IDENTIFICAÇÃO Nome, data e local de nascimento Meu nome é Carla Coelho. Eu tenho 30 anos de idade, nasci em Angola, minha nacionalidade é portuguesa, mas eu fui criada no Brasil, no Rio. Moro há oito anos em São Paulo.
FAMÍLIA Origem étnica, Nome, atividade e descrição d...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO Nome, data e local de nascimento
Meu nome é Carla Coelho. Eu tenho 30 anos de idade, nasci em Angola, minha nacionalidade é portuguesa, mas eu fui criada no Brasil, no Rio. Moro há oito anos em São Paulo.
FAMÍLIA Origem étnica, Nome, atividade e descrição dos pais
Os meus pais são portugueses. Eles moravam na mesma aldeia, na Beira Alta, perto da Serra da Estrela. Aí meu pai teve que prestar o serviço militar, que era obrigatório em Portugal, e foi transferido para Angola, que na época era uma colônia portuguesa. Ele se encantou com o país, adorou, e acabou se estabelecendo lá. Ele já namorava com a minha mãe desde os 15 anos de idade e, por carta, pediu ela em casamento por procuração. Então ela falou: “Não. Eu vou até aí para gente casar mesmo”. Ela se mudou para Angola, casou e eu nasci lá. Eles só saíram de Angola quando começou a guerra civil pela independência. O país ficou muito conturbado e eles acabaram saindo de Angola e vieram morar no Brasil.
IMIGRAÇÃO Chegada na nova cidade
Minha mãe já tinha alguns irmãos que moravam aqui, porque é uma família portuguesa tradicional. São 11 irmãos. E como todo português imigrante do interior, de uma aldeia, eles se espalharam. Alguns por alguns países da Europa e outros vieram para o Brasil. E quando eles saíram de Angola, voltaram para Portugal. Eles estavam pensando em se estabelecer em Portugal quando uma tia minha, que já morava no Rio de Janeiro, mandou um carta convidando-os para vir, dizendo que tinha trabalho, que a gente podia morar na casa dela. E eles resolveram tentar a sorte aqui no país do futuro. Então vieram.
TRABALHO/ÁREAS DA EMPRESA Trajetória profissional/ Comunicação
Eu sou Gerente de Comunicação Corporativa. Eu cuido de duas áreas: de toda a parte de relacionamento com a imprensa, que a gente chama de comunicação externa, e eu cuido também de marketing institucional, que é a parte de responsabilidade corporativa, que inclui a imagem da AmBev, o projeto de acervo, de recuperação da memória da empresa e preservação desta memória, projetos sócio-ambientais e projeto de consumo responsável.
TRABALHO/ EDUCAÇÃO Ingresso na empresa/ Faculdade
Estou há dez anos e meio na Companhia. A minha entrada foi engraçada. Eu entrei como Analista de Comunicação Interna, trainee ralé, ralé, ralé… Eu estava no ultimo ano na UERJ, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, e eu tinha uma amiga, o nome dela era Carla também, que eu gostava muito. E alguém me disse na faculdade que ela estava concorrendo a uma vaga na Brahma na época e que ela tinha sido escolhida. E eu fui toda feliz dar parabéns para ela e ela falou: “Não vou.” “Como você não vai? Três meses de dinâmica Todo mundo louco por emprego” Ninguém conseguia emprego. Ela falou: “Eu não vou”. Porque a empresa que ela estava trabalhando na época fez uma proposta: se ela ficasse até o final do ano ela seria efetivada. Então ela falou: “Mas se você quiser, eu te dou o telefone.” Aí eu levei o telefone comigo. Isso era à noite, porque eu estudava à noite. Era sexta feira. Ligar não custa nada, então eu liguei na maior cara de pau. Falei com quem seria o chefe dela, que foi o meu chefe. Falei: “Olha você não me conhece, meu nome é Carla, amiga da Carla, aquela que te deu o bolo, mas eu tenho esta e essa experiência, pa,pa,pa,pa... e eu queria só te contar isso”. Aí ele falou: “Legal, muito obrigado.” Ele ficou meio assim... “Mas são três meses de seleção. Então faz o seguinte: manda o seu currículo. Você tem currículo?” Eu falei:
“Tenho.” Eu não tinha curriculo nenhum. “Cinco minutos tá aí.” Aí fiz um currículo e mandei. Isso era, tipo, meio-dia. Quando eram três horas da tarde, eles me ligaram: “Dá para você esta aqui na AmBev (na época Brahma), às quatro?” Eu respondi: “Dá.” Fiquei das quatro às sete, três horas de entrevista. Na segunda-feira eu voltei e na quarta-feira eu comecei na empresa.(riso)
