Museu da Pessoa

Fiando o fio

autoria: Museu da Pessoa personagem: Ignácio Picaso

Projeto História das Profissões em Extinção
Depoimento de Ignácio Picaso
Entrevistado por Luís André do Prado e Priscila Perazzo
Estúdio da Oficina Oswald de Andrade
São Paulo, 10 de outubro de 1996
Realização Museu da Pessoa
Entrevista n.º 12
Transcrita por Rosália Maria Nunes Henriques

P - Começamos o depoimento com a sua identificação, o seu nome completo, o lugar onde nasceu e a data.

R - Meu nome é Ignácio Picaso, nasci na cidade de Óleo, em 20 de maio de 1915.

P - Fica onde?

R - Óleo fica onde? Fica na Alta Sorocabana, vizinha da cidade chamada Manduri.

P - E o seus pais, quais os nomes deles e as origens.

R - O meu pai, o nome dele era Antônio Picaso. Mas e minha mãe Encarnación Salmora Mechand, ambos da Espanha, nascidos na Espanha.

P - Eles vieram para o Brasil quando? Por que motivo?

R - Geralmente a informação que a gente tem depois de adulto é que eles vieram da Espanha quando vieram muitos imigrantes, portugueses, italianos. Então naquela ocasião eles vinham como imigrantes para cá e vinham aqui em São Paulo. E os fazendeiros vinham aqui e escolhiam os colonos que interessava as famílias e levavam para as fazendas para tratar de café, pé de café.

P - Sabe quando eles vieram?

R - Bom, aí eu não tenho a informação correta, sei que vieram jovens, casaram-se aqui no Brasil.

P - E depois que se casaram então trabalharam na lavoura, café provavelmente?

R - Um grande tempo eles trabalharam de colono no cafezal para os fazendeiros e depois aos poucos eles iam vindo para a cidade. Inclusive meu pai teve uma temporada lá mesmo no Interior, ele trabalhou na Estrada de Ferro Sorocabana, naquelas turmas de conserva de linha de trem. Depois de lá então, veio para Sorocaba. Ele, o pai dele, os irmãos dele, eram três irmãos só.

P - Lembra da cidade onde nasceu? Ficou lá pouco tempo?

R - A cidade que eu nasci eu fui conhecer ela depois de 60 anos porque verdadeiramente por informação dos meus pais eu acho que eu nasci embaixo de um pé de café. (risos) E na cidade de Óleo morava meus avô por parte da minha mãe. Então eles mandavam um telegrama lá para Óleo para me registrarem lá. Inclusive eles me registraram com sete dias de atraso, eu nasci dia 13 de maio e fui registrado dia 20 de maio.

P - Cresceu em Sorocaba?

R - Sim, em Sorocaba a gente veio lá mais ou menos eu tinha uns 3, 3 anos e meio mais ou menos. E lá o meu pai alugou um cômodo e cozinha e depois comprou um terreno a prestação, fez um cômodo e uma cozinha e nós mudamos para uma casa própria, eu e mais uma irmã que viemos daquela tal de Sorocabana. Já na cidade de Sorocaba nasceram mais quatro. Ali mais ou menos quando eu tinha 7 anos mais ou menos de idade eu entrei para um grupo chamado Grupo Senador Vergueiro para aprender ler e escrever. Eu me recordo que quando a gente faltava numa aula o diretor da escola mandava o empregado na casa do aluno porque que ele não foi na aula, naquele tempo. Mas mesmo assim eu me recordo que quando tinha 9 anos, como as despesas eram demasiadas para o meu pai, precisava ajudar, eu entrei trabalhar numa fábrica vizinha quase aí chamada Fábrica Santa Maria, fábrica de tecidos, fiação e tecelagem. Mas eu trabalhei apenas dois meses lá porque a água da indústria lá que eu tomava deu aquele tal de amarelão e precisaram me mandar para São Paulo aqui, tinha os meus tios de São Paulo, me trataram aqui na Santa Casa. Fiquei bom e voltei. Quando tinha 9 anos, aliás, 11 anos naquele tempo o delegado de polícia dava um atestado para o moleque trabalhar com 12 anos. E trabalhar como? Eu não tinha, tinha 11. Então o meu pai tinha um compadre dele que tinha um filho chamado Francisco Gimenez e tinha 12 anos, peguei a certidão do Francisco Gimenez, eu fui lá, o delegado autorizou e eu fui trabalhar com o nome de Francisco Gimenez. Passado algum tempo o verdadeiro Francisco Gimenez também foi trabalhar na Votorantim, lá mesmo. É só rindo mesmo. E para não confundir na folha de pagamento eu era Francisco Gimenez e ele era Francisco Gimenez Gimenez, duas vezes. Eu ria porque naturalmente era uma coisa até engraçada. Será que o escritório não viu que Francisco Gimenez era filho do mesmo pai e da mesma mãe, no mesmo dia? E assim eu trabalhei até 1933 com esse nome. Em 33 saiu a carteira profissional. Aí eu fiz a carteira profissional com o nome certo e fui na gerência lá, no escritório e contei a história. Eles marcaram tudo direitinho. Assim eu trabalhei na Votorantim de 1924 a 1934, 10 anos sem sair. Saí de lá, evidentemente como eu não pude completar o curso primário que eu não tinha diploma de curso primário mas como eu trabalhava de manhã, à noite eu ia num Grupo do governo do Estado para estudar o que me faltava, um pouco de português e um pouquinho de matemática. Foi onde eu aprendi muito. E na indústria Votorantim evidentemente quando eu entrei lá eu era varredor na fiação, chapeuzinho de pano, eu me lembro que o salário era mil-- réis, era 75 réis por hora. Depois através dos anos a gente subiu para ser tirador de espula, precisava ganhar um pouquinho mais.

P - O que é tirador de espula?

R - É justamente o cidadão que está no rinque, onde fica o fio, tira a espula cheia e põe a vazia. Então é uma equipe de quatro moleques, que tem uma quantidade de máquina grande, tem uma lata que você põe uma cinta assim e carrega ela e vai tirando a espula cheia e vai pondo a vazia.

P - O que é espula?

R - É a canilha onde enrola os fios, chama espula ou canilha, é um tipo de madeira, quando está fazendo uma estiragem no rinque ela já sai enrolada porque depois passa pela meadeira, rocadeira, aquela coisa toda.

P - E o rinque?

R - O rinque é onde se faz tiragem.

P - É a área.

R - É a área justamente. Primeiramente vem o batedor depois vem a carda, depois vem maçaroqueira grossa, maçaroqueira fina, extrafina, aí vai para o rinque que faz umas rocas grandes, o fio sai grosso, depois vai afinando, fica que nem macarrão. Então quando vai para o rinque é que sai o fio de acordo com a titulagem desejada. É muito importante, muito bonito verificar e fazer uma visita a uma indústria para ter conhecimento, porque a gente fica até alegre de ver. Aí evidentemente através do tempo eu passei para azeitador do rinque, fui subindo.

P - O que era a tarefa de azeitador?

R - Eu azeitava segunda-feira todos os mancais do rinque, tinha 22 máquinas e depois amarrava as cordinhas naquele tempo, hoje trabalha com fitas para não perder a torção, mas antigamente era com cordinha, cada fuso era uma cordinha. Então a gente tinha uma caixa de madeira com assento para não machucar o traseiro da gente e se tinha um fuso parado parava a máquina, se tinha um arco passava a cordinha, dava a laçada e cortava, dava a volta e virava a máquina e continuava, máquina por máquina. Isso eu fiz também, mais ou menos três, quatro anos. E aí naturalmente para melhorar, que a gente estava ficando mais adulto. Eu saía às 2 horas porque eu trabalhava das 5 às 2 e uma hora de almoço, eu ia para a seção de tecelagem, fui aprender a trabalhar de tecelão. Eu ficava duas horas com os colegas que trabalhava à noite, das 2 às 10, aprendendo para passar, para ir melhorando porque o objetivo da gente é sempre melhorar financeiramente para poder viver mais folgado, porque assim mesmo era muito difícil, não era fácil não. Não se ganhava tanto assim não, se ganhava pouco.

P - Era muita criança na fábrica trabalhando com essa idade?

