Projeto Memória Avon
Depoimento de Manoel Amador
Entrevistado por Laudiceia Benedito e Luani Guarnieri
São Paulo, 02 de junho de 2008
Entrevista AV_HV002
Realização Instituto Museu da Pessoa
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques
Revisado por Leonardo Sousa
P/1 – Senhor Manoel, Bo...Continuar leitura
Projeto Memória Avon
Depoimento de Manoel Amador
Entrevistado por Laudiceia Benedito e Luani Guarnieri
São Paulo, 02 de junho de 2008
Entrevista AV_HV002
Realização Instituto Museu da Pessoa
Transcrito por Rosângela Maria Nunes Henriques
Revisado por Leonardo Sousa
P/1 – Senhor Manoel, Boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Vamos começar a entrevista. O senhor pode dizer o seu nome completo, o local e data de nascimento?
R – Meu nome é Manoel Amador eu nasci em 24 de janeiro de 1929.
P/1 – Em que local?
R – Em São Paulo.
P/1 – Senhor Manoel, qual a sua atividade atual?
R – Aposentado, graças ao problema de saúde que eu tive agora, mas até então eu ainda construía algumas residências. Não era bem a minha especialidade, mas eu fiz um curso de Arquitetura há alguns anos atrás e como eu estava aposentado aproveitei e construí ainda onde eu moro, estou residindo, construí 15 casas lá.
P/1 – Nossa.
R – Para não ficar parado.
P/1 – Senhor Manoel, qual o nome dos seus pais?
R – Meu pai José Joaquim Amador e minha mãe Maria Gomes Amador.
P/1 – E qual a origem... Qual a atividade dos seus pais?
R – Ele trabalhava na Estrada de Ferro Sorocabana.
P/1 - E a sua mãe?
R – Minha mãe é doméstica.
P/1 – Senhor Manoel, qual a origem da sua família?
R – Portuguesa. Eu sou neto de português o meu pai é filho de português.
P/1 – Certo. E o senhor tem irmãos?
R – Tenho hoje viva uma irmã, nós éramos cinco, eu do meio e hoje está viva a minha irmã a mais nova.
P/1 – Vamos falar um pouquinho da sua infância?
R – Desculpe, não entendi.
P/1 – Vamos falar um pouco da sua infância?
R – Da minha?
P/1 – Infância. De quando o senhor era criança. Onde o senhor morava?
R – Eu morava em Santana, Santa Terezinha.
P/1 – E como era a sua casa?
R – Era uma casa boa, meu pai tinha algumas posses, então nós morávamos em casas, não eram muito fracas não, eram coisas mais ou menos boa.
P/1 – E o que o senhor fazia diariamente, quando o senhor era criança?
R – Eu bem menino, aos onze anos, eu entrei na Escola Profissional Instituto Dom Bosco e fui aprender mecânica.
P/1 – Com onze anos?
R – Com onze anos e aos 14 eu saí porque precisava trabalhar, mas já com conhecimento de mecânica onde eram padres que me ensinavam o ofício. Foi exatamente nessa época que nasceu o SESI, SENAI, SENAC e companhia, aí eu aprendi alguma coisa na mecânica e depois comecei a trabalhar com 14 anos que já era a época que eu podia começar a trabalhar. E trabalhei de mecânico em pequenas empresas vizinhas e foi depois... A minha infância era muito trabalho, e trabalhei muito, bastante trabalho.
P/1 – E o senhor não brincava quando era menorzinho?
R – Sim. Eu peguei meu irmão um dia fumando e o entreguei pro meu pai e me arrependi pro resto da minha vida, é verdade. Eu fiquei muito aborrecido, porque o meu pai deu uma surra no meu irmão porque ele estava fumando. Mas eu brincava... Eu era muito caseiro também e minha mãe muitas vezes me mandava sair dali porque ela queria conversar com uma parente nossa ou alguma vizinha e ela me mandava embora, porque nem sempre ela tinha condições de conversar, compreende? Mas eu fui muito caseiro.
P/1 – E como era a cidade que o senhor morava na sua infância?
R – A cidade? O bairro?
P/1 – É, o bairro. Como era na época?
R – Era bom. As ruas ainda não eram totalmente construídas, as casas, muito terreno vazio e nada assim de especial. Alguns terrenos, lotezinhos com campos de futebol. Eu mesmo nunca fui de brincar com a bola, mas de vez em quando estava lá.
P/1 – Tá bom, mas o senhor não brincava na rua?
R – Eu brincava mais na igreja lá, na igreja de Santa Terezinha onde tinha campo de futebol, tinha quadra de esportes e como eu sou católico eu participava de algumas reuniões na igreja, então eu brincava lá. Mas eu nasci mesmo foi mais para trabalhar do que para brincar.
P/1 – Tá certo. O senhor falou que iniciou seus estudos com onze anos?
R – Com onze anos.
P/1 – Que o senhor fez a escola profissionalizante?
R – Escola Educacional Instituto Dom Bosco.
P/1 – E o senhor fez mais algum curso?
R – Ah eu fiz vários pequenos cursos, depois durante a vida, vários pequenos cursos, inclusive Corpo de Bombeiros também eu fiz um curso, fiz vários.
P/1 – E o que influenciou o senhor para escolher a carreira, uma carreira assim? Foram os cursos?
