IDENTIFICAÇÃO Eu sou Cláudio Pincinato, nascido em Jundiaí em 12 de setembro de 1935. ATIVIDADE ATUAL Atualmente eu sou aposentado, mas continuo exercendo uma atividade profissional numa empresa que produz equipamentos para laboratório, de propriedade de meu sobrinho. E estou prest...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Eu sou Cláudio Pincinato, nascido em Jundiaí em 12 de setembro de 1935.
ATIVIDADE ATUAL Atualmente eu sou aposentado, mas continuo exercendo uma atividade profissional numa empresa que produz equipamentos para laboratório, de propriedade de meu sobrinho. E estou prestando serviço a ele da mesma forma que eu prestava a Avon, dentro da mesma área de atuação. Com uma pequena diferença: durante todos esses 26, 27 anos de empresa, nós aprendemos muito. E hoje, na empresa do meu sobrinho, posso desenvolver esse conhecimento maravilhoso que a Avon me deu.
FAMÍLIA Meu pai, Domingos Pincinato. E a mamãe, Francisca Morilla Pincinato. O papai era agricultor, trabalhava num sítio em Jundiaí, de propriedade do vovô. Eles produziam uvas e figos. Da uva, inclusive, ele transformava em vinho. E eu tive o prazer de num momento qualquer da minha vida, pisar nas uvas para transformar no suco que depois se transformava em vinho. Era o processo rudimentar que o vovô utilizava, a essa altura o vovô já não era mais vivo, isso foi no sítio que ficou com o irmão mais velho, Antônio Pincinato. E figo ele vendia no mercado. Mamãe nasceu no Brás, na Rua Carneiro Leão e a mamãe era, como era comum no passado, preparada para ser amanhã ou depois uma esposa e dona-de-casa. Do lado do papai, a origem é italiana e do lado da mamãe, Espanha. Então, eu sou 50% de cada origem, italianos e espanhóis. A mamãe vinha de uma região próxima de Barcelona. Eu a escutava dizer que a avó Rita, que era de lá, era muito brava. Diz a mamãe que isso é uma característica dos espanhóis, serem bravos; não sei. E o papai era perto de Veneza. Uma história, muito pouca gente sabe nesse sentido, porque a família do papai tinha que trabalhar muito e não sobrava tempo para você tratar dessas culturas. Era uma família enorme, eram no total 17 filhos. O vovô, quando veio para cá, em 1889, eu posso estar enganado em algum pequeno detalhe, mas ele já trouxe dois filhos da Itália. O Antônio, mais velho, que hoje em Jundiaí tem uma avenida chamada Antônio Pincinato, fica bem próximo das florestas de Jundiaí; e tem outra rua com o nome do segundo filho, que é o Ernesto Pincinato. Então, a homenagem que Jundiaí prestou a família Pincinato está bem presente lá na cultura.
Nós somos quatro filhos: eu Cláudio Pincinato, o mais velho, Alcina Pincinato, tem um ano a menos do que eu, Nivaldo Pincinato, que nós o chamamos de Russo, porque o Russo era pequenininho, bem clarinho, então, esse apelido passado desde pequeno, cabelo bem clarinho, até hoje perdura. Se procurar por Nivaldo na região, que é o armazém que poderemos falar em breve dele, não o conhecem por Nivaldo, é Russo. Esse nome ficou sendo o substituto do nome, o apelido substitui o nome. E o caçula, que era o mais bonito de todos, os olhos verdes, clarinho que é a característica dos italianos, infelizmente já falecido. Faleceu jovem, por um problema de saúde, do coração. Já foi embora. Essa é a nossa família, constituída de quatro irmãos. Maravilhosos, nos damos muito bem até hoje. Isso é uma bênção que a gente recebeu da vida como um todo.
INFÂNCIA Eu vim para São Paulo com quatro anos de idade. Morei no Brás de 1939 até 45 para 46. Papai tinha um depósito de carvão, ele comprou um depósito de carvão na Rua Maria Domitila, bem próximo ao Parque Dom Pedro II. Lembranças mil de uma área maravilhosa, o Parque Dom Pedro II. Onde realmente era cultuado como parque, hoje, infelizmente, ficou totalmente deteriorado. E existia no Parque Dom Pedro II um, vamos chamar assim, de jardim da infância. Onde eu, parte do meu dia, passava lá brincando, ele não tinha o objetivo de ensinamentos, de educação, de leitura, era brincadeira. Obviamente, suportado pelas monitoras, mas no sentido de fazer com que a criança começasse a receber ensinamentos de cidadania, de respeito à natureza, isso era muito evidente lá no parque infantil. Na parte de brincadeira de rua, que se podia sair à rua com tranqüilidade, o número de veículos era muito pequeno. Eu me lembro ainda da minha infância, que a Companhia Matarazzo entregava macarrão em carroças puxadas por cavalos. Uns cavalos enormes que a gente chamava de cavalo argentino. Eram bonitos, vistosos. A entrega não era feita por carro, era feita por essa carroça e entregava-se o macarrão nos armazéns através dessa carroça. E a Antarctica também, já existia a Antarctica, ela fazia a entrega da mesma maneira, em carroções, puxando a bebida e entregando dessa forma. Trânsito, muito pequeno.
BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA Era comum as crianças e colegas, àquela altura, brincarem na rua de bolinha box, são furos feitos, àquela altura era ainda terra, furos feitos na terra numa distância mais ou menos constante. Primeira, segunda, terceira era em linha reta e depois a 90 graus tinha o outro furinho e que você jogava bolinha procurando embirocar, que era o nome correto, nesses furinhos. Então, você jogava para o primeiro, do primeiro para o segundo, do segundo para o terceiro. Se você fizesse uma seqüência, você acabava ganhando a bolinha dos adversários. É uma brincadeira entre as crianças e que era maravilhosa. Tanto é verdade que quando a gente fala bolinha box para essa juventude de hoje eles nem imaginam o que é que é isso. Fazia-se na Rua Maria Domitila, bem próximo do centro da cidade, numa rua normal, sem medo de ser atropelado por quem quer que seja, que o número de veículos era insignificante. Jogava bolinha box, jogava peão, rodava peão e, óbvio, como um bom menino brasileiro: futebol. A gente brincava muito de futebol sem se preocupar de ter que parar a todo o instante porque vai passar carro. Hoje não se pode mais fazer isso, infelizmente. Mas, essa parte que hoje faz falta na formação da civilidade e do futuro do nosso país, dá muitas saudades. Porque foi assim que nós transformamos muitos cidadãos brasileiros em homens que hoje comandam esse país aqui. Brincando quando era pra brincar. Estudando quando deveria estudar. Eu só comecei a minha alfabetização no Grupo Escolar Romão Puiggari, que fica na Avenida Rangel Pestana no Brás, próximo a Igreja do Brás, com oito anos já completos. O critério era o seguinte: quem fizesse oito anos até junho podia entrar com sete anos no primário, como era chamado, primeiro ano. Quem fizesse oito anos depois de julho, que eram as férias de meio de ano, ele só poderia iniciar no ano seguinte. Ou seja, entrava realmente com sete e com oito anos completos. Então, eu iniciei a minha alfabetização com oito anos. Separando bem o tempo de brincar e o tempo de aprender.
FAMÍLIA Como eu gostaria que a grande maioria dos lares brasileiros fosse um reflexo e imagem do meu lar: maravilhoso. Dois filhos maravilhosos. Um lar onde impera o amor. Dia 13, ou seja, dia de Santo Antônio, e não foi promessa não Foi muito amor. Depois de sete anos de namoro, nós nos casamos no dia 13 em 1964. Estaremos fazendo depois de amanhã 44 anos de feliz união conjugal. Esse é o nosso lar. Que bom Como poderia ser gostoso passar na mídia essas mensagens e não, infelizmente, o que a gente vê hoje e que dói o nosso coração. O nosso lar, comum, é um lar de uma pessoa de vida simples, humilde no passado e que a Avon ajudou a construir a casa e que deu condições de essa pessoa crescer muito e se transformar num cidadão de bem, através do trabalho, do aprendizado. Fora isso, depois de aposentado, nós começamos com um pouco mais de tempo a prestar um serviço de voluntariado. Como participante de igreja, católico que eu sou, praticante, fervoroso. Eu sou ministro de casamento, dou curso aos jovens quando vão se casar. Esse curso é ministrado por uma série de pessoas com experiência já de lar sedimentado e feliz para poder tentar passar essa sementinha adiante e que ela seja realmente a visão de que os noivos têm que ter de casais que lá estão passando os seus testemunhos, a sua experiência de vida. E também sou ministro de batismo. Nós, eu e minha esposa, nós preocupamos muito com a juventude que vem vindo. No batismo consegue se passar experiências e orientações da importância que os pais e padrinhos são para poder passar realmente uma estrutura, um comportamento religioso, não necessariamente católico, mas espiritual, e exemplos realmente de um cidadão. Nós somos antitabagistas porque o tabagismo não deixa de ser uma forma de você ficar dependente de alguma coisa. Nós somos anti bebida. Não que nós não bebamos, mas saber realmente beber. Então, essa parte de estrutura que a gente passa para os pais e padrinhos é que nós gostamos que eles, no seu dia-a-dia, quando levam depois as crianças para casa e depois de batizada, comecem a imprimir nesses cidadãos que vêm vindo, para nós termos um mundo realmente muito melhor. Como seria bom a gente poder, com essa sementinha que planta, a verela germinar e dar mil, 100 mil sementes positivas. Essa é uma parte do trabalho que o lar do Cláudio Pincinato e a Maria, ou seja, Zinha, que é o tratamento carinhoso que nós temos em casa, a gente faz para ajudar o futuro da nossa humanidade.
INFÂNCIA O lar quando eu era criança não deixa de ser o lar tradicional da educação de 1940. Era uma educação rígida onde a ordem do papai não poderia ser discutida. Existia uma obediência muito grande e, às vezes, até semi-agressiva para impor a vontade patriarcal. Porque os pais não permitiam que você transgredisse e questionasse as suas orientações e a sua formação, do que eles imaginavam correto. Hoje em dia a gente pensa um pouquinho diferente, depois da evolução, a educação um pouco mais aberta. Muita coisa se aproveitou disso, mas algumas a gente acabou eliminando, ou seja, aquela agressividade de manutenção da sua palavra. Quando se conversava com o papai, às vezes, você não olhava nos olhos do pai. O diálogo era um diálogo difícil e era um diálogo de obediência. Você tinha que falar: "Sim, senhor. Sim senhor." Nada contra, mas eu acho que isso era um pouco de radicalismo e exagero. Hoje a gente tem uma abertura muito grande e, tenho certeza, que nós vamos encontrar mais para frente um meio caminho para as duas situações. Hoje, em especial, se fizesse, por exemplo, o que foi feito num momento qualquer, me lembro perfeitamente disso, minha primeira professora chamava-se Dona Mocinha, e numa brincadeira da aula, eu sentava-me na frente, ela pegou o apagador e eu, o papai cortava o cabelo careca por economia, para demorar para o cabelo crescer, com o apagador, ela esfregou o apagador na minha cabeça. Então, o pó de giz ficou todo impregnado em mim, depois passava a mão na cabeça para sair o pó. Aquilo foi considerado como se fosse uma repreensão de educação. As professoras eram muito respeitadas. Diferente de hoje, que a gente vê a mídia mostrando totalmente o oposto. Professores sendo agredidos e. Então, também devemos encontrar um meio termo. Se hoje alguém fala alguma coisa para o nosso filho, vem já junto com o pai o advogado, a polícia. E às vezes, não necessariamente o professor está agredindo, ele está orientando e procurando corrigir um desvio, que, às vezes, os pais não acompanham esse desvio na sua presença, na sua ausência é que realmente eles se mostram como são. Devemos também encontrar um meio termo. Então, em especial, no nosso lar e que era, o papai trabalhava no depósito de carvão que ele adquiriu quando veio de Jundiaí, ele cuidava de manter a casa. Mamãe, esposa, cuidava de fazer a manutenção do lar, dos filhos, que a essa altura ela já tinha os quatro filhos que eu falei há pouco. Ela era responsável pela educação, juntamente com o papai nesse sentido. Esse era o nosso lar. Um lar feliz, por sinal. Que foi transmitido aos filhos e que até hoje a gente continua em relacionamento normal.
