Museu da Pessoa

"Sei gostar muito do que fiz!”

autoria: Museu da Pessoa personagem: Maria Desidéria César da Silva

Centro de Memória CTBC - Telecom
Depoimento de Maria Desidéria César da Silva
Entrevistada por: Luiz Egypto de Cerqueira (P/1) e Norma Lúcia da Silva (P/2)
Uberaba,

24

de maio de 2002
Realização Museu da Pessoa
Código: CTBC_HV086
Transcrito por Marlon Alves Garcia
Revisado por Joice Yumi Matsunaga

P/1 - Boa tarde Dona Déia.

R - Boa tarde.

P/1 - Para começar, eu queria que a senhora dissesse seu nome completo, local e a data do seu nascimento.

R - Maria Desidéria César da Silva, mas eu gosto que me chamem de Déia. Minha cidade é Abaeté em Minas Gerais.

P/1 - E a data de seu nascimento?

R - 20

de março de 1947.

P/1 - O nome do seu pai e da sua mãe, por favor?

R - Sival César da Silva e Maria Antônia da Silva.

P/1 - Qual era a atividade do seu pai?

R - Fazendeiro.

P/1 - E a sua mãe?

R - Do lar.

P/1 - A senhora conheceu seus avós?

R - Não. Só meus avós maternos, mas, assim, muito raramente. Não lembro deles, eu era muito criança quando faleceram.

P/1 - A senhora se lembraria do nome deles?

R - Sim. Meu avô paterno, Tibúrcio César Fonseca, meu avô materno, Jerônimo Ferreira.

P/1 - E os outros avós, a senhora sabe o nome deles?

R - Das minhas avós, né? Maria César e Maria Joaquina de Jesus.

P/1 - A senhora se lembra de ter ouvido falar ou de seus pais comentarem da origem de seus avós, de onde eles teriam vindo, se eles eram da região mesmo?

R - Na realidade, a origem dos meus avós, principalmente do meu avô paterno é Portugal, porque é Fonseca, né? Ele nasceu no Brasil, mas é de família portuguesa.

P/1 - E viviam, quer dizer, eram portugueses que migraram para a região de Abaeté?

R - É, mas aí, já os meus bisavós, porque meus avós eram mesmo já nascidos aqui em Minas Gerais, Abaeté, uma cidadezinha próxima de Belo Horizonte.

P/1 - Perfeito. E essa fazenda que a senhora nasceu, como é que era, que nome ela tinha.

R - Na realidade eu mesma não nasci na fazenda, né, porque em número de onze irmãos, os irmãos mais velhos é que foram. Por acaso tinha o nome do meu avô. Fazenda Tibúrcio César.

P/1 - E são onze irmãos na família da senhora? A senhora em que escala se coloca nesses onze?

R - Eu sou a oitava.

P/1 - Perfeito. E como que era essa sua casa da infância com essa criançada toda solta? Como funcionava a casa?

R - Uma algazarra total. (RISO) Aliás a gente fica até pensando como era bacana naquela época, que se criava onze filhos e com harmonia. A algazarra que a gente se refere era mesmo de brincadeiras, das cirandas, né, porque briga não tinha. Eu vejo hoje, as crianças brigam muito porque elas quase não têm mais espaço, e a gente tinha. Tinha o pomar do meu avô para a gente estar brincando, caçando passarinho, armando arapuca, né? Essas coisas legais da época.

P/1 - Como era a casa dona Déia, assim, fisicamente? Como ela se distribuía, como ela se dividia?

R - Você sabe que eu fui visitar um museu aqui em Uberaba agora há pouco, que é o Museu José Maria Reis, que é uma casa linda, maravilhosa e era exatamente como a casa do meu vô, ou seja, aquela casa de fazenda com porões, cujos porões tinham assim espaço até para transformar em dormitório, que era também ali a dispensa, aquela fartura toda da época, né? Mas aqueles varandões, sabe? Aquelas coisas de tear, aquelas rodas de fiar, coisas lindas que agora ao visitar esse museu, eu fiquei pensando: “Que pena que a gente não sabia que aqui tinha tanto valor e como seria tão maravilhoso se a gente tivesse conservado. Realmente era uma casa linda. Posso até dizer, assim, com toda a simplicidade, mas era tipo casa do senhor de engenho. Casa bonita.

P/1 - As crianças tinham obrigações dentro de casa, na lida, no cotidiano do lar? Tinha obrigações, tinha coisas para fazer?

R - Sim. A gente tinha que trabalhar, e trabalhar mesmo. Para você ter uma ideia, eu que sou a oitava, eu era a pajem de todos os outros irmãos que vieram depois, e ainda vieram quatro, né? Então, a gente pajeava, a gente tinha que ajudar na lida da casa, inclusive. Mas essa palavra é interessante: na lida. Mas era realmente uma lida, porque se fazia de tudo um pouquinho, né? Já tinha até que ajudar no cozinhar, porque, segundo a época, a gente tinha que ser prendada. E o ser prendada era lavar, passar e cozinhar também.

P/1 - E a senhora aprendeu isso rapidamente?

R - Ah, sim, muito rapidamente, hoje eu procuro esquecer um pouco, mas na época era muito saudável aprender a fazer toda aquela, bem, assim, mineira, né?

P/1 - Certo. E sempre sob a supervisão da sua mãe ou a senhora tinha alguma independência para tomar decisões ali?

R - Ah, eu tive independência muito cedo, porque minha mãe também adoeceu muito cedo. Então, eu fui muito mãe desde muito jovem.

P/1 - E nesse tempo todo, quer dizer, com essas responsabilidades sobrava tempo para as brincadeiras?

R - Ah, sim. A gente tinha sempre à noite, na lua, as brincadeiras com os funcionários das casas em volta, dos trabalhadores, e a gente brincava muito. Porque também não tinha televisão, não tinha videogame, não tinha toda essa parafernália técnica de hoje. Era brincadeira mesmo, de casinha, de boneca, de passa anel e muita ciranda. Fui criada com muita ciranda.

P/1 - A ciranda que a senhora diz, brincadeira de roda?

R - Brincadeiras de roda, cantorias mesmo.

P/1 - Aí juntava todo mundo ali da vizinhança da fazenda, é isso?

R - Sim, juntava a meninada toda. Os primos, né, porque enquanto na minha casa a gente era em onze irmãos, o meu avô teve dezessete filhos. Então, assim, eu tinha um número enorme de primos e a gente reunia sempre fim de semana todo mundo para brincar.

P/1 - Seu pai e sua mãe faziam questão de juntar todo mundo nos almoços de domingo?

R - Aos domingos. Era o almoço da família, principalmente nas férias, né, que a gente juntava lá no meu avô e no domingo todo mundo passava junto.

P/1 - Como é que eram esses almoços?

R - Ah, muito gostoso, muita fartura. Para você ter uma ideia, o meu avô sempre matou o

porco na casa, às vezes, até vaca. E assim, dia de matar o porco era um churrasco direto e reto. A gente chamava de churrasco. Na realidade, churrasco veio a ser um nome chique mais tarde, mas era como se fosse, porque era o dia todo de muita brincadeira, mas também de muita comeria. Fico pensando: “Que bom que naquela época os produtos eram bem naturais”. Porque a gente tinha tanta quitanda, tantos doces, tantas coisa gostosa e não tínhamos colesterol, e podíamos comer bastante.

P/1 - Também queimava muita energia?

R - Ah, sim, principalmente subindo nas árvores. Meu vô era, assim, exigente com a data certa de poder colher as frutas, e eu era muito arteira, eu gostava muito de estar roubando as frutas do meu vô, principalmente porque eu sou apaixonada por aquela mexerica, uma bem cheirosinha. Hoje chama de ponkan, mas na época era um pouco diferente. E como ela deixava cheiro na gente, eu ganhava algumas palmadas do meu vô, porque eu chegava perto dele cheirando à fruta que eu havia apanhado. E aí meus primos iam tudo atrás de mim. Eu sempre liderei aquele grupo, fui muito bom.