R - Ah, sim, não tem dúvida, porque a Votorantim era uma das maiores indústrias aqui do Estado e é até hoje. A Votorantim é uma indústria, a fundação dela parece que é 1896, faliu e um português chamado Antônio Pereira Inácio comprou, não sei como ele arrumou capital mas comprou. Inclusive esse cidadão poucas vezes alguém o via na fábrica ou passeando uma vez por ano porque ele era português, mas infelizmente ele sofria de uma doença que só rico podia estar no meio dos outros, no meio de pobres não estaria, os leprosos. Então vinha de Portugal e tal mas tinha dinheiro, então dificilmente via ele passar na Votorantim, quem dirigia era a equipe que ele organizou. Era uma indústria que não era quase igual à Matarazzo porque hoje ela tem tudo, era superior o tempo do velho, do velho Antônio Pereira Inácio. Agora a molecada existia porque nessa fiação que era o rinque era dividido em salas, fazia bem 2 ou 3 alqueires, a sala grande para chuchu, diversas salas porque era muito. E além dela tecer o tecido ela vendia também a matéria-prima, fios, para as outras indústrias, era muito grande, a molecada lá... Mais ou menos ela mantinha de operário, a indústria Votorantim na parte de tecidos, mais ou menos 2 mil empregados. Tanto que a indústria Votorantim ela tinha na Votorantim, que tem até hoje, duas vilas industriais que uma chama Barra Funda e a outra chama Chave. E tinha então a Estrada de Ferro Elétrica Votorantim que fazia de Votorantim a Paula Souza, em Sorocaba, que é 6 quilômetros e meio de estrada de ferro, do próprio Antônio Pereira Inácio, e é até hoje da Votorantim aquilo. E aquele tempo em que eu era moleque, eu me recordo, que esse trem funcionava com a Maria Fumaça ainda. E tinha algumas vezes que para... as vilas de Votorantim tinha dois, três de seis carros cada um, primeiro passava os carros das mulheres, depois passava simplesmente só homem, trabalhava naquele horário das 5 às 2, das 2 às 10, que ia de Sorocaba a Votorantim trabalhar. Quer dizer, esse trem saía de madrugada, 4 e meia de Paula Souza para a gente pegar para estar às 5 horas no serviço. Ele passava, existia nesse trecho de Paula Souza a Votorantim, existia Parada Pinheiros, Barcelona, Altura, Pedregulho e Parada do Alto e aí a Votorantim. Quer dizer, nessas paradas justamente que os operários moravam naqueles bairros perto dessas paradas para pegar esse trem para ir trabalhar. E também tinha um trem que passava 10 horas mais ou menos. que as mães da gente passava a bagagem para pôr as cestas com a comida para a gente almoçar quando chegava na Votorantim. Era muito bonito, dá saudade, viu, dá saudade mesmo, era duro mas dá saudade, porque molecada, sabe, que não vê as dificuldades, mas a gente sentia às vezes. Eu estava contando para Priscila que eu me recordo quando molecão eu costumava aos sábados à noite acompanhar um filme em série à noite no sábado, porque domingo eu era viciado em futebol, só jogava futebol. E às vezes eu sabia que a minha mãe tinha emprestado da vizinha 1 real, naquele tempo era 1 mil réis para eu ir para o cinema. Então não era muito fácil, mas dá saudade. Carne, eu me recordo de um caminhão que vendia carnes aos domingo, passava na rua, a 1 mil réis o quilo. Mas se vivia bem, não havia tanta violência, felizmente era aquela juventude que fez clube infantil, juvenil e foi indo a gente participava de tudo isso aí, clubes. Inclusive, em 37 fui o goleiro do São Bento em Sorocaba, em 37. Só que eu pesava 54, 55 quilos não é esse barrigão com 80 anos. Mas era a vida de noite, a gente freqüentava o clube, também participava, jogava pingue-pongue, enfim a gente conhecia o ambiente muito bem, uma cidade civilizada, tinha grandes clubes, piscina, tinha tudo. Mas não era vida fácil não.

P - O dinheiro no final do mês o senhor entregava para a sua mãe?

R - Ah, sim. Tem um fato muito importante que inclusive tive uma vez eu acho que vale até contar. Em 1932... nós tivemos uma Revolução em 24, que estourou aqui em São Paulo que foram embora fugidos mas estourou aqui em São Paulo. Depois tivemos a Revolução de 1930 que foi a eleição em que o Washington Luís, aquelas eleições que até defunto votava, que foi eleito Júlio Prestes, que era governador de São Paulo. Então veio a turma do Sul lá com Getúlio Vargas e no fim acabaram vencendo a Revolução e Getúlio Vargas tomou posse. Então a mesma coisa naquela ocasião a gente não podia sair muito à noite porque era capaz de ser pego e ir embora, pagaram 10 mil réis para a gente defender os paulistas. Então a indústria naquela ocasião teve dificuldade porque ficou São Paulo e Mato Grosso isolado, o resto do Brasil era tudo contra nós, certo? Então mesmo na Votorantim, o governo paulista foi obrigado a fazer dinheiro paulista, não era dinheiro nacional, dinheiro paulista e na Votorantim nós tínhamos uma dificuldade, então começamos a trabalhar só quatro dias por semana, não, cinco dias, não, quatro dias, não trabalhava sábado nem segunda-feira. E como saía o pagamento e ficava parece que ficaram três meses essa revolução, foi três meses. Então eles davam, parece que 60% em dinheiro e os 40% em vales porque a indústria Votorantim ela tinha armazém para você tirar adiantado e tinha também em Paula Souza e em Sorocaba. Eu me recordo de que naturalmente numa crise daquela o meu pai ficou desempregado, mas era daqueles espanhóis valente, então ele arranjou uma lavoura, arranjou um brejo duro, abriu valetas, secou e plantava de tudo. E a minha mãe ia vender verdura, a minha mãe. Eu me lembro que num domingo eu fui assistir um joguinho de futebol lá perto de casa e quando eu voltei o meu pai estava lendo um romance, não sei se vocês conheceram, era um romance espanhol, José Maria Trampanilha, era um tipo de Robin Wood hoje na Espanha. E o velho, naturalmente imbuído daquele romance, então ele ficava um pouco meio violento, não bebia nem fumava, trabalhador máximo. E quando eu entrei assim na sala ele falou para mim: "Ignácio." "O que é que o senhor quer pai?" "Amanhã a tua mãe vai vender verdura, a tua irmã vai lavar roupa." Que era uma irmã depois de mim "E você vai no armazém, faz as compras e vem faz o almoço." Eu falei: "Pai, eu não posso ver, fazer duas coisas num tempo só." O meu pai não concordou com aquilo, me xingou tudo quanto há e ainda veio para cima de mim. E me agarrou pela camisa, eu caí no fundo do quintal, pulei o muro e fui para a casa do meu vizinho. A minha mãe fechou a porta, (____ armou?). Eu tinha um terno branco para estrear, rapaz, aí a minha mãe deu um jeito roubou o terno lá e fui para a cidade. Eu já tinha uma namoradinha que é essa que foi a primeira esposa. Eu fiquei chateado com aquilo, o velho era duro, era duro mesmo. Hora do jantar tinha que estar os seis filhos na hora do jantar, nada de faltar um.

P - Seu pai era religioso?

R - Não, ele não freqüentava religião, era a natureza dele, aquela natureza forte, aqueles espanhol forte. E não havia, eu me recordo muito bem, onde a gente morava não havia luz elétrica, era com lampião. Aí na praça naturalmente eu estava muito aborrecido, encontrei uns amigos, aqueles amigos. Digo: "Aconteceu isso, isso." "Se ele não deixar você ir em casa, você vai lá na minha casa." Quando eu cheguei em casa assim, encontrei a minha irmã e uma colega que morava ali em frente namorando fora no passeio, eu falei: "Oh Carmem, como que é o negócio?" De lá saiu a minha mãe para a janela lá na sala e disse: "O pai disse que você não é mais filho dele." "Está bom." Eu entrei, tinha o quarto dos homens onde morava três irmãos e tranquei o quarto, no dia seguinte eu acordei a minha mãe não foi vender: "O que é que aconteceu?" "Está bom." Ih, meu pai ficou mais ou menos, acho que uns dois meses e não se conformava. Então ele tinha o compadre dele aquele era o pai do Francisco Gimenez que morava no fundo do quintal, veio lá para acalmar, um dia eu já jogava no São Bento eu vim treinar. Entrei na varanda assim ele me segurou: "Ignácio." "O que é que há, pai?" "Você quer continuar em casa?" Digo: "Se eu não quisesse continuar não estaria aqui até hoje." "Você precisa largar de jogar futebol e jogar com fulano e sicrano." Eu digo: "Pai, o senhor falou para a minha mãe que não me considera seu filho, não conta com a minha vida, tchau." Fui para a cozinha, peguei a minha janta, arroz e feijão, era um dia de calor e saí para a cidade. E aí passando um tempo ele veio na boa falou para a minha mãe, acabou concordando que eu jogasse futebol, queria ver eu jogando futebol. Depois de um ano que o mais importante é que você via na cara da gente se eu, além de trabalhar das 5 às 2 horas na Votorantim, quando eu vinha com o meu irmão que tinha 12, 10 anos, ele me esperava perto de onde o meu pai estava trabalhando na lavoura, eu descia naquela parada, eu levava o meu café e eu ficava trabalhando até 6 horas lá. Então ele mandou um recado: "Não precisava de minha ajuda." Agora fico de papo para o ar. Mas passou um tempinho eu voltei a ajudar ele mas não conversava comigo, então é melhor não conversar com ele, turrão por turrão, espanhol e filho de espanhol. (risos) Então ele dizia para o meu irmão: "Oh, Zé," ele chamava José "Você fala para o seu irmão Ignácio fazer isso e isso." Eu estava ouvindo, ele dando o recado e eu estava ouvindo antes, tinha que dar risada, era o intermediário. (riso) Aí depois de um ano falou comigo. Está bom, não foi nada, ele ficou uma moça, melhor do que a minha mãe. Eu era um cidadão que nunca perdi um dia de serviço, jogava futebol, eu gostava mesmo, mas chegava a passar o domingo o dia todo jogando futebol. Jogava nos juvenis, faltava, uma vaga lá no goleiro lá eu jogava outra vez, já estava de calção, naquele tempo goleiro não tinha joelheira, era só tirar a calça, pôr a camisa e entrar no gol. E aí ficou bom. Um dia ele falou para mim: "Ignácio, você podia amanhã me ajudar replantar uns pés de tomate lá num brejo lá perto?" Eu falei: "Vou." Quando ia chegando 11 e meia o São Bento ia jogar, falei: "Pai, eu tenho uns compromisso aí." Ele falou: "Pode ir." Virou completamente, virou da água para o vinho, entende? Esse foi o único atrito que eu tive com ele mas não um atrito assim, tivemos atrito porque ele era nervoso e num momento ele estava lendo aquele livro de banditismo. Não há explicação que eu não podia fazer duas coisas ao mesmo tempo porque se eu recebi hoje sexta-feira, todo mundo recebeu vale para gastar no armazém, eu vou lá, eu não sei a hora que vou voltar. Como é que eu posso ir lá receber, gastar o vale e vir fazer o almoço? Então eu contestei por essa razão que eu tinha, não era possível. Mas o contrário, ele virou uma moça e nunca mais me contrariou.