R – Eu desde menino já brincava com peças de automóveis, peças de bicicleta, coisas assim, então eu gostava da mecânica sem ter ideia do que era. E começou aos onze anos essa mecânica e foi indo, foi indo... Era eu e meu irmão que... Mas a minha cabeça como não era de grande tamanho, eu era mais burrinho do que qualquer outra coisa, desculpe o termo, e meu irmão muito mais inteligente e ele na escola profissional foi pra frente só que ele não trabalhou nisso, era outro ramo que ele preferiu. Eu insisti e trabalhei bastante e com sucesso.
P/1 – Com quantos anos o senhor começou a trabalhar?
R – 14 anos.
P/1 – E o senhor lembra do seu primeiro emprego?
R – O meu primeiro emprego foram àqueles empregos vizinhos de casa que eu era menino ainda e foi uma fábrica de extintores o primeiro emprego. Depois eu tive um pouco mais pro centro da cidade aqui perto da Santa Casa, fábrica de equipamentos dentários, material para... Luvas para dentição e trabalhei nesse tipo de coisas.
P/1 – Quando que o senhor começou a trabalhar na Avon?
R – Quando? Em junho de 59.
P/1 – E como o senhor chegou lá? O que levou o senhor à Avon?
R – Ah aí eu tenho que voltar pra trás, eu tenho que sair da Squibb primeiro. Posso falar da Squibb?
P/1 – Fala.
R – Inclusive tem uma novidade boa para vocês, não sei se serve pra vocês, não sei. A Squibb era na Rua Tupi, aqui perto, Rua Tupi com Cândida Pinheiro era o laboratório da Squibb, aí alguém me indicou se eu queria trabalhar na Squibb e eu fui, que na época essa que eu acho vocês devem cortar muita coisa depois até o meu palavreado, mas que eu acho interessante que nessa época foi descoberta... A penicilina vinha dos Estados Unidos, então ela vinha em frascos pronta para consumo e onde não tinha aqui no Brasil, não era fabricado ainda. Então os médicos faziam fila na Rua Tupi para conseguir o antibiótico e eu lembro até do nome do antibiótico na época, era a penicilina, era a estreptomicina e a diidroestreptomicina e a despacilina. Então eram os antibióticos do momento em que a doença era muito grave, ela se espalhou por ser doenças, não sei lhe dizer como falar. Bom, então os médicos é que vinham buscar esse material, porque não tinha e eu quando entrei na Squibb precisava... Eu fui trabalhar na montagem de subdivisão de antibióticos, era uma série de equipamentos, grandes equipamentos e o meu chefe por isso que hoje o meu sobrenome é... O meu apelido é Manolo, eu vou contar um pouco, porque Manolo... O meu chefe era americano ele não falava nada em português, antigamente se falava em castelhano, muito, em espanhol e castelhano, hoje não, hoje todos nós... Eu não, mas quase todos nós falamos em inglês, temos facilidade pra isso. Então ele falando em castelhano chegou ao meu chefe brasileiro com conhecimento de espanhol e perguntou “que hacemos ahora” me apresentaram outro Manoel que tomava conta de equipamento de caldeira, então ele falou: “esse és Manolo e esse és Manoel” e ele ficou com esse nome e toda hora Manolo, Manolo e todo mundo Manolo e ficou Manolo, vocês vão ver que está escrito Manolo. E nisso eu acompanhei a montagem de todo esse equipamento, porque esse americano era engenheiro e eu me dava muito bem, aliás, eu sempre me dei muito bem com a minha chefia e trabalhamos na montagem desse equipamento muito bonito, lindo, é um trabalho que vocês não fazem uma ideia do que é. Eram áreas que não podiam ser contaminadas de espécie alguma, quando era, era um alvoroço tinha que parar todo o processo.
P/1 – E quantos anos o senhor ficou nessa empresa?
R – Ah, 15 anos.
P/1 – 15 anos?
R – É. Depois a Squibb comprou terreno em Santo Amaro na Avenida João Dias e construiu um enorme de um laboratório lá. Mais tarde se iniciou na Squibb, agora eu vou ver eu continuo na Squibb iniciou na Squibb a fábrica de penicilina, é uma verdadeira... fugiu o nome, depois eu lembro, era um grupo de americanos que vieram para fazer a montagem e eu recebi ordem para acompanhar essa montagem de ponta a ponta, porque eu sempre fui, eu vou te dizer: xereta. Eu sempre fui xereta e como eu gostava do trabalho eu estava nessa construção. Aí começou a fabricar o antibiótico, era uma verdadeira usina, era enorme a fábrica, grande e para que vocês fiquem sabendo também o que de bom eu encontrei... se eu estiver falando demais me avisa que eu encurto. Eu encontrei, vocês não sabem disso, eu tenho certeza, a última água de milho que era para a refinaria de milho Brasil. Ela foi aproveitada, já veio com esses planos para produzir o antibiótico, porque era essa água de milho que ia provocar o bolor como nós chamamos, que não é esse o nome técnico, aproveitava essa água que antes ela ia pro rio, era pro esgoto que ia embora. Aí a Squibb comprou um caminhão, até a marca do caminhão eu sei, era um caminhão Leila em que trazia esse líquido pra fábrica de penicilina. E lá foi, foi até que essa fábrica começou a andar com as próprias pernas aí eu não precisei mais ficar nessa área e eu voltei pra área de embalagem e de fabricação isso foi a Squibb. Aí um dia... Posso continuar?
P/1 – Pode claro.