P/1 - Está certo. A senhora é meio da pá virada, em dona Déia?

R - Já aprontei bastante. (RISO)

P/1 - Dona Déia, e a escola? Como é que foi a sua primeira escola? Onde é que estava, com é que a senhora começou a frequentar a escola?

R - A primeira escola foi na cidade onde eu nasci, porque na fazenda foram meus primeiros irmãos. Eu já nasci na cidadezinha de Abaeté. A minha primeira escola, o grupo chamava Doutor Zacarias, né? Uma escola linda, maravilhosa. Não sei se é porque naquela época a gente não conhecia outra escola ou se realmente era um grupo maravilhoso. Uma arquitetura linda, salas enormes, aqueles paredões, sabe? Não tinha esse tal de a gente estar logo com o teto acima da cabeça da gente não. Eram salas amplas, quadros negros enormes e professoras maravilhosas. Realmente, o meu tempo de escola foi uma coisa, assim, que deixou muita saudade. E eu tenho uma alegria muito grande, porque eu vejo hoje o pessoal aí tentando resgatar, criando oportunidades para que os negros possam estudar, trabalhar. Eu, na minha época, a minha professora era uma negra chamada Maria Campos, que até hoje, por mais professores que já passaram por mim, nunca a esqueço e fico imaginando: “Será que ainda tem gente com tanto conhecimento como aquela senhora naquela época?”. Foi uma grande saudade.

P/1 - Alguma outra professora marcou a senhora nesse seu primeiro tempo?

R - Dona Catarina.

P/1 - Por quê?

R - Ah, dona Catarina é uma pessoa maravilhosa. Olha que naquela época dona Catarina nos dava aula com muito carinho, mas ela era tão devota da Nossa Senhora da Conceição, aliás, hoje quase não se fala mais nessa Nossa Senhora. É 8 de dezembro. Porque o último semestre do ano, o dia oito de dezembro era o dia da Nossa Senhora da Conceição, a gente passava as aulas todas trabalhando uma hora no final das aulas para preparar a festa da Nossa Senhora da Conceição. Então, não esqueço dessa dona Catarina. Pessoa maravilhosa. Realmente, a minha formação, eu devo muito àquelas professoras, porque foram a base, né?

P/1 - Tem muita devoção em Salvador da Bahia, à Nossa Senhora da Conceição.

R - É, verdade, mas aqui na minha região é mais Nossa Senhora da Abadia, da medalha milagrosa, né?

P/1 - Dona Déia, nesse tempo de escola, como é que era a cidade de Abaeté, quer dizer, a senhora foi para lá, como era essa cidadezinha?

R - Eu nasci nessa cidadezinha, né, porque a fazenda do meu vô era nesse município. Mas eu já nasci na cidade mesmo, onde morava meus pais. Era uma cidade, assim, naquela época, eu acho que ela já deveria ter seus oito, dez mil habitantes, com uma economia baseada na agricultura, tanto é que meu pai plantou muita lavoura, especialmente milho e algodão. A gente tinha algodão também. E como não podia ser diferente, o gado leiteiro, que era o forte da época e que meu pai cuidava muito. Eu sabia até tirar leite. (RISO) A gente que fazia a ordenha na época, manualmente.

P/1 - Dona Déia, depois de completado o primário como é que foi a continuação dos seus estudos, a senhora continuou na mesma escola?

R - Teve um intervalo que eu fiquei sem estudar, porque os meus pais se separaram, e para você ter uma ideia, porque naquela época era de primeira à quarta série, depois para a gente poder entrar na escola normal teria que se submeter a um curso de admissão, né? E quando eu fiz esse curso de admissão já não tinha muito poder aquisitivo, porque houve a separação dos meus pais e eu fiquei com a minha mãe, e aí para a gente poder ir nessa escola normal, esse curso de admissão parecia um tipo de vestibular que você faz hoje para entrar na universidade. Aí tinha que fazer um cursinho e nesses dois meses de cursinho minha mãe não pôde pagar aquelas mensalidades, porque essa era uma coisa separada da escola, né, da escola normal. E eu fui classificada em primeiro lugar para entrar na escola normal. A escola normal de freiras, com todo aquele sistema de educação da época, mas eu tive que trabalhar de doméstica para a minha professora, porque meu pai não pagou a escola. (RISO) Aí teve um intervalo, porque eu fui trabalhar para aquela senhora, lá, e depois, mais na frente é que voltei a estudar à noite.

P/1 - Quer dizer, a gente pode dizer que esse foi o seu primeiro emprego, o seu primeiro trabalho?

R - É, pode. Até quando eu fui fazer a ficha esqueci que eu fui doméstica da minha professora para pagar os meus estudos. E que bom que paguei.

P/1 - A senhora pagou, né?

R - Exatamente. Por isso que eu disse: “Que bom, que eu que paguei”.

P/1 - Exatamente. Aí a senhora foi fazer o ginásio e tinha vontade de sair de Abaeté, tinha já algum plano na cabeça daquela menina? O que aquela menina pensava do futuro?

R - Não, na realidade, tão logo isso ocorreu, a gente mudou, porque com a separação dos meus pais, o meu irmão mais velho - porque lembra que era a oitava, então já tinha pessoas com muito mais idade do que a minha -, que já era casado, que já tinha uma estrutura, já tinha uma pequena empresa numa cidade mais próxima ainda de Belo Horizonte, chamada Lagoa da Prata. E aí, das pessoas que estavam com a minha mãe, eu era a mais velha, e eu perdi esse irmão com trinta anos, assim, com infarto fulminante, e a minha cunhada na época, que tinha duas crianças, não tinha pais e eu fui morar com essa minha cunhada. Então, minha mudança para a cidade de Lagoa da Prata foi pela perda do meu irmão mais velho. E lá que eu fui estudar, que eu fiz ginásio e lá que eu fui para a telefônica. E lá que tudo começou.

P/1 - Certo. Essa mudança para Lagoa da Prata implicou a senhora ficar só dentro de casa ou a senhora já começou a trabalhar assim que chegou lá?

R - Não, de início foi só dentro de casa com minha cunhada, depois, essa empresa que o meu irmão tinha, participava, vamos dizer assim, era uma casa de peças, de autopeças, e eu fui trabalhar nesse autopeças. Como não tem registro, não tem nada que oficialmente comprove isso, mas eu trabalhei no caixa de uma autopeças durante uns cinco anos.

P/1 - Serviço de caixa?

R - De caixa. Foi logo no início, porque eu sou muito danada e sempre gostei muita da área burocrática e logo eu fui para os escritórios dessa mesma casa de peças, porque ela ampliou, aí aglomerou móveis também, posto de gasolina, um aglomeradozinho de empresa na época, coisa pequena, mas que de lá eu já pude ir para a Telefônica como quase, vamos dizer, gerente da telefônica, lá. Eu já tinha uma bagagem.

P/1 - Nesse período, qual era o seu trabalho específico dentro desse escritório, dessa empresa do seu irmão?

R - Era na área de Administração. Por exemplo, toda a correspondência para cliente, trabalho de cliente, entendeu? Todo o pagamento do pessoal, envolvia a área de Recursos Humanos, a área financeira e vendas de balcão também. Eu sabia muito sobre rolamentos e tudo de automóvel.

P/1 - Podia conversar com a senhora de mecânica? (RISO)

R - Já fui boa nisso, agora não me lembro mais. A única coisa que eu gosto é de dirigir o meu carro. Se possível novo para não ter que ir na oficina. (RISO)

P/1 - Está certo dona Déia. Dona Déia, como é que se deu essa aproximação com a Telefônica? Se estava tudo andando tão bem ali, por que a senhora foi atentar para uma empresa de telefonia?