P - Ele não gostava de ser desobedecido, tinha que obedecer sempre.

R - É aquela mania. É o seguinte, que às vezes quando eu escutava passagem dele, eles eram em três irmãos, um que chamava Alonso, e Manuel. Manuel era o caçula, mas Alonso era mais chegado e mais democrático comigo, esse meu tio, irmão dele, gostava de sair comigo e louco para contar uma piada, meu pai não, meu pai era sisudo. Então eu sabia que quando eles estavam na fazenda, aqui no Brasil, o falecido pai dele quando ia comparar uma roupa de brim não era só calça e paletó, camisa também de brim. Veja bem, isso lá na fazenda, mas aqui estamos numa cidade civilizada, muda o negócio. Então ele já vinha com aquele negócio dos pais e tem que mudar de acordo com a situação como também eu mudei com o meu filho, eu nunca pus a mão no meu filho. A não ser uma vez, que a mãe reclamava tanto que ele vivia lá naquela porta do Tietê, lá do Corinthians, então tinha aquelas mangueiras de plástico e esperei ele, ele tinha acho uns 14 anos. Dei-lhe só uma, aí a mãe veio contra mim, a única vez. Porque é muito mais certo você dialogar, conversar até chegar a razão porque quem tem dá razão quem não tem perde a razão. Bom, continuando.

P - E a sua mãe, como ela era?

R - A minha mãe geralmente coitada era uma senhora muito pacata, trabalheira, ela inclusive quando eu era menino, me recordo, que nasceu o meu irmão José ela trabalhava na Fábrica Santa Maria, maçaroqueira, e o meu pai fez um carrinho e ia da Barcelona que era mais ou menos uns 2 quilômetros com carrinho levar esse meu irmão para dar de mamar.

P - Qual era a função dela?

R - Maçaroqueira.

P - O que era?

R - Fiação. E depois também trabalhou na Votorantim. Então tinha às vezes, teve uma vez um, assim com o meu pai que achava que minha mãe nunca trabalhou: "Trabalhou na Votorantim." E ele ficava quieto, eu tinha certeza, você vê uma coisa e sabe o que é. A minha mãe era dona-de-casa, fazia o que podia para ajudar no que fosse possível. Sabe, uma senhora que teve um filho hoje, outro filho amanhã, seis filhos. Ela coitada sofria da vista, o pessoal europeu uma parte vinha com aquele tracoma nos olhos, você penalizava de ver ela. E naquele tempo eu me recordo perfeitamente que padaria olhe lá, o pão era para uma semana. Então o velho fez aquela macieira de madeira, compra o trigo, farinha de milho, punha na macieira, punha lá água quente e aí o fermento. Eu lavava a mão a minha mãe dizia: "Ignácio, ajuda aqui." Isso quando eu não estava trabalhando ainda. E lá eu na massa, fazia oito pães, tinha que procurar cachumbo para limpar o forno e depois para limpar a brasa. Eram oito pães que saía para a semana toda, era assim mesmo. Tinha umas vantagens também, torresmo ninguém fazia pão de torresmo que nem nós fazia porque, precisava fazer hoje, se cozinhava com banha. O mês todo era banha comprada, comprava um suã, salgava ele, punha um pedaço no feijão todo dia. Era uma vida dura mas trabalhava com amor, aquela união, família, um para os outro.Vai que um dia eu conheci um vizinho que tinha oito filhos, sabe o café que ele dava para eles? Caldo de feijão. Eu vi muitas vezes aqueles meninos, estão criados, casados, já morreram os pais, pelados, sem roupa. Não podia porque a mãe era trabalhadeira e o marido também. Eu vi muita coisa mas, graças a Deus, ainda para mim nunca me deixavam andar descalço, isso eu me lembro, sempre calçado. Tanto que eu aprendi a ser goleiro porque a turma jogava de dedo no chão e eu não tirava o sapato, eu fui goleiro. (risos)

P - O que fazia a maçaroqueira?

R - Maçaroqueira é o seguinte, quando vem o algodão é vendido para as indústrias, ele vem em fardos, que inclusive às vezes o patrão compra um tipo de algodão e se não tiver pessoal habilidade para receber esse algodão ele é enganado. Porque o algodão tem diversos tipos e o tipo que é melhor, que tem fibra mais comprida é mais caro a arroba, compra de arroba. Então quando ele vem em fardos, abre o fardo, o técnico em fiação ele vai examinar a fibra se não está sendo enganado. Bom, recebeu o algodão, aí vai para um maquinário chamado batedor, solta lá e você bate, só a poeira que sai. Dessa máquina vai para as cardas, que é para cardear o algodão e ir limpando aquelas impurezas delas. E vai saindo umas manta, faz um latão comprido e sai umas manta. Aí já vai para a maçaroqueira grossa, aquelas manta tem uns pavios, uns eixos, daquelas manta que largam assim já começa sair pavios da grossura do meu dedo. Dessa maçaroqueira grossa vai para a fina, já vai afinando até que ele fica às vezes que nem um palito, é um pedaço de madeira onde enrola. Se chama maçaroca.

P - Eu queria que você pegasse bem o detalhe da mão dele quando ele explica também.

R - A maçaroca é um tubo, pode ser de madeira ou pode ser de fibra desse tamanho, é que nem um canudo, desse tamanho e isso é colocado no fuso e enrola, tem uns, como se dizia, onde vem as fieiras de algodão é num latão comprido e essa fieira entra e passa por um cilindro. Quer dizer, se ele vem dessa grossura como passa no cilindro precisar ter uma estiragem do outro ele vai afinando e (____ ____ ?)ele vai afinando. Então ele passa da maçaroqueira grossa que vem da carda, depois dessa maçaroca para a outra máquina mais fina para fazer mais fino e vai até a superfina. Aí vai para os rinque, ainda existe uma intermediária que muitas vezes quando vai fabricar um fio de algodão penteado, tem que passar numa máquina chamada penteadeira, porque inclusive naquela ocasião era uma máquina que para as mulheres era muito perigosa pegar a mão. Nessa máquina penteadeira ela então penteia tudo, tira todas as impurezas que é para fabricar um fio de primeira qualidade. Porque o algodão, o fio, você fabrica de acordo com o que você deseja, desde o título 2 até o título 120.

P - O que é título?

R - Título, dá-se o nome de título à relação que existe entre o comprimento e o seu peso, eu vou explicar mais miúdo. Então, evidentemente se você quer fazer um fio de primeira qualidade, título 40, título 50, 60, você tem que trabalhar, ser penteado e ser de fibras longas porque fibras curtas não dá as tiragem, ele quebra antes. Se você fabrica um fio cardado não passa pela penteadeira, tem o nome de cardado, ele é mais grosseiro, é o título 10. O título 2 é lã para cobertor, colcha que é grosso. Quer dizer, título 10 é 10 vezes mais fino que o 1. Quanto mais alto o número do título mais fino ele é, então dá-se o nome de título à relação que existe entre o seu peso e o seu comprimento. Isso é pergunta de exame na escola que dão para os alunos. O que é o título do fio? É a relação que existe entre o comprimento e o seu peso. Então a maçaroca, para você entender é um tubinho mais ou menos deste comprimento, dessa grossura onde o algodão enrola e coloca aquele tubo lá no fuso e enrola, entra direitinho naquele fuso e vai enrolando. Quer dizer, e enquanto vai enrolando também vai estar recebendo uma torção. Quando passa para a outra máquina recebe outra torção mais aí vai fino, aí quando está no ponto certo vai para o rinque. E no rinque ele passa por três cilindros, quer dizer, nós, eu conheço porque eu na fiação eu trabalhei, só muda de título se você vai fazer fio mais fino então você tem uma medida certa para colocar entre cilindros. Esses cilindros é 12 metros, 15 de comprimento mas tem os mancais de pedaço em pedaço, senão não dava, quebrava. Então você vai com a medida certa, e tem uma chave de cruz, de cano, você abre que ela tem parafusinho, e abre, chama-se encarte para colocar, quer dizer, aí fica mais distante o fio para fazer mais fino. Aí ele passa por um guia-fio e entra para a canilha. E aí na canilha ainda tem um anel que nós chamamos de viajante que dá volta e dá a estiragem. É muito bonito, eu gostaria que vocês vissem a fiação e uma pessoa fosse explicando o início. Pô, o negócio é até que um barato de se ver.

P - Você chega ao tecido final. Como é essa etapa?

R - Certo. Bom, essa etapa, naturalmente depois que faz a fiação do fio, eu estou falando de fiação de algodão porque tem a fibra sintética, é diferente, mas o algodão, cordão, linho, cânhamo, juta, aquela coisa toda. Geralmente quando sai do rinque então, se vai fazer meada para tingir então passa para a meadeira, daquela espula faz meada que vai para tingir. Depois que tinge a meada passa para a roca que é para ir para a urdideira fazer o rolo. Esse rolo é que vai para o tear e depois é tramado com a espula, a espula também da cor que você quer, pode ser um xadrez, pode ser um listrado, às vezes é branco, vai acabar depois, vai tingir depois de acabado, vai mercerizar. É um processo muito bonito e que se tivesse a oportunidade de visitar uma tecelagem que permitisse uma visita mais com calma é maravilhoso.