LEMBRANÇAS MARCANTES Por exemplo, a perda de uma amiga nossa, por um problema qualquer de saúde que eu não consigo me lembrar, mas aquilo marcou muito. Eu devia ter o que, uns sete anos, um pouquinho menos. Eu senti a primeira vez o que é que foi perder alguém próximo e que a morte leva. Marcou muito. Tanto é verdade que já com 73 anos, isso ainda está marcado, bastante marcado. O restante são as brincadeiras que a gente teve. Lembro-me muito bem de uma pessoa que hoje é meu cunhado. Nós éramos colegas de infância e esse conhecimento se transformou, num momento qualquer, mesmo depois de ter mudado já do Brás, num namoro, casaram-se e hoje ele é meu cunhado. Isso quando a gente morava no Brás. Nós saímos do Brás em 1946, quando o papai previu que com a chegada do gás em bujões, até aquela altura usava-se carvão e, ou lenha para fazer o fogo dentro de casa e, obviamente, alimentação. Começou a aparecer o gás. Gás em botijões. E o papai, mesmo sem ter uma instrução muito grande, ele falou, e isso eu me lembro: "Já deu. O que nós ganhamos com o carvão, ganhamos. Daqui pra frente, o carvão vai ser automaticamente substituído pelo gás." E ele obviamente se desfez, vendeu o carvão e comprou um armazém na Penha. Isso em 1946. Armazém que até hoje, de uma forma ou de outra, está nas mãos do Nivaldo, o Russo. E que eu trabalhei lá até 25 anos com o papai, quando fui então trabalhar na Avon. Então, no nível de Penha, a essa altura eu já tinha mais ou menos 11, 12 anos, iniciando o meu curso de ginásio, na divisão que se fazia no passado. Estudava à noite. Quando nós nos mudamos para lá, papai matriculou no curso noturno, isso no segundo ano já, e ajudava o papai no armazém. Então, em outras palavras, eu comecei a trabalhar no armazém com o papai com 12 anos.
FORMAÇÃO Uma coisa é certa, e eu vi isso nos meus filhos, pelo mínimo no mais velho: eu nunca reprovei nenhum ano. Foi uma constante. Fiz o primário, chamava-se primário, no Grupo Escolar Romão Puiggari. Quando terminei, papai me colocou para fazer o ginásio, isso no Colégio Paulistano. O Colégio Paulistano ficava na Rua Fagundes, é uma travessa da Avenida Liberdade. Então, comecei a fazer o ginásio lá, não sem antes ter feito a prova de admissão. Porque àquela altura, para você entrar numa escola de ginásio, você tinha que fazer um teste de admissão para ver se você era alfabetizado ou não e se tinha conhecimentos para poder entrar na classe, no primeiro ano. Isso aconteceu e eu fiquei um ano nesse Colégio Paulistano. Quando nós nos mudamos para a Penha, que o papai se desfez do depósito de carvão, eu já estava no segundo semestre, então continuei, vinha da Penha, garotinho de tudo, 11 para 12 anos, que beleza, podia se soltar uma criança na rua, ninguém mexia, não tinha problema nenhum. Eu vinha da Penha até a Praça Clóvis Beviláqua de bonde. E descia do bonde e ia a pé até o Colégio Paulistano, sem nunca ninguém ter nos perturbado, ninguém ter nos mexido. Que saudades Quando terminou o ano letivo, eu fui matriculado no Colégio Ateneu Ruy Barbosa. Isso já na Penha na Rua Padre João, à noite, quando eu passei a estudar à noite e ajudar o papai no armazém. Fiz o segundo, terceiro e quarto anos. Depois passei a iniciar o científico, àquela altura, que hoje é correspondente ao segundo grau. A mesma coisa, fiz o científico, primeiro, segundo e terceiro anos. Terminado o científico, conversando com o papai, dessa forma, um pouquinho mais brando. O papai a essa altura já estava mais moderninho. Falei: "Papai, apesar de eu ter me formado no científico, eu sei tudo, mas não sou nada." Porque o científico dá uma base aberta, não lhe dá especificadamente nada, nenhuma especialização. Então, fomos fazer Química no Colégio Oswaldo Cruz. Isso na Avenida Angélica. À noite também. Saia de casa na Penha e ia para a Avenida Angélica, no Colégio Oswaldo Cruz, estudar Química. Fiz os meus quatro anos, saí de lá técnico, formado a essa altura e quando eu terminei, já estava mais ou menos com 20 e poucos anos, eu fui iniciar a minha atividade na Avon. Como químico, que eu já era formado técnico em Química. Assim veio a história de nascimento da minha vida na Avon Cosméticos.
ESCOLHA DA CARREIRA Durante a minha formação no científico, eu me identifiquei muito com a parte de Química. Eu me identifiquei bastante com a parte de Química. E outra coisa que eu também gostava muito era História Natural. Durante a minha formação até pretendi ser professor de História Natural, pela identificação, principalmente em Botânica, eu gostava muito de Botânica. O gosto pelas plantas, que eu mantenho até hoje, já nasceu àquela altura. Mas um professor de História Natural, ele me falou o seguinte: "A vida de professor é uma vida muito dura. Requer muito amor, muito sacrifício. Se eu hoje voltasse atrás, eu teria mudado a minha carreira." Para um jovem em formação, aquilo foi uma mensagem de definição, não é esse o caminho a ser seguido. Eu achei que eu não estava maduro o suficiente para ser professor. E, como eu me identificava com Química também, gostava muito de Química, acabei depois seguindo a formação em Química. E definiu a minha futura vida, começando por Química.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu trabalhava no armazém com o papai com 12 anos. O papai visionário como foi, quando eu completei 14 anos ele me registrou como empregado. Obrigado pai, que maravilha Isso fez com que eu pudesse me aposentar cedo, ou seja, de 14 com mais 30, é 44. Com 44 anos eu comecei a receber o que se chamava no passado abono permanência. Comumente chamado de uma forma pejorativa, de pé na cova. Porque quem já estava recebendo o abono permanência, já estava pronto para ir para a cova. Era um percentual que a Previdência dava às pessoas que eram registradas já há 30 anos sem se aposentar. E assim continuei até me aposentar. E continuei mais dois para três anos recebendo o pé na cova, quando a Avon houve por bem fazer uma reestruturação na empresa e procurou algumas pessoas e encontrou o Cláudio já aposentado, com condições de se aposentar, recebendo o auxílio de pé na cova e ele foi um dos escolhidos a ser convidado para deixar a empresa. Coisa que nós fizemos em família. Quando eu recebi a comunicação do meu diretor, quando eu pedi a ele em especial que eu gostaria de ficar na empresa por mais três ou quatro anos, foi uma consulta feita pela empresa, ou seja, na formação do filho na faculdade, 15 ou 20 dias depois ele voltou e falou: "Você não gostaria de se aposentar? A Avon vai cuidar de você aposentado e da sua aposentadoria. Você deve receber um prêmio por sua qualificação, sua dedicação." Ele me falou o prêmio, eu vou omitir aqui, e esse valor eu levei para casa. Numa reunião a minha esposa e o meu filho mais velho, que a essa altura já estava bem adultinho, eu falei: "Olha, tem essa possibilidade. A empresa está me propondo aposentadoria me dando um determinado prêmio, ou continuar até quando chegar o tempo de uma eventual dispensa." E essa eventual dispensa poderia ser logo em seguida. Não existia promessa de nada. Então, nós colocamos na balança essa condição e assumi me aposentar. Me aposentei, normalmente, tranqüilamente, muito bem, por sinal. Então foi assim que foi a minha vida de formação.
INGRESSO NA AVON Como é que eu fui parar na Avon. Junto comigo, na escola de Química Industrial Oswaldo Cruz, trabalhava uma moça, chamava-se Marlene. Eu não me lembro exatamente o sobrenome, já se esvaiu no tempo. A Marlene era descendente de espanhol, muito bonita, como são bonitos os espanhóis. Ela era muito bonita e ela era bastante comunicativa. E ela falou na classe: "Estou trabalhando na Avon, no laboratório da Avon." Falei: "Que ótimo" E depois de uns seis meses, quando eu fui procurar emprego na minha vida, que no armazém já estava pequeno para duas pessoas. O papai falava o seguinte: "Nós, como todo armazém do passado, trabalhamos com caderneta, vendia por mês." No fim do mês somava-se a caderneta para chegar ao resultado final das compras. O papai subsidiava essa parte. Era uma forma de crédito existente, que o governo não concordava muito, porque queria que você pagasse o imposto especial. Aquilo era feito às escondidas. Mas era feito. Ou você fazia assim ou saia do mercado. Então, papai somava e mandava que eu conferisse a conta. Chegou num ponto que eu fiquei mais rápido que meu pai. E o papai falou o seguinte: "Embaixo de um mesmo teto dois sabidos não funcionam. Tá na hora de você procurar emprego, filho." Eu já estava no último ano de química. E quando ele deu esse tipo de abertura, eu realmente comecei a procurar emprego. E conversei com a Marlene. E a Marlene levou o meu nome. Não se falava muito em currículo àquela altura, mas levou uma ficha de quem era o Cláudio, como estudante de química. Suas notas, seu aproveitamento. E um ou dois meses depois eu fui chamado para fazer o teste. Obviamente eu estava fazendo teste em outros locais, procurando um local para trabalhar. E eu fiz teste também na Colgate. Na Colgate não aconteceu nada, aconteceu na Avon. E lá fui eu fazer o teste na Avon. Saí da Penha, peguei o ônibus para o Centro. Depois peguei o ônibus do Centro para Santo Amaro, não chegava mais. Naquela ansiedade de um candidato a um eventual trabalho, eu vendo tudo aquilo acontecer, eu falei: "Meu Deus Como é longe." Mas tudo isso não me impediu de trabalhar na Avon. Mais ou menos dois meses depois de estar na Avon eu fui convidado a trabalhar na Colgate. E, pasmem Com um pequeno aumento salarial. Conversei com meu papai, com a minha noiva, Mariazinha, minha esposa de hoje, de 44 anos. E chegamos à conclusão de que uma empresa que estava em crescimento seria muito mais vantajoso do que uma empresa já sedimentada. A probabilidade de crescer e progredir, mesmo com dois, três meses de empresa, isso já se percebia. Então, acabei ficando na Avon. Não me arrependo. De forma alguma. As respostas estão no explanado. E deixando inclusive de trabalhar num lugar mais perto, por um salário um pouquinho mais conveniente. Não me arrependo. Foi assim que eu conheci a Avon. Não os seus produtos, a gente só ouvia falar pela Marlene, na escola de química. Não conhecia a Avon ainda, não conhecia absolutamente nada.