R - Ah, talvez porque era a minha sina, né, essa sina maravilhosa, e as coisas vão se encontrando. Aconteceu que o sócio do meu irmão nessa firma também faleceu. Houve um e ele faleceu. Aí, quem veio assumir essas pequenas empresas foi o irmão dele, sabe? E o irmão dele estava naquela fase de que os filhos precisavam trabalhar. Todo mundo formando, porque todo mundo estudava em Belo Horizonte nas universidades. E aí a filha dele estudou, formou-se em Belo Horizonte e veio para Lagoa da Prata e assumiu o cargo que eu fazia. Lógico, porque já não tinha nem meu irmão nem o sócio do meu irmão, já eram terceiras pessoas na empresa, né? E aí surgiu uma vaga na Telefônica e na época nem se conhecia CTBC, era Telefônica local, um grupo de cem acionistas que tinha fundado aquela telefônica. Era serviço somente urbano e não se falava em interurbano.

P/1 - Qual era o nome dela?

R - Companhia Telefônica de Lagoa da Prata. Aí surgiu a necessidade de uma pessoa para estar coordenando a parte de escritórios lá da Telefônica, e eu me lembro que já naquela época eu fiz concurso, passei e fui. E lá eu me encontrei, porque a minha vida sem a Telefônica, não tem como separar, não existe. Telefônica sou eu e eu sou ela. (RISO)

P/1 - Está certo. E lá na Companhia Telefônica de Lagoa da Prata, o que a senhora tinha que fazer, qual era a sua atividade?

R - Ah, muito interessante dizer para você que eu fui trabalhar em uma companhia telefônica e a única coisa que eu não sabia fazer, e para te falar a verdade, não fiz mesmo, era ser telefonista, né? Porque eu sempre dizia: “Trabalhar na Telefônica é telefonista”. Telefonista propriamente dita eu nunca fui, e fico pensando: “Se eu tivesse entrado para ser telefonista, eu morria de fome”. Porque, realmente, aquela parafernália de atender o cliente via fone na cabeça, aquilo nunca fez o meu estilo e não combinaria com o meu tipo de trabalho, com aquilo que eu acredito. Porque eu gosto de trabalhar é com as pessoas direto, sabe? Então, eu fui trabalhar na parte administrativa mesmo. Lá eu emitia as contas telefônicas, eu recebia as contas telefônicas, eu era banco, eu era advogada, porque lá a parte também, inclusive burocrática, de acionistas, assembleia, tudo isso eu fazia e controlava. Já sabia sobre ações, já negociava ações. Tudo começou muito cedo na minha vida.

P/1 - A senhora era sozinha nesse trabalho lá em Lagoa da Prata.

R - Nós éramos um grupo de catorze pessoas: doze telefonistas, eu no escritório e um rapaz na área técnica, que são assim como irmãos até hoje. Ah, mas precisa lembrar que para a gente fazer também esse trabalho, tinha que ser a faxineira, não tinha faxineira. Tinha que lavar os banheiros também. Então, ao mesmo tempo que atendia um acionista e fazia assembleia, também estava lá toda molhadinha lavando banheiros, jogando água na rua para não ter poeira, porque já naquela época o sistema não combinava com poeira. Parava toda a central, se não fosse bem limpo, Então, já trabalhei muito, inclusive de faxineira.

P/1 - Quantos telefones, quantos terminais tinham ali naquela central?

R - É interessante que era tudo cem. Eram cem acionistas e cem telefones, porque era um telefone para cada acionista, né? Foram eles que fundaram. Mas depois quando eu saí já eram mil e quinhentos, e eu também coordenei todo aquele trabalho, já com mil e quinhentos.

P/1 - E a relação com esses acionistas, como que a senhora?...

R - Ah, foi bom demais. Muito bom. Conhecia todo mundo, a cidade era pequena, uma cidade de aproximadamente vinte e cinco mil habitantes, que depois se tornou uma cidade turística, porque lá tem uma lagoa, por isso chama Lagoa da Prata e foi onde tudo na minha vida aconteceu. Uma cidade pequena, mas muito evoluída, a cabeça do pessoal muito bacana. Já naquela época, a gente podia ir, naquela cidade, olha, isso em 1970, 1971, de maiô para a praia lá, para tomar banho no final de semana, viu? Não tinha muita preocupação com essa coisa de ter que estar muito vestida. Era uma pequena cidade, mas com um ritmo bem liberal. Foi muito bom.

P/1 - Com toda essa trabalheira, toda essa responsabilidade, qual era o lazer fora a prainha lá da lagoa, que tipo de lazer?

R - Eu sempre fui muito festeira. Muitos bailes. Aquela era a época dos bons bailes, das boas orquestras; Ah, muitos bailes, muita festa. Olha, para você ter uma ideia nós já recebíamos, lá nessa cidade, escolas de samba do Rio de Janeiro, tanto é que hoje eu sou foliã das escolas de samba do Rio de Janeiro, mas começou tudo naquela época, em 1970. (RISO) Realmente foi uma época maravilhosa.

P/1 - Lagoa da Prata não era um lugar isolado?

R - Não, tinha no mapa. (RISO)

P/1 - Sintonizada com o mundo também.

R - Com o mundo. Uma cidade muito moderna.

P/1 - Dona Déia, como que a CTBC chegou na sua vida?

R - Ah, que bom que ela chegou, né? Foi tão bonito. Bom, o seu Alexandrino, aquela pessoa fantástica com aquele espírito de bandeirante, saiu procurando telefônicas pequenas para comprar para aglomerar às empresas dele, até que ele chegou em Lagoa da Prata. Quando ele chegou em Lagoa da Prata, lá estava eu, e aí começamos a trabalhar juntos. Acho que um ano depois que eles encamparam a Telefônica de Lagoa da Prata, eles já me convidaram para fazer parte do quadro de funcionários da CTBC e que fosse viajar nas empresas, e como ele viajava muito comprando empresas eu comecei a viajar ajudando ele a comprar empresas.

P/1 - Quer dizer, na verdade a CTBC estava em um processo de expansão.

R - Expansão. Começando a sair naquela época daqui da região do triângulo e começando ir para o setor do oeste mineiro, que envolvia Luz. Primeiro eles compraram Luz, cidadezinha bem à margem da 262 e em seguida compraram Lagoa da Prata, Bambuí, Iguatama, Pará de Minas, tudo na mesma época e eu fui trabalhar com ele nestas cidades todas para poder implantar o sistema CTBC dentro do sistema que cada empresa adotava nas suas localidades.

P/1 - O que mudou na Telefônica, no serviço de Lagoa da Prata, com a chegada da CTBC?

R - Totalmente, porque tudo nosso era manual, se trabalhava com aquele sistema de pega. Manualmente você interligava um assinante ao outro, depois já começou com a chegada da CTBC, na pessoa do senhor Alexandrino, interurbanos, porque até então a gente só tinha chamadas locais. Aí já começaram as construções de rede. Tanto é que eu ajudei o senhor Alexandrino a descarregar muitos caminhões de postes, fios etc., para as construções das redes. E aí veio as fases do sistema de interligação entre as cidades, que era o serviço interurbano.

P/1 - E Seu Alexandrino, Dona Déia? Fala um pouco dele? Como é que ele era, como era a convivência com ele?

