mão e fazer... E outra: até hoje, nós sempre temos o colinho da mamãe que é a melhor coisa que existe. Eu fui consultá-la, ela pegou e falou: “Você pega com Deus - minha mãe sempre foi muito católica - e confia em você. Se está te dando essa oportunidade é porque você tem condições”. Aí o Eduardo me ligou: “E aí, Geraldo?”. Eu falei: “Vou aceitar”. Ele falou: “Que bom, fico contente”. E com isso, até o meu desempenho teve um aumento. Ele tinha me prometido outros aumentos, mas como ele saiu da área não foi possível. Foi uma experiência boa e eu até agradeço o Eduardo, porque ele me encostou na parede. Eu vi que são desafios que nós temos que tentar. Hoje em dia você não pode desistir, eu acho que tem que correr atrás e conseguir. Então esse foi um dos maiores desafios que aconteceram dentro da Avon. Eu fiquei bastante contente, e você acaba pegando mais confiança. Foi muito bom.
ALEGRIAS São inúmeras, porque a Avon sempre foi uma família. Hoje em dia mudou bastante, eu conhecia todo mundo da Avon, sem exceção. Agora, até com a modernidade de estar mudando ali, aqui, tudo, tem muita gente que saiu, outros se aposentaram. Mas me proporcionou alegrias imensas. Eu casei, eu estava na Avon. O nascimento das minhas duas filhas, eu estava na Avon. E sempre tive todo apoio da companhia. Então são tantas que não dá nem para citarmos. Mas sempre tive o apoio dos amigos da Avon. Tanto é que eu estou lá até hoje. Quando tem uma empresa tão boa assim, você acaba se acomodando. Foi meu caso.
PRINCIPAL REALIZAÇÃO Acho que tudo. Porque hoje eu tenho uma família maravilhosa, eu tenho meu teto para morar, isso é muito importante. Consegui formar minha filha. Eu tenho uma filha que conseguiu fez Administração de Empresas e está fazendo pós-graduação agora. Então tudo o que eu tenho hoje eu agradeço à Avon.
RELACIONAMENTO COM COLEGAS Sempre o melhor possível. Eu falo muito, então, eu sempre procuro deixar o pessoal à vontade. Inclusive eu fui até chamado a atenção porque às vezes eu via uma pessoa que, quando entrava assim, ficava meio tímida, eu achava parecida com alguém e colocava um apelido. Aí o meu gerente um dia viu e me chamou a atenção. Eu falei: “Eu faço isso até para a própria pessoa se soltar um pouco”. Então eu uso isso como artimanha. Porque tem dado certo. Em momento algum alguém me procurou e falou: “Geraldo, eu não quero que você me chame disso”. Se chegar e falar, eu vou parar. Aí ele falou: “Não, mas eu não gostei”. Eu falei: “Você vai me desculpar, se você me falar: Eu não quero que você coloque mais, eu não vou colocar mais, mas eu vou ficar chateado porque eu não gostaria de mudar”. Aí ele saiu bravo, e eu tenho o hábito de sempre chegar cedo na companhia. Esse dia ele chegou cedo também e me chamou na sala, falou assim: “Eu tenho apelido?”. (risos) Eu falei: “Eu não posso falar”. Ele falou: “Eu quero te pedir desculpa, eu estava nervoso. Eu cheguei em casa e comentei com a minha esposa e ela falou que eu estava errado. Então eu quero te pedir desculpa”. Então eu sempre tive um bom relacionamento, não só com os funcionários, mas com todo mundo da empresa. Eu acho que isso é fundamental. Sempre que eu entro na Avon, dificilmente alguém chega para mim: “Você está triste? Você está chateado?”. Não, eu sempre estou com bom astral. Isso aí me ajuda no decorrer do dia. Tem muito apelido: Mexerica, era um rapaz chamado Alexandre. Quando eu vou na feira eu lembro do Alexandre, porque é idêntico. Eu também devo ter apelido lá, mas sempre tem bastante apelido. É gostoso.
