P1 – Bom, Sr. Carlos, pra começar a gente queria que o senhor falasse o seu nome completo, o local e data de nascimento.
R – Meu nome completo é Carlos de Oliveira. A data de nascimento é 07 de Janeiro de 1934. Nasci em Olímpia, estado de São Paulo.
P1 – E os seus pais?
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P1 – Bom, Sr. Carlos, pra começar a gente queria que o senhor falasse o seu nome completo, o local e data de nascimento.
R – Meu nome completo é Carlos de Oliveira. A data de nascimento é 07 de Janeiro de 1934. Nasci em Olímpia, estado de São Paulo.
P1 – E os seus pais?
R – Antônio Joaquim de Oliveira e Isabel de Oliveira, já falecidos.
P1 – Nasceram onde?
R – Meu pai nasceu em Sorocaba, filho de escravo, e minha mãe nasceu em São José do Rio Preto, filha de um sitiante.
P1 – E como foi essa trajetória pra eles gerarem essa família?
R – Ah, o meu pai praticamente, na época, a lei dizia que os escravos tinham que doar os filhos pros patrões. Então ele foi doado para um patrão, foi pro Rio de Janeiro, quando ele voltou pra Sorocaba ele já era moço, não encontrou mais ninguém, nem as irmãs nem os pais. Minha mãe era filha de sitiante em São José do Rio Preto. Aí meu pai, naquela aventura, foi a Piracicaba, depois foi pra São José do Rio Preto trabalhar na Companhia Paulista de Força e Luz. Aí namorou a minha mãe, casou e depois lá nasceu toda a sequência de filhos.
P1 – E o senhor lembra dos seus avós?
R – Avós por parte do meu pai eu não lembro de ninguém, porque eu não conheci ninguém. Da minha mãe, só conheci a minha avó porque o meu avô, que era o pai da minha mãe, já tinha morrido de câncer, tinha um câncer na cabeça.
P1 – E os irmãos?
R – Meus irmãos… Tenho a Ilda, a Araci, depois eu, depois a Elza e a Neuza.
P1 – Então o senhor era o único homem.
R – O único homem sou eu. Em 1940 e pouco, nasceram gêmeos. Mas naquela época não tinha estrutura, não tinha estufa, nasceram fora do tempo. Quer dizer, eram dois homens e as duas crianças morreram, não tinha condição.
P1 – E como foi a infância?
R – Minha infância foi na base do esporte, vida livre, estudando. Meu pai era eletricista e analfabeto. Minha mãe também. Então o que é que ele fez? Nos colocou pra estudar. Trabalhava e pagava a escola particular, que em Olímpia só tinha o Colégio Olímpia, que era também em regime de internato, porque aquela região ali de Barretos não tinha escolas de nível de ensino médio. Então, os fazendeiros mandavam os filhos pra Olímpia, ficava em regime de internato pra estudar lá. Eu estudava em Olímpia.
P1 – Nessa mesma escola?
R – E lá, atletas eram medalhista de corrida, salto de altura, salto triplo. Futebol jogava todo dia, jogava basquete, jogava vôlei. Era o que se fazia na época. Foi naquela época também do término da Segunda Guerra Mundial. Você vai fazer o quê? Tinha aquele blackout, 12 horas sem energia. Então, aquele grupo de alunos, de amigos da sala de aula, vivia brincando na praça ali, praticando esporte, porque a própria situação de vida na época era bem difícil.
P1 – E o senhor lembra da casa da infância do senhor? Como era?
R – Lembro. Era uma casa, não tinha forro. Ela tinha dois quartos, tinha uma sala de visita, uma copa e uma cozinha. Era um quintal muito grande. Muita fruta, porque a gente plantava muita fruta pra matar a fome, porque não tem lanche como hoje. Naquela época, não tinha nada disso. Pãozinho era um filão pra família toda. Cortava lá uma fatia e tudo. Fogão à lenha... então, no quintal tinha de tudo. Tinha parreira de uva no quintal todinho, goiabeira, amoreira, uma mangueira enorme do lado da casa, jambolão, aquele tamarindo, pera, laranja, tangerina. Tinha uns três ou quatros pés de tangerina. Tinha fruta o ano todo. Mamão então, à vontade, a gente até fazia muito doce de mamão. Eu e minhas irmãs éramos crianças, ralava o mamão, enfiava na panela de ferro até ficar preto, e depois comia.
P1 – E como era a rotina da casa do senhor? O senhor, o único menino numa casa de cinco irmãs?
R – A rotina é o seguinte, todo mundo tinha que participar, porque mamãe já começou com um princípio de doença, teve câncer, e todo mundo tinha que participar. Então, vamos supor, eu tinha que rachar lenha, eu tinha que varrer o quintal. No sábado eu tinha que puxar a água do poço, encher os dois tanques pra lavar a casa, porque eram aquelas tábuas enormes a casa. Então, as minhas irmãs… Umas lavavam roupa, passavam roupa, outra ajudava a fazer a comida. Rotina total. Tinha a parte de lazer, mas todo mundo tinha que estar participando.
P1 – E o senhor tem alguma lembrança marcante dessa época de infância, algum acontecimento, alguma coisa que se lembra ainda? Assim, aqueles eventos que a gente nunca esquece?
R – Não, a gente tem muitas alegrias, mas o que eu mais marquei é que no nosso grupo, que era na mesma sala de aula... Tinha um rapaz que tem quase o mesmo nome do Pelé, é Edson Arantes do Nascimento, é o nome do Pelé. Gozado, né? E esse menino era filho de um farmacêutico muito amigo da gente, e um belo dia ele almoçou e foi na piscina, porque o colégio tinha um campo de futebol, tinha quadra e tinha uma piscina. Ele foi nadar e morreu. Deu uma congestão e morreu. Então, ficou muito marcante pro grupo, uma morte tão estúpida. E a saída da gente, eu saí de Olímpia em 1955, é toda uma vida, né? Então, a gente sente saudades. Eu nunca mais voltei em Olímpia. Por mais que o pessoal convidasse, porque tem as festas de folclore, que é a nível nacional, convidam, mas eu não tenho condição emocional pra ir lá. É como aqui. Aqui eu me preparei bastante porque desde que eu me aposentei eu não vim pra cá.
P1 – Essa é a primeira visita do senhor à fundação?
R – É a primeira vez. Vocês são heróis por ter conseguido ter me trazido, porque já estão telefonando aí, já estão querendo falar comigo.
P1 – Olha que a gente tentou esconder o senhor pra não ter esse movimento. E a adolescência, como foi?
R – É, essa parte que eu disse aí foi na minha infância e adolescência.
P1 – Essa saída de turma, bailinho?
R – Não, não sou muito de baile não. Não sei dançar não. Eu sou fruto do esporte, eu pratiquei muito esporte. Era dia e noite esporte, certo? Mas pra dizer… Tinha namorada, mas aquela coisa, assim, muito distante. Eu falei: “Eu vou casar com 40 anos de idade”. Eu fui numa excursão com as minhas irmãs pra Foz do Iguaçu, eu fui conhecer minha esposa lá, que também estava nessa excursão. Aí foi um ano de namorico, aí já achamos melhor... A minha própria sogra, idosa, ela estava morando aqui em Pinheiros, ela achou melhor, falou: “Ah, casa logo porque eu quero ir lá pra Águas de Lindóia, não me adaptei aqui na capital”.
P1 – E essa escola dos seus primeiros estudos, como que era a estrutura, os professores?
R – Olha, era uma escola… Os professores eram muito eficientes. Agora, como o regime antigo, muito enérgico. Apesar de que, no grupo, quando eu fiz o grupo eu tive o Professor Deodato, o Professor Wilson, que eram enérgicos. No grupo, já na terceira e quarta série. Quando eu fui pro ginásio, então... Antigamente era ginásio, né? Aí eu peguei Otilde, Vitório Orlão, Professor Dimas. Eram todos professores enérgicos, principalmente o Professor Otilde, o professor de matemática. Eu adoro matemática, porque eu tinha que aprender mesmo. E era puxado, eram dois livros, eram 40, 60 exercícios por dia, e tinha que fazer. Então você aprendia mesmo. Não é como hoje, dá um exercício ninguém faz nada. Era uma escola bem puxada. E o dono era um português, Dr. Neves, e ele era duro também, era um português duro mesmo. Não tinha moleza na escola. Então, era uma escola eficiente.
P1 – E o senhor era um bom aluno? Como era o seu desempenho?
R – Geralmente toda pessoa tem um destaque. Vamos supor, eu sempre gostava de história, geografia e matemática, eu adorava. A parte também de… Como é que fala... de desenho. Antigamente, tinha o desenho no currículo, então eu gostava muito. Agora, português, inglês, francês... porque antigamente eu tinha latim, português e francês, três línguas estrangeiras, eu não gostava muito não.
P1 – E o senhor ficou lá até quando?
R – Em Olímpia?
P1 – Na escola.
R – Na escola até 1954.
P1 – E depois foi estudar aonde?
R – Não, não, encerrei o curso lá. Depois, no ano seguinte, eu vim pra São Paulo.
P1 – E aí já pra trabalhar?
R – Eu vim fazer o curso aqui de Pedagogia, eu não me lembro a data.
P1 – Aí o senhor fez Pedagogia.
R – Eu fiz Pedagogia no Colégio Piratininga, Faculdade Piratininga, lá na Praça Marechal Deodoro, na Av. Angélica. Hoje é FAAP [Fundação Armando Alvares Penteado], né?
P1 – É Alvares Penteado.
R – Eu sei que eles foram lá ________ Vila Mariana.
P1 – E aí o seu trabalho, chegando aqui o senhor foi trabalhar? Como foi essa chegada?
R – A vida foi dura aqui, porque você chegar, num lugar estranho, professor, não tem escola, então tem que se aventurar. Família grande, muita boca pra comer, só a minha irmã que trabalhava e o meu pai contava com a aposentadoria. Então não dava. Aí eu me aventurei, fui trabalhar nessa oficina, essa indústria de material industrial, mecânica. E lá se fazia de tudo também. Eram alemães. E alemães, por sermos de cor negra, existe um certo preconceito. Estávamos como auxiliar de escritório, mas não tinha nada de auxiliar de escritório, não: “Ah, a máquina está suja, vai limpar a máquina. Tem que varrer o chão”. De repente terminava isso, “vai fazer o serviço de banco”, aquelas placonas. Antigamente tinha aquela coisa, você dava o documento no caixa e eles te davam uma placa. Depois você vinha, tinha que correr todos os bancos ali na rua 15 de Novembro. Em seguida mostrava, aí eles já quitavam o documento que você tinha entregue. Então, depois dali, eles me mandavam para um depósito para auxiliar o chefe na expedição de máquinas, prensa. Vendia muito na época, aquele ciclo da expansão industrial de São Paulo. Então, muita máquina era vendida. A gente corria. Hoje eu conheço São Paulo todinha porque eu corria com caminhão entregando máquina. É impressionante. Depois disso aí eu parei, eu entrei na área de esporte, fiquei como técnico de futebol do Nacional.
P1 – O Nacional...
