Projeto CTBC – TELECON
Museu do Futuro
Depoimento de Maria Rita Vanzolini
Entrevistada por Luiz Egypto de Cerqueira e Norma Lúcia da Silva
Local: Franca
Dia 28 de junho de 2001
Código da entrevista: CTBC_HV067
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Jurema de Carvalho
Revisado por Carolina C...Continuar leitura
Projeto CTBC – TELECON
Museu do Futuro
Depoimento de Maria Rita Vanzolini
Entrevistada por Luiz Egypto de Cerqueira e Norma Lúcia da Silva
Local: Franca
Dia 28 de junho de 2001
Código da entrevista: CTBC_HV067
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Jurema de Carvalho
Revisado por Carolina Cervera Faria
P/1 – Bom dia, Dona Maria Rita, podemos começar?
R – Podemos.
P/1 – Para começar queria que a senhora nos falasse seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Meu nome é Maria Rita Vanzolini, eu sou de Orlândia, São Paulo, eu nasci no dia primeiro de setembro de 1943. Eu posso adiantar para vocês que eu estou com cinquenta e sete anos e uma cabeça de trinta, graças a Deus, eu acho que é por isso que eu estou na empresa. Quando eu falo que faz tanto tempo assim que eu estou na empresa eu já começo a falar “não faz tanta conta assim”.
P/1 – Dona Maria Rita, o nome de seu pai e da sua mãe, por favor.
R – O nome do meu pai era, porque infelizmente eu não tenho mais meu pai, era Augusto Vanzolini. Ele morreu com setenta e sete anos, foi em 87, já faz um tempo. Foi um pai maravilhoso.
P/1 – E sua mãe?
R – Mamãe é Amélia Cretta Vanzolini. Eu tenho ela comigo até hoje, graças a Deus. Está com oitenta e dois anos, tem uma saúde fantástica, faz de tudo.
P/1 – A senhora conheceu seus avós?
R – Não, infelizmente eu não conheci nem os avós paternos nem os avós maternos. Quando os meus pais se casaram os meus avós paternos já eram falecidos e os maternos eu só tive o avô, porque a mãe de minha mãe morreu aos trinta e cinco anos. Mas eu tinha dois anos quando ele faleceu, a gente não lembra dele de maneira nenhuma, mas a gente sabe que ele foi uma pessoa fantástica, maravilhosa.
P/1 – Você sabe o nome deles?
R – O nome do meu avô materno era Benevenuto Cretta e da minha avó era Maria Cretta, e dos paternos era Guilherme Facondini Vanzolini e da minha avó era também Maria, se usava muito Maria.
P/1 – São evidentemente imigrantes?
R – Ah sim, eles vieram da Itália, de Gênova, na Itália. Vieram pequenos ainda, conta minha mãe. Infelizmente eu não conheci, eu tenho um trauma de não ter conhecido meus avós.
P/1 – A senhora sabe para onde eles se dirigiram aqui no Brasil, onde eles se instalaram?
R – Olha, eles se instalaram a princípio, em Ribeirão Preto, depois vieram para Orlândia, onde eu nasci e fui criada e onde eu estou até hoje.
P/1 – Voltando aos seus pais, Dona Maria Rita, qual era a atividade do seu pai?
R – Ele trabalhava numa metalúrgica, ele era metalúrgico, era uma fábrica de torradores, existe até hoje.
P/1 –Fábrica de quê?
R – De torradores de café, que hoje não tem mais. Essa fábrica ela funciona até hoje, com tanta evolução que você compra o café praticamente pronto, ainda tem isso, inclusive é pertinho da CTBC.
P/1 – E a sua mãe, a atividade dela?
R – A minha mãe ela sempre foi doméstica, do lar. Ela nunca trabalhou, sempre trabalhou em casa, cuidando dos filhos. Antes de se casar ela trabalhava como doméstica, sempre foi do lar.
P/1 – A senhora tem irmãos?
R – Tenho. Eu tenho três irmãs, comigo quatro, tive um irmão que faleceu tem uns oito anos, mas agora somos nós quatro.
P/1 – E lá em Orlândia, na cidade que a senhora nasceu, a senhora se lembra da sua casa, onde vocês moravam lá?
R – Eu sempre morei na cidade. Quando eu nasci nós morávamos numa casa de herdeiros, que era desses meus avós que faleceram. Daí tiveram que vender, dar uma parte, daí a parte era muito pequena, não deu pra comprar outra casa. Então fizemos assim uma vidinha pacata, trabalhando, muito humilde, como a maioria das pessoas, uma vida muito humilde. Mas graças a Deus nunca passei dificuldade em nada, sempre tive o que comer, sempre tive o que vestir e o que calçar. Isso é muito importante, meus pais tinham muita preocupação com a saúde da gente, com o bem estar. Uma vidinha simples mas muito boa.
P/1 – A senhora saberia descrever como era essa casa? Fisicamente.
R – Era simples, como continua sendo a casa da gente hoje, simples; mas graças a Deus é da gente agora. Uma casa simples, comum, como diria, uma casa simplesmente de telha e parede, não tinha laje, não tinha forro, não tinha nada, mas que dava para a gente viver muito bem nela, graças a Deus.
P/1 – Tinha quintal…?
R – Ah, tinha um quintal muito grande, agora, a de hoje, não sei se você vai me perguntar, a casa de hoje que eu moro... Eu tenho uma data na minha vida que é bastante representativa, que é o primeiro de abril. O primeiro de abril, não lembro do ano agora, o meu pai ganhou na loteria cinquenta mil cruzeiros, não lembro na época. Meu pai era uma pessoa muito humilde, e com esse dinheiro a gente construiu a casa que a gente tem hoje. Claro que não com a comodidade que a gente tem hoje, porque a gente já fez várias reformas. Graças a esse dinheiro que a gente tem uma casinha mais ou menos hoje. E no dia primeiro de abril também foi a data que eu ingressei na CTBC, que até então não era CTBC, era outra empresa. Isso marcou pra mim. Nossa, foi muito importante isso, beleza.
P/1 – Eu queria que a senhora me dissesse antes, Dona Maria Rita, como era essa cidade de Orlândia nessa sua infância? Como era a cidade, a sua rua?
R – A rua que eu morava não tinha calçamento, não tinha luz, embora dentro de casa tinha. Não tinha estrutura nenhuma, agora hoje não, hoje já tem. Eu morava num lugar afastado, perto de um campo de futebol, até que tinha um movimento bom nos finais de semana. Era uma cidade muito simples, tinha apenas um teatro. Tinha um teatro, naquela época tinha um teatro, que é conservado até hoje, hoje funciona a prefeitura lá. Mas era muito bonito, nesse teatro, além de... eu nunca ia, porque nós não tínhamos condições de ir, mas passava filmes também. Então quando a gente ia pra escola, passava alguns filmes que as professoras nos levavam, porque pai nunca levava a gente em cinema não, naquele tempo não tinha essas coisas. Quer dizer, naquele tempo, parece que foi ontem - a gente usa esses termo “naquele tempo”, mas parece que foi ontem - foi muito bom tudo isso, foi uma experiência boa, mas muito simples.
P/1 – O cotidiano da sua casa com seus irmãos, tinham obrigações, afazeres pra dividir com sua mãe? Tinha uma rotina?
R – Tinha aquele negócio: hoje é a Silvia que vai moer o café, porque naquele tempo você moia o café, não tinha esse negócio, tinha que torrar o café. Então hoje é a Silvia que vai fazer isso, hoje é a Silvia que vai lavar os pratos do almoço, a Regina vai lavar os pratos do jantar. Tinha essas coisas, a gente fazia isso. Tinha suas obrigações sim. O meu pai tinha um carrinho e um burro, então ele falava assim “Hoje quem vai comigo buscar capim pro...” não me lembro o nome. A gente ficava doida pra ir em cima do carrinho do burro. Foi assim, uma infância boa a minha.