IMPORTÂNCIA DA AVON A Avon é aquilo que eu falei: eu acho que para todos nós a Avon representa tudo, porque ela te dá condições de mudar de vida, de progredir. Os funcionários, por exemplo, têm tudo ali. Tem o berçário, tem tudo. Então só tem que falar bem. E outra, tudo que nós temos, temos que agradecer à Avon, porque ela te dá condições disso. Quem entra lá, que estuda, que está a fim de subir, tem essa oportunidade. A Avon seria um plano de carreira, nós temos lá. Então não tem o que falar, é aquilo que eu falei antes: tem gente que só sai de lá quando aposenta. Mas eu não aconselho você a entrar numa empresa e ficar. A não ser que você corra atrás e faça tudo. Continue os estudos. Sempre, uma das coisas que eu falo bastante para o meu pessoal é que: “Gente, estuda. Estuda, procura contato com outro pessoal dos departamentos”. Porque você no telefone é uma coisa, mas conhecendo a pessoa pessoalmente muda um pouco. Então é tudo de bom trabalhar na Avon. (risos) “Você está forçando um pouco a barra.” Mas é o que eu sinto. Eu gosto muito de trabalhar na Avon.
FATOS MARCANTES Coleta de dados era só em São Paulo, então nós descentralizamos, hoje nós temos três locais de coleta. Eu fiquei bastante tempo viajando, dando treinamento para o pessoal. Não só eu como a equipe da Avon. E teve uma vez que nós fomos para Florianópolis. Nós íamos almoçar quase todo dia churrasco. Aí tem um amigo - que eu nem vou citar o nome, mas eu vou dar alguma dica - que hoje não está trabalhando aqui em São Paulo, ele está no CD [Centro de Distribuição] Bahia. Aí ele falou assim: “Gê, vamos comer alguma coisa diferente? - Era uma quarta-feira, estava meio frio - Vamos comer uma feijoada?”. Comemos a feijoada. Nós vínhamos no taxi, eu via ele olhando, e falei: “Está tudo bem?”. Ele falou: “Tudo bem, mas eu acho que eu estou... pode abrir o vidro um pouquinho?”. O motorista falou: “Pode, fique à vontade”. Aí eu vi que ele não estava legal e falei: “Pára aí. O que foi?”, “Acho que a feijoada me fez mal.” Nós ficamos perto da lanchonete para procurar uma farmácia. Eu falei: “Você tem Sonrisal?”. O cara: “Tenho”. “Então dá um, por favor.” Aí ele chegou para mim e falou assim: “Como eu tomo isso aqui?”. Eu pensei que ele estava brincando e falei: “Ah, igual comprimido”. Ele pegou Sonrisal, engoliu e tacou água por cima. Olha, ele parecia um pai-de-santo. Eu ri tanto aquele dia que eu quase não volto para trabalhar. Ele ficou louco, então até hoje quando ele vê, ele fala que é mentira. Mas foi muito legal. Teve um outro caso que aconteceu, não especificamente na Avon, mas eu te falo para ver como o nome da Avon é tão forte. Eu tenho o costume de quase todo final de ano ir para Minas. O pessoal pensa que por você trabalhar na Avon, você tem tudo de graça lá. Apesar de que nós temos o desconto, mas é tudo pago, lógico. E eu tenho o costume de comprar, fazer uma comprinha e levar para o pessoal um presentinho. E na rodovia o policial me parou: “O senhor está em alta velocidade”. Eu falei: “Eu, em alta velocidade nessa estrada, a Fernão Dias, cheia de buraco?”. Aí ele pegou e falou: “Eu estou mentindo?”. Eu falei: “Não, eu não sei, mas eu acho que tem alguma coisa errada”. O cara nada simpático. Ele olhava o carro, pediu um monte de coisas. Quando ele pediu os documentos, tinha um crachá da Avon. Ele falou: “Você é da Avon?”. Eu falei: “Sou”. “Minha esposa revende Avon”. Aí, acabei ganhando um amigo, e não me multou, porque eu acho que não tinha nem como eu estar correndo ali. Não sei nem porque ele queria me multar. Mas no fim eu falei: “Estou até levando uns produtinhos”. Na hora que ele abriu o carro, ele quis ver tudo. Ele falou: “Será que eu vou ganhar um presentinho?”. Aí eu fui lá, peguei, dei um produto para ele. Ele ficou muito contente e me liberou. Aí a minha esposa
falou assim: “A hora que eu chegar em casa vai ter uma multa”. Mas não teve não. Quer dizer, é um nome muito forte aí fora também. Todo mundo conhece. E tem outros casos também, porque eu trabalhava de madrugada e sempre tem o pessoal da manutenção. E entrou um eletricista novo, o senhor Sabino. Todos os dias ele ia lá conversar conosco. Na hora da janta eu falei: “Para o senhor não ficar sozinho, o senhor pode vir ficar aqui conosco, fazer horário de janta”. “Eu posso?”, “Pode.” Teve uma hora que nós vimos a porta bater: bééé. E ele todo amarelo, não conseguia falar. Eu falei: “Gente, pega água para ele”. Corremos, pegamos a água e demos para ele. Aí ele melhorou, eu falei: “O que aconteceu? O senhor está passando mal?”. Ele falou assim: “Tem mais alguém trabalhando aqui além de vocês?”. Eu falei: “Não, não tem”. “Eu vi uma mulher de branco, para mim é uma enfermeira.” Eu falei: “O senhor está louco, não tem”. Como eu falei que não tinha ninguém ele ficou pior ainda. Nós sabíamos que não tinha, mas quem tinha coragem para ir lá embaixo para ver se tinha a (risos) enfermeira? Eu falei assim: “Vamos lá. Vocês não são homem, não? Vamos lá”. Aí foi todo mundo junto. Aí realmente tinha uma enfermeira lá.