R – O Nacional Atlético Clube. Trabalhei lá, eu era técnico do infantil e juvenil. O campeonato é a primeira divisão de São Paulo. Então ali, era sábado de manhã, sábado à tarde, domingo de manhã e domingo à tarde. Trabalhávamos na área de esportes. E fora os treinos durante a semana, treino à tarde, treino à noite. Mas depois, comecei a perceber, aí eu também comecei a trabalhar nessa área, na (Casa de Esportes Miguel Delero?), que hoje existe a indústria (Delero?), era fabrica camiseta, material, inclusive tem algumas, não sei, no Japão, na China, muito material deles vem desses países. Minha irmã falava muito: “Você é professor, entra no Magistério.” Aí eu fui pra Cajamar. Em Cajamar então eu fui procurar uma… Eu ia abrir uma caixa de emergência numa fábrica de cal. Cheguei lá, a diretora falou assim: “Vem cá, tem duas vagas aqui. Porque que você não fica aqui? Estou esperando a substituta que a delegacia ficou de me mandar, mas não mandaram.” Eu falei: “Ah, tudo bem.” Aí fui dar aula. Uma substituta não veio, então ela foi pra São Paulo, avisou o delegado que já tinha arrumado um professor e lá eu fiquei. Fiquei lá e fiz um excelente trabalho, ficava o dia inteiro porque era na Lapa, eu precisava pegar uma jardineira na Lapa. Eram três horas pra chegar lá em Cajamar. Então eu ia de manhã e voltava à tarde. Aí eu montei, dava aula à tarde, montei horta, montei museu, montei biblioteca, fiz um trabalho, um jardim com os meus alunos. E o delegado de ensino ia lá: “Cadê a diretora?” Ela nunca estava. Aí ela largou a escola pra mim. Eu fiquei praticamente dirigindo a escola, largou a escola por minha conta. Ah, não deu outra, logo depois apareceu essa oportunidade aqui pra Fundação Bradesco. Um belo dia ele me chamou e falou assim: “Eu vou mandar você pro Bradesco”. Eu falei: “Ah, não, eu não vou” . “Não? Como não? Você vai lá, é classe de emergência. Você ganha as férias, férias de junho, férias de verão, você vai pra lá.” Aí eu vim. Porque aqui é o seguinte, Osasco era bairro de São Paulo. Como sendo bairro de São Paulo houve a emancipação. Numa briga política o Prestes Maia retirou, de uma hora pra outra, todos os professores do município de São Paulo daqui de Osasco. Então ficamos sem ninguém. Aliás, as escolas nossas aqui eram tudo barraco, tudo barracão. Só tinha um prédio de alvenaria, que era o Marechal Bittencourt, o resto era tudo barraco. Aí foi aquela loucura, o estado teria que assumir. Nessa época, aqui era um núcleo residencial, Cidade de Deus. Então tinha um barraco do lado da Igreja, barraco que já estava tombado, meio caindo já. E os nossos alunos aqui no núcleo estudavam aqui, e os pais estavam reclamando muito. O Sr. Amador, então, resolveu construir uma escola. Essa escola que vocês viram na fotografia foi construída em 45 dias. Trabalharam dia e noite pra construir essa escola, seis salas de aula, diretoria, um gabinete dentário e depois uma sala pra biblioteca, uma sala de recurso áudio-visual, um galpão. Aí então, o Sr. Guiomar Rogério criou seis classes de emergência aqui. Então vim pra cá, eu e mais cinco professores começamos a dar aula aqui. Um dia ele chegou e falou pra mim: “Você vai lá, vai dar aula, mas você vai assumir toda a direção da escola.” Aí nós tínhamos uma representante do banco. O banco então passou a dar a merenda escolar, que era feita no restaurante onde é o museu hoje. Ali era o restaurante do Bradesco. Ele me deu uniforme, aquele uniforme branco com aquela capinha azul, sapato, meia. Tinha um dentista, montou um gabinete dentário. Tinha um consultório médico logo na saída aqui da _____, e fazia a assistência médica ali. Tinha uma farmácia e um consultório. Esse sistema funcionou até 1967, mas aí já no segundo ano já superlotou, aí já teve que construir mais três salas. Depois, num outro ano, o Sr. Amador resolveu fazer uma cozinha, só que ele queria fazer uma cozinha que atendesse à população pobre. Aí eu fui contra, discuti com ele: “Só pra merenda da escola.” Aí ficou só pra merenda da escola. Então iniciamos aí. Praticamente, nós tínhamos uma faixa de uns 300 e poucos alunos no início. Funcionava de segunda a sábado. No primeiro ano, que aí que começou a dar o impulso, que o Sr. Amador começou a gostar. No primeiro ano, em junho já, nós já fizemos um desfile na cidade, uma fanfarrinha de escoteiro, formamos um grupo de escoteiros, formamos um grupo de meninas no ginásio, que a gente _________. Eu montei uma ginástica rítmica com bandeiras e fizemos uma apresentação que era… O local dos grandes eventos era em frente à associação, ali no Cristo. Tinha o prédio ali, então fizemos no gramado e toda a diretoria, as autoridades é que _________. Aí, o Sr. Amador começou a se entusiasmar. E o Sr. Amador era daquele tipo, a Cidade de Deus começou também no ciclo de construção. Começou, então, a se construir a gráfica, que era aqui, depois restaurante em cima da gráfica, construiu esse prédio, depois construiu uma série de prédios também aqui logo acima da piscina ali, uns prédios que eram pra apartamentos, no fim virou até hospital. Depois construiu mais um _____, depois mais a gráfica aí. A gráfica saiu daqui e construiu um prédio grande da gráfica lá. E o Sr. Amador era um tipo... Como ele corria a pé na hora do almoço, ele olhava a construção, ele ia lá na fundação. E lá ele ficava quase todo dia, uns 20, 30 minutos falando sobre educação, precisava fazer isso, precisava fazer aquilo, precisava fazer não sei o quê. Foi quando ele começou, falou: “Nós precisamos ter aqui um currículo”, que isso nós não conseguimos fazer. Ele queria um currículo específico só pra português, matemática e cidadania. Ele falou: “O resto aprende na biblioteca. Nós montamos uma boa biblioteca, aprende na biblioteca. Geografia e história é na biblioteca”. Nós não conseguimos fazer porque também o Estado não ia deixar. Pra gente conseguir Canuanã foi uma loucura, mas depois, assim mesmo, cortaram. E ele então começou a passar pra gente tudo aquilo que ele pensava, que ele gostaria que fosse, e a gente foi fazendo. O primeiro pensamento dele, que ele falou, foi isso: “No meio pobre”, ele falava: “Carlos, no meio pobre tem tanta gente boa, mas eles não têm oportunidade de vencer”, como até hoje, né: “Vencer na vida. Vamos construir mais escolas com tudo, com um bom laboratório, com uma boa biblioteca, assistência médica, assistência odontológica e outras atividades profissionalizantes, que o menino pode mexer com jardinagem, com granja, com horta. Na sala de artes ele pode ter uma marcenaria, as meninas podem ter corte e costura, pintura, manicure, aquelas coisas todas, entendeu?”. Ele é abrangente, né: “Vamos fazer tudo isso que a criança sai com uma formação adequada, certo?”. E nós fizemos e graças a Deus deu certo. E depois, em 1968, 1969, por aí, foi criado o Centro Educacional Bradesco, foi quando começou o ensino médio, montou um laboratório de eletrônica. A parte de informática, montou um laboratório de informática. Pegamos os profissionais, antigamente tinha o centro, a parte de informática do banco, não me lembro o nome. Então levou daqui os melhores profissionais pra dar aula lá. Aulas de administração, pra poder fornecer pro banco bons administradores. Então, isso nós começamos aí, que era o Centro Educacional Bradesco. As outras escolas foram se formando na mesma linha aqui da matriz. Então, o que aconteceu? Começaram os cursos de capacitação, e um dos cursos era, antigamente, datilografia. Informática ainda não estava muito. E aí a gente formava o curso de Formação de Contínuo. Então o menino, quando fazia 14 anos, não tinha “a” nem “b”, podia ser o filho do presidente, ia trabalhar no banco. Então, já não era curso, não ficava apenas na sétima ou oitava série. Já vínhamos da sétima ou oitava, à noite, enquanto trabalhava no banco durante o dia. Hoje tem muitos aí. Pode ser que tenho… Tem um menino, eu não lembro o nome dele, só vendo no balancete do banco o nome dos diretore, mas esse menino foi da fundação. Hoje parece que ele é vice-presidente. Tem o Washington também, que eu não sei o sobrenome, que parece que é vice. Quer dizer, e futuramente outros que vão alcançar a situação nossa aqui do banco. Hoje aqui, dentro da Cidade de Deus, nós temos uma infinidade de alunos. Atualmente, a maior parte dos alunos são alunos da Fundação Bradesco.
P1 – E como é que era pra entrar na escola, os alunos? Como é que eles faziam?
R – Olha, no começo abriu para a comunidade. Porque quando começou isso, o próprio funcionário não acreditava muito. Depois passou a acreditar, então nós tivemos que começar a abrir só para filhos de funcionários. Aí a coisa começou, porque chegou uma época em que se tinha 17 mil funcionários. Desses, uns 7 mil funcionários são casados, então, você imagina. Nós não vamos ter vagas pra tudo isso, assim como hoje, não tem vaga pra atender todo mundo. Então, aí que começamos a adotar a política de que filho de funcionário praticamente tem que ser por tempo de casa. Mas sempre foi uma loucura, a fundação sempre, desde que começou… A bendita doença de vaga é impressionante. E não é só aqui, é no Rio de Janeiro, é lá na Bagé, é lá em cima em Macapá, é lá em cima em Manaus, em qualquer cidade é uma verdadeira loucura, querendo vaga. E aqui era terrível. Vale dizer que, quando nós preparamos uma ação de graças, o evento ia ficar, na época, R$400 mil. A Dona Ana Eliza até falou: “Qual o objetivo da ação de graças?”. Então colocou algumas coisas e falou: “Olha, era um pedido do Sr. Amador, ele gostava”. É uma mídia. Pra você ganhar 30 minutos de televisão no Brasil, uma rede de televisão colocando no Brasil todo a Fundação Bradesco, é uma mídia, né? Ela falou: “Nós temos um pedido”, porque ela também não aguentava, onde ela ia todo mundo pedindo vaga. Então, nós tínhamos aqui esse terreno, que era um projeto de esporte, que depois eu comento também. E aí então ela falou: “Que tal nós fazermos um prédio, uma escola grande, enorme, aí acabamos com esse negócio”. No fim, deixamos de fazer ação de graças e construímos esse prédio. Mas eu acho que até hoje nós estamos ainda nessa loucura de que o pessoal quer vaga e não tem, porque o nosso grande objetivo foi justamente passar aquelas noções básicas de cidadania, de valorização do estudo, que era muito importante. Então, praticamente, o aluno da fundação é outro, o comportamento dele é outro. E é a paixão dele, porque ele entra aqui com quatro anos de idade, passam uma vida aqui, todinha. E esse objetivo o banco sempre teve, carreira fechada. O menino que entrar com quatro anos, se ele vencer no Bradesco ele vai ser diretor do Bradesco. O único presidente do Bradesco que não era da fundação é o Márcio. O restante todos, você vê lá, toda a diretoria, tudo passou pela Fundação Bradesco.
P1 – E como é que era o dia a dia naquela época, naquele primeiro começo… A rotina da escola, a sua relação com os professores, com os alunos?
R – Ah, a rotina é sempre uma rotina alegre, uma hora séria. E a gente procurava, sempre fazer atividade com o aluno. Ele tinha aula de manhã e à tarde ele vinha fazer uma atividade, ou uma aula de educação física ou alguma coisa a mais, um trabalho de biblioteca. Você preenchia, inclusive, você dava lanche pro menino também, como hoje nas escolas. Todas as escolas da fundação têm um horário aqui. O menino vem de manhã, à tarde ele volta. Então, tem um trabalho no jardim, tem um trabalho de biblioteca, tem um trabalho na granja, tem um trabalho no pomar. As aulas diversificadas, de capacitação, são feitas fora do horário. Todas as escolas hoje já têm a parte de informática, então tem treinamento. Então era um ambiente alegre. Os professores eram muito alegres, eram muito capazes. Não é aquele tipo de professor, assim, que dá aula por dar. A primeira coisa que você tem que ter é gostar do aluno, gostar do ser humano. Qual é o grande problema do Brasil hoje? A pessoa que vai mexer com criança e não gosta de criança. Então não funciona, não é? Dá aula assim, de qualquer jeito, não tá nem aí. Então esse tipo de situação é que não pode. Se você chegar numa escola pública, começar a checar o professor: “Professor, o senhor gosta do aluno, o senhor ama o aluno?”. Pra ele simplesmente pra falar: “No fim do mês eu preciso pegar o meu”. Então é difícil.