P/1 – A família se reunia para as refeições?
R – Ah, sim. Isso na minha casa sempre foi primordial. Nunca a gente almoçou ou jantou separado, sempre todos à mesa. Os meus pais sempre achavam isso primordial, então sempre tinha o lugar. Tinha aquelas mesas compridas, papai de cá, mamãe de cá e os filhos de lado. Às vezes a gente discutia à mesa, eu com os meus irmãos, hora do jantar é hora de sair tudo, as vezes acontecia alguma coisa na escola, algum comentava, aí tinha aquela richa. O meu irmão era o mais levado, ele sempre piscava como se dissesse “Bem feito que você levou um pito”. Então tinha essas coisas, mas horário de refeição, tinha que estar todo mundo junto, sempre sentados à mesa, embora com muita humildade, mas todos sentados à mesa, café da manhã, almoço e jantar.
P/1 – O seu pai trabalhava perto de casa, é isso que eu entendi?
R – Era perto, a cidade era pequena, tinha três ou quatro quadras, não mais que isso.
P/1 – E a escola, Dona Maria Rita, a primeira escola que a senhora teve?
R – Era o Grupo Escolar Coronel Orlando, era o único que tinha na cidade. Eu fiz da primeira à quarta série, então na quarta série você recebia o diploma. Teve festa, eu não tenho foto porque não se usava tirar fotos. As fotos eram assim: você ia lá no fotógrafo e tirava lá, não tinha isso. Foi uma festa muito bonita, eu me lembro do vestido que minha mãe comprou, embora a gente fosse muito humilde, minha mãe comprou um vestido muito bonito, do jeito que eu queria. Foi igual a todas as outras que estavam lá, foi muito legal. Aí saí daí e parei de estudar.
P/1 – A senhora tinha alguma professora que tivesse lhe marcado, impressionado?
R – Eu tive quatro professoras. Na primeira série era a Dona Ida de Olivito, no segundo foi a Dona Olga, estão vivas ainda as duas, no terceiro foi Dona Edina Parreira, também está viva, e no quarto foi Dona Maria Inês, também viva.
P/1 – Severas, bondosas?
R – Eu, modéstia à parte, sempre fui muito boa aluna, então nunca tive problema com professora não. Era muito elogiada, ganhava prêmio, essas coisas. Nunca tive problema não, graças a Deus, adorava a escola.
P/1 – E sua rotina diária era ajudar em casa, ir para a escola…?
R – Ah, sim. Porque mamãe costurava muito pra fora. Então levantava, ajudava a limpar a casa, arrumar a casa, aí ia para a escola às onze horas. Já chegava da escola, a primeira coisa era fazer o “dever de casa”. A minha mãe ficava muito em cima para a gente aprender, estudar. Aí depois era brincar, ajuntava com a meninada e ia brincar.
P/1 – E qual a brincadeira dessas crianças?
R – Brincar de casinha, de acender fogueirinha, aquelas coisas todas, fazer comidinha. A gente, como eu te falei, era humilde. Eu tinha uma vontade de ter uma boneca, aquelas bonecas de abrir e fechar o olho, aquela bonequinha de louça. Mas quando não, você pegava espiga de milho, enrolava e brincava, era saudável. Até tem uma história, de uma vez, nós estávamos brincando – eu já contei essa estória na CTBC – estávamos brincando de casinha, eu peguei uma lata de leite ninho e estávamos cozinhando a mandioca, imagina, pressionamos a tampa. Aí minha irmã abriu, quando ela abriu veio aquele vapor. Quando ela passou a mão assim a pele caiu toda. Mamãe me deu uma surra, ela teve que ficar quinze dias com minha irmã, porque ela não podia... ela tinha que ficar segurando minha irmã, se não ela podia arrancar aquela pele, ia ficar com o rosto deformado. Coitada da minha mãe, ficou quinze noites sem dormir para cuidar de minha irmã e eu apanhei até. Mas graças a Deus não teve problema.
P/1 – E a partir dessa primeira escola, o Grupo Escolar, como foi a continuidade de seus estudos?
R – Parei totalmente, aí eu fui trabalhar, precisava trabalhar para ajudar em casa. Aí eu fui trabalhar numa fábrica de macarrão, eu tinha doze anos e eu trabalhei na fábrica de macarrão.
P/1 – A senhora se lembra do nome?
R – Era Produtos Alimentícios Bordinon, parece. Trabalhei lá três anos.
P/1 – O que a senhora fazia aos doze anos lá?
R – Estendia macarrão, você cortava assim, tipo um chuveiro. Era espaguete. Você cortava e punha numas esteirinhas para secar, para depois empacotar. Meu trabalho era cortar o macarrão e distribuir para secar, para que depois outras pessoas pudessem fazer a segunda parte, que era empacotar. Trabalhei lá três anos.
P/1 – E quanto tempo era sua jornada de trabalho?
R – Entrava às sete e saía às dez, depois entrava ao meio dia e saía às quatro e pouco. Sei que dava oito horas.
P/1 – Esse foi seu primeiro emprego?
R – Foi o meu primeiro emprego. Trabalhei lá três anos, não deu três anos, dois anos e pouquinho. Depois fui para Ribeirão Preto com uma tia minha.
P/1 – Por quê?
R – Fui morar com ela, ela tinha uns problemas, ela falou “Ritinha, venha morar comigo, conhecer Ribeirão Preto”. Aí, nossa, foi uma parte muito boa da minha vida. Eu morei lá com ela, era uma cidade grande, a gente tinha... ela gostava muito de sair, de passear. Foi onde eu descobri a adolescência, comecei a ir em bailes, passear, trabalhei lá também. Trabalhei num supermercado na época. Foi o primeiro supermercado que eu vi na minha vida, chamava-se Serve Leve. Trabalhei uns seis meses lá, depois fiquei de companhia à minha tia o resto do ano, foi onde eu voltei pra Orlândia e entrei na Telefônica.
P/1 – A senhora disse que sua tia pediu que a senhora fizesse companhia a ela, como sua mãe entendeu essa mudança?
R – Mamãe entendeu. Minhas tias eram muito... a gente se dava muito bem, se curtia muito. Essa minha tia ficava sozinha em Ribeirão, eu fui morar com ela. Ela falava “Em Ribeirão você tem mais campo, você vai ganhar mais, você pode ajudar mais sua família e tudo mais”. E realmente, eu saí de Orlândia ganhando um x, que eu não me lembro mais quanto, e fui pra lá ganhar o dobro. Mas era muito puxado o serviço lá, entrava às sete horas da manhã, onze horas você estava lá.
P/1 – O que a senhora fazia no supermercado?
R – Eu trabalhava no atendimento, onde você guardava sacola. No supermercado não podia entrar com bolsa, com sacola. Eu trabalhava ali. Gostava, era no centro da cidade, em frente ao Cine Centenário, não sei se vocês conhecem lá, tinha muito movimento. Um pedaço da minha vida muito bom foi ali, eu saia muito. Essa minha tia era jovem, na época ela tinha trinta e cinco anos, então aonde ela ia ela me carregava. Dançava, adorava dançar, naqueles bailes. Ah, que bom. Aí eu vinha pra Orlândia, tinha uma amiga – falo tinha porque perdi ela há pouco tempo – ela que me arrumou lugar na Telefônica. Se falava Telefônica, hoje já não pode mais usar, porque está falando da concorrente, mas a gente sempre falava “Ah, eu trabalho na Telefônica”.
P/1 – Como chamava a Companhia em Orlândia?
R – Companhia Telefônica Alta Mogiana. Isso foi no dia 1º de abril de 1965. Nossa gente, parece que faz tanto tempo.
P/1 – Depois de uma experiência numa fábrica de macarrão e num supermercado, o que a levou a trabalhar na Telefônica?
