Projeto História das Profissões em Extinção
Depoimento de José Duda Costa
Entrevistado por Cláudia Leonor e Paulo Tosetti
Estúdio da Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 16 de outubro de 1996.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº 28
Transcrita por Luciana Tosetti
P - Para c...Continuar leitura
Projeto História das Profissões em Extinção
Depoimento de José Duda Costa
Entrevistado por Cláudia Leonor e Paulo Tosetti
Estúdio da Oficina Cultural Oswald de Andrade
São Paulo, 16 de outubro de 1996.
Realização Museu da Pessoa
Entrevista nº 28
Transcrita por Luciana Tosetti
P - Para começar a entrevista diga o seu nome completo, local e data de nascimento.
R - Meu nome completo é José Duda Costa. Só que tem um porém: o meu pai era Floriano Duda da Costa. E eu tenho meu nome é José Duda Costa ou José Duda da Costa. Eu prefiro eliminar o da, para facilitar. Mas o nome certo mesmo seria José Duda da Costa. Mas o meu documento, a identidade, é José Duda Costa. Eu tenho uma série de documentos que estão um com José Duda Costa ou José Duda da Costa. Eu nasci no dia 20 de julho de 1934, na cidade de Garanhuns, estado de Pernambuco.
P - Como o Duda foi incorporado ao seu nome?
R - Olha, o meu pai era Floriano Duda da Costa, como eu já falei. E o meu avô era José (Celerino?)Severino? da Costa. Mas eu não sei o porquê que o apelido do meu avô era Duda. Inclusive, eu era criança, chamava ele de Papai Duda. Todos meus irmãos era tudo Papai Duda. Chamava o meu avô era de Papai Duda. E eu não sei como é que foi incrementado esse apelido ao nome da família. Então todos os meus tios, meu pai, tudo era o sobrenome era Duda da Costa. Quer dizer, o nome (Celerino?), que era do meu avô, aquele foi esquecido, foi banido. Eu não sei a razão, o porquê. Porque isso acontece até hoje, no Brasil inteiro. Eu até eu citei o negócio do Ribamar. Que o cidadão é Ribamar, de repente vira Sarney. Mas tudo bem.
P - E qual era o nome da sua avó, Duda?
R - A minha avó materna era Maria Pastora da Conceição. E o meu avô, como eu já falei, era José (Celerino?). Agora, materno eu não sei. Sinceramente eu não sei. Se perdeu e eu não consegui. Não sei por que, eu não tive acesso a esse daí. Que é, eu soube a história que o meu avô materno ele saiu de casa, não se sabe para onde, fazer alguma coisa, e desapareceu. Não sei o motivo e ficou por isso mesmo. E a minha avó materna ela era, nós chamávamos de Cabocla, ela era índia. Dizem, não é? Eu não cheguei a conhecer, porque eu só conheci o meu avô paterno. O pai do meu pai. Agora, os outros não cheguei conhecer.
P - Como se chamavam os seus pais? E o que eles faziam?
R - A minha mãe chamava Maria Pereira da Rocha. Só que o sobrenome também da família dela era diferente. Ela era doméstica e costureira. E o meu pai era lavrador. Sö que ele tinha um, vamos dizer, um comércio, para a época era um médio. Porque ele tinha na casa onde a gente morava, ele tinha um armazém. Era secos e molhados. Mas ele, no armazém, ele comprava algodão, que eu lembro, milho, feijão e mamona. Aqui o pessoal quase nem conhece mamona. Ele comprava para negociar. E ele era marchante. Não sei se você já ouviu falar essa profissão, de marchante.
P - O que ele fazia?
R - Marchante é, aqui, é o açougueiro. Só que na verdade ele não era. Ele vendia, ele comercializava, porque ele vendia gado também. E ele tinha os empregados que abatiam. Parece que eram três cabeças por semana. Três reses. E tinha o meu irmão mais velho que trabalhava com ele e o meu tio. E os outros empregados que faziam o trabalho de matar o gado e preparar. E esse meu tio, ele fazia é... Lá usa muito, até hoje, a chamada carne de sol. Que não tem nada a ver com a carne seca que a gente conhece aqui, o jabá. A carne de sol eles pegam, não sei qual é a peça lá do boi, e eles fazem uma manta de carne e salga, depois põe no sol para secar, para curtir. Ela fica curtida. É uma delícia aquilo lá Eu não sou carnívoro, não como carne vermelha, tal. Como muito pouco. Mas aquilo é uma delícia Uma carne de sol com, aqui chama mandioca, lá é macaxeira, e manteiga de garrafa, é um negócio sensacional Pode crer.
P - O senhor ajudava a preparar?
R - Não, eu era muito criança. Eu só brincava. Nessa época eu só brincava. Ia para o sítio. Que eu era o caçula da família. E eu era muito mimado. Minha mãe era viva. Eu era muito, muito mimado. Isso eu reconheço. Eu falo assim para minha mulher, minhas irmãs também. Porque eu era, sei lá, uma criança assim um pouco diferente. Nunca briguei na minha vida. Nunca Nem de criança, nada. Nunca agredi ninguém, nunca fui agredido. E eu gostava de brincar. E tinha um sítio, próximo da casa da gente. E eu ia no sítio procurar ninho de passarinho, essas coisas. Mas não para maltratar, para nada. E tinha muita fruta. Mas fruta a beça. De tudo quanto era fruta que se imagina na época, tinha. E além disso tinha uma horta que minha mãe cuidava. Cenoura, rabanete. Toda essas coisas a gente juntava, porque lá não é hábito do pessoal de consumir esse tipo de coisa. Mas como lá em Garanhuns é muito frio, é como São Paulo. E no sítio tinha pinha, coração-da-índia, que aqui chamam graviola, tinha jaca, tinha manga, tinha laranja. Enfim, tinha muita fruta, que eu não lembro tudo assim. Goiaba, goiabeira tinha muito. Banana, banana prata, banana comum assim, chamada banana nanica, cana de diversas qualidades. Porque a gente só conhece cana, mas tinha outras. Cana caiana, cana (fista?), cana (ovo de nambuco?), eles falavam que era uma roxinha. E outras coisas que eu não lembro agora. Maracujá. Muita coisa.
P - Com quem você brincava? E quais eram as brincadeiras?
R - Agora, as brincadeiras, uma delas brincava de "fubeca". Lá chamava "chimbre". Sabe aquele jogo "fubeca." Bolinha, bola de gude. Cada lugar tem um nome: bola de gude, "chimbre," " fubeca." Brincava um pouco com aquilo lá, brincava de fazer carrinho, brincava com cavalo de pau. Pegava uma taquara qualquer, um pau, e saía correndo montado naquilo lá. Agora, tinha uma coisa interessante, tinha o cavalo de pau e tinha a mula. O que chama mula, lá é o burro, o burro era diferente. A gente pegava uma palha de coco e cortava ela. Quebrava a ponta da palha para fazer a cabeça do burro. E punha um barbante, uma coisa, para fazer. E deixava duas palhas assim, fazia as orelhas. Era um negócio interessante de ver aquilo lá. E fazia aquilo, ficava encaixado naquilo, aí saía correndo. Aquilo lá era o cavalo da gente. Era uma das brincadeiras. Ou então rodar. As borracharias já na época, algumas, tinha aquela, corta o pneu e tira aquele arco do pneu. E pegava, rodava aquilo lá. Eu saía correndo. Era dessas brincadeiras. Um negócio totalmente inocente, sei lá, parecia que não fazia sentido, mas era bom para descarregar energia.