P1 – E como que era a seleção dos professores?
R – Olha, os do Estado vinham pelo Estado. Quando nós começamos, em 1968, nós reaproveitamos os professores do Estado, se eles tinham interesse. A maioria teve interesse e continuou. Mas depois, com o crescimento ________, aí já foi selecionando, umas vezes por indicação mesmo. A minha irmã veio dar aula aí, mas não por mim. Ela foi indicada por uma outra pessoa. Eu falei: “Olha, ela está aqui mas não fui eu que trouxe, não”. E assim aconteceu com as minhas outras irmãs e professores. E, vamos supor, na primeira turma do Estado, nós tiramos a (Regina Devinte?). Ela foi uma das pioneiras também, depois ela ficou como diretora. Ela saiu em 1961. Aliás, ela deve ter saído 1962. A Regina deu uma vida, ela era solteira, e integrou de uma tal maneira que ela ficava o dia inteiro, de manhã, de tarde e à noite. Às vezes, saía dessa escola às 24h, porque tinha os alunos problemáticos. Aí nós tivemos aquela fase de adolescência, uma fase difícil da adolescência, porque o banco tem um critério em que ele não admitia, vamos supor, barba, cabelo comprido, brinco. E você sabe, com a globalização as coisas foram abrindo... Então os alunos também. Via na televisão uma coisa, chegava aqui era outra. Então foi começando a criar os conflitos, e o menino desabafa conflito dentro da escola, né? Então várias vezes a Regina tinha que ficar com o
pai, conversando. Alunos que soltavam uma bomba, que quebravam, que brigavam, foi uma fase difícil. Depois, com a vinda da Dona Denise, parece que ela convenceu o pessoal: “Ah, tem que ser mais tolerante” . Então, vamos supor, me parece que o pessoal hoje, o aluno tem um brinquinho, não sei se ainda tem que ser o cabelinho aparado, não é? E tinha algumas coisas que a gente também falava. O menino usa o cabelo comprido. Pra você ter um cabelo comprido você precisa gastar dinheiro, não é? Você precisa lavar toda hora com xampu, alisar, aquela coisa. Tem um custo. Então vamos supor, se o menino é pobre, como é que vai gastar dinheiro com cabelo? Então é preferível cortar mesmo porque aí passa um pente assim de qualquer jeito e acabou. Então não é que seja assim: “Não, não pode”. Até um dia um visitante falou: “Se Jesus Cristo vier aqui, não pode entrar?”. Ele ficou sem resposta.
P2 – Sr. Carlos, nessa trajetória profissional com a fundação, houve algum desafio assim a ser enfrentado?
R – É, um desafio também foi esse. O advento da globalização é ter esse tipo de reações não só do aluno, porque às vezes, o próprio professor também ter vindo de uma faculdade nova. Porque aí você vê, as faculdades hoje são super liberais. O dia que eu fui fazer pedagogia eu fiquei horrorizado. Eu entrei na aula assim, perto de onde tem o quadro negro e estava cheio de papel. O pessoal fazia um negócio, amassava assim, jogava, batia no quadro e caia no chão. Eu falei: “Meu Deus do céu, onde está a educação?”. Pedagogos, os futuros pedagogos. Até postura de sentar, aquela coisa. Quer dizer, são coisas que a gente começa a ver. Então, você vê professor, aí o professor também começa o desafio. Nós tivemos uma época muito difícil aqui. Em 1968, o Sr. João Carriero conseguiu montar uma equipe técnica, e justamente ele trouxe uma equipe... Na Lapa tinha o Grupo Escola Experimental. Na época era aquela super modernização, e vieram esses caras pra cá. Ai meu Deus do céu... Quer dizer, todo mundo naquela linha, aí vem a modernização. Um dia, um menino chegou num quadro de aviso e pá, quebrou o quadro. O quadro machucou outros lá. A gente: “Tem que ser punido”. Como é que vai quebrar um quadro? É um patrimônio, é uma coisa que custou dinheiro. Não é assim. Se o menino está com um problema íntimo, tem a orientadora educacional, tem a orientadora pedagógica. Aí vai falar com a orientadora: “Ah, não, mas se ele está com aquela vontade de quebrar o quadro, é um instinto dele, tem que deixar”. Eu falei assim: “Você quer deixar dar um murro na tua cara, e como é que faz? Aí como é que a gente vai consertar?”. Aí foi uma época difícil. Eles eram muito inteligentes, a equipe, muito inteligentes, mas era uma época super moderna. Infelizmente não deu certo. Foram dois, três anos, uma luta, o próprio banco com críticas também. Nós começamos também a saber, por baixo do pano, o passado desse pessoal. Aí aquele negócio que vocês estavam comentando no almoço, muitos já tinham trabalhado em guerrilhas. Então quer dizer, já tinha uma “formaçãozinha”. Eu falei: “Ih, corta, corta, corta, corta. Mexer com isso aqui dentro?”. A nossa organização até agora foi bem, o produto é excelente, porque é que nós vamos querer mudar? Aquilo que é bom não se muda, procura se aperfeiçoar, mas o que é bom não se muda, certo? Então é que nem hoje, o Brasil tem mania: “Ah, mudar, mudar”. O que está numa rotina, aquilo que é bom, pra que é que vai mudar? Não há necessidade.
P1 – E naquela época, que o senhor fala que até 1962 começou com a emergencial, né?
R – É. Emergência, classes de emergência.
P1 – E assim, como foi a idéia assim, homenagem ao... o senhor tem...
R – A Cidade de Deus, a escola?
P1 – É.
R – Aconteceu o seguinte. Aí é uma história que envolve o banco. O banco estava em São Paulo, a matriz era na rua 15 de Novembro, que hoje parece que deve ser central. Não sei se é central ainda, né? Deve ser central. Aí o Sr. Amador, um homem do interior, você entendeu? Aquela loucura do centro, 15 de Novembro, aquela loucura, trânsito, funcionária chega atrasada, aquela coisa. O Sr. Amador
era disciplinador, gostava das coisas certas. Ele adquiriu essa gleba, o banco adquiriu essa gleba aqui. Eu não me lembro quem era o dono, mas o antigo dono disso aqui era o Santos Dumont. Aqui em cima tinha um chalezinho alto, tinha um mirante. Eu costumava ver. O pessoal típico daqui de Osasco comentava, a pista de pouso era aqui aonde é esse supermercado. E parece que algum artigo da história de Osasco deve ter fotografia dessa pista de pouso aí. Aí o que aconteceu? O Sr. Amador fez esse núcleo, fez aqui o prédio amarelo, o primeiro prédio construído, e as residências. Fez a associação e uma piscininha redonda, deve ter até hoje lá, um campo de futebol, um ambulatório médico e dentário pra atender a comunidade. Vilar antigamente era a zona sul de São Paulo. Depois das nove horas, você não passava na Avenida Vilar não, era assaltado. Era tremendo isso aqui, era o Santo Amaro hoje. E resolveram fazer isso aqui. O Edmundo Monteiro, do Diários Associados, caiu matando. “_____, puxa vida, um banco ir
pra uma periferia”, porque era bairro, né? “Periferia”. E meteu a boca. Aí o Sr. Amador vai engolindo. No dia da inauguração o Sr. Amador convidou o Governador do Estado, Lucas Garcez, pra inaugurar a Cidade de Deus e convidou Assis Chateaubriand. Ele _____ dele lá, _____. Antes de morrer, ele chegou a ir na fundação, na escola, umas duas vezes. Depois uma época ele estava muito ruim, ele veio no prédio azul, nós recebemos ele no prédio azul. Veio aqui. A hora que ele viu isso, viu o objetivo da coisa, ele falou pro Amador: “Amador, isso aqui é a coisa mais linda. Isso aqui é uma cidade de Deus, é uma parábola de Santo Agostinho, é uma cidade de Deus”. Aí deu o nome de Cidade de Deus. Então depois, logo foi praticamente passada a emancipação e ficou.
P1 – O grupo foi uma homenagem?
R – Então o Amador, pra retribuir, ele colocou, falou: “Olha, eu gostaria que o nome da escola fosse o nome do Assis Chateaubriand”. O Sr. Assis não tinha morrido ainda, não. Aí nós fizemos, pusemos lá uma placa com o nome dele. Aí na inauguração apareceu o Edmundo Monteiro e o Sr. Laudo Natel, que veio na inauguração da escola. Foi dia 26 de junho, dia de São Pedro, 26 de junho de 1962.
P1 – O senhor lembra da festa?
R – É, nós fizemos o seguinte, fizemos a inauguração, a cerimônia lá pra dar a placa e depois de lá saiu um desfilezinho, até em frente à associação, e ali fez aquelas apresentações. Nesse dia o Sr. Ademar Rogério, que era delegado da Terceira Delegacia de Ensino, tinha um encontro de delegados de ensino em São Paulo. Ele trouxe todos os delegados, 35 delegados de ensino. O estado de São Paulo participou aqui na festa. Depois fizeram um almoço lá e acabou.
P1 – E a Cidade de Deus, como era?
R – A Cidade de Deus era uma cidade alegre. Alegre porque ela tinha, parece que eram 110 residências, nós tínhamos o ambulatório médico, nós tínhamos a sociedade. Antigamente se fazia o bailinho. Tinha o salão de baile na cidade. Pro lado de cá era salão de baile, do outro lado era snooker, pebolim, ping-pong. E depois tinha o campo de futebol, aqui embaixo. Aqui era um matão. Isso aqui era tudo mato, só tinha o campo aqui. Toda vez que a Cidade de Deus fazia aniversário, eles faziam uma festa, trazia o pessoal do Canal 4, porque na associação tinha uma porta que abria, era o palco. Então o pessoal vinha no Canal 4 dar show aí nos dias do aniversário. Era muito alegre. Os moradores tinham, geralmente um pessoal muito alegre, o Sr. José Silva, o Sr. Moacir Apezato e outras pessoas aí. Eram pessoas assim bacanas, sempre estavam fazendo festa. Onde é o Cristo ali tinha uma botcha, a velharada que gostava de jogar uma botcha. Então o pessoal não saia daqui. E também não ________ porque botar a cara na Vilar era assaltado, principalmente quem... Porque na época tinha aquela bendita rusga do pessoal de lá com aqui. Então sair ali, só sair de carro mesmo, que a pé não dava. Se você soubesse o caminho que chega na estrada lá, no terminal lá, você não pode imaginar... Era um barro, uma terra, tudo. O banco inclusive tem uma parte ali que tem um paredão, o banco precisou fazer o paredão porque senão a rua ia rodar toda. O banco que asfaltou toda essa rua aí pra chegar aqui na porta da Vilar.
P1 – O senhor morava aqui?
R – Não, eu morava aqui no Parque da Lapa, atrás do Cemitério da Lapa.
P1 – O senhor tem informações pra gente a respeito do Top Clube?
R – Olha, o que eu sei do Top Clube é que o Top Clube trabalhava com seguros e o lucro era revertido ao ensino, que era a Fundação Bradesco.
P1 – E ele, depois da criação do Top Clube a fundação foi crescendo ou ela sempre teve um porte?
