Entrevistamos a Sra. Maria Aparecida Sávio Cunha, em uma manhã de sábado, fazia muito frio e o dia estava cinzento com um vento gelado que nos fez apreciar ainda mais o aconchego da biblioteca. A proximidade com a nossa convidada nos aqueceu, o azul da sua blusa parecia o céu em dia ensolarado. ...Continuar leitura
Entrevistamos a Sra. Maria Aparecida Sávio Cunha, em uma manhã de sábado, fazia muito frio e o dia estava cinzento com um vento gelado que nos fez apreciar ainda mais o aconchego da biblioteca. A proximidade com a nossa convidada nos aqueceu, o azul da sua blusa parecia o céu em dia ensolarado. Seus cabelos branquinhos e seu olhar cheio de ternura nos encorajaram a chamá-la de vovó, assim como nosso grande amigo Thiago, voluntário da escola, de quem ela é avó de verdade. Estávamos todos ansiosos e queríamos saber do que ela brincava quando pequena, se as suas brincadeiras eram iguais as nossas. Vovó, emocionada, foi falando desse tempo já tão distante, onde o trabalho era mais importante, o tempo reservado para os brinquedos era pouco, por isso de um valor muito grande. Nesse período ela morava em Jaú, cidade do interior paulista. Saiu de lá para morar em Diadema no ABC, pertinho daqui. Só chegou à Vila São Pedro em 1987, ano da ocupação inicial. Foi morar na beira do córrego Saracantan que naquele tempo tinha “vida”, suas águas eram limpinhas e nela viviam peixes que, muitas vezes, serviram de “mistura” em dias de poucos alimentos. Ela conta que a vida dos primeiros moradores foi muito difícil, não existia rede de água e esgoto, nem eletricidade. Espantavam a escuridão da noite com a luz de velas e lampiões. Bebiam água de uma bica que ficava na subida do morro, lá mesmo tomavam banho. A roupa era lavada no córrego onde muitas mulheres se juntavam e nesse trabalho coletivo, enquanto lavavam as peças, ima conversando e se tornando amigas. Perguntamos o que acontecia quando alguém ficava doente, vovó disse que era uma luta, na Vila não tinha médico e nem farmácia, os doentes eram levados para o Jardim Farina ou para o Jardim Irajá, onde, também, iam para pegar condução para o trabalho. Em dias de chuva o sofrimento era maior, tinham que colocar saquinhos de supermercado nos pés para poder atravessar o lamaçal e entrar no ônibus com os sapatos mais ou menos limpos. O local era cheio de mato e de bichos, principalmente cobras. Ela se lembrava de um dia em que viu uma cobra entrando pela janela de sua casa, tinha a pela toda verde e rastejava devagar, o grito que saiu de sua garganta trouxe um dos seus filhos que com um pedaço de pau, jogou a serpente para longe. Aves como urubus, corujas e outros pássaros, apareciam com freqüência. O brejo do entorno era habitado por um grande número de sapos, cujo barulho as vezes atrapalhava o sono dos moradores. Vovó Maria disse que a vida na Vila melhorou muito, as ruas são quase todas asfaltadas, já existe água encanada, escolas, centro de saúde, um comércio onde se encontra de tudo, só falta uma casa lotérica e um banco. Ela encerrou seu depoimento dizendo que devemos dar valor à tudo aquilo que temos e a sempre lembrar do sacrifício que nossos pais fizeram quando chegaram aqui na Vila São Pedro.Recolher