Museu da Pessoa

Trabalhando pelo socioambiental

autoria: Museu da Pessoa personagem: Paulo Roberto Franchi Dutra

Projeto Instituto Ethos

Realização Instituto Museu da Pessoa.Net

Entrevista de Paulo Roberto Franchi Dutra

Entrevistado por Camila Prado (P/1)

São Paulo, 29 de maio de 2008

Código : ETH_CB028

Transcrito por Michelle de Oliveira Alencar

Revisado por Flora Portellada


P/1 – Paulo, me fala por favor, olhando pra câmera, o teu nome completo, local e data de nascimento.


R – Eu sou Paulo Roberto Franchi Dutra, nasci em Jundiaí, em 18 de setembro de 1964.


P/1 – Qual que é a tua atividade, Paulo, ou suas atividades como você estava me contando aí.


R – Eu sou profissional de comunicação e sou ambientalista, né? Trabalho na área de comunicação há quase 20 anos, tenho nos últimos dez anos [atuado] como prestador de serviço. E como ambientalista eu coordeno um grupo, um movimento socioambiental, né, a gente trabalha basicamente com a defesa dos recursos hídricos. E também presto serviço na área de meio ambiente.


P/1 – Legal. E você conhece o Instituto Ethos?


R – Conheço o Instituto Ethos.


P/1 – Como você conheceu, conta um pouco dessa história.


R – Então, eu trabalhei há dez anos num veículo da cidade de Jundiaí onde eu era responsável por uma página de recursos humanos. A atividade, a responsabilidade social passou a ser uma preocupação dos recursos humanos, e a gente em função lá da página no jornal da cidade começou a escrever sobre responsabilidade social. E então a gente buscou no Instituto Ethos, no Gife (Grupo de Institutos Fundações e Empresas) referência, né, matéria sobre esse assunto. Passamos a participar também da conferência, aí que eu conheci o trabalho do Instituto e de lá pra cá tenho, de alguma forma, participado de todas as conferências.


P/1 – Ah, que legal! Tem acompanhado a história aí desde os dez anos do Instituto, né?


R – Isso.


P/1 – Tá. Eu queria que você descrevesse um pouco mais as ações socioambientais desenvolvidas por essa iniciativa sua lá em Jundiaí.


R – Legal. Bom, o nome desse movimento que a gente fundou há seis anos é: Fórum Permanente Caxambu. É Fórum Permanente porque é um espaço permanentemente aberto pra debates, conversas, palestras sobre o meio ambiente da cidade e o seu entorno. A cidade de Jundiaí é uma APA [área de proteção ambiental]. Então, a gente atua em função dessa APA, em função dos recursos hídricos. Como ali ainda está presente a agricultura, principalmente a fruticultura, a agricultura da uva, nós também concluímos que era necessário conversar com o produtor rural, por isso há três anos a gente faz parte também do movimento agroecológico, que é a agricultura prática de maneira sustentável com respeito ao meio ambiente.


P/1 – Como você se mobilizou com outras pessoas de Jundiaí? Como foi esse começo, da iniciativa?


R – Ok. O nome do movimento, Fórum Permanente de Caxambu, é o nome do bairro onde a gente morava e no qual a gente convivia ali com os vizinhos, com moradores e ali é área de mananciais, área de proteção aos mananciais. Então conversando com a vizinhança, conversando com o cara do clube, da escola, do comércio nós realizamos em 2002 o primeiro Encontro Ambiental do Caxambu. E foi ali que tudo começou, né, dali pra cá a gente ampliou as parcerias, as alianças, passamos a conversar com outros movimentos, ou com ONGs lá da cidade, da região e hoje a gente tem uma relação até nacional com outros movimentos.


P/1 – Ah, interessante! Hoje em Jundiaí tem muitas iniciativas parecidas ou correlatas?


R – Não, muito menos do que a gente necessita, né? Nós temos uma ONG [Organização Não-Governamental] que tem 20, que é uma ONG tradicional e que há 20 anos atua em defesa da Serra Japi. Nós temos outras ONGs ou OCIPs [Organização da Sociedade Civil de Interesse Público] é de menor expressão e que não são tão assim ativistas, né, e o Fórum Caxambu que não é uma ONG, é um movimento socioambiental e que há seis anos tá tentando também mexer um pouco com a opinião pública, mobilizar as pessoas, trazer conhecimento através de palestras, de cursos. É isso que a gente faz.


