Em 1972, no mês de março, completei 15 anos de idade, foi o primeiro ano que estudei no período noturno, fiquei feliz, pois teria todo o dia disponível, não mais precisaria acordar cedo para ir à escola. Nesta época morava em Capinópolis, MG., cidade que fica no pontal do triângulo mineiro,...Continuar leitura
Em 1972, no mês de março, completei 15 anos de idade, foi o primeiro ano que estudei no período noturno, fiquei feliz, pois teria todo o dia disponível, não mais precisaria acordar cedo para ir à escola. Nesta época morava em Capinópolis, MG., cidade que fica no pontal do triângulo mineiro, cidade pequena, pacata, onde quase não se tinha noticia de violência. Porém, no início daquele ano, começamos a ouvir sobre alguém que estava matando pessoas e animais, com requinte de crueldade, na região de Centralina/Canápolis, cidades que ficam perto de Capinópolis, e que o assassino estava se dirigindo a nossa região, no início ouvíamos apenas rumores, comentários, porém com o passar dos dias os boatos e os comentários foram aumentando, o cruel assassino estava chegando a nossa região, começou a haver alvoroço na população, passamos a ver e a ouvir sobre alguns atos violentos em torno de nossa pequena cidade, vou relatar alguns deles, que não estarão em ordem cronológica, como os fatos aconteceram, pois já se passaram mais de 38 anos e a memória pode não ajudar. Um dos fatos, que eu acho que foi o primeiro, foi a matança de bezerros em uma fazenda, que ficava a uns três Km de distancia do centro da cidade, isto fez com que todos passassem a ficar apreensivos, com medo, começou a chegar policiais da Capital, os rumores de mais matança de animais aumentaram, e o terror e histeria generalizada se instalou, ainda mais com a morte brutal de um casal de agricultores, que morava em uma chácara perto da cidade, a polícia passou a procurar o responsável com um aparato que jamais havíamos visto em nossa cidade, com grande quantidade de soldados e armamento, desproporcional aos fatos ocorridos, os boatos passaram a ser intensos, o medo aumentando em uma proporção bem maior aos boatos, em poucos dias a cidade estava bem mais cheia, devido aos agricultores que deixavam suas lavouras e vinham para a cidade com medo, e ao mesmo tempo a cidade ficava vazia, principalmente a noite pois todos tinham medo de sair de casa. Os comentários, os boatos iam a cada dia mais se espalhando. Notícias iam surgindo que o monstro havia sido visto. Um dia eu estava na esquina da Rua 102 com a 99 ou 101, não me lembro mais corretamente o nome da rua, mas era a que ficava o bar do Negrinho Machado, , quando chegou uma guarnição policial, que dizia ter passado a noite inteira na captura do monstro, um policial que estava com uma arma grande, que deveria ser um fuzil, disse a todos que havia visto o monstro cara a cara, e atirou nele, porém as balas no início não saíram, depois quando saíram pegavam no peito do monstro e ricocheteava, a notícia se espalhou como um relâmpago, logo chegou uma noticia que um agricultor havia lutado com ele de facão, muitas pessoas se dirigiram ao local, que ficava em uma fazenda às margens direita da rodovia que dava para Cachoeira Dourada, dei um jeito de pegar uma carona e fui também, chegando lá havia um Senhor todo cheio de si, demonstrando como havia lutado com o monstro com seu facão, fazendo mil estripulias, policia por todo lado, nisto chegou uma equipe de reportagem, chamaram os curiosos que estavam no local, entre elas a molecada, incluindo eu, abriram o porta malas do carro da reportagem e tiraram varias armas, que pareciam umas “lafunchés” velhas que não mais funcionavam, nos entregou e nos pediram para, uns subirem em arvores, outros que ficassem atrás das arvores, outros deitados no chão, todos com as armas em posição de “tiro”, e após o cenário estar montado, passaram a filmar toda a cena, inclusive o valentão que havia lutado com o monstro, demonstrando toda a sua destreza, agilidade e habilidade com o facão diante das câmeras, dizendo que o monstro era bem alto, rápido como um saci, e que de seus olhos parecia sair fogo, e que quando estava para vencê-lo o mesmo sumiu como fumaça, a noticia correu como vento, o medo com uma velocidade maior.