P - Entre lã, algodão, juta, linho e cânhamo, há diferença no processo?

R - Há diferença, não é muita, na fabricação do fio não. Há o seguinte. Ainda ontem estive dando aulas a respeito disso. Do algodão para o linho já tem diferença porque o linho é criado como se fosse capim fino que é comprido, 2 metros, 3 metros. Eles cortam aquilo e faz feixe, amarram e jogam numa lagoa de água corrente, deixa ele lá 10 a 15 dias para apodrecer. Depois tira, bate ele e põe num gramado para tirar a parte lenhosa, fica só a fibra. E aí vai passar o mesmo processo que é feito o algodão. Agora esse processo é um deles, tem o químico, tem três para processos, atualmente deve ser muito mais fácil. Essas partes tem no livro que eu recebi quando eu aprendi, tive na escola há 3 anos, na Escola Técnica Têxtil de Santo André, Dr. Júlio de Mesquita. E todos os livros dizem a mesma coisa. Agora já a lã, a lã também é um processo muito interessante, o carneiro quando na ocasião que vão tosar a lã do carneiro, eles já quando tosam a lã do carneiro antes de tosar eles dão um banho no carneiro que é para tirar impurezas da lã, aquela gordura do próprio animal. Depois eles tosam e já separam em monte porque tem parte dos carneiro que dá fibras grandes e tem partes onde se esfolam muito, a fibra é curta. Essas partes que eles separam e chamam de zona porque é vendido no comércio por preço maior, entendeu, naturalmente é lavada, não põe no sol, na sombra para não perder aquela cor natural. E aí vai fazer o mesmo processo do algodão mas com outras máquinas diferente. O cânhamo, o cânhamo não sei se eu expliquei para você, expliquei para ela. O cânhamo, você vê falar muito em maconha, maconha é o cânhamo, vocês entenderam? Você pode pegar a letra maconha e pôr em cânhamo, as letras são iguais só está mudado de lugar. A gente descobriu pelo seguinte.Antigamente eu não sei se você teve oportunidade ou algum dos senhores daqui, que o sujeito que cria passarinho ele ia no passarinheiro para comprar semente de cânhamo para dar para o canário cantar. Coitado, ele dava semente para maconhar o canário aí ele não parava de cantar. Hoje está proibido. Então o cânhamo quando foi criado e foi conhecido era um fibra que às vezes se misturava um pouco com o linho ou faziam cordas para navio, umas corda muito forte, viu, fibra forte, resistente. Só que era muito mais fácil vender cigarrinho, uma coisa... isso é o cânhamo. A juta ela existia muito no tempo que usava muita sacaria de juta, não sei se você conheceu, a juta aquele saco meio marrom, depois que entrou o polipropileno que é a fibra sintética acabou quase a juta. Essa firma mesmo aqui no Glicério onde está aquela religião, aquela igreja lá, aquilo era a Juta Penteado, era uma fábrica grande de fiação e tecelagem, eles tinham aqui no Canindé, tinha Jutefício Inglês, tinha Taubaté, acabou fechando porque a fibra sintética substituiu. Mas a juta, inclusive a juta quando ela existia aqui no Brasil, aqui em São Paulo principalmente, aqui tinha várias indústrias, ela fabricava aquele saco e o pessoal dava graças a Deus quando vinha a juta da Índia porque a nossa juta era ruim para trabalhar. Então era importar juta da Índia e fazer uma mistura senão era difícil trabalhar com ela. Hoje ela quase desapareceu, lembro que inclusive usava muito também para vedar cano de água, hoje tem aquela outra fita a juta ficou de lado. Pode perguntar, são as fibras naturais.

P - Conte como era o ambiente da fábrica naquela época com esse monte de garotos, havia muito controle? Como eles controlavam para o pessoal trabalhar? Havia movimento sindical?

R - Havia. Bom, o movimento sindical geralmente ele quase começou em 1930, 34 e depois ele desenvolveu mais foi no governo Getúlio. Getúlio, pode dizer, o sindicato de cima para baixo, mas já existia sindicato e de vez em quando a única fábrica que fazia as greve mesmo, que puxava em Sorocaba era a Votorantim. Porque em Sorocaba existia a Santa Maria que não era igual à Votorantim mas era um terço, mas também era uma fábrica que entrava o algodão e saía o tecido pronto, Santo Antônio, Santo Rosário, Sorocaba era uma cidade que se chamava Manchester Paulista por algum tempo. Hoje está tudo fechado, mas chamava Manchester Paulista. Agora quanto ao controle do trabalhador era o seguinte: não existia cartão era uma chapeira, você tinha um número passava para lá e tinha uma pessoa empregada, encarregada para ver observar a chapinha, quem veio trabalhar e quem não veio. E de vez em quando o mestre dava uns assobios, chamava a gente a base de assobio, entende? E teve um mestre de fiação que já morreu, se chamava Pascoal na Santa Maria que dava pescoção nos moleques. (riso) Não era fácil não mas deu para controlar bem, foi uma vida como se diz, não só na fábrica como fora na vida social a gente tinha bastante ambiente, nos clubes, eu fui lá, nós criamos lá um clube, criamos primeiro o infantil Fluminense, depois os idosos, idosos modo de dizer, ficaram com vergonha e criaram um clube dos homens e puseram o nome de Voluntários da Pátria. Bom, a gente foi crescendo mas importante é eu, que no bairro que eu morava eu não dava muito (grande?), eu estava num bairro lá em cima e ele não ficava sabendo. Então eu jogava no Juvenil São Bento e no fim acabei vindo para cá. E tem uma passagem muito importante nesse clube, o Voluntários da Pátria, que é o seguinte: quando foi a Revolução de 1932, o Voluntários da Pátria então cortaram a pátria e é só Voluntários Futebol Clube. (risos) Você sabe como é, né? Bom, aí o clube não era registrado e iam registrar ele, eu era secretário no tempo do clube. Como era um bairro dalém ponte como eu falei para Priscila, só de espanhol, os velhos, os garotos tudo brasileiro mas os velhos eram tudo espanhol. Então foi uma assembléia dura, acabou vencendo o nome Espanha, tinha o Espanha em Santos também. Mas quando foi a guerra de 45, fechou. Então é Fluminense hoje, tem sede própria, sou sócio honorário lá, fui presidente duas vezes, fui do conselho fiscal. É um clube bem, está bem arrumado, tem a bola própria deles lá. E tem a vida social, a molecada lá não dormia no ponto não, trabalhava, mas chegava domingo jogava futebol ou fazia um baile. Eu me lembro de fazer baile no clube naquele tempo sabe o que fazia? Às vezes custava fazer uma matinê, parece que era 40 mil réis, era um (_____ ?), está vivo. Eles cobravam 40 mil réis e uma cerveja para o músico. Então nós diretores se cotizava para depois cobrar 50 centavos para o social para poder movimentar. E movimentava mesmo. Então tinha baile, a vida não é ruim não, a minha infância e a minha juventude também não foi má era difícil financeiramente, mas para viver eu tenho saudade.

P - Tinha muito namoro, muita paquera?

R - Isso sempre existiu, evidentemente às vezes você paquera uma e casa com outra. Eu gostava de uma moça e casei com outra.

P - Onde conheceu a sua primeira mulher?

R - Em Sorocaba mesmo. Por incrível que pareça eu gostava de uma menina que se chamava Maria Fernandes, ela deve estar em São Roque, eu nunca mais a vi. Trabalhava na Votorantim. Como tinha a praça lá de Sorocaba, na igreja, então tinha um largo no meio um coreto de banda. Então era o dia que você chegava lá a moça ia de um lado e o homens de outro, era assim que encontrava, era o centro da cidade. Mas quando chegava esse dia de domingo eu estava disposto de luxar com a moça lá, ela fazia que não conhecia. Um dia eu vi uma moreninha com a avó dela, num pasto que ela foi buscar lenha."É com essa mesmo que eu vou." E acabei namorando essa menina seis anos, o pai da moça não gostava que casasse, a mãe. Casei, um filho só, foi uma grande companheira, viu? Não me arrependi não.

P - Ela trabalhava aonde?

R - Votorantim. Elas são sete irmãs, todas trabalhavam na Votorantim.

P - E havia controle na fábrica para namoro?

R - Não. Geralmente não há porque você trabalha a contrato, principalmente na tecelagem é contrato, já na fiação não é por hora, então há sempre o contramestre, o mestre de olho mas você dá uma saidinha, você não tem controle, no que é proibido sempre se dá um jeito.

P - O seu contrato inicial, o senhor entrou garoto contratado com registro?

R - Com registro mas ganhando 75 réis por hora. O contrato era só na tecelagem onde tece o tecido é por contrato, quanto mais tecido você fabrica mais você ganha. Na fiação não é tudo por hora, 16 adulto, tudo por hora.

P - E como foi a evolução? O senhor falou que foi melhorando lá dentro, melhorando, depois de adolescente, o que alcançou?

R - Fui para tecelagem.

P - Que cargo foi?

R - Fui para tecelão. Aí naturalmente eu troquei o rinque pela tecelagem sem sair da própria indústria, quer dizer, aqui no rinque eu trabalhava das 5 horas às 2 e lá eu fui na tecelagem trabalhar das 2 às 10, segunda turma. E de lá a tecelagem lá em Votorantim em 1936 eu saí e fui para Santo Antônio em Sorocaba, tecelão, fazendo cobertor. E de lá quando eu vim para São Paulo, aqui em 38 no Lanifício Brasília aqui na Rua Siqueira Bueno, tecelão. Mas aí eu comecei a estudar na Escola Dr. Júlio de Mesquita em Santo André para técnico, me formei, não dava oportunidade aqui, já fui lá para Rua da Moóca numa tecelagem tomando conta.