Mas o que acontecia? Tinha um ambulatório lá dentro e ela trabalhava. Ela trabalhava e estudava. Então como ela ficava para o período da noite ela dormia lá, ninguém sabia. E ele não conseguia trabalhar, nós não vimos nada. Nós tivemos que acionar o pessoal da segurança para eles irem abrir a porta lá para ver. E ela dormia lá. Quer dizer, eu não sei se ela foi desligada da empresa, foi transferida, mas realmente ele tinha razão, mas quase que ele sente um “troço” lá.
Tem bastante coisa, tem história.
FAMÍLIA A Denise morava na mesma rua que eu, só que nós temos uma diferença de nove anos. Eu sou nove anos mais velho do que ela. Eu e o meu cunhado, o irmão dela, que me arrumou o emprego na Avon, fazíamos som. Eram aqueles bailinhos de casa de família, então o pessoal nos contratava, nós íamos dar o som. Ás vezes até nem cobrava, mais por gostar mesmo. E, naquela época, nós tínhamos as namoradas. Eu namorava a Rosana, algum tempo. Terminei porque ela tinha uma irmã que chamava Rosângela, que era muito chata. Quando nós chegávamos, ela chegava das baladas e nos via ali namorando, ela mandava a outra entrar. Era a mais nova, tinha que respeitar. Então eu peguei uma bronca dela assim e acabei terminando com a Rosana. E esse meu cunhado hoje, o Ricardo, me deu uma força. Ele falou: “Volta”. Eu falei: “Eu não quero”. Mas eu vi que ele estava interessado nela: “Por que é que vocês não namoram?”. Aí ele começou a namorar a Rosana. Aí um belo dia nós íamos ao cinema, eu e um amigo, passamos lá na casa do Ricardo. Porque tinha que passar, não tinha jeito. Eu morava no final da rua e ele na primeira casa. Aí nós entramos, estava a tal de Rosângela, que era a irmã que eu detestava. Meu amigo chegou e falou: “Gê, eu não vou mais no cinema, não. Que mulher bonita”. Eu falei: “Não quero nem saber”. Eu já tinha pegado antipatia dela. Aí passou, fomos para o cinema. Depois voltamos e, quando não tinha baile nas outras localidades nós fazíamos baile na minha casa ou na casa do Ricardo. E a Rosângela estava lá, mudou, morava em Ituiutaba e veio para cá. Aí a minha sogra, mãe do Ricardo, chegou e falou assim: “A Rosângela está querendo aprender a dançar, ensina ela”. Eu fui ensiná-la. Aí, no fim, ali rolou um
namoro. Conclusão: eu namorei cinco anos com ela. Então nós íamos para a praia, a Denise, que hoje é minha esposa, era pequenininha e ia conosco. Ela ficava no banco de trás, nós íamos para a praia. Ás vezes nós ficávamos namorando, ela ali segurando vela, mas nem pensar Aí, na casa dela, onde nós estávamos, a Denise ia buscar uma Coca, uma coisa para nós, sempre ali. Conclusão: ela fazia faculdade em Ituiutaba e voltou para lá. Eu ia lá uma vez por mês, ela vinha aqui, aquela coisa toda. Só que eu era molecão. Eu tinha 21 anos. Ela falou assim: “Gê, quase cinco anos que nós estamos namorando, está na época de nós casarmos”. Eu falei: “Eu não estou preparado”. Ela falou: “Você sabe que eu tenho meu ex, não é?”. Eu falei: “É, tudo bem, casa com ele. Ele é fazendeiro”. “Então está bom”. Aí eu não ia mais lá. Parei de escrever, ligar para ela. Depois só vi o convite de casamento chegando para mim. Quer dizer, fiquei muito chateado. Realmente ela casou. E depois de um ano e pouco, dois anos, eu casei com a Denise. Só que aí a Denise tinha 14 anos. Quer dizer, ela ficou grávida. Então foi muito difícil, porque para a minha sogra foi mais fácil falar. Antes foi para o meu cunhado. Nós saímos, tinha um amigo nosso que tinha uma boate e não podia entrar menor. Mas como ele era o dono, e era um lugar bacana, não tinha nada de mais. Mas, na época, era meio complicado. Aí eu fui obrigado a tomar uma cervejinha, mas para dar a notícia para ele. Falei: “Ricardo, é o seguinte, você vai ser tio”, “O que?”, “Você vai ser tio”, “A Denise está grávida?”