R – Não, a fundação sempre teve apoio. O banco não tinha um critério, o Conselho deliberava critérios de doações. E mais, o Top Clube tinha doações particulares também. Então a gente trabalhava, nós sempre trabalhamos com orçamento. O orçamento nosso era rigoroso, então tinha que ser cumprido mesmo. Não podia estourar o orçamento porque senão também a cabeça rolava. Tinha que saber gastar. Então a gente trabalhava muito com os orçamentos. E depois teve uma época da inflação. Aí até um menino, o Jefferson, acho que está na lista também, o Jefferson é um economista de primeiro mundo, é o Delfim Neto nosso. O Jefferson começou a pegar o dinheiro da fundação e investir. Era quase que diário, ele investia, ganhava dinheiro na bolsa, investia, ganhava dinheiro. Aí o bolo da fundação foi crescendo de tal maneira que hoje nós somos independentes, nós não dependemos mais do banco. Hoje, o banco dá uma ajuda, mas é no final do ano, sobre o lucro. Mas, todo esse trabalho foi feito pelo Jefferson, e a gente fazia um orçamento super detalhado. Teve uma vez que nós fizemos um orçamento, teve um diretor que teve dúvida do orçamento e o Sr. João Carreiro ficou até doente. Aí tive que vir aqui, ele falou: “O problema é teu”. Eu falei: “Mas como? Não tem problema nenhum, vamos lá”. Aí vinha uma reunião. Ele foi com um outro diretor do banco aí, Itamar Correia. Tem um nome, tem um apelido até, Corintiano Roxo. Então ele teve dúvida, ele chegou lá e falou: “É, mas quantas mil dúzias disso, mil dúzias daquilo”. Eu falei: “Tudo bem”. “Tem lugar que é muito, tem lugar que é pouco”. Então eu comecei a fazer a exposição pra ele, eu falei: “Olha, Conceição do Araguaia é areia e não tem água tratada. Então o menino anda na areia, suja a camisa, vai lavar, água salobra, na época de chuva anda na água, porque não tem asfalto. Então ele tem que ganhar três congas, camiseta, ele tem que ganhar quatro”. “Ah, é? Mas porque Gravataí?”. “Gravataí tem água tratada, tem asfalto, quer dizer, lá são duas camisas, duas congas são suficiente”. Assim eu fui fazendo essa exposição e não sei o que. Olha, foram dez minutos que eu fiz a exposição, ele começou, porque ele era corintiano e o João era são-paulino. Aí ele começou a brincar com o João sobre o negócio do Corinthians, do São Paulo, Corinthians e São Paulo, acabou a reunião. Aí a turma... estou com o nome dele na boca: “Mas vai acabar a reunião?”. Ele falou assim: “Ah, não, o homem entende muito, sabe muito, pelo amor de Deus. Aprendi, aprendi. Oh, João, pode levar o orçamento que nós vamos aprovar”. Aí ele falou: “Por que não ________?”. “Em Manaus falta camiseta”. “Ah, falta camiseta número 10”. “Nós vamos fazer um pedido de compra aqui pra mandar a camiseta
número 10 pra Manaus. Vamos supor, 30 camisetas? O frete sai mais caro, se tiver que mandar vamos mandar tudo”.
P1 – Nessa época tudo saía daqui da sede?
R – Tudo era comprado aqui. São Paulo, né? A única coisa que não comprava, que era feito, a alpargatas fazia um bamba pequeno e um maiorzinho. Depois fecharam, foram pra Pouso Alegre, mas o resto é tudo comprado. Até hoje, tudo comprado aqui e mandado, tudo pacote pra todas as escolas, porque as escolas fazem um trabalho de levantamento. Depois, nós passamos os materiais aqui, checamos quando a coisa está um pouquinho a mais, tem sempre um pouquinho a mais. A gente checa, aí: “Tudo bem, é que eu pus um pouco a mais”. “Não, vamos por a realidade pra depois chegar no preço correto, orçamento certo e mandar”.
P1 – O senhor ficou na direção da escola até que ano?
R – Olha, até 1968 eu fiquei na direção da escola. Aí a Dona Cleide passou a ser diretora, porque aí integrou. Eu era de primeira a quarta série e ela era de quinta a oitava e o primeiro e segundo do ensino médio. Então eu passei pra ela porque eu tive que criar um outro departamento, que é um departamento de patrimônio da fundação, que é justamente isso. Aí já vinha a parte de pessoal, admitir pessoal, a parte de compras, a parte de construção, a parte de manutenção, a parte de contabilidade. Todas as notas, todas as despesas de toda a Fundação Bradesco passava na minha mesa e eu tinha que olhar uma por uma e tinha que assinar, porque se eu comesse bola numa nota ali a inspetoria estava em cima porque tudo que... Existe uma triagem da inspetoria em cima da contabilidade. Então graças a Deus eu nunca tive problema com inspetoria.
P1 – E dessa época da escola, que o senhor estava lá naquele dia a dia com os alunos, tinha algum aluno assim, sabe aquele aluno especial, que o senhor lembra da história dele, da trajetória dele?
R – O aluno especial que tem é um menino que hoje ficou no meu lugar, Antônio Carlos Dorneli. O nome dele está incluído também. Esse menino é de uma família de alta paulista lá, Tupã. Parece que foi pra Tupã na cidade, vendeu o sítio e chegou lá, se meteu com as mulheres da vida, perderam tudo, uma família enorme, tudo passando necessidade. Aí houve uma época de uma expansão. Aqui na matriz admitia o seguinte, o sujeito chegava na datilografia fazia assim, tic, tic, tic, tic, tá ótimo, e era admitido. Estava admitindo a rodo. Eu sei que nós temos essa Sorocabana aqui, você pega aí Tietê, Tatuí, Cerquilho, tudo descia a Sorocabana pra trabalhar aqui. Lá era Alto da Paulista, também a mesma coisa. Então esse menino veio pra cá e a mãe dele um dia apareceu lá. Aí as irmãs dele começaram a trabalhar de inspetora de aluno, o pai é faxineiro, e é assim, quer dizer, outro escriturário, tudo trabalhando no banco porque o banco admitia todo mundo. Aí o resultado, esse menino começou a estudar na fundação. E um belo dia, 14 anos, como eu falei, tem que começar a trabalhar. Aí eu precisava de um menino, passaram esse garoto pra mim. Aí eu vi que era um menino sério, bom aluno, uma boa postura, então comecei trabalhar a cabeça desse menino. Aí eu tinha que criar esse departamento, e ele foi crescendo e trabalhando comigo. Depois, uma hora ele estava no Departamento Pessoal, estava no departamento da parte de contabilidade. Aí eu fiz com que ele passasse em todas as áreas. Ele fez o curso de Administração, depois fez Pedagogia. Aí quando eu fui me aposentar... Porque carreira fechada num banco tem o seguinte, você tem que dar lugar pros outros. Quando eu fui sair o Sr. Brandão falou assim: “Não, você não vai sair”. Eu falei: “Não, eu me aposentei”. “Ah, mas como aposentou? É muito cedo, você é importante pra fundação. Nem se for pra você ficar viajando”. Eu falei: “Ah, não tem condição. Eu estou com o meu filho, o meu filho está com problema, foi sorteado, epilepsia e mais um germe no couro cabeludo. Toma remédio, vai tomar remédio até morrer. Então, psicotrópico toma quatro por dia, mais um outro. então não tem jeito. E sempre está lá no interior, aquela coisa toda”. Ele falou: “Ah, tudo bem. Então sai”. Aí o João falou: “Carlos, você preparou alguém? Eu vou ter que pegar alguma pessoa do banco. O peso é grande pra substituir você”. Eu falei: “Não, banco pra que? Já está aí feito”. “Quem é?” “O Antônio Carlos”. “Mas ele é novo ainda”. “Não interessa que é novo. Conhece a fundação, cria da fundação, criado na carreira fechada. É só no banco carreira fechada? Vamos fazer carreira fechada aqui também”. “Não, mas não sei o quê”. Aí, num certo ponto eu falei: “Eu dou minha mão pra você cortar. Pode acreditar”. E ele praticamente falou: “Tudo bem, vamos testar”. O moleque desenvolveu. Hoje é um elemento super importante, porque conhece todas as escolas porque viajou comigo, conhece todos os problemas, conhece toda a manha, e a filosofia está sendo mantida, o que é importante.
P1 – Daí, nessa segunda fase, quando o senhor saiu da escola de Administração, aí o senhor foi viajar, conhecer as escolas?
R – É, continua. E ele está fazendo os cursos, está se, como se diz, aperfeiçoando cada vez mais. Então é importante, né?
P1 – E o senhor, viajou muito?
R – Na fundação?
P1 – Isso.
R – Nossa Senhora. Eu, se fosse piloto, se fosse pra tirar brevê eu tinha ganho, viajei demais. Passei muitos apuros, tudo quanto é tipo de avião, desde Boeing, desde as porcaria de teco-teco lá no Pantanal. Eu comentei com vocês, né? Pegando tempestade, época de enchente pegando barco, botando a vida a risco. Viajei demais, demais mesmo.
P1 – Conta uma dessas viagens marcantes aí.
R – Ah, a mais marcante pra mim foi quando deu uma grande enchente no Pantanal e a escola de Canuanã ficou ilhada. Aí eu tive que sair daqui e ir pra lá. Não tinha estrada, então tive pegar um avião, avião pequeno, avião de um do lado do copiloto e dois atrás. Quando chegou em _____ do Araguaia que você conhece, pegamos um temporal que eu falei: “Hoje...”. Mas graças a Deus não foi o dia, né? E mais um dia também que nós pegamos, nós tínhamos que sair da Canuanã, enchente, e tivemos que pegar lá, alugar uma voadeira, aquela barcaça, andar duas horas de barcaça no rio inundado até chegar a Porto Peão, pra pegar um táxi lá pra chegar em Gurupi. Era uma vida terrível.
P1 – E Canuanã como era? O senhor lembra dela no comecinho, a região?
R – Canuanã foi uma escola pioneira, a escola que eu mais gostei porque o pessoal era tudo gente lá daquela Ilha do Bananal. Nós tivemos lá uma diretora. Hoje ela não está mais lá, quando ela saiu de lá, entrou com um processo contra o banco, aquela coisa toda. Cabeça vazia. Mas pra mim ela foi uma pessoa importante, uma pessoa que ficou lá, amou aquelas crianças, gostava, lutou muito. A Canuanã era terrível. As condições... Nossa Senhora, vocês não podem imaginar. As construções eram precárias. Você já imaginou entrar com material de construção dentro do Pantanal, você utilizar mão de obra da região? Terrível. É umidade tremenda, aquela chuva, água pra todo lado, muita umidade, aquelas cozinhas, aquelas padarias, aquelas condições assim bem humildes, aquelas crianças simples. Lá tinha alojamento, o alojamento de lá chamava de maloca, mas é porque é a rede. Ele era sextavado e no meio tinha os pingente de rede. Era tudo de rede. Crianças pequenas, chegava de noite, urinavam. É terrível. Depois que nós fomos começar a fazer os outros alojamentos maiores, que nós colocamos três e três de cada lado, com beliche. Pegamos um grupo de professores, inclusive a Santa, Margarida, mais a Luzia, mais o Renato que era vice-diretor, o João que era enfermeiro. Ele era enfermeiro da fazenda e depois passou a ser enfermeiro. A Dona Maria. Então estão lá, até hoje estão lá. Esse pessoal foi um espetáculo. Foi uma luta tremenda. Já imaginou você cuidar de filho dos outros um ano ali, dia e noite, criança que chega de noite, fica doente, tem que pegar, tem que levar pro hospital, e outros cuidam. O Rui também. O Rui era um técnico agrícola, foi um cara que nos ajudou muito lá. E depois toda aquela atividade, o medo. Cobra pra todo lado. Você não pode imaginar o que tinha de cobra ali. Nós tínhamos uma pedreira na frente da escola que tinha uma sucuri que morava dentro de um buraco ali. Índio enchendo a paciência. Os índios chegavam, pegavam aqueles cachos de banana e iam pras escolas andando, vendendo banana pra criançada. Teve um dia que começou a sumir dentifrício e sabonete. Mas não é possível, toda hora o menino pedia. Eles trocavam a troco do índio, porque o índio acho que tem o sangue de oriental, de troca. Então, tinha que chegar lá e falar com o cacique. Vai falar com o cacique, não sei o que mais. Depois outra coisa, tinha o perigo. Índio com aquela cara fechada, com aqueles... Eles vinham de barco, amarrava o barco e pegava o remo e punha aqui. E a molecada pega pedra e joga no índio. Eu falei: “Um dia um bicho pega cabeça de moleque aí”. E conversar com o pessoal. Índio que roubava roupa. Chegava no dia do índio, dia 19, eles faziam festa, churrasco, mas com vaca roubada. Roubava vaca da fazenda, roubava vaca nossa, matava e ia fazer o churrasco deles. Era tremendo, era terrível, 1000 problemas. E foi um problema também, você não imaginou, você ter professor solteiro, professora solteira, como é que você vai segurar?