P - O senhor tinha tanta experiência e ainda foi fazer escola? Quer dizer, tinha ainda coisas para aprender?

R - Ah, sim. Tinha a parte técnica porque aí geralmente a diferença é do dia para a noite. Ser tecelão só tem obrigação de fazer tecido e bem feito, não ter aquele fio quebrado, aquela coisa toda, perfeito. Agora até você pegar uma amostra, analisar e saber o desenho que é, tirar o desenho e tirar matéria-prima e procurar quanto custa um metro linear ou um metro quadrado e o custo, é diferente. O técnico tem que conhecer tudo isso.

P - Como é o dia-a-dia do trabalho do tecelão?

R - O dia de trabalho você chega no trabalho lá, saí outra turma se tiver turma, se não tiver é só você. Quando eu trabalhava na Santo Antônio era só uma turma. Então o tear que eu estava espulindo era o meu tear, eu chegava lá e a espula e tocava lá. E saía os metros e tinha uma caneta onde marca os metros que você faz para fazer a conta para te pagar, isso é comum. É a mesma coisa que uma costureira quando trabalha por peça, quando trabalha por peça mais ela ganha, a tecelagem é a mesma coisa, não tem problema nenhum, tudo é contrato. Inclusive, uma vez eu trabalhei em São Paulo aqui numa firma e era tudo por hora, o gerente era um hungarês, fugiu da guerra. Eu falei: "Irco." Ele chamava Irco. "Mirco, precisa pôr essa gente a contrato." Era um trabalho que às vezes a cada sete metros trocava de artigo, era tudo tapeçaria. Aí ele falou para mim :"Estuda uma tarifa." Eu estudei uma tarifa aí a produção dobrou, quer dizer, o tecelão passou a ganhar, produzia muito mais. Se você pôr por hora, o que acontecia quando estava por hora você era obrigado a ir toda hora atrás dele que estava no banheiro fumando. Oh, não dá. Agora quando você põe a contrato você vai no banheiro quando tem necessidade do contrário não vai porque não está ganhando. Então tem certos ofícios, certas profissões que você tem que estudar uma maneira de como produzir mais em benefício da empresa e em benefício também do empregado, certo? Pode perguntar.

P - Voltando à Votorantim antes de vir para São Paulo, participou de algum movimento sindical? Houve algum movimento que marcou, que parou, greves?

R - Eu participei de diversos, o sindicato em Sorocaba, vamos dizer, porque Votorantim era Votoratim mas faz parte, hoje ela é independente mas antigamente pertencia a Sorocaba. E eu participei de diversas greves, numa greve das 10 horas porque nós trabalhávamos 10 horas por dia, um tempo. Houve uma greve, inclusive me recordo que me mandaram embora. Só que não me desligaram de uma vez porque o meu pai trabalhava de chefe de trem na estrada de ferro, conversou e eu voltei a trabalhar. Essa é uma. Outra por aumento salarial. E essa de aumento salarial marcou muito, o sindicato era em Sorocaba não sei se é hoje, Fiandeiro. E Sorocaba era difícil parar a fábrica Santa Maria, Santo Antônio parava mas tinha outras que não parava, Votorantim então era maior. E um dia cismaram de vir de Votorantim a Sorocaba em passeata. E veio lá 2, 3 mil empregados e família das duas vilas que tinha em Votorantim que eram grandes, duas vilas grandes de operários que tem lá. Hoje são proprietários, venderam, mas as vilas estão lá. E justamente passam numa rua, Neverton Prado, encostado a Santa Maria. Evidentemente Santa Maria estava guardada de soldado tudo em volta do muro. O pessoal não ia perder a oportunidade de fazer um comício e o patrão na fábrica, arrancou o revólver, deu um tiro e matou um operário. No dia seguinte veio o enterro de Votorantim, parou lá e aí tinha uns três anarquistas de São Paulo lá, isso sempre existiu. O comício não apareceu, nem a polícia enfrentou, no cemitério então vou te contar, mataram e ficou por isso mesmo, um tal de Dr. Carlos era o dono de Santa Maria. E isso marcou bastante.

P - Em que ano foi isso?

R - Ano é muito fácil, mais ou menos foi em 30, 35, 31, 32 mais ou menos, marcou. Evidentemente a gente era sócio do sindicato lá, agora quando eu vim para cá fiquei sócio no Fiação e Tecelagem na Rua Oiapoque. Mas aqui existe naturalmente dois sindicatos, tem um sindicato têxtil que é filiados os tecelões e fiandeiros, existe o sindicato de mestre e contramestre que é mestre, contramestre, gerente, técnico e tudo que exerce função de mando, só que esse de mestre e contramestre é o sindicato base estadual. Bom, até que eu nem passei a ser contramestre eu era filiado a Fiação e Tecelagem da Rua Oiapoque. Quando eu passei a contramestre fui transferido para lá. E fiz minha vida lá brigando lá sempre e fui suplente diversas vezes. E depois em 1955 eu perdi uma eleição por 359 votos, no Estado.

P - O senhor perdeu?

R - Uma eleição, encabeçava a chapa de oposição.

P - Candidato à presidência?

R - E já naquela ocasião, antes eu tinha ido em Genebra, passei lá 15 dias em Genebra no Quarto Congresso Têxtil, viajei um pouco. Aí quando foi em 57 me convidaram para ser tesoureiro. Fui tesoureiro, fui reeleito, porque naquele tempo era dois anos o mandato. Depois de quatro anos, duas gestões fui eleito presidente, fui reeleito até 5 de abril de 1964, aí me cassaram o mandato. Aí naturalmente eu peguei a minha carteira profissional a primeira, somando tudo dava 36 anos e meio de serviço. Eu falei: "Vou aposentar porque ninguém vai mais dar serviço". Aposentei. Mas não deixei de ir no sindicato, mesmo com a intervenção eu estava lá. A primeira eleição que teve em 65 derrubamos o interventor. Eu viajava para o Interior porque o sindicato dos mestres e contramestres tem 13 subsedes, tem subsede própria em Tatuí, tem subsede própria em Sorocaba, tem subsede própria em Americana, tem em São Carlos, tem em Ribeirão Preto, tem em Jundiaí, tem Piracicaba, tem São José dos Campos, Taubaté. Eu viajava para fazer a propaganda para derrubar o interventor de chapéu e óculos porque eu tinha uma IPM nas costas, fui absolvido mas o negócio não estava bom do meu lado. Naquela ocasião de ser absolvido a Folha pediu prisão preventiva para mim, para o secretário e para o tesoureiro, aí eu me arranquei para a Serra do Mar e fiquei lá uma semana. Depois não aceitaram a denúncia e eu voltei. Porque a liberdade não tem preço meu amigo, o negócio é não ser preso porque você até justificar você desaparece. Mas derrubamos o interventor.

P - Em 65?

R - Em 65, primeira eleição que houve derrubamos o interventor.

P - E foi para a Serra logo depois disso? Para a Serra do Mar?

R - Foi justamente antes de derrubar o interventor.

P - Foi antes?

R - É lógico. Evidentemente que a Folha deu pediu prisão preventiva para mim, Sílvio Aguilar e Moacir Quiavenac, que era o secretário eu falei para o Sílvio: "Sílvio, onde nós vamos?" "Ou vamos para Peruíbe ou vamos para a Serra do Mar que tinha um sítio." Fomos para a Serra do Mar, ficamos lá uns 15 dias e voltamos. Comia polenta, arroz, feijão e lambari que a gente pescava no rio. (risos) Tem umas coisas gozadas, lembra de uma fase, eu vou dizer outra coisa para vocês eu fui processado, sentei três vezes no banco dos réus, o presidente do Tribunal era o Tinoco Barreto, cada três meses trocava os planos de estrela, como qualificação, instrução do processo, fomos a julgamento os três sentados na primeira fila. Mas eu tinha a felicidade porque eu nunca fui filiado a partido nenhum.

P - Era isso que eu ia perguntar.. O senhor teve, nessa trajetória.

R - Eu nunca fui filiado a partido nenhum. Evidentemente que aquele sindicato comunista está defendendo uma coisa do trabalhador eu não sou contra eu não concordo com o partido de lá mas o que está defendendo é do interesse do meu subordinado. Nunca fui filiado.

P - E simpatizar?

R - Bom, simpatizar você pode simpatizar mas nada de... Eu sou daqueles que sou livre, está entendendo? Inclusive o que salvou nós também um pouco, o que interessava não é condenar, o problema era esse, condenar. Mas nessa temporada em que eu era diretor aquela coisa toda também pertencia a uma associação oculta que não tem segredo, Maçonaria, eu sou maçom, eu e o Moacir Quiavenac. E naquela ocasião em 64 eu pedi ao meu "quint place", a minha loja, a liberta porque na hora que eu precisei, eu nunca precisei, caíram fora, viu, o tal de maçom. Mas eu não posso negar porque o maçom é sempre maçom, ele está dormindo mas eu estava na casa 18. E na ocasião antes de julgar a gente não dorme com os olhos dos outros. Tinha um rapaz, um companheiro maçom também das Lojas Unidas de Santo André falou: "Vai lá no Hospital Militar que lá tem o diretor do Hospital, Dr. Ailton Astoli, ele é venerável de uma loja do Rio." Ah, foi eu e o Moacir que era dois maçons, o Sílvio não era. Fomos lá e justamente dei de cara com o Capitão Sebastião que fazia parte da comissão dos militares que estava me julgando: "Eu quero falar com Aílton Astoli." O ordenança foi lá, encontrei, deu sinal para ele, com o sinal na mão, falei: "Isso e isso". "Pode aí depois você me contar." No dia do julgamento a casa estava assim de jornalista no Tribunal Militar aqui na Brigadeiro Luís Antônio, sei lá, estava o meu pai e a filha desse Moacir só família. Aí eu vi lá o promotor que é o homem que ataca, abriu o trabalho e fez um discurso curtinho, pelo o que ele leu o cara que era denunciante contra mim ele fez depois uma carta me favorecendo. E falou para o Conselho Militar: "Espero que o Conselho faça justiça, só isso." Então o advogado de ofício falou, nós tínhamos dois advogados, um era sobrinho do falecido Cabana, que a turma se cotizaram para arranjar um dinheirinho porque não tinha dinheiro para pagar. Aí terminado de falar ele falou para nós: "Vocês aguardam na sala de espera, não vão embora para não menosprezar o Conselho." Se eu quisesse fugir eu fugia, fiquei lá. E aí abriu a sala e foi todo mundo lá ver, fui absolvido por quatro a um.