R – Um dia que era uns 15 anos que eu fiquei lá, como toda firma americana na época fazia isso, despedia os funcionários mais antigos e eu fui despedido e amava o meu trabalho, amava a Squibb, mas eu tive que aceitar e acabou e foram alguns mais. Aí um dia eu subo lá no departamento de engenharia que era o meu chefe, o nome dele não interessa e eu fui “até logo muito obrigado, não é.” Ele disse: “mas como?” Que eu ia embora. “Vocês me mandaram embora.” Não era bem vocês, havia um respeito muito grande, eu como mais menino tinha obrigação de falar “senhor” e essas coisas todas ou “doutor” como que fosse. Ele falou: “não, tem engano.” Ele me largou e foi pro departamento pessoal e realmente era eu, o Manoel Amador que foi embora da empresa e que ele só conhecia o Manolo, ele não conhecia os funcionários pelo nome próprio. Eu passei um dia inteiro com ele me despedindo dele e não me largou mais, porque ele perdeu o rebolado e muitas outras pessoas na Squibb como gerentes de produção ficaram como é que... Não sabiam do que estava anunciando e quando soube ele me deu cinco nomes de empresas para eu voltar a trabalhar para uma outra empresa e como eu já era casado e minha vida não estava... Graças a Deus não precisei sair correndo para arrumar emprego, eu falei pra Maria: “agora eu vou descansar, porque eu trabalhei muito.” Era Santo Amaro à Santana todo dia de ônibus. Mas às vezes entrava seis horas da manhã, pegava... A área da penicilina era das seis da manhã até... Como era uma área de manutenção a minha eu tinha que ficar até terminar o reparo em equipamento para poder produzir e assim foi em todos esses anos. Posso continuar?
P/1 – Claro.
R – E em seguida eu estou em casa e aparece um engenheiro, esqueci o nome dele completamente, me convidando para vir trabalhar na Laborterápica Bristol, é um outro laboratório em que eles tinham equipamento que eu entendia bem desse equipamento, então eu ia trabalhar na área de manutenção também. E lá fui eu, fiquei seis meses nesse laboratório, quando iniciou, o meu antigo chefe me procurou para que eu fosse trabalhar na Avon. Mas o que é Avon? Hoje vocês sabem que Avon é um produto de beleza, mas o que era Avon nessa época? Isso na João Dias. Um baita de um terreno, esse terreno tinha 25 metros de largura por 480 de comprimento, era uma linguiça e eu fui pra lá e fiz um teste com um inglês, e esse inglês... O salário que eu pedi ele achou muito e ele desafiou o meu chefe que era o chefe da minha área que eu queria... Falou que eu estava pedindo um salário de engenheiro. Ele chamava-se... Porque pelo tempo ele já faleceu, Kennedy Claires Arlet, eu só não sei pronunciar direito, porque o meu português é horrível, mas então esse inglês me fez um teste bravo e eu respondi direitinho tudo e ele me admitiu. Aí começamos... Você tem que perguntar alguma coisa no meio do caminho?
P/1 – Não, pode continuar.
R – Eu não quero atrapalhar, eu quero colaborar. E então ali foi uma coisa muito engraçada, porque eu sempre brinquei muito e um dia eu estou na embalagem, a minha área... Eu pegava os produtos de beleza, eu tinha contato direto, porque eu regulava as máquinas, o equipamento todo para poder envasar para fazer rotulagem, fazer a embalagem toda e eu estava perto de uma máquina fazendo uma regulagem e tinha um moço lá de uma outra área falando com esse inglês, era um... E eu o chamei de puxa saco e eu falava baixinho, mas o homem não era nenhum bobo, eu dizia: “mas você é um puxa saco.” Porque ele foi lá badalar o inglês e passou no dia seguinte Dona Hermínia, secretária do inglês e falou: “senhor Manolo o senhor pode chegar até aqui? O senhor foi chamar o Rolando de puxa saco?” “Mas quem te falou isso?” “O senhor Arlet.” Ele que era o inglês, ela falou: “você falou?” “Falei.” Então ele riu e ficou por isso. Essa foi uma passagem boa, mas que passou na minha vida.
P/1 – Então o senhor não conhecia a Avon antes de ir pra lá?
R – Não conhecia quem?
P/1 – A Avon? O senhor não conhecia a Avon antes de ir pra lá?
R – Já pulei pra... Não, eu não conhecia, não existia, ela não tinha sido inaugurada, por isso que eu falei que entrei em 22 de junho e ela foi inaugurada em 6 de agosto.
P/1 – Tá certo. E quando o senhor chegou lá na Avon, qual foi a primeira impressão que o senhor teve da empresa?
R – Péssima. Você deve ler em algum folheto meu, qualquer brincadeira eu digo isso. O gerente geral, deixa-me ver o nome dele, Herbert Moss. Vocês já ouviram esse nome? Foi o primeiro gerente, era uma moça para se lidar, era de uma educação, uma moça educada, era de uma educação fantástica e o que ele fazia? Porque estava começando a montagem ele olhava pra gente desde a cabeça aos pés para estudar a pessoa, era observador que só ele, muito educado e eu ali trabalhando. E um dia ele me chamou e falou: “o que você está achando?” Eu falei: “bom, bom, um ambiente muito agradável, os nossos colegas são ótimos.” Aí eu perguntei pra ele, porque eu também gostei sempre de entrevistar as pessoas, perguntando, eu sempre gostei de perguntar, aliás, eu fiz isso com alguém de vocês aqui: “o que você faz?” Eu perguntei logo, né? Aí eu falei: “senhor Moss...” Ele falava português bem claro, ele trabalhava antes na Johnson & Johnson, eu não conheço a empresa, esse nome Avon era um palavrão. Aí ele começou a contar que ela é multinacional e que trabalhava há tantos anos, não lembro quantos em cosméticos e era uma empresa de gabarito e já estava nessa altura produzindo alguma coisa, creme de barba, colônia. Eu lembro a primeira colônia que a Avon publicou ainda, eu lembro muito bem e depois ela saiu de linha.