R – Ah, eu adorava. Trabalhava-se oito horas, eu estava em casa. Eu sempre gostava de telefone. Eu via aquelas moças trabalhar no Centro Telefônico, você tinha verdadeira paixão, eu tinha uma vontade... Essa amiga minha trabalhava lá. Eu falava “Você me arruma um lugar lá, assim que tiver você me arruma”. Aí ela me arrumou e eu fui trabalhar de telefonista.
P/1 – De telefonista já?
R – Já entrei de telefonista. Mas eram telefones manuais, eu tive que decorar quatrocentos números, quatrocentos e trinta, quatrocentos e quarenta números, porque não existia lista telefônica. Um assinante, para falar com outro, ele pedia para a telefonista, então eu trabalhava numa posição onde tinha todas as... não eram luzinhas, eram umas chapinhas com os números. O cliente entrava lá e rodava aquelas chapinhas e você entrava e atendia, falava “Orlândia”. Aí, do outro lado da linha falava “Me liga no Banco do Brasil”, “Me liga na farmácia”, eles não davam o número. Você tinha que saber tudo isso aí, você ligava. Essa parte da minha história é muito boa, muito bonita.
P/1 – Conta um pouco mais de como era esse local, como era a operação, o seu cotidiano de trabalho na Companhia Telefônica da Alta Mogiana.
R – Nós trabalhávamos em seis. Tinham duas posições que só atendiam os assinantes locais, aqueles que só queriam falar na farmácia, na padaria, num banco que seja. E tinham as posições interurbanas, que era onde você fazia as chamadas interurbanas. Tinha uma posição que se chamava CTB, que era Companhia Telefônica Brasileira, que depois ela foi desmembrada e passou a ser Telesp, Telemig, etc. Então eu trabalhava muito no local, até aprender o serviço, depois trabalhava nas outras posições que seriam... nessa CTB é onde você falava fora da nossa área ali por perto, seria São Joaquim da Barra, Batatais, Salles Oliveira. Era onde Orlândia saia para o mundo e onde Orlândia recebia o mundo, países e todo o mundo. Tinha ligações internacionais naquela época também, era muito raro mais tinha. E nós tínhamos três posições nessa CTB, Companhia Telefônica Brasileira. Uma posição... porque aquilo ali era focado em Orlândia. Uma linha Orlândia recebia chamada e distribuía e ali ela fazia chamada para Orlândia, São Joaquim da Barra, Ituverava e toda a região. Numa segunda linha Orlândia falava fora, São Paulo, Araraquara, Campinas, aquela coisa toda. E numa terceira linha eram chamadas intercaladas, horas pares, São Joaquim da Barra falava, horas ímpares era Ituverava. Então era uma guerra quem sentava naquela posição. Uma cidade invadia o horário da outra, você não podia cortar a chamada pela metade. Era uma coisa bárbara. Em Orlândia a gente tinha muita indústria e elas tinham horários marcados. Nove horas começavam os apresamentos, a gente falava os APT. Às nove horas falava Somalgo [Sociedade Mogiana de Algodão], que era uma companhia algodoeira; às dez horas falava os Produtos Alimentícios, que era beneficiadora de arroz, empacotadora, hoje é fábrica de óleo também; às onze horas falava a Metalúrgica Orlândia; e ao meio dia falava a Comove, Companhia Mogiana de Óleos Vegetais. Então eles falavam em São Paulo, eles tinham uma Central Telefônica em São Paulo que dali distribuía pra onde eles queriam falar. Eles falavam isso de manhã e à tarde de novo, então praticamente eles tomavam o tempo. Então quando o cliente comum pedia uma ligação para São Paulo, demorava três, quatro dias. Verdade, vejam só. Então, quando tinha um aviso de morte ou qualquer coisa, então já entrava “urgente morte”, já se usava esse termo “urgente morte”, então passava na frente de todo mundo. Nossa, era uma loucura, e hoje você sai com o telefone na mão, dentro do bolso. Olha só, maravilha não é? Mas foi assim, muito gratificante.
P/1 – Como era o procedimento de completar uma ligação?
R – Ele ligava, você atendia, ele falava que era interurbano. Aí tinha um “pega” na mesa, que você ligava e passava pras pessoas das pontas, que eram as pessoas que faziam os interurbanos. Aí dependia dos lugares que eles queriam falar, de repente, Morro Agudo, então as atendentes preenchiam um bilhete azul, aí pegavam o pino, botava num tipo de uma tomadinha, onde era a cidade, aí tocava a (____?), aí atendia Morro Agudo, você falava “Liga número tal para Orlândia”. Sempre assim, quatro, cinco para Orlândia, ela ligava. Aí você pegava a outra “pega”, ligava e fazia as ligações. “Seu José, pronta a sua ligação para Morro Agudo”, e aí você tinha um reloginho que você marcava o tempo que ele falava. E assim era pra São Paulo, pra Campinas, e você ia fazendo. Você ia de Orlândia até Ribeirão Preto e ia fazendo a linha: Ribeirão te passava para Araraquara e assim ia. “Ribeirão Preto, Araraquara pra Orlândia”, aí ela falava “PA” – Pronto Atendimento, de repente ela falava assim “NPA”, Não pronto para atender, “LO”, linha ocupada, esse tipo de coisa a gente usava. Aí fazendo aquela sequência de chamada, Campinas até chegar em São Paulo. Às vezes Ribeirão tinha linha direta pra São Paulo ou não, de repente falava “São Paulo pra Orlândia”. Nem Ribeirão Preto discava direto pra São Paulo. Daí atendia a telefonista “São Paulo”, aí você dava o nome pra ela. Você dava 345623 pra Orlândia, ela ligava e você conectava.
P/1 – Depois de construir todo esse caminho?
R – Todo esse caminho.
P/1 – E isso demorava muito? Isso... quer dizer, para o cliente, e pra vocês que estavam operando, demorava?
R – Demorava às vezes, de repente eu precisava de uma cidade que ela não tinha linha disponível, circuito disponível, então tinha que esperar. Mas a gente de manhã, conforme os clientes iam pedindo, a gente passava bilhete, “Tem ligação para Araraquara”, tudo isso era registrado, entendeu? Aí ela dava a demora, quarenta minutos, uma hora, duas horas, então eu marcava e ia consultando os bilhetes: já está na hora de chamar Araraquara, e falava “Ribeirão Preto, TX de Araraquara”, aí passava o TX de Araraquara, ela entrava e consultava lá.
P/1 – O que é TX?
R – “TX” era a “Telefonista X pra chamar tal lugar.
P/1 – Ta certo.
R - Usava todas essas coisas. Ninguém falou isso ainda pra vocês? Foi um pedaço muito bom, a gente tem saudade. Tinha quatrocentos assinantes, hoje Orlândia tem doze mil. Como você ia atender doze mil manualmente? Nem tem como.
P/1 – Como a senhora se comportava na tentativa de completar uma ligação? A mesa começava a piscar muito, o assinante já impaciente, como era segurar essa...
R – Era uma loucura, era loucura. Muitas e muitas vezes a gente saía chorando da mesa, porque... principalmente quem estava atendendo os clientes locais. Eles tocavam muito, insistiam muito, você se via com aquele mundo de “pega” na sua frente. Eles começavam a desligar e você nem sabia. Quantas e quantas vezes, você puxava tudo porque você se perdia. Era muito, quatrocentos telefones trançados na tua frente, começava a desligar, não sabia qual estava tocando e uma encarregada atrás dando todo o apoio. Vamos começar de novo. O cliente “Ai, eu estava falando caiu a linha”, a gente pedia desculpa e ligava de novo. Quando não, “Ai, faz um tempão que eu quero desligar e não consigo”, era uma loucura. Hoje continua loucura mas em outros aspectos, em outras coisas. Mas foi um pedaço muito bom.
P/1 – E quando a senhora tinha que suportar um cliente mal educado, um sujeito que já começava xingando e falando grosso.