R - Ah, Seu Alexandrino era maravilhoso, uma pessoa fantástica. Tem-se que lembrar sobre o que é trabalho, tem-se que lembrar de Alexandrino Garcia. Ele realmente era trabalho, né, porque já, graças a Deus, com um poder aquisitivo bom na época, mas ele já chegava... Ele e José Leonardo, que todo mundo sabe que é cunhado de Seu Alexandrino, aliás, do doutor Luiz. Ele ia com José Leonardo nos caminhões levando além dos postes, os fios. E se não tivesse quem descesse aqueles postes e esticasse aqueles fios, ele mesmo fazia. Ele era assim muito doce. Já naquela época o Bernardo já se destacava com indústria, entre uma delas a Erlan, que são os bombons, né? E ele nunca ia encontrar com a gente lá na cidade bem longínqua de Uberlândia sem levar para todos nós os bombons. Ou seja, ele chegava, adoçava a nossa boca, e depois a gente com aquele gesto bonito, já ia totalmente unir-se a ele para que a empresa realmente se modificasse, né, saísse de pequena empresa para grandes empresas.

P/1 - A senhora se lembra de algum episódio com ele que tenha ficado marcado na sua lembrança como um exemplo do jeito dele ser, da forma dele agir?

R - São muitos episódios, mas eu gostaria de estar, assim, registrando o quanto que para ele é importante que as telefônicas fossem feitas nas praças das cidades. Eu me lembro de ir com ele em algumas câmaras das cidades, e ele brigava muito com os vereadores, porque ele queria terrenos para construir as telefônicas, mas principalmente tinha que ser nas praças. Para ele era primordial. Tanto é que se você começar a andar, assim como eu depois tive a oportunidade de andar, nos quatro estados, nas cento e tantas cidades que a CTBC opera, muitos dos nossos prédios são nas praças.

P/1 - Tem algum motivo especial para isso?

R - Eu acho que ele já era um homem de muita vanguarda, ele já percebia o local de estacionar, como chegar os automóveis com o material. Mas era por espaço mesmo de estacionamento e de fácil acesso do público às empresas. Ele era uma pessoa, assim, muito futurista. Ele já sabia como era importante ter espaço em volta para que as pessoas identificassem logo onde seria e também o acesso de caminhões e saída de material etc.

P/1 - Como foi esse seu período de acompanhá-lo nas cidades para identificar empresas para serem incorporadas à CTBC? Como é que foi esse processo? A senhora trabalhava direto com ele, ficava na rua?

R - Ele tinha uma equipe que o acompanhava, né. A parte administrativa, que era a parte que me envolvia mais, era o Seu José Rubens e o Seu Ataíde Barata, e na época também o saudoso Valmiro, né, que foi uma pessoa fantástica, que estava na época em uma ascensão. Foi logo quando a gente começou a ter um economista na empresa, porque até então a gente tinha vários contadores, que foi o Júlio, que hoje está em Brasília, na holding, lá, e também o doutor Joel, que era o advogado na época que acompanhava a parte jurídica das assembleias, todas as negociações das compras das empresas, né? Então ele estava com a gente, sempre, mas tinha essa equipe que estava sempre junto. Eu me lembro que nos hotéis em que a gente ficava, o Seu Alexandrino também, era tão bonitinho porque ele mesmo arrumava as camas, porque ele não saía à noite e a gente às vezes ia jantar, depois ia até tomar um chopinho, ver a cidade, e quando chegavam os meninos, falavam que as camas deles estavam arrumadinhas, e era o Seu Alexandrino quem arrumava. Ele era uma pessoa muito carinhosa.

P/1 - Ele não saía?

R - Não saía. Seu Alexandrino nunca saía assim, só ia nos compromissos realmente oficiais.

P/1 - Certo. E como ele era de trato nessas reuniões? Ele era maleável, duro? Como ele encarava esse tipo de negociação nessas cidades?

R - Ah, Seu Alexandrino tinha, assim, um carisma muito grande. Mesmo sendo duro, não era áspero, mas jogava duro, não perdia negócio. Mas com aquela peculiar simpatia dele.

P/1 - Dona Déia, gostava muito de trabalhar sábado e domingo, né?

R - Uh, quantos trabalhamos. Ele simboliza trabalho. Para ele não tinha dia nem hora, tinha era que trabalhar.

P/1 - Como que a senhora foi vendo, então, bem de perto essa expansão de uma época em que a CTBC começa a espalhar e começa a conquistar novas localidades? A senhora não tinha um pouso fixo, não tinha uma cidade para ficar, ou passava o tempo todo viajando?

R - Não, eu tinha, assim, por exemplo, logo que eu saí de Lagoa da Prata, que eu comecei a viajar nas cidades todas, a gente tinha um sistema administrativo da época, por regiões. Nós tínhamos sete regionais, e a gente ficava morando na sede dessas regionais e ia e voltava das cidades pequenas. Eu fiquei em Patos de Minas uma época, Pará de Minas, Ituiutaba, Itumbiara, Paranaíba, no Mato Grosso, Morrinhos, em Goiás. E a gente ia nas outras cidades pequenas, mas no máximo um dia, dois dias depois a gente voltava. Então, ficava morando mesmo nessas sedes regionais. Eram sete cidades ao todo.

P/1 - E tinha um apartamento, uma instalação? Como é que era?

R - Nada, a gente ficava em pensão. Uma vez eu fui trabalhar na cidade de Iguatama, e a pensão era tão ruim, que para você ter uma ideia, quando eu cheguei - eu estava com uma mala tão pesada, porque estava cheia de livros de acionistas, além das minhas próprias coisas, e aquele assoalho, sabe? -, quando eu botei minha mala aquele assoalho veio para cima da gente, porque era muito velho e estava tudo solto. Então, eu me lembro que, naquela época, o diretor da empresa local - porque a gente estava indo ver as empresas locais -, eu disse para ele que não dava para ficar, porque tinha ratos no quarto, muito sem higiene, era banheiro coletivo de pensão, e essa cidadezinha era servida pela Nestlé, então, peões que estavam trabalhando lá e também construindo redes ferroviárias para poder atender a indústria lá perto na cidade de (?) , que era (?), porque dava muito peão. Então, os banheiros eram muito, assim, complicados, sem higiene mesmo, e eu me lembro que eu falei para o diretor, que era uma pessoa, assim, muito gente fina lá da cidade, que ali não dava para ficar. E sabe que eu acho que ele achou que eu era burguesa, e ele não tinha compreendido que a minha preocupação era com a higiene, e ele arranjou para mim me hospedar na casa do único médico da cidade, que era a melhor casa e que na época já tinha até piscina. Confesso que não achei ruim não, porque fiz muita amizade com o pessoal lá da casa, até hoje tenho presentes deles.

P/1 - Dona Déia, à que a senhora atribui essa escolha do Seu Alexandrino para ter a senhora sempre perto nesse processo de visita às cidades, de consolidação das aquisições de empresas? A senhora tinha demonstrado todo esse serviço já em Lagoa da Prata? Foi isso?

R - Já. Eu me lembro que pelo fato de lá em Lagoa da Prata a gente ser uma empresa pequena e que não se separava por setor. Ou seja, tanto a gente fazia o financeiro, como o administrativo, como o, na época se dizia, setor de pessoal, que hoje se fala talentos humanos etc. E o meu conhecimento era em todas as áreas. E ser, assim, um temperamento expansivo, também, me relacionava facilmente com as pessoas, e como nas empresas telefônicas predominava o trabalho de mulheres, porque sempre a área de tráfego era a área das telefonistas, era sempre onde tinha o maior número de funcionários, e talvez por isso eu me encaixei com as necessidades dele, na época, né, que era conhecer das assembleias, dos recebimentos das contas, porque ele já nos dizia que não adiantava faturar, era importante receber, e eu sabia tanto faturar como receber. E além do mais, uma das coisas complicadas era sempre o horário de trabalho das mulheres, porque as leis já cobravam aquelas folgas semanais, tinha que ter aquele controle. Então, eu fazia isso bem e eu fui organizar mapas de escala de telefonistas, fui organizar trabalhos de contas atrasadas. Ou seja, eu era uma boa cobradora e ele gostava muito de mim também nessa área. Eu me lembro uma vez que eu fui trabalhar em Pará de Minas e a prefeitura de lá devia, assim, há quase um ano, as contas da Telefônica, e naquela época o Seu Alexandrino falou: “Manda a Déia para lá, mas manda ela levar marmita, porque enquanto não receber, não pode voltar”. E foi, então, interessante que após esse trabalho que eu fiz lá, consegui receber do prefeito, e depois em Uberlândia teve um encontro de prefeitos e o prefeito daquela cidade disse para o Seu Alexandrino que ele tinha que me ceder para a prefeitura, porque eles não pagavam porque as pessoas também não pagavam as contas da prefeitura, e aí eu deveria ser cedida para que cessasse as contas da prefeitura. Foi muito interessante esse trabalho, também.