AVON / PRIMEIRAS IMPRESSÕES Para quem trabalhava num armazém que era mais ou menos organizado, como eu trabalhava, entrar numa empresa que mais parecia uma lingüiça, porque a Avon João Dias era o seguinte: era longa, mas estreita. Ela devia ter, uns 50 metros de frente, 60 metros de frente. E longa. Parecia, a princípio, uma bagunça generalizada. Foi a impressão que eu tive. Mas como eu estava desejoso de trabalhar na área que eu escolhi como formação, que foi química, eu aceitei esses desafios. Mas foi bom ver tudo isso, porque depois, gradativamente, os funcionários foram trabalhando no sentido de organizar, arrumar. Nós tínhamos um piso deficiente na João Dias. E de vez em quando, transportando o tanque, com colônia, os tanques não eram tão grande como são hoje, hoje são enormes. O tanque dava uma patinada e parava num buraco. O funcionário que estava empurrando o tanque, não conseguia seguir adiante. Chamava-se socorro e os funcionários se uniam para empurrar o tanque, para o tanque chegar na cabeceira da linha, embalar e envasar os produtos. E, o Claudinho também foi chamado a ajudar a empurrar. Foi a forma de começar a gostar cada vez mais da Avon. Com todas essas dificuldades. E foi maravilhoso, porque depois eu a viela ser exatamente o exemplo de empresa, quando nós mudamos para a fábrica nova foi uma virada. Nós saímos de uma empresa com limitações de espaço, de movimentação, para uma área de piso maravilhoso. Como foi bom trabalhar num piso ruim. Insinuou o que nós devíamos fazer para não cair no mesmo erro. O piso da nova indústria da Avon, em Jurubatuba, aquela altura, era o mais avançado e evoluído do Brasil. E até hoje ele é um piso irrepreensível, é só ir lá para ver. É altamente resistente, com todo o movimento que tem. Então, esse piso que serviu de referência ruim para fazer o bom, a mesma coisa foi no restante, as prateleiras; as empilhadeiras de melhor qualidade e chegamos no final, levando a quase que uma excelência de movimentação, baseado, inclusive na experiência internacional das pessoas que vinham aqui. E aquilo lá foi o que aconteceu dessa semente inicialmente mostrada como bagunça. Como foi bom. E que criou o conceito de "tem que melhorar". E esse "tem que melhorar" era o espírito dos funcionários, não existia muita briga pelos problemas. Porque nós sabíamos que num momento qualquer ia acontecer o melhor. Como aconteceu. Então, se nós nos irmanávamos nos problemas, não tinha importância que um problema era da fabricação, que tinha que entregar. Não. Pegava, arregaçava a manga e ia lá.
TRAJETÓRIA AVON Eu fiz um teste com a supervisora, ela chamava-se Angélica, e ela gostou muito dos conhecimentos que eu tinha de Química. Obrigado à Oswaldo Cruz que me orientou, obrigado a mim que fui um estudante sem nunca ter repetido nada. E eu iniciei na Avon como auxiliar de laboratório. No dia dois de abril de 1962. Um dia depois do dia da mentira. Eu, entrando no primeiro dia de trabalho, todo orgulhoso, achando que eu já ia começar a fazer atividade de químico. Veja você, não era o pensamento da Angélica não. A Angélica falou o seguinte: "Antes de você começar a fazer as suas análises, você precisa saber o que é importante no laboratório. Por exemplo..." Chamou uma mocinha, que eu estou vendo ela na minha frente agora, chamava-se Terezinha, falou: "Terezinha, esse aqui vai ser o seu auxiliar a partir de hoje em diante." A Terezinha lavava frascos: "Você vai ensinar o Cláudio a lavar frascos." Ou seja, isso durou aproximadamente uns dois meses. E super importante eu ter feito isso. Porque mostrou durante esses dois meses a importância de se ter um material de laboratório perfeitamente limpo para ele não ter nenhuma interferência negativa na hora de uma análise. A importância da análise não ficaria questionada se você enfrentasse um resultado fora do especificado. Você ia ter certeza de que realmente o material analisado é que estava incorreto e não uma eventual sujeira do material utilizado. Porque como técnico, nós tínhamos obrigação de olhar se o material estava em condições de ser utilizado, ou seja, limpo. Como eu aprendi a fazer durante esses dois meses. Não foi nenhuma vez e nem duas, foram algumas vezes em que a Angélica passava, apanhava um frasco nas mãos e olhava contra a luz e mandava lavar tudo novamente porque aquilo estava sujo. Lógico que isso aborrecia no momento. Só mais tarde, durante a execução das análises é que a gente entendia perfeitamente essa rigidez da Angélica. Não era rigidez nenhuma, era treinamento para a preparação de um funcionário futuro. Depois disso, entramos na área de análise. Inicialmente, dos produtos Avon. Então nós fazíamos avaliação da quantidade de álcool nas colônias, através de um sistema de destilação fracionada. E começamos a conhecer os nossos produtos. Fazia a densidade dos cremes. Isso num aparelhinho de aço inox, que é chamado de piquinômetro. Enchia-se aquilo com o produto numa temperatura pré-determinada, é estabilizada essa temperatura a 25 graus em banho-maria, a amostra vinha da fabricação, a gente colocava isso em banho-maria com um termômetro, quando estava a 25 graus fazia a medida da densidade, colocava o creme no piquinômetro e tinha que batê-lo, isso a gente batia contra uma borracha no balcão, para que ele eliminasse eventualmente algumas bolhas de ar adicionadas durante o processo de enchimento, para que você não tivesse um resultado incorreto e prejudicasse a fabricação, atrasando a liberação de equipamentos, atrasando a liberação do produto que podia estar sendo esperado nas linhas de embalagem. Essa conscientização já começava a existir na formação do técnico. Fazia isso por destilação, que era a quantidade de álcool e fazia-se no piquinômetro a densidade. Existiam outros aparelhos, a gente tinha colorímetro, a gente tinha o viscosímetro que media a viscosidade dos líquidos mais viscosos, tipo loções. Era um aparelho que fazia uma leitura por circulação dentro do produto. Essa foi a fase de preparação através da liberação dos produtos na fabricação. O conhecimento da qualidade e do controle de qualidade. Depois disso, então se passou para outra fase que foi: análise de matéria-prima. Quando você já estava bem preparado para poder entrar na parte externa da empresa em contato com os clientes. O contato com o cliente era através do seu material entregue. Como era algo um pouquinho mais preocupante, porque nós estávamos num começo de Avon no Brasil, então a gente tinha que ter muito cuidado para você não ferir o mercado. O controle de qualidade, a Angélica passava essa consciência aos seus funcionários, da importância de você não agredir e não ofender os seus fornecedores. E que quando se realmente rejeitasse uma matéria-prima, você tinha a consciência perfeita de que a rejeição era correta. A rejeição nunca era unitária. Quando a gente encontrava uma matéria-prima com problema fora de especificação, essa matéria-prima era re-analisada para você ter certeza de que o resultado obtido fosse realmente aquele e não fosse nenhum desvio cometido. Então, passou-se dessa fase de matéria-prima depois para um conhecimento um pouquinho mais amplo do controle de qualidade. A essa altura, eu já tinha sido promovido a técnico de laboratório, aproximadamente dois, dois anos e meio depois. A Avon começou a me preparar dentro do controle de qualidade, porque eu não sabia os planos da empresa, a gente só sentia que existia interesse e que você estava sendo preparado. Eu fui colocado como responsável também pela sala de trocas. A sala de trocas era uma atividade que existia na Avon, da devolução dos materiais do campo. As devoluções vinham para Avon, eram avaliadas, catalogadas como informação e passadas à empresa, que tomava ações dentro da sua área de atuação da indústria, para corrigir aquilo que eventualmente podia estar acontecendo como desvio, do produto, da qualidade do produto. Então, isso foi muito bom porque fez conhecer o desejo e o interesse dos consumidores. Muito bem. A importância da sala de trocas na formação do Cláudio Pincinato foi o seguinte: primeiro conhecer o que os consumidores reclamavam; segundo, a fidelidade da reclamação. Porque existiam pessoas que faziam a atividade de uma forma a ser executada e não ser analisada e avaliada. Quando o Cláudio Pincinato entrou nessa atividade ele mudou o foco da avaliação. Um exemplo: as colônias, elas são uma mistura hidro-alcóolica. Existe um equilíbrio entre quantidade de álcool, quantidade de água, quantidade de essência, se você quebrar esse equilíbrio, você turva. Às vezes na nossa fabricação, por um desvio qualquer, era reprovado o material porque ele na avaliação de liberação para envasar na embalagem, coletava-se a amostra e essa amostra não estava translúcida, ela apresentava uma opacidade. Aquilo era reprovado e refiltrado. Por quê? Porque senão, depois no frasco, nas mãos do cliente, ia começar a apresentar depósito. Então, esse equilíbrio tem que ser muito bem feito. Existia um consumidor, ou infelizmente revendedoras não de boa índole, que despejavam a colônia para outro frasco, ficava um pouquinho de colônia, e completava com água. Porque é mais barato. Turvava. E vinha de volta. Se ela fosse um pouquinho mais inteligente ela colocaria álcool, porque o álcool não turva. Então, a gente olhava aquilo lá e, obviamente achava engraçado. Eu pedia que separasse as coisas especiais para fazer uma avaliação técnica. E quem foi que mandou? Porque era identificada a devolução. Nós chegamos a identificar e repreender, através dessa análise, revendedoras e dizia que não que era ela que estava fazendo: "O seu cliente está cometendo um desvio. Está usando a colônia, completando com água e dizendo que veio assim. Isso é impossível." A gente teve esse tipo de preparação e procuramos dar a elas um pouquinho disso. Eu acredito que foram, aproximadamente, um ano, um ano e pouco, como treinamento. Aquilo passou a ser um treinamento. Passei, depois dessa atividade, a trabalhar na área de recepção de materiais, qualitativamente falando, fazendo dimensionamento, análise dum material na entrada, para começar a conhecer os materiais de embalagem. Fazia o dimensionamento do material junto às especificações. Isso também fez parte do treinamento. Passado esse período, mais ou menos um ano, ou dois somando tudo, eu fui colocado como responsável pelo controle de qualidade nas linhas de embalagem. Foi mais uma promoçãozinha que eu tive, dentro da fase de preparação da Avon para alguém trabalhar produtivamente para ela. Fiz curso para que isso acontecesse. O meu gerente, àquela altura, era o mesmo gerente de quando eu estava no laboratório, Darci Machado Silva, me preparou nesse sentido dizendo: "Precisamos fazer com que a embalagem realmente fique consciente de que o mercado precisa de uma qualidade e satisfazer o cliente final. Porque só assim nós poderemos crescer e aumentar as nossas vendas." E passei a atuar na embalagem com duas pessoas que faziam atividade na embalagem, de controle de qualidade, que eram Mercedes e Dona Luísa. Mas elas na realidade eram muito mais coletadoras de amostras para ficar no controle de qualidade e envio de amostras para os Estados Unidos, que controlavam nós de longe, elas preparavam essa amostra, fabricavam essa amostra. Elas pegavam o frasco, limpavam o frasco com álcool, nós enganávamos os nossos amigos e patrões americanos, mandando uma amostra produzida artesanalmente. Totalmente incorreto. Nós acabamos com isso. Arrumamos brigas homéricas. Porque os Estados Unidos passaram a reprovar as nossas amostras e diziam que a gente estava produzindo produtos de má qualidade. Mas era aquilo que nós estávamos mandando para o mercado, tinha que retratar a realidade. E conscientizar a empresa como um todo, inclusive o marketing e promoção do que é que estava ocorrendo. Não era pura e simplesmente se preocupar com a aparência externa do produto, que existia àquela altura. Vamos nos preocupar com a parte técnica e qualitativa de proteção do produto. Nós começamos a atuar. Quando nós fizemos a primeira rejeição, eu estou falando coisa de cinco, seis anos de operação de Avon, eles nunca tiveram nenhuma rejeição feita pelo controle de qualidade. Quando nós tivemos a primeira rejeição, aquilo lá foi um fato que causou um problema terrível. "Como? Reprovado o produto? O que é que foi que aconteceu? Deixe-me ver." E eu tinha coletado amostras do lote representativo de dentro das caixas que já iriam para expedição. E deixei essas amostras a parte sabendo que alguma coisa diferente ia acontecer. E aconteceu. O senhor Darci já sabia, eu já