P - Eram quantos irmãos?
R - Nessa época que minha mãe era viva, eram seis. É. Era eu e mais um irmão do sexo masculino e mais quatro mulheres. Não, cinco. Sete, é. Uma era casada. Ela casou e faleceu logo na... Demorou pouco tempo ela faleceu, de casada. Mas além disso o meu pai criava, ele sempre criou filho assim adotivo de pessoa conhecida, pessoa muito humilde, muito pobre. E no momento, ele estava criando, quando minha mãe faleceu ele estava criando dois, um casal. A menina sumiu. Não sei o que aconteceu. E o rapaz ele mora aqui em São Paulo. Meu irmão adotivo, mas é, tem o nome da família, tudo. A menina não, não chegou a adotar o nome da família. Não sei o por quê. Porque meu pai, ele criava esse pessoal e quando eles estavam na época de trabalhar, de ajudar a família, ele devolvia. Ele criou acho que uns quatro assim. Ele não era tão ruim assim. Criava e depois devolvia.
P - Sua família tinha alguma prática religiosa?
R - Eram católicos. Todos eles. Não muito extremo, mas uns eram quase extremistas. Minhas irmãs, principalmente. Porque a cultura do lugar é propícia para isso aí. Mas eu, até eu brinco, é até um pouco arriscado, mas eu tive a felicidade de não professar religião nenhuma. Porque eu tenho um conceito diferente a respeito de religião. Então fica meio complicado explicar isso aí. Eu, quando vinha vindo para cá, o motorista me trazendo, eu estava pensando a respeito de religião. Porque eu vi na televisão uma propaganda de uma organização dessa. Vou até falar o nome, que é a Legião da Boa Vontade. E na Bíblia, porque eu também leio a Bíblia para conhecer um pouco mais. E tem um episódio lá na Bíblia que diz que o Cristo, num dado momento, ele foi questionado a respeito de um cidadão que estava possuído por entidades negativas. E aí chamaram ele lá, ele foi lá e espantou aquela entidade. Estava possuído por espírito mau, aquela coisa. E ele expulsou esse espírito mau do cidadão. E os espíritos saíram e entraram numa manada de porco. Está escrito na Bíblia, desse jeito. E perguntou, e aí disse que a resposta foi essa: "Legião é o meu nome." Mas eu acho que houve um lapso aí na tradução. Eu acho que eles omitiram uma letra: "Religião é o meu nome." (riso) Porque... Eu brinco assim, mas é um negócio tão complicado, ultimamente, que eu nem gosto de falar nisso daí. Mas, tudo bem. Eu não professo religião nenhuma. Respeito todas elas, eu brinco muito com coisas assim. Eu até brinco com o pessoal que vai lá em casa, principalmente Testemunha de Jeová. Eu pego: "Escuta, só quero que você me explique uma coisa: o anjo precisa de asa para quê?" Entre outras. Então o pessoal fica... Mas eu respeito muito. Eu acho que Deus é tudo na vida. Só que não o Deus que o mundo conhece. Porque o Deus que o mundo conhece é o dinheiro, infelizmente Mas, tudo bem
P - Além das práticas religiosas sua família tinha outros costumes? Como era o cotidiano da família?
R - Lá, o cotidiano eles sempre trabalhavam. Porque minhas irmã mesmo, todas trabalhavam na lavoura. Porque meu pai, ele tinha isso daí tudo, mas a educação era trabalhar. Meu irmão trabalhava. Quer dizer, cada um, eles tinham atividades diversas. Minhas irmã ajudavam. Uma, não a casada, a outra, ela era cozinheira. Ela ficava na cozinha porque ela não era assim chegada a trabalhar na lavoura, porque ela tinha a pele muito sensível, era muito branca. O único preto sou eu. Mas o pessoal era mais branco. Até uma irmã minha que está viva, o apelido dela é Nega. Porque moreno era só eu e ela. Minha mãe também era morena. Mas o resto, eles eram mais claros. E as outras, não. As outras ajudavam na roça e nos afazeres em casa também. Lavar louça, buscar água. Naquele tempo lá não existia água encanada. Então a gente tinha os empregados, mas elas também ajudavam a lavar roupa, buscar água. Esse tipo de coisa. E ajudar minha mãe naquela horta. Minha mãe, além de trabalhar em casa, também costurava, como eu já falei.
P - Você foi para o colégio? Chegou a estudar?
R - Não. Eu, infelizmente, não cheguei a estudar. Os outros estudaram. Mas, naquele tempo, era só o curso primário. Só que era um primário muito primoroso, sem trocadilho. Era bastante avançado. E eu não cheguei a estudar porque eu era muito criança e, antes de começar a estudar... Eu estudei pouquinha coisa assim, mas entrei na escola e não tinha nem noção de nada. Daí minha mãe faleceu, aí a coisa degringolou, aí complicou. Aí não tive mais chance. Só trabalhar. Logo que minha mãe faleceu comecei a trabalhar.
P - Sua mãe costurava?
R - É. P/2: Ela costurava em casa, ou era para fora?
R - Não, ela costurava em casa para a família inteira, e costurava para fora também. Tinha uns conhecidos, pessoal que mandava fazer calça. Homem e mulher. E ela fazia vestido, fazia calça para homem, camisa. Esse tipo de coisa.
P - Depois que sua mãe faleceu você começou a trabalhar?
R - Ah, imediatamente Foi a coisa... Quer dizer, antes dela falecer eu trabalhava, mas não é trabalhar. Eu ajudava, porque meu pai tinha açougue. Então eu ajudava a anotar alguma coisa. Porque eu sabia... Enfim, carregar, levar uma coisa para algum lugar, para outro assim. Mas era muito, muito pouco. Os outros, não. Os outros já trabalhavam mais. A minha função mesmo era brincar. Eu brincava muito. Ia para o sítio e esquecia da vida.
P - E quando a sua mãe faleceu, como você começou a trabalhar?
R - Ah, logo que ela faleceu meu pai ele começou a namorar com essa que se tornou esposa dele. E o sogro dele, o futuro sogro, tinha sítio. E eu comecei a trabalhar vendendo laranja na feira. Laranja e jaca. Eu ia no sítio desse futuro sogro do meu pai... Eu alugava um burrico, um jumento. Lá tem uma modalidade, um cesto que eles põe do lado. Eu enchia aquilo de laranja, e trazia e vendia aquilo na feira. Vendia a jaca. Até tem um detalhe. Você conhece jaca? Jaca, a gente ia na feira vender aquilo lá e, para a pessoa não grudar naquele visgo da jaca usava um pedaço de toucinho. Passava aquela gordura e não gruda o visgo. Era um negócio até engraçado. Um pano para o pessoal limpar a mão. E laranja. Vendia laranja. Comprava uma carga de laranja e vendia aquilo. Porque lá é diferente. Aqui eles compram laranja, banana, enfim, esse tipo de coisa por dúzia, ou atualmente, por quilo, não é? Lá era unidade. É uma laranja. Podia comprar quantas dúzias quisesse, mas tudo era unidade, na época. Até recentemente eu fui para casa... Eu estranhei, porque eu fiquei muitos anos sem ir para lá. Fiquei mais de 30 anos sem retornar. E quando eu retornei, eu estranhei porque continuava, eu tinha esquecido desses detalhes. Pedi uma dúzia e o cidadão falou: "Não é uma dúzia. É unidade." Só que foi interessante que numa dessas viagens, ele falou... Nós fomos comprar uma dúzia. Uma dúzia na época era mil cruzeiros. E 100 era três mil cruzeiros, 100 laranjas. Só que uma dúzia era escolhida, tinha que escolher lá. E 100 tinha que comprar assim, contando, simplesmente contando. É um negócio estranho Quer dizer, era muito mais vantagem comprar as 100. É um negócio diferente, os costumes diferentes.
