Projeto Redecard
Depoimento de Sérgio Murtinho Junior
Entrevistado por Sueli Andrade e Rodrigo de Godoy
São Paulo, 18 de agosto de 2006
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista REDE_HV018
Transcrito por Lúcia Nascimento
Revisado por Leonardo Sousa
P/1 – Sérgio, boa tarde.
R – Boa ...Continuar leitura
Projeto Redecard
Depoimento de Sérgio Murtinho Junior
Entrevistado por Sueli Andrade e Rodrigo de Godoy
São Paulo, 18 de agosto de 2006
Realização Instituto Museu da Pessoa
Entrevista REDE_HV018
Transcrito por Lúcia Nascimento
Revisado por Leonardo Sousa
P/1 – Sérgio, boa tarde.
R – Boa tarde.
P/1 – Pra gente começar, eu queria que você dissesse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Sérgio Murtinho Junior. Local? São Paulo, capital. E 30 de abril de 61. Que local você perguntou: onde eu estou ou onde nasci?
P/1 – Nascimento.
R – Então volta de novo, local Rio de Janeiro.
P/1 – Qual o nome dos seus pais?
R – Sérgio Murtinho e Maria Lucia Albuquerque Murtinho.
P/1 – Eles são do Rio também?
R – Rio de Janeiro. Cariocas como eu.
P/1 – E a atividade profissional deles?
R – Meu pai era executivo, está aposentado e minha mãe, do lar.
P/1 – Você sabe contar um pouquinho da origem da sua família, seus pais, avós?
R – Sei. Meus pais, um de cada vez. Meu pai é carioca, minha avó e meu avô, cariocas, também. Uma história engraçada: meu avô se separou da minha avó quando meu pai tinha três anos. E meu bisavô era embaixador. Foi um dos fundadores do Itamaraty naquela época. Meu avô foi ser embaixador também, como todos os irmãos. E eu fui conhecer meu avô com 15 anos, 18 anos de idade, ele viajou muito. Então, ele foi ser embaixador em Malta, foi embaixador num buraco da Ásia, não me lembro mais onde. Foi nos Estados Unidos, foi Cônsul em Orlando, foi no Equador. E conheci ele muito tarde depois. E minha avó, tinha uma bisavó inglesa, mas foi carioca, nascida no Rio. Do outro lado, meu avô e minha avó também cariocas. Meu avô eu não conheci, teve um enfarte muito cedo, com quarenta e poucos anos. Quer dizer, conheci com um ano de idade, mas com um ano você não lembra de nada. E sempre moraram também no Rio de Janeiro. Portugueses, muito longe. O lado português da minha avó talvez na quarta geração. E do lado do meu pai, tem um lado Muniz, mas também lá pra quarta, quinta geração também. O resto é local.
P/1 – E de que local do Rio que é a sua família?
R – Leblon.
P/1 – Leblon. Foi lá que você passou a sua infância?
R – Toda a minha infância, toda a minha vida.
P/1 – E como que foi sua infância, como era o Leblon naquela época?
R – Cara, é um pouco sentimental, né? Carioca em São Paulo é sempre uma coisa sentimental. É ridículo de falar, mas 2940797 é o telefone da entrega da pizza que tem na Guanabara, aquela pizza que tem no Leblon, que eu não como a 15 anos, mas não esqueci o telefone, de tão sentimental. Aquela massa grossa que paulista não gosta, mas eu sei de cabeça o telefone da pizzaria até hoje. Leblon era uma comunidade, virou moda agora com a novela, mas era muito fechada, muito caseira, não tem aquela badalação de Ipanema, não tem aquela badalação de você fazer, aparecer e ser visto. Leblon é família. E é um lugar gostoso, tem a praia em frente. Eu chegava da escola e ia pra praia. Ia pra Cultura Inglesa, voltava, ia pra praia. Era um lugar gostoso, não tinha assalto, não tinha arrastão, não tinha traficante. Quer dizer, era um mundo pré-Brizola. Mas, as coisas não duram pra sempre. E aí, perdemos. Mas eu vim pra São Paulo.
P/1 – Que rua do Leblon que você morou?
R – Na José Linhares, na Franco Melo Franco, quando eu nasci e depois na José Linhares.
P/1 – E você costumava brincar de quê? Tinha amigos, outros primos?
R – Além dos amigos invisíveis, eu tinha amigos, tinha primos, tinha amigos da escola, tinha... O mais interessante da minha infância toda, da minha lembrança de minha infância toda sempre foi minha avó. Eu tenho duas avós vivas. Duas avós, uma viva, uma morta. Claro que tenho duas avós, óbvio, né? A que morreu, morreu há vinte anos atrás, era a minha avó da bagunça. Quer dizer, era uma pessoa, essa que meu avô era Diplomata, era uma pessoa com dinheiro, bastante dinheiro, teve muito dinheiro de herança. E ela vivia espartanamente pros netos. Então, ela morava numa cobertura em Ipanema, maravilhosa e o carro dela era uma Veraneio. Lembra da Veraneio da polícia? Uma Veraneio de três bancos. Por quê? Porque juntava todos os netos e saía e ia pra praia do Arpoador com todos os netos. Graças a Deus, ela não fazia no meu tempo o que fazia com os filhos. Com meu pai, ela amarrava uma corda de 20 metros e ficava sentada na barraca. Era o espaço que eles tinham pra passear, ir até a água, voltar. Todos amarrados com cordas pra não se perder. Então ela saía recolhendo as pessoas, a gente ia pra praia, ia pro sítio, ia pra casa de praia. Então, era uma vida sempre de bando. Você chegava em Vassouras, que era o sítio, você tinha o quarto dos meninos com sete, oito camas, mais as camas laterais. A mesa de jantar com 30 pessoas. Quer dizer, sempre vivendo em bando. Quatro, cinco refeições em sequência, essa mesa nunca estava não posta, sempre estava sendo... O grupo que ia almoçar, o grupo que ia pro clube, pra piscina, que voltava, ela aquele clima de colônia de férias a vida inteira, com a minha avó. E ela era de Ipanema, ninguém é perfeito, um pouquinho perto do Leblon, mas era do lado, bem legal.
P/1 – Mas nessa época, você ia à praia sozinho?
R – Pois é, quer dizer, quando tinha cinco, seis, sete anos não ia sozinho. Ia com a tia do colégio, meu colégio era ao lado da praia. Você ia até a praia e voltava na hora do recreio. Depois quando fiquei mais velho ia à praia sozinho, sempre. Gostava de patinar, jogava tênis, joguei tênis desde pequeno, gostava. Era um clube também na Lagoa Rodrigo de Freitas que é muito perto. Era uma vida muito boa no Leblon. O Leblon de antigamente, pré-Brizola, tá?
P/1 – E a escola que você frequentou? Pode contar um pouco como que era?
R – Posso. Eu frequentei uma mudança de paradigma. Eu fui aluno de uma excelente escola, que é o Santo Agostinho, no Rio de Janeiro, primeiro nível, mas que até 12 anos de idade, só de homens. Aquela coisa de escola religiosa antiga, só de homens. Quando chegou a primeira mulher, você fica falando “que é isso?”, “vai ficar na sala?”, “usa saia?” Você não pode mais brincar, brincadeiras de menino. Sempre aquela coisa ________ naquela época, porque é a tendência de você ficar numa escola só de homens. Uma escola rígida, pesada, uma escola religiosa, mas que preparava você com uma qualidade imensa pro vestibular. Tanto que eu nem fiz vestibular. Eu queria PUC, queria fazer a PUC, fiz e passei. Nem fiz os outros. Todo mundo passava. Ainda é uma das duas, três maiores e melhores escolas do Rio de Janeiro. Quer dizer, era rígida, você tinha lá o Frei Vicente, o Frei Antonio, o Frei João, Frei sei lá que mais, aquela coisa de disciplina europeia, né? De padres agostinianos, espanhóis. Mas você aprendia francês, aprendia espanhol, aprendia... Era um universo bem legal. Você começava a ter diversidade, a ver diversidade, era bem difícil acontecer isso. Você tinha gente pobre que tinha bolsa e estudava com você, era legal. Gente de cor. Gente de cor? Todo mundo tem cor. Eu sou branco. Mas você começava a ter um pouco de mix social, isso era uma coisa que renovava o colégio. Isso era bem legal.
P/1 – Mas você fez todos os seus estudos lá?
R – Todos. Claro, eu fiz quando eu tinha dois anos de idade, ainda bem que você me pegou num dia em que eu estou com a memória boa, com dois anos de idade eu estudei no Jardim do Pequeno Polegar. Mas se você puder cortar isso do vídeo, isso foi até os quatro anos de idade. Mas depois dos quatro até o vestibular, até a terceira série científica, não sei como se chama hoje em dia, foi lá. De lá direto pra PUC.
P/1 – E você acredita que seus estudos básicos influenciaram na sua escolha profissional?