tinha levado os problemas para ele, ele falou: "Tome a sua providência." Nós tivemos o gerente do controle de produção e inventário, o pessoal de marketing, esse assunto chegou até nas mãos do então presidente da empresa, que ele era chamado de gerente geral, àquela altura, o senhor Herbert Moss. Eu reprovei o material, mostrei o motivo, era o desodorante perfumado, era um rótulo quadradinho na face do frasco e isso ficava torto, horroroso, feio. Falei: "É isso aqui?" Fizemos a revisão, corrigimos e eu fui chamado pelo Emanuel Diniz Pinto Bravo, que era o diretor na ocasião, falou: "Olha, suba, que eu quero falar contigo." Lá foi o Claudinho, juntamente com o senhor Darci, conversar com o Bravo. E o Bravo chamou em sua sala o Moss. Naquela minha cabecinha eu falei: "Pronto, tô fora." Qual foi a surpresa de ter recebido um abraço do Moss? Isso é assunto muito, muito restrito, àquela altura foram quatro pessoas que participaram, dizendo: "É exatamente isso que nós precisamos dentro de Avon. Pessoas com esse tipo de espírito. Só assim, realmente, nós poderemos crescer." E de lá para frente foi realmente um crescimento constante e contínuo. O nível de qualidade subiu bastante. Mérito da produção que soube entender que o controle de qualidade estava para ajudar, não só para atrapalhar. Aquela guerra e briga diária trouxe benefícios maravilhosos para a empresa. Eles começaram a entender perfeitamente que eles eram os responsáveis pela qualidade e a empresa cresceu muito e tenho certeza que continua crescendo e vai continuar crescendo. Essa foi a minha passagem pelo controle de qualidade. Com todo esse conhecimento de formação apareceu a oportunidade de trabalhar como supervisor de embalagem, me candidatei a vaga e fui promovido, substituindo um colega que eu já o substituí no passado no laboratório. Ele deixou o controle de qualidade e passou para a parte de produção, foi trabalhar com os produtos e depois a supervisor de embalagem. E eu segui o rumo dele e o substituí como supervisor de embalagem. Isso foi no ano de 66, eu não tenho muita certeza dessas coisas, começam a se misturar. Até nós nos mudarmos da fábrica antiga, Avenida João Dias, 1645, se eu estou certo do número, para onde hoje é a fábrica nova, lá em Jurubatuba. A gente mudou para lá. Atuei alguns anos como supervisor de embalagem, juntamente com seu Luciano Nicolei, que tinha uma vastíssima experiência, era uma pessoa já de idade, comparada a minha, de quase dez a 20 anos de diferença de faixa etária, mas muito sábio. Aprendi muito com o Luciano na parte de comando e relacionamento humano. Porque a embalagem era, não sei hoje, a área que mais ocupava mão-de-obra da indústria. O número de moças era altíssimo. O seu relacionamento com as moças, através das inspetoras de linha, era enorme. Você começa a aprender a ter que lidar com o ser humano. Isso veio crescendo gradativamente a ponto de a gente poder fazer um trabalho junto às moças, eu passei a ser a pessoa que recepcionava as moças recém-admitidas. Nós fazíamos uma reuniãozinha antes de elas entrarem na linha de produção. Depois de ela ter passado por todos os testes. O Cláudio é quem as recepcionava e o Luciano falava: "Vai lá, orador." Ele me chamava de orador, diz que eu falava muito. Mas, a gente dizia para as meninas o seguinte: "Não usem o cabelo comprido e solto. Porque nós trabalhamos com máquinas em movimento. Não usem chinelos. Porque nós trabalhamos numa área onde pode ter vidro quebrado. Não usem salto alto. Porque nós trabalhamos num piso que pode ser liso por ter caído produto. Usem sapatos que a segurança esteja garantida, fechado. Nunca corram na embalagem. Lembrem-se, absorvente é para ser jogado no cesto de lixo e não no vaso sanitário para não entupir os nossos esgotos." Esse tipo de informação e de recepção das meninas que iam trabalhar na linha, feito pelo supervisor da própria área de atuação, dá uma importância muito grande para pequenos detalhes que no passado não eram levados em conta, passava-se a levar em conta tudo isso. Não usar brincos longos, não usar correntes, não usar pulseiras que fiquem penduradas. Essas informações, a gente passava porque a essa altura já tinha passado pela CIPA, que é a Comissão Interna de Prevenção de Acidente. Então se aprendia também muita coisa: como se comportar, o que é que é importante na segurança do funcionário, uso de EPIs. Durante todo esse tempo de um trabalho maravilhoso, conscientização e melhora da qualidade, relacionamento muito estreito com o controle de qualidade do qual eu era egresso. O supervisor do controle de qualidade foi admitido por mim na Avon Cosméticos, Pedro Luís Maggioli, sobrinho do João Maggioli. Ele entrou lá, aprendeu o controle de qualidade, ele era desenhista de formação, mas tinha característica, e quando ele foi admitido a gente aproveitou, treinou e ele passou a me substituir e nós trabalhávamos em lados opostos, mas, numa união de objetivos muito grande. Ele controlando a qualidade e eu produzindo a qualidade que deveria ser feita, juntamente com o Luciano. O Luciano ficava muito mais com a parte das moças, mão-de-obra, e eu ficava com a parte administrativa da embalagem. Emprego de tempo, produtividade, suprimento de materiais, responsabilidade de colocar os materiais na hora certa e, enfim, toda essa parte que é importantíssimo na resposta de fim de linha que vai fazer com que o produto chegue na expedição na hora certa e com a qualidade que a gente esperava. Nesse período, faleceu um colega nosso que era supervisor do almoxarifado. Chamava-se Júlio. E eu fui colocado lá, dois dias depois do falecimento do Júlio, no almoxarifado para ter um representante de confiança da Avon nas nossas portas de recebimento. Passei a usar gravata para dar importância à presença de alguém e fazer com que essa garantia de segurança fosse respeitada. Eu passei rapidamente por um detalhe: nós tínhamos uma pessoa que era o nosso superior imediato que se chamava Eduardo Peçanha. O Eduardo Peçanha era o superintendente da embalagem. O Eduardo ficava como responsável pela parte de manutenção, cujo supervisor era o seu Osvaldo Sobreira, responsável pelo nosso trabalho, respondia ao gerente da produção, que era o seu Rodomar Marques. O Eduardo, numa conversa conosco, a gente tinha muita afinidade, numa conversa ele falou: "Você já chegou no seu limite de competência." E isso está guardado na minha cabeça como aquela frase maravilhosa que deu um empurrão em alguém que tinha uma estrada para entrar e falou: "Se você quiser melhorar a sua posição na empresa você precisa fazer um terceiro grau, faculdade. Escolha e faça." A essa altura eu já tinha 36 anos. Casado, já tinha o primeiro filho. O primeiro filho já estava com seis para sete anos quando eu aceitei o desafio de fazer faculdade. E fui cursar Administração de Empresas. Que se encaixava dentro da atividade que eu exercia, que era cuidar administrativamente da parte da embalagem. Quando eu já estava no terceiro ano foi que, foi que aconteceu, infelizmente, o acidente com o Júlio, supervisor de embalagem. Ele foi num domingo tirar uma pipa da árvore para o seu filho com um cano e no meio da árvore, tinha fio de alta tensão. Foi ele Júlio, advogado formado, supervisor do almoxarifado exigente, membro da CIPA, estava sempre nos questionando a segurança da embalagem como um todo, o que era ótimo; e um engenheiro vizinho dele. Foram tirar a pipa com um cano. E tinha um fio. Os dois faleceram com uma descarga elétrica na hora, não deu nem para respirar. E eu fui colocado, conforme já havia dito como a pessoa de representação da Avon na porta das nossas áreas de recebimento. Três meses depois dessa colocação, fui promovido a supervisor de almoxarifado. Depois de supervisor de almoxarifado, coordenador de almoxarifado e, mais adiante, gerente do almoxarifado. O que é que me lembro o almoxarifado? Um desafio enorme, muita gente trabalhando, carrinhos hidráulicos transportando os materiais para todos os lados. E numa visita de uma pessoa na Avon Brasil, eu perguntei a ele se a gente poderia ter uma forma diferente de transporte. E ele falou: "Justifique-me. Como diretor na internacional, eu vou lhe dar o que você precisa. Só me justifique." E nós colocamos no papel a justificativa. Infelizmente, a justificativa é dolorosa. Porque representou ter substituição de mão-de-obra humana por carrinhos, por paleteiras, ou seja, eram equipamentos elétricos. Não deixava de ser um carrinho elétrico, tinha o mesmo conceito dos carrinhos hidráulicos, mas com uma rapidez muito maior. E muito menos cansaço. Não cansava a pessoa, não deixava ele fadigado. Nos pegamos os funcionários que sobraram, colocamos à disposição da empresa, e passamos a colocar as paleteiras elétricas e isso representou uma diminuição de 12 funcionários do quadro. Seis paleteiras, dois funcionários cada uma, foi o custo que eu passei para o diretor. Ele era um canadense que estava voltando dos Estados Unidos. Ele era de origem francesa, estava no Canadá. E com a justificativa feita, financeiramente falando apoiado pelo, então, que era gerente da engenharia industrial, uma pessoa super capaz, super intelligente, regresso do ITA, ele formou-se no ITA. Então ele nos ajudou a montar a justificativa financeira para ter essas paleteiras. Eu diria que eu sou uma das pessoas, no Brasil que começou a usar paleteira como equipamento de movimentação. Já se usava empilhadeiras, empilhadeiras pequenas, que tinham o poder de alcançar quatro ou cinco metros de altura. E depois, gradativamente, a Avon começou a crescer muito. Tive que aumentar as suas dependências. Se criou o armazém, que hoje é conhecido, aqueles armazéns de empilhadeiras especiais, que alcançam até 12 ou 13 metros de altura. Ou seja, corredores estreitos, aproveitando ao máximo o espaço disponível e o máximo de altura. Essa empilhadeira especial, dirigida por um sistema de emissão de freqüência no piso, exatamente no centro dos corredores. Essa empilhadeira, ela tem aproximadamente uns cinco metros de extensão. Ela precisa realmente andar em linha reta. Esse piso foi cortado de uma forma especial por técnicos estrangeiros vindos do Canadá, a laser, encontrado o seu centro geométrico para que ela não balançasse e não batesse. Porque o espaço entre a empilhadeira e as prateleiras é exíguo. Qualquer coisa ela bate. E o material fica dentro do corpo dela, numa parte que tem que a empilhadeira pega, coloca o material lá, ela leva e através de um sistema eletro-eletrônico, coloca lá em cima, num local pré-determinado. Essa parte esteve sob nossa administração, sob a nossa gerência, acompanhado por uma série de outras pessoas lá na empresa. Esse material, melhorando a produtividade. Porque no passado o material sairia do estoque, era levado por funcionários do almoxarifado na cabeceira das linhas de embalagem. Era um vai-e-vem de equipamentos muito grande. Perigoso. A empresa houve por bem substituir todo esse vai-e-vem, toda a lentidão que o processo criava, todo o perigo que representava para os funcionários. Imagine você, a embalagem é um vai-e-vem de pessoas enorme. Normal. E o suprimento para não deixar vazias, a mesma coisa, um movimento muito grande. Criou-se uma área especial que é chamada de staging area. Ou área de deposição. Através de umas esteiras no fundo do almoxarifado, onde as empilhadeiras especiais retiravam o material, determinado pela ordem de produção, colocavam nessa esteira rolante, levavam o material para essa área especial chamada de staging area, administrada e movimentada pelo pessoal do almoxarifado. Tirava o material da esteira e colocava em áreas específicas, separadas por tipo de linha e tipo de produto. Era uma área enorme, onde os materiais ficavam colocados. A responsabilidade de suprir as linhas ficou sendo da embalagem. Os funcionários da embalagem é que ficaram com a obrigação de vir buscar o material no staging area do almoxarifado e levar para a linha. Porque ninguém melhor do que eles sabiam quando estava precisando do material para você não superlotar as linhas e não colocar material indevido. Colocava-se o material correto. Esses funcionários, que eram o pessoal do suprimento, subordinados àquela altura ao supervisor da embalagem, trabalhavam em comum contato e comum acordo com o almoxarifado. A essa altura já era o gerente o Pedro Luís Maggioli. E o gerente do almoxarifado, o Cláudio Pincinato. Juntos nós continuávamos, cada um na sua área, procurando suprir as melhores necessidades da empresa para que ela crescesse. E é importante essa formação de pessoas para você atingir os objetivos comuns.