UNIDADES DE PRODUÇÃO/ INFÂNCIA/ CULTURA DA EMPRESA Hanseática/ Refrigerantes/ Valores
Quando eu liguei pra ele, eu não sabia o que era. Eu sabia que era uma empresa de bebidas. E eu tinha a imagem da Brahma como uma fábrica de bebidas, porque onde os meus pais moravam, bem próximo tinha uma fábrica da Brahma, que se
chamava Hanseática, que hoje já não funciona mais. Eu, na época de escola, já tinha ido visitar a produção de refrigerantes, mas eu não sabia quem era a Brahma. Quando fui conversar com o Jorge, que era o Gerente de Comunicação Interna, foram três horas de bate papo maravilhoso. Ele começou a contar tudo o que era a empresa. Sabe quando o seu mundo abre? Eu sai de lá e falei: “Eu nem preciso ser escolhida. Já fiquei feliz de ter vindo aqui, porque me deu uma visão do que é uma empresa.” Eu já tinha trabalhado em grandes empresas como estagiária, mas era completamente diferente. Então aquilo me encantou. Quando eles me convidaram para ir trabalhar, o encantamento virou uma paixão, virou um amor. Enfim, eu acho que é uma relação bastante emocional.
ÁREAS DA EMPRESA/ TRABALHO Comunicação/ Promoções/ Desafios
Várias coisas me marcaram. Eu acho que foi a mudança da área de comunicação interna, de recursos humanos para comunicação externa. Lembro-me que eu tinha comentado com a menina que cuidava de comunicação externa que eu queria mudar de área, que eu queria ir para o marketing e eu não sabia que ela estava pensando em sair. Daí a um mês ela passou na minha mesa: “Olha, eu to saindo. O Magim quer conversar com você.” E cinco minutos depois o Magim estava na minha mesa e falou: “Vamos bater um papo.” Eu sentei com ele meio assustada e ele falou: “A gente vai ter uma vaga e eu queria que você pensasse.” Ele me contou o que era a vaga e ele falou assim: “Olha, é uma coisa que eu quero que você se sinta à vontade para dizer se você quer ou se não quer, porque você vai estar sob os holofotes pro bem e pro mal. Pensa se você quer isso. Depois você me dá a resposta.” Aí eu sai da mesa dele e voltei para minha mesa. Meia hora depois essa minha antecessora passou lá e falou: “Eu vim aqui para gente fazer o plano de treinamento.” “Não, mas o Magim...” “Você já foi escolhida. Não tem o que pensar, não tem essa de você ficar pensando se você quer ou não quer.” Acho que isso foi um dos momentos... tem N outras situações que me marcaram, projetos que deram certo, crises gerenciadas ou não gerenciadas.
PROCESSOS INTERNOS DA EMPRESA Fusão
Eu me considero uma privilegiada, porque eu pude fazer não só parte desta história, como eu pude atuar nessa história, até pela função que eu ocupava de comunicação externa. Eu soube da fusão dois dias antes dela ser anunciada. Eu estava numa reunião em um dos nossos fornecedores, nossos parceiros, e um dos diretores me ligou e falou assim: “Onde você esta?” “Eu estou em tal empresa.” “Não diga que sou eu, não diga nada.” Parecia uma coisa secreta. E todo mundo olhando para mim. Ele falou: “Quero você meio dia em tal lugar. Se alguém perguntar quem ligou, você diz que foi um amigo.” Aí eu desliguei no meio de uma reunião, todo mundo olhou para mim. “Era um amigo.” Quando eu cheguei aonde eles tinham marcado, estava já o Marcel, estava o Juan Vergara, e ele abriu a porta para mim já com um sorriso. Eu perguntei: “O que aconteceu? Me conta.” Ele: “Nada. O que você acha que aconteceu?”. “Vocês compraram a Quilmes.” “Não.” “Vocês compraram uma cervejaria?” “Não, tá longe”. Aí ele me jogou um papel e tinha assim no título: “Antártica e Brahma anunciam aliança. Anunciam fusão”. Então eu sentei, “Ahn...” Então foram nove meses de trabalho que valeram muito mais do que qualquer MBA que eu pudesse fazer. Foram nove meses muito estressantes, de muitas horas de trabalho, de muita pressão, mas muito compensadores também. Depois que terminou, eu olhei para trás de tudo o que nós fizemos, tudo o que discutimos... Tudo o que eu aprendi foi um momento único. Essa foi a maior fusão da historia da iniciativa privada no Brasil e eu me sinto muito feliz de ter feito parte dela, não como espectadora, mas como um dos atores desta historia.