P - Quantos anos tinha nessa época?
R - Da...
P - Quando começou a vender laranja?
R - É, tinha dez para 11 anos. Por aí. Dez, dez anos e meio, para 11. Vendia laranja.
P - De quem partiu essa idéia do senhor começar a vender laranja?
R - Aí é porque eu não tinha o que fazer em casa, assim de trabalho. E eu precisava de ter dinheiro porque meu pai não dava dinheiro. Quando dava era um trocado lá que não dava para nada. Então eu tinha que me virar, e já começar. Porque meu pai, ele, quando minha mãe era viva ainda, ele tentou botar uma roça para mim, mas não deu certo. (riso) Eu era inimigo do cabo da enxada. Não tenho vergonha de falar porque, primeiro, eu era muito criança, não tinha uma orientação, porque nunca tinha trabalhado, assim. Eu via aquilo lá, aquilo, não é que me espantou, mas eu achei estranho. Eu falei: "O negócio, o caminho não é esse. Vamos partir para outra coisa" (riso)
P - Descreva como era a sua casa, como era o bairro onde morava.
R - Nessa época eu não morava... Garanhuns, nota bem, a cidade de Garanhuns, eu não morava na cidade. Esse lugar que eu morava era retirado, pertencia a Garanhuns, agora se tornou independente. Morei, nós moramos em Garanhuns também, na cidade. Mas nessa época eu morava, que hoje em dia chama (Paranatama?) É, (Paranatama?). E é uma cidadezinha bem modesta, bem pequena. Eu morava ao lado da igreja. E a casa era uma casa muito grande. As casas lá, a maioria das casas são grandes, com bastante cômodos. Normalmente tem uma meia dúzia de quartos. Banheiro no quintal. Na época era desse jeito. Na época já existia bacia, a bacia do banheiro, que é diferente dessas de hoje. Sifonada, tudo direitinho. Mas já existia porque na época, na verdade, 95% ou mais das casas não existia esse tipo de banheiro. Era latrina. A diferença de um banheiro para uma latrina é um pouquinho grande. Você já ouviu falar, ou você já viu uma latrina? Latrina é um negócio diferente. Não sei se você já chegou a ver.
P - Não, não conheço.
R - Latrina... Na verdade, no dicionário, não é latrina. Uma vez eu estava num amigo meu, um alfaiate, chega um advogado e começou a falar que foi na latrina. Eu achei esquisito. Eu lembrei quando eu era criança. Eu falei: "Latrina. Um advogado chamando isso de latrina?" Eu estranhei. Eu fui buscar no dicionário e realmente, o nome é latrina. O sanitário, a gente tinha o sanitário. Banheiro. Banheiro é lugar de tomar banho, mas generalizou chamar de banheiro, o sanitário. Latrina, eles cavam um buraco no chão, um fosso, e cobre com a tábua e deixa só um quadradinho ali para a pessoa fazer as necessidades. Uma casinha lá, essa é a latrina. Inclusive às vezes acontece acidente, porque a madeira que está cobrindo aquilo às vezes ela deteriora, dá cupim, tudo quanto é coisa, ela apodrece, o cidadão cai lá. É um negócio horrível. Tem um filme que mostra isso aí muito bem. Aquele Decameron, do Pasolini, mostra uma latrina que um cidadão foi lá numa latrina dessas e ele tem um acidente assim um pouco desagradável. (riso)
P - Até quando ficou vendendo fruta, laranja e jaca lá na feira?
R - Ah, isso não foi muito tempo, não. Não foi muito tempo porque aí eu levei duas surras. Eu nunca tinha apanhado na vida, eu levei duas surras do meu pai. Aí o negócio engrossou. Meu irmão já havia casado, meu irmão mais velho. Ele já tinha casado. Aí eu fui na casa dele. Eu levei uma surra do meu pai. A primeira surra foi um negócio assim meio comum, tal. Mas a segunda eu estranhei, porque meu pai... Ele era novo ainda quando minha mãe faleceu. E ele estava ainda na chamada lua-de-mel, com todo aquele gás, e me deixou. Eu não sabia, não tinha noção nenhuma, absolutamente nenhuma, nem de botar água para ferver para cozinhar. E eu tinha saído e tinha ficado um recado para mim cozinhar feijão, esse tipo de coisa. E eu não sabia, eu não fiz. E quando ele retornou ele me deu uma surra. Aí eu fiquei magoado com aquilo lá. Eu não podia fazer nada. Criança. Aí eu fui na casa do meu irmão e ele percebeu. Perguntou, começou indagar. Eu falei:"Ah, não foi nada. Não foi nada." Mas ele percebeu que tinha coisa errada. Aí eu abri o jogo. Aí ele foi lá e se desentendeu com o meu pai. Aí em seguida eu tive que sair. Porque aí minha irmã, uma irmã que era casada, até morava no Recife, me convidou para trabalhar. Ela tinha até arrumado emprego numa farmácia para mim. Isso eu estava com 11 anos, por aí. Aí eu vim para Garanhuns... Que era distante um pouco de Garanhuns. Que nem fosse daqui, São Paulo a Santo André. ...onde eu estou morando. E essa minha irmã não deixou eu vir para Recife. Porque em Recife já tinha outra irmã minha casada. Porque dissipou a família, cada um foi para um lado. Aí ela falou: "Não, ele vai ficar comigo aqui." Imediatamente eu comecei a trabalhar numa oficina mecânica chamada Oficina Gerusa. Eu tinha uns 11 anos, mais ou menos,11 por aí. Que até eu trouxe aquela foto. Tem uma foto aí eu de macacão. Eu tinha o quê? Aí eu ganhava 10 mil réis por semana, 10 cruzeiros por semana. Com esse dinheiro comprava macacão para mim, roupa, e as coisas para mim. Porque minha irmã, alimentação ela dava, mas só. Lógico Ela não tinha obrigação nenhuma de cuidar de mim. Mas o resto era tudo eu que me virava com o dinheiro que eu ganhava de salário. E inclusive nesse período aí, como eu era muito pequeno... Porque nessa época não existia, como hoje tem nos postos de gasolina, tem um fosso para trocar óleo do carro, tal. Eu mergulhava embaixo do carro porque eu era muito miudinho, não precisava pôr macaco, nada. Eu mergulhava para tirar o bujão do óleo e trocar o óleo do carro. E com isso eu ganhava as latas vazias, as latas de óleo. E ia juntando. Quando formava um saco, desses sacos de estopa grandão, de juta. Enchia um saco daquele, aí passava um cidadão lá... Eu tinha já o cliente certo. Ele passava lá e perguntava como é que estava. Eu falava: "Ah, tenho tantas latas." Aí ele vinha buscar, pagava. Eu vendia aquelas latas vazias, bucha de cobre, de latão, de bronze, essas coisas. Que eles me davam coisas que estragava. Eu ganhava do dono da oficina e guardava em casa, e vendia. Essas latas serviam para fazer lamparina, que lá chama candieiro. Fazer caneca, chaleira, um tipo de chaleira, bacia. E um monte de coisas que eles faziam, um monte de utensílios com essas latas que ele fazia, lata de óleo. Até hoje por aí ainda existe, no Interiorzão do Brasil, ainda existe esse tipo de atividade. P/2: Quem arrumou esse emprego para você na oficina?