DESAFIOS Primeiro, e que bom Ser mandado por uma mulher. Angélica, minha primeira supervisora. Que no meu primeiro conceito, brava, exigente, mas depois, aprendendo conviver com esse lado e realmente sabendo qual era o objetivo dessa formação, eu me irmanei a ela e aprendi muito. Primeiro desafio foi aceitar ser mandado por uma mulher. Que bom Bem-vindas as mulheres. E depois, entender perfeitamente o que a Avon queria do seu funcionário. A Avon queria do seu funcionário o seguinte: que ele se doasse e se doasse, às vezes, ao ponto de deixar a sua família para trás. E isso aconteceu muitas vezes. Principalmente na administração do almoxarifado quando chegava a época de contagens físicas. Era entrar e sair quando terminasse. E só voltava para casa de madrugada. Saia de madrugada e voltava na outra madrugada seguinte. Porque você tinha um tempo curto para uma atividade tão grande e tão importante. Porque a contagem física dava à empresa a certeza de que os materiais realmente existiam. Nós chamamos isso em administração de materiais, acuidade. Acuidade quer dizer o seguinte: certeza de qualidade da informação, principalmente de materiais. Continuando com os desafios, um desafio é você realmente se dedicar até esquecendo a sua família. Mas com o objetivo principal de servir uma empresa que se preocupava bastante com a mulher do guarda-chuva. Vocês já ouviram falar na mulher do guarda-chuva? Ninguém falou ainda aqui na mulher do guarda-chuva? A mulher do guarda-chuva é a re-ven-de-do-ra. É aquela mulher que faça sol, chuva ou qualquer tempo, ela vai bater na porta do cliente dizendo: "A Avon chama." Nós, internamente, tínhamos uma responsabilidade muito grande: nunca deixar faltar para essa mulher do guarda-chuva o seu produto. Já que ela sacrificou todo o seu tempo, toda a sua vida, toda a sua condição, faça sol ou faça chuva, para vender o produto, nós internamente tínhamos o compromisso de honra de fazer com que esse produto chegasse às mãos dela. Esse era o compromisso do almoxarifado, um desafio muito grande. Não deixar desaparecer o componente. Porque o almoxarifado, com treze mil lugares, quase todos iguais entre si, os corredores todos iguais entre si, você pode entrar indevidamente num corredor incorreto e numa posição incorreta depositar o material e você perder esse material, porque ele não está registrado no controle de estoques onde ele foi colocado. Ele está registrado no seu lugar original. Você vai ao seu lugar original e não encontra o material. "Cadê?" Então, é dificílimo. E para que isso não causasse problema e aborrecimento, e causava, e de vez em quando a gente virava quase a noite procurando o material perdido, alguns critérios eram utilizados. Frasco de vidro. Nunca era colocado acima do terceiro andar. Porque ele é pesado. Sendo pesado a empilhadeira não levaria, porque ela abre uma válvula de segurança e não deixa subir. Então, se fosse um frasco de vidro que tinha desaparecido a gente só ia procurar até o terceiro andar. Segundo, esse frasco foi entregue por quem? Pela Wheaton do Brasil? Nós vamos procurar caixas identificadas da Wheaton do Brasil. Você começa a ser seletivo na procura. Se for frasco plástico, ele pode estar no quarto ou quinto andar, sexto. Porque fizeram seis níveis. Você começava: "Quem entregou? Qual o fornecedor?" Você começava a fazer esse tipo de seleção. Mas para evitar que isso começasse a se tornar oneroso demais, quando aumentava o movimento a probabilidade de cometer erro e ferir a acuidade era muito grande, nós passamos a fazer, juntamente com o Aurizé Lucas Wandermuren, que foi uma pessoa que veio prestar serviço para a Avon no almoxarifado via contabilidade de custos, e foi um desafio que eu tive também, de provar ao nosso diretor, que não concordava com a vinda dele, de que ter um homem com essa formação seria altamente importante na parte administrativa do almoxarifado, que tinha muito de movimento contábil, e junto com o Lucas nós iniciamos o que nós chamamos de Contagem Rotativa e Contagem Geográfica. Ou seja, programa-se por dia uma determinada quantidade de materiais e códigos a serem contatos. Nós não ficamos somente com a contagem física, que eram duas vezes por ano. Nós inserimos a contagem rotativo-geográfica, ou seja, nós chamamos trabalho para nós. Não nos preocupamos com a quantidade de trabalho, a gente procurou se preocupar com a acuidade, ou a certeza do material. Então, começava a contar o material. Contava o código, ele tinha que estar parado, sem movimento. Isso era escolhido a dedo. Essa quantidade contada era informada para o sistema de computação, fazia essas comparações e nasciam ajustes, se necessário fossem, para mais ou para menos. Esses ajustes tinham que ser justificados para a empresa, não era pura e simplesmente fazer o ajuste por fazer. Ele tinha valores, tinha conta. Tinha que justificar para o diretor, tinha que justificar para o Controle de Produção e Inventário, tinha que justificar para o vice-presidente, para o presidente quando chegava ao ponto de subir a tanto. Mas, foi uma forma que nós encontramos, independente de chamar trabalho para nós, de melhorar bastante o serviço prestado pelo almoxarifado, para um dos principais objetivos, que era colocar o componente na hora certa, na linha correta, dento do staging area. E não deixar a linha parada, esperando material, porque ele estava perdido. Então, isso trouxe uma melhora de qualidade no almoxarifado muito grande. E esse processo todo, que foi muito bem discutido, por Lucas, por Cláudio, pelo Ariovaldo Cardoso, que àquela altura era o responsável e supervisor do estoque. Mas nós três conversamos muito, porque movia as três áreas. E o gerente, que era o responsável maior, para poder admitir esse trabalho adicional sem você receber nenhuma mão de obra adicional, era muito mais sacrifício de atividade, para obter resultado. E a gente realmente foi muito feliz. Esse foi outro desafio que a gente teve e por sinal na minha visita agora na Avon, dos 50 anos, eu fiz questão de passar pelo almoxarifado e uma das coisas que eu tive alegria de ver foi de que a contagem rotativa e a contagem geográfica estão funcionando até hoje. Ou seja, 30 anos atrás, algo que nós começamos até hoje ela é levada a dedo.
PRINCIPAIS REALIZAÇÕES Minha principal realização na Avon foi a promoção das pessoas. O almoxarifado era a área que tinha um dos salários mais baixos da companhia. Pela própria natureza de atividade, que não requeria especialização. E como é que nós mantínhamos a moral da equipe elevada? Nós éramos um dos seleiros da empresa. Quando se precisava de alguém, batia-se na porta do almoxarifado à procura desse alguém. E se nós tivéssemos alguém, a gente cedia. Um dos grandes trabalhos do administrador de uma empresa é desenvolvimento de pessoas. Segundo, servir a empresa com uma mão de obra bem preparada. Terceiro, não tinha importância que não fosse para sua área, mas era para a Avon, então toda vez que nós promovíamos alguém, nós nos sentíamos altamente realizados. Primeiro, por atingir o objetivo, de exemplo para o quadro que ficava, e segundo, porque a gente premiava os melhores. Aqueles funcionários que a gente considerava os aproveitáveis, a gente tomava a liberdade de tratar, inclusive colocávamos à disposição de RH: "Olha, nós estamos com um funcionário que está explodindo." Toda vez que eu me lembro eu lembro alguns nomes, eu não vou nem citar, tem um monte deles, de pessoas que nós promovemos, que beleza. Eu lembro um com certeza, que foi o Pedro Luís Maggioli, lá atrás. Lá atrás eu ajudei ele a subir no controle de qualidade, com os treinamentos e indicações. Por exemplo, eu vou falar de um, que ele chegou a diretor, que foi o próprio Pedro Luís Maggioli, quando ele foi admitido lá atrás, como controle de qualidade, preparado pelo Cláudio, promovido à indicação do Cláudio, depois ele chegou a diretor. Eu tenho certeza que nós tivemos uma participação bastante ativa e ele entendeu o espírito da Avon, o espírito de amor e sacrifício lá atrás, quando ele era mais novo, mais impulsivo e chegar a diretor. E outras satisfações foram, por exemplo: José Carlos Sanches. José Carlos Sanches, ele começou na Avon como estagiário e depois ele foi promovido, foi admitido, promovido, chegou a gerente da fabricação, José Carlos Sanches. Como gerente de almoxarifado nós tivemos trabalhos bastante integrados, porque ele era o responsável pela guarda e manutenção da matéria-prima recebida pelo almoxarifado. Parte do material era guardado no estoque novo do almoxarifado, as matérias-primas. Nós tínhamos que guardar, retirar, porque as empilhadeiras especiais é que podiam entrar lá e fazer isso, as outras não. A gente tinha que trabalhar muito estreito para ele poder fazer os seus cremes, loções, colônias. Em tempo hábil, a gente participava disso. Essa participação, esse relaxamento curto também eu vi lá na frente, com José Carlos Sanches, ele diretor da empresa. Eu já estava fora. Nesses dois casos, Pedro e o José Carlos Sanches, eu já estava fora da Avon, aposentado. E eu acabei depois sabendo dessas promoções e muito feliz, porque parte daquilo lá me promoveu. Os nossos ensinamentos, as nossas conversas, as nossas batalhas. Teve outra atividade também que me deu muita satisfação foi a participação no início do controle microbiológico dentro de Avon. A microbiologia, num momento qualquer, passou a ser necessária. E eu participei ativamente junto, aquela altura com a Tereza Rabelo, que era uma das responsáveis. Depois, a Lúcia, que ficou sendo a responsável. A gente trabalhava também no sentido de procurar obedecer a proteção aos materiais e embalagem. Caixas fechadas evitavam entrar poeira, evitar transferir poeira para embalagem, procurar manter os pallets limpos na hora do suprimento. Tudo isso interferia, e muito, no resultado do controle microbiológico, dentro da empresa. A Avon foi uma das primeiras empresas de cosméticos a adotar esse controle microbiológico, respeitando e muito o consumidor.