R – Eu tinha um problema de escolha profissional muito, muito complicado pra resolver. Eu tinha primeiro aquela coisa que Freud explica que é a imagem do pai. Meu pai foi engenheiro da PUC, foi executivo de sucesso. Hoje em dia, teve um derrame, está mal, mais paradinho. Mas ele foi um executivo de sucesso e um cara que influenciou muito a minha vida. Muito, muito mesmo. Assim, o que eu sou hoje, é ele, o jeitão dele. Sempre foi um cara de construção e não de manutenção. Até o que eu conversei com ela na pré-entrevista que eu fiz por telefone hoje. Meu pai foi um cara, um dos caras que começou a informática no Brasil, na década de 50. Foi lá, trouxe e montou um núcleo. Depois, quando a Petrobrás perdeu o monopólio, na década de 70, ele montou a Montreal Petróleo. Morou quatro meses em Singapura e tinha três plataformas de petróleo que operavam na área de Campos. Depois ele foi trabalhar com mineração de terra, depois com agropecuária. Sempre como um Diretor Executivo do Grupo Montreal de novos negócios. A função dele era olhar oportunidades, criar, estruturar. Está funcionando o negócio? Deixa pronto, passa pro próximo. E eu, minha carreira tem sido isso. Até demorei demais na Redecard. A Redecard foi minha quarta ou quinta experiência de “vamos construir alguma coisa? Vamos. Vamos consertar a Credicard? Vamos. Vamos arrumar o Citibank? Vamos.” Agora acabou, agora eu estou fazendo exatamente o que eu fazia antes. Adiantando até um pouco a entrevista, eu estou reconstruindo uma Redecard, agora somente de um sócio, que é o Unibanco. Estou com o mesmo business, fazendo tudo do zero, mais maduro e agora já sabendo o que eu errei, o que acertei, fazendo diferente. Então, a escola influenciou médio, meu pai influenciou e a escola me deu uma formação básica, matemática muito forte. Eu tinha que decidir desde a primeira série, não sei se hoje em dia é assim, mas tinha um grupo biomédico, um grupo científico, um grupo de humanas. Se dividia e as matérias eram mais focadas. Então sempre fui do grupo mais técnico. É lá que eu quero ficar. O que me deu um conflito muito grande é que eu tive que optar, isso me dá um pouco de dor até hoje. Não dor, porque não estaria diferente, mas seria ser um executivo e ganhar dinheiro ou se arriscar a fazer uma coisa que eu gostava, que é música. Eu toco qualquer coisa que põe na minha frente de ouvido. Nunca tive aula de nada, mas toco piano, violão, gaita, copos com água. Põe um monte de copos com água, eu vou calibrando com mais água menos água até formar, quando eu não tinha nada então ficava tocando, até criar as escalas, fico brincando com meus copos com água. Pensei: “vou ser músico.” Aí meu teste vocacional deu música. Falei: “não vou ser músico.” “Não vou arriscar ficar tocando num bar depois de velho. Eu gosto da minha música, mas não tenho emprego.” Alguém toca em bar aqui, não? Isso era o meu risco de escolha. Aí virei um músico frustrado, frustrado porque não toco. Você toca o que? Aí, um trauma da minha mãe também. Minha mãe nesse ponto foi nociva a posição dela. Minha mãe era música, tocava em concerto, tocava em rádio. Um belo dia brigou com a família e falou: “ou piano, ou eu.” Aí a família falou: “você tem que tocar piano.” Ela fugiu de casa, saiu de casa pra casar com meu pai, não quis mais tocar. E aí toda vez que eu queria tocar, falava: “mãe, quero ter aula.” “Não tenha aula, meu filho. Você vai se aborrecer, essa vida é ingrata”. Aí, putz eu tive aula uma vez de violão clássico escondido. “Isso é besteira, não faz isso. Não vou te dar dinheiro pra você fazer isso.” E até hoje toco, tudo de ouvido e tudo mal. Quer dizer, mal porque não tenho técnica, não sei ler partitura. Eu tenho um piano, mas também tenho um teclado que está acoplado a um computador que quando eu quero compor alguma coisa, eu componho e gravo. Ele grava pra mim, gera partitura e com isso eu consigo suprir um buraco meu de necessidade. Mas o colégio me deu isso e aí eu falei: “vou ser engenheiro de som.” Mas não existia isso ainda, estava começando no Brasil em 80, 81. Aí fui direto pra Engenharia Eletrônica, Elétrica e de Sistemas. E segui e trabalhei exatos zero dias na profissão em que me formei. Que era uma coisa muito comum naquela época. Os grandes bancos, as consultorias, você estava começando a informática no Brasil. Sair os grandes computadores e entrarem os microcomputadores. Estava lançando PC no Brasil, não tinha PC, estava chegando o PC no Brasil. Tive um Apple, depois tive meu PC. Essa é uma história paralela que é a evolução da informática no Brasil. E a gente dizia: “putz, que fazer com isso? Dá pra fazer um monte de coisas. Ganhar a vida com isso.” E aí no último ano de faculdade já tinha montado uma consultoria com três amigos.
P/1 – Em que ano isso?
R – Em 84. Já tinha montado uma consultoria com amigos e estava fazendo sistemas. E comecei a trabalhar pros bancos. Fiz o sistema de cofres pro Citibank, o sistema de contabilidade pro Boston, o sistema de não sei o que pro outro. Eram malucos fazendo sistemas em micro. Era mais barato pro banco ter um micro numa área atendendo um sisteminha do que ter um mainframe imenso, caríssimo. Então fui direto pra T.I., do ponto de vista de desenvolvimento de sistemas. E logo depois fui pro Citibank cuidar de T.I., com tudo, mas trabalhar em banco. Cuidar de uma coisa elétrica, eu troco lâmpada muito bem, mas não me peça muito mais que isso, porque o resto eu não faço.
P/1 – Mas como que foi seu curso superior, Engenharia Elétrica?
R – Eu optei por ele, adorei e demorei anos pra me formar. Essa é uma coisa que me deixou super tranquilo, com pai, com tudo, porque são cinco anos e eu fiz em sete. Um ano eu tranquei pra velejar. Eu disse assim: “eu preciso ter certeza do que eu quero.” As matérias que eu gostava eu tirava dez, as outras eu fazia cinco vezes até o professor morrer. Aliás, esperei o professor morrer numa delas. Sabia que ele estava meio ruinzinho, desenho técnico. Eu não tenho a mínima habilidade pra desenho a mão livre. Eu usava luva cirúrgica pra poder desenhar e fazer trabalho em perspectiva a mão livre. Não tem como fazer isso. E como foi meu curso? Meu curso foi um curso pesadíssimo, a PUC é um curso puxado, pelo menos a do Rio, de São Paulo eu não conheço. Mas é um curso absolutamente diferente dos outros cursos. É um curso que se aprende a pensar e isso foi fundamental pra mim. Quem sai da PUC tem, uma brincadeira que tem no mercado, quando você conversa com um cara que saiu da PUC você percebe. Não porque ele seja melhor, ele é diferente. Eu aprendi muito mais técnicas de raciocinar, de engenheirar problemas, de entender, do que qual é a raiz quadrada de 27? Qual é o elemento 14 da tabela periódica? Eu aprendo a... Então, enquanto numa universidade tradicional como o _____, você aprende um monte de coisas, eu gastava na PUC um semestre inteiro deduzindo como alguém chegou numa fórmula. Interessava pra gente aprender como se chega numa fórmula, não qual o resultado da fórmula. Porque depois eu podia em casa brincar e fazer a fórmula de novo. Nessa época eu velejava bastante, gostava de velejar, fui campeão brasileiro, campeão estadual duas vezes. Meus amigos estão nas olimpíadas, meu companheiro correu em duas olimpíadas, meu companheiro que corria comigo. E quando eu comecei a velejar, meu pai também começou a gostar. Meu pai virou vice-presidente da federação de velas do Rio de Janeiro. E com aquela mania que ele tinha de consertar, que eu também tenho, ele entrou para poder reprocessar e redesenhar todo o modelo operacional, contábil, controles. Ele adorava desmontar e remontar os pedaços. Isso é uma coisa que eu herdei dele. Meu pai é aquele cara que minha vó dizia: “nunca deixe seu pai consertar nada, porque ele desmonta em pedaços e depois nunca mais monta.” Pra ver como é por dentro. Eu tinha uma oficina na praia e desmontava tudo em pedaços e fazia um aspirador de pó que tinha uma televisão embutida, você começa a brincar de fazer. Eu tenho um bando de defeitos, mas criatividade sempre foi uma característica boa minha, de obsessão por “deixa ver o que eu faço com isso, desmonta aqui, ali.” Então eu comecei a velejar, meu pai me deu força e a gente passou um ano inteiro pelo Brasil, velejando. Chegou um momento em que tinha que fazer a escolha, quer dizer ou vou me formar e trabalhar, ou vou ficar dependendo do meu pai e vou velejar. Mas velejar também não vai me dar futuro. Aí eu parei de velejar, velejar só como passeio só. E morreu, de vez quando. Eu vim pra São Paulo em 94. Eu fui há pouco tempo num resort, peguei um barco, no nordeste, não sei onde foi, e saí todo macho, todo esperto, carioca esperto que ganhou milhares de prêmios. Pô, eu não parava em pé no barco. Meu barco era um catamarã grande, de regata, um barco rápido de performance, peguei um barco menor, de monocasco, aí eu também velejei e voltei pra praia e falei: “vou descer onda.” Surfar, descer onda. Cheguei capotado, todo quebrado na praia. Esqueci que eu não tenho, que passaram-se 20 anos e...
P/1 – E você velejava onde no Rio?
R – Velejava no Brasil todo. Veleja no Rio, no iate, na marina da Glória, velejava no Rio onde? De búzios à praia de Ramos onde tem o piscinão de Ramos. Por que? Porque você tem que correr um campeonato federal sério e tem uma regata circuito da praia de Ramos. Então, você está velejando, tem um porco passando, tem um cadáver passando, tem um sofá passando, é uma merda. Mas eu velejava em paraísos. No nordeste, no sul, paraísos. Quer dizer, você tem que seguir... Velejar a passeio você escolhe muito, mas estou correndo o campeonato estadual, quatro regatas aqui, duas aqui. Campeonato brasileiro, você velejava em tudo quanto é lugar. Velejei em São Paulo, tudo que é lugar. Sul, era uma delícia. Era um anti estresse tremendo que agora eu consegui um novo, de um ano e meio pra cá, que é mergulho. Eu baixei um pouquinho, estava na superfície e agora estou no fundo. Eu estou indo hoje, daqui a três horas, pra Parati, espero sobreviver segunda-feira, porque se você entrar no UOL, está lá primeira página do UOL: ciclone extratropical se formando no litoral dos estados de São Paulo e Rio. Aí liguei pra operadora e perguntei: “está confirmado o mergulho?” “Está confirmado.” Então está bom. Como um ciclone, como aquele tsunami que pegou na Ásia, tinha um casal de brasileiros, que estava a 20 metros, você não sente nada. Quer dizer, se a coisa apertar é só afundar. Problema é que eu só tenho uma hora, depois tem que subir de novo.
P/1 – Como era a Baía de Guanabara na época em que você velejava?