R - Na oficina foi o meu cunhado. Meu cunhado era motorista de praça. E ele arrumou esse emprego para mim. E o cidadão, o dono da oficina, ele era amigo do meu pai e ele não tinha filho. Ele era casado, mas ele não tinha filho. A mulher dele, não sei qual motivo, mas ele não tinha filho. E ele queria que eu ficasse com ele. Propôs ao meu pai para ficar com ele como filho adotivo. Meu pai não quis, não aceitou. Porque ele queria oficialmente. Passado no papel e tudo. Eu não ligava muito. Eu fiquei meio assim mas, tudo bem. Porque ele me adorava, ele gostava de mim demais. E não deu certo. Eu trabalhei com ele até vir para São Paulo.
P - Como ele se chamava?
R - Abelardo. Só que não era o Abelardo Barbosa, o Chacrinha. (riso) Era Abelardo, eu não lembro o sobrenome dele agora. Mas na foto tem ele, tem o irmão dele. Tem um pessoal que eu lembro o nome das pessoas.
P - Por que resolveu vir para São Paulo? E quando você veio?
R - Eu vim para são Paulo porque... Aí é uma história talvez até meio complicada, não sei. Mas meu irmão, esse que é casado, ele gostava muito de mim. Claro, não é, a gente era irmão. A gente era irmão mas ele tinha interesse de ver eu progredir, ser alguém na vida, vai. Estudar, esse tipo de coisa. E ele mandou me buscar. Mandou um recado lá para mim. Só que só mandou chamar, convidou. Não mandou a passagem, nada, nada. A passagem, eu vim gratuitamente. Eu vim num caminhão pau-de-arara, que nós na época chamávamos pau-de-arara. Eu vim num caminhão do meu tio e vim para São Paulo. A convite desse meu irmão, fui morar com ele.
P - Ele já estava aqui em São Paulo?
R - Ele já estava em São Paulo. Ele era casado, também não tinha filho e acho que ele sentiu falta de não sei o quê, porque a mulher dele não tinha filho. Ela quando foi ter o primeiro filho ela abortou. Isso eu já não estava morando com ele. E ela, depois ela teve... Não foi propriamente daquilo. Mas ela era muito doente, era anêmica. E conseqüência da anemia, sei lá, ela veio a falecer. Mas eu já não estava morando com o meu irmão. E quando eu vim morar com o meu irmão ele trabalhava na empresa de ônibus que ligava Santo André a São Paulo. Empresa de ônibus. Até o nome era Empresa de Ônibus Santo André. Bem no Centro de Santo André. A garagem era em frente ao sindicato, do lado do Sindicato dos Metalúrgicos. Hoje é um estacionamento, em frente a uma loja (Incon?), uma loja de eletrônicos. Aí eu vim trabalhar na... Ele queria que eu trabalhasse de cobrador de ônibus. Mas na época um cobrador de ônibus, para vim de São Paulo para Santo André, tinha que conhecer muito. Porque era setorizado. Vamos dizer, cada vinte quarteirões mudava o preço da passagem. E quem não conhecesse... Eu vim lá do fim do mundo. Chegar assim e conhecer. O treinamento era uma semana. Mais do que uma semana não podia. E eu não tive nem uma semana de treinamento. Aí não deu para assimilar o momento onde era a parada "x". Porque, passando aquela parada... Porque não tinha parada assim, um marco. Era só quem conhecia. Por exemplo, passava uma baixada. Se bobeasse, já não dava mais para perceber que já, vamos dizer, noutra estação. Porque não era que nem hoje, que é uma passagem única. Naquele tempo tinha seis passagens. Seis ou era sete? De Santo André a São Paulo. Você vê, são 18 quilômetros. Então não deu para... Do Ipiranguinha, ali onde eu moro, que agora é tudo Centro. Ah, o Centro era uma passagem, quer dizer, pouca coisa. Nem cinco minutos de ônibus. Aquilo era uma passagem. Ali até a outra parte da cidade já era outra passagem. Depois de outra parte... Tudo dentro do município de Santo André. Tinha acho que umas três, quatro passagens dentro do município de Santo André. Depois, na separação São Caetano, já tinha mais duas passagens. Depois, até o Sacomã, tinha outra. Até São Paulo, outra. Então, eu não dava para assimilar. Eu não tinha treinamento para isso. Aí eu fiquei trabalhando lá na oficina mecânica.
P - Conte um pouco a sua viagem de Garanhuns para São Paulo.
R - É. Eu vim no início de fevereiro de 1948. No início, no comecinho, no dia 3 ou 5 de de fevereiro. Demorou 23, 25 dias, de lá aqui, na época. Uma coisa que hoje faz em 48 horas de ônibus. (riso) Bom demorou muito isso aí porque foi muito acidentado. Na época a estrada era de terra, de lá até aqui. Você imagina, uma média quase de 3 mil quilômetros, estrada de terra, totalmente acidentada. E era época que estava chovendo muito. Início do ano, de fevereiro. No estado de Minas chovia demais. Até que nós chegamos próximo à cidade de Medina, no estado de Minas. Uma cidadezinha muito simples, pacata, pequena. Estava mais ou menos próximo, a uns 6 quilômetros de Medina. Mas o pessoal estava com muito medo, o pessoal que vinha no caminhão. Por causa de... Ouvia negócio de acidente. E realmente era perigosa a estrada. Aí desceu um grupo. Vieram a pé, que era só 6 quilômetros, era fácil. Naquele tempo andar a pé não é que nem hoje. O resto ficou no caminhão. E o caminhão veio. Vinha devagarinho, e tal. A estrada horrível Num determinado trecho lá, o caminhão... chovendo, tinha chovido muito. E o caminhão despencou lá num abismo, e rolou. Ele deu três tombos. Eu vi tudo perfeitamente, que nem uma fita de cinema. Eu lembro até hoje, tudo, tudo, perfeitamente. E eu estava no caminhão, na carroceria do caminhão. Era pau-de-arara. Arrebentou tudo. Caiu uma mala na minha cabeça. (riso) Morreu três pessoas. Morreu parece que uma moça e dois cidadãos lá. Inclusive uma cabeça esmagada. Uma coisa horrível Próximo de mim, acho que um palmo e pouco próximo da minha cabeça assim. Quando eu olhei, aqueles miolos para todo lado. Um negócio horrível, viu? Saí que nem um rojão. Porque o primeiro que levantou do chão fui eu. Eu levantei, olhei, vi aquilo, o chão forrado de gente, pensei que tinham morrido. Eu nem lembrei. Falei: "Morreu todo mundo aqui." Aí corri para a estrada para pedir socorro, alguma coisa. Aí vi um levantando, outro levantando. Aí eu fiquei já, esfriei. Aí eu falei: "Bom, tem mais gente vivo." Aí aquele pessoal que tinha ido _________, foi uma confusão horrível. Aí levaram o pessoal que se feriram. Porque se feriu quase todo mundo. Levaram para o hospital da cidade. Aí ficamos lá mais de uma semana, parado ali por causa desse acidente. Aí tinha um rio próximo, eu ia tomar banho no rio, brincar. Porque eu era moleque.