P - Qual era a acusação?

R - A acusação é que eu era subversivo. E a minha mulher ia ser a primeira dama do país. Você precisa ver os jornais, eu tenho os recortes de jornais até hoje, dá risada. E a imprensa é dura, a imprensa para mentir é fogo, viu? Eu tenho até hoje os recortes. E já nessa ocasião que fui julgado eu já tinha derrubado o interventor, lá entrou no Belenzinho no sindicato e só achou bomba lá em cima. Eu falei com os meus botões: "Coitado do próximo." Sabe quem era o próximo? O Luís Tenório, 30 anos de condenado. Mas fez seis anos nem isso porque o sujeito quando é condenado ele não fugindo recorre, agora se fugir azar dele. Então tem essas passagens como sindicalista.

P - E depois disso não voltou ao sindicato mais?

R - Não, nunca mais. Voltei, não saio de lá, mas acontece que naquele período eu era professor de ATX, tenho carta de professor, fiz exame na Secretaria de Ensino para ter carta de professor O diretor da escola ficou doente, morreu e eu precisei substituí-lo então passei a ser diretor da escola. E tinha um rapaz que era um assistente aqui e dava aula aqui, eu dava aula em Americana, eu dei aula 12 anos em Americana. Eu ia toda segunda-feira, dava aula segunda e terça, pousava lá e vinha embora quarta-feira. Depois o rapaz aqui acertou, ele foi morar para Santos, era aposentado e agora? Então deixei um assistente meu lá em Americana que continuou dando aula lá em Americana e eu dou aula aqui segunda e terça. E a última segunda-feira do mês eu vou lá fazer a vistoria porque sou eu o responsável da escola também lá. Mas eu nunca deixei, eu moro lá perto também eu nunca deixei, não. Mesmo na intervenção um tal de Atílio Barão eu fui em assembléia, ele nem sabia nem como aumentava a mensalidade "Como é que faz?" "Conforme for aumentado a porcentagem da categoria o senhor aumenta a mensalidade." Estava no estatuto. Mas eu enfrentava o cara, eu não devia nada, sabe quando você não deve não teme agora quando você tem o rabo preso você fica meio... Não.

P - O senhor falou do caso da morte daquele rapaz lá ainda em Votorantim.

R - Certo.

P - Quais outros momentos de greve nos quais houve enfrentamento com a polícia ou um momento marcante que o senhor tenha participado?

R - Aqui em São Paulo a gente teve uma greve em 59 e nessa greve se não me engano o governador era Jânio Quadros. E nós então, geralmente as categorias tem por princípio, como agora está iniciando, reunir com os empregadores para fazer um acordo amigável porque sempre se conversando chega a um bom entendimento e vale muito melhor que judicialmente. Quando não se consegue amigavelmente se convoca uma mesa-redonda na Delegacia Regional do Trabalho. Não conseguindo pela legislação anterior você pode decretar uma greve, ex-ofício. Então foi decretado a greve, metalúrgicos de São Paulo, gráficos de São Paulo, couro e curtume de São Paulo, fiação e tecelagem de São Paulo e mais cinco categorias, 500 mil parou. Mas antes de parar, aí os metalúrgicos quebrava tudo, Jânio Quadros chamou nós no palácio. Fomos lá saber o que quer o Jânio Quadros, (______ _____?), ele tinha algumas virtudes, ele era um ditador mas tinha algumas virtudes. Então ele falou, estava a Ivete Vargas aí. Naquele tempo o delegado regional do trabalho era Dr. Moura, era um que tinha o cabelo branco, sabe? Chamava "bode desmamado", a Ivete Vargas, o "bode desmamado" e era para ir também outro que foi delegado, não quis ir porque era atrito, fomos até o aeroporto, fomos para o Rio falar com Juscelino Kubistchek, era um dia de audiência para os deputados e fomos lá no Catete. Em três, eu, Aparecido Remo Forte, do metalúrgico, quem era o outro? Abílio Lucassade que era presidente dos gráficos, fomos os três. Aí a situação, o Juscelino falou para mim: "Vocês podem sustar a greve", aquela coisa toda, aquele homem foi um danado. "Já teve uma greve aí que a Vossa Excelência pediu para que fosse sustada e nós sustamos, que ia congelar dez artigos de primeira necessidade mas não foi congelado, portanto não há condição." Trouxeram um cafezinho para nós e jogamos fora: "Vossa Excelência não vai nos comprar com um cafezinho paulista" E tinha um deputado lá assistindo o nosso diálogo lá com Juscelino. Juscelino, para mim foi o melhor presidente que houve no Brasil. O cara era um mineiro mas era um mineiro fora de série. Saímos lá fomos com o Lott, o Lott era o ministro da guerra e aquilo chacoalhou bem por causa de quebrarem aqui. (risos) Viemos para São Paulo. Eu acho que fiz confusão, teve outra greve que acho que fomos em cinco. Bom, viemos falar com Jânio Quadros. Jânio Quadros levantou, sentou na cama para falar com nós, nós saímos estava estourando a greve no dia seguinte. E teve uma outra, por isso é que eu estou fazendo confusão, teve uma outra que nós fomos em cinco, o metalúrgico foi o, puta merda, agora me falha a memória, já faleceu também os dois. Fomos em cinco, foi um do couro e curtume, foi também esse que já faleceu Francisco Teixeira dos Têxteis, Dante Pelacane, e o do metalúrgico era um moreno, secretário. Tivemos falando com o ministro (Parsifal, Oficial?) Barroso, a mulher dele era aquela cearense, dizia: "Oh, Porfíriozinho nunca perdeu nada." Nós saímos de lá e naquele tempo não tinha essa estrada para vim, não tinha teto aqui em São Paulo e fomos desembarcar em Campinas. Então pegamos dois carros, vinha Ivete Vargas também, o secretário do Trabalho e nós no outro carro. Quando chegou naquele túnel, quando vinha de Campinas antigamente tinha que passar no túnel debaixo da estrada de ferro, tinha dois tira. Então nós conhecia, a primeira garagem que saímos aí paramos telefonamos para os gráficos "Nós já chegamos, se não chegar aí é que nós fomos presos." Então tem umas passagens muito boa que a gente lembra. A maior parte já faleceu caramba. Falta eu falecer também porque está acabando tudo.

P - Quais eram as tendências que predominavam no movimento sindical daquele período?

R - Bom, aí geralmente haviam diversas tendências porque analisando bem eu observei logo que vim em 38 aqui para São Paulo que o que preponderava em São Paulo era o anarquismo. E o anarquismo quem trouxe aqui para São Paulo, para o Brasil sabe quem foi? Os italianos, e davam muito no sindicato dos gráficos. Então havia uma mistura, por exemplo, o (_____ _____?) tinha que era o meu primo já falecido Antônio Chamorra, primo-irmão meu, que era um líder comunista. Então misturava tanto comunista como anarquista. Agora evidentemente que para eles no momento de uma greve que eles estavam por cima então quanto pior melhor, sempre foi assim. Está que nem o PT agora que não diz que é comunista mas puxa para uma política que para eles quanto pior melhor, caramba Está certo que você é contra aquilo que está errado mas tem projeto que é favorável você deve votar favorável. Você vê, eu não sou petista, o meu filho é roxo. Mas tem um deputado do PT que eu gosto, Genoíno, ele é do PT mas ele é um cidadão que quando ele fala ele é ponderado no ponto de vista dele, mas tem uma turma aí que. Mas sempre preponderava no movimento sindical sabe como é? É a esquerda.

P - E dentro do seu sindicato como era? Qual a tendência mais forte?

R - Bom, a mais forte é a direita.

P - Direita?

R - Direita. Sofreu intervenção porque nós era mais de esquerda. O tempo que foi fundado o sindicato era direita, Fernando Garcia já morreu. Então não teve eleições no Brasil desde 40 até 50, depois de 50 é que teve a primeira eleição no sindicato mas sempre mantinha aquela turma ligada com Sesi, companhia aberta. Sesi é patronal. A gente respeita os organismos patronais mas não vamos aderir a eles porque estamos defendendo o trabalhador, tem que ficar para defender os direitos do trabalhador não interessa a questão ideológica, é outros 500 cruzeiros. Mas sabe que o pessoal de esquerda é aquele negócio quanto pior melhor para eles, eles ficam sempre sorrindo.

P - Quais as conquistas mais importantes obtidas durante esse período todo de luta sindical?