P/1 - A senhora se especializou em tirar leite das pedras?

R - De uma certa forma. (RISO) E deu muito leite.

P/1 - Certamente. Dona Déia, com esse processo todo, a senhora já não tinha mais o seu cantinho, o seu lar, a sua casa, a senhora vivia viajando o tempo todo?

R - Nesse período todo eu viajei vinte e três anos, pode se dizer, né? E sempre, todo final de semana eu vinha para casa, porque nesse intervalo de todas essas história, entre umas e outras, a minha família mudou para Uberaba. A gente já não estava mais em Lagoa da Prata, a gente já tinha vindo para Uberaba. Infelizmente, também, por motivo de morte. Foi a perda de uma irmã, e que nos trouxe a morar em Uberaba, onde já tinha um irmão meu que morava aqui, por sinal o Grupo (?), que hoje é o Nacional Expresso, e que a gente veio para Uberaba. E também porque minha mãe já era doente e Uberaba sempre foi um local de uma medicina bem adiantada e tinha facilidade para tratar da minha mãe aqui. Então imagina você, que com todas essas andanças, minha mãe ainda era doente, ficou acamada mais de vinte anos e todo fim de semana eu estava em casa. Então, eu falo que eu morei em muitas cidades, mas era uma moradia entre aspas, porque, na realidade, sábado e domingo eu estava em casa. Sou pioneira, aí, dessa 262, antes de ter asfalto, já vim de trem, porque aquela região de Lagoa da Prata, Luz, Pará de Minas, a gente tinha que vir de trem. Às vezes, quando eu aqui chegava, já era a hora de voltar, porque quantas vezes o ônibus tinha problema, porque a estrada é de terra. Quantas vezes o trator nos puxou. Mas eu chegava. (RISO) Eu chegava. (PAUSA)

P/1 - Uma viagem num trecho desse, assim, em uma estrada, você sabia o horário de sair, mas não sabia o horário de chegar, né? E a senhora viajando tanto já tirava de letra essas intempéries do caminho?

R - Ah, sim. E quantas vezes tive que vir até de leiteiro. Sabe o que é leiteiro?

P/1 - Sei, o caminhão leiteiro.

R - Aquele caminhão que transportava o leite naqueles grandes baldes, chamados na época, com um nome até interessante. Há pouco tempo eu estava lendo um livro e vi esse nome: braúna. (RISO) Era a vasilha que carregava o leite no caminhão.

P/1 - Aqueles latões?

R - Latões. Hoje a gente fala assim. Foi muito interessante.

P/1 - Dona Déia, esse momento de mudança para Uberaba, embora por esse motivo lamentável, como que era a cidade nessa época, como era Uberaba nesse momento em que a senhora mudou para cá?

R - Naquela época, como eu vim de uma região em que as cidades eram bem menores, Uberaba já era uma grande e bonita cidade. Hoje eu fico pensando: “Como Uberaba não era grande em nada”. Mas para mim era, né? (RISO) É um conceito do grande em relação à gente quando vem de uma região de pequenas cidades. Uberaba já era uma grande cidade, Uberaba já era a cidade que tinha, acredito em nível de interior, a melhor escola de Medicina, que hoje é CMTM, né? Também se destacava muito pela escola de Odontologia. Uma das pioneiras do interior em Odontologia era Uberaba. Já era a cidade do zebu, já tinha a exposição, e já tinha a CTBC, que na realidade era uma CTBC entre aspas, porque ainda era a Telefônica de Uberaba, mas era administrada pela CTBC. Então, os meus trabalhos aqui, quando eu vinha na condição de supervisora, já acompanhando a parte dos atrasos dos pagamentos, que foi sempre uma das áreas que eu atuei muito, já tínhamos muitos donos de bois, com algumas continhas para pagar, também. (RISO)

P/1 - Dona Déia, qual é o segredo, o pulo do gato de receber uma conta atrasada, de tratar com inadimplente? Como fazer isso? Qual é o segredo?

R - Eu sempre fui uma pessoa sempre muito positiva, sabe? Eu acredito que eu sabia chegar, eu sabia argumentar, mas também era bem severa em relação a não deixar para depois. Porque a gente percebia que o pessoal da cidade, porque tinha muita amizade com os assinantes, ia deixando para depois, não tinha como estar chegando com um pulso mais forte. Mas, além de ter temperamento, aí, dessa origem dos meus avós, também de portugueses, ainda convivi com Seu Alexandrino. Eu era severa na hora de cobrar e acho que era por aí também.

P/1 - O fato de ser mulher, a senhora acha que tinha... (PAUSA)

P/1 - Então. Ali é o escritório onde elas ficam, elas ocupam. A gente tem uma área onde a gente guarda alguns objetos que pretende dar um trato museológico em vez de fazer adiante, mas a Norma tem ficha de cafezinho, a senhora vai lá fazer uma visita para ver como que a gente está trabalhando. O que a gente quer é que pessoas como a senhora, todos os depoentes, enfim... (PAUSA)

P/1 - Nós estávamos?

P/2 - Como é que era o pulo do gato?

P/1 - Ah, sim. Nós vamos chegar lá. Então eu vou repetir a pergunta, Dona Déia. Na verdade eu queria que a senhora relatasse para nós onde é que está o segredo, que está a singeleza, qual é o pulo do gato para conquistar o cliente inadimplente e o pagamento da conta? Como que a senhora consegue ser tão eficiente e eficaz, assim, como a senhora está relatando?

R - Eu acredito que, assim, eu sempre fui uma pessoa muito firme. Eu sou forte, fui sempre firme nas minhas colocações e também tinha uma experiência grande de estar, assim, atuando junto ao cliente e, como eu tinha dito, eu vindo da administração, eu vindo, no caso, de Uberlândia para as localidades, as pessoas das localidades, os nossos funcionários, às vezes ficavam tímidos em estar cobrando com mais severidade o cliente, porque ali era tudo muito junto, né? E, como eu disse, o fato de eu ter uma origem também de português e ter convivido tão perto com Seu Alexandrino, eu sempre fui forte, decisiva, então, eu sabia cobrar, de forma que as pessoas não deixavam para depois. Não, elas acertavam mesmo, né? E foi aí que eu contei a história do prefeito de Pará de Minas, né?

P/1 - Como foi mesmo essa história?

R - Essa história é uma história de que a prefeitura devia para a CTBC. Além de ser um grande montante, mas o importante para a gente na época, inclusive para cumprir, inclusive a legislação, era o tempo do atraso, né, porque tinha aquele limite. Três meses tinha que bloquear telefone, daí mais três meses tinha outras penalidades. E como o órgão público gozava de um certo benefício, aquela prefeitura estava com um acúmulo de mais de ano de atraso. Um montante enorme de contas, um valor alto e nisso o Alexandrino me mandou ir para lá e disse que era para eu levar marmita. Não era para eu sair de lá sem receber da prefeitura. De fato eu fiquei o dia todo e consegui receber. Depois teve um encontro de prefeitos, acho que foi aqui no Triângulo, me parece que em Uberlândia, e esse prefeito de Pará de Minas veio e o Seu Alexandrino também estava nesse encontro. Aí esse prefeito disse para o Seu Alexandrino que ele tinha que me ceder para a prefeitura, porque da mesma quantidade de clientes atrasados que tinha a CTBC, como também os clientes da prefeitura, e naturalmente com o meu trabalho a cobrança ficaria em dia.