. Eu falei: “Está”. Eu falei e não sabia qual seria a reação dele. Ele chegou para o pessoal e falou: “Gente, a bebida hoje aqui é tudo por minha conta. Eu vou ser tio”. Me deu a maior força. Aí contamos para a mãe dele, e ela ficou muito chateada. Porque é complicado. Ele falou: “Agora, duro é falar para o pai. Aí vai ser complicado”. Ele me chamou, porque eu era como da família. Para você ter uma idéia a época que eu saí do banco, antes de entrar na Avon, eu fiquei desempregado, ele deixava o carro dele comigo. Só levava ele na empresa para trabalhar e eu ficava com o carro. Abastecia o carro para mim, tudo. Então eu fiquei muito chateado com a situação também. Quando expliquei tudo para ele, ele falou: “Eu sei como o senhor deve estar se sentindo. Estou errado, estou errado. É muito difícil, mas eu quero casar. A Denise também quer casar.” Ele falou: “É isso? Então está bom. Está ok”. Só que ele tomava todas, meu sogro. Quando falamos para a minha sogra, eu falei: “Conversamos com o senhor Osvaldo, e por ele tudo bem”. Ela falou: “Ele falou isso porque está de fogo”. Eu estava dormindo lá nesse dia. Quando foi três e meia da manhã, - horário que ele acordava para ir trabalhar - ele acordou todo mundo, reuniu todo mundo e falou: “Geraldo, aquilo que eu estava bêbado quando falei com você, eu estou confirmando agora”. Quer dizer, ele não estava bêbado. “Eu vou te ajudar, eu vou ajudar vocês no que for possível”, “Que bom, beleza. Só de o senhor estar aceitando numa boa já está ajudando”. Então tinha tudo para dar errado. E ele me preveniu, falou: “Você vai levar convite para todo mundo, mas você sabe como é família: se alguém falar alguma coisa vira as costas e não é problema dele. O problema é nosso, entendeu?”. Aí tudo bem, casamos, fomos morar com o sogro. Morei só alguns meses, porque tem aquele ditado: “Quem casa quer casa.” E então quando eu entrei onde eu trabalhava, o salário era muito baixo. Aí
eu aluguei uma casinha de dois cômodos. Aí nasceu a Gabriele. Foi com muita dificuldade, eu fui batalhando ali. Hoje em dia está mais fácil, porque quando você casa você pede tudo. Meu cunhado, quando casou, ele tinha a casa montada. Eu, na época, o meu melhor presente foi um fogão usado que, de quatro bocas, só funcionavam duas. (risos) Então, tudo para mim foi muito difícil. Então eu dou muito valor ao que eu tenho
hoje. A minha esposa voltou a estudar também, e ela também falou: “Eu sei que você está fazendo de tudo, está lutando, mas acho que eu posso trabalhar. Eu quero trabalhar para te ajudar”. Ela começou a trabalhar também. Trabalhou bastante tempo e nós queríamos adotar uma criança, e estava tudo certo. Aí ela ficou grávida. E como a minha primeira filha, praticamente, foi criada com a minha sogra, e sabe avó como é: muito liberal, aquela coisa toda, deixa fazer o que não pode. Ela falou: “Vamos cuidar legal da Carol”. Nós tínhamos uma empregada que estava judiando bastante da minha filha, que foi até indicada por um amigo meu. Eu fiquei com dó, porque ela falou: “Eu preciso de um dinheiro, porque eu vou ter que pôr a minha filha numa creche para poder cuidar da sua filha”. Emprestei um dinheiro para ela, fiz um adiantamento. No dia eu fiquei com dó, não descontei o salário dela. Tudo que eu comprava no mercado para a minha filha, eu comprava para a filha dela também. Não na mesma quantidade, mas fralda, por exemplo, para dormir, eu falei: “Ela não vai dormir mais com fralda de pano. Eu vou doar isso para você”, “Ai, que bom”. Só que volta e meia a minha filha estava com problema, toda assadinha. Eu levava na médica, a médica falou: “Não estão trocando fralda”. Eu falei: “O que? Eu estou gastando o dobro de fralda”. Conclusão: ela estava nos roubando. Aí minha esposa falou: “Não, eu vou parar de trabalhar.” Ela parou de trabalhar. Hoje a Carol é a caçulinha, vai fazer 14 anos, e a Gabriele vai fazer 27 agora em setembro. Ela é casada já. Eu tenho um netinho de três anos, que é o Marcelinho.