R – A gente passava para a encarregada atender. Eu sou chorona, eu sou chamada de chorona na empresa. Eu chorava muito, porque eu não merecia ouvir aquelas coisas que a gente ouvia. Aí a gente passava para a encarregada “Olha, esse cliente está me xingando por isso, isso, isso” aí passava, a encarregada que resolvia o problema com ele. Mas tinha, tinha cliente que ia na própria empresa, falava que a gente estava dormindo. Mas não era verdade a gente estava muito da acordada, não estava é dando conta do recado. Mas foi muito bom esse pedaço.
P/1 – Como era o conceito das telefonistas em Orlândia?
R – Muito bom, muito bom. A gente ganhava tanto presente, chegava no final do ano a gente ganhava dois salários de presente. As empresas que a gente fazia esses aprazamentos, mandavam dinheiro de presente, mandavam de caixinha, presentes pras telefonistas. Isso bem antigamente, quando era CTAM mesmo, depois acabou tudo isso. A gente ganhava muita coisa, o pessoal da roça, das fazendas, era queijo que trazia para a gente. A gente tinha as quermesses nas praças, onde as telefonistas estavam, eram as prendas, o pessoal arrematava aquilo e a gente ficava até com vergonha, tudo era pra gente. A gente tinha um conceito fantástico, nossa senhora!
Troca de fita
P/1 – E os proprietários da Companhia Telefônica da Alta Mogiana, quem eram?
R – Era o Senhor Mário Alberto Cinali Junqueira, era do pai, Senhor Augusto, mas não era da minha época não. Aí passou para o Senhor Mário Alberto Junqueira.
P/1 – E ele ia lá ver o trabalho de vocês?
R – Ia, nossa. Ele era muito severo, muito severo. Ele tinha um equipamento na sala dele que observava as telefonistas, sem que a gente percebesse, ele punha aquilo ali e ficava observando a gente trabalhar, falar com cliente e tudo. O que ele via de errado a gente ia lá em baixo falar com ele. Eu não cheguei a ir nenhuma vez, graças a Deus, mas colegas minhas foram. “Eu vi a senhora maltratar aquele cliente, falar aquilo para aquele cliente”. Às vezes o cliente maltratava e falava alguma coisa e a telefonista dava uma resposta mais grossa, mais seca, assim, sabe (risos). Tinha todas essas coisas.
P/1 – E os turnos de trabalho, Dona Maria Rita?
R – A gente trabalhava oito horas. Não ganhava hora-extra nem nada. Depois é que passou a trabalhar seis horas, depois de um bom tempo que eu já estava lá é que passou a trabalhar seis horas. Aí era das seis horas da manhã ao meio dia, do meio dia às seis horas e das seis horas à meia noite. E tinha da meia noite às seis horas da manhã também, que tinha uma pessoa só que fazia isso. Ela era substituída em uma folga semanal. Daí mudou, todo mundo teve que fazer rodízio, todo mundo participar. Eu me lembro que durante todo esse tempo eu fiz uma noite só, graças a Deus.
P/1 – Por quê?
R – É horrível trabalhar sozinha.
P/1 – Mas não era obrigado a fazer os rodízios?
R – Era obrigada a fazer os rodízios, mas quando saiu, tinha as meninas que faziam faculdade, que preferiam trabalhar nesse período, então tinha essa flexibilidade, e eu preferia trabalhar durante o dia.
P/1 – Quando a Companhia deixou de pertencer a esses proprietários e passou para a CTBC?
R – Em 1969 parece, ou 67. Em 67. Mas até então eu continuei a ser funcionária da Companhia Telefônica da Alta Mogiana, que era administrada pela CTBC por um bom tempo, não lembro o período não, mas deve ter ficado uns oito anos, por aí. Depois passou para a Empresa Telefônica de Uberaba, ETUSA, e em 89 é que passamos a ser Companhia de Telefones de Brasil Central, que hoje é Companhia de Telecomunicações do Brasil Central.
P/1 – O que mudou quando houve essa transição da gestão? Queria que a senhora contasse.
R – Mudou tudo, porque até então era um serviço bastante precário da outra empresa. Tanto é que ela teve que vender, porque ela não tinha como. Embora a gente trabalhasse e recebesse o nosso salário em dia, ela não tinha condições de automatizar aquilo. E tinha que automatizar. Aí passou para a CTBC, que era CTAM mas administrado pela CTBC, ela já chegou, foi fazendo prédio novo, foi automatizando, os telefones passaram a ser automáticos, aí acabou, não tinha mais aquele negócio de pininho ligando, aí já passou a ser automático. Todo mundo tendo seu telefone digitado e ligando da sua casa sem ter a interferência da telefonista. Mas ainda continuava a pedir chamadas interurbanas, mas aí já não eram as chapinhas, eram as luzinhas. Nossa, fantástico, prédio novo, tudo novo; outras pessoas, embora ainda tivessem gerentes meio com cabeças não como as de hoje, severas demais. Mas melhorou muito, nossa!
P/1 – Gerentes da própria companhia que foram absorvidos ou...
R – Já da nova, já da nova. Era o Sr. Wilson da Costa, ele era muito severo. Comigo não, graças a Deus eu nunca tive problema em nenhuma das empresas que eu estive. Eu sempre tive um bom conceito, sempre trabalhei bem. Acho que é por isso que estou até hoje nela. Teve vários problemas com outros funcionários.
P/1 – Como assim, dá um exemplo pra nós.
R – Funcionários que não faziam o serviço direito, chegavam atrasados. Ele vinha pra Uberlândia e não avisava que horas ele ia chegar em Orlândia, ele chegava de madrugada e batia na porta. Ali pegava telefonista dormindo, porque tinha os quartinhos para dormir. Tinha telefonista que pegava o colchão e punha na posição, essa telefonista que trabalhava à noite, ela não poderia estar dormindo. Pegava dormindo, essas coisas assim.
P/1 – Sr.Wilson...
R - Sr. Wilson Luis da Costa. Ele era bravo, nossa. Ele era assim, de repente, batia na porta e você não podia demorar para abrir não. Você tinha que provar para ele que estava ali.
P/1 – Quando automatizou esse serviço local, as telefonistas ficaram apenas nas posições interurbanas. Isso aumentou o número de assinantes, teve mais terminais?
R – Ah, sim, de quatrocentos a gente passou pra mil. Então as telefonistas todas que estavam, continuaram, nenhuma foi dispensada na época. Nós passamos pra mil clientes, imagina, de quatrocentos para mil, embora eles dependessem da gente pra fazer interurbano. Então todo interurbano, mesmo que fosse de uma cidade vizinha, tipo Salles de Oliveira, que de Orlândia a Salles são sete quilômetros, usava telefonista. Aí, aos poucos é que foi entrando o tal de DDD e aí o pessoal foi fazendo ligação. Mesmo assim foram cidades, automatizava uma cidade hoje, daqui um mês outra, não foi a nível nacional, isso foi acontecendo assim, paulatinamente.
P/1 – Nesse momento da mudança da gestão, vinha muita gente de Uberlândia visitar Orlândia?
R – Vinha, vinha. Seu Alexandrino por exemplo, o guerreiro da empresa.
P/1 – Fala dele um pouco.
R – Eu vou falar muito pouco, porque eu vi Seu Alexandrino poucas vezes. Três vezes eu vi o Seu Alexandrino em todo esse tempo. Mas ele ia em Orlândia, ele foi duas vezes lá em Orlândia enquanto estava construindo o prédio. A primeira vez foi até quando aconteceu um acidente com ele, nada grave. Eu não estava trabalhando, minhas amigas estavam trabalhando e ele chegou tipo seis horas da manhã, cinco horas da manhã e tinha acontecido o acidente, a gente chamou o médico, que até então esse médico era pai do antigo proprietário da Telefônica, mas não teve nada de grave com ele.
P/1 – Acidente de automóvel?