R – A Baía era, o que matou no tempo é a poluição. A poluição crescente, né? A marina da Glória, os condomínios de Niterói, o funda da baía. Eu vi muitos golfinhos na baía, tinha golfinho. Eu saía da baía de Guanabara, ia até Ipanema, Leblon pela orla e andava com golfinhos. Hoje em dia vejo golfinhos quando estou no Arraial do Cabo, mergulhei com golfinhos agora há uns três meses atrás. Mas, dava pra mergulhar, mergulhar e voltar. Eu não sou boa referência histórica, não, porque você acaba vivendo nesse meio, você perde o referencial. A Lagoa Rodrigo de Freitas é uma coisa imunda. Você conhece? Eu andava de windsurf na Lagoa. Eu mergulhava, às vezes eu caía no fundo e não conseguia voltar pra prancha, porque o lodo pegava até aqui, com o enxofre no fundo. Você tinha que achar alguém pra te puxar, você grudava no fundo. Passa bicho morto, você acaba se vacinando, não fica doente. Então quando vai na Baía de Guanabara, fala: “olha, que coisa limpa. Dá até vontade de beber.” Por que? Porque a Baía de Guanabara, a Lagoa Rodrigo de Freitas é um horror. Mas era gostoso. Você saía de manhã de barco, passava o dia na água, a lancha de apoio jogava um lanche pra você e você tinha que pegar se não caía na água, lanchava e seis da tarde voltava pro clube à noite. Tomava um banho. Era uma vida de fim de semana muito legal. Você tinha... acaba sendo um sacrifício, né? Eu namorei muito pouco nessa época. Ou você namora alguém do meio ou não namora. Porque você fica de sexta a domingo na água e fica de segunda a sexta só falando de barco. Quando não está trabalhando no barco. Quando você vai quarta-feira à noite pro clube, passar mais um grafite no eixo do leme esquerdo pra conseguir mais performance. O catamarã é um fórmula um, você tem tudo no limite, é um barco de competição. Era gostoso naquela época. Agora estou num esporte diferente, é fugir da tecnologia, que é mergulho. Eu comecei a mergulhar por causa de uma namorada minha, que trabalha aqui na Redecard, ex-namorada, que mergulhava muito e adorei. Terminei o namoro a três meses, quatro meses e fiquei com medo de ao terminar largar o mergulho. E aí passei da fase de “não vou mergulhar, porque não quero encontrar.” Não. Estou mergulhando todo fim de semana, é uma delícia, um anti estresse tremendo. Pra quem é agitado como eu, pra quem é ansioso, ligado em 440, você deve ter percebido um pouquinho, eu ter que ficar sem falar com ninguém durante uma hora, hora e meia no fundo, só com peixe, mas com peixe não dá pra falar, naquele cenário que você está na lua, não tem gravidade. Tem situações que é legal, você está vendo um objeto, esse objeto aqui e tem um cara de lado, um cara de outro lado, um cara pra baixo e um cara de pé. Por que eu falei que o cara está de pé? Porque eu tenho referência que o teto é lá em cima. Podia inverter, quem está em pé é esse. Tem momentos em que você tem que soltar bolha e ver que a bolha está fazendo assim, então ali é pra cima. Você fica totalmente neutro na água. É uma delícia. Você não faz esforço. Você tem uma rocha, uma caverna, você entra. Aí você sobe, contorna e desce e faz e dá a volta e aí você está olhando e está olhando a coisa assim ao contrário. E aí passa um cara por você e “ih, eu estou invertido.” Aí solta um pouquinho de bolha... Num lugar fechado você perde a referência. Você não tem referência de direção, é muito legal. Então é um ambiente de espaço, com uma cor maravilhosa, um cenário, uma vida maravilhosa. Mergulho noturno, de noite é mais divertido ainda, que você mergulha com lanterna, tem mais luz, uma luz forte direcionada. Porque a dez metros a luz está filtrada já, muito azul. Há mais de dez metros, vai ficando cinza, você não tem mais cor. Vermelho não chega mais. Com a lanterna não, volta a ficar vermelho. Então, a luminescência da água, você faz assim com a mão, a luminescência da água, as partículas, os planctonzinhos que são luminescentes, tipo aquele bastãozinho que você quebra, você faz assim com a mão no escuro fica tudo brilhando em volta. Aquela arraia passando, o tubarão dormindo, é lindo. Dá uma calma tremenda. Virou meu esporte.
P/1 – Alguma sereia?
R – No momento não. Mas se quiser o telefone...
P/1 – Voltando lá pra sua primeira experiência profissional quando você montou a Interface. Como que foi a Interface, como desencadeou sua vida profissional?
R – A gente cresceu muito na Interface, a gente cresceu, chegamos a ter um andar inteiro num prédio em frente à Baía da Guanabara. Mas a gente chegou num ponto que começamos a ter clientes muito distintos. Nós tínhamos uma historiadora que era cliente nossa; nós tínhamos o Museu Teruz, do Orlando Teruz; nós tínhamos o DESIPE, Departamento do Sistema Penitenciário, que controlava as penas dos presos do Rio de Janeiro, prisões de Bangu 1, 2, 3, 4 e 5. O Bank Boston, sistema financeiro. Quer dizer virou uma coisa alucinada do ponto de vista de... Que me deu isso? Me deu um grande alavancador de vida. Primeiro porque eu passei muito cedo a ser chefe. Meu primeiro emprego foi ser gerente. Gerente de gente. Eu nunca fui um cara que respondia pra um gerente, “meu gerente está falando alguma coisa.” Nesse andar aqui inteiro só tem um gerente, dois gerentes, o resto não é gerente. Eu sempre gerenciei gente mais velha do que eu. Eu tinha 20 anos na época e gente de 40 de quem eu era chefe. Dizia: “seu pai está aí?” “Não, eu sou o pai, sou o Sérgio Murtinho.” “Ah, é você?” “Sou eu mesmo, senta aqui, vamos conversar.” Então, me amadureceu muito rápido o fato de eu gerenciar projetos e situações. Isso é o fato de eu montar uma consultoria. O outro de além da consultoria, trabalhar num mercado tão diverso como esse que eu estou trabalhando, de eu conhecer do mercado financeiro a uma colônia penal, a um museu, a educação. Nós desenvolvemos uma linguagem chamada Lobo. Lobo é uma linguagem, uma variante do Lobo tradicional, pra escola, pro Teresiano, pra aprendizado infantil. Nós temos programas sociais, chamava Informática vai à escola, vulgarmente chamado Informática vai à porcaria, porque é uma porcaria o que estão fazendo. Mas “Informática vai à escola” é a gente ir pra uma cidade do interior do Rio de Janeiro, pobre, que mal tinha luz elétrica para suportar a cidade, junto com a PUC. Você levava uma bateria de gente: pedagogos, tecnólogos como a gente, analista vai sempre junto, infra-estrutura, equipamentos, combinava com o prefeito da cidade que os 12 melhores alunos da cidade, íamos ensinar informática. Eles nunca tinham visto computador, tinham poucas televisões. Então, a gente chegava, montava geradores na cidade pra ajudar a montar, montava na principal escola da cidade, geralmente a única, numa noite. No dia seguinte estava lá 12 mesas com computador, com tudo. Não tinha mouse naquela época, era DOS, não tinha Windows. Você pegou essa fase? Era como se fosse tela de mainframe. Você chegava nessa cidade e você ia, você ensinava “olha gente, computador é isso aqui. Você pode fazer contas, fazer planilha, tá-rá-rá.” As pessoas choravam e a gente chorava também, eu choro à beça, choro à toa, as pessoas choravam. Era muito emocionante você chegar com uma coisa que eles não imaginavam que aquilo pudesse resolver um monte de coisas da vida deles. A gente deixava aquilo pra cidade de presente e passava pra outra cidade. Então, me deu uma diversidade muito grande, uma visão de vida muito grande e uma visão muito grande também do que é o todo do país. Quer dizer, eu cuidava de prisão, de mercado financeiro, de processo social, de tudo, de linguagem educacional, de consultoria. E aí esse excesso, esse mix muito grande causou a separação nossa. Éramos três sócios, somos três amigos hoje em dia. Sou padrinho de casamento, de ex-casamento porque eles se separaram. E eles também sempre foram meus melhores amigos. E três pessoas de perfis diferentes. Eu era um cara de execução, voltado a serviços. O John era um cara voltado a consultoria. Ele gostava de ser consultor. É engraçado, né, não sei quanto vocês têm de experiência de vocês em catação de informação, mas a experiência de família ajuda muito nisso. O mercado de serviço, meu pai era do mercado de serviço, meu DNA veio assim, acabei gostando disso. O John, o pai era, é um dos maiores consultores do país em petróleo, em petroquímica, foi presidente da Petrobrás. Um cara de consultoria. Um cara que tem um cachimbão, fica lá numa mesa, sentado, né? E o John gostava muito da parte de consultoria na minha empresa. E o Antonio, o pai tinha um hospital, uma clínica, era aquele cara que vendia pacotes, rápido, comerciante, dizia: “vamos fazer pacotes pra vender”. E a gente dizia que ia dar errado, porque a gente está muito bem, está crescendo e não dá pra abraçar o mundo. Vamos focar em A, B e C. Num belo dia, falei: “vamos nos dividir, então. Eu foco no A e vocês focam no B e C que é muito parecido.” Acabamos terminando e eu ao focar no A, peguei a carteira de clientes do A, que eram bancos e serviços financeiros, e fui visitar o primeiro banco, que era o Citibank e dizer: “Joaquim Silveira - que era meu usuário - eu estou saindo da empresa. Quebramos a empresa em duas, a parte que atendia você está mudando de nome e vai ser essa empresa aqui.” Ele falou: “não faça isso. Vem trabalhar comigo. Deixa de ser empresário e vem ser executivo.” E o Joaquim, quem é o Joaquim? O Joaquim foi o meu primeiro chefe, quando eu fui estagiário, fui estagiário dele na Shell. Então, ele já me conhecia, era meu amigo. Entendeu? Então, ele falou: “não, não. Vem trabalhar comigo, preciso de você. E você é um cara inteligente, bonito e simpático.” Um pouquinho de bom humor ajuda. “Você é um cara que eu gosto, tem o meu jeito.” E é um dos meus melhores amigos até hoje, o Joaquim. Pra você ter ideia, fui fiador dele durante vários anos. Ele brigava com a mulher, morava na minha casa. Depois foi meu chefe na... Vim