P/1 – Qual era? O senhor lembra?
R – Cutirium. Você lembra? Alguém falou?
P/1 – Já, já vimos.
R – Cambada de xereta. Bom, eu falei: “tá bom, mas e fabrica?” “Fabrica” e eu não vi vendas, não vi nada aí ele me contou “a Avon tem a bandeira de vendas que é internacional e é o carro chefe da companhia, a Avon é esse sistema de vendas.” Que era de porta em porta e eu falei: “de porta em porta aqui no Brasil?” “Porta em porta.” Como assim de porta em porta? Eu jamais admitia que alguém fosse bater na minha porta vender alguma coisa, principalmente um perfume, é um produto de beleza. Mas não tinha quem... Ninguém mais vendia. “Mas vai vender?” Aí ele contou a história das moças revendedoras e eu acompanhei de perto tudo isso muitos anos e o interessante, veja bem, eu estou conversando com ele, né? E o interessante é de que... Espera aí eu dei uma fugida, mas vou lembrar...
P/1 – O senhor estava conversando com ele e ele perguntou o que o senhor estava achando da Avon?
R – Isso.
P/1 - Que o ambiente era agradável...
R – Ah o interessante que a Avon depois começou... Ela foi inaugurada, não devo falar agora, mas...
P/1 – Pode falar.
R – Ela foi inaugurada em 6 de agosto de 59, espero não estar errado nessa data, mas é sim e tinha pouca gente, porque eu era o número cento e poucos só da Avon, eu saí de lá eu estava em três mil, quatro mil não sei e o interessante, me fugiu, branqueou um pouquinho.
P/2 – O senhor estava falando das revendedoras que o senhor acompanhou que o senhor lembra do primeiro...
R – Acompanhava e a cada mil produtos que era fabricado e embalado era bolo que tinha na Avon. E quando apertava muito as vendas as esposas dos funcionários iam lá para ajudar até a noite, porque tinham que mandar já os produtos pro consumidor e a cada mil, mais mil nós íamos comendo bolo todo dia, porque o sucesso foi grande, né? O sucesso, eles já contavam com isso e nem era permitida a propaganda em televisão nem em rádio, nada. E depois começou o bem bom da Avon, muito legal foi. E tinham várias passagens depois do pó compacto, hoje tem máquinas automáticas, saem milhares e na época não, nós é que preparávamos as ferramentas numa pequena prensa manual e onde tinha um tecido todo xadrezinho, não lembro o nome, a gente colocava e estampava o pó compacto e ele vinha perfeitinho, depois ia pro estojo ia embalar e ia embora.
P/1 – Puxa vida então...
R – Mas isso é o de menos, tem muita coisa. Vocês vão ficar comigo aqui até tarde, mas não vão porque eu quero ir embora, eu quero ir para Atibaia.
P/2 – Tá certo, então o senhor começou a trabalhar na João Dias?
R – Na Avenida João Dias.
P/2 – Certo. E como foi a sua trajetória na Avon? O senhor começou na João Dias e depois?
R – Ah foi indo, foi indo e depois a Avon... Ah aquele homem que me deu o calote da casa era nessa área que ele estava, porque estava construindo uma expedição, foi feito um prédio enorme e que eu acompanhei ele todo.
P/1 – E quando construiu a expedição era na João Dias?
R – Ainda era na João Dias lá nos fundos e em seguida, eu vou passar por cima de alguma coisa pra dizer que a Avon ficou pequena e comprou uma enorme de uma área lá em Interlagos onde eu fui o primeiro junto com esse engenheiro doutor Ademar. Nós fomos para analisar o volume de água que um poço artesiano ia dar, a qualidade da água e o volume para que a Avon comece já nos planos de construir a fábrica. Aí nessa fábrica eu sempre fui muito bem quisto por essa turma toda, pelos engenheiros principalmente. Foi feito um projeto pra fábrica enorme e eu fui convidado para participar, acompanhar a construção, porque eu sempre fui muito xereta, então dava essas coisas.
P/1 – E quanto tempo demorou a obra?
R – Ah não tenho... Não posso dizer, afirmar... Eu tenho até um crachá da construção, eu esqueci em casa, mas eu tenho um crachá dessa profissão, mas deve ter demorado uns dois anos por aí, não tenho certeza. Eu participava das reuniões dos engenheiros, das empresas que estavam construindo e na minha área não tinha ainda engenheiro para esse trabalho e eu respondia pelos engenheiros. E como eu fui muito feliz no meu trabalho eu tinha condições e já conhecia equipamento, montagem, isso tudo, um trabalho muito bonito e com isso foi passando o tempo. Eu devo lembrar mais alguma coisa, mas se você preferir pode fazer pergunta.
P/1 – Não, pode continuar. Quando mudou pra Interlagos o senhor acompanhou a obra?