P - Chegando em Santo André, em São Paulo, qual foi a sua primeira impressão da cidade?
R - Aí chegando em São Paulo, nós chegamos, como sempre era Estação do Brás. E ficou famosa Estação do Norte, que eles falavam. Aí meu irmão já estava esperando. Correu notícia, a notícia chegou lá que eu tinha morrido. Porque notícia ruim corre rapidamente. O que é ruim é... Aí ele estava esperando. Fui para Santo André, tal. Aí eu tive, vamos dizer a impressão, alguma coisa boa, outra não muito boa, porque o seguinte: a cidade de Garanhuns, na época, que tem até hoje, a prefeitura, o prédio da prefeitura para a época era um negócio avançado, bonito É uma coisa muito simples, é pequeno, mas era uma cidade assim para Interior lá naquele fundão lá de Pernambuco... Tem a Igreja Matriz e na mesma avenida tem o prédio da prefeitura, com um relógio lá na torre, aquela coisa toda. Eu cheguei em Santo André. Santo André, por ser a cidade coração do Brasil, a maior cidade industrial da América Latina, aquela coisa e tudo, não existia prefeitura. É um negócio que eu não vi assim, não teve aquele choque de cultura, sabe, de ver uma coisa e ficar deslumbrado. Eu não vi nada de bonito, de novidade. Nada, sinceramente. Note bem, eu não estou falando para desfazer, mas eu esperava ver uma coisa muito mais, mais bonita. Porque já falava da indústria. Tudo era feito em Santo André. Pegava qualquer produto, qualquer coisa, tudo era feito em Santo André. E, chegando lá, eu não vi nada. E aquilo ficou estranho. Depois até eu relatei isso a um amigo meu, que é jornalista lá em Santo André, vamos dizer, o sotaque, a pessoa achava curioso, a maneira de falar. Não, não, porque eu não falava... O pessoal lá da região não fala cantado. Porque o nordestino geralmente, dependendo do lugar, eles têm um sotaque diferente. Na própria Capital, em Recife, tem gente que fala com um sotaque assim que, não sei, fala meio cantado. Lá não. Mas eu fui cortar o cabelo, isso eu lembro bem, aí o barbeiro, eu sentei lá: "Como é que corta? Qual é o corte?" Porque existia isso na época. Aí eu falei: "(Jackie Daniel?)." Ele estranhou. Aí eu fiquei, eu não sabia o nome. Porque lá tinha esse nome,(Jackie Daniel?) devia ser o nome de um cidadão, um artista francês ou coisa parecida, e cortava com aquele modo de cabelo, que seria o escovinha, não é? Hoje botaram o nome de escovinha. Como tinha a blusa. Enfim, tinha um monte de coisa que era tudo nome que eles assimilavam, nome estrangeiro. Que nem é hoje. Nome americano, ou francês. Blazer, por exemplo. Blazer não é português. Então, esse (Jackie Daniel?) também não era português, mas era a modalidade, era o nome. Então já sabia, pedia aquele corte e já cortava daquele jeito. E para eu explicar para o barbeiro? "Ó, é assim." E o barbeiro não entendia. Foi uma das dificuldades que eu tive, além dessa de assimilar os lugares onde é por aqui. Porque isso aí é normal. E alguma outra coisa que talvez eu lembre depois.
P - Certo. No seu trabalho na CMTC você foi mecânico lá na garagem?
R - Na garagem de ônibus da empresa de ônibus Santo André. Ali eu era ajudante geral. Como eu trabalhei lá em Garanhuns na oficina mecânica, eu era ajudante geral, fazia de tudo. E era um office boy, eu era tudo. Quer dizer, office boy eu aprendi isso aqui, office boy, que isso é nome estrangeiro. Tudo bem. Mas não era propriamente um moleque de recado, mas precisa de buscar uma lixa dágua, por exemplo. Na época eu até fiquei com vergonha, porque ele falava: "Vai buscar tantas lixas dágua." Aí eu pensei que eu não tinha entendido direito. Buscar lixa dágua. Eu era moleque. Aí eu quis enganar lá, e o homem falou: "Mas não é lixa dágua?" Aí eu falei: "É isso mesmo. É lixa dágua que eu quero." Porque eu falei: "Eu vou lá falar lixa dágua eles vão tirar um sarro, vão brincar comigo, por que lixa dágua." Não sabia. Então eu ia buscar peça, levar alguma coisa, tipo de coisa que trabalhava. Até tinha, lá em Garanhuns, tinha uma lojinha da própria oficina que ele vendia óleo, vendia produto que precisava, e eu ficava ali também determinado período. E aqui na empresa de ônibus eu fazia serviço geral. Ajudar o soldador. Tinha um... Até ele está vivo ainda, deve está com uns 80 ou 90 anos. Ele era um alemão, descendente de alemão, ou era alemão mesmo, não sei, chamado Nicola. E ele tinha hábito de dormir depois do almoço. Isso normalmente o estrangeiro tem esse hábito. E ele ia soldar os ônibus embaixo, quebrava o chassis, e tal. E ele ia soldar, e eu ficava dentro do ônibus para apagar o fogo. Porque pegava fogo. Ficava com umas latinhas dágua, essas latas de tinta, um galão com água. E quando subia o fogo lá, apagava. Só que invertia o trabalho. Aí ele mandava eu soldar, ensinou eu soldar, e ele ia apagar o fogo. Mas nunca contei para ninguém, mas só que eu era obrigado a soldar e apagar o fogo. Porque quando eu via, tirava a máscara, estava o fogão, aí eu corria lá, subia, apagava o fogo, e ele dormindo. Podia pegar fogo e ele morrer queimado lá. (riso) E eu tinha que fazer esse tipo de coisa sem falar nada, porque senão era mandado embora. Depois nesse trabalho, você vê, na época eu aprendi a dirigir. Moleque. Eu e a outra molecada. Porque de manhã... Os ônibus eram tudo ônibus a diesel, até hoje. Agora tem ônibus elétrico, tal. Mas era ônibus a diesel, e no tempo do frio... Antigamente fazia frio As mãos da gente congelavam que ficavam duras, não conseguia fechar a mão. Então a molecada ia ligar os ônibus para quando o motorista chegasse já os ônibus estavam em funcionamento. Aí, eles compravam de caixa de éter. A Rodhia fornecia o éter. E a gente pegava, molhava uma... Isso aí cada um com um litro. Em dois moleques. Um entrava no ônibus para ligar o ônibus, e o outro molhava uma estopa no éter e botava no filtro de ar do ônibus para ele cheirar o éter. Os ônibus eram tudo viciado. Pior do que o povo de hoje, a molecada que vive fumando crack aí na rua. Então a gente chegava com aquela estopa, botava no ônibus. Porque aquilo resseca. E ele pegava. E a gente manobrava. Só que era escondido, porque não era autorizado fazer isso. Mas os motoristas mandavam manobrar os ônibus. Então a gente manobrava os ônibus, e deixava já no ponto. Eu fazia tudo isso aí. Depois ia colocar... Em 1949, a Empresa de Ônibus Santo André importou 20 ônibus. Um caiu no porto, caiu no mar. Perderam. E 19 eles conseguiram botar em atividade em Santo André. Era ônibus (Quash?), da GM, General Motors. Para a época era um ônibus mais moderno do que o de hoje, por incrível que pareça. Os ônibus, eles vinham era tudo automatizado. O ônibus era automático, câmbio automático, o motor a gente não precisava trocar marcha, nada. Tinha rádio dentro dos ônibus. As portas, quando fechava para