P/1 – Como que o movimento do Fórum Caxambu se alinha aos indicadores e à filosofia do Instituto Ethos?


R – Olha, basicamente divulgando...


P/1 – Em que pontos, né?


R - ... Basicamente divulgando essas iniciativas, esses índices com os quais trabalha o Instituto Ethos, né? Como o Fórum é um movimento, nós não somos uma empresa, uma instituição a gente não tem indicadores próprios, né, mas a gente trabalha divulgando isso, né?


P/1 – Como eles se alinham aos indicadores do Ethos, né?


R – Isso. É como eu te disse o nosso trabalho é divulgar o conhecimento, é ampliar o acesso das pessoas a temas que a gente julga interessantes e que estão alinhados com aquilo que é nossa proposta. Nesse sentido a gente acredita que tá alinhado com o Instituto Ethos, né? E nos espaços que a gente tem pra falar, ou pra divulgar alguma coisa, sempre que possível, a gente reafirma essa nossa proximidade, essa nossa parceria com esses ideais do Instituto.


P/1 – Voltando um pouquinho ao teu trabalho até com os recursos humanos, na sua página de recursos humanos, como que você avalia a sensibilização e o engajamento das empresas brasileiras no movimento de responsabilidade social?


R – Eu acho que quando a gente vem para conferência no Instituto Ethos a gente vê um panorama um pouco disso, né? Nas grandes empresas, nas grandes corporações, isso é mais visível, né, e isso é mais palpável, ok? Na grande maioria das empresas e no mercado, de uma forma geral, isso é mais marketing social do que responsabilidade social, né? Então eu acho que tem um caminho enorme aí de conscientização e de assimilação desses conceitos pelos empresários.


P/1 – Você acha que tem possibilidade do marketing social progredir pra isso, ou deveria ser feito um outro caminho, vamos dizer assim.


R – Eu acho que o marketing social é importante, né, e é um conceito já de 30 anos.

Philip Kotler falava isso há 30 anos atrás, né? Mas tem, como eu estava dizendo, tem um caminho todo ainda de evolução a ser percorrida. É possível? Eu acho que é possível dar esse passo pra transição de marketing pra responsabilidade de fato, né, por isso que o trabalho do Instituto e de outras entidades similares é importante.


P/1 – É que na verdade tem muitas empresas que, em que a responsabilidade social está justamente atrelada à área de marketing, é engraçado esse desenho, né?


R – Isso.


P/1 – É curioso, né, no mínimo. Eu então queria saber se justamente acho que esse caminho é o caminho viável de ser chegar a responsabilidade.


R – Eu acho que é um caminho possível sim.


P/1 – Tá. A gente comparando esse estágio das empresas brasileiras que ainda estão caminhando pra real responsabilidade, se a gente comparar com o panorama mundial como você acha que o Brasil está na questão de responsabilidade social?


R – Eu acho que nesse sentido tá bem avançado, né, por quê? É aquilo que a gente tá dizendo, as grandes corporações, as grandes empresas nacionais são empresas de classe mundial, são empresas que estão focadas não só no mercado local, né, elas estão abertas, até por conta desse fenômeno da globalização, estão abertas pro mundo, né? Então, elas sabem a linguagem que esse setor fala no mundo inteiro, né? Então aqui tem iniciativas muito importantes, né, em todos esses projetos aí que a gente acompanhou aqui dentro na conferência. Agora, o Brasil é um país de contrastes, não é isso? Quer dizer, aqui a gente tem trabalho escravo, tem trabalho infantil, tem exploração da mulher, tem a diferença enorme de salários entre homens e mulheres, entre negros e brancos, né, tem toda essa questão de gênero, tem a discriminação dentro das corporações, enfim, nós convivemos aqui com esse contraste.


P/1 – Tá certo. Eu queria saber

como é que você avalia a ação do Instituto Ethos frente a esse cenário no Brasil, né?


R – Eu acho que o Instituto Ethos ele...


P/1 – O impacto dele no Brasil.


R – O Instituto Ethos organizou essa questão da responsabilidade social e levou também pras empresas esse conceito, ou seja, a necessidade de organizar as suas ações, né? Porque a gente depara com empresas que ela ajuda um pouquinho o time de futebol, um pouquinho a paróquia.