pra São Paulo com ele, naquele primeiro time que veio pra São Paulo. Depois a gente... Se puder vai ser entrevistado, não sei se vai ser entrevistado ou não. Depois ele foi pra ser vice-presidente da _______, virou meu fornecedor. Eu era cliente dele, a _______ era a empresa de serviço do Grupo. Depois ele está pra a ADS, que é latino agora e está fazendo um monte de negócio comigo. A gente é muito amigo. Eu conheci as cinco ex-mulheres dele, os filhos, as crises. As minhas também. E aí eu fui ser executivo do banco. Larguei essa empresa, fui ser do banco. Experiência nova. Mas eu entrei no meu estilo. O Hélio Magalhães, que era o chefe do Joaquim, dizia: “Sérgio, você pode trocar tudo. Confio em você, conheço você do Joaquim falar.” “Até o tapete?” “Até o tapete. Pode trocar tudo.” Eu troquei literalmente quase que tudo: processos, pessoas, tapetes. Só não troquei uma pessoa, que é interessante pra ilustrar a história de vocês. Eu tinha um funcionário, que não era do desenvolvimento de sistemas, era aquele mais humilde, que conserta o micro. Sabe? Que você chama falando que o micro está quebrado. Ele vem com a chave de fenda, conserta o seu micro e volta. Esse funcionário, eu estava conversando um belo dia e falei: “cara, estou trocando todo mundo aqui e está um inferno. Você não conhece alguém que conheça visual basic?” “Eu conheço.” “Então, me ajuda nesse negócio aqui.” Eu gostei. Eu sempre usei muito a intuição, muito, muito, na física e na jurídica. “Você não quer trabalhar comigo?” Falei: “Estou falando com você que estou ferrado, se você for médio já vai me ajudar, não quer trabalhar comigo, largar isso?” É muito engraçado, depois ele vai ficar bravo comigo de eu falar isso, mas é muito engraçado, porque ele falou: “tá bom. Vou trabalhar com você.” Contratei ele com salariozinho mínimo para ser meu programador júnior. No dia seguinte, ele foi na minha mesa e falou: “resolvi ficar noivo, precisa aumentar meu salário.” Três meses depois chorava no sala da minha sala dizendo: “ela me largou, eu não quero mais.” Eu disse: “calma, cara. Vai devagar.” Aí esse cara, eu fui crescendo, ele foi crescendo comigo, crescendo comigo e sempre arriscando. Alessandro, já falei o nome, Alessandro Raposo, que é vice-presidente daqui agora, de T.I.. Falei: “Alessandro, Internet você não conhece? Vem cá conhecer um pouquinho. Depois contratei uma menina chamada Alessandra. Viro as costas, os dois se beijando. Falei: “que é isso?” “A gente se gosta.” Separei, coloquei ela debaixo de outra pessoa, minha funcionária. Aí, casaram, trouxe os dois pra São Paulo comigo, toda minha carreira ele foi meu backup, 15 anos. Backup, mais do que backup, até hoje eu sou mentor dele: “faz assim, não, faz assado. Está errado, faz diferente...” E depois ela saiu foi pro Citibank. Ficou no Citi, foi pro Real, muito competente também, Alessandra. E na minha saída agora, conseguimos colocar ele como vice-presidente, mudou o nome agora Diretor de Tecnologia, vice-presidente de tecnologia. Não era minha área, minha área era muito grande, quase dois terços disso aqui, mas a parte de tecnologia eram quatro diretores, ele está numa posição agora... Já deu entrevista agora, o Alessandro? Contou essa parte? Vou falar pra ele que eu contei. E aí o Alessandro é o... O Alessandro está comigo até hoje. A primeira coisa que ela fez, a namorada dele foi: “vou namorar o Alessandro, mas vou mudar o cabelo dele, que é ridículo.” Exatamente. O cabelo dele era ridículo, ele repartia aqui no meio, pra um lado e pro outro o cabelo dele. Aliás, estou autorizando o Alessandro a ouvir essa fita, se ele quiser ouvir essa fita inteira, está autorizado. Lembrar do cabelo ridículo que ele tinha, das roupas, ela mudou as roupas dele todas, todas. Ela não pode ouvir porque acho que ela não sabe que ele foi noivo, mas ele pode ouvir. E aí está nisso. Fui pro Citibank, fiquei lá um bom tempo. Bom tempo, não. Fiquei lá uns três anos. Ganhei meus pontos. Fiz o que tinha que fazer. Num belo dia, a Credicard era uma empresa que estava em São Paulo, de três sócios, Unibanco, Itaú e Citi, a velha Credicard, cujo sócio gestor, o sócio que tinha as posições de liderança era o Citibank. Só que o Citibank era muito longe. Eles ganhavam tanto dinheiro na Credicard naquela época que nem entravam perto. Um belo dia, em maio o Hélio falou comigo “quer ir pra São Paulo?” “Fazer o que?” “No escuro, eu, você e o Joaquim.” Eu falei: “Claro. Com você e Joaquim eu vou pro inferno. Vamos.” “Vamos arrumar a Credicard.” “Arrumar o que?” “Não sei. Quanto você vai ganhar, também não sei. Só que eu preciso de gente de confiança pra pensar e repensar.” Chegamos no hotel, ficamos num hotel aqui na Lorena, na Santos eu acho, e a gente, até admito que a gente errou o ponto. Nesse ponto engraçado, o Irélio, não, era o chefe dele o Arnaldo Giannini na época, dizia: “que você vai fazer aqui?” “Não sei.” “Quanto você vai ganhar?” “Não sei. Não sei de nada, só estou aqui pra ajudar a consertar.” A gente até errou o ponto eu acho, a gente cortou cento e poucos diretores e gerentes na época, demos uma enxugada boa, porque não estava legal. E colocamos do nosso jeito, arrumamos a casa. E num belo dia, o banco que eu estou hoje, chamado Unibanco, faz um movimento que mudou o mercado em 96. Na história do cartão de crédito isso é importante lembrar: O Unibanco mudou o mercado. Unibanco compra o Banco Nacional. Quando ele compra o Nacional, o Unibanco, que era um banco Mastercard, compra um banco Visa, que era o Nacional. E aí naquele momento, nós tínhamos ou bancos que emitiam cartão Mastercard ou bancos que emitiam cartões Visa. Não existia Redecard nem Visanet, porque todo banco tinha um POS. Você ia na loja passava e você tinha uma máquina Credicard, que só passava cartão Credicard Mastercard. E até hoje, tem a pergunta, qual é o seu cartão? Credicard ou Visa? Até hoje aparece essa maluquice nas pessoas, que não existe Credicard ou Visa. Eu tenho um cartão no meu bolso que é Credicard Visa. Credicard é um emissor, que emite cartão Mastercard e Visa. Naquela época, não. Credicard era sinônimo de Mastercard, Credicard no Brasil era Mastercard. Então, seu cartão é Mastercard Credicard ou Visa? Essa era a pergunta mais estruturada para ser feita na época. E naquele tempo você tinha um cartão Credicard Mastercard e três, quatro máquinas do Bradesco Visa, do Banco Real Visa, do Banco do Brasil Visa, um monte de coisas. E aí o Unibanco, que fazia Mastercard junto com a Credicard, compra o cartão Nacional Visa que passava na outra máquina. Criou um caos. E o banco agora: “vou quebrar o monopólio, vou fazer as duas bandeiras.” E com esse caos cria-se a dualidade. A dualidade. Em 96, os bancos passam a emitir as duas bandeiras. Então hoje o Bradesco emite Mastercard, a Credicard emite Visa, todo mundo emite tudo. E aí surge a necessidade de se criar essas duas empresas: uma empresa única pra poder fazer relação com lojista pra Visa e depois mandar pra todos os bancos Visa e uma empresa única pra poder fazer a relação com os lojistas pra Mastercard e mandar pra todos os bancos Mastercard. E aí duas empresas nasceram, mas muito diferentes. Nasce a Visanet, o Rubem Washington construiu lá, e nasce a Redecard. A Redecard nasce como um apêndice de dentro da Credicard. Como ela era 100% Mastercard, basta pegar a velha Credicard, tirar a que cuidava de lojista, cria-se sistemas separados, especiais e chama de Redecard. A Visanet não. Admito que o trabalho deles foi muito mais pesado que o nosso. Junta-se três empresas que faziam coisas diferentes numa só. Então, lá foi juntar três empresas em uma e aqui foi pegar um pedaço de uma empresa e separar. Eu participei desse movimento, a gente não sabia se ia chamar Masternet, Redenet, Redecard, Mastercard. E eu participei desse movimento, pela velha Credicard, de construir o arcabouço de sistemas e suporte pra gente criar e lançar a Redecard. Foi lançada em 97, 96 não lembro mais. E a gente construiu uma empresa de sucesso total, que eu me orgulho, é minha história. Minha história foi literalmente, nos últimos nove ou dez anos, foi a Redecard.
P/1 - Em que área que você começou na Redecard?
R – Eu comecei na Redecard como chefe de tecnologia, reportando pro Lívio Sales que era o presidente. E aí tem uma história longa, vou encurtar, porque senão fica muito técnico. A Redecard nasce sem tecnologia, ela nasce, dura três meses esse nascimento dela, num momento onde, é que eu cortei metade da história. A Credicard quebra e sai a Redecard, mas também nasce um pedaço de um embrião da empresa chamada Credicard Serviços. Que seria uma empresa de serviços, que depois virou Orbitall, que prestaria serviços para a Redecard. Então, a Redecard nasce pensando em ser uma empresa apenas de marketing e produtos, comercial, acabou. Pequena, de RH, pequena, E no terceiro mês o Lívio falou: “não vai dar certo. Vamos trazer o Murtinho.” Aí eu comecei com sistemas, por que? Porque todo o resto, não é que alguém tinha sistemas, tinha outra coisa na Redecard, a Redecard não tinha nada. Estava ainda na velha Credicard. Aí eu levei sistemas pra Redecard. Eu passei nove anos indo buscar alguma coisa, nove anos não, nos últimos três anos estava estabilizado. Então, seis meses depois eu fui buscar telecomunicações, a Orbitall eu trouxe pro meu lado. Depois eu busquei rede de POS, depois eu peguei operações, controle contábil. Nós fomos extraindo da velha Orbitall e colocando debaixo da empresa. Entendeu? Então, eu nasci com sistemas, depois telecomunicações, depois POS, depois toda parte de T.I., depois operações, logística, controle contábil, financeiro, depois contratos, depois toda parte de liquidação de estabelecimentos, depois serviço a clientes, depois call center, toda parte de telemarketing, suporte a grandes contas, Internet, serviços. Aí ficou um monstrão imenso.