LAZER Estar com a minha família. Isso, para mim, é fundamental. Eu sou muito caseiro, e adoro. Tudo que nós fazemos é por eles. Também tem uma creche, que se chama Sobei, que são sete unidades, que eu participo há quase dez anos. Nós temos 3300 crianças. Eu, a minha filha, as minhas filhas, a minha esposa, fazemos um trabalho voluntário. A minha esposa é artista plástica, então volta e meia ela está pintando algum quadro para vendermos lá. Ajudamos na parte de churrasco, que nós fazemos. Eu vou até aproveitar e convidar vocês aqui para o dia 5 de julho, vai ter um churrasco lá maravilhoso. Vai ter mais de duas mil pessoas, tudo para angariar fundos para a Sobei. E sempre tem alguns eventos, o pessoal sabendo da seriedade da creche está sempre nos oferecendo oportunidades para montar alguma barraca nossa, para estar arrecadando fundo para a Sobei. No Brooklin, em Santo Amaro, tem uma festa muito conhecida: May Fest, e Oktober Fest, que eles fazem lá. Tem a comida típica alemã, nós participamos com três barracas. Inclusive, nós tivemos até o privilégio de o prefeito [Gilberto] Kassab, quase todo ano almoçar na nossa barraca. Eu também procuro duas, três vezes na semana jogar “peladinha”, o futebol. Não aprendi até hoje, mas eu sou persistente. Então eu estou brincando lá com o pessoal.
VENDA DIRETA Eu acho que esse é o segredo. É muito importante esse porta a porta porque só no Brasil já são 50 anos, então a coisa funciona mesmo. Eu acho importante, porque a empresa cosmética é a pioneira nesse porta a porta. E teve resultado que nós estamos até hoje aí já, acho que em cento e tantos países.
IMPORTÂNCIA DA AVON Nós vêmos como é a força da empresa, do nome Avon. Porque você vê, tem lugares aí, que como você acabou de citar, são muito longe, que vão, saem daqui de caminhão, chegam, pegam um barco. Além de serem muito longe, muito distantes, o trajeto, o caminho é bastante difícil. Eu acho que é por isso, a Avon atende todo mundo. Então acho que o segredo é esse aí, de estar atendendo todas as classes, seja onde for. E a Avon está sempre procura trabalhar para entregar esses produtos num tempo mais curto.
Ás vezes ela até gasta um pouco mais, mas ela quer ver a satisfação dos clientes. Então ela não mede esforços para isso. Então, no dia-a-dia, nós estamos sempre procurando cada vez atender melhor.
AVON E A MULHER Se você for ver, os preços são melhores que no mercado, e um produto de boa qualidade. Então isso, às vezes, que nem o pessoal fala, é supérfluo. A vaidade fala mais alto, então as mulheres não deixam de comprar um batom, um perfume, um creme. Isso aí é bom para a auto-estima delas. Para as mulheres isso é em primeiro lugar.
Infelizmente, hoje o mercado é muito disputado. Então a grande quantidade de desemprego, a Avon acaba participando e ajudando. Porque a mulher pode ter uma outra atividade e ao mesmo tempo revender Avon no próprio trabalho. Eu tenho várias amigas que têm filhos formados graças a revender os produtos da Avon. Então isso é bom. A Avon pensa tanto na mulher, que nós temos o Instituto Avon sobre a prevenção do câncer. Se você for ver hoje, em termos de orientação, eu acho que a Avon já deve ter soltado mais de 40 milhões de comunicados orientando
a forma correta de prevenção do câncer de mama. Então a Avon pensa muito na mulher. A empresa é da mulher. Se a Avon sair do mercado é muita gente desempregada, porque tem muita gente que revende Avon. Então, para você ter uma idéia, muita gente que eu tenho conhecimento fala: “O Geraldo é da Avon”. “Ah, que legal” E já pede um produto.. Então nós, quando podemos, damos um presentinho para a pessoa. Mas todo mundo pede, o pessoal que realmente gosta do produto são aqueles clientes fiéis, aqueles que: “Uso só esse produto aqui e acabou”. Então isso é muito bom.