R – A fábrica mudou primeiro... Ah 1969, 59, 69 por aí mudou a fábrica primeiro, lógico uma parte da engenharia de fábrica onde eu trabalhava, eu tive que acompanhar e depois de 1970 foi feito um prédio de administração em que eu acompanhei também pelo fato de eu ter alguma ideia de conhecimento de construções e de engenharia. Eu acompanhei bastante até que foi inaugurado, era um prédio todo de vidro o prédio, era não, é vidro fumê. Hoje nós temos vários prédios revestidos de vidro e eu trabalhei na montagem do sistema no-break que era uma área bem mecânica, bem minha e era uma área grande, o no-break você tem ideia do que é? É um gerador de eletricidade que não pode... o sistema de computação não pode falhar de jeito nenhum. Então uma enorme máquina, se você for lá um dia procura saber, que ela trabalha 24 horas por dia direto que quando falta energia da companhia de jeito nenhum aquilo não pode falhar. Ele entra automaticamente e o serviço de computação não falha, mas não pode falhar. Americano não aceitava esse tipo de coisa nunca, porque nos Estados Unidos não falhava a força nunca e nós aqui virou mexeu estamos acendendo uma vela, né? Por causa disso.
P/1 – É verdade. E como era o seu dia a dia na Avon?
R – Eu?
P/1 – Como era o seu dia a dia na Avon?
R – O meu dia a dia? Era muito bonito, tinha muitos amigos, eu lidava com muita moça e era uma guerra quando eu chegava em casa, ainda mais quando vinha perfumado, mas eu vinha perfumado normalmente porque eu... A dona Maria começava a falar e não para mais de reclamar, mas era fantástico, nós tínhamos ônibus gratuito da cidade pra lá. No restaurante nós nos reuníamos cada um com seu amigo, sua amiguinha lá dentro do jardim, muito bonito o jardim e com isso passou um bocado de anos assim. E eu mudei, eu passei para supervisor, depois eu tinha livre acesso a toda... Pergunta ao João Maggioli, que era gerente geral a toda área da diretoria da Avon, porque o americano gosta muito de hierarquia. Então você não pode entrar na conversa com qualquer um e eu tinha livre acesso a toda à família Avon.
P/1 – Depois o senhor foi supervisor e depois?
R – Ah, fui trabalhando muito, eu peguei a parte elétrica também, fui supervisor da elétrica, porque a Avon é muito grande, é enorme... Vocês vão procurar, procuram conhecer depois que terminar essa tarefa aí, porque está começando agora, não está? Então em muitas outras áreas. A minha área, manutenção de uma empresa, até pra mim veio a preocupação de porque a secretária rasgava a meia, ela desfiava a meia e ela reclamava com a diretoria e não era só ela eram várias secretárias. O equipamento nesse prédio novo era equipamento todo novo, escrivaninhas novas, as poltronas tudo, tudo e lá fomos nós depois que terminava o expediente, o pessoal da limpeza ia largar o pau e lá ia eu ficar estudando conversando com a mocinha brincando e olhando e era na base do relógio, a turma da limpeza como todas essas turmas. E eu de olho na hora que elas iam limpar as escrivaninhas. Então veja bem a meia da secretária passou para que eu tomasse conta e descobrimos que esse pessoal da limpeza tem menos escola, mais humilde e para sair correndo para eles passarem para outra área tinham que largar o pau, senão não trabalhava. O cestinho de lixo de papel em que a secretária amassou e jogou, amassou e jogou a secretária ou qualquer outro funcionário na hora que a moça tirava rapidamente debaixo da escrivaninha batia na escrivaninha que era de madeira criava aquela rebarba. E a moça quando vinha trabalhar e assim como você cruzou a perna agora ela cruzava e rasgava a meia. E fora a campainha, o meu telefone toca muito grosso, o outro toca muito fino, o outro toca pouco, o outro toca demais ninguém aguenta e nós tínhamos que fazer todas essas correções desde problemas sanitários, mesmo os sanitários de mulheres ,era problema nosso para resolver muitos problemas e assim foi. É um trabalho realmente muito amplo, muita coisa, então a gente conhecia isso tudo.
P/1 – Entendi. Quais foram os principais desafios que o senhor enfrentou lá na Avon?
R – O inglês, porque todo equipamento que chegava... Você pega água pra mim?
P/2 – Senhor Manoel quais foram os maiores desafios que o senhor enfrentou na Avon?
R – Eu chamo de desafio, o mais difícil pra mim, o que mais me deu trabalho é o fato de não entender inglês, eu tive oportunidade... Convidaram-me para ir pra lá aprender um pouco de inglês, não fui, eu achava que o meu português já era horrível, porque que eu ia aprender a língua dos outros. Então o que acontecia: eu recebia equipamento, o catálogo de equipamento todo em inglês vinha na minha mão e eu tinha que me virar. E foi muito difícil, porque eu tinha que incomodar os meus colegas “escuta o que quer dizer isso, isso?” As cores, uma porção de coisas eles foram me mostrando, eu não aprendi, eu só sabia o que eles me explicavam na hora e eu tinha que colocar o equipamento em movimento. Só eu ia aproveitar as pessoas que falavam inglês em último caso, porque se não o meu emprego ia pro brejo.
P/2 – E quais as alegrias que a Avon proporcionou pro senhor?
R – Qual o quê?
P/1 – As alegrias?
R – Todo dia, todos os dias, eu trabalhei e inclusive trabalho, voltando a falar, foi construído lá meia dúzia de poços artesianos e eu acompanhei todo esse trabalho, é um trabalho muito bonito junto à companhia que abria os poços artesianos. Então eu aprendi a fazer leitura de vazão... A Avon construiu uma expedição no norte em Santa Rita e lá fui eu para fazer o teste de vazão do poço lá em Santa Rita que ainda não tinha construção nenhuma. Então também fui pra lá e ainda fiquei no melhor hotel que era o Hotel Tambaú lá em Santa Rita e outras muito mais. Muitas alegrias eu tive lá e eu era muito bem quisto lá por todos.