prensar o passageiro, ela abria sozinha porque ela tinha um automático. Dentro daquela borracha da porta tinha uma mola, um negócio lá, que ela abria. As portas eram baixinhas, o degrau era baixinho. Era um negócio sensacional Só que para alimentar o ônibus todo, aquele modernismo, vamos dizer assim, dos ônibus, eles tinham muito acumulador, muita bateria. Mais de que os ônibus comuns.. E gastava muito aquilo. Consumia muita água, muita solução, o ácido sulfúrico. E o nosso trabalho, eu e tinha uns quatro moleques, era abastecer aquelas baterias. Todo dia o primeiro serviço era chegar na empresa, puxava uma gaveta com as baterias, e tirava a tampa. Tinha parece que quatro acumuladores, mas grandes. É que nem acumulador de automóvel. Você conhece. Mas do ônibus era um monstro, assim grande. Tirava aquilo e, com uma caixinha de acumulador desse de automóvel, uma caixinha comum de material que suporta o ácido, com uma mangueirinha, um moleque pegava aquela caixinha e levantava assim. Eu, no caso, ficava lá embaixo. Que eu era miudinho. Não era alto. Tinha um moleque que era alto, aquele levantava a caixinha, eu ficava lá abastecendo a bateria com ácido sulfúrico. Esse ácido sulfúrico é uma solução. Ela é misturada na água. Vai uma quantidade "x". Eu não lembro agora a proporção. Eu lembro mais ou menos assim, que era uma bombona... Sabe o que é bombona, não? Aquele um que eles fazem vinho. Parecido. Um garrafão bem grande de 25 litros. A gente enchia aquilo de água, até um nível "x", e pegava uma caixinha daquela de ácido sulfúrico puro, que a Rodhia fornecia. Numa daquelas bombonas. Você vê, tudo manipulado por moleque. Era eu, entre eles e eu. Perigoso à beça aquilo Porque o ácido sulfúrico é altamente corrosivo e perigoso. A gente pegava aquilo lá, despejava naquela caixinha, depois despejava na água. Aquilo esquentava. Ficava uma semana descansando. Depois de uma semana a gente tirava aquela solução e botava na bateria dos ônibus lá.
P - Avançando um pouquinho, diga quando e como começou a trabalhar na General Eletric como inspetor de qualidade.
R - Pois não. Inclusive, só para terminar, nessa daí eu tomei um banho de ácido sulfúrico. (riso) Escapou uma bateria daquela da mão dele, me deu um banho. Aí corri embaixo do esguicho lá de lavar ônibus. Me deram um banho. Eu fiquei pelado lá, lavaram o macacão. O macacão desmanchou no dia seguinte. Só que eu não tive seqüela, não tive nada. Tudo bem. É, depois de muito rodar, trabalhando em tudo quanto é coisa, avançando, eu vim para a General Eletric porque eu fiquei desempregado da (International?). Eu trabalhava de conferente, na (International?), e eu despachava peça para o Brasil inteiro. Eu pesava, etiquetava, aquela coisa. Aí um amigo meu telefonou. Telefonou ou me avisou, eu não lembro. Que eu não tinha telefone na época. A GE estava precisando de pessoa, de uma pessoa lá. Para eu ir lá, que parece que um cunhado dele, não sei, que tinha entrado na GE. E eu fui. Eles estavam oferecendo uma vaga de apontador. Aí quando eu cheguei lá eles viram minha ficha, tal. Perguntaram por que eu tinha saído da (International?), que eu tinha trabalhado seis anos sem nada negativo na ficha. Aí eu expliquei o motivo, tal. Aí eles me propuseram, no momento, que aquela vaga tinha sido encerrada, mas eles não queriam perder porque eles achavam que eu era um elemento que podia ser aproveitado para eles no controle de qualidade. Porque tinha um cidadão que trabalhava, muito amigo meu, depois nos tornamos amigos, ele trabalhava no controle de qualidade, ele tinha sido promovido. Então aquela vaga surgiu naquele momento e eu fui preencher a vaga no controle de qualidade. Aí ele passou, com o maior prazer, tudo aquilo que ele fazia ele passou para mim. Se bem que eu tinha noção, não do trabalho, mas da parte técnica. Eu tinha noção porque eu tinha estudado desenho mecânico. Porque quando eu trabalhava na (International?), eu saí porque eu pedi uma transferência para a ferramentaria, porque eu achei que eu tinha condições de ser melhor aproveitado do que aquele serviço que eu fazia, porque eu era um coringa. Eu fazia de tudo. Eu fazia escada, eu fazia biscate de tudo quanto é jeito lá para a chefia, aquela coisa. E eu achei que devia ser melhor aproveitado para ganhar mais. Principalmente por causa do salário. Porque um ferramenteiro, até hoje, é um dos profissionais mais bem pagos e mais respeitados dentro de uma indústria. Se ele for bom, lógico. Eu arrumei tudo direitinho, eles não quiseram dar a transferência. Eu fiquei magoado com aquilo lá, me queimei. Aí eu fiz por onde eles me dispensaram. Me mandaram embora, eu fui para a GE, expliquei o motivo, falei: "Qualquer coisa vocês telefonam lá, entra em contato para saber se eu sou ou não um elemento assim que vocês querem." Aí já fiquei na hora. Aí comecei a trabalhar, até a crise de 64. Aquilo eu já falei. Aí eu tinha que medir as peças. Acompanhar toda a produção dos eletrodomésticos, os portáteis. Era ferro elétrico, aspirador, ventilador, grill, aqueles, a fritadeirinha elétrica. Depois eles começaram a fazer mais, incrementar o produto. E aí eu trabalhava lá dentro e fora, quando eles mandavam acompanhar a produção de fornecedores. Por exemplo, a base do ferro elétrico era feita aqui em São Paulo. Não lembro bem o nome da firma. Eu sei que era em frente ao Parque da Água Branca. Eu não lembro se era (Simples?). Eu não lembro agora. Bom, não vem ao caso. Aí eu vinha lá e lá eu tinha que selecionar o que servia e o que não servia para ir para a indústria. E eu tinha uma diretriz para ser seguida. E eu seguia aquilo que era determinado pela indústria, pela GE.
P - Toda a peça era medida?
R - Não, isso era um controle estatístico. Era medida... Eu acompanhava. Era um negócio mais visual. Uma parte, em determinado número de peças, eu pegava uma daquelas e ia medir, ver se estava tudo dentro daquela especificação. E testar, todas elas eram testadas assim. Só que esse teste não era eu que fazia. Eu acompanhava as pessoas que faziam, eu orientava, e depois eu pegava um daquele para ver se a pessoa não tinha falhado. Aí eu ia verificar se estava tudo certo. Eu media estatisticamente.
P - Com quais instrumentos trabalhava? Quais eram as suas ferramentas de trabalho?
R - Bom, a ferramenta básica é um paquímetro.
P - O que ele faz?
R - O paquímetro é para medir dimensão, para você ver. Ele mede, o paquímetro ele mede, por exemplo, um furo interno, mede um eixo, mede a profundidade de um furo. Esse tipo de coisa. É um instrumento simples, mas bastante preciso. E quando é uma medida de maior precisão, aí sim usava um micrômetro ou outros instrumentos que fossem necessários. Mas o instrumento básico é o paquímetro. Que as peças eram pequenas.