Essa é a Avon. Quando tem alguma coisa para fazer, e ela faz com o sentido de sempre atender o consumidor, ela não mede sacrifícios internos, faz investimento, participação das pessoas que entendem a política e o desejo da empresa.
RELACIONAMENTO COM COLEGAS É lógico que uma pessoa conhecedora da Avon, da forma que eu era, procurava ter um relacionamento até afável, desde que esse relacionamento não prejudicasse a empresa. Não foram poucas as vezes que nós tivemos que admitir trabalhos adicionais no almoxarifado em benefício da empresa. O relacionamento procurava ser o mais cordial possível e com objetivo de atender a empresa. Mas firme. Quando era para não falar, não era. Não era possível. Então, era um relacionamento profissional, quando necessário e bastante aberto e afável, quando precisava do envolvimento e comprometimento da área que se trabalhava, que era o almoxarifado. Existe uma pessoa que sempre ajudou a balança do almoxarifado a ser equilibrada e manter equilibrada, que é o senhor Aurizé Lucas Wandermuren. Por sinal, Aurizé Lucas Wandermuren, aposentado há dois anos, ele chegou a 37 anos de companhia. Eu deixei o almoxarifado e isso depois ficou nas mãos dele. E ele até transformou o almoxarifado muito melhor do que eu. Parabéns a ele. Mas eu fico feliz, porque ele foi preparado por mim. Parabéns para ele.
IMPORTÂNCIA DA AVON Eu vou falar mais de almoxarifado, que foi uma boa parte. Avon era uma empresa considerada maravilhosa. Por quê? Ser humano não era número e nem parafuso, para ser trocado pura e simplesmente. O ser humano era para ser respeitado. Avon era considerada uma empresa muito humana. Ela concedia benefícios mil. Nós tínhamos um plano de saúde maravilhoso, não existia diferenciação entre o eventual presidente e os funcionários, o plano ou a clínica era a mesma utilizada. Restaurante. Que coisa maravilhosa. Casa nenhuma é capaz de manter a variação, qualidade de restaurante que a Avon tinha. Não posso falar agora, porque fazem vinte anos que eu deixei a empresa. Então, eu não posso falar. Mas àquela altura, como todo amor que a minha Mariazinha fazia a refeição de casa, ela poderia ter mais amor, mas a variação e a qualidade... Obviamente isso tinha o reforço das pessoas competentes da área, essa era outra parte que era bem cantada pelos funcionários. Condução. Maravilhosa. Trazia o funcionário, basicamente, da porta de sua casa, dentro da empresa. Ás vezes mudava-se o percurso do ônibus para passar na frente da casa do funcionário, para facilitar. Esses benefícios eram considerados maravilhosos. Fornecia internamente uma assistência medica maravilhosa. Se você tivesse uma dorzinha no dedinho, você ia lá e era atendido pela Terezinha, tô vendo a Terezinha na minha frente. Doutor Mateus... De uma forma maravilhosa. Quando o supervisor da embalagem, era comum você ter as moças passando, hoje se chama TPM, de uma forma moderna. Isso sempre existiu entre as mulheres. De vez em quando a gente tinha uma menina sendo subtraída da linha, porque ela estava passando por dores de menstruação. E como é bom você ter do outro lado, na supervisão, pessoas humanas como tinha o Luciano. Ele tinha filhas, tinha esposa. O Cláudio, que tinha esposa, sabe que essas coisas acontecem. Às vezes, a moça ficava o dia inteiro deitada, ela deixava a sua linha e era atendida pela assistência medica interna. Então, a Terezinha vinha lá, ou para mim, ou para o Luciano, falava: "Olha, a Maria, infelizmente, hoje não vai trabalhar. Ela está lá sendo medicada. Ela não tem condições de trabalho." E isso se aceitava perfeitamente. Independente do prejuízo que você, como supervisor da embalagem, que tinha uma resposta a dar. Você não podia abater isso da produção. Você concordava perfeitamente, de uma forma humana. Você sabia necessário e era possível. Então, essa parte também, maravilhosa. Fornecimento de uniformes, até para casa você poderia ir de uniforme da empresa. Você não precisava nem de roupa para vir trabalhar, você levava o uniforme para cá. Lógico, você era responsável por uma quantidade qualquer e você respondia por isso. Se amanhã ou depois fosse demitido ou pedisse demissão, você tinha que responder pelos uniformes. Mas a empresa não se preocupava se você levasse. Lógico, as pessoas não iriam levar para casa, para fazer a mamãe ou a esposa lavar roupa da indústria. Levava na lavanderia, a lavanderia levava e depois voltava e a pessoa ia buscar. Mas, se quisesse levar para casa até poderia. Então, são benefícios que a gente não pode esquecer. E falando de um nível um pouquinho mais alto, isso eu estou falando de quadro comum. O que os funcionários pensavam da Avon. Falando de uma forma mais pessoal, num momento qualquer da vida Avon, ela começou a conceder carros. Para determinados cargos, por exemplo, gerente. Gerente passou a receber um carro novo da empresa. Sem gastar um tostão. A não ser pagar a manutenção e o consumo de combustível, isso daí ele tinha que pagar. Mas seguro, licenciamento, o carro propriamente dito e, com mais um benefício agregado: depois de três anos, quando trocasse o carro, esse carro era comprado pelo seu proprietário, o que estava utilizando o carro, por um valor residual. Ou seja, era um valor bem baixo em relação ao mercado. A pessoa recebia o novo e ficava com outro para si. Ele pagava um valor residual, poderia dar para a esposa ou vender, com lucro. Esse benefício era perfeitamente recebido e entendido pelos funcionários.
FAMÍLIA Sugiro que o mundo se transforme num mundo maravilhoso como é o meu lar. Casado, há 44 anos. Maravilhosamente bem casado. A gente poderia consertar o mundo que está aí se a gente pudesse ver isso acontecendo nas outras famílias. Minha esposa se Maria. Tratada amorosamente dentro do lar por Zinha, Mariazinha.
Eu tenho sete para oito anos mais do que ela. Eu quando jovem jogava bola, futebol e dançava. Ainda danço de vez em quando, mais em festas particulares. E eu dançava e dançava num salãozinho de um clube, que ficava no caminho da Dona Mariazinha, uma meninota. Ela tinha 12, 13 anos. E eu passava para ir dançar e a via no portão, no muro. Uma menina linda de morrer. E ela foi crescendo e os meus olhos também. E num momento qualquer eu pedi para namorar com ela. E começamos a namorar. Um namoro que durou sete anos. Porque era difícil você obter as coisas, você tinha que fazer uma poupança. Hoje os financiamentos são fartos e fáceis, àquela altura não tinha muito disso. Daí o fato de ter se prolongado mais o nosso namoro. Segundo, eu trabalhava no armazém. O meu pagamento era quase nada, era a roupa, o estudo, não tinha nada disso. Com dois anos de Avon nós nos casamos. Mesmo ganhando o que eu falei na entrevista, um salário mínimo e meio no começo da minha atividade. Deu para fazer economia e mais a promoção, logo depois, a técnico de laboratório, me deu um salário melhor e nós nos casamos. Foi um amor mantido e regado com uma semente para crescer gradativo. E que perdura até hoje. Ou seja, já são 51 anos de conhecimento. Foi assim que eu a conheci, linda de morrer, maravilhosa. Amor, não é à primeira vista, não, amor mesmo. Porque amor à primeira vista, às vezes se esvai. Esse foi amor mesmo.
Tenho dois filhos. Dois anos depois de casado veio o Claudinei. Hoje, formado, engenheiro mecânico. Avon ajudou a formar, porque pagou meu salário, com o qual eu pude pagar a faculdade. Formado engenheiro mecânico, está morando por incrível que pareça no México. Então, Claudinei, hoje formado, com 42 anos. Tenho uma netinha de 11 anos, morando no México, em Puebla. Eles estão trabalhando por lá, já faz um ano e meio, trabalha também numa multinacional e está prestando serviço lá no México, em Puebla. E eu tenho o caçula, que é o bonitão, como dizem as meninas, 33 anos, ainda solteiro. Deverá casar-se no dia seis de fevereiro de 2009. Ele deve casar-se. Espero que ele faça o curso de noivo conosco. Vai fazer.
LAZER Eu sou altamente caseiro. Onde a Maria está o Claudinho está. Onde o Claudinho está a Maria está. Todos os nossos programas são feitos normalmente juntos. Com raríssimas exceções, a gente sai para alguma atividade solo. Eu sou lar. Muito lar.