P/1 - Quando a senhora resolvia um caso espinhoso assim, o Seu Alexandrino fazia algum comentário depois que sabia do sucesso da sua empreitada? Ele dizia alguma coisa?

R - Seu Alexandrino, a gente sabia que ele era grato a tudo que a gente fazia, mas ele estava sempre buscando era fazer mais, sabe? Então, essa parte de estar com a gente, de ver que o serviço estava andando e até fazer algum elogio, cabia mais ao Seu Ataíde, que era um dos nossos coordenadores, mais tarde o Seu Wilson Costa, o Valmiro Reis e também o doutor Luiz, porque nessa época o doutor Luiz já tinha chegado e estava na administração da empresa junto ao Seu Alexandrino. Porque o Alexandrino mesmo, todo o tanto que a gente fazia ele queria que a gente fizesse mais, sabe? (RISO) Essa parte aí o doutor Luiz era mais cauteloso.

P/1 - E o doutor Luiz, Dona Déia, como que ele era no trato, que lembrança a senhora tem dele?

R - Ah, o doutor Luiz é maravilhoso. Eu tenho a alegria de dizer que o doutor Luiz começou com a gente, porque bem no início o doutor Luiz era estudante de Engenharia com o doutor Aureliano Chaves lá em Itajubá. E depois veio moço trabalhar com a gente. Ele era também muito dinâmico, muito arrojado, mas aí já era uma empresa já bem mais veloz, mais dinâmica, mais moderna. O doutor Luiz já chegou trazendo novas tecnologias, logo já entrou o sistema de computador. Era arrojadíssimo, mas com todo o respeito à Dona Ofélia, era maravilhoso com a gente, porque nos tratava com muito carinho e valoriza muito o trabalho da gente.

P/1 - A senhora que começou tão cedo e em uma central telefônica tão precária, como que a senhora foi acompanhando esse desenvolvimento tecnológico que a CTBC foi tendo, porque ela foi pioneira em várias coisas, né? Como que foi isso, como a senhora acompanhava isso no seu processo de trabalho?

R - Eu costumo dizer que a minha universidade é a CTBC. Realmente eu tenho pouca escola, não tenho nenhum título acadêmico, mesmo por causa desse deslocamento. Todas as vezes que me aproximava uma oportunidade de estudar um pouco mais, aí vinha mais necessidade de viagem. Então, realmente estudo meu é muito pouco, mas os treinamentos, os cursos, o investimento que a CTBC fazia na gente, assim, enquanto profissional era maravilhoso e de uma profundidade. Fiz muitos cursos na área de pessoal, na área de relações inter-pessoais, na área de marketing, mesmo à nível de computador. Realmente a CTBC é a minha escola.

P/1 - Eu queria que a senhora dissesse, porque com todas essas andanças da senhora, tinha muito contato com muitas pessoas, com os assinantes, os clientes, como é que foi a evolução do relacionamento com os clientes? Quer dizer, desde o tempo em que eles eram simples assinantes até o momento em que eles passam a ser de fato clientes? Os grandes patrões de todo o processo, né? Como é que foi o desenvolvimento dessa relação?

R - Eu posso dizer que foi tão rico, foi uma fase tão rica da CTBC, eu acredito, de uma riqueza, de valorização da técnica, porque a CTBC é pioneira na alta tecnologia. Para você ter uma ideia, Uberaba foi a primeira cidade a ter serviço celular. Eu tenho o prazer de dizer que eu vendi o primeiro telefone celular aqui em Uberaba, e que depois a maioria dos telefones celulares que nós vendíamos aqui era para clientes de São Paulo. Também o sistema de fibra ótica, que foi Uberaba, a primeira a ser usada, interligada, né, o entroncamento de centrais com fibras óticas. Então, a partir do momento em que a CTBC com todo esse poderio, essa capacidade arrojada de trazer novas técnicas, foi, assim, encantador e enriquecedor para o cliente ser o cliente da CTBC. Tanto é que a gente sempre teve aquele slogan: “Nosso maior patrimônio é o cliente”. Foi muito rico mesmo. Eu fico imaginando que a gente pode estar fazendo uma comparação, assim, com a riqueza da música brasileira, aquela fase da Tropicália, da Bossa Nova, aquele encantamento que houve com a música brasileira, foi os clientes com as técnicas que a CTBC trouxe para o Triângulo Mineiro, Estado de São Paulo, Goiás, Mato Grosso. Mato Grosso, na primeira vez que eu fui, minha mãe disse: “Não vai minha filha, porque lá só tem mata e vai te esconder”. Tinha essa coisa em relação a Goiás e Mato Grosso, e de repente lá tinha a mesma técnica que tinha em Uberaba, Uberlândia, porque esse é o pulo do gato, essa capacidade de levar tecnologia de ponta aos rincões, vamos dizer assim, dos quatro Estados onde a CTBC trabalhou. Ela sempre primou pelo avanço técnico, pelo bom atendimento. Esse bom atendimento, exatamente, porque ela investia no funcionário, ela dava treinamento, né, nós tínhamos qualidade no trabalho, no atendimento etc.

P/1 - Isso rendeu frutos, né, Dona Déia?

R -

Ah, muito. O doutor Luiz quem diga, porque os frutos foram, vamos dizer assim, apetitosos e bem energizados, né? Foram transformando.

P/1 - Dona Déia, a senhora se referiu a um ponto que é importante que eu me lembro bem. No início da telefonia celular, muitos dos celulares de São Paulo era 34?

R - Era 34 porque era aqui da região, especificamente de Uberaba, porque Uberlândia veio depois.

P/1 - Exatamente. E aí, o que o cliente pensava? “Pôxa, lá no interior de Minas já tem celular e aqui não tem?” Que tipo de comentário a senhora ouvia?

R - Eu te confesso que a gente atendeu grandes empresários nessa área e de uma certa forma foi também uma razão de que o próprio grande cliente de São Paulo se posicionasse junto ao governo da época para que o celular também saísse em São Paulo, porque uns ficavam bem assim, vamos dizer, achando ruim em ter que vir a Minas para comprar tecnologia de ponta, né? Acho que a gente contribui também para que São Paulo corresse atrás de celular.

P/1 - Certamente.

R - Por isso eu acho interessante que você, acredito, esteja andando aí pelas Minas Gerais, ver o quanto que Minas realmente é pioneira em muitas coisas. O Grupo Algar, em telefonia, sempre fez lição de telefonia para o Brasil todo.

P/1 - Exatamente, isso a gente já tem certeza, porque na verdade, se não podia ser o maior, tinha que ser o melhor, né?

R - E, graças a Deus, com o doutor Luiz a gente quase chegou a ser o maior, né? (RISO) E eu só queria registrar, assim, a alegria que tenho de ter convivido com as três gerações em tempo de trabalho. Quando eu falo que Seu Alexandrino simbolizava trabalho, e é uma capacidade que ele tem de passar isso para filhos e netos. Porque eu trabalhei com Seu Alexandrino, com o doutor Luiz e depois com o Luiz Alexandre. Conheço o Luiz Alexandre bem pouco, mas tive essa oportunidade. Então, acho que isso é o que seja, assim, essa razão forte da grandiosidade da CTBC. De pai para filho com a mesma fibra.

P/1 - Quando a senhora parou de circular tanto, quando a senhora sossegou um pouco desses tantos anos de viagem de lá para cá, de tantas responsabilidades em todos os lugares? A senhora deve ser uma pessoa muito bem conhecida na área de atuação da CTBC?