P1 – Era proibido naquela época ____.
R – Aí quando você vê, fulana está grávida. Mas, meu Deus do céu. Então você tem de arrumar um jeito de casar, casa. Quantos casamentos nós tivemos que fazer. O único problema que nós não tivemos foi dos adolescentes. Graças a Deus, até hoje, nunca tivemos problema com aluno. Depois você sabe, você vai trabalhar, você vai plantar, vai fazer a horta. De repente o tempo, você não tem muita tecnologia do tempo, uma hora dá certo, uma hora não dá certo. O problema do gado, gado leiteiro. Cinco horas da madrugada aquela criançada ter que levantar cedo. Era por turma fazer a ordenha, porque tem que pegar o leite e fazer o café da manhã. Um dia um bendito moleque em vez de ir por um trilho vai por outro trilho. Pisa numa cobra, a cobra tuf no dedo dele. Então toca soro. Outra coisa, correr atrás de soro aqui, porque tinha que ir lá no Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro. Mas era terrível, era muita coisa. Briga. De vez em quando estava a pinguinha lá escondida, era proibido bebida alcoólica. Então a bendita da cachaça, aí já é uma briga. Então você tinha que apaziguar a bendita da briga. Mas eram situações também que a gente ia aprendendo e aperfeiçoando a mexer com aquilo, porque a gente, até hoje, tem. Vai dizer que não tem? Tem. Professor que vai lá, vai dar aula, está longe da mãe, do pai, cansa: “Ah meu pai, minha mãe”, aquela coisa”. Então dá uma aula meio marreta, outra hora dá uma aula boa. Então você tem que ser um psicólogo, trabalhar a cabeça. Mas olha, gente... Lavanderia. Aquela criançada
na chuva, seis meses de chuva. E corre pra cá, e corre pra lá, e corre pra cá, molha. Como é que vai secar a roupa? Lavanderia era um galpão grande cheio de varal. Aí o moleque ia lá, pegava a roupa que estava seca, que não era dele: “Ah, pegaram a minha roupa”, e não sei o quê. Era tudo aquele rolo que Nossa Senhora. E criança é o seguinte, chegava de noite e o que é que você via? Os pequenininhos à noite pareciam uns ratinhos. Corriam, brincando de pega-pega, depois chegava debaixo do chuveiro, tomava aquele chuveirão, e puf dentro da rede. Então você olhava a umidade dentro das malocas, porque toda hora eles estavam tomando banho, entrando com os pés molhados, urinado na rede. Depois aí você tinha que fazer, uma vez por semana, um mutirão. Cada um ia pra beira do rio lavar a sua rede. Lavava com água de sabão: “Lavar a rede”. Aí tinha que lavar a rede, punha no varal, secava, depois... Então não era brincadeira. Padaria, fazer pão. O pão não dava certo, não crescia, aquele pão duro, ruim. Ai, meu Deus do céu. O tempo, né? Comida. Quando você tem, na lavoura aquilo que tem, mas coisa que dependia daqui. Então eu tinha um funcionário em Goiânia que... E olha, pra comunicar com a Canuanã em Conceição do Araguaia, era por rádio. Era terrível. Então eles faziam o pedido pelo rádio, você ligava pro elemento aqui de Goiânia, aí eles iam fazer compra correndo pra mandar as coisas. E remédio? Não tinha remédio, tinha que mandar remédio correndo. Quantas vezes eu tinha que falar: “Pega o ônibus, leva o remédio urgente senão a pessoa vai morrer”. E um dia na Canuanã, aí já era época mais moderninha, já tinha um caminhão pipa de regar as ruas pra não ter muita poeira. E naquele negócio, calorão, em pleno mês de junho. É um calor, ele sabe, né? Aí um moleque na garça lá, na pipa brincar lá, não sei o que, cai, um trator passa por cima do moleque. Era aquela loucura tremenda. Pegava o moleque, levava pra Gurupi. Nossa Senhora. Gurupi era uma, duas horas de distância. Graças a Deus, Deus é muito grande, porque ali ele pôs a mão, viu? E até hoje nós temos dificuldade porque é longe, tem dificuldade... Depois nós fomos montando a estrutura, almoxarifado grande. A fazenda hoje já tem a silvicultura, já tem estabelecido um controle de matança, o gado leiteiro, o gado de corte, a parte de aves, os frangos. São mais de 15 mil frangos. Mas só que é assim, quando abate os 15 mil frangos você tem que matar, você tem que pegar duas, três classes de ensino médio lá, falar: “Não tem aula, vamos lá pro frigorífico”. E mata, bota na caldeira, depena, aquela coisa, enfia na caixa e bota dentro da câmara frigorífica pra 800 frangos. E o Sr. Amador, teve uma época que ele queria transformar aquilo lá numa grande cooperativa dos alunos. E nós montamos um esquema, sistematizamos toda a área de 110 alqueires pra plantar arroz, feijão, soja. Caminhão frigorífico pro frango, porque ia vender frango lá pra Belém Brasília, porque não tinha. Hoje o frango de Belém Brasília não é aquele de Chapecó. Aí o pessoal do PT [Partido dos Trabalhadores] começou: “É, porque é escravizar, é Lula, não sei o que, não sei o quê”. Isso bateu no ouvido do Sr. Amador, e ele falou: “Pára.” “Mas como parar?
Construímos seis galpões e 15 mil frangos”. “Pára”. Aí tivemos que desativar tudo.
P2 – Sr. Carlos, como é que era pra escolher a localização das escolas?
R – Olha, o banco, acontece o seguinte. Em Canuanã o Bradesco era sócio do Dante Pazzanese. Então o Dante Pazzanese, na fazenda, né? Porque acontece o seguinte, na época da revolução, existia antigamente um tal Projeto Hudson, que era americano. Então eles estavam com a intenção de fazer uma grande barragem. Ia inundar toda a Amazônia. Quer dizer, esconder tudo que tinha de bom. Então, quando veio o processo da revolução, então o que é que eles fizeram? Começaram a dar terra pros empresários. Igual hoje tem “Vaticano?), tinha Bradesco, tinha até o Tarcísio Meira, (Cetenco?) e assim por diante. Todo mundo pegou terras. Fazia um projeto pra Sudan, apresentava o projeto: “Olha, eu vou fazer uma escola, eu vou fazer um galpão disso, um hospital, uma área de cerâmica, uma serraria, vamos criar gado, aquela coisa toda”. Mas o desmatamento era controlado. Então o Bradesco entrou nessa. Nós tínhamos a Capra, que é em Conceição do Araguaia, nós tínhamos a Rio Capim que era lá no fim do mundo. Eu fui lá, levei três horas, saindo de Belém Brasília pra entrar lá na última fazenda. Era terrível. Aí o Capim... Tinha a Rio Dourado que era dentro da área do Xingu, também não tinha condição, porque os índios baixavam lá, chegava nos armazéns, pegavam as coisas e ia embora. Agora, na área do Xingu você já viu o tamanho dos índios, né? Dá até medo. Então o que é que aconteceu? Na Canuanã, o Dante Pazzanese pediu pra fazer a escola, fez a escola. Agora, aqui foi pedido pra comunidade. Aí o Top Clube precisava também se expandir, porque só tinha aqui. Aí, quando o Bradesco começava a querer trabalhar em outro estado, vinha o Governador: “Ah, a fundação, ah, muito bonito. Ah, mas vem cá. Eu vou autorizar. Ah, mas, faz um favor, pega, arruma uma escola pra nós”. Então hoje o Governador de Santa Catarina, fizemos em Laguna, mas um bairro de pescadores. Bairro pobre, uma barra lá de Laguna, né? De pescador. Aí fizemos, em Conceição do Araguaia foi mais por causa da Fazenda Capra. E em Conceição do Araguaia era o fim do fim. Acho que até hoje é terrível. Então ali foi até ponto de guerrilha, esse que foi candidato a governador, como é que chama? Do PT.
P1 – Genuíno.
R – O Genuíno, ele é guerrilheiro lá. É terrível, uma miséria. Tem uma ilha lá com problema de lepra. O pessoal tudo solto, sem nariz, boca, o rosto aparecendo. Era terrível. Tinha o pessoal da cidade. É uma situação terrível, e não tem nada. Conceição do Araguaia depende das fazendas. Como o pessoal começou a vender todas as fazendas, nem sei o que virou aquilo lá, que o comércio, tudo ali dependia das fazendas. Então, o banco fez a escola pra atender a cidade. Aqui em Itajubá foi o pedido do Magalhães Pinto, Tancredo Neves e toda a tropa. Mas também num bairro pobre em Itajubá. O Governador de Pernambuco pediu. Tivemos _____
os (Guararape?), dentro de uma favela. Você pode imaginar. E eu atravessei a favela. Terrível, terrível mesmo. Não precisava nem de vigilância lá. Quem cuida da escola são os maconheiros, o pessoal do tráfico. Como atende toda a comunidade, então não tem escolha. Chega o diretor, fala: “Não precisa de guarda não, nós cuidamos daqui”. Qualquer cara que aparecer lá eles apagam. Um dia o diretor chegou lá, tinha um cara morto na porta da escola. Acho que o cara foi tentar assaltar a escola e mataram. Era terrível. E tem umas outras escolas como Propriá, numa região pobre também. Não sei quem fez o pedido. Tem na região de Maceió, num BNH [Banco Nacional de Habitação] . E Sergipe também tem a... Sergipe é Aracajú, né? Não, Aracajú não, Paraíba, João Pessoa, é na Cohab [Companhia de Habitação]. Um monstro. Você não pode imaginar o que é a casa de BNH, monstro. Nós fizemos uma escola lá. Brasília foi também uma pressão, não sei se foi do José Aparecido ou se do José Sarney. Mas na Ceilândia, a última quadra da Ceilândia, depois da Ceilândia era só mato. É terrível. Uma bela escola com piscina, fizeram pomar, um pomar enorme. O pomar era para a comunidade.
P2 – Os terrenos eram doados?
R – É, os terrenos eram doados. A fundação fazia o projeto, pedia, solicitava ao sistema a parte de estrutura, água, luz, esgoto. Nas nossas escolas, nós não dependemos de água, não porque toda escola nossa tem ___________. E a própria parte elétrica, sempre temos transformador nosso. Então a coisa é pedir, que nem lá em Bagé foi o Garrastazu Médici, também num bairro pobre. Amazonas foi também o pedido, não sei quem é que era o governador. Mas num bairro bem distante também, num bairro bem pobrezinho também. As nossas escolas eram todas em bairro pobre. A única escola que fica num bairro, na Tijuca, no Rio de Janeiro, mas era um prédio que era um colégio particular que estava abandonado e a companhia de seguro fez um rolo lá com o dono. Não sei se o dono estava devendo… Não sei, não me lembro desse caso aí. E praticamente acertou com a fundação. Aí fui eu com o Conde, que hoje é Governador do Rio. Fomos lá eu, o Conde e o Jorge, fomos lá ver o prédio, um belo prédio, lindíssimo, tombado. O pior de tudo, tombado. “Olha, vocês vão mexer, não pode mexer nem uma palmeira”. Tinha um buraco desse tamanho, eu falei: “Mas vai cair”. “Não, vocês dão um jeito de enxertar aquilo”. Tamarindo caindo aos pedaços, relógio com rubi. Puseram tudo.
[Pausa]
R – Zoando. Pelo amor de Deus, que coisa terrível.
P1 – Um outro detalhe de Canuanã. Como foi a escolha dos primeiros alunos da escola?