R – É, de carro, teve uma batida, mas foi uma coisa assim que só estragou um pouquinho o carro. Eu não vi ele aquele dia. E teve uma segunda vez, quando o prédio já estava quase pronto, ele fez desmanchar tudo. Não, porque não era aquilo que era pra ser feito. Estava tudo pronto, teve que desmanchar tudo. Ele não queria a sala das telefonistas daquele lado, ele queria do outro lado, então... ele era uma pessoa assim, ele foi um guerreiro na empresa, eu sempre comento isso, porque mesmo que a gente não tivesse contato com ele, a gente via o trabalho dele, divulgava muito, falava muito, a gente via muito filme da empresa e tudo mais. Tive uma terceira vez com ele em Uberlândia, quando a gente participou de uma viagem que foi um prêmio da empresa, na Pousada, que a gente teve com ele. A gente tinha um carinho muito grande por ele. Eu não me conformava o dia da morte dele, foi uma coisa fria, nossa, a empresa não podia fechar as portas. Tinha que ter uma homenagem, alguma coisa, eu queria estar lá, mas eu não pude. Uma coisa, essa empresa é fantástica.
P/1 – E o Dr. Luis, que foi a pessoa que mais estava na linha de frente da expansão?
R – O Dr. Luis não aparecia nem aparece muito, porque ele nem tem tempo pra isso. Então seriam mais as pessoas delegadas por ele. Nós como telefonistas não tínhamos muito contato com o pessoal. Nós tínhamos um gerente na Companhia que era os Sr. Silas Sampaio Parreira, então tudo era tratado com ele, nós telefonistas não participávamos de nada, só sabíamos que estava mudando, que vinha gerente ali, mas nem via, era mais com eles. Agora hoje não, hoje é tão diferente.
P/1 – Tinha alguma proibição expressa que as telefonistas não poderiam se casar?
R – Não poderia continuar na empresa depois de casada, era isso. Telefonista casava e não podia continuar na empresa. Elas eram demitidas, teriam que pedir demissão. Algumas não pediam “Vocês não querem que eu fique então me mandem embora”, tinha essas coisas, tinham vários casos.
P/2 – Vocês eram avisadas disso quando eram contratadas?
R – Sim, era avisada. Depois podia ficar, mas depois da primeira gravidez, depois da licença gestante já eram dispensadas também. Tinha todas essas coisas, hoje graças a Deus mudou, as pessoas são mais abertas.
P/1 – Qual era o motivo dessa proibição?
R – Sei lá, acho que é porque tem filho tem mais problema, sempre impede de a mãe estar boa e de repente o filho estar doente, sei lá, acho que era isso. Nunca foi falado “É por causa disso, disso, disso”. Imaginava que seria isso, filho fica doente, mãe tem que faltar.
P/1 – Dona Maria Rita, como foi desenvolvendo seu trabalho na medida em que havia também um desenvolvimento tecnológico, o DDD começou a se espalhar pelas cidades, as telefonistas passaram a não ser tão necessárias, ao menos no número que haviam naquela época. Como a senhora foi acompanhando isso?
R – A gente foi acompanhando isso sempre com uma preocupação “Ai, está acabando meu tempo aqui”. A preocupação era essa, de repente ia automatizando tudo e ia diminuindo pessoas. Então, à partir do momento que se digitalizava alguma coisa, que se automatizava, ia diminuindo, não tinha mais necessidade de ter a quantidade de telefonistas que tinham, então ia sempre demitindo. Ia sempre fazendo aquela seleção, essa aqui é mais útil para mim aqui... Eu estava sempre ficando, sempre poupada, graças a Deus. Foi aproveitando as pessoas pra bilhetagem, porque todas as ligações que tinham que ser feitas tinham que ser tarifadas, bilhetadas, classificadas, essas coisas todas. Encarregadas que tinham as outras tarefas que tinham que ser feitas. Foi indo até que eu passei de telefonista pra codificar bilhetes, trabalhei uns três ou quatro anos.
P/1 – Como era isso?
R – Toda ligação você fazia um bilhetinho, onde você tinha minutos. Então você codificava “Orlândia”, que era 9461, ele falou para “Ribeirão Preto”, que era 2006, isso era tudo codificado, você tinha que codificar tudo isso aí e colocar a tarifa. Eram muitas chamadas que a gente fazia por dia, porque a gente atendia toda a região, então a gente tinha que fazer isso aí, a gente não dava conta, às vezes tinha que ficar fora de hora para bilhetar tudo isso. (____?) mandar embora.
P/1 – Como a senhora calculava a tarifa? Na maquininha de calcular? Como era?
R – Não, a gente já tinha, a própria empresa mandava as tabelas prontas, não usava... até tantos minutos, acima de tantos minutos. Quando era acima da tabela, que a tabela era até trinta minutos, tinha gente que falava mais de trinta minutos, aí sim a gente usava maquininha de calcular, que era aquela manualzinha ainda.
P/1 – Tudo manual, Dona Maria Rita?
R – Tudo manual, era tudo manual. Aí a gente mandava isso para Uberlândia, que era onde tinha o faturamento que debitava isso depois para os clientes.
P/1 – Isso seguia como para Uberlândia? Por portador, malote?
R – Malote. A gente tinha malote para Uberlândia, de terças e sexta-feiras.
P/2 – Aí eles mandavam de volta pra cá ou eles emitiam a conta? Como que era?
R – Eles emitiam essas contas e emitiam essas contas direto para o assinante. A princípio mandavam para a gente, que tínhamos que destacar, que vinha tudo unida uma à outra, tinha que destacar. Eram folhas e mais folhas, a gente postava no correio e aí eles recebiam e pagavam. Aí os bancos mandavam os canhotinhos pra gente, a gente tinha que separar tudo e mandar. Nossa, era uma loucura, gente do céu! Hoje não tem mais nada disso, uma maravilha. Depois disso eu passei para encarregada, a encarregada de lá se casou. Nessa época não podia ficar, ela saiu de lá e eu fui para lá. Como eu não me casei, eu estou lá até hoje.
P/1 – E o que era o trabalho de uma encarregada?
R – Encarregada tinha que direcionar tudo, tomar conta das pessoas, centralizar tudo ali. Montar tudo, tudo que acontecia na cidade, e mandar para Uberlândia. Era compilar, compilava tudo, toda a arrecadação, e atender os pedidos das pessoas que pediam serviço. Pessoas que queriam mudar de endereço, pessoas que queriam comprar um telefone, instalar um telefone. Era tudo feito ali, você tinha que fazer contrato, essas coisas todas.
P/1 – A senhora saía para encontrar as pessoas na rua ou ficava ali?
R – Não, eu ficava dentro do escritório, as pessoas é que procuravam a gente. A gente era procurada ali e fazia.
P/1 – Onde ficava o escritório?
R – Já era onde é hoje, na Rua Quatro, número 520.
P/1 – Nesse trabalho de encarregada tinha muito contato com o público? Muita gente vinha procurar a senhora?
R – Ah, sim, qualquer coisa era procurar a Maria Rita, “A Maria Rita resolve isso pra nós”, aquela coisa toda, como é até hoje.
P/2 – E tinha inclusive que atender aquele cliente que a telefonista não atendeu?
R – Ah, sim. Isso passava direto.
P/1 – Como que era?
R – Atender esses clientes que até então a telefonista não dava conta, às vezes ele queria alguma coisa que não era de competência dela, passava pra gente. E assim eu fui ficando de encarregada. Aí veio minha preocupação, o cargo que eu ocupo eu tenho que estudar, aí fui para Ribeirão Preto estudar, fiz o segundo grau. Até então Orlândia tinha, mas só durante o dia e eu tinha que estudar à noite, porque durante o dia eu trabalhava.
P/1 – E a senhora deixou o trabalho para estudar?
R – Não. Fui para Ribeirão estudar, porque em Orlândia tinha segundo grau só durante o dia, e para fazer o segundo grau eu tinha que ir para Ribeirão Preto, porque eu tinha que trabalhar durante o dia, então pegava o ônibus e tal.