R - Ah, sim. Eles costumam dizer que em mim tinha uma etiqueta de patrimônio, assim como tinha nos equipamentos, porque eu tive a oportunidade de não só visitar, mas trabalhar mesmo em todas as cidade que compunham a rede da CTBC, no Estado de Minas, parte do Estado de São Paulo, de Goiás e de Mato Grosso do Sul. Me lembro também quando a CTBC comprou o aglomerado da Pousada do Rio Quente e que eu tive a oportunidade de ficar lá um mês, mais ou menos, fazendo todo o levantamento que tinha na época de sistema telefônico interno dos hotéis para depois vir as grandes ampliações. Eu fiz isso até... Eu acho que eu vim para Uberaba, eu me aposentei no final de 1996, início de 1997, eu fiquei sete anos aqui. Então, até 1984, né? Em 1984, porque eu tive minha mãe doente durante vinte anos, acamada, com dependência total. Quando foi em 1984, que também a CTBC já estava implantando novas tecnologias e que também as empresas já estavam com sistema de uma forma bem estruturada, já tinha pessoas capacitadas dentro das cidades próprias, que não estava precisando daquele deslocamento da gente, e que Uberaba estava ampliando, deixando de ter apenas a central, na época, 332, e ganhando novo prédio aqui da 336, que foi uma das primeiras, vamos dizer assim, divisões de administrações in loco, e que doutor Weber estava com muito acúmulo de trabalho e como eu tinha experiência na administração das outras regionais e minha mãe já em uma condição física, que já não tinha mais como ficar sem a minha presença no dia a dia, eu consegui vir e ficar só em Uberaba. Aí eu fiquei aqui sete anos trabalhando sem tantas viagens, e foi quando chegou o dia também de aposentar.

P/1 - Certo. Essa decisão de aposentar foi tomada, assim, por tempo de serviço, por vontade? Por que a senhora decidiu?

R - Casou as duas coisas, porque eu tinha o tempo de trinta anos, dois meses e dezoito dias em trabalho de telefonia, considerando a de Lagoa da Prata que ainda não era CTBC, e o pós-CTBC. Deu trinta anos, dois meses e dezoito dias. E também porque eu confesso que a CTBC já estava, assim, partindo por uma tecnologia que, não é que não me encantava mais, mas tão técnica, e como eu sou da área humana, eu sou uma pessoa ligada à humanidade, achei que estava na hora de parar com telefonia e ver o outro lado da vida. Se você for ver, eu passei a minha vida tratando de telefônica, né? Aí eu pensei que já estava na hora. Eu já tinha perdido minha mãe, já tinha perdido também alguns casamentos. (RISO) É interessante lembrar que surgiram, mas com telefônica e mãe doente, não teve candidato que suportou esperar que acontecesse. Aí eu pensei: “Bom, está na hora também de eu viver a vida de outra forma”. Aí eu já tinha tempo e nunca deixei de amar a Telefônica, sempre amei muito a CTBC, tenho um carinho enorme por todos, mas, naquele momento, o gerente que nós tínhamos em Uberaba não me dava muito prazer em trabalhar com ele. Foi também uma das razões que eu preferi me aposentar e buscar outros horizontes.

P/1 - Que horizontes foram esses? A senhora saindo daqui depois de uma vida inteira ligada à telefonia, que atividades a senhora elegeu?

R - Bom, aí eu pensei: “Como será ficar sem trabalhar?”. Na época eu imaginei, assim: “Vou parar mesmo!”. Mas eu confesso para você que depois que eu parei de trabalhar na CTBC é que eu realmente comecei a trabalhar. Acho que eu comecei a trabalhar muito mais, porque naquela época eu trabalhava só na CTBC. Hoje eu trabalho em muitas áreas. E veio, assim, encaixar com esse programa de trabalho voluntário, que estava surgindo aqui no Brasil, principalmente na nossa região, especificamente Uberaba, que já é uma cidade voltada para o voluntariado há alguns anos, né. Aí eu fui trabalhar na área social. Eu já me envolvi e fui convidada a estar ligada ao Rotary Clube, e através dele, eu me lembro, porque é um clube de serviço internacional que a gente ingressa por convite, e quando fui convidada disse que aceitaria desde de que nunca tivesse que estar liderando, porque agora eu queria um trabalho sem compromisso de equipe, que seria uma coisa mais na situação de coadjuvante, vamos dizer assim. E por incrível que pareça, um ano depois que eu estava lá, eu já assumi a presidência do meu clube, com quarenta casais, ligado à área social como um todo, e tive a oportunidade e apoio do Grupo Algar, na família da Sabe, porque enquanto CTBC eu trabalhei muito com a Sabe, também, porque se misturava a lista telefônica feita pela Sabe. Tinha muita amizade na Sabe, e na minha gestão como presidente da Casa da Amizade, que é a ala feminina do Rotary Clube, e por acaso eu acho que as coisas vêm exatamente... Acredito que Deus tenha essa capacidade de botar os problemas na mão de quem se sente incomodado e tenta resolver, né? Na minha gestão eu fui logo procurada por uma direção de uma creche da periferia aqui de Uberaba, que a prefeitura tinha condenado e ia fechar uma creche com cinquenta e quatro crianças, e que essa creche tem crianças de zero a seis anos, e que não só para as mães trabalhar, mas principalmente para alimentar as crianças, porque a maioria não tinha alimento em casa. Aí, a minha Casa da Amizade, que é um clube antigo aqui em Uberaba, sempre assistiu essa creches com algumas atividades. Então, fomos procurados, porque estaria fechando devido a creche estar com a estrutura física muito abalada etc. E eu fiquei pensando: Como, agora sendo a presidente, resolver esse problema?”. Sabendo da necessidade de manter as crianças, além da aprendizagem, mas principalmente da alimentação. Aí logo a gente tinha um prospecto de um livro de receitas de culinária e eu pensei: “Eu preciso vender alguma coisa para ter dinheiro”. Assim como eu era boa para receber, eu era boa para vender, porque a gente não entrou no detalhe da área comercial, mas acredito que, doutor Luiz me desculpe, mas eu acho que vendi muito mais telefone do que ele na CTBC. Acho que cinquenta por cento dos telefones da CTBC eu os vendi. Aí eu pensei: “Se eu tiver alguma coisa para vender, eu vou sair bem para ajudar essa creche”. E com esse esqueleto desse livro de receitas eu fui à Sabe, na pessoa da Sônia, diretora comercial e ela me fez mil livros de receitas, muito bonitos, com um trabalho lindo que só a Sabe sabe fazer. Eu vendi esses mil livros e consegui apurar quinze mil reais e com esses quinze mil reais eu fiz duas salas de aula, e dessas duas salas de aula depois eu me emparcerei com outras pessoas. Hoje nós temos uma creche, eu acho que com seis salas de aula, um restaurantezinho onde nós temos cento e cinco crianças, todas muito bem alimentadas. Aí eu comecei a lançar um sistema de arrumar madrinhas. Madrinha do leite, madrinha do pão, madrinha do óleo. E aí no Rotary, especificamente o meu, porque Uberaba tem mais outros clubes, a gente tem a campanha do óleo, a gente arrecada três mil e quinhentos litros de óleo e noventa por cento é doado à mercê. Olha para você ver, que eu estou ora na Sabe, ora na Inclo. É uma vida ali dentro, então a facilidade da ajuda ali dentro também é grande. Com esse trabalho a gente está hoje assistindo, além dessa creche, alguns asilos também, né, e agora estamos em uma nova empreitada, porque eu gosto das coisas quando está difícil, sabe? Como a nossa creche está pronta, já tem as professoras, já tem os alimentos, já tem as mobílias, porque a gente mobiliou também. É linda a nossa creche. Aí de repente, nesse mesmo trabalho meu, tenho contato com uma família da raça negra, assim, pai, mãe e sete filhos, todos doentes, portadores da anemia falciforme, que é uma doença afro-ascendente, né, e como aqui no Brasil a gente mistura as raças, o número de portadores é grande. Especificamente em Uberaba a gente deve ter, hoje, quase duzentas pessoas com essa doença. E é um sofrimento muito grande, porque a doença impede as pessoas de estar trabalhando, principalmente tendo um emprego, porque são pessoas que fisicamente tem dificuldades de estar na atividade profissional, porque o falciforme é deficiência sanguínea. As células não produzem a totalidade do sangue que o organismo exige, então, está sempre fazendo transfusão de sangue etc. Esse contato com essa família, para você ter uma ideia, nem caminha para essas criancinhas doentes dormir não tinha, nem banheiro para dar banho nas crianças, também não tinha, faziam isso em um terreiro de uns posseiros que moravam junto. A gente conseguiu fazer lá um barracão, fazer um banheiro, dar caminha para essas crianças, e agora a gente conseguiu, inclusive, eu aglomerei com um grupo de pessoas voluntárias, sociedade, altas pessoas da sociedade que se sensibilizaram com esses portadores, e na semana passada nós já conseguimos dar posse à primeira diretoria, nós criamos a Associação dos Falcêmicos da região de Uberaba. Olha como a gente é utópico, não foi só de Uberaba não, foi regional. (RISO) Então, aí é o começo e tem muito...