VENDA DIRETA Pensar que esse tipo de venda no Brasil, nasceu com a Avon. Porque a gente, àquela altura... Eu posso falar com bastante conhecimento de causa, eu trabalhava num armazém. E a gente não tinha outro tipo de chegada de material no mercado, a não ser pelas lojas, farmácias, armazéns, não existia supermercado ainda. Supermercado começou, mais ou menos, na década de 60. A Avon inovou e revolucionou, no nosso Brasil uma forma de fazer a chegada do produto ao consumidor. Ou seja, já que Maomé não vai à montanha, a montanha vem à Maomé. A importância é enorme. E eu, particularmente, não mudaria nada. Se houvesse alguma correção a ser feita, eu não sei, não sou da área, não posso criticar. Melhorar, se alguma falha existe, nessa forma de venda. E se houver uma necessidade dentro dos conceitos de mundo moderno, hoje, onde você tem shoppings, supermercados enormes. Onde a segurança está altamente balançada para você atender as pessoas na porta. Seria, talvez agregar alguma coisa, mas não abandonar esse sistema que hoje, a segurança está fazendo com que ele seja olhado com cuidado. Mas, via de regra, a revendedora sabe e consegue chegar nesses ambientes de controle, de segurança enorme. Ela consegue fazer isso. E eu nunca tive nenhuma mensagem, até hoje que alguém fantasiado de Avon tivesse cometido um deslize utilizando essa fantasia. A gente já viu de bombeiro, já viu de medidor de água, de telefone. E espero que nunca seja colocada a Avon dentro desses parâmetros. Eu não mudaria nada. Ela colocou isso aqui e foi seguida por muita gente, hoje existem centenas de empresas que fazem o seguimento desse sistema de venda. Por quê? Porque foi um sucesso. Uma empresa que começou em 1959 e que quando eu comecei, tinham 400 funcionários. Nós éramos mil e poucas revendedoras. Chegar a um milhão e duzentas mil. Chegar a ter mais de seis mil funcionários. O que é que a gente tem que mudar, a não ser aprimorar ou agregar, mas mudar não. A Avon foi a iniciadora e hoje é seguida por centenas de empresas, inclusive os concorrentes, dentro da mesma área de atuação.
AVON E A MULHER Maravilhoso. Eu tenho certeza, eu conheço pessoas que começaram a ter uma atividade profissional, porque não deixa de ser uma atividade profissional, depois de 40, 50 anos. Conseguiram ser nomeadas revendedoras e revendem na região onde moram, sem ter muito sacrifício, de movimentação, de um bairro para o outro, numa área mais ou menos bem definida, ela consegue uma renda que representa um salário e, às vezes de um funcionário de comando, de executivo. É só ela ter garra, uma área de atuação. Trouxe o benefício, principalmente algumas mulheres, de ter o seu ganho próprio, sem sair muito de sua área de moradia. Eu acho isso maravilhoso. Daí as um milhão e duzentas mil revendedoras, e que eu tenho certeza que se abrisse um pouco mais, seria mais.
LOGÍSTICA Para uma pessoa que começou lá em 1972, eu escutei histórias mil. De o produto chegar às áreas mais distantes quando estava enchente, levadas por barco, levadas, enfim, por uma forma inusitada de fazer o material chegar na mão da revendedora. Porque é um compromisso muito sério, a hora que vendeu, fazer com que o produto chegue na mão do consumidor, não vai decepcioná-lo. Ele conta com isso para um presente, para uso próprio. Enfim, mil formas e que faz esse produto chegar ao mercado. E Avon nunca mediu esforços para fazer com que isso chegasse na mão do consumidor. A Avon, reconhecidamente, a maior empresa de distribuição, de logística de material. Saindo, às vezes, de São Paulo e atingindo locais inacessíveis e inimagináveis. Maravilhoso.
AÇÕES SOCIAIS Enquanto eu estava em Avon, algumas ações a gente viu acontecer. Por exemplo: esporte. Ela deu apoio a alguns esportistas. Eu não vou conseguir, com muita facilidade lembrar os nomes. Mas, internamente, por exemplo, ela dava um apoio muito grande para o pessoal, quando participava das atividades, que eram comandadas pelo SESI. Eu me lembro perfeitamente que nós demos apoio, através de um momento qualquer que o Odécio Lenci esteve na presidência temporária da empresa, de suporte a uma casa, que é como se fosse uma creche, por exemplo. Não era bem esse o conceito, mas a Avon começou a dar esse tipo de apoio. Primeiro foi esporte, depois, esse. Eu sei que hoje, você tem uma centena deles. Nesses 20 anos longe, a gente perde um pouquinho o contato. Mas, eu sei que ela continua investindo. E que transforma ela numa empresa altamente respeitável. Eu tenho dito sempre em qualquer lugar que eu vou: "Se as nossas empresas brasileiras tivessem o mesmo conceito de respeito que a Avon tem, pelo meio ambiente, pela sociedade, pelo ser humano, não precisava ser 100%, se fosse só um percentual, esse aqui seria um país muito diferente do que ele é.” E a Avon é quem, tenho certeza, que gradativamente foi puxando uma série de olhares para esses investimentos individuais. Tem uma coisa maravilhosa que eu passei batido e não falei que é a creche. Você quer coisa mais maravilhosa do que a creche dentro de Avon? Só quem conhece, quem viu aquilo e quem participou, inclusive, eu tinha funcionárias que levavam os seus filhos na creche, por um determinado período. Saia, autorizada por nós para amamentar. Vocês querem coisa mais maravilhosa do que um benefício como esse? Eu passei batido nos benefícios. Esse beneficio é altamente louvável. E ela foi, basicamente, uma das primeiras indústrias nacionais a colocar uma creche dentro do seu ambiente profissional de trabalho. Eu tenho certeza que hoje já foi seguida. Parabéns para quem seguiu.
FATO MARCANTE Houve alguns fatos, alguns agradáveis e alguns desagradáveis. Mas, infelizmente, o que mais marcou foi um desagradável. No primeiro dia de atividade de Avon em Jurubatuba, nós tivemos três funcionárias nossas atropeladas. Duas sem gravidade, lógico, machucou. E uma que infelizmente ficou com uma seqüela para vida toda, ela teve um problema de locomoção. Ela se locomove, hoje eu não sei se está viva, mas como isso foi da ordem de 1969, se eu não engano, que a gente mudou em 70. No primeiro dia de atividade, três funcionárias, e que eram minhas funcionárias. Veja o quanto aquilo doeu, o quanto aquilo machucou. Você iniciar uma alegria e ao mesmo tempo levar uma pancada dessa. Eu até já procurei o nome dela nas minhas memórias e acabei, infelizmente, não conseguindo lembrar. Então, ela ficou com seqüelas, nunca mais trabalhou na vida, mas de vez em quando ela aparecia, quando nós tínhamos festa. E toda vez que me via me emocionava muito, porque ela vinha me abraçar, a gente respeitava muito. Sempre respeitei bastante as funcionárias, porque era uma vida sacrificante você ficar sentado numa linha de produção muito tempo, não é fácil não. Mas isso foi um fato bastante desagradável. Esse marcou, infelizmente, mais do que todos ou outros, pelo envolvimento que teve. Uma festa e ao mesmo tempo uma noticia super desagradável. Agora, teve outro desagradável que foi por incrível que pareça, nós tivemos uma greve. Uma empresa maravilhosa, com mil concessões, salário o melhor da região e houve uma greve. Lógico que foi uma greve política, o sindicato quis mostrar o seu poder como sindicato. Existiam razões políticas atrás dessa greve e alguns funcionários acabaram, infelizmente aceitando o desafio que o sindicato propôs e acabou maculando a imagem que a gente sempre teve da Avon. Alguns funcionários se excederam. Os funcionários não podiam entrar, eles eram impedidos. E o pessoal do comando, diretores, gerente, supervisor, tinha que entrar na empresa. Nós passávamos por um corredor polonês Sem agressão física, não existia agressão física, mas o que você ouvia de agressões verbais, com a sua moral, com o seu comportamento. Isso também marcou, de uma forma bem desagradável. Felizmente, foram essas duas. Agora, positivas, meu Deus do céu. Quantas. Foram tantas. Cada festa que nós tínhamos, cada promoção que a gente via acontecer. Quando você via um funcionário, que você lutava e batalhava por ele, mesmo não sendo da sua área, ser promovido, isso era uma alegria muito grande, marcante positivamente. Eu tenho exemplo, que vale a pena ser contado. O Diniz. Diniz era um funcionário da expedição. Quando o supervisor da embalagem, ainda na João Dias, num momento qualquer o Diniz veio me pedir que queria trabalhar na embalagem, como era chamado de verdão. O funcionário da embalagem usava uma roupa verde, um uniforme verde. Então, era o verdão. Ele falou: "Tô aborrecido, cansado da vida daqui." E eu conhecia o trabalho de Diniz, por quê? Porque quando o controle de qualidade, eu tinha que fazer visitações å expedição para ver a qualidade, às vezes, sabonete como é que estava. Eu fazia uma avaliação dos produtos lá, para ver se nós estávamos realmente obedecendo aos critérios qualitativos. Existiam alguns critérios que a gente tinha que fazer uma fiscalização. E eu conhecia o trabalho do Diniz. Eu falei: "Diniz, peraí Não me diga que você está querendo deixar o trabalho que você faz para vir aqui carregar caçamba, carregar pallets. Não faça isso. Não faça isso. Espere a sua vez, e a sua oportunidade vai chegar. Faça o seguinte: estude." Eu falei para ele antes o que o Eduardo falou para mim. Eu falei: "Estude. Melhore a sua condição. Eu tenho certeza que você vai ser uma hora qualquer." E esse foi um dos momentos bastante alegres, porque lá na frente ele foi promovido, chegou a ser supervisor do estoque da expedição. Esse foi um fato marcante, bastante agradável. Eu tive uma centena de outros, se eu fosse relatar aqui. Lembro-me de outro também. Uma das nossas inspetoras de linha, quando supervisor de embalagem, Graça, nós a chamamos. Maria das Graças, Graça. A Graça, inspetora de linha, andava aborrecida com o trabalho dela. Eu falei: "Mas, qual é o problema, Graça? Que é que você gostaria de fazer? Se fosse pra fazer alguma coisa aqui, você teria que entrar no lugar de um de nós. Eu não vejo esse tipo de possibilidade. Mas, por que você não melhora o seu grau? E você, que já tem um monte de coisa boa, a gente pode, amanhã ou depois, te oferecer à empresa pra ser aproveitada numa outra área." E foi o que aconteceu. Ela começou a estudar, ela fez Administração de Empresa e num momento qualquer lá na frente, eu ajudei a promovê-la para o controle de produção e inventário. Ela deixou a embalagem, numa melhora de atividade, obviamente, melhora salarial. E ela foi trabalhar no controle de produção e inventário. Foram coisas como essas. Alegria me dá, por exemplo, hoje de lembrar que algumas pessoas que fizeram estágio conosco no almoxarifado, passaram por lá, tiveram depois realce na empresa, com pequenos detalhes que a gente passou de vivência. A vivência que a gente tinha de Avon, fazia com que o funcionário pudesse entender as coisas de Avon e olhasse, às vezes vinha reclamando de algum detalhe, eu falava: "Calma, não é por aí, vá devagar, tenha paciência." E a gente conseguiu ver algumas pessoas chegarem ao topo da empresa, eu já citei dois exemplos. Mas, a presidente da empresa brasileira, ela também, lá atrás, fez um estágio conosco, no almoxarifado. Ela era funcionária da parte de orçamentos. E depois, obviamente foi promovida para as outras áreas, andou trabalhando numa série de áreas da empresa e eu já fora da empresa, aposentado, tive a alegria de vê-la promovida à presidente. A Eneida Bini. Que alegria ver a Eneida promovida. A primeira presidente mulher do Brasil. E não deixou de ter uma sementinha nossa, lá atrás, falando da Avon, o que é que era Avon. Para uma pessoa nova na empresa, sabe que essas coisas marcam muito. Eu falava: "Tenho tantos anos na empresa." E ouvia falar com tanto entusiasmo, isso tenho certeza que ajudava essas pessoas a decidirem ficar na Avon. A Eneida é um dos exemplos que a gente teve. E tenho outra centena de alegrias.