CULTURA DA EMPRESA Valores
É uma relação de amor e ódio trabalhar na Companhia, mas eu acho isso bom. A AmBev é uma empresa muito honesta e muito transparente. Ela te fala claramente as coisas que, às vezes, em algumas outras empresas, são veladas. Isso num primeiro momento pode até te chocar. As pessoas falam para você: “Não confunda esforço com resultado.” Às vezes você esta lá, se esforça para caramba, trabalha horas, e a companhia fala: “Ok, mas o resultado não veio.” E aqui é uma empresa de resultado, de meritocracia. Mas eu acho que isso te prepara para o mundo, para sua vida pessoal e profissional, então você tem que realmente compartilhar dos valores da empresa. Não dá para ter uma relação morna com a AmBev. Por isso que muita gente fala que é uma empresa polêmica. Eu acho que é uma empresa verdadeira, diferente, que tem os seus pontos fracos, que tem as suas deficiências, mas que tem, assim, um mundo de coisas boas. Então, na hora que você coloca isso na balança, a balança sempre tem que pesar a mais, tem que estar a favor, porque se não você não consegue agüentar o ritmo... Olha, é uma empresa que deixa você usar literalmente aquela história de você ser dono do seu negócio. É verdade. É uma empresa que prefere segurar as pessoas a ter que empurrá-las. Eu, quando fui para área de comunicação externa, algum pequeno deslize meu significava uma grande matéria ruim no jornal. Eu errei algumas vezes, eles me chamaram, a gente conversou. Então você aprende. É uma empresa única, eu tenho um relação emocional, porque eu cresci junto com a empresa.
MUNDO DO TRABALHO Relações de trabalho
As pessoas fora da AmBev falam assim: “Mas la é muito agressivo.” Eu diria para você que hoje os meus melhores amigos (não pode caber em mais que em uma palma de mão, senão, não é melhor amigo) são pessoas que ou trabalham aqui, ou que trabalharam aqui durante muitos anos. Eu fiz uma relação muito boa com as pessoas, como em qualquer ambiente da sua vida: faculdade, ambiente profissional, pessoal... Você tem que saber lidar com as pessoas. Eu acho as pessoas aqui jovens de espirito, são pessoas abertas, são pessoas de mentes abertas, são pessoas que querem ousar. Eu gosto do ambiente de trabalho. Eu me identifico muito com as pessoas que estão aqui dentro.
ÁREAS DA EMPRESA Finanças
Aconteceram tantas coisas engraçadas... Logo que eu entrei nesta área, a área financeira na companhia era bem fechada para falar com a imprensa. Eu lembro que tinha um diretor financeiro, que já se aposentou, que era o Danilo Palmer. Eu era fã dele. Ele falava assim: “Nem adianta vir falar comigo, que eu não vou fazer coletiva para falar de resultado financeiro, não vou.” “Mas Danilo...” “Não, isso não dá certo.” Até o dia que eu cheguei para ele e falei assim: “Deixa eu quebrar a cara. Vamos fazer assim: vamos tentar do meu jeito. Se der certo, a gente institui isso como regra, se não der, eu quebro a cara, nunca mais te encho o saco, nunca mais te procuro.” E aí ele riu, como quem diz: “Anos de experiência... Vamos fazer. Não vai dar certo.” Só que deu certo e ele teve que fazer isso durante muitos anos. Aí, quando ele foi substituído pelo novo diretor financeiro, ele brincava comigo e falava assim: “Eu já tenho uma listinha negra aqui de tudo que eu não posso fazer.” “Corta aquela listinha, joga fora. Vamos começar uma nova. Tem muitas histórias aqui dentro.”