P/1 – Aquela filantropia, né?


R – Isso. Ela ajuda a publicar o jornal do bairro, e ela vai fazendo coisas assim...


P/1 – Assistencialista, né?


R - ... isso, de forma desorganizada depois ela não sabe mensurar isso, né? Ela também não olha pro exemplo de outras empresas, não faz benchmark, isso. Então o Instituto Ethos ajudou a organizar um pouco isso.


P/1 – O que você acha que é o maior desafio dele, depois de ter organizado?


R – Interessante que o Instituto Ethos está sempre nos surpreendendo, né? Não é uma instituição que repousa em cima do seu sucesso, ou das suas conquistas nesses dez anos, né? Então tem sempre novidades sendo apresentadas pro público corporativo de responsabilidade social ou do terceiro setor, né? Então estava andando aqui na exposição e vi lá o Fórum Amazônia Sustentável, né, que é uma iniciativa onde o Instituto Ethos está a frente. Eu acho que o Ethos tá atento aos desafios, né, que se colocam, o próprio Oded Grajew [um dos fundadores do Ethos] agora a frente desse movimento Nossa São Paulo com as questões urbanas, as questões da metrópole, né? Então é uma instituição que pela qualidade dos seus diretores ela nos surpreende por saber analisar esse panorama nacional, internacional e lançar proposta antes mesmo que a gente...


P/1 – Pense num desafio.


R - ... pense nisso.


P/1 – Quê que você acha que, como você acha que o Instituto Ethos deve se posicionar nos próximos dez anos? Qual seria o foco?


R – Eu penso que o mais importante, o maior desafio para sociedade brasileira é, o Instituto Ethos tem atendido às empresas, né, as empresas. A sociedade brasileira ela precisa se organizar, os movimentos sociais precisam seguir esse passo, né, precisam se atualizar, precisam falar linguagens mais contemporâneas, precisam se globalizar.


P/1 – Até se articular com o próprio setor empresarial.


R – Se articular com outros setores, né? Aquele tempo do sindicalismo, por exemplo, que nos trouxe a possibilidade de ter um presidente metalúrgico, hoje isso, aquele tipo de movimento tá defasado, né, aquele movimento de pólos opostos, de briga entre a Fiesp e os operários, né? Quer dizer, acho que esse é um desafio: ajudar a sociedade a se articular melhor...


P/1 – Perder essa dualidade, né?


R - ... ajudar os movimentos sociais a se, a maturidade desses movimentos, né? Acho que é um pouco isso.


P/1 – Legal. E só pra gente terminar, Paulo, o que você considera a maior realização do Ethos durante a história dele?


R – Eu acho que talvez o fato de ter, de saber conversar com o empresário e saber conversar também com as pessoas, saber conversar com aquelas camadas da sociedade que vivem, eu ia falar situações de risco...


P/1 – à margem.


R - ... ou camadas menos favorecidas, mas não é isso, é conversar com as diversas camadas da sociedade, ou seja, não é um instituto que se elitizou, não é um instituto que se colocou a distância das pessoas, né? Quer dizer, ele sabe conversar com a figura do empresário, sabe a linguagem do mundo corporativo está presente em outros setores, né? Eu acho que essa é uma conquista importante, ele não se distanciou da sociedade, pelo contrário, foi se inserindo bastante nela.


P/1 – Só te perguntar uma coisa que eu esqueci. Você falou que você participou de todas as conferências do Instituto Ethos. Tem alguma outra relação mais próxima que você tenha com o Instituto? Alguma parceria da iniciativa que você tem em Jundiaí com o Instituto, ou a UniEthos, enfim.


R – A gente algumas vezes ao longo do...


P/1 – A tua história biográfica, vamos dizer assim, com o Ethos.


R – Ok. Ao longo desses dez anos que eu tenho de atuação ligada a recursos humanos e ao meio ambiente, em alguns momentos, a gente realiza palestras e seminários, né, lá na cidade de Jundiaí mesmo, na região. E várias vezes a gente pode contar com representantes do Instituto Ethos nessas atividades, né? Convidamos e o Instituto atendeu, esteve lá com a gente, as pessoas estiveram lá falando sobre temas de responsabilidade social.


P/1 – Muito legal. Muito obrigada, Paulo.


R – Tá jóia!