P/1 – Isso foram áreas que foram sendo agregadas ao que tinha ou Redecard?
R – Eu fui agregando algumas áreas externas, mas o grande salto foi em 2000, quando o vice-presidente de operações sai e volta pro Citibank. Vocês entrevistaram o Marcos _____? Não, então deve estar na lista, porque ele foi um dos fundadores. O Marquinhos sai lá para o Citibank e o Fleury decide que não vai colocar ninguém no lugar dele. Era um par meu. Eu acumulei operações. E aí quando eu acumulei operações, disse: “já que eu acostumei a fazer muita coisa, quero mais.” Eu fui na vice-presidência de marketing e produtos e falei: “serviço a clientes, call center e telemarketing têm tudo a ver com operações, me dá.” Aí fui lá e também peguei. Quer dizer, eu fiz uma aquisição interna da vice-presidência do Marcos e fiz outra também no Pantaleão – esse vocês vão conversar também, o Fernando – e peguei a parte de call center, que ele tinha desmontado, fez um super, um excelente trabalho junto com a Atento, e acumulei e criei essa área aqui dentro. E acabei com uma tripa imensa de coisas no final.
P/1 – Só pra entender, você foi agregando...
R – Fui agregando, como dizia meu chefe, eu era espaçoso. Eu toda semana agregava alguma coisa, durante vários anos. Então, eu comecei com sistemas, depois desenvolvimento, depois telecomunicações, depois rede, depois POS, depois operações, depois logística, depois controle contábil, depois call center, depois telemarketing, depois contratos, depois... E fui agregando. Até criar uma vice-presidência, que era a maior, de operações, tecnologia e serviços. Que era o nome da vice-presidência, maior em tamanho, em pessoas, em orçamento.
P/1 – E nesses nove anos se manteve essa estrutura dessa vice-presidência?
R – Se manteve até o final, Agora quando eu saí, desmontou em pedaços. Agora que eu saí, o Alessandro Raposo ficou com Tecnologia, um diretor meu foi pra baixo do Edson em Finanças, com a área dele de contratos e controles, foi pra finanças; dois diretores foram pra debaixo do Fábio Palmeira em Risco, o rádio operações e canais. Com o Alessandro, foram meus quatro diretores. Desmontou em três pedaços depois da saída.
P/1 – E, Sérgio, nesses nove anos de Redecard, algum projeto mais marcante pra você? Que você tenha participado?
R – Isso é importante lembrar, a Redecard, quer dizer, o meu projeto foi de criação, né? Eu tive que criar uma empresa, fiz parte de quem criou. Nós criamos uma empresa de sucesso, do zero. Então, eu tenho dois projetos marcantes, dois marcantes. Um pontual e um futuro de nove anos. O de nove anos foi a criação de toda infra-estrutura. Uma empresa de cartões de crédito é um nome genérico. Tanto pode ser um banco emissor, quanto uma empresa de cliente como a Visanet e a Redecard. O banco emissor é uma empresa baseada em crédito. Uma empresa de crédito, onde você está vendo “puxa, ele não pagou a conta, está inadimplente, o limite está baixo.” É uma empresa de crédito. Uma empresa como a nossa, eu falo nossa, com um prazer imenso ainda, até porque eu sou acionista agora, uma empresa como a nossa, ela não tem risco de crédito, porque o emissor paga a gente. Se você não pagar sua conta no cartão, azar do banco emissor. Eu recebo de qualquer maneira. Só que ela é uma empresa de transação, uma empresa de rede. Redecard, Visanet, net, rede. Então sistemas T.I. é o backbone da empresa. Essa empresa vive em cima de tecnologia. Não se faz nada na Redecard sem tecnologia. Ela vive, a Redecard vende confiança. Essa é uma frase importante pra se lembrar, porque ela vende confiança. O ativo dela é etéreo. Ela vende confiança ao lojista de que aceitando aquele cartão, ele vai receber em 30 dias da Redecard o dinheiro, independente se você vai pagar tua conta no cartão de crédito ou não. Então, nós tínhamos que construir toda uma arquitetura de sistemas, construir toda, não tínhamos sistemas nenhum, tínhamos zero. Então, nós trocamos arquiteturas, processos, sistemas de telecomunicações, gente. Isso sempre com o trem andando, com o avião andando. E os volumes são absolutamente alucinados. Para vocês terem uma ideia, hoje é sexta-feira, deve estar fazendo hoje, eu estou sem a tela aqui, porque as telas estão lá em cima, se estiver fazendo hoje, de tarde, seis horas, 200 transações por segundo, que é o que se faz, faz 400 no natal. Vamos colocar 100 por segundo que é um dia normal. 100 transações por segundo. Então, 100 cartões passam no Brasil por segundo. Tem um milhão de lojistas, não é nada 100 por segundo, certo? Uma transação, ela carrega em média 80 reais de valor, é o ticket médio de cada transação. 100 vezes 80, 8000 reais por segundo passa na rede. Em dez segundos 80 mil reais. Em um minuto, vezes seis, 500 mil reais. Essa rede passa 500 mil reais por minuto. Se tecnologia não funcionar, se a rede não funcionar, esses 500 mil reais não entram no minuto seguinte. Algum de vocês que têm cartão de crédito já esperou quando a máquina não funciona? “Tem outro cartão aí?” É o padrão. Esses 500 mil reais não entram no próximo minuto. Você não espera. “Olha vou ficar aqui na loja, estou com o meu cartão aqui, mas está fora do ar a máquina, volta daqui a pouquinho pra ver se a máquina está no ar.” Você paga com cheque, com dinheiro, com outro cartão, é assim que funciona o mundo. Então 500 mil reais por minuto, 200 milhões de reais por dia é quanto roda uma empresa dessa. E roda em cima de tecnologia. Essas transações passam pelo POS, vai até aqui, aprova, autoriza e volta. Sem isso, não há comercial pra vender, não há produto pra vender, não há produto não há marca, não há nada. É um estresse muito grande. Em quase nenhum natal, meu natal é no Rio de Janeiro, em quase nenhum natal eu cheguei antes das nove da noite, no dia de natal. Porque saía daqui às sete da noite. Sempre fiz questão de estar junto com o time. Ano retrasado, esse ano eu já estava Unibanco, dois dos meus gerentes sênior não passaram o natal com a família, porque deu um monte de confusão, ficaram até as dez da noite aqui e não conseguiram mais pegar avião pra Bahia e o outro pro interior. E um era o Papai Noel da festa, ficou aqui. Passou na casa de um amigo, não tinha nem chave de casa mais, porque a mulher já tinha ido. Emanuel, você vai entrevistar o Emanuel, talvez, diretor do Alessandro agora, Diretor de T.I.. Então, quer dizer, essa construção foi muito... Agora um projeto que mistura o lado pessoal meu, que foi absolutamente emocional pra mim, foi no ano 2000, a virada do milênio. Todo mundo lançou a praga que o mundo ia acabar na virada do milênio, os sistemas iam parar, os elevadores, os marca-passos iam parar. E eu tinha, eu era o chefe de uma empresa que faz 500 mil reais por minuto, eu não posso parar. Eu nunca tive menos do que dois rádios e telefones ligados ao mesmo tempo, em qualquer lugar. O Raposo, eu acho ele, acha o Raposo no banheiro se você quiser. Ele nunca desliga. Aliás, Raposo, eu vou contar também essa: diz a lenda que ele só tem quatro filhos por causa disso, porque toda hora, quatro da manhã alguém liga pra ele, ele acorda. Pra fazer alguma coisa, ele aproveita e faz mais um filho. O ano 2000 foi um projeto muito caro pra mim, do ponto de vista do desgaste emocional, mas muito caro mesmo. Porque a gente tinha uma pressão muito grande do Citibank, o mundo vai acabar, se preparem. A gente trabalhava como louco. E o meu filho, desde setembro, tinha a previsão de nascer no dia primeiro de janeiro. Acabou nascendo no dia quatro, graças a Deus. Mas, a previsão técnica, fazia ultra-som era primeiro de janeiro ou 31 de dezembro. Falei: “ferrou, ferrou”. Porque eu estou com plantão, com três rádios cada um. Claro, rádios também iam sair do ar, telefone ia parar. Então, rádio via satélite, rádio comum, tínhamos uma parafernália para manter tudo vivo. Gentes e gentes. Deixei muita gente trabalhando no prédio. Passou o ano 2000 aqui, trabalhando fisicamente no prédio. Gerentes Sênior, Diretores que estão aqui hoje trabalharam e viraram a madrugada do ano 2000 no prédio, né? Isso, eu estava... acabou não nascendo, minha mulher não teve contração, foi cesárea. “Vai ser cesárea, aguenta mais um pouquinho, por favor.” Acabou nascendo na madrugada do dia quatro, do dia três para quatro. Porque o ano 2000, eu passei olhando pra ela, sentado, fumando. Foi horrível o réveillon, porque não podia fazendo nada, não podia viajar. Fiquei no apartamento com ela desse tamanho, com a mala pronta para a qualquer momento ir pro hospital. Já sabendo que o elevador do hospital não ia funcionar, por causa do ano 2000, o raio x, a máquina, aquela neurose coletiva que todo mundo ia morrer, tudo ia dar errado. Então, quer dizer, no dia cinco, o ano 2000 passou, meu filho nasceu, aí eu tomei um porre. Quer dizer, a vida voltou ao normal. Você acaba fazendo muitos amigos, você se envolve muito com as pessoas aqui. Principalmente em T.I., em tecnologia, operações. Em call center não tanto, é muita terceirização, muito serviço que eu tenho fora. Mas você acaba se convivendo com as pessoas, você acaba, acaba sendo sua família. Então, você sofre vendo um cara até tarde, entendeu? Você fica... Eu liguei meia noite pra todo mundo, as pessoas choravam no telefone, eu chorava no telefone, choro à toa, todo mundo trabalhando aqui. Foi muito emocionante. A Redecard pra mim é isso. Muitas experiências, um mix muito grande de pessoal, quer dizer, acabei fazendo amigos aqui. É muito engraçado, porque eu vim pra Redecard, mas larguei meus amigos no Rio. A distância, acomodei. Tudo. Até namoro depois. Eu me separei, fiquei três meses separado. Depois namorei uma menina daqui, trabalha aqui, trabalha em Produtos. Ficamos um ano e meio namorando, terminamos três meses atrás. Porque é a pessoa que eu vivia, convivia.