CULTURA DA EMPRESA Valores
É uma empresa que consegue te motivar de uma maneira única. É uma empresa que sempre te puxa para fazer mais. Eu acho que é uma empresa que te dá ensinamentos na sua vida profissional, que você pode levar para a sua vida pessoal, que é persistência e frustração, que é sempre ter uma insatisfação positiva: “Foi bacana. Que bom Vamos comemorar este resultado, mas vamos procurar fazer de uma maneira melhor.” É uma empresa que não te deixa acomodar.
PROJETO MEMÓRIA VIVA AmBev Importância da história
A primeira vez que eu fui no Museu da Pessoa e que a gente começou a falar do acervo, eu me senti um peixe fora da água. Fiquei olhando e falei: “Gente, mas que terminologias são essas? Mas que nomes são esses? Não estou entendendo nada”. Aí o pessoal do acervo me mostrou uns sites, alguns projetos que fizeram para outras empresas. Eu olhava: “Mas como é que se concretiza?” Eu tinha uma visão muito pratica. Conforme o projeto foi avançando e você vai entendendo o que é a historia da companhia, que não é só um monte de documento, é muito mais que isso. Eu fico feliz em perceber que eu tinha uma visão míope do que era um projeto de acervo e hoje é uma visão completamente diferente daquilo que eu eu aprendi com a equipe do museu, com a equipe dos parceiros do consórcio que fazem parte do projeto. Eu acho que preservar e garantir o registro da história de uma empresa é fundamental. Ela não é só para a história da empresa, ela é uma fonte de motivação para os funcionários. Compreender que você faz parte daquela historia, entender de onde vieram aqueles produtos, conseguir vislumbrar que lá na frente você vai fazer parte de um pedacinho daquela historia... É uma coisa muito boa. Porque é uma coisa que você pode mostrar, lá no futuro, não só para a sua família, para os seus filhos. Sabe aquela coisa tipo: “Olha só, eu ajudei a construir isso. Eu fiz parte disso. Sabe a Memória Viva? Estava junto comigo. Eu ajudei a escolher o nome, as cores”. Eu estou falando de uma experiência muito pessoal, porque eu estou junto do projeto. Mas eu fico impressionada ao ver as pessoas olhando tudo isso e falando: “Poxa, que barato. Dá para fazer um monte de coisas. Quero trazer meu filho para ver isso.” Eu não tinha essa visão. Eu tinha uma visão quadrada, uma visão chata do que é uma historia de uma empresa para fazer livro. Mas é muito mais do que isso. Eu acho que as empresas que acordarem para isso vão ver que, ao preservar a história, colocando funcionários dentro desta história, trazendo emoção, coração para esta história, elas conseguem garantir o futuro desta empresa.
Eu espero que este seja um projeto que só evolua, que só cresça. É um projeto que realmente mexe no cerne da cultura de uma empresa que fala tanto de gente como seu diferencial de negocio. Tem que estar registrando esta gente, tem que estar registrando esta emoção, tem que estar registrando essa satisfação das pessoas para mostrar para as próximas gerações.
ENTREVISTA Avaliação
Eu acho que as pessoas contarem sua história junto com a história da Companhia é quebrar uma barreira de timidez. Eu saí atrás de todo mundo falando: “Você tem que ir lá. É super simples. Quinze minutos.” E na hora que eu entrei aqui, falei: “Vai doer?” Porque é diferente quando você está na frente da câmera. Então é melhor fingir que não tem câmera. Eu acho que a memória oral, que é uma coisa que eu aprendi no projeto do acervo, é uma das coisas mais importantes da empresa. Porque os documentos te mostram de uma maneira fria aquilo que aconteceu. O depoimento das pessoas te trazem o calor humano, a emoção. Todo mundo com quem eu conversei que saiu daqui se emocionou. Quando você tem que responder estas perguntas, que não são previamente combinadas, você começa a relembrar todas as coisas boas que já passaram e aí, se você está num momento que você esta assim, se você está triste, você começa a ver: “Olha Quanta coisa bacana eu já fiz.” Ou, se você não esta enxergando o futuro, você começa a ver: “Nossa, eu já fiz tantas coisas antes Olha por onde eu posso caminhar.” Eu acho que é uma maneira de você guardar um pedacinho, é o DNA de cada um. É mostrar um pouco da emoção que esta por trás da produção de uma cerveja ou de um refrigerante.Recolher