P/1 – Que distância tem de Orlândia à Ribeirão?
R – Cinquenta quilômetros.
P/1 – A senhora ia todos os dias?
R – Todos os dias. Aí tinha um pessoal que fazia faculdade, muita gente que fazia o segundo grau à noite em Ribeirão, porque trabalhava durante o dia.
P/1 – Como era sua rotina diária nessa fase, como se distribuía suas horas no dia?
R – Era uma correria, uma loucura. Às vezes a gente ficava sem almoço, sem almoço não, porque a gente almoçava correndo. Porque você tinha que ocupar o horário de almoço para dar conta de tudo que tinha que fazer, às vezes você tinha prova à noite, tinha que estudar, não tinha tempo. Então tinha que fazer nesse período, pra cinco e meia sair e tomar um banho voando para pegar o ônibus às seis horas. Chegava meia noite, se desse problema na estrada chegava à uma hora da manhã. Isso eu fiz muito tempo, fiz o supletivo, na verdade foi um ano e meio. Aí depois eu falei “Tenho que fazer uma faculdade”. Depois até fiz, prestei, passei.
P/1 – Onde?
R – Lá em Ribeirão Preto.
P/1 – Pra quê a senhora prestou?
R – Ciências contábeis, mas eu não me formei, infelizmente. Eu tive problema com meu pai, naquela época a empresa não dava condições, hoje ela ajuda, dá uma ajuda de custo para o pessoal que estuda. Eu não tive na época. Meu pai começou a ficar doente, meu pai teve três derrames, então não tive condições. Tranquei a matrícula e o tempo foi passando, passando, passando, aí voltar a estudar depois disso... Aí sabe, fiz vários cursos pela empresa mesmo, mas não conclui a faculdade, infelizmente. Parei na metade, fiz dois anos e parei. Uma pena, hoje me arrependo, mas...
P/1 – E sua vida na empresa nesse tempo, a senhora continuou encarregada, mesmo com essa questão do seu pai?
R – Continuei trabalhando normalmente, dava conta do meu recado. A prioridade era o trabalho, porque eu trabalho pra uma empresa, ela me paga por isso, eu tenho que dar o retorno. A prioridade sempre foi o trabalho, sem deixar minha casa, a minha escola, quando estudava, mas a prioridade era correr atrás do trabalho. E assim eu fui tocando, estou lá até hoje, trabalhando, já me aposentei. Na época também tinha limite, trinta anos de empresa tem que aposentar, então eu não tive dúvida, completei meus trinta anos de casa, fui lá pedir minha aposentadoria. Minha aposentadoria saiu em quinze dias. Aí o que aconteceu? Eu passei para o pessoal de Recursos Humanos. “Me aposentei, tem uma norma da empresa que aposentado, deu trinta anos tem que aposentar e deixar a empresa, então eu: “Estou passando pra vocês que eu me aposentei e agora se quiser me dispensar, tudo bem.” Aí eu tive uma surpresa, o Seu Luis Márcio me ligou - tudo que eu fiz nessa empresa eu devo a ele, ele é uma pessoa fantástica - ele me chamou e falou “Maria Rita, você está se aposentando porque você está cansada ou por causa da norma da Empresa? Eu tenho quase certeza que é por causa da norma da Empresa.” - Eu não falei que ia chorar? Da licença - Eu falei que não, que tinha uma norma na empresa e eu estava cumprindo a norma. Aí ele disse assim pra mim “então você vai cancelar a sua aposentadoria, você vai lá e cancela. Se você aposentar hoje, você não vai poder ficar na empresa, porque realmente aposentado não fica”, “Mas eu não posso, o dinheiro já está lá”. Bem, eu fui lá e realmente cancelei a aposentadoria e continuei trabalhando. Aí depois de uns cinco anos teve uma revisão de norma, o associado poderia se aposentar e continuar na empresa, uma limitação que pra mulher era sessenta anos e pra homem sessenta e cinco anos. Foi onde eu pude me aposentar e continuar trabalhando, e estou aí até hoje, graças a Deus, acho que estou dando conta do recado, por isso que eu estou na empresa. Acho que hoje a própria empresa e o próprio associado sentem a necessidade de se atualizar e a necessidade dele próprio, se ele está sendo útil para a empresa ou não. Acho que é uma obrigação dele. No momento eu ainda estou sendo útil, já estou no fim da estrada, como diz o outro, já está quase na hora de parar, eu já estou pensando nisso já faz tempo, só estou aproveitando mais um pouquinho já que estou tendo essa oportunidade, mas está na hora de a gente parar, dar lugar para outro, outras pessoas mais novas.
P/1 – Dona Maria Rita, tem um momento na história da empresa que ela passou por uma reestruturação muito forte, ali no final dos anos 80, início dos anos 90, na gestão do Senhor Mário Grossi. Como foi esse momento de reestruturação para a senhora, aqui em Orlândia, pro seu trabalho? Como isso aconteceu?
R – Foi simplesmente mais um desafio, um comprometimento total, graças a Deus a gente passou por isso. Eu principalmente, e o Zé Torneiro(?), que está aí pra fazer entrevista, a gente passou por isso muito bem, estava com a cabeça preparada para isso e teve caso de pessoas que não. Teve amigas minhas que precisaram deixar a Empresa, porque não conseguiram acompanhar. Eu, graças a Deus não tive problema com isso. Foi desafio, foi difícil para todo mundo, foi uma mudança de processo, de tudo mais. Mas graças a Deus a gente conseguiu sair de todos eles, como a gente continua até hoje, porque a CTBC ela é uma empresa que tem mudança todo dia. Todo dia tem mudança e a gente tem que estar preparado para isso. A partir do momento que não se sentir preparado a gente tem que simplesmente falar “Foi bom enquanto durou” e tudo o mais.
P/1 – Mas aquele momento de reestruturação chegou a ser traumático?
R – Não, para mim não, nem um pouco, de maneira nenhuma. Era hora de se fazer isso, teria que ter isso realmente. Uma Empresa que quer sobreviver, ela tem pensar em alternativas e a CTBC fez isso num momento muito oportuno, foi muito bom. A CTBC tem uma estratégia fantástica, o pessoal da CTBC, tanto os donos da CTBC como os funcionários que estão na Empresa hoje, eu digo assim, diretores, tem uma cabeça fantástica, mudou muito. Hoje ela é uma Empresa muito aberta, nós temos livre acesso a tudo, a gente pode falar com diretor ou com o presidente a hora que a gente quiser. A gente não tem que pedir licença, a hora que tiver que falar com eles a gente fala, sem problema nenhum, a gente tem a liberdade de expor tudo que a gente pensa, de ser contra alguma coisa que o coordenador coloca, que o diretor coloca. A gente tem essa liberdade de não concordar e de colocar o porque a gente não concorda. Acho que isso é muito importante. Contrário à empresas que ditam regras, na CTBC não é assim, tudo que é colocado é discutido com a equipe. Participa, discute, eu concordo, porque, eu discordo, porque. Isso é muito respeitado, isso é muito importante. Eu me sinto uma pessoa super privilegiada dentro da CTBC, de estar até hoje, com a idade que eu estou, e sendo assim muito bem aceita, tanto com o pessoal da minha época como com o pessoal de hoje. Com o pessoal de hoje eu sou tratada muito bem, não só eu como todos os outros que estão na mesma situação que eu, que já se aposentaram. O aposentado hoje, ele é tratado como um empregado que entrou ontem ou hoje, ele é super respeitado. Eu acho isso muito importante dentro de uma empresa, que infelizmente são poucas as empresas que têm isso, que têm essa cabeça e que dá essa liberdade. Uma liberdade de você entrar a hora que você quiser, se você não tem hora para entrar; claro que você tem uma hora que fica depois do horário, mas isso a gente faz com prazer, porque se você precisar faltar hoje, ninguém vai te perguntar o porque, dizer que você não pode faltar, te descontar o dia... acho isso maravilhoso. A gente é motivo de inveja de muitas pessoas na cidade onde a gente trabalha, por trabalhar numa empresa onde tem pessoas com a cabeça como a CTBC. O Doutor Luis é uma pessoa fantástica, humano, muito humano. O Seu Alexandrino, o Doutor Luis e o Luis Alexandre, são três gerações já.