P/1 – E o nome Redecard, você participou da escolha também?
R – Acho que não diretamente, o trabalho é do marketing. Eu me lembro do Masternet, do Redecard, do NetRede, me lembro... Eu era o chato de Tecnologia quer dizer, essa discussão ficou muito mais com o Fernando Teles, foi muito mais no marketing que ficou. A gente só queria uma coisa que não tivesse Master no nome. Porque a gente sabia que iria fazer outras coisas depois. A Visanet é um horror por isso. Porque ela, se que fazer cheque ou alguma coisa, não é cartão Visa. Então vira Visanet. A Redecard, a gente pode fazer transação de _____, como a gente faz hoje. Hoje a gente chama rede de ticket de alimentação, ticket de combustível, ticket de farmácia, nada a ver com cartão de crédito. É um nome neutro. Entendeu? É um nome que lembra cartão, lembra rede, mas é um nome neutro. Foi bom nome para isso.
P/1 – Sérgio, da tecnologia que veio a área de fraude?
R – Não. A de fraude, ela nasceu em paralelo. Nasceu com o Fábio Palmeira. As fraudes acontecem em cima de processos tecnológicos, porque tecnologia é o básico da Redecard. A fraude é no cartão, na clonagem do cartão, na máquina, a fraude é o suporte que atende, que não deixa ou pelo menos mitiga os aspectos dos amigos do além, dos outros. Não dos nossos amigos, dos que nos roubam.
P/1 – Mas aí não seria com você, os sistemas?
R – Não. Eu desenvolvo sistemas antifraude, eu que desenvolvo. Mas a gestão da fraude sempre foi do meu par, o Fábio Palmeira.
P/1 – E o desenvolvimento de novas tecnologias, meios de pagamento?
R – Tudo comigo. Tudo comigo. Todas comigo e com o Alessandro a maior parte do tempo. Hoje em dia estava com o _____. Nós somos pioneiros em tecnologias usuárias. Essa parte seria até bom se falar, pode repetir?
P/1 – Claro.
R – Nós somos pioneiro em tecnologias usuárias no Brasil, pioneiros em chips no mundo. Nós fomos a primeira empresa do mundo a ter ________, nossa cara em chip, em dezembro. O segundo foi a Inglaterra. A gente sempre, a gente tem uma coisa muito boa, quer dizer, nós somos pioneiros, somos ótimos, mas o Brasil é muito bom pra isso. Brasil nos nivela por cima, né, Visanet não é tão ruim assim. O Brasil é um ambiente muito diverso, quando você olha um país como os Estados Unidos, um POS nos Estados Unidos, ele passa débito ou crédito, acabou. O nosso passa débito, passa crédito, passa Serasa, dá extrato, quer dizer, a gente sempre inovou muito, pelas dificuldades locais. Então, eu fiz parte de algumas reuniões do boss da Mastercard, lá fora. Sempre que você ia no boss mostrar alguma coisa, os caras da Europa diziam: “puxa, como vocês estão fazendo isso?” A gente sempre foi inovador, o país inovador e a Redecard à frente. Então, inventamos um palmzinho, já viram um palm no restaurante que pega comida? Esse está cheio por aí. Mas o nosso, que a gente inventou, e que tem em alguns restaurantes, (Macacoa?), aquele japonês (Akombi?), quando você pede a conta, ele aperta um botão, a conta sai aqui. Você dá o cartão, ele passa o cartão aqui, digita o valor, sai o ticket aqui. Entendeu? Nós importamos do México. Então, a gente sempre teve uma inovação muito grande que fica aqui nesse andar. A salinha de inovação, laboratório de pesquisas de POS, isso o _____ pode mostrar pra você. Então a gente sempre teve muita, a gente pensou em fazer, e o Alessandro Raposo estava com essa ideia de novo, mas não teve foco, um museu do POS, museu da tecnologia aqui dentro. Pega uma sala, a gente tem uma no 14º andar inútil, fica bloqueada, atrás da cozinha, e colocar o primeiro POS, o último, a tecnologia sem fio. Nós inventamos um POS que não quebra pra motoqueiro, porque motoqueiro é uma praga. Ele leva o POS no bolso e fica no espelho do carro do lado, ele capota e quebra. Então, é um POS que você joga pro alto, ele vai no chão bate e não quebra, ele não quebra. Então, a gente sempre foi muito, isso é mérito do Alessandro Raposo, sempre foi... E a minha afinação com ele sempre foi muito grande, a gente tem uma afinação, assim, de alma. Eu me lembro que, você que é mais nova, correio eletrônico, você usa? E-mail? Claro, né. Você alguma vez já imaginou não usar e-mail?
P/1 – Hoje não imagino.
R – Pois é, nós não tínhamos e-mail nem no Citibank, nem na Credicard em 2004. Não, 2004? 94. Olha que maluquice, gente. Em 94 existia um negócio, isso é bom pra história, existia um documento na velha Credicard, na Redecard que estava lá dentro chamado speed memo. Não riam crianças. Três vias de papel, que você dizia, quer almoçar comigo hoje? E o boy levava. Aí você destacava e dizia: sim, a que horas? A resposta tem que ser quatro da tarde, porque se for quatro da tarde, pode ser? Não dá. A conversa tem que acabar em três pernas. Quer almoçar? Sim, a que horas? Speed memo. Um papel em três vias que circulava, você seguia a sequência e ia fazendo. Era um documento que existia em 94. No Citibank também não tinha correio eletrônico, não existia e-mail. A gente criou um correio eletrônico, eu e o Alessandro. Nós nos mudamos pro banco, a gente já não era mais técnico, era gerente. Nós nos mudamos pro banco numa sexta-feira, ficamos dois dias trabalhando, programando, eu voltei a programar com ele, um programinha que simulava uma caixa postal de correio. As pessoas amanheciam na máquina assim: mensagem para... tinha um nome, Fulano de tal. Não tinha Windows, era o DOS. Era page up, page down. Não tinha Windows. Não tinha mouse. Fulano, abria assim, escreve, tá-rá-rá, dava um enter, fechava. Na marca do cara aparecia Mensagem do Sérgio, você clicava aparecia um textinho. Mas não tinha ______, você tinha que fazer uma nova. A gente criou para poder evitar papel. Desenvolvemos isso do zero, um correio. Muito heróico, muito bonito, mas de vez em quando se perdia: “puxa, queria sair com você hoje pra jantar.” Mandava pra Glória, lembro do caso da Glória porque é real, e um cara errado respondia. Se perdia o programa, entendeu? Mas no geral dava certo e foi um sucesso. A gente que inventou isso.
P/1 – Sérgio, você poderia fazer um histórico rápido dos POS, em termos de tecnologia?
R – Os POS começaram, o POS começou como uma coisa cara, e uma solução prática para você passar o cartão. E o POS, quando você passa um cartão, que é o POS? O POS é o computador mais vagabundo que você conhece, tecnologia 8 bits. 16 bits, 32 bits hoje em dia, que está crescendo. Pequenininho. O que ele faz é: ele disca pra um número, quando eu falo disca é que antigamente discava, depois virou uma rede, agora via ar. Ele se conecta a um número com a seguinte mensagem: Oi, eu sou o POS tal, estou na loja tal, aqui tem um cartão 5554448888 e a transação é de 120 reais, em três vezes. Aprova, sim ou não? O POS só faz isso. Você passa o cartão, digita o valor e já está gravado a hora, o local, o POS. Ele digita tudo aquilo e manda pra Redecard. A Redecard pega aquilo e diz o seguinte: esse POS aqui está vindo da loja tal, está válido, essa loja é nossa. Fechado. Legal. E o que a gente faz agora? Temos que mandar pra quem o conhece, quem conhece você. Aí a Redecard manda pro banco A ou pro banco B. A Redecard não autoriza nada, ela não conhece sua história, seu crédito, lembra disso, ela é só uma rede. Eu mando pro banco e pergunto: olha, eu sou a Redecard, tem um cliente seu, cartão 5554444 só sabe isso também, não sabe nem seu nome, que está querendo comprar 100 reais na loja na-nã-nã. Se o banco fala OK, entendeu, ou não fala OK, devolve pra Redecard. A Redecard recebe um monte de respostas, 200 por segundo, lembra? A Redecard recebe um monte de respostas e diz: Pô, essa resposta aqui, quem está esperando é o POS tal. E manda a resposta. Um POS quando manda a pergunta, liga um cronômetro interno e espera 30 segundos só. O POS está esperando, recebe a resposta e publica a resposta. Aprovado ou negado. Então, POS na essência, o mais moderno do mundo de hoje e o pior POS fazem a mesma coisa. O que muda? A usabilidade. Antigamente eram 37 botões, agora é um. Ou é um touch screen ou é um botãozinho de setinha, fica mais fácil de usar. Lembra que este é um país pobre, com alta rotatividade na indústria. Você treina um lojista e três meses depois todo mundo que você treinou não está mais lá, já trocou. Fazer um POS que tenha que apertar uma sequência de 27 botões pra funcionar, é querer não dar certo. Então a usabilidade melhorou, o tamanho melhorou e a conectividade melhorou. O que você faz hoje em dia? Em vez de ter uma linha telefônica, você pode fazer via ar, via cabo de rede, via o que for. O POS não evoluiu muito nesse ponto. O que ele faz hoje, ele fazia antigamente, a mesma coisa. Usa um negócio chamado ISO, da ISO 8536 que é uma regra de mensagens. Outra coisa: quando a transação chega na Redecard, eu não sei se o POS que mandou, quer dizer, até sei pelo cadastro, mas a mensagem é igual de um POS de primeira geração ou de última geração. Então, o que ele faz é ser mais prático o uso, ser mais portável hoje, caber na moto, poder ficar mais tempo ligado, ter mais memória. Por que ter mais memória? Para ter mais aplicação. Se a gente passar um cartão, digita o CPF, consulta o cheque, passa um _____ de ticket alimentação, passa ticket combustível, faz saúde. Então, você coloca mais coisa naquele POS, cabe mais aplicação, cabe mais coisa. A comunicação também com o cliente, a comunicação que volta pro vendedor fica melhor. Se você pegar um POS dos antigos, um _____T7, deve ter alguns por aqui, é um POS que tinha uma linhazinha aqui, desse tamanhinho, com 20 caracteres. Então era: TRX APR – Transação aprovada. Agora você pode ter um texto desse tamanho. Transação aprovada, emissor fora do ar, tudo bem, aproveite e compre na loja tal. Você pode colocar, são sete ou oito linhas gráficas, pode até mandar imagem. Agora é mais sofisticado. É mais comunicabilidade. Melhorou a interoperabilidade, a palavra técnica é essa. Isso é o que melhora. Não só com quem está usando, mas também fisicamente, métodos de acesso. Isso é o que melhorou no POS.