R – Aconteceu o seguinte, a própria Fazenda Canuanã, que era do Sr. Dante Pazzanese, ele mesmo tinha os peões, então começaram a dizer. Agora, ali você fala pra um, fala pra todo mundo. Então o meio de comunicação ali é terrível. Até eu vou dizer um fato gozado, eu estava em Conceição do Araguaia e um dia a diretora estava ouvindo uma rádio, então eu fiquei ouvindo também. Então era rádio assim: “Alô fulano de tal, na fazenda tal, a fulana saiu do hospital, já teve alta, então precisa vir buscar ela. Ô fulano de tal, precisa vir aqui em Conceição porque tem uma audiência pública e você precisa vir”. Então o meio de comunicação é via rádio, a coisa mais gozada.
P1 – E quem ouvia passava?
R – Quem ouvia passava pro outro, então a fazenda utilizou esse tipo de veículo, porque todo mundo tinha o seu tijolinho. Antigamente era um tijolinho, hoje é tudo cheio de frescura, mas antigamente era aquele tijolão mesmo, o pessoal ficava ali ouvindo... Então aí iam dizendo que ia abrir uma escola. Então aí o pessoal veio, atendeu no começo, atendeu e pronto. Mas foi difícil. Você já imaginou começar um negócio no meio de uma selva praticamente, sem conhecer, sem ter estrutura. Olha, nós apanhamos. A Santa e aquela equipe dela lá. No começo nós apanhamos demais.
P1 – E os meninos, como é que chegavam?
R – Chegavam de barco, à cavalo: “Está andando à cavalo a quantos dias?”. “Faz dois dias que estou andando à cavalo”. Atravessava a Ilha do Bananal todinha. O outro vinha pelo rio, porque o Rio Javaés é o seguinte: O Rio Araguaia desce, quando ele chega na ponta onde você mora, na ponta ali de Araguaçu ele faz isso. Então esse braço direito dele chama Javaés por causa da tribo de índio Javaés. Do lado do Javaés, tem o Rio Formoso e nesse lado é Araguaia, que é do lado que separa a ilha com o Mato Grosso, o Pantanal do Mato Grosso, o Alto Paraguai já fica ali, que ia ficar aquele rolo do cara que encostou lá aquela represa, e tem um...
P1 – Hidrovia, né? Tem um projeto lá.
R – Hidrovia também tem… Botar aquelas balsas lá batendo em barreira, arrebentando as margens, tá louco. Então foi difícil, muito difícil. Mas conseguimos. Sei que no começo não tinha horta. Escolheram um lugar lá, um lugar horrível, não deu nada. Aí: “Muda então pra tal lugar.” “Também não deu.” “Ah, tal lugar.” Até achar o lugar pra fazer a bendita da horta. Então quer dizer, não tinha. Hoje não... Hoje tem abobrinha, vagem, é sequente, né? O Rui manobra aquilo.
P1 – Os meninos eram filhos dos…?
R – Ali, os meninos já tinham os filhos dos peões da fazenda, porque a fazenda era uma colônia grande de fazendeiros. Os primeiros eram aí da fazenda e mais uns outros que chegaram. Depois, começamos uma briga com os índios, porque os índios também queriam colocar os alunos lá dentro. Aí, com muito custo, nós colocamos dois índios pra fazer o curso de Técnico Agrícola. Porque nós passamos… Ele era filho do cacique. Era o cacique e tal. Mas nós fizemos uma força também, um trabalho pro Estado, pra Funai [Fundação Nacional do índio] montar uma escola, e a gente ajudava um pouco também. Aí a Funai montou uma escola, inclusive era uma filha de um funcionário nosso que dava aula na Funai.
P1 – Que era lá na tribo?
R – Lá na tribo. Aí o que aconteceu? Os dois meninos vieram fazer o curso. Aí o cacique cismou que a fundação era rica, eu queria que desse um curso universitário pra eles. Um parece que queria fazer… Como é que chama? Veterinária. O outro não sei que curso queria fazer. Os meninos ficavam lá. Só que acontece o seguinte, eles moravam perto da ilha. Eles iam na tribo só pra falar: “Oi, tudo bom, não sei o que”. Dormia lá, comia lá. E eram dois bons jogadores de futebol, dois bons meninos. Excelentes. Aí, sempre que eu ia lá, o menino, um deles vinha atrás de mim: “Professor, professor. E o caso meu da faculdade?”. Eu falei: “Eu não sei, preciso ver com quem falou. O teu pai falou com quem? Eu não posso te dizer que nós vamos dar a faculdade pra você”. No fim, não sei o que é que resolveu. Eu acho que dando o curso técnico agrícola pra eles, eu acho que já era muito bom. Eu pelo menos, eu estava fazendo aquilo, nós fizemos aquilo pra ele mudar as condições e o sistema da tribo, fazer com que aqueles índios trabalhassem, tivessem alguma tecnologia. Porque a terra da ilha é fértil, porque a ilha, durante o inverno, ela fica com um metro de água. Então, aquele húmus quando desce, pelo amor de Deus, é uma terra que dá de tudo. Só que o índio não está nem aí. Uma vez plantou uma cebola e foi vender, vendeu mal, largou lá, apodreceu. O que os ìndios vendiam muito é esse bendito peixe que está em fase de extinção, que é o pirarucu. Eles pegavam cada pirarucu com dois, três metros de altura, e vendia. Aquele riozinho também virou um rio pirata. Eu mesmo uma vez fui lá pra espantar um cara e o cara ainda falava: “Cuidado com o homem”. Era um pistoleiro mesmo. Ele tinha uma barcaça cheia de cachaça. Então ele subia o rio e vinha vendendo pras comunidades. Então nós estávamos com um problema na fazenda. O pessoal comprava pinga e na escola também, o pessoal começou a comprar bebida. Então nós tivemos que montar um esquema ali do cara não vender... Então o índio comprava, bebia e ficava lá. Vale dizer que bebiam tanto que o pobre cacique foi morto um dia por causa de bebida. O próprio índio matou o cacique.
P1 – E desses meninos lá, os que se formaram, como foi o desenvolvimento? O senhor tem algum exemplo de uma história assim?
R – Olha, praticamente, eu fiquei sabendo, no Canal Rural eu vi uma reportagem de um menino que fez o cultivo de melancia. Então ele estava vendendo não sei quantos caminhões de melancia lá pro Nordeste. Ele mesmo comentando a tecnologia que ele aprendeu lá na fundação. Estava ganhando dinheiro com aquilo. Quando houve a desativação daquele projeto da fundação, de cooperativa, eu sei que um ex-aluno nosso também comprou. Porque sobrou toda aquela aparelhagem de galpão, comedouro, bebedouro, sobrou tudo aquilo ali... Então comprou todo o material, e ele estava lá onde você comentou, lá no Bico do Papagaio, que ele morava por lá. Ele montou uma granja e estava ganhando muito dinheiro. Eu tive um técnico agrícola também que eu mandei pra lá. Em Cacoal tinha uma escola que precisava de um técnico agrícola. Não conseguia técnico agrícola por ali, então nós começamos a mandar técnico agrícola. O menino era solteiro. “Então quer ir?”. “Quero”. “Então vai”. Foi pra Cacoal. Em Cacoal ele fez um trabalho tão bom. Cacoal também é uma cidadezinha ali de Rondônia, lá tem Ji-Paraná, Cacoal, depois Porto Velho. É uma região muito solícita, os gaúchos é que estão muito na região. Mas muito atrasadona ainda. E o menino foi lá, fez um bom trabalho. Aí ele resolveu montar um comércio de material agropecuário e largou a fundação, certo? Ficou rico. Aquilo expandiu e ele começou a dar assistência pra todo o meio agropecuário da região e até a parte de paisagismo, jardinagem. Ele começou lá... Quer dizer, é um trabalho nosso, né? Um moleque que mora na Ilha do Bananal ia ser o quê? Nada. Ia estar lá cuidando. O pai morre, vai cuidar de boi. E boi na Ilha do Bananal é terrível. Porque, como eu falei pra você, é um metro de água. Então quando chega a época de enchente... Se você for pra lá agora, você encontra boiadas, cabeças e mais cabeças de gado saindo da Ilha do Bananal, que eles levam lá pro lado de Formoso, pro gado ficar por ali, na pastagem de lá, até a água abaixar. Então só volta pra ilha em março. Então é a vida do peão.... E se ele está em casa, aquela casa de estaca, ele fica seis meses debaixo d’água, o quintal dele com um metro de água. Então ele fica nadando, pescando e depois, na outra época, faz o quê? Uma parte verde, depois uma outra parte seca, arriscado com incêndio porque agora é incêndio pra todo lado, qualquer coisinha bota o fogo no ar. E incêndio, poeira, doença. É isso aí.
P2 – Eu queria perguntar pro senhor, na opinião do senhor qual a importância da fundação Bradesco pra história da educação do Brasil?
R – Um exemplo: Num momento em que a gente está vendo agora, onde há pouco tempo aquele imposto sobre cheque foi aprovado para a saúde e que hoje está sustentando fundo de pensão federal... E a saúde a gente vê do jeito que está aí, o ensino público no Brasil não tem condição, certo? Ele está cada vez pior. É balela de político ir à televisão e dizer que está ótimo, que está bem. Está nada. Os melhores catedráticos, por causa desse negócio de aposentadoria, já aposentaram, não estão nem aí, e hoje está uma turma nova aí com greve. Está uma greve aí, não sei quantos meses aí. Quantos meses está?
P1 – Acho que uns três, né?
R – Três meses. O menino vai se formar agora. O que é que ele vai fazer? Faz três meses que ele não tem aula. Agora, o que é que está fazendo o presidente, o que está fazendo? Botaram um bonachão lá de Ministro da Educação, o cara não sabe nada. Qual a preocupação dele com o ensino? Uma greve aí, eles não arrumam solução pra greve. O próprio estado, tudo quanto é raio de estado fala: “Estamos fazendo isso”. Estão fazendo é nada, fazendo nada... O ensino está cada vez pior. As nossas escolas são prédios que vou te dizer, viu? Mas nem cadeia. Quando você vê aquele negócio de cela que é pra 60 e se vê 100 lá dentro, nossas escolas viraram isso. Tudo pichado, tudo quebrado, tudo vândalo. A nossa escola hoje virou ponto de tráfico de drogas. Hoje os muros das nossas escolas estão parecendo… Uma escola nossa hoje parece penitenciária, muro de quatro, 5 metros de altura, as escolas estaduais. Tudo pichado, tudo arrebentado. O aluno, ele entra pra destruir a escola, ele não entra pra aprender. Agora, veja nossas escolas. Nosso aluno ama nossa escola. Por quê? É aquilo que eu digo, os nossos profissionais gostam do ser humano, gostam da criança, querem trabalhar com a criança. Então amam a criança. Esses nossos profissionais têm perspectiva de futuro, de ver um país melhor. É como o Sr. Amador dizia, nós precisamos ver a perspectiva de um país melhor. E hoje nós não estamos vendo um país melhor, nós estamos vendo um país corrupto. Esse negócio aí de corrupção de político... Agora essa política do governo quebrou a sociedade, ninguém tem dinheiro, está todo mundo endividado. São 168% de inadimplentes no país. E onde está a escola? No orçamento da República, onde fica a educação? Devia ser a primeira. A educação está lá embaixo. Então é balela. Então com os homens que nós estamos tendo aí nas chefias de governo eu não vejo a educação no Brasil com bons olhos. O exemplo que eu digo, a educação da fundação é educação de vida, de cidadania, de futuro, de mostrar pro menino que... A família, o menino ter família, casar, ter filho, o filho ter respeito com os pais, o filho pensar, ajudar a família. Hoje você não vê isso. Na fundação nós fazemos isso, de ter amor ao próximo, de ter amor àquilo que é público. Hoje você planta uma árvore, o cara chega ali, quebra a árvore, no outro dia está quebrada. Você põe uma lixeira, quebram a lixeira. Põe um banco, quebram o banco. Bom, é dinheiro nosso, gente.