P/1 – Certo. Além de Santa Rita o senhor foi a mais alguma localidade da Avon?
R – Não, acho que não, que eu lembre de imediato não, mas foi Santa Rita só.
P/1 – Santa Rita o senhor foi, o senhor acompanhou as obras lá?
R – Não, acompanhei só o poço artesiano. Deu boa água, deu boa vazão, construíram o prédio e eu não conheci o prédio, acabei não conhecendo, fiquei meio frustrado, mas nessa época...
P/1 – Mas fechou rápido, né?
R – Foi, construíram logo, porque companhia que tem muito dinheiro não dá para esperar não, porque a produção está... Aí depois ensinaram a toda aquela cambada, os nortistas de lá e foi uma beleza.
P/1 – Senhor Manoel o que o senhor considera a sua principal realização na Avon?
R – Realização? Lidar com essas pessoas um pessoal de muita escola de muita cultura e muitos amigos ainda hoje eu tenho amigos que vão me visitar depois de 25 anos que eu saí, mas são amigos que permanecem, vão me visitar lá em Atibaia. Eu ainda não falei de Atibaia, né?
P/1 – Ainda não, a gente vai chegar lá. Como era o seu relacionamento com os seus colegas de trabalho?
R – Bom, muito bom, ótimo. Nunca tive um problema pessoal com ninguém e era Manolo daqui, Manolo de lá, tanto que o João Maggioli ele deve lembrar de quem era eu, na época eu conhecia toda aquela... Porque é grande, uma empresa dessas é simplesmente enorme e nos túneis tubulação de álcool de gases de água especial, vapor, ar comprimido e outras coisas mais nos túneis passavam por baixo da embalagem. Então qualquer problema que havia lá ia eu para debaixo desses túneis, túneis decentes, não eram buracos de não sei dizer. Não era igual em minas de carvão não, inclusive nesse túnel havia uma esteira enorme era um metro a largura da esteira. E na embalagem tinha buracos um por um onde todo papel, papelão coisas que não serviam na embalagem era jogado lá. A esteira levava embora e tinha a máquina que destruía, fazia fardos e era um problema para a segurança, né? Essa era uma área que a segurança estava muito em cima por causa dos produtos que eram jogados na esteira e a esteira levava embora e depois só Deus sabe o que ia acontecer.
P/1 - Senhor Manoel, o que a Avon representava para os funcionários?
R – A melhor firma que poderia existir no Brasil. Eu devo ter naquela ________ talvez gente que fazia aniversário a declaração de alguns deles você vai ver.
P/1 – Então o que a Avon representou pro senhor?
R – Só coisa boa, eu não sei te explicar o que, mas só coisa boa, realmente coisa boa, eu só aprendi. E o fato, não precisa muito para quem trabalhou todos esses anos como eu, alguém lembrou do Manoel Amador porque a Avon está fazendo 50 anos do Brasil. Então eu não fui esquecido nunca. Eu ainda hoje recebo uma cesta de Natal todos os anos, 25 anos ausente, e mais, é mandado uma cartinha e eu recebo assino e tal e recebo o meu presentinho de Natal todo ano.
P/1 – É mesmo?
R – Maravilha. Hoje me parece que ela é terceirizada, a firma deve ter mudado muito o sistema de trabalho. O que mais eu posso falar assim... O que mais me preocupou e me deixou muito doente, eu fiquei, porque tinha a Avon como se fosse minha. Depois que me aposentei estou em casa e um dos meus amigos que vivia em contato comigo ainda estava na Avon e falou: “o senhor não sabe o que aconteceu aqui?” Eu falei: “o que foi?” A Avon está em greve, eu nunca admiti greve, falar em greve pra mim era um veneno. A Avon está em greve e antes nunca houve nada, porque eu também não me meti com isso e não admitia que alguém se metesse, eu não entendia muito dessa política e nunca houve um problema de grevista, de sindicalista e nessa época realmente tinha lá um sindicalista e formou greves e parou depois disso várias vezes. Eu fiquei envenenado, mas eu já não tinha mais nada eu já estava ausente e eu ainda dizia: “eu não admito, eu não aceito nem essa conversa de greve numa empresa como essa em que te dá de tudo.”
P/1 – O senhor ficou na Avon quantos anos?
R – Na Avon, trabalhando, 25.
P/1 – E nunca teve greve?
R – Nunca teve greve, pode perguntar as pessoas que só depois dos 25 é que houve greve, nunca teve greve.
P/2 – Senhor Manoel, o senhor podia contar algum caso engraçado que aconteceu lá na Avon?
R – Engraçado?
P/2 – Algum causo?
R – Ah tem, ô se tem.
P/2 – Conta pra gente?
R – Tomara que eu lembre. A Avon quando começou com produtos mais simplezinhos, porque ia atacar no mercado, hoje ninguém vai bater na sua casa porque a sua mãe nem abre a porta pra ninguém de medo, então eram produtos mais simplezinhos, um deles era vaselina sólida e como eu mexia em tudo, né? Equipamento todo eu estava por ali, um dia eram uns tachos enormes era aquilo tudo aquecido a vapor onde você fabricava o produto era vaselina vários produtos, cremes. E quando alguém me chamou que estava vazando o tacho na área de fabricação lá fui eu correndo como um meninão, correndo e pisei na vaselina e, pergunta pra mim, esse dia eu fui com a cueca embrulhada na mão pra casa. Foi um caso sério, nem queira saber, a minha mulher “ah amor, mas como?” Não sei, mas era vaselina minha filha, para todo lado, como engraçado foi isso. Um dos se eu parar uns minutos vai ter mais.