P/1 – Como é o seu trabalho hoje, Dona Maria Rita?
R – Meu trabalho hoje, eu sou uma atendente líder. Atendente que está ali para dar apoio às outras atendentes, para dirigir as atendentes que também têm liberdade total de fazer tudo que sabem. Eu estou mais para dar uma cobertura, estar buscando informações, estar levando informações, prestar conta do que se fez e do que se faz dentro da sua área, a minha é uma micro-área. É Orlândia, Salles de Oliveira, Nuporanga, Jardinópolis e Jurecê, essas cidades todas estão sob minha responsabilidade.
P/1 – Vamos descrever um pouco melhor esse trabalho. Como a senhora opera com essas atendentes, com a sua equipe, o que a equipe faz, que resultado ela busca.
R – Nós somos em seis em Orlândia e três em Jardinópolis. Nuporanga e Salles de Oliveira são Centros fechados, então as atendentes atendem o público. Eu também atendo o público na medida do congestionamento, se está muito tempo a gente tem que ver o cliente que não tem tempo a perder, então eu saio da minha sala, vou numa mesa e atendo o cliente. O meu cargo ali é gerenciar o serviço das outras atendentes, dar um apoio para elas e suprir o que elas não conseguem. De repente um cliente mais especial eu vou ter que atender, um problema maior que elas não consigam resolver, estar me reportando para o Senhor Luis Márcio, pra Malú, que é minha líder...
Troca de fita
R - ... estar colhendo, buscando, participar de reuniões, treinamentos. Eu tenho que estar ali, dirigindo essas minhas atendentes. É um treinamento que tem, eu vou ter que estar ali direcionando para que não pare o atendimento. O atendimento ele tem que estar fluindo normalmente e eu tenho que estar ali preocupada em suprir a falta de uma que está fazendo um curso, de uma que está de férias, que está atendendo uma outra localidade que faltou, essas coisas todas, que a gente presta ali. E dando atendimento geral, fazendo visitas a formadoras de opinião, a gente sai, faz visitas a prefeitos, a presidente de Câmara, a ACI, essas coisas. Um cliente que reclama alguma coisa e a gente acha que ele merece uma visita, a gente vai, faz essa visita, vai pessoalmente, vê o que realmente ele está questionando.
P/1 – E como a senhora é recebida, como é a imagem da CTBC para essas pessoas que a senhora procura para conversar, pra fazer esse tipo de ação?
R – Muito boa. A minha última visita foi para o presidente da Câmara de Orlândia, que eu estive lá a semana passada. Ele fez um comentário de que a CTBC foi citada na Câmara como uma empresa modelo, porque de tanta reclamação de problemas de prestadores de serviços, tipo Banco, tipo Companhia de Força e Luz, que não tem ninguém que atenda, e a CTBC tem um 0800 e tem um atendimento ao público, isso é muito importante. Ele disse que nunca teve reclamação nenhuma de clientes reclamando de prestação de serviços da CTBC, ou porque não atendeu a solicitação de um telefone para ser instalado ou porque não atendeu quando precisou e deu com o nariz na porta, tipo assim. A gente é muito bem recebida, a Empresa tem um conceito muito bom, graças a Deus. Muito bem vista na cidade. Invejada até por outras empresas que vão lá querer saber qual é o processo da CTBC nisso, naquilo. Sabe que a CTBC é minha, eu sinto como se ela fosse minha, na CTBC a gente veste a camisa mesmo, a gente não admite que alguém fale mal por alguma coisa. Embora às vezes tenha um cliente que chega mais exaltado, você vai ver, ele realmente tem razão por causa disso, disso, disso, então ele merece uma tratativa especial, você tem quer ter todo um jogo de cintura, saber tratá-lo para ele ser fiel à empresa, para se chegar um concorrente ele não sair correndo.
P/1 – Eu queria que a senhora se atentasse mais nisso, desse segredo da relação com o cliente. Qual é o pulo do gato nessa história?
R – O pulo do gato é que você tem que ser uma pessoa amável, você tem que ser cordial, tem que tratar muito bem. Se o cliente chegar com um revolver na mão, que eu já enfrentei isso, verdade, você tem que ter um jogo de cintura.
P/1 – Conta isso!
R – Ele chegou lá, você tem que falar “O senhor está nervoso, vem cá, senta aqui, vamos ver o que está acontecendo”, a gente não pode entrar na dele. Se ele entrar te xingando, você não pode revidar, você tem que entender a situação dele, às vezes ele nem tem razão e você tem que procurar chamar ele, ver, a princípio dar razão a ele, “O senhor tem toda a razão de estar desse jeito, mas vamos ver o que se pode fazer e tudo mais.” Graças a Deus a gente tem esse jeitinho, de repente ele vai embora e você fala “Ai”, mas na hora...
P/1 – Quem ameaçou a senhora com uma arma?
R – Isso foi um assinante de Salles de Oliveira, ele tinha umas contas atrasadas, foi no banco e pagou. Mas como as contas vinham unidas umas nas outras, e uma das contas não foi paga, e o telefone dele foi cortado. Nossa, ele não admitia. Ele ligou e perguntou porque o telefone estava desligado e então foi falado “A conta do senhor do mês tal não foi baixada, não foi paga.” Nossa, ele pegou, foi com o revólver do lado. Ele chegou, nossa, e ali todo mundo ficou assustado. Ele falava “Hoje eu vou dar tiro aqui”. Ele não chegou a empunhar a arma, é claro, mas ele estava... Eu fiquei apavorada. Eu falei “Vamos entrar aqui, o que aconteceu? O senhor está nervoso com toda a razão, mas vamos verificar o que aconteceu”. Aí nós fomos verificar, olhei, olhei, ele mostrou as contas, eu vi, e falei “O senhor está vendo esse canhotinho aqui, o banco não autenticou e não foi baixada”. Chamei o banco na hora, falei com a moça lá no banco. “O senhor tem toda a razão de ter vindo bravo desse jeito, mas nós também não tivemos culpa, às vezes nem o banco, passou despercebido, mas vamos resolver isso agora. Eu vou mandar ligar o telefone do senhor e o senhor paga a conta amanhã e tudo bem.” Ele chegou num estado de nervo, porque falaram para ele... ele mesmo que tinha ligado e a menina falou que não tinha sido paga.
P/1 – E como ele saiu?
R – Nervoso, nervoso. Continuou falando, conversando, mas saiu calmo, pediu desculpa. Eu falei “O senhor não teve culpa, nós também não tivemos culpa, o banco também, passou despercebido, foi uma casualidade, estamos resolvendo e tal”. Mas numa boa, hoje ele é amigo da gente, não tem problema não, mas a gente enfrenta essas coisas.
P/1 – Como a senhora se sente com essa relação direta com o público, com o assinante?
R – Eu me sinto muito bem, eu me sinto gratificada. Estar na empresa, pra mim, todo esse tempo, são trinta e cinco anos de empresa, cinquenta e sete anos de idade. Todo mundo me recebe muito bem onde eu vou, e eu consigo expor tudo que eu quero expor, não tem questionamento. Tem questionamento assim, de coisa, o cliente reclama de conta, o cliente reclama de mal atendimento no 0800, de todas essas coisas reclamam. Eu, graças a Deus, nunca tive um cliente que tivesse que passar pra frente por não dar conta de atender. Teve problemas que tivemos que passar pra frente, porque já foge da competência da gente, já é de outra competência, então você tem que passar. Mas me sinto bem, gratificada de estar trabalhando, adoro fazer o que faço, gosto demais. O pessoal chega, eu às vezes incomodo as pessoas, “você ainda está aqui”, “Por enquanto estou incomodando a vocês, não estou incomodando a empresa ainda não. A hora que eu incomodar a empresa a gente vê como que fica”.