P1 – Então nos lugares que tinha a fundação, foi ela que fez diferença?
R – Fez diferença, mas fez diferença mesmo.
P2 – Influenciava muito...
R – Influenciava. Hoje Conceição do Araguaia influenciou muito. Vou dar um exemplo pra vocês. Conceição do Araguaia, quando fomos pra lá, era casinha ou fazer no meio da bananeira, defecar no meio da bananeira ou fossa negra. Nós chegamos lá, pusemos descarga. Aí o moleque entra, vai lá, apertou o botão, fez aquele barulhão, o moleque pensou que estava caindo o mundo, você entendeu? Seminu, pulou por cima feito um desesperado. Conceição do Araguaia não conhecia cera, apesar que hoje falar em cera é... Não conhecia cera. Antigamente nós fizemos escola. Como é tudo areia, beira de rio, tudo areia, nós fizemos vermelhão, e cera Parquetina lá, a vermelha. Aí enceraram bonitinho. Conceição do Araguaia não conhecia cera. Vai no armazém: “Cera, o quê que é isso?”. Aí, o comércio começou, o povo começou a fazer os seus banheiros. Nós começamos a mudar a cidade. A criança dentro de casa começou a mudar os hábitos dos pais, dos irmãos. E outra coisa, de se arrumar. Vai pra escola, eu vou tomar banho. Se é sapato, vou engraxar meu sapato. A calcinha limpinha, a roupinha limpinha. Se tem uma poça d’água, dá a volta. Que custa dinheiro aquilo lá, vai estragar pra quê? Então é cidadania, é lição de vida, que é tudo que tem nesse mundo, puxa vida, é uma dádiva de Deus. Agora, o que é que o ser humano hoje está fazendo? Ele está destruindo. Vocês podem imaginar, Amazonas secou o rio. O que é que é isso? Mas por que? Porque o sujeito corta árvores, corta por cortar. Na fundação nós plantávamos, valorizávamos. Inclusive o Sr. Amador, me parece, tem uma região na Amazônia, uma região enorme que ele comprou, na época. É uma reserva. Está lá. Não sei se a diretoria sabe, se o patrimônio sabe. Está lá, é uma reserva. Quando derrubaram essas casas todas velha aqui, se o Sr. Amador fosse vivo, ele... Um dia foram derrubar uma casa e ele disse: “Para. Isso aí custou dinheiro, pra que é que vai derrubar? O que vai fazer?”. “Ah, é”. “Não, dá uma ajeitadinha aí nela. Então ele era desse tipo, de plantar árvore. Você vê, hoje a cidade é uma cidade arborizada, gostosa de se viver. Agora não, porque está cheio de carro, tudo poluída, né? Que hoje nós não achamos um jeito de eliminar a poluição que o petróleo faz. Está acabando com o mundo, está um buraco em cima que dá até medo. E nós vamos fazer o que? O fim do mundo está aí. Vão falar: “Ah, daqui a 50 anos o Alpes não vão ter mais gelo”. Eu tenho um amigo em Águas de Lindóia que os dois filhos dele moram na Alemanha, em Bonn, na região dos Alpes. Lá fazem conservatório, são pianistas. Ele ligava pro pai e falava: “Pai, a gente vê o Alpes aqui, está derretendo o gelo”. Há pouco tempo saiu uma reportagem, daqui a 50 anos não tem mais gelo. A calota polar também está derretendo. Já estão dizendo que daqui a 50 anos o Pólo Norte não vai ter mais, porque o maior foco de poluição está no Hemisfério Norte. Então, juntando tudo isso a gente trata essa mocidade, esses jovens, e não é assim. Nós estamos se auto destruindo. O jovem precisa pensar que não é viver o presente, tem que pensar no futuro, gente. O que adianta o futuro? Hoje o futuro o que é que é? Todo mundo doente e não tem hospital, é só operação, operação, operação. Nós precisamos melhorar o mundo, ser um mundo mais humano. Você vê, eu fico irritado quando eu vejo aquele negócio do Iraque, tudo por dinheiro. Aquilo lá é uma máfia, aquela máquina industrial de armamento dos Estados Unidos que faz tudo aquilo. Não estão nem aí. Se mata ser humano como se está matando frango, galinha. Eles não estão nem aí. Então a gente, praticamente a gente pensa muito na vida, na família, no ser humano que está nascendo, na formação, de ser alguém na vida. Por que vai ser o que? Hoje nós estamos cheios de gente tudo metido com droga, acabando com a própria vida. Desse jeito... Que nem na fundação, nós pegamos essa meninada. Vem aí, arruma um bom emprego. Eu vejo o Antônio Carlos. O Antônio Carlos trabalhou comigo, hoje ele tem o seu carro, ele tem a sua casa aqui, ele fez uma casa em Serra Negra, comprou mais um terreninho, tem dois filhos, está ajudando os filhos, eles vão casar. Quer dizer, é uma sequência de vida, de formação. Tudo feliz da vida. É isso. Então o que a gente se apegava muito, principalmente que o Sr. Amador falava muito, é justamente isso, é a formação. Nós não estamos aqui pra formar um inconsequente da vida, estamos aqui pra formar um cidadão pra ajudar o país.
P1 – O senhor acha que o que o Sr. Amador falava, a visão dele, a fundação conseguiu assimilar isso?
R – Conseguiu. Hoje nós temos uma filosofia de vida. Um exemplo, você mesmo disse pra mim, falou: “Todo mundo fala do senhor. Puxa vida, é uma família”. É uma família, a fundação hoje é uma família. A não ser as escolas novas que não me conhecem, todas as outras me conhecem, a gente tem uma intimidade muito grande, você entendeu? Porque nós trabalhamos, nós pegamos com carinho, com amor, formamos esse jovem. Porque é duro, viu, gente. Você pega aquela criançada na favela, e as nossas crianças são crianças bonitas. Vocês que fazem geralmente trabalho com mídia, você entendeu, vai fazer uma propaganda. Pega uma criança rica e põe aqui, pega uma criança da fundação, lá de um favelão, uniformezinho, você fala assim: “Não, essa aqui que é da favela”. Não, nossa criança é bonita, sadia. Eu não sei, olhe no rosto, nos olhos das nossas crianças. É vida, é brilhante, é sorriso, é crescer, não é uma criança triste, magoada, revoltada, irritada. Você não vê isso, você não vê. É nossa criança, quer dizer, ele passou isso pra nós. Graças a Deus nós pegamos essa filosofia dele. Mas ele foi um homem que, coitado… Ele sofreu. Quem foi Amador Aguiar? Uma família de agricultores, gente, de agricultor. Trabalhava em Pitangueira, o pai e a mãe trabalhavam na área de café. Família grande, cafezal. Quando foram pra Bebedouro, aí o Amador foi trabalhar na gráfica. Aí houve um descuido lá, foi... Ele perdeu o dedo. Aí teve a grande corrida da Alto Paulista e o norte de Paraná. Norte do Paraná com o café Bourbon, aquele café enorme, dessa altura, dando aquele grão desse tamanho. Todos correram pra lá. E outro com gado, que era o Tião Maia na Alta Paulista com gado, Araçatuba, e foi todo mundo pra lá. Aí o Sr. Amador foi pra Marília. E lá ele começou então… Antigamente era casa bancária. Ele entrou na casa bancária, começou a trabalhar. A casa bancária era de um italiano. Aí, na época da revolução, da guerra, Mussolini, aquela coisa toda, o governo começou a dar um apertão nos italianos que eram empresários no Brasil. Aí o cara teve que sair às corridas, deixou nas mãos dos funcionários. Aí também houve aquela revolução comercial de banco, e transformaram a casa bancária em Banco Brasileiro de Desconto. Criaram as ações, aquela coisa. Então o Sr. Amador foi promovido a presidente. Então formou-se, aí nasceu o banco. O Sr. Melquiche, que praticamente é o homem que cuidava do museu aqui, era um funcionário mais antigo. Ele estava aqui, ele era funcionário da casa bancária. O Sr. Melquiche era o funcionário mais antigo. Então é isso aí que eu digo pra você. Aquilo que a fundação propôs… Aliás, aquilo que o Sr. Amador propôs, é isso o exemplo, que é a fundação. E eu estou contente porque, pelo menos quando ele entregou a neta, porque ele entregou a neta dele pra Fundação Bradesco e comentou até, falou assim: “Vocês que vão ensinar ela a trabalhar” Ela no início estava meio assim, meio insegura, mas depois ela foi firmando, foi pegando o jeito, se apegou e hoje, com as idéias dela mais apuradas, que são mais modernas. Ela manteve a fundação, continua mantendo a fundação como ela é, você entendeu? E eu espero que continue crescendo. Quanto mais dinheiro entrar, vamos criar mais escola em periferia como o Sr. Amador queria. Vamos investir no meio pobre, certo? E é um grande exemplo pro Brasil, mas que infelizmente eles formaram… Que nem você falou, as ONGs aí, e aquelas coisinhas aí de dancinha, de cirquinho, de não sei o que. Não adianta nada. Nós precisamos ir pegar o menino pobre, a família pobre e dar uma formação pra eles, dar o caminho pra eles. A única coisa que nós não podemos dar é faculdade. Isso já é difícil pra nós, muito difícil. Mas eu acho que a capacitação do menino, do adolescente, é muito importante. Que nem na Canuanã, um moleque passa por 30 estágios. Aquele moleque, quando ele sai dali, ele sabe tudo, ele passou pelo hospital, almoxarifado, horta, a silvicultura, pomar, jardinagem. Até secar manta de pirarucu no varal ele aprende. Ele sabe tudo, tudo… E hoje até informática ele sabe. Um menino desse vai escorregar lá fora? Você não sabe, isso eu pego aqui. Que hoje você pega um menino, que nem eu tenho o meu filho. Foi fazer lá em Águas de Lindóia um bendito de um colegial. Ele saiu sabendo o que? Não aprendeu nada, não sabe nada. E hoje você pega toda essa molecada que faz esses colegial aqui na rede pública, não sabe nada. O que é que o menino vai fazer? Vai fazer vestibulinho? Então faz um vestibulinho, faz um concurso. Que nem a Fuvest aí: “Ah, é quanto?” .“Cento e não sei quantos mil”. Pra quantas vagas? Eu vejo aquelas coitadas, gastam dinheiro, R$30, R$40, sei lá. Vai lá perder tempo. Chega lá: “Ah, é muito difícil”. Não sabe nada! Vai meter a cara, fazer um negócio desse aí, não sabe. É judiação, né? É você pegar um ser humano e jogar na rua, gente. É uma escola, puxa vida. Não faça isso. Por falar, país violento. Mas tinha que ser violento mesmo. É violento, é violência pra todo lado. Pega um moleque naquele lugar que é violento e começa a ver a vida desse menino. Começa a ver, conversar com ele. Não tem escola. Um dia eu estava no estado como auxiliar de professor. Cheguei lá, sabe o que aconteceu? O professor de inglês saiu correndo da sala, entrou na diretoria chorando: “Ah, o que é que aconteceu?”. “Ai, eu não aguento dar aula mais pra essa quinta série”. Eu falei: “O que aconteceu?”. Aí eu fui lá. Cheguei lá, tudo moleque de quinta série, moleque de 17, 18 anos. Cada crioulo azul com aqueles olhos que dá até medo... Eu entrei assim, todo mundo já falava: “Já vem paulada”. Aí eu comecei, sentei na mesa: “Vocês gostam de inglês? Esse currículo que vocês estudam, não sei o que”. Eu falei assim: “Se vocês aprendessem”, tinha o Senai, não sei se tem o Senai ainda aqui em Osasco. Eu falei: “ Se vocês aprendesse no Senai mecânica, pintura, essas coisas, vocês não gostariam?” Aí aquela raiva, aquele ódio foi descarregando. Aí conversei bastante e deixei leve, depois cheguei pro professor e falei: “Olha, não se meta a besta mais de dar aula de inglês. Aí você não vai conseguir nada. Você quer ensinar inglês? Pega uma música de sucesso aí, em inglês, e faz eles cantarem, e vai trocando”. Eu falei: “O ano que vem não tem um aqui”. Chegou no outro ano, fiz questão de verificar: “A classe tal, quinta série, quantos alunos tem?”. Não tinha nem um. Abandonaram, todo mundo fugiu da escola, foi embora. É isso que nós produzimos. Uma judiação, né? O menino quer uma coisa e não tem. Por isso que eu digo, eu tenho muito amor à fundação, me agarrei muito à filosofia, acreditei muito naquilo que o Sr. Amador passou durante anos e anos porque, eu sendo um elemento de família pobre e ele valorizando a gente, principalmente a gente sendo um elemento de cor, eu acreditei, eu lutei, eu lutei mesmo, fiz com que todas essas dezenas e dezenas de professores, centenas de professores, diretores, passassem a acreditar. E o produto, se você começar a pegar diretor por diretor, ele vai começar _____. O Almir vai chegar aí pra você e falar: “Oh, fulano está em tal coisa”. O Almir vai ter a oportunidade de dizer todos os alunos dele, os que estão trabalhando aqui no banco, que a safra de alunos dele estão aqui na matriz.