P - Que habilidades você tinha que ter para ser um bom inspetor de qualidade?
R - Eu acho que, acima de tudo, atenção. Eu tenho que ser muito atencioso e muito minucioso. Quer dizer, ele tem que ter um treinamento, vamos dizer assim, um autotreinamento. Isso independente de qualquer escola, porque a escola não ensina isso. Mas uma espécie de um treinamento que ele... Aquilo, ele está aprovando uma peça, porque ele vai aprovar uma peça que ele pode ser o consumidor daquela peça. Quer dizer, se eu vou inspecionar um determinado produto, seja lá o que for, eu tenho que botar na cabeça que eu vou ser o comprador daquilo, daquele produto. Então eu tenho que procurar ver naquilo lá o melhor possível para me servir. Quer dizer, que satisfaça a mim, a minha necessidade. Esse é o ponto básico de qualquer inspetor de qualidade.
P - Hoje quem é o responsável pelo controle de qualidade das peças?
R - Agora, hoje mudou muito esse conceito. Infelizmente está sendo desativado. Esse conceito que eu falei, isso parece que está sendo jogado no lixo. Em partes. Porque aqui no Brasil, na década de 80, 79, 80, eles tentaram, importaram do Japão, o chamado CCQ. Eu fiz curso de CCQ.
P - O que é o CCQ?
R - A sigla é Círculo de Controle de Qualidade, CCQ. Isso foi adotado aqui no Brasil com esse nome. Mas lá tem outro nome. Mas adotaram com esse nome, tal. Só que não implantou de imediato e até hoje eles estão, vamos dizer, engatinhando. Por que? Porque a cultura japonesa eu acredito que seja um pouquinho diferente da cultura do brasileiro, para não exagerar. E consiste no seguinte: que o próprio elemento que está fabricando, ele cuida da qualidade. Quer dizer ele vai, está fazendo uma peça, então ele tem que separar, fazer aquela peça da melhor maneira possível. Mas aqui no Brasil, até recentemente - isso é normal - não era possível implantar esse tipo de coisa porque não se mistura a qualidade com a produção. Quer dizer, o camarada tem que produzir. Então, se ele tem que produzir com qualidade, ele tem que parar para ver se realmente aquilo tem qualidade. Domingo agora, por exemplo, passou na... Eu não costumo ver, mas por acaso eu liguei e estava passando na Rede Globo, aí - fazer propaganda dos cara, aí - um negócio sobre transformadores para computador. E todos os produtos, todos eles que foram produzidos no Brasil. Quer dizer, todas as marcas, tudo que é produzido no Brasil, está tudo reprovado. Não sei se você chegou a ver essa matéria. Pega fogo, esses prédios que pegam fogo, todo esse negócio, é tudo por causa da má qualidade do produto e do trabalho. Quer dizer, é um negócio chato falar isso aí mas, infelizmente... Por que do trabalho? Porque o cidadão pode fazer da melhor maneira possível, trabalhar bonito, tudo. Mas se o produto não presta... Um exemplo: um eletricista faz uma fiação bonita, caprichada, direitinho, e o fio não presta. A capa do fio isolante dele não tem qualidade, aquilo vai pegar fogo. Fatalmente vai pegar fogo. Então, é um negócio complicado de... Então, é por aí. Esse trabalho, esse CCQ no Japão, é justamente o cidadão zelar pela qualidade do produto, fazer aquilo que o inspetor faz. Quer dizer, ele pensando nele, que ele vai adquirir aquele produto. Aquilo não é feito para o outro. É feito para ele. Quem vai comprar é ele. Só que para botar isso na cabeça do brasileiro é um pouquinho difícil. Não vou dizer que é impossível, é difícil. Então tem que ter um treinamento muito longo, muito bem feito. E chegar assim ninguém aceita. E outra, lá, na época, quando quiseram fazer isso... Até eu brinco. Eu falei: "É que nem o negócio do pároco: faça o que eu mando e não faça o que eu faço." Então eu digo: "Olha, você tem que fazer assim." Mas na hora de implantar:"Mas não pode." Mas eles ensinaram e não podia ser aplicado. Quer dizer, uma incoerência. Porque a produção queria produzir. O negócio deles é produzir. A mentalidade sempre foi essa daí. Por exemplo, hoje em dia uma indústria faz dois mil automóveis por dia. Eles têm que fazer três, têm que atingir o máximo, com menos gente. Quer dizer, robotizando tudo. Tudo bem, o maquinário faz coisa até com perfeição, vamos dizer assim. É exagerar, mas... Porque a máquina não pensa. Um automóvel não pensa. Infelizmente a maioria dos nossos motoristas eles acham que o automóvel pensa. Então eles deixam a cargo do automóvel evitar o acidente. E vê o que está acontecendo. Isso acontece na indústria. Quer dizer, a pessoa acha que aquela peça... Eu vi muitas vezes o camarada falar: "Mas eu não vou comprar o automóvel.", um exemplo. Então, podia ir de qualquer jeito. Por exemplo, um cidadão trabalha numa fábrica de chuveiro: "Ah, não é eu mesmo que vou comprar esse chuveiro." Quer dizer, essa mentalidade infelizmente tem. Não digo com todo mundo. Mas uma boa parte do brasileiro pensa assim. Porque quando - isso todo mundo sabe disso - aumenta o preço, por exemplo, o preço do combustível, o camarada fala: "Deixa que aumenta. Eu não tenho automóvel." Sabendo ele ou não que o transporte no Brasil é tudo feito, infelizmente, através das estradas de rodagem. Detonaram as estradas de ferro, destruíram. Um caso, recentemente o próprio passageiro estava destruindo a composição que ele vai viajar, em vez de... Não é por aí. Mas ele, em vez dele tomar uma providência um pouco mais diferente, até radical - eu não sou por aí - mas que eles... Que isso aí é um negócio muito radical. Mas já que ele está disposto a tomar uma providência radical, ele tem que ir no responsável por aquele sistema, enfim, por aquela deterioração, aquele negócio. Quer dizer, quem foi reponsável é você, então você que vai pagar, você que vai ser punido. Mas não, eles vão punir o vagão que não tem nada a ver. Põe fogo na estação, na estrutura, destrói o patrimônio. Não é por aí.
P - Até quando trabalhou como inspetor de qualidade?