P/2 – Pode falar, pode ficar a vontade.
R – Mas era vaselina para todo canto que tinha uma moça ela se chamava... Você vê como eu lembro de alguma coisa, Adalgisa, ela riu e o escândalo que ela fez não está escrito, era vaselina quente, caiu no chão, solidificou e botei o pé e fui parar lá em baixo do tacho. Aí essa Adalgisa que foi correndo lá em baixo e me puxou, porque eu deslizei no chão para poder... Coisas assim e houve muito mais casos, houve coisas mais.
P/2 – Mas o senhor não se machucou?
R – Ah sim, dei com as costas no chão, mas não fiquei doente nada, não houve mais nada eu sarei, mas que eu fui com a cueca embrulhada eu fui.
P/2 – Senhor Manoel, qual o seu estado civil?
R – Com a Dona Maria 56 anos, em 52 que eu casei, sem filhos, não temos filhos.
P/1 – Como o senhor conheceu a dona Maria?
R – Ah, numa igreja como sempre, numa quermesse na igreja Nossa Senhora da Salete no Alto de Santana.
P/1 – E foi lá que o senhor conheceu a Dona Maria?
R – É, mais ou menos perto de onde aquela menininha foi morta que caiu do prédio é por ali.
P/1 – Ah sei. E o senhor tem filhos?
R – Não, porque não veio. Aí a minha sogra um dia foi pro Rio de Janeiro e trouxe um carioquinha pra mim recém nascido e ele era prematuro, ficou três meses comigo e morreu. Aquela criancinha linda, linda aí não teve jeito, só eu sei o que eu passei com ela naquela época, mas tudo bem.
P/2 – O que o senhor mais gosta de fazer nas suas horas de lazer senhor Manoel?
R – Assistir jogo de futebol pela televisão, não sou de bar, eu sou muito caseiro, mas não desses beatos não, se alguém me chama para tomar um chope ou almoçar fora a gente vai, mas nada assim de especial que se destaque não. Mas jogar futebol, jogar não, torcer pro meu Corinthians.
P/2 – Seu Corinthians, está certo. E senhor Manoel o senhor sabe que a Avon realiza algumas ações sociais? O senhor acompanha isso?
R – Acompanhava... Era futebol, era vôlei que tinha lá, participava muito dos jogos do Sesi e do Senai.
P/2 – Ah, o senhor participava?
R – Muito. Tive umas campeãs lá, eu não.
P/2 – E como era essa época?
R – Como?
P/2 – Como era essa época dos jogos, tinha todo ano?
R – Tinha fim do dia, fim de semana e jogavam um time contra outro time. E aí era ruim, apareciam maus elementos nesses lugares, aparecem maus elementos aonde esculhambava com tudo, são os vestiários, as plantações. Então a segurança ia em cima e malhava mesmo, viu? Isso era comum.
P/1 – Como o senhor vê a atuação da Avon no Brasil?
R – Hoje não vejo, eu não tenho a mínima ideia de como seria, mas eu preciso falar porque lá só teve progresso, progresso, o que eu estranhava muito era a mudança de diretores.
R – Isso era o dia a dia.
P/1 – Em sua opinião senhor Manoel qual a importância da Avon pra história dos cosméticos?
R – Eu não sei números porque nem cabeça eu tenho pra isso, mas eu leio de vez em quando, quando recebo uma revista de lá e me dá o número de revendedoras me dá o número em dólar que fatura. A Avon começou, não existia outra a não ser a Christian Grey e depois... Bom foi isso é que me passou algo pela cabeça, eu vou tentar explicar. Na época em que começou a Avon, isso é interessante, o Silvio Santos ia... Esse homem é fantástico ele, como é que eu vou explicar pra você? O Silvio Santos queria fabricar cosméticos no Brasil logo que a Avon foi implantada, depois houve um boato que ele ia comprar a Christian Grey. Depois teve mais duas outras empresas que eu não lembro o nome que tiveram algum sucesso, mas ninguém conseguiu... A maior firma de cosméticos do mundo era a Avon, mas era a Avon mesmo, não porque eu trabalhava lá e nem porque eu trabalhava na época nada disso, porque as revistas falavam, entre nós havia essa comunicação, nas reuniões que nós íamos tinha essa comunicação. Então a Avon sempre foi a rainha dos cosméticos e o Silvio Santos... Por que é que ele quis, veja, por isso que eu digo, aquele homem merece tirar o chapéu, ele queria e que não conseguiu até hoje uma relação das... De como de porta em porta de que jeito... Ninguém conseguiu trabalhar de porta em porta o que a Avon tem hoje de cadastrados é brincadeira e eu sempre falei bem grosso assim como eu estou falando que ninguém conseguiu chegar nesse ponto o sucesso de porta me porta. E a linha me disse depois que não era bem verdade, a Avon iniciou nos Estados Unidos em Nova York se não me engano, espera um pouquinho, é como iniciou no mundo. Então era uma mulher que fabricava perfume, colônias...
P/1 – Era um senhor que vendia livros...
R – Vendia livros e era livro de Shakespeare.
P/1 – Vendia livros e aí entregava um perfume...
R – Ela sabe tudo, algum xereta veio aqui. Era exatamente isso.
P/1 – Não foi assim?
R – Foi.
P/1 – Aí ele chamou uma senhora...
R – Aí ela chegou ao ponto de que os livros não davam nada o que dava... Eles vinham por causa do produto da Avon.