P/1 – Então as transações não se limitam aos cartões de crédito? A Redecard agregou...
R – A Redecard ela é pioneira nisso, inclusive a nível mundial ela é muito forte. Ela faz de tudo na máquina dela. Ela faz cartão de crédito, faz cartão de débito, faz cartão de ticket alimentação, ticket refeição, ticket farmácia, ticket combustível, consulta de cheque, está olhando agora outros produtos. Então, quer dizer, você faz um monte de coisas naquela máquina. Pode usar a máquina para consultar o extrato do lojista, antecipar dinheiro. Ele é um terminal de computador, cada vez mais o POS vira um computador em termos de potência. Você pega um Ipac, meu Ipaczinho que está aqui em algum lugar, ele tem muito mais capacidade do que o primeiro PC de mesa, muito mais. Faz tudo, wireless, _____ em tempo real, entendeu? Aliás, é cinco vezes maior. O POS tem aquilo dentro hoje em dia. Ele consegue fazer muito mais, é um PC, é um computador. Qual a vantagem pro lojista de ter um POS? É que diferente de um PC, como o que tem aqui em algum lugar, que tem vírus, tem joguinhos, quebra, nã-nã-nã, ele é blindado, não quebra, não tem peças móveis. Ele não corre o risco de “Ih, não está funcionando.” “Claro, você instalou o Flight Simulator ou um joguinho de cartas que atrapalhou.” Isso é o POS. E a Redecard é uma rede muito grande. Eu estou agora com um desafio, eu agora troquie a Redecard pelo sócio. E o sócio, além de sócio, tem uma Redeacrd particular, só dele, o Hipercard, que é só do sócio. Tem um pouco de conflito, às vezes, mas faz parte do jogo. Um acordo de acionistas, que foi assinado, ficou muito claro que o Unibanco poderia ter uma empresa que é concorrente da Redecard, então é uma situação um pouco delicada às vezes, eu sou acionista e sou concorrente, né? E eu estou montando um desafio diferente agora. Eu montei do zero, mas comecei com T.I., acabei com operações, tecnologia... Lá eu estou com tudo, marketing, tecnologia, produtos, comercial, T.I., estou com tudo. Mas estou com tudo numa empresa que é 10% da Redecard.
P/1 – E o que a Redecard representa pra você?
R – Em memórias, em tudo? Uma pergunta aberta? Uma saudade muito grande, muita. Eu às vezes até choro, se bobear vou chorar agora. As pessoas, o clima, tudo. Foi muito duro no começo, porque eu estar no Unibanco trabalhando em outra área, tudo bem. Mas eu estou no Unibanco, competindo com a Redecard, um pouco. Então, minha área comercial briga com a área comercial do Anastácio, minha área de produtos está tentando lançar na frente um produto, minha área de POS está fazendo agora um POS dizendo: se você largar da Redecard e ficar comigo eu te dou 10% de desconto. Então é um pouco duro isso. É um pouco duro isso. Tem toda ética preservada do mundo, porque eu não estou no conselho daqui, não tenho acesso aos dados em detalhes, mas por alto eu tenho. E eu tenho know how. Estou lá por isso, criei a Redecard e agora estou criando de novo, criando pra um dono só. Não deixo machucar aqui, quer dizer, sou um defensor de não machucar aqui muito grande. Eu tenho um carinho por isso aqui muito grande, um emocional por isso aqui muito grande. O Irélio, eu brinco com ele, essa é uma coisa que me deixa muito... Você conhece o Irélio, né? Nunca esteve com ele, o vice-presidente de RH? Não entrevistou ele, não? Ah, tá bom. Você não pode falar, certo. O Irélio tem uma foto minha na mesa dele até hoje. Sempre foi um pai pra mim, muito maior que meu pai, aquele cara que dizia... Não vou chorar. Eu namorei um ano e meio uma menina que literalmente foi a paixão da minha vida, não deu certo, azar. Mas se comparar todo histórico passado de ex-mulheres, namoradas... Mas ouvir do RH: “olha, não estou propondo adultério, mas se você um dia terminar com a sua mulher, a Lili, casa com a Lis. O seu olho brilha quando vê ela, o dela também. Casa com ela e eu vou ser o padrinho.” Ele dizia isso pra mim, entendeu? O cara de RH, não tinha conflito porque eu trabalhava em outra área, ouvir isso do Irélio era uma coisa... Ele sempre foi um pai pra mim, na minha separação, depois quando eu comecei a namorar a Lis, quando eu terminei com a Lis a quatro meses atrás. Então, burrada ter terminado, mas azar o meu. Não o dela. Mas a minha lembrança aqui é das pessoas. O raposo é uma lembrança sentimental. Não vou chamar de filho, porque não estou tão velho assim, tá? Mas, ele é minha cria, eu criei ele da roupa a atitude, a mulher, tudo. Então pra mim é muito, é muito, a minha ligação é muito forte com todo mundo. Eu venho aqui... A minha saída foi muito emocionante, minha saída.
P/1 – Como que foi?
R – Minha despedida, minha saída, eu fiquei dez dias aqui ainda, participando do comitê executivo, trabalhando com todo mundo e prolongando ao limite me despedir das pessoas. Porque eu já sabia, não podia falar, só algumas pessoas sabiam, e eu assim: “putz, acho que eu vou embora e não volto, vou embora e depois eu volto.” Eu saí pro sócio, quer dizer, minha ex-secretária, até hoje ela tem talão de cheque meu aqui assinado, fiquei com o carro da empresa quatro meses até trocar meu carro. Quer dizer, eu estava dentro da empresa, mas eu saí do ambiente de trabalho que eu estava. Mudei pra um ambiente muito mais hostil, do ponto de vista que aqui eu era o número um, número dois de uma empresa de 800 pessoas. Lá eu tomo conta do negócio, ao lado de mais 20 negócios, com 33 mil pessoas, muito maior. Complicado você não saber o nome do cara do lado, muito complicado. O banco é muito grande. Mas eu falei: “putz, eu não vou me despedir de ninguém, vou sumir. Daqui a uma semana eu volto pra fazer reunião aqui, sou acionista, estou sempre aqui, conversando, trocando informação, como faz POS? Quer dizer, dono. Vou sumir.” Aí eu pensei: “Não. Eu devo às pessoas me despedir, eu devo me despedir das pessoas.” Aí todo mundo faz uma carta de despedida, você já viu despedida de empresa, como faz? Manda e-mail: “pessoal, eu estou indo.” Tem aquele padrão babaca de abrir entre aspas com uma citação, uma citação. Fecha e “pessoal, estou indo pra outra oportunidade, outro desafio, meu telefone novo é esse.” Esse é o padrão. Aí eu fiquei pensando, fui pra Campos de Jordão na véspera com a Lis e eu estava super down, mas super down, pensando como me despedir das pessoas sem desmontar. Aí eu fiz uma carta de despedida nesse padrão, com 17 páginas. Comecei com uma citação, como todas, absolutamente sem sentido. Eu peguei um monte de frases soltas: “O cão feroz Hindu, ladra do poente enquanto no ocidente, tá-rá-rá.” Coloquei um nome falso, aí falei e no final coloquei assim: “pessoal, pra vocês lembrarem de mim, o Maluquinho, meu apelido era Maluquinho que o Roberto Lima deu, o Maluquinho, e pararem de chorar, que eu já estou chorando. Vamos voltar pro começo: todo mundo que se despede começa com uma citação e depois um texto. Para não perder o padrão, eu fiz uma citação absolutamente sem sentido, esse cara não existe. Se vocês quiserem inverter a frase, pode inverter, fica melhor assim, assim e assado.” E pegou mal. Não vou citar nomes, mas a quantidade de pessoas que me escreveram dizendo “ah, que citação linda.” Eu falei: “meu Deus do céu.” Gente que chorou nessa citação “O cão feroz ladra uivando pro ocidente.” Era o final. “O guerreiro Hindu se restabelece, enquanto o cão feroz ladra…” Cara, não queria dizer porra nenhuma. Eu fiz de sacanagem. Disse: “pessoal, estou indo.” Eu fiz questão de literalmente todos, não oitocentas pessoas, mas as cem maiores pessoas da minha recordação, mandar um bilhetinho pra cada um, público. Sei lá: “Alessandro, que eu conheci, muito obrigado por isso... Você, Anastácio... Irélio, todos. Essa empresa passou três dias chorando, todo mundo chorava, todos choravam. Eu fiz isso, mandei e desci pra começar a me despedir nos andares. O segundo andar que eu entrei, foi nesse andar aqui, eu era o oitavo, o nono, o décimo eram 100% meus, aí o 11º, 12º e 13º dividiam o resto da empresa. Aí, aqui, todo mundo em pé, em silêncio, batendo palmas. Em silêncio. Eu não consegui falar com três pessoas. Aí desci pro nono andar, você não vai começar a chorar também não, né? Ela está chorando.