R - Geralmente todas as vezes que estivemos em greve foi atingido um objetivo não como desejado mas sempre satisfazendo em parte o trabalhador que produz e que faz a grandeza desse país. Eu vou dizer para você o seguinte, numa ocasião nós fizemos uma greve e aqui o Tribunal julgou 17% de aumento, os empregados recorreram para o Tribunal Superior, ainda era no Rio de Janeiro. Fomos lá para o dia do julgamento, eu me lembro que eu até estava doente, estava deitado num sofá. E o presidente do Tribunal Superior antes de iniciar a sessão estava tudo cheio de policial com metralhadora para nós. E lá de 17, não aqui foi 21 baixou para 17 e ainda pôs uma cláusula, veja bem a cláusula: "Toda empresa que tiver insuficiência econômica fica desobrigada a pagar." Ah, pelo amor de Deus Todo ano ele vai alegar isso aí. Mas todas as greves foi possível, evidentemente foi por natureza com interesse de melhorar a situação daquele que trabalha e produz. Esse é o objetivo. E esse sindicato que é honesto, a tendência sindical, hoje a maior parte é desonesto. Desde 64 para cá você vê que eles fazem de noite uma assembléia lá às 10 horas que tem meia dúzia, era três anos o mandato agora é quatro e outro é cinco. E tem uma bobagem na Constituição, que fizeram aquela Constituição puseram lá a liberdade sindical de uma maneira que ninguém obedece ninguém. Dá direito a um grupo qualquer de chegar aí num canto, fazer um estatuto, fajutar uma assembléia e vai a um cartório e registra o sindicato. Não dá, né? Você vê sindicato hoje, vão me perdoar, falta só fazer de prostituta e dos gays. Não pode. Se você analisar bem a vida do sindicato está uma podridão. E eu não vou tirar nem o sindicato que eu pertenço não, todos eles são iguais. Nós, antigamente aqui no sindicato dos mestres e contramestres, ainda tinha um lema: nenhuma diretoria mais do que dois mandatos, cai fora, está com três anos de mandato, diz que é ele, é ele e acabou e não aparece o pessoal da ativa para fazer uma oposição. Aí o pessoal vai entrar para fazer oposição? Não. "O cidadão é bom para mim, me trata a pão-de-ló." O pessoal da ativa é que é o culpado. Então está como que eles querem. Eu não vou bancar o herói sem vantagem nenhuma. Mas, é muito boa a vida sindical.

P - Bom, voltando um pouquinho.

R - Pode voltar.

P - Quer completar mais alguma coisa?

R - Não, pode continuar.

P - Pensando no tempo em que o senhor esteve na ativa o que viu de grandes mudanças que foram melhorando a vida do operário ou até da indústria no sentido de mudar a sistemática de trabalho?

R - Essa é uma pergunta muito importante, para mim é a melhor de todas. Analisando o passado da indústria têxtil para comparar com a atual é o seguinte: a nossa indústria antigamente, a têxtil era nacional era a maior indústria do país e hoje ela está assim pequeninha porque os grandes industriais que fizeram fortunas, dizia um que foi presidente e que não estava errado, que nossos industriais eram selvagens, é mesmo, ganhavam 300%, tinha aquela inflação que o sujeito tinha um capital para empatar, tal e coisa, no dia seguinte era milionário. Tudo ia bem, porque a inflação só prejudica aquele que trabalha aquele que está lá em cima cada vez está mais milionário. Então grandes empresários hoje trancaram suas portas e vivem de aluguel de seus imóveis porque não dá para ganhar mais 300%, vai dar 30, 40, eles não concordam. Então diminuiu os grandes industriais nessa parte e o governo pela conjuntura econômica ele é obrigado a importar tecido para que os tecidos daqueles que fabricam aqui não vá lá em cima, para controlar porque senão inflaciona mesmo. Isso ele não só faz no tecido como outra qualquer mercadoria, importa mesmo. Então tem um porém, o trabalhador tem razão, dá trabalho lá para um chinês, para um coreano que trabalha 12 horas por dia a troco de banana, desemprega um brasileiro, esse é um fato. Segundo fato: tá crescendo prá cá já naquela ocasião em 1934, 36, já a Votorantim naquela ocasião importou técnicas italiana e a operária que tocava quatro tear passou a tocar 20, procurando automatizar. Adaptou-se aquela que, uma empregada só tocava quatro máquinas, quatro tear passou a tocar 20. Mas, de lá para cá não parou porque veio as máquinas modernas em que a indústria hoje não precisa mais espula, não tem mais lançadeira o tear, tem diversas máquinas, tipo de tear, um por projétil ou por pinça. Então um tear que tocava uma rotação por minuto e 150 rotação por minuto hoje dá 200 até 300 rotação por minuto. Então você vê o fio lá e o rolo aqui em baixo e tecido saindo pronto. É coisa fora de série. Então o que aconteceu? Grande parte também, o que aconteceu? Naturalmente se eu tenho uma indústria, tenho 100 empregados, se eu automatizo as máquinas, diminui 50% dos empregados, e os outros 50% onde ficam? Aí vai dando um jeitinho para a rua, rua. É como a informática, mesma coisa, mas na indústria têxtil, na automobilística é a mesma coisa. Agora eu pergunto para você o seguinte: aumenta a produção vai vender para quem? Você está desempregado. É aquele caso que o sujeito perguntou lá no carro: "Vai vender para os robô?" O próprio Vicentinho, que é o líder da CUT, diz que há dez anos atrás tinha o dobro de empregados, hoje tem a metade e produz muito mais, que é tudo com robô. Agora quando tiver carro sobrando lá vai vender para os robô? Assim é o tecido. Então a automatização você não pode ser contra ela porque o ser humano, ele pensa e pensa e inventa uma coisa para melhorar, para facilitar o emprego, o esforço físico seu. Só que aí infelizmente no regime capitalista que nós vivemos só dá desemprego. Isso não é só no Brasil, é Argentina, Paraguai, Uruguai, é Itália, Espanha, Estados Unidos, tem desemprego, Estados Unidos tem 5% de desempregado atualmente lá, Espanha também tem. Porque é a modernização, então começa a sobrar mão-de-obra. E no regime que nós vivemos qual é a solução dele? Faz uma briguinha com a Argentina, vai pôr lenha na fogueira, matar (_____?). Ao passo que se você analisar e pensar com calma, com ponderação, bom, você inventou uma máquina que tocava um, tocava 10 máquinas porque não põe duas turmas, porque não põe três, porque não diminui de oito horas para seis. Se não dá seis para quatro põe o cara trabalhando que ele também goze o lazer, o desgaste que tinha, quando não tem desgaste vive mais anos porque tem menos desgaste físico. Você acha que o regime capitalista faz isso? De jeito nenhum. Não sei muitas vezes me pergunto, a gente conversa com alguns alunos: "Qual será o fim disso, meu Deus do céu?" Eu não vou assistir, você não pode ser contra a automatização mas e o desemprego? Você vê na lavoura, a televisão deu, o sujeito lá cortando cana lá uma máquina que foi importada lá na usina o cara já corta a cana, aquela máquina que o sujeito está trabalhando já corta em pedacinho e limpa tudo. Daqui a pouco vem uma máquina que já sai a cana cortada e já sai o açúcar já lá na frente. E quem foi beneficiado com isso aí? Só o poder econômico. Por que não divide um pouco o esforço e mantém essa gente trabalhando? Bem, companheiro, eu fico triste, viu? Eu sou favorável à modernização mas fico pensando: "Qual será o fim nosso, meu Deus do céu?" Não sei, hoje você vê um tear evidentemente tem um porém, falando de teares, em tecidos, os automáticos, o empregado toca dez teares quando faz aquele artigo, é aquele artigo só, viu? Está entendendo, um artigo de lei ainda precisa procurar aqueles teares antigos para fazer. Esse é grande produção mas (stand?) é aquilo só.

P - A qualidade não é a mesma?