P2 – Pro senhor, qual é a importância desse Projeto Memória 50 Anos da Fundação Bradesco?
R – Eu acho importante porque existem coisas no mundo que a gente, essas coisas aqui sempre, na época sempre se tentou marketing… Todo mundo tentou. Mas, são as pessoas especializadas, setor especializado que sabem fazer. Nós apanhamos muito. Se queria fazer muita coisa dentro da fundação, a gente tinha que meter a cara. A Denise sempre fala isso: “Ah, o meu avô tinha mania de ser, como se diz… Engenheiro, tem mania de ser isso. Não é assim”. E ela tem essa razão, a Denise. A gente, na fundação, tinha a mania de querer, projetava uma coisa que não é nosso. Que nem vocês, vocês são especialistas nisso. É uma história que é importante, só que vai ser uma história falha porque tem tanta coisa, mas tem tanta coisa... Se a gente começar a contar como é que aconteceu isso e aquilo e tal, coisas que passaram do tempo. Muitas pessoas morreram, muitos diretores na história da fundação. Pode ser que, amanhã, o banco vá querer imitar a fundação. Daqui um pouquinho o banco vai querer fazer a dele, tenho certeza. Porque nós não temos a história do banco, quem foi Amador, como é que ele era, quem conviveu, principalmente o Sr. Brandão, que viveu bastante tempo com ele, o pai da Ancila, os outros diretores que já morreram. Tanta coisa boa que podia contar, mas eles morreram, certo? Isso é um exemplo. Amanhã esse jovem, o jovem também precisa saber que isso nasceu de um sacrifício, de um ideal. Hoje tá aí. Hoje é tão bonito, você vê a diretoria do banco, tudo jovem. A maior parte é tudo jovem. A oportunidade…. Porque que o banco tem um sistema, bateu 60 anos já tem que pedir demissão, e isso é
pra dar oportunidade pro jovem subir. Que nem eu, eu não tinha limite, a fundação não tinha limite de idade. Mas eu achava, falava assim: “Ah, puxa vida, eu vou entrar nesse campo da informática pra quê? Estou velho já. Eu vou ter que aprender isso pra quê? Não, tem essa moçada que está subindo aí, vou dar oportunidade pra eles”. Aí o que é que eu fiz? Me aposentei, dei oportunidade pro Antônio Carlos. O Antônio Carlos subiu, subiram outras pessoas. O Marcos Nário contribuiu violentamente com a fundação.
P2 – E o que é que o senhor achou de participar dessa entrevista, desse projeto?
R – Eu achei ótimo. É uma coisa que é uma... Como se diz? É um depoimento que eu deixo pra vida. Não somos nada, né? Mas deixo isso aí e espero que os outros dêem continuidade disso aí.
P1 – Mas o senhor sabe que assim, o que a gente já percebeu, que a importância do senhor pra todos foi fundamental. Esse é o nosso testemunho, deve ter mais.
R – É, porque a gente acreditou, a gente acreditou. A gente vendo o país do jeito que está, não sei o que é que vai acontecer. Estou vendo que isso aí, daqui a pouquinho nós vamos ser um Irã da vida. Irã não digo… Mas um Iraque da vida. Um desrespeito ao ser humano. Todo mundo se desrespeita, até padre se desrespeita. É tudo, ninguém respeita mais ninguém. O próprio comércio não se respeita. Você vai comprar, está comprando uma mercadoria, a mercadoria pesa 900 miligramas, está vendendo R$700. É um roubo total. Aonde que nós vamos parar? Não é só o grande que está roubando não. Todo mundo está roubando da gente também. Então esse tipo de trabalho que a gente faz e continua fazendo, que o pessoal continua fazendo, eu acho que é importante. E eu, como eu estou velho já, eu acho que o depoimento serve bastante. Quer dizer, é um registro histórico da gente. Que nem vocês perguntaram como é que começou a Canuanã, a nossa escola aqui. A nossa escola praticamente foi a locomotiva. Então eu acho muito válido. E os exemplos, todo mundo vai explorar aquilo que é importante. Eu acho que inclusive uma pessoa espetacular, que é o caso do Sr. João Carriero, que foi uma pessoa que viveu mais. Ele viveu muito mais do que o Sr. Amador. Ele ia pra Brasília, ia pras fazendas, ia pra todo lugar. O Sr. Amador ia com ele, levava ele. Ele era tira colo dele. É um homem que pressionaram. Teve um infarte uma vez e agora parece que teve outro. Teve um outro enfarte aí há pouco tempo, não sei quem que me comentou. Ele está meio doente, né? Eu nem sei se compensa. É um grande depoimento dele. Ele é uma pessoa, um moço. Ele é do interior aí perto. Como é que é o nome? Eu não sei, esqueci o nome da cidade. Pai sapateiro, e ele estudava. Não tinha dinheiro, às vezes ajudava o pai a fazer botina. Sabe aquelas botinas que fazia com sola de pneumático? Fazer botina pra vender e ganhar um dinheirinho pra comprar o material de escola. Teve uma professora que ajudou muito ele também. Se formou. Depois daquela corrida do pessoal daqui da Alta Sorocabana, da Sorocabana pra cá, ele veio pra cá, aqui pra matriz. E aqui tinha alojamento dos homens. Morava aqui. Ele trabalhava à noite. Hoje fala digitação, mas antigamente chamava perfuração. Era um cartãozinho assim, de furar cartão. Era digitado. Era uma digitação, só que o nome era perfurar cartão. E ele a noite toda com umas quarenta pessoas. Ele ficou de chefe, trabalhando. Depois ele pegou uma classe em São Lourenço aqui, então ele saía de manhã, saía daqui do serviço e ia. Às vezes terminava o serviço cedo, dormia num banco. Não sei se no museu tem aqueles bancos retos assim. Dormia no banco, pegava o carrinho e ia lá dar aula, voltava aqui, almoçava e ia pra fundação. À partir de 1968 ele foi pra fundação. Trabalhava até seis horas. Depois casou, aí ele veio morar aqui. Hoje ele é um homem de bem, mas um homem que lutou, um homem vivido, um homem que hoje tem um gado de corte, mexe com frango, mexe com haras, tem cavalo de puro sangue. Mas trabalhou. Ele tem tudo isso vivido ali no... Na inteligência também, saber aplicar o dinheiro, saber arrumar financiamento fácil. Agora ele está aí com enfarte. Ele não vai ter nem condição. É capaz de vocês começarem a contar a história aí. Eu ainda avisei pra ele: “Se prepare pra sair da fundação”. Ele: “Ah, não, não sei o quê...”. “Se prepara”. Ele não se preparou. Quando ele bateu 60 anos, que tinha alguns diretores com 61 e estava continuando. Então ele achou que, né? Aí chega um belo dia, vem a lei. Lei é lei. Aí chegaram e falaram: “João, você está com 60 anos, tem que sair, tem que fazer o processo de desligamento”. Acho que pegou ele de surpresa. E pra mim, ele não aguentou porque foi uma vida. Esse homem é uma vida. Brasília, congresso, dentro do congresso. Nós tínhamos problemas às vezes de... Teve uma vez que teve um problema que assim... A diretoria da fundação tinha que ter os mesmos diretores da entidade filantrópica, que era o banco. Aí um capenga de um deputado lá botou um projeto que não podia. Aí ele viu o jornal, mostrou pro Sr. Amador, o Sr. Amador falou: “Ah, vamos ver”. Aí ligou pra Brasília, pro Ministro da Justiça, o Ministro da justiça falou: “O quê? Não estou nem sabendo. O que é que é isso?”, não sei o que. Aí ele ligou pro líder da maioria, aí mandou o Sr. João pra lá. Ele foi lá, então ficaram andando no congresso. Aí tinha que fazer um requerimento pra retirar da pauta o bendito do projeto que não valia nada. Os vagabundos que não têm o que fazer ficam inventando moda. O que é que tem, por que que uma diretoria filantrópica não pode ser a mesma da fundação? Não tem nada que ver uma coisa com outra. Bom, o João andou muito. Tem uns problemas seríssimos, mas eu não quero entrar em detalhe porque é coisa que a gente não pode colocar pra terceiros. São dois, três, quatro problemas sérios mesmo que a gente vai guardar até a morte da gente. Mas é um negócio que sofreu muito, lutou muito. Ele sabe. Vou te dizer, pra falar do Sr. Amador Aguiar vocês podem ter certeza, o João é um homem ideal. Eu falei do Sr. Amador aquilo que eu convivi com ele nos primeiros anos da escola, mas no dia-a-dia, sobre a fundação, sobre os vencimentos, sobre filosofia... E outra coisa, o que vinha de empresário, homens públicos do mundo, aqui no banco e iam visitar a fundação. O Albert Einstein é um deles.
P1 – Sabin, né?
R – Sabin _____. Acho que ele está pensando em mim. Então é um deles. Então é isso daí.
P2 – Bom, Sr. Carlos, nós queremos agradecer o senhor em nome da Fundação Bradesco e do Museu da Pessoa. Nós agradecemos muito a sua colaboração.
R – Eu acho que foi válido. Eu acho que o trabalho aí é um trabalho que talvez não sirva pra fazer uma mídia, mas é um trabalho que sirva pra amanhã ou depois esclarecer alguma coisa, o que foi a fundação, como se deu. Hoje a fundação é uma maravilha, mas há 43 anos, quando começou a escola, era outra coisa. Então, cada um tem uma história, ninguém começou às mil maravilhas não. Tudo é dificuldade. Nós éramos uma equipe, que até uma coisa gozada que eu vou dizer pra vocês, era uma equipe, era assim... Quando determinava uma escola em agosto ou setembro, se falava assim: “A escola tem que funcionar a partir do ano que vem”, que era 1 de fevereiro. Gente do céu… Ver terreno, ver construtora, acompanhar a construção. A minha equipe aqui, a gente tinha um esquema de montagem de escola, já comprava tudo. Alugava um depósito na cidade e mandava o material
todo pra lá, depois fazia seleção, depois mandava um pessoal daqui, o pessoal todo, moças fazendo mudança. É pedagogo mas ele estava carregando caminhão, fazendo mudança pra montar uma escola pra funcionar no dia primeiro. É muito amor, muito amor.
P2 – Amor e dedicação.
R – Muito amor e dedicação. É porque confia, gosta. E chegava no dia primeiro, estavam todos os pais lá, pra receber os alunos, distribuir material pra todo mundo. No segundo, terceiro dia, a escola estava lá como se fizesse... Parecia que estava dez anos funcionando. Todo mundo uniformizado, merenda, todo mundo dando aula, aquela vida.
--- FIM DA ENTREVISTA ---Recolher