Outro dia disseram que o viram em uma plantação em frente o cemitério, foi um alvoroço, uma multidão correu para o local, todos querendo ver ou pegar o monstro, tinha policiais fortemente armados por todo lado, vasculharam toda a plantação, sem sucesso, os boatos já começaram a surgir no local, uns diziam que achavam que ele tinha virado um cupim, outros diziam que achavam que ele tinha virado um tatu e fugido por um buraco de tatu, outros diziam que achavam que ele tinha fugido montado em um cavalo e que quando a polícia foi atirar nele o mesmo desapareceu como fumaça, mais tarde os comentários mudavam, já diziam que o monstro tinha virado cupim, tatu ou desaparecido como fumaça em cima de um cavalo. Em outra suposta aparição do monstro, foi usado cães, avião de combate de veneno deu vôos rasos a procura do monstro, tudo isto em uma fazenda que ficava em torno de 1 km fora da cidade, na saída para Ituiutaba, novamente se ajuntou uma multidão, a procura novamente sem sucesso, outra vez os boatos surgiram, se tivesse 10 rodas de pessoas, surgiam 10 versões diferentes para o mesmo fato, até que um dia foi anunciado que o terrível monstro tinha sido capturado, e que seria apresentado a população na delegacia da cidade, onde pouco depois se formou uma grande aglomeração, todos queriam vê-lo,
logo dei um jeito e fui ver o terrível e temido Monstro, que neste momento já tinha um nome, Orlando Sabino, cheguei ao local onde ele estava exposto à visitação pública, minha expectativa de vê-lo era grande, pois se dizia que era alto, forte, cara de mau, dos olhos saiam fogo, esperto como um saci, mais rápido que o vento, que tinha pacto com o “coisa ruim”, e como nunca tinha visto ou estado perto de um monstro, agora teria a oportunidade de ver um,
tinha a certeza que veria um terrível monstro, e quando o vi, decepção, vi apenas um homem franzino, pequeno, o rosto, em relação
a idade que diziam ter, era muito estragado pelo tempo, estava muito assustado, como um pequeno animal acuado, com um medo terrível, daqueles olhos que achei que veria sair fogo, o que vi saindo foi um pedido de socorro, como que dizendo “mamãe me ajuda”. Esta foi a minha impressão, a imagem que eu vi e tive de Orlando Sabino, fiquei frustrado, pois não vi um terrível monstro. Tinha visto apenas um pobre coitado, que parecia estar mais assustado que toda a população de nossa cidade.
A partir da captura de Orlando Sabino e sua transferência, creio que para Belo Horizonte, com o fim da histeria e do medo, começou a surgir muitas dúvidas e perguntas sem respostas, pois apesar de toda a boataria, todo comentário, tínhamos visto e presenciado apenas dois fatos concretos em nossa cidade, a morte dos bezerros e o assassinato de um casal de idoso, que morava em uma pequena fazenda bem próxima a cidade, os demais boatos eram que alguém tinha visto o monstro em determinado local, que o mesmo tinha matado animais de criação para comer, que tinha feito fogo para se aquecer ou cozinhar para se alimentar, porém nada comprovado, e não ficávamos sabendo quem ou de onde se iniciava os boatos, e quanto à justificativa para o fato do mesmo aparecer em diversos lugares diferentes, distantes um do outro, em um tempo que seria impossível para uma pessoa andando a pé percorrer, o que se dizia era que ele tinha parte com o “coisa ruim”, por isto poderia andar na velocidade do vento, desaparecer em uma nuvem de fumaça, boatos que durante o ocorrido não ouvi ninguém questionar, porém após sua captura iniciou-se o questionamento, pois o aparato policial/militar foi muito desproporcional ao que realmente havia ocorrido, as armas e equipamentos usados não era compatível com a simples procura do assassino de um casal de idosos, de uma cidadezinha encravada no pontal do triângulo mineiro, pois com a morte dos bezerros jamais o governo federal ou estadual iria se preocupar, a não ser somente as autoridades policiais local, por isto novos comentários começaram a surgir, inclusive que a policia havia prendido algumas pessoas na região, e que foram levadas da cidade sob sigilo,
sem nenhuma divulgação e/ou confirmação das autoridades, por isto ficou em uma parte da população da cidade a pergunta, “quem ou o que teria sido o monstro de Capinópolis? Aquele pobre coitado foi realmente o “MONSTRO DE CAPINÓPOLIS?
Uberlândia, MG.
William de Almeida, 12/ Janeiro/ 2011Recolher