R - Não, não, não pode ser é a mesma, de jeito nenhum. De outra parte para complementar essa fase, nós tínhamos antigamente fibras vegetais, tinha o algodão, cânhamo, a juta, o linho. Dos animais: a lã do carneiro, o bicho - da - seda, que é extraído do bicho mole do casulo. E já há muitos anos isso, a mais de 60 anos, já então tinha descoberto e estava trabalhando aqui no Brasil com a viscose e o acetato, são fibras sintéticas. A viscose é composta de celulose, pode ser de madeira, pode ser do linte de algodão, porque tira do algodão e aproveita e tira a celulose e fabrica a viscose. Já o acetato não, é por processo químico é formado pela acetona, tanto é que se você tiver um vidro de acetona e tiver uma moça no ônibus vestida só de acetato você joga aquele negócio fresquinho nela você deixa ela sem roupa, abre tudo. (risos) Se é de acetato, que é composta quimicamente de acetona. Muito bem, isso existia, depois inventaram o nylon, já extraído de produtos do petróleo, o resíduo que tira para o nylon. Depois do nylon veio o acrílico, que o acrílico imita bem a lã, você não sabe se é lã ou acrílico. Eu tenho uma blusa lá que a mulher me deu de acrílico não esquenta nada, isso aqui esquenta, tem mais lã. E o poliéster, tudo extraído a base do petróleo. Então são fibras mais resistentes do que as naturais, elas não quebram tanto quando está fazendo o tecido, elas são mais resistentes, você entendeu? Acontece, uma ocasião em Americana que eu fui visitar a Polianca, que é uma fábrica de fibra sintética, o poliéster, uma grande fiação, com os alunos e geralmente quando há essas visitas nessas grandes indústrias antes de você visitar a fábrica eles fazem um simpósio que nem nós aqui: "Esta fábrica tem tanto disso, mantêm tanto empregados, tantas famílias, fabrica-se fio tal e tal," aquela história toda. Depois o engenheiro se põe à disposição para os alunos fazerem diversas perguntas para responder. E quando tem sido essas entrevistas acontece geralmente que os alunos são mais tímidos e a gente como é professor sem vergonha, cara-de-pau, então pergunta para abrir as brechas e aí francamente os alunos também entram. Eu perguntei para os engenheiro: "Me diga uma coisa: o senhor acha que é saudável essa fibra sintética poliéster para a saúde?" Como se diz: "O ministério mundial aprova?" E o ministério mundial o que é? É o poder econômico, tem que aprovar mesmo. Eu digo: "E para a saúde?" Ele tinha lá uma meia o cano era poliéster mas o pé era algodão, você entendeu? Porque não é transpirável tanto que nem o algodão, que é uma coisa natural. Você compra uma blusa hoje de poliéster fica com raiva de usar, ela não acaba, não acaba não. Então eles usam mistura, que o certo para você fazer o poliéster, se vai fazer com algodão a média certa é colocar 67% de algodão e 33% de poliéster, se é na lã é a mesma porcentagem. Só que você verifica hoje, eu vejo lá com os alunos, tem um monte de coisas, você se perde para descobrir qual é a matéria-prima daquela amostra que você quer analisar. Porque às vezes o (_____?) lá que está fazendo pôs 50% de poliéster, 50% de algodão, interesse financeiro, verdade. É uma loucura. Agora com tecido é muito mais durável a fibra sintética, do resto ele faz aquele polipropileno que vai para a sacaria, você já viu aquela sacaria? Isso de lá para cá o progresso tem sido, bom, do dia para a noite, só que tem sido benefício só de uma parte a outra parte vai pastar mesmo. Eu não desejo que aconteça isso mas vai acontecer. A não ser que ele faça aquilo que eu falei para você de início que eu também não desejo. Mas você sabe que o capitalismo faz isso, joga um lá porque gente tem que está sobrando, estoura mais uma bomba atômica para ver se morre um pouquinho de gente. É uma pena Porque se fala tanto em progresso, em estudo, em modernização e às vezes acaba numa situação que a gente não desejava para ninguém, eu não desejo para ninguém.

P - E seus alunos, que mercado de trabalho eles têm hoje?

R - Está muito ruim, muito péssimo, inclusive, teve anos que nós tínhamos 30, 40 alunos hoje eu tenho 11 alunos e vá lá. E Americana que é um setor de grande indústria também está lá com 11 alunos. Perde o estímulo, estudar para quê? Antigamente não só São Paulo Sorocaba tinha tecelagem até de fundo de quintal. Daí a pouco já estava desenvolvendo. Eu conheci tear de madeira que você aqui punha o pedal, jogava a lançadeira, com a rodinha embaixo. Aqui em São Paulo eu conheci, na Moóca, tinha uma tecelagem que tinha tear mecânico e tinha uns tear de madeira que fazia aqueles chenilo para arreio de cavalo. Tinha dois rolos puxava, fazia aquela fileira e cortava. Eu até lembro tinha um tecelão, não me lembro do nome dele, mas era mudo, ele trabalhava bem, esforçado. Então tem coisas na indústria têxtil, você não vê a informática, os bancos está reduzindo mais que pode. Eu tenho uma nora, casada com esse meu filho, que eu falei único filho que eu tenho, ela trabalha no banco, ela tem viajado para o Rio, para tudo quanto é lugar, Rio Grande do Sul com a equipe, pondo a informática lá, o computador para os negócios diminuirem. Dureza. Vai perguntando gente, eu não pedi água ainda. Está aqui.

P - Senhor Ignácio, voltando um pouco para a sua vida pessoal.

R - Pode voltar.

P - Eu queria que me contasse como o senhor foi casado uma vez depois se casou pela segunda vez e um pouco dessa história, como conheceu a sua segunda esposa...

R - Isso não é história é verdadeiro.

P - História real.

R - Realmente, eu conheci uma garota chamada Maria Assunção Prata, ela devia ter uns 17 anos, eu namorei quase seis anos e no fim nós casamos. A mãe não gostava de mim, não é que ela não gostasse é aquele tipo pai espanhol, mãe também espanhola e nós éramos brasileiros queria que a filha arranjasse um milionário. A filha, ela gostava de mim então casamos. Casei lá no civil e vim embora para São Paulo fiquei passando aí alguns dias na casa do meu tio depois fomos embora. Trabalhando, passaram lá nove meses, um ano nasceu esse moleque. Aí ela trabalhava lá na Votorantim, levava o moleque, tinha a creche quando ela saía pegava o moleque e vinha embora. E eu trabalhava lá na Santo Antônio. E depois de um ano mais ou menos nós viemos embora para São Paulo. E junto com a minha companheira, moramos numa vila que inclusive eu ganhava mais mas a minha senhora era boa tecelã então levava o moleque e deixava na casa da minha mãe, a minha mãe vivia aí e ia trabalhar numa tecelagem e eu na outra. E assim fui levando a vida até que eu melhorei quando passei a ser mestre de tecelagem, fui fazer técnico aí estava melhorando e trabalhando mais. Mas mais ou menos depois de uns 16 anos de casado essa minha primeira esposa, ela sofria do coração, descobriu o coração dilatado. Então durante todo esse tempo a gente evitava filho e se calhava precisa tirar porque senão... E tinha esse filho único como ele estava ficando grandinho e já não parava em casa e eu também ia trabalhar, às vezes ia para o sindicato e só vinha jantar. A gente como todo casal faz castelos:"Bom, quem sabe se vem uma menina, tem mulher que tem problema no coração e tem filho e serve de companhia para não ficar sozinha." Deixamos. Depois de sete meses ela não agüentou, veio para os Hospital Matarazzo, deu à luz uma menina de sete meses, a menina morreu eu dei o nome das minhas irmãs Maria Aparecida Picaso, depois de 48 horas morreu a mãe também, no hospital. Eu e o filho torcendo ali. Ali ficamos vivendo os dois sozinho, o moleque estava fazendo o exército, inclusive, eu ia dormir quando o sono batia porque chegava lá no quarto tinha a fotografia da minha companheira aquilo dava um nó aqui na gente. Aí um dia o meu filho falou: "Pai," "O que é, Edmundo," "O senhor não acha que o senhor vem dormir muito tarde?" Eu não tive resposta ele estava certo, eu não ia fazer comentário que a foto está aqui no quarto, certo? Bom, ficamos lá vivendo sozinho, depois de uns cinco anos mais ou menos fomos morar com o meu pai e como eu tinha duas irmãs moças, ele era um molecão muito parecido, inclusive, acabaram brigando. Meu pai então ficou com as filhas, soltou os cachorros. Eu peguei e arranjei um cômodo em outro lugar e falei para os baianos onde trabalhava: "Vocês vão me ajudar a olhar a mudança." E fui embora. E aonde eu fui morar a vizinha, achei uma viúva na mesma situação minha, ela tinha a filha casada, tinha duas netas, ela morava com a filha e tinha mais dois filhos solteiros: um menino de 12 anos e um moço da idade do meu filho, chamava Reinaldo. Eu conheci a viúva e acabei casando outra vez. Falei com o meu filho: "Edmundo, o negócio é assim, assim. Você vai?" "Vou, pai." Quem sabe? O moleque já estava adulto já. Casamos, foi ele comigo e o moleque dela, o grandão não podia nem me ver, quando eu passava de noite e cumprimentava o boa-noite ficava no chão, o filho dela ficou noivo e falou que eu não podia ir, eu não fui no noivado dele mas depois que ele casou ele veio me procurar, precisava de dinheiro. E casei parece que foi em 1948, não 58, 1º de janeiro, vai fazer 36 anos que sou casado a segunda vez, não tive filho, fechei a tinturaria, acabou. Estamos levando lá os dois velhinhos, ela está pior do que eu, ela é um ano mais nova do que eu mas infelizmente deu aquela doença nos ossos que desgasta e é uma dor terrível E já procurou os melhores especialistas, falei para a neta: "Leva no melhor médico que eu pago." E já tomou aquele tubarão, importado, ela comprou um nacional diz que não deu resultado, é mais caro três vezes mas eu mando tubarão. E estamos ali, vive eu, ela e uma cachorrinha poodle.

P - E o filho casado?

R - Ah, o filho logo ele se casou, foi levar a vida dele, tem um casal de filho, cada um deu três netos para ele que são os meus bisnetos e da parte dela também tem mais seis bisnetos. Vamos levando como Deus quer.

P - A última pergunta que eu queria fazer é a seguinte: se começasse hoje, que trabalho escolheria?

R - Ah, voltava tudo no começo, fazia tudo de novo, fazia tudo de novo, tão gostoso correr atrás de uma bola, passar com um pão e mortadela, um sanduíche no domingo e ficar no campo o dia todo. Vou trabalhar. Ah, não tem o que pague não. Não adianta querer escolher isso, voltava tudo de novo, fazia tudo de novo. Só que a gente pensa bem que a gente é muito inocente naquela idade.Se você pode voltar com o esclarecimento que a gente tem hoje nós não voltamos a ser ingênuo, inocente e tudo. A vida é assim mesmo, não tem problema nenhum, para o que der e vier a gente está aí.

P - Agradeço muito, uma beleza de depoimento.

R - Não tem nada que agradecer, eu que agradeço a vocês, pode perguntar à vontade. Priscila, o que você quiser pode perguntar, eu falo mesmo. Muito obrigado a vocês.