P/1 – É por causa do perfume. Aí ela começou a distribuir, foi isso?
R – Foi. Como é o nome dela meu Deus eu lembrava até a pouco não lembro. E era obra de Shakespeare.
P/1 – Era a Florence Albee.
R – Eu não lembro. Nome em inglês assim pra mim é mais difícil.
P/1 – E faz tempo, né? Senhor Manoel ao longo do tempo que o senhor ficou lá na Avon esse tempo todo que o senhor conhece a Avon qual o fato mais marcante assim que o senhor presenciou?
R – Bom, interessante foi no começo, ainda na João dias porque só tinha... Tinha pouco americano: o Herbert Moss, o Paul Weller mais alguns outros é que quando ia um pros Estados Unidos, lógico que pra trabalhar, prestar conta, sei lá o que, quando chegava você imagina a sirene ligada naquele prédio de meio quilômetro 480 metros por 25, faziam um escândalo e soltavam foguetes. Então era uma festa como se fosse uma escolinha e eu achava aquilo uma maravilha, os vizinhos deviam reclamar muito. Mas de interessante? Tanta coisa era muita coisa de interessante, não lembro mais.
P/2 – Tem alguma passagem assim que marcou o senhor? Um momento assim?
R – Nada, eu comprei um carro deles, da Avon. Um Galaxie já usado, foi uma alegria pra mim, porque fizeram um preço quase de graça e mais nada. E o que acontecia muito em vésperas de Natal, seis meses, um ano antes do Natal tinham reuniões natalinas onde começavam a estudar os produtos, um trabalho muito bonito e era feito fora de São Paulo em vários lugares do Brasil eram feitas reuniões e apresentavam os produtos e isso tudo em hotéis e coisas assim. E outra coisa interessante e importante, eu como muito xereta que fui, eu cheguei a comentar com um diretor naquela época que como você casada você revendedora, você supervisora de vendas quando você era admitida na Avon alguém dizia: “a senhora vai passar a ser supervisora ou coisa parecida, vai andar nesse Brasil todo, a senhora vai dormir em hotéis onde colegas seus devem também passar a noite em hotéis.” E quando era preciso o marido era chamado e tinha alguém especial, não é assim do jeito bruto que eu estou falando será que entenderam. Então eu pensava que isso vai ser uma bagunça, mas não era nada disso, sempre houve perfeição, não teve nada que abonasse, porque acontece muito isso em grandes empresas, era um ambiente fantástico, até isso, né? Fazer o quê?
P/2 – Senhor Manoel, quais foram os maiores aprendizados de vida que o senhor obteve na Avon? O que a Avon trouxe para o senhor?
R – Companheirismo, aquele dia a dia de cada um que eu lembre e honestidade, isso fazia parte, não se admitia funcionários que tivesse algum deslize de espécie alguma, ele era convidado a se retirar imediatamente, mas eu aprendi a lidar com pessoas. O que aconteceu depois de mim, isso também é interessante, e é a realidade, depois que eu me aposentei é que eu aprendi a falar palavrão na rua afora, verdade. Porque passei a trabalhar com obras e nas empresas não dava, não tinha desrespeito por ninguém, não tinha nada de... Mas era o respeito com os funcionários e funcionárias. Então eu acho que são essas coisas filha.
P/1 – O que o senhor acha da Avon estar resgatando a história dela nesse projeto?
R – Desconheço, não sei nem discutir por quê.
P/1 – Mas o que o senhor acha dessa iniciativa da empresa de resgatar a história?
R – Ainda posso mostrar que estou vivo depois desse tempo todo, alguém lembra de mim e pra mim não precisa mais, porque eu já estou com essa idade e estou com esse problema, inclusive para vocês ficarem sabendo eu mandei fazer uma prótese já estou começando a caminhar devagar.
P/1 – Que bom. O que o senhor achou de ter participado dessa entrevista?
R – Achei fantástica tanto que quem ligou pra mim primeiro foi você? Ela começou a falar: “a nossa firma chama-se Museu da Pessoa.” E falou: “o senhor sabe que a Avon está fazendo aniversário?” Eu muito educadamente como sou, falo mais do que a boca, falei logo pra ela: “mas eu trabalhei na Avon, eu entrei lá em junho de 59 e fiquei até tanto” aí ela achou que fosse interessante a minha presença, não foi?
P/1 – Lógico.
R – Eu fiquei feliz da vida sem saber o que era eu pensei que fosse alguma festa que ia ter ou coisa parecida que a gente estava acostumado, né? Ainda hoje a Maria consome alguns produtos da Avon tem lá uma senhora que ainda vende e tem mais está vendendo agora.
P/1 – Ah ela vende?
R - Eu fiquei todos estes anos, isso eu comentei muito lá, todos esses anos trabalhando na Avon durante todos esses anos não foi uma viva alma representante da Avon bater na minha casa pra vender produto. E eu nunca tive nada escrito na porta aqui mora um funcionário da Avon, né?
P/2 – Tem alguma coisa que o senhor queira falar pra gente que a gente não perguntou?
R – Só com o tempo filha, porque eu acabo esquecendo e eu não quero roubar mais tempo de vocês eu não sei se isso foi o bastante, mas é uma empresa exemplar aí eu digo pra vocês que são bem jovens se amanhã o teu patrãozinho que não escute se vocês um dia quiserem trabalhar numa senhora empresa é a Avon. A Avon Cosméticos Limitada simplesmente excelente.
P/1 – Então em nome da Avon e do Museu da Pessoa agradecemos a sua entrevista.
R – Que bom estamos às ordens.Recolher