P/1 – Não estou, não.
R – Aí desci pro nono andar, todo mundo em pé batendo palmas. Em pé e em silêncio, ritmado, sabe? Aí eu peguei o carro, fui embora e não voltei. Não consegui continuar. Não conseguia nem respirar, nem falar. Aí, recolhi todas as cartinhas de devolução, do Irélio foi emocionante: meu filho, ta-rã-rã. Duas semanas depois eu voltei, já podia falar onde eu estava, estava mais calmo. Aí já comecei a vir aqui sem ficar emocionado, sem ficar... E é legal a deferência, quer dizer, eu larguei meu carro com o segurança na rua. O segurança já pegou meu carro na rua, me deu o crachá, já subi. Quer dizer, não tenho... Todo mundo, quase todo mundo foi meu funcionário. Então é legal você ver um time que você criou, eu criei o time, não herdei ninguém, não tinha nada, comecei do zero. Meus sete diretores foram todos criados, contratados, montados, criados, quer dizer, todos encaminhados pra vida. Então, o lado da Redecard sentimental, emocional é, pelo menos pra mim que sou bem sentimental, sou bem choroso mesmo, choro em cinema às vezes, quer dizer foi um mix muito grande de carinho pelo businees, o orgulho que eu tenho por ter criado, o orgulho que eu tenho de ter participado da história... Putz, a gente melhora em tudo, né? Aquela outra empresa que eu me recuso a falar o nome, começa com a letra V, a gente deu um banho a vida toda neles em tudo, tudo. Em todos os padrões, profissionais e não profissionais. Fleury foi um chefe maravilhoso. Lívio foi um chefe maravilhoso. Quer dizer, aprendi muito com eles. Meus pares, aprendi muito com meu time. Eu tenho dificuldade agora de ter um time mais sênior, estou criando do zero de novo. Então sinto falta do Alessandro, do Pegalo, Carlos Pegalo. Você conheceu de operações, né? Esse é uma biblioteca histórica, tem 20 anos de casa. Esse conhece... Esse é o cara que me recepcionou quando eu cheguei a São Paulo. Eu sinto falta do Pegalo e do Alessandro chegarem pra mim, numa sala, trancarem a porta e dizerem: “tá fazendo porcaria, faz diferente. Você falou besteira. Faz assim, não faz isso. Você incomodou.” Quer dizer, eu tinha uma gestão de baixo pra cima muito forte. Eu deixava isso, era bom pra mim. Sinto falta disso hoje em dia, entendeu? Mas estou construindo de novo, estou construindo um mundo novo. Está divertidíssimo. Tenho que aprender, claro, quando tem que fazer operações, tecnologia, desenhar os sistemas novos do Hipercard, estou em casa. Quando tenho que discutir se o Araketu, devo pagar o carnaval dele ou não, não sei se o Araketu interessa pro Nordeste. Mas o que isso faz mesmo? Araketu é Axé. Mas ele é um Axé que o povo da Bahia gosta, ou que o paulista gosta? Porque paulista não tem cartão Hipercard, baiano é que tem Hipercard. Aqui não tem ainda. Então, se você gosta do Araketu não me interessa, mas se o baiano que tem cartão Hipercard no bolso, quer dizer, eu estou apanhando no marketing, estou apanhando na comercial. Nossa negociação comercial com cara grande, o presidente da TAM, eu fico, eu decido muito rápido, negocio mal. Então quer dizer, eu estou crescendo muito rápido do ponto de vista de atualidade, estou pegando um business completo, sou responsável verticalmente por todo resultado do acquire. Mas é, graças a Deus eu tive uma Redecard, porque eu estou copiando o que deu certo aqui. Então estou criando _____, mesmos modelos de margem de contribuição, criando os mesmos modelos de análise de resultados, estou criando pro comercial os mesmos modelos de atendimento. Quer dizer, estou fazendo tudo igual. E o que eu fiz de errado estou evitando fazer. Então a vantagem é essa. Estou indo muito mais acelerado. Já chegou num patamar, nesse ano, que a Redecard demorou três anos e meio. Já chegou num ano. Por que? Porque tudo que a gente fez de errado eu já sei, isso é a parte boa. Mas, mas...
P/1 – Nesse tempo de Redecard, quais os valores você percebeu que permeavam ou permeiam as relações entre as pessoas?
R – Primeiro, uma integridade muito grande das pessoas. Isso é fundamental. Disciplina nunca foi o forte. Acho que ela ainda é indisciplinada. Até porque eu não sou disciplinado, era um grande, como dizia meu chefe Lívio: “peça perdão, não peça permissão.” Aprendi isso com o Lívio. A gente teve uma experiência de coleguismo, de trabalhar em equipe, de fazer acontecer, que você vê no Best Place to Work, no prêmio de melhores empresas para se trabalhar, quer dizer, a Redecard está agora caindo um pouquinho, está em ______, mas a Redecard ficou, durante o meu tempo, quase todo esse tempo entre as dez. Quer dizer, foi segunda, foi quarta, foi quinta, foi oitava, era um orgulho muito grande ser parte de um time vencedor. Isso fazia com que não tivesse tempo ruim. Você trabalhava 24 horas por dia, você trabalhava no natal até as nove horas da noite. Era uma coisa... Claro, toda empresa, como toda família tem o seu castelo, o cara que não gosta do outro, que brigou com outro, você tem um monte de historinhas. Mas, como boa família italiana, todo mundo se entendia, todo mundo ia pra frente. Isso foi uma coisa, putz no tempo do Fleury, do Lívio, maravilhosa.
P/1 – Você consegue imaginar a Redecard daqui a dez anos?
R – Não sei. A resposta é muito técnica, não sei. Eu não sei qual o desenho do futuro. Nós estamos num mercado muito evolutivo. A Redecard tem que se reinventar agora, ela está ganhando concorrentes. Não só ganhando nós, como Hipercard, como Bradesco que comprou a Amex e que vai montar um acquire próprio, não vai entregar o Amex pra Visanet. Da mesma forma que o Unibanco decidiu, o Unibanco, eu era Redecard, quando o Unibanco comprou o Hipercard, nós perguntamos pro Unibanco: essa rede que é concorrente da Redecard, vocês vão entregar pra gente? O Unibanco falou: “Não sei, vamos pensar.” Pô, esses caras são cínicos, né? Eles vão montar um concorrente. Quando o Bradesco comprou o Amex, e nós íamos comprar o Amex, o Unibanco perdeu no finalzinho, a Visanet perguntou: “Bradesco – e o Bradesco é o maior acionista da Visanet – Bradesco, essa rede que está aí, vocês vão entregar pra gente, né?” E o Bradesco foi um pouco menos cínico que o Unibanco e falou: “Não. Não vou entregar.” E não vão entregar mesmo. Então, quer dizer, o mercado vai abrir em algum momento para mais bandeiras, mais concorrentes. Isso vai fortalecer a Redecard. Essa parte da Redecard é boa. Porque a Redecard tira uma certa acomodação de líder e do oligopólio. Quer dizer, ela não tem concorrente. Eu não sou nada pra Redecard. Eu vou chegar a 200 mil lojistas no final do ano, se eu chegar. A Redecard tem um milhão hoje, a Visa tem um milhão hoje, na carteira. Então, em algum momento, o choque que o Unibanco fez em 94, 96, quando comprou o Nacional que mudou o mercado, em algum momento vai ter outra mudança de mercado. A gente sabe que vai. Em cinco anos, eu não sei. Mas, em dez anos muda. A Redecard tem que se reinventar como uma grande empresa que ela é, com esse time, com o know how que ela tem, com o expertise que ela tem, acumulado. A Redecard é nova, tem dez anos, mas ninguém aqui tem dez anos de cartão de crédito, dez anos de Redecard. Porque a função que o Anastácio fazia, há 11 anos ele fazia a mesma coisa. O Irélio também na empresa de acquire, que era a divisão de acquire da Credicard. Quer dizer, o business de cliente já existia há 30 anos. A Redecard tem dez anos numa separação de negócios, entendeu? Mas ela já nasceu criada, já líder. Esse é o ponto.
P/1 – Como você vê essa iniciativa da Redecard de comemorar os dez anos dela, recolhendo depoimentos de funcionários, ex-funcionários?
R – Achei emocionante. A palavra é essa. Primeiro achei que ia ser uma coisa pequena. Como eu sou talvez o ex-funcionário mais ligado, porque ainda estou no conselho, o Rubens também, achei que ela estivesse me chamando só. “Pô, você acabou de sair, vem cá, vamos conversar.” Eu soube que o Vitor Daniel conversou com vocês, o senador. Sabia disso? O apelido dele é senador. Quer dizer, vocês pegaram gente antiga, de todos os tamanhos. Então, fica emocionante ver gente que já está longe, que saiu bem, saiu brigada, saiu por vários motivos, gente que saiu mal, todos os tipos, estar ali hoje dizendo “aquilo foi uma experiência pra mim.” É muito legal. Quer dizer, sendo sacana agora, legal o produto pronto depois, tendo esse material. Voltando a sua pergunta, comemorar os dez anos é legal, mas ter esse material depois de produzido, circulado e circulante é muito legal pros sócios, pessoas que participaram. Irélio, eu quero meu livro primeiro. Pode pegar os recadinhos que eu li direto, editar e mandar todos pra ele.
P/1 – Sérgio, qual é o seu maior sonho?
R – Bom, casar com a Lis não dá mais, que ela não quer mais. Vou tentar outro então. O segundo maior sonho, vamos lá: talvez, voltar a ter uma família. Não está dando certo essa vida de solteiro, não. Muita badalação, muito mergulho, muita festa, mas... Profissionalmente, eu já estou fazendo tudo que eu quero fazer, então é mais no...
P/1 – E o que você achou de ter participado da entrevista?
R – Gostei bastante. Foi bem leve, legal. Você quase chorou.
P/1 – Foi a luz.
R – Tá bom.
P/1 – Sérgio, é isso, obrigada.
R – Nada. Obrigado a vocês dois.Recolher