P/1 - Tem muito chão.

R - Como diz: “Ainda vai passar muita água debaixo dessa ponte”.

P/1 - Se Deus quiser.

R - Espero que a gente ainda tenha sucesso também nesse novo trabalho, como a gente teve nas outras.

P/1 - Quer dizer, com toda essa vontade, aquilo que estava condenado, dobrou de tamanho? Pode ter certeza que o sucesso virá.

R - Nessa oportunidade a gente pode até agradecer, né, o pessoal da Sabe, que é do Grupo Algar, que é também da família do Seu Alexandrino Garcia, o quanto foi maravilhoso os mil livros. Transformou uma creche destruída, hoje em um mini grupo. Quando se tem carinho e quando vem do Seu Alexandrino... Os frutos do Seu Alexandrino são muito abençoados, são, assim, realmente, o pão para as pessoas que se aglomeram, né?

P/1 - Exatamente. Dona Déia, com toda essa vivência, com toda essa experiência no Grupo, com toda essa participação na construção de tudo isso, como que a senhora vê o futuro da CTBC, do Grupo Algar? Como é que a senhora enxerga o que está pela frente? Sem nenhuma futurologia, mas como a senhora vê o horizonte futuro da CTBC e do Grupo?

R - Bom. Eu sou uma pessoa que acredita muito nesse país, apesar do momento estar meio conturbado, essas políticas estão indecisas, a área econômica enfrentando tantas dificuldades, mas eu acho que o Grupo, exatamente por estar nessa situação de tanta dificuldade, e por conhecer o Grupo como eu conheço, eu tenho certeza que o futuro do Grupo é fantástico, porque se não houver barreiras, vamos dizer assim, de legislações e de politicagem, porque a gente sabe que tem política e politicagem, né, se não houver barreiras, a gente sabe que o Grupo Algar vai expandir cada vez mais e vai transformar esse país. Eu acho que realmente é uma capacidade faraônica em termos de comunicação. Porque hoje não se fala de telecomunicação, se fala de comunicação, né. Hoje se fala, aí, de informática, de celular e de toda essa tecnologia de ponta, de comunicação. O Grupo sempre foi pioneiro e haverá de ser sempre grande líder dessa área. Confio plenamente, tenho certeza absoluta que ele estará galgando caminhos e espaço muito maiores do que o que já fez. Porque se você for retroceder um pouco, do início da minha fala até agora e ver o quanto ele cresceu, e que naquela época, sem tanta tecnologia, imagina agora para a frente, que aí a tecnologia está toda à disposição de quem investe nela. E a CTBC investe, não só economicamente falando, mas humanamente falando, porque, para que tenha a técnica é necessário ter o homem. Assim, é necessário investir no homem muitíssimo bem.

P/1 - Dona Déia, se a senhora tivesse que encontrar um associado hoje, que estivesse chegando à CTBC e vai começar a trabalhar amanhã, o que a senhora diria para ele?

R - Eu diria para ele que ele está entrando na melhor empresa do mundo, e que depende dele estar entrando e sair só para gozar as coisas boas da vida, como foi o meu caso. Porque eu acredito que até hoje na CTBC, se a pessoa quiser, ela pode entrar e sair só para o descanso, porque a CTBC ainda oferece esse espaço. Isso porque, por mais que a pessoa se especialize, ela vai estar sempre tendo um emprego dentro da especialidade. Por mais especializado que seja a pessoa, ela vai ter espaço dentro da CTBC, porque, como nós já falamos antes, ela usa toda essa tecnologia de ponta e não precisa ir para outra empresa, aqui mesmo terá sempre o que fazer, o como fazer e o porquê fazer.

P/1 - Está certo. Beleza, Dona Déia. A senhora gostaria de ter dito alguma coisa que a gente não estimulou à senhora dizer?

R - Eu gostaria só de estar tendo essa oportunidade, de estar dizendo para o Grupo Algar, que a saudade é muito grande, mas a alegria de ter tido uma vida toda junto com o Grupo é presente no meu dia a dia. E que por mais que eu cresça e por mais que eu ande, e que por sinal eu estou agora com um programa de ir à Europa e tenho um convite de ir à Suíça, e eu tenho certeza, que por mais que eu ande, eu vou estar sempre pensando que tudo o que eu sou e tudo o que eu aprendi e tudo o que eu conquistei foi através do Grupo. É apenas como um estímulo aos que estão chegando e um agradecimento aos nossos queridos doutores, Luiz Garcia, até porque não dizer o nosso pequeno Luiz Alexandre, que para vocês hoje, talvez seja o empresário, mas para mim é o pequeno Luiz Alexandre.

P/1 - Dona Déia, como é que a senhora se sentiu, o que a senhora achou de ter dado esse depoimento para nós?

R - Eu achei fantástico. Aliás, tudo o que faço, eu faço porque gosto, e como eu, assim, sei gostar muito do que fiz, fica também um paradoxo: “Sei gostar muito do que fiz!”. É meio filosófico até, né? Eu toda a vez que tenho a oportunidade de estar falando do que fiz me sinto muito feliz, muito gratificada. E além do mais, me senti muito à vontade com vocês, parabenizo pela postura profissional que todos têm. Me senti à vontade, e foi mais um aprendizado. Acho que a gente nunca pode deixar de aprender. Hoje foi mais um aprendizado. Muito obrigada. Foi rico mesmo, esse momento. Aliás eu sou privilegiada, meus momentos são sempre muito ricos e me cerco de pessoas boas, incluindo vocês. As mocinhas. Me esqueci o nome da historiadora?

P/2 - Norma.

R - Norma. Mexi tanto com Norma na CTBC, e agora no encerramento ainda encontro uma Norma. Parabéns Norma, ainda tão jovem, né? (RISO)

P/1 - Perfeito, Dona Déia. A gente fica muitíssimo satisfeito de ter a senhora aqui. Esse aprendizado é mútuo, porque tudo o que a gente vai conhecendo de CTBC, a gente conhece de pessoas e testemunhos como a senhora. E foi, independentemente disso, pessoalmente um prazer ouvi-la.

R - Ah, obrigada.

P/1 - Muito obrigado Dona Déia, muito obrigado mesmo.

P/1 - Que lindo Dona Déia. Pôxa vida, que barato. Muito bom...