Outro fato marcante que aconteceu e que marcou a minha vida muito. Que mostrou, naquele momento, o quanto eu era querido. Quer seja na empresa e quer seja pela minha família, principalmente pela minha esposa. Em 1982, eu fui levado ao México pelo Amílcar Melendez. O Amílcar Melendez era diretor na área de materiais. E eles estavam enfrentando dificuldade na administração do almoxarifado deles. Então, dos Estados Unidos veio uma orientação que eles queriam mandar alguém da Inglaterra para o México. E o Almícar falou: "Não. Pode parar. Eu conheço o melhor administrador de almoxarifados da Avon mundial." Que alegria, inclusive, quando eu ouvi falar isso. Não cabia dentro de mim. Mas o Almícar Melendez me convidou. Obviamente, convidou através da empresa, foi permitido. Eu passei um mês e meio, aproximadamente, trabalhando e corrigindo lá uma porção de desvios. A gente conseguiu uma economia em pesos mexicanos, que transformados em dólar, isso que era o objetivo da empresa, muito maior. Porque o peso mexicano, lá em 1982, tinha um peso maior do que o nosso cruzeiro, nós andávamos numa inflação de 70, 80%. Então a gente trabalhava, vendia. Quando transformava o nosso cruzeiro em dólares, mandava um punhadinho de dólares para os Estados Unidos. Nós éramos considerados nada. O México valia muito mais. Lá foi o Cláudio para o México. Fiz um trabalho, que eu reputo até como muito bom. Trouxe uma série de resultados, estavam pretendendo alugar um terceiro armazém, porque não cabia o material. Algumas ações que fiz se permitiu que não só se alugasse um novo armazém, como se eliminasse excessos dentro dos armazéns antigos. E sobrou espaço sem ter que investir ou gastar aluguel, por exemplo. Muito bem. Tratei do sistema de localização, uma série de detalhes. Em 85, novamente o México necessitou do Claudinho e lá foi ele. Chegamos numa determinada data, à noite, isso devia ser por volta de umas 11 horas da noite. Hora México. Deveríamos ter ido para um hotel escolhido pelo Ailton. Ailton foi o colega da parte de manutenção de embalagem, que foi conosco. Ele falava: "Quero ficar perto da zona de visitação dos turistas." O México sugeriu, um hotel no centro, na Zona Rosa, que chamava-se Regis Hotel. Quando nós chegamos, o pessoal do México, que foi nos buscar, ao invés de nos levar para lá, por uma necessidade interna de locomoção de pessoas, falou: "Olha, não vai ser possível, porque senão vamos ter muito trabalho." Nos levou para um hotel chamado Chapultepec. Mais próximo de Avon México. Por facilidade de locomoção eles tinham hóspedes do exterior lá, para levar todo mundo junto. Na manhã seguinte, quando nos levantamos, sete horas, eu e Ailton estávamos tomando café, começou a tremer a mesa. Para nós um fato inédito, nunca tínhamos visto isso, nunca tínhamos passado por nenhum terremoto, coisa semelhante. Começaram a cair os talheres, xícaras em cima da mesa, quadros da parede. O pessoal começou a correr, os hóspedes de modo geral. E nós, pasmos. Ficamos parados. Eu não sabia o que estava acontecendo. Vieram os garçons, nos pegaram e disseram o seguinte: "Fiquem aqui." Colocaram-nos embaixo da soleira, que eram enormes: "Não saiam daqui. Aconteça o que acontecer, pode cair o Hotel. Fiquem aqui." Isso durou três, quatro minutos. Nós escutamos o barulho que fazia e tudo caindo, mesas e quadros, lustre. Falei: "Meu Deus. O que é que tá acontecendo?" Parou. E nós fomos trabalhar. No trabalho, nós começamos a ouvir os comentários do pessoal da fábrica. De que tinha havido um problema seríssimo na Cidade do México, no Centro, principalmente. Porque a abrangência do tremor foi da ordem de oito, qualquer coisa, na Escala Richter. Balançou muito. Derrubou centenas de milhares de casas e prédios. E esse Regis Hotel, que nós lá deveríamos estar e que pela providência divina o papai não quis que nós fôssemos lá, papai do céu falou: "Não, vocês vão estar fora disso aqui." Nos mudou de local. Nesse hotel não se salvou ninguém. Nós ficamos sem nenhuma comunicação para lado nenhum. Eu só tive um pequeno telefonema que eu fiz. Liguei para o consulado brasileiro, aqui no México, ainda tinha comunicação interna e falei: "Eu sou Fulano de Tal e eu estou vivo. Se alguma coisa acontecer diga que nós estamos bem." Eu e Ailton. Foi o que eu consegui passar adiante. Nunca mais tivemos nenhuma comunicação. Uma semana e meia depois, no nosso hotel, passam alguns repórteres brasileiros e entre eles, Ernesto Palha. O repórter. E eu, obviamentente, quando vi fui perguntar o que é que eles estavam falando. E o conhecia, porque já o tinha visto na mídia. Falei: "Oh, Ernesto. Que é que você está fazendo aqui? Sou brasileiro, tô no meio desse tumulto todo sem comunicação, sem nada. No nosso país estão imaginando que nós, obviamente, morremos. Porque não houve mais comunicação. Quando é que você vai embora?" "Amanhã." Eu falei: "Maravilha. Você vai fazer o seguinte. Posso tomar a liberdade de pedir a você que ligue para a minha esposa e para a esposa do Ailton?" "Tudo bem." Dei o telefone dos dois: "E você poderia me levar uma carta?" Eu fiz uma carta. E ele trouxe a carta e assim que ele colocou os pés no solo brasileiro, do aeroporto ele ligou para a minha casa e ligou para a casa do Ailton. Falava: "Eu sou Fulano de Tal, estive assim, assim. Encontrei o seu marido vivo, bem. Ele mandou dizer para Zinha..." Foi o código, porque Zinha é o tratamento interno amoroso. "Ele mandou dizer para a Zinha que ele está bem.Eu trouxe uma carta dele que eu vou colocar no correio, que deve chegar na sua casa amanhã ou depois de amanhã." Foi assim que dez dias depois nós dissemos que estávamos vivos. Eu queria registrar isso, que é muito marcante na vida. E depois, mais uns cinco dias, pela própria condição psicológica, quer seja do país, quer seja nossa, o trabalho que nós fomos fazer foi interrompido e nos mandaram de volta. Ninguém sabia que nós estávamos voltando. Ninguém sabia. E eu fiz uma surpresa e brotei na minha porta sem avisar ninguém. E a primeira pessoa que me viu foi a minha sogra. Maravilhosa. A sogra, coitada, elas são chamadas de sogra no dia seguinte do casamento. Até ontem era Dona Maria, de hoje em diante é minha sogra. Não é nada disso. Elas são um poço de sabedoria, só basta entendê-las. Minha sogra maravilhosa correu, me abraçou, começou a chorar, gritar. A esposa apareceu na janela. Arrepia contar isso porque também foi um fato muito marcante. Quem me levou lá as duas vezes, Amílcar Melendez. Quando ele administrava a nossa empresa, duro, exigente, como tem que ser. Uma responsabilidade enorme que ele tinha e, no entanto ele reconhecia o mérito de cada um dos seus funcionários ao ponto de em 1982 dizer: "Eu tenho o melhor administrador de almoxarifados do mundo. Deixe-me trazê-lo".
LIÇÕES DE VIDA Eu tenho a impressão que essa entrevista aqui está falando muito do aprendizado que eu tive. Aquele menino, 26 anos, encolhidinho, talvez até um pouco tímido, conseguiu crescer junto com a Avon. Eu tenho certeza que eu cresci mais que a Avon, pessoalmente falando. Aprendi muito, aprendi a conversar, aprendi a dialogar, aprendi a aceitar as adversidades, aprendi a viver com mais sabor as vitórias. Isso tudo foi a Avon que me deu durante o meu aprendizado. Fui promovido umas porções de vezes, em diversas áreas. Porque a troca que existia entre o ensinamento e o aprendizado era muito grande. E isso fez exatamente com que a gente chegasse a poder hoje falar com facilidade e enfrentar públicos sem tremer, na hora que dou palestras. Tudo isso foi aprendido lá atrás. Inclusive, a gente quando tinha que fazer alguma palestra na sua área de atuação passava como uma beleza, tudo isso eu aprendi lá. E eu era verdinho, falava "bom dia" meio encolhido. Isso tudo eu aprendi na Avon, me comunicar, ser mais humano, ser mais dócil.
AVALIAÇÃO / PROJETO MEMÓRIA Que bom Que bom Eu pensei que fosse levar todos esses conhecimentos comigo, não passar para ninguém. Existe outro exemplo que eu dou na minha vida, pela própria necessidade de atividade interna, eu tive que estudar inglês, melhorar o meu inglês. Tive a felicidade e a facilidade de aprender bem o inglês. E gramaticamente, eu sei bastante o inglês. Bastante. Muito mais até do que a comunicação. E eu vou levar esse aprendizado da gramática inglesa, embora comigo, que eu não consegui repassar. E eu pensava, mesmo antes de saber dessa tentativa de resgatar, através do Museu da Pessoa: "Caramba, quanto conhecimento que eu estou levando embora. Por que eu não poderia deixar para alguém?" Que maravilha poder, com esse depoimento, essa gravação, deixar um aprendizado de vida e passar adiante o que é que é a vida e como é que ela pode ser melhorada. Isso é maravilhoso. Parabéns.
AVALIAÇÃO / ENTREVISTA Eu não sabia que eu era tão querido e tão amado. Eu faço parte de um grupo de pessoas que deixou a Avon através de aposentadoria. Existe o Clube dos Aposentados. Eu nem sei qual é o número hoje, mas deve girar por volta de uns 500, 400. E qual foi a minha alegria no dia da festa de 50 anos ser incluído entre alguns especiais. E eu fui considerado especial. Que bom Muito mais, hoje então ser especial ao quadrado. Porque nem todos foram escolhidos para falar da Avon, para falar da sua vida. Eu tenho certeza de que isso foi selecionado por uma série de razões. Então ser colocado entre essas pessoas especiais me deixou altamente orgulhoso. Humilde, mas altamente orgulhoso. Muito obrigado.
MENSAGEM Eu quero agradecer ao Museu da Pessoa a oportunidade que está dando aos funcionários da Avon, de poder passar um pouco de história do início da Avon, as dificuldades que existiram, o que é realmente a Avon, qual é o objetivo dela, com as palavras de pessoas que estão dentro da empresa, realmente no meio dos funcionários, fazendo esse trabalho. Quero agradecer a Luani, a Laudicéia e a Pati, a paciência que vocês tiveram de ouvir esse depoimento. Mas, pode ter certeza, foi depoimento puro, não houve nenhuma manipulação. Eu estive escrevendo um pequeno relato para me lembrar de algumas coisas, outras foram esquecidas. Mas, obrigado, realmente. É um trabalho que eu agora, conhecendo um pouquinho mais, acho maravilhoso, dignificante. Principalmente, entre nós brasileiros dizer que no Brasil tem gente que é gente. Tem gente que é gente e sabe fazer as coisas. E que bom poder passar adiante essas experiências. Muito obrigado.Recolher