IMPORTÂNCIA DA AVON Eu vejo de uma forma muito positiva, porque eu classifico dessa forma. De repente eu tenho sido até um “puxa-saco” da Avon, porque é uma grande empresa, é a que lidera o mercado. Apesar de que nós temos outra empresa que também é forte no mercado, mas normalmente a Avon lidera. É exatamente por causa de seus produtos, e está sempre lançando novos produtos, como a Renew, uma série de produtos. Então ela não pára, ela está acompanhando a evolução do mercado.
FATO MARCANTE O fato mais marcante foi quando a minha filha começou a trabalhar na Avon. Hoje ela não trabalha mais, mas ela trabalhou por oito anos. Então para mim foi bastante marcante. Não é porque ela era minha filha, ela participou de todos os processos, passou. Até teve época que ela era minha funcionária, então era muito difícil. Uma outra área falou: “Você tem uma funcionária para me indicar?”. Daí eles falaram: “Mas o conhecimento que nós temos é que a sua filha...”. Eu falei: “Mas fica difícil. Fale com o meu superior, peça para ele escolher. Eu não posso”. Então, fatos marcantes que aconteceram, funcionários que entraram para trabalhar comigo e hoje estão em funções melhores do que a minha, isso para mim é muito marcante. A confiança que os funcionários da Avon têm para comigo: “Geraldinho, preciso de um cara na área de Marketing. Tem um cara bom?”, “Tenho.” E nunca me arrependi. Sempre que eu indiquei deu certo. Então são vários fatos marcantes para nós.
LIÇÕES DE VIDA Muito bom, maravilhoso. Porque eu tive a experiência de trabalhar com pessoas deficientes auditivas. E tive uma experiência muito boa pelo fato delas renderem até mais do que uma pessoa normal, e de eu entendê-las perfeitamente. Então até hoje eu tenho amigos deficientes que saíram da Avon e que eu faço questão de sempre estar junto. Quando eu os vejo, onde for eu paro o carro e vou conversar. O João Maggioli tem um irmão que trabalhou comigo. Então todo mundo fala: “Ah, porque é irmão”. Não, ele era irmão do presidente, mas trabalhava mais do que todo mundo. Então foi um aprendizado fantástico. A Avon investe nisso. Se vocês tiverem a oportunidade um dia lá, vocês vão ver que tem bastantes pessoas deficientes. Tem pessoas que dizem: “Ah, não pode trabalhar”. Pelo contrário, é só lá ver que a pessoa é feliz, ela leva uma vida normal como nós. Isso é muito bom.
AVALIAÇÃO / PROJETO MEMÓRIA Eu acho isso maravilhoso. Eu até tinha o hábito de reunir todo o pessoal que trabalhava comigo, o pessoal da antiga. Eu alugava um sítio e mandava convite para todo mundo, todo mundo participava. Inclusive eu tenho as fotos lá, até vou passar para vocês. Então pessoas que nós não víamos há muito tempo, pessoas que às vezes
até se sentiam mal: “Poxa vida, eu saí da Avon, ninguém me procura mais”. Então quando tinha esse convite o pessoal vinha, podia trazer a família. Então muito legal. Eu sempre faço esses tipos. Agora não que fica mais difícil. Mas sempre que posso eu estou reunindo o pessoal, o pessoal da antiga. Também, ao mesmo tempo, eu até fiquei muito contente com a atitude do nosso presidente Luis Felipe [Miranda], ele fez isso na Avon, de reunir os aposentados. Então tinha pessoas que não iam há anos. Eu achei uma atitude maravilhosa da parte dele. Foi muito bacana.
AVALIAÇÃO / ENTREVISTA Eu confesso que tipo assim hoje eu estou me sentindo um ator da Globo. (risos) Para participar você fica: “Mas como que é?”. Você fica com medo e tal, mas a partir da hora que eu entrei aqui mudou totalmente. Pela simpatia de vocês, a recepção que eu tive. Então eu me soltei. Acho que isso aí ajudou demais. Eu estou me sentindo aqui o “bam-bam-bam”. (risos)Recolher