P/1 – Qual o segredo de cativar um cliente, Dona Maria Rita?
R – O segredo de cativar um cliente, eu acho que é tudo isso que eu acabei de falar, ter uma flexibilidade, ser amável, ser cordial, deixar o cliente falar, isso é muito importante, porque às vezes o cliente chega falando e você interrompe. O cliente tem que chegar e falar tudo que tem que falar, a gente tem que ouvir, depois a gente vai tentar explicar, tentar convencer. O segredo é esse, a princípio deixar o cliente falar, a razão é toda dele, até a gente provar o contrário.
P/1 – Dona Maria Rita, a sua trajetória vem desde o magneto até o celular. Como a senhora vê a empresa hoje e o que a senhora consegue enxergar baseado em toda essa experiência? Como a senhora consegue ver esse futuro imediato de competição, de concorrência mais acirrada e o cliente demandando cada vez mais serviço?
R – É um desafio muito grande para a CTBC, mas eu acho que ela vai chegar lá no ranking, onde ela quer chegar. Ela se prepara para isso, ela tem gente competente para isso e ela corre atrás disso, com isso ela vai conseguir. A CTBC está se preparando para isso há muito tempo. Não é agora que ela está correndo atrás, pelo que eu acompanhei nessa trajetória toda, ela está sempre preparada para o que está chegando. Ela está se precavendo de tudo, ela previu o futuro muito antes de saber o que vai acontecer. Ela tem as pessoas preparadas para isso, ela vai buscar, ela corre atrás. A gente acompanha isso. O importante nisso tudo é que a gente acompanha isso, isso é passado pra gente. Tudo que a empresa faz, tudo que ela está buscando a gente está sabendo. Não é uma empresa que te surpreende com as coisas. Ela está buscando antes de acontecer ela já está querendo saber. Tem muitas coisas que ela está chegando em primeiro lugar. Ela vai chegar lá, tenho certeza. Não vou estar dentro dela pra ver não, mas eu vou estar lá fora assistindo, se Deus quiser, e aplaudindo.
P/1 – Dona Maria Rita, a senhora tem sonhos?
R – Sonhos? Todo mundo tem. Eu vou parar de trabalhar na CTBC mas não vou ficar parada, alguma coisa eu vou fazer. Não sei bem o que é, estou projetando, estou vendo, estou estudando o que eu vou fazer, mas não sei ainda. Meu plano é parar de trabalhar na CTBC, mas continuar minha vida lá fora, nem que for para a comunidade. Eu já faço alguma coisa, mas eu quero continuar trabalhando. Se eu não for trabalhar para um negócio próprio, para mim, eu vou trabalhar muito para a comunidade, isso eu tenho certeza. Mas não sei, alguma coisa eu vou fazer, estou querendo parar de trabalhar, mesmo porque a CTBC está precisando de gente nova, de gente jovem com garra. Como eu disse para vocês, estou na porteirinha da estrada. Mas vou continuar, ajudar, adoro trabalhar com pessoas. Quando eu comento que eu vou parar de trabalhar, tem gente na cidade que diz “Você vem pra cá”, pra gente isso é muito bom. Já fui convidada para trabalhar numa agência de turismo que tem lá. “Ah, está bom, a hora que eu parar de trabalhar aqui eu vejo o que eu vou fazer” Outra metalúrgica que tem lá “Olha Maria Rita, a hora que você parar de trabalhar lá, seu lugarzinho está aqui”. Isso pra gente é muito bom, gratifica muito. Se eu for continuar trabalhando vou dar prioridade dentro da CTBC, se ela me der essa oportunidade. Eu paro de trabalhar pros outros, às vezes não vou trabalhar para mim, mas vou trabalhar para a comunidade, tem muita gente que precisa. Acho que já trabalhei bastante, vou passear bastante. Já viajei muito, mas quero viajar mais. Não viajei para fora do país, mas pretendo, quero conhecer. A hora que eu sair da empresa eu vou para a Europa, se Deus quiser, pretendo, quero conhecer. Acho que é o sonho de todo mundo. Todo ano viajo para dentro do país, adoro viajar, mas pra fora do Brasil não. Tive um sonho o ano retrasado, foi quando o dólar estava... mas agora não dá. Quem pretendia gastar, gastar dez, não dá. Vamos esperar um pouco.
P/1 – A senhora disse que já desenvolve algumas atividades comunitárias, que tipo de atividades são essas?
R – Eu gosto de participar com o pessoal de creche, às vezes eles precisam de alguma coisa, a gente sai correndo pra ajudar, entendeu? Tem o asilo dos velhinhos, a gente sempre participa de reunião, contribui com o que pode, buscando alguma coisa. Tem o pessoal do Lyons também, que pede. A gente não tem condições de assumir um compromisso, a gente ajuda sem compromisso. A hora que parar de trabalhar é outra coisa, vou ter um tempo disponível para isso.
P/2 – Se a senhora tivesse que receber uma pessoa que fosse começar a trabalhar na CTBC amanhã, o que a senhora diria para essa pessoa?
R – Eu vou falar para ela “Você é a pessoa mais feliz do mundo, você é uma pessoa privilegiada, porque vai trabalhar na CTBC” eu ia falar isso para ela, como eu falo para as pessoas que entram. Eu acho que trabalhar na empresa, a empresa cobra, é lógico, porque se ela te paga um salário você tem que dar o retorno para ela. Mas o que a CTBC faz hoje as empresas não fazem, pelo menos eu não conheço nenhuma que faz o que ela faz hoje para o associado, que além de dar os benefícios que dá, trata o funcionário como associado e não como empregado. Trata todo mundo muito bem, você chega perto do seu gerente conversa com ele como se tivesse conversando com outro colega aqui. Eu desconheço outra empresa que faça isso, acredito até que tenha, mas muito pouco. Dentro da minha cidade, quem entra na CTBC vai trabalhar porque nós trabalhamos bastante. Mas o pessoal trabalha com garra, trabalha feliz, contente, correndo atrás do prejuízo, preocupado com o que está acontecendo com a empresa. Isso é muito importante.
P/1 – Dona Maria Rita, tem alguma coisa que a senhora gostaria de ter dito e que a gente não provocou a senhora a dizer?
R – Não, acho que não. Eu falei tudo que eu gostaria de falar e vocês me deram a oportunidade de me expressar totalmente, acho que não tem nada não.
P/1 – O que a senhora sentiu e achou em dar esse depoimento pra nós?
R – Achei tão importante. Me senti importante, está vendo, me aponta uma empresa que está fazendo isso com o associado, que a empresa está fazendo comigo agora. Isso é super gratificante para o associado, maravilhoso.
P/1 – Mas a senhora é importante.
R – Obrigada, é muito bom estar aqui. CTBC sempre CTBC, mas também, trinta e cinco anos, mas passou tão rápido, passou tão depressa que eu não acredito que faz todo esse tempo. Infelizmente os anos estão passando rápido, mas eu tenho certeza que outras pessoas virão, que irão ocupar o meu lugar e outros lugares aí, que com certeza vão ter a oportunidade que eu tive e vão ter os momentos que eu tive. Já tive momentos muito importantes nessa empresa, eu não vou esquecer nunca mais, vai ser maravilhoso. Eu só tive glória dentro da CTBC, eu nunca tive um momento que eu saísse magoada, com alguma coisa que alguém me dissesse que tivesse me deixado pra baixo. Eu só ouço coisa que me levanta a moral, que levanta a minha auto estima, isso é muito importante para a gente. Eu espero que os outros que virão tenham esses momentos e essas alegrias que eu tive.
P/1 – Muito obrigado então.
R – Eu é que agradeço, obrigada a vocês, obrigada à CTBC por tudo isso.Recolher