R - Eu trabalhei na GE, depois eu fiquei trabalhando lá, fazendo curso, enfim me aperfeiçoando no meu trabalho, naquilo que eu tinha escolhido. E até o Golpe Militar, de 64. Em 64 houve o Golpe Militar. Eu continuei trabalhando ainda mais um tempo, mas aí a fábrica começou a diminuir a produção. Diminui, diminui, e extinguiu aquele setor. Quer dizer, não parou totalmente, mas ficou muito precário. Um exemplo, se eles produziam mil peças por mês, passaram a fazer 100, só para não fechar totalmente. Então, mandou todo mundo embora. Ficou dois ou três até ver se melhorava. Porque a indústria é o seguinte: eu trabalhei com os alemães, com os americanos, com português, com italiano. E o americano, ele é muito descartável. Está dando produção, tudo bem. Parou, descarta. Ele não quer nem saber. Já o alemão é meio paternalista. Eles seguram as pontas. Não sei se é bom ou se é ruim. E aí eu fiquei desempregado, mas eu estava com salário, não digo um salário bom, mas um salário que não era desprezível. Eu achei que não devia diminuir o salário. Porque eu achava emprego, mas para ganhar muito pouco. E eu, minha despesa, era muito grande, que eu tinha cinco filhos. Já era casado e a família numerosa. Não por ser nordestino, mas calhou. E eu fazia ficha num lugar, no outro, ia num lugar, no outro, e fazia ficha, e currículo e o diabo a quatro. Hoje em dia é currículo, porque naquele tempo não existia esse nome. Fazia aquela ficha mesmo, eles deixavam todo o currículo como é hoje e falavam: "Olha, qualquer coisa a gente manda chamar em casa." Não era verdade. Até que eu vim aqui na Água Branca, na (Fresinbra?). É muito grande, de materiais ferroviários. Saiu um anúncio no jornal muito grande, precisando de inspetor de qualidade. Quase meia página. Eu falei: "É agora Chegou minha vez." Vim aí e eu tinha até combinado com um rapaz também que estava desempregado, que tinha sido companheiro meu lá na GE. Nós combinamos tomar o trem de manhã e, por causa de cinco minutos, eu me separei dele. Ele veio antes e eu vim depois. Quando eu cheguei na (Fresinbra?) já era... demorou muito. Que era lá na Lapa, não sei para onde lá. Estava ele e outro cidadão na portaria. A portaria ficava acho que a uns 300 metros do muro da rua. Tinha que descer, ir lá no fim do mundo, na portaria. Aí eu entrei, me apresentei, ele falou: "Olha, hoje não pode ser atendido porque só atende duas pessoas por dia." Eu estranhei. Um anúncio monstro num jornal. E justamente as duas pessoas já estavam lá, que era esse colega meu, e um outro rapaz. Aí eu estava falando até para ele, eu sou um pouco assim, sei lá, paciente, ao mesmo tempo, quando eu vejo que as coisas não é por aí eu tenho o pavio curto, como diz o povo, e sou um pouco malcriado. Aí eu falei umas malcriação. Malcriação entre aspas. Eu falei: "Olha, mas tem um anúncio desse tamanho num jornal, vocês, primeiro, não estão precisando de elemento para trabalhar no controle de qualidade aqui, na inspeção de qualidade. Porque botar um anúncio desse tamanho no jornal para atender duas pessoas por dia, ou vocês estão brincando ou não estão precisando. Porque fazer um cidadão sair da casa dele para atender dois por dia..." Mas falei porque, olha só, eu pensei: "Não vou ser atendido, eu não vou voltar mais aqui." Porque eu já estava saturado de tanto rodar. Aí falei um monte de asneira. Asneira entre aspas. Aí o cidadão falou: "Você está com a Profissional aqui?" Eu falei: "Estou." "Dá licença." "Pois não." Assim, ele pegou a Profissional e "psssi". Aí eu me preocupei um pouco. Falei: "Ih, agora vai chamar a polícia." Porque eu falei os diabos. (riso) Eu fui mesmo um pouco malcriado, eu exagerei um pouco. Falei: "Ah, uma firma dessa..." Aí falei, falei o que eu senti no momento. Extravasei aquela angústia. Aí demorou, demorou, demorou, daqui um pouco veio um cidadão: "Faça o favor, pode me acompanhar." Falei: "Ih, agora..." Deu aquela gelada, eu falei: "Agora eu vou para a policia mesmo, viu?" Aí me levou lá para dentro, deixou os dois para fora. Eu acompanhei o cidadão dentro da área de trabalho. Aí ele começou a fazer perguntas para mim. Passei dentro de uma sala que tinha um monte de instrumentos. Instrumentos próprios do controle de qualidade, instrumentos de medição, de medir dureza, enfim: "O que é isso aqui?" "Isso aqui é medida para dureza (rock?), (briner?), não sei o quê." Porque eu sabia tudo. "E isso daqui?" "Para isso, assim." "Taahanãã." Aí o cara se empolgou, porque eu sabia. Ele falou: "Mas você não vai trabalhar com isso." Aí mudou, aquele pensamento meu mudou. Falei: "Bom, eu estou empregado." Aí ele falou: "Olha, nós estamos procurando um elemento justamente como o senhor para tomar conta do setor assim, assim, assim, assado." Aí perguntou, porque eles tinham visto minha ficha, minha Profissional. Aí ofereceram o salário, eu não quis, que era muito baixo. Eu fiz uma proposta, na época, não lembro bem, mas vamos dizer que girava, era outro valor. Ele me ofereceu parece que o máximo 34 mil cruzeiros. Ou foi 35. Porque tinha elemento que trabalhava lá há mais de dois anos que ganhava esse salário, que era líder do setor, tal. E ele me ofereceram esse teto máximo. Eu falei, porque já na GE eu já ganhava mais do que isso, eu falei: "Olha, o mínimo que eu posso ganhar é o que eu ganhava aqui." Aí eu expliquei para ele a razão. Eu falei: "Porque eu tenho que tomar três conduções...", que eu morava em Santo André, "...tenho que pegar três conduções para vim, três para voltar." Era seis conduções por dia, trem, ônibus e ônibus. E eu falei: "E eu tenho uma carga um pouco pesada. Muita boca para sustentar. E esse salário não dá." Aí não entramos em entendimento. Ele falou: "Qualquer coisa..." "Tudo bem, se vocês fizerem esse aí..." Aí um daqueles três, que era eu e mais os outros dois, um dos outros ficou lá com eles, foi empregado.
P - Certo. A gente está finalizando...
R - Aí depois eu fui...
P - Termina a história...
R - Fui para Vokswagen. Aí na Volkswagen, eu fui na Volkswagen, fiz a ficha na Volkswagen também e eles pediram um voluntário para fazer um teste psicotécnico. Tinha umas 40 pessoas lá na sala. Ficou todo mundo em silêncio. Aí eu levantei a mão, me chamaram, eu fiz o teste, aí vieram me buscar em casa. Dois dias depois vieram me buscar em casa. Até eu falava, não com orgulho assim, nem para desfazer de ninguém, mas às vezes saía algum desentendimento, eu falava: "Olha, gente, eu sou um profissional. E tenho algum valor. Porque eu vim fazer a ficha aqui na Volkswagen, mas não foi apadrinhado por ninguém. Eles foram me buscar em casa porque reconheceram que eu tinha algum valor." Aí trabalhei lá 18 anos. Ali eu fui progredindo, modestamente, mas inventando alguma coisa. Ganhei alguns prêmios lá, pouca coisa, prêmio de sugestão.
P - Certo, para terminar diga rapidamente, se você fosse mudar alguma coisa na sua vida, o que mudaria?
R - Hoje? Olha agora é difícil. Essa resposta... Eu sinceramente, eu acho que praticamente quase nada, viu? Porque eu gostaria de mudar, se pudesse mudar, a mentalidade dos governantes do Brasil. Seria um objetivo número um, para eles pensarem e agirem de acordo com o país, que é o melhor país do mundo. Sem desfazer dos outros países, absolutamente. Mas eu tenho certeza absoluta que aqui, se houve um paraíso na Terra, esse paraíso é o Brasil. Pode ter certeza disso. Certeza absoluta. É isso aí.
P - Certo. Só mais uma pergunta.
R - Pois não.
P - O que achou de ter passado essa hora com a gente, dando essa entrevista, falando sobre a sua experiência de vida?
R - Muito bom, muito agradável. E estou à disposição de vocês. Muito boa, muito bom.
P - Está ok. Obrigada.
R - Eu é